O Anticristo - Seu Caráter e Seu Tempo - Controvérsia Católica
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O Anticristo - Seu Caráter e Seu Tempo - Controvérsia Católica
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“E então aparecerá o tal iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o assopro de sua boca e o destruirá
com o resplendor de sua vinda.” (2Ts 2,8)
“O que é claro e inegável a partir da passagem que acabamos de citar é que antes do fim do mundo
aparecerá sobre a terra um homem profundamente mau, investido com poderes quase sobre-humanos,
que desafiando Cristo, moverá uma guerra ímpia e louca contra Ele. Pelo medo que este homem inspirará e
especialmente mediante seus estratagemas e gênio sedutor, ele conseguirá conquistar quase o universo
inteiro, terá altares erguidos para si e compelirá todos os povos a adorá-lo.” (p. 23)
“Quase todos os Doutores e Padres, Santo Agostinho, São Jerônimo e São Tomás, claramente mantém
que esta terrível malfeitor, que este monstro de impiedade e depravação, será um ser humano. O sábio
Belarmino demonstra que é impossível dar outra interpretação às palavras de São Paulo e aquelas de
Daniel 11,36-37.” (p. 23)
“Daniel nos informa que ele atacará tudo o que é santo e digno de respeito, exaltar-se-á ousadamente
contra o Deus dos deuses e considerará como nada o Deus dos seus pais: ‘Is Deus patrum suorum non
reputabit.‘ O Apóstolo acrescenta que Cristo o matará. Todos esses vários aspectos e características
evidentemente não podem ser aplicados a um ser ideal e abstrato; eles só podem se adequar a um
indivíduo de carne e osso, um personagem real e definido.” p. 24
As opiniões sobre a tribo em que nascerá o Anticristo são incertos. “O que parece estar além de toda
dúvida é que o Anticristo será de origem judaica.” Assim testemunham Santo Ambrósio e Sulpício Severo.
“Ademais, tudo leva a crer que no princípio de seu reino ele logrará, mediante sua astúcia e fama, fazer que
os judeus creiam que ele é o Messias que eles incessantemente esperavam e que eles, em sua cegueira,
se apressarão em recebê-lo e honrá-lo como tal. É assim que Suárez e a maior parte dos intérpretes
entende este dito de Nosso Senhor em São João 5,43: ‘Eu vim em nome do meu Pai e vós não me
recebeis; se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo.'” (p. 24)
Pelo que se sabe sobre o nascimento de Cristo, é provável por analogia e indução que este jurado inimigo
de Deus será nascido de uma união ilegítima, contrapondo-se a Cristo que nasceu da Imaculada Virgem
Maria. “Ele será um filho da fornicação”, diz São João Damasceno, “e seu nascimento será manchado pelo
sopro e espírito de Satanás.” (p. 25) e, sobre sua vida, diz-se que “seu ódio a Deus será tão violento, sua
aversão a toda boa obra tão invencível e sua associação e comércio com o espírito das trevas será tão
próxima e contínua que ele permanecerá insensivelmente hostil aos apelos divinos e a graça celestial
jamais penetrará o seu coração.” (loc. cit.).
É muito claro que o grau de sua aversão a Deus o levará ao desejo de substituí-lo, de modo que ele procure
para si a glória que se deve unicamente ao Criador. Assim, ele estabelecerá sacerdotes que oferecerão
sacrifícios em sua honra e se certificará de que os juramentos e contratos serão feitos invocando o seu
nome. Com o fim de dar maior credibilidade a sua loucura, contraporá a revelação divina com falsas
revelações sobre a sua pessoa e, sobretudo, “contra a Igreja eterna fundada por Cristo, ele estabelecerá
uma abominável sociedade, da qual ele será o chefe e pontífice. São Tomás acrescenta que assim como a
plenitude da divindade habita corporalmente no Verbo Encarnado, assim a plenitude de toda a maldade
habitará neste homem terrível, cuja missão e obras não serão senão uma imitação ao inverso e uma
execrável fraude da missão e das obras de Cristo.” (p. 25-26)
Esta guerra infernal contra o nome de Deus, provocada pela íntima relação entre o Anticristo e o demônio,
prevalecerá por um tempo. Todos os mestres da mentira e arquitetos do mal que viveram no curso dos
tempos parecerão pigmeus perante um gigante quando comparados ao Anticristo. “Assim ele repetirá os
feitos infames de Nero, estará cheio do ódio e violência de Diocleciano, terá a astúcia e duplicidade de
Juliano, o Apóstata; ele recorrerá à intimidação e dobrará a terra ante o seu cetro como Maomé, ele será um
homem erudito, um filósofo, um hábil orador, excelente nas artes e ciências aplicadas, ele será exímio no
deboche e zombaria como Voltaire. Por fim, ele obrará milagres e levitará como Simão, o Mago.” (p. 26)
Estas coisas terríveis serão permitidas como castigo da incredulidade humana. Suárez afirma que Deus
permitirá o advento do Anticristo especialmente em razão da perfídia judaica.
Antes de tudo, para nos fazer compreender a ferocidade de sua guerra contra Deus e os santos, São João
o representa no capítulo 13 do Apocalipse como uma monstruosa besta tendo dez cabeças e diademas
contendo blasfêmias. Os intérpretes dizem que essas dez cabeças representam dez reis submetidos a
seu domínio. Ele também nos dizem que ele será o soberano absoluto do universo. Em seu governo, na
medida que persegue os santos ao extremo, ele permitirá todo o tipo de licença, de modo que não haverá
liberdade senão para se fazer o mal.
Finalmente, ele será um mestre do ocultismo e da mágica, sendo capaz de operar prodígios ante os olhos
da multidão. O primeiro desses milagres será sua miraculosa ressurreição, a qual fará que os céticos e
livre pensadores daquele tempo o tenham na conta de invencível. Em segundo lugar, ele fará descer fogo do
céu para dar a impressão de seu domínio sobre a natureza. Terceiro, ele fará uma estátua falar com o
auxílio dos demônios que, usando peças de madeira como instrumento, tratarão de comunicar ao mundo
os seus falsos oráculos. Com o auxílio diabólico também se verão mover móveis e montanhas, como
também se manifestarão demônios nos ares disfarçados de anjos da luz. E assim os céticos e livre
pensadores do século se renderão à superstição, de modo que se confirmará as palavras do Apóstolo:
“dando ouvidos a espíritos de erro e a doutrinas de demônios, attendentes spiritibus erroris et dotrinis
demoniorum.” (1Tm 4,1)
“Por fim está escrito que a soberba do homem do pecado não terá limites. Ele abrirá sua boca com
blasfêmias contra Deus, blasfemando seu nome, seu tabernáculo e os santos do céu. Daniel diz que ele se
considerará capaz de abolir tempos e leis, et putabit quod possit mutare tempora et leges. Ou seja, ele
suprimirá as festas e a observância do domingo, mudará a ordem dos meses e o número das semanas,
removerá nomes cristãos do calendário, substituindo-os por emblemas de vis animais. Numa palavra, este
antagonista de Cristo será um ateu no mais pleno sentido da palavra. Ele fará desaparecer a cruz e todo
símbolo religioso e, como Daniel novamente declara, ele substituirá o sacrifício cristão por ritos abomináveis
em todas as igrejas. Os púlpitos se calarão, o ensino e a educação será laico, compulsório e ímpio. Jesus
Cristo será banido do berço da criança, do altar que une os esposos e do leito do agonizante. Sobre toda
a superfície da terra, não será tolerado o culto de nenhum outro senão o deste cristo de Satanás.” (p. 28)
Revelando estas coisas Deus deseja nos preparar para vencer as ciladas do demônio, ele quer mostrar
quão poderoso o demônio é e quão necessárias são as armas da fé e da caridade. Sem elas, o homem,
por mais sábio e rico que seja, não passa de um brinquedo nas mãos do diabo.
O Anticristo também trará à luz aquelas almas predestinadas que nem a sua violência, nem a sua astúcia
será capaz de vencer, pois seus nomes estão escritos no Livro da Vida.
“Apostasias serão numerosas e a coragem se tornará rara. Está escrito que os poderes do céu serão
abalados e que as estrelas do firmamento cairão. Em outras palavras, os líderes dos povos serão vistos
dobrando os joelhos perante o ídolo reinante, e – o que é ainda mais lamentável -, entre os expoentes da
ciência, os luminares da teologia e os oradores da sacra eloquência, um largo número abandonará a
verdade, deixando-se levar por essa torrente de depravação.” (p. 29)
A marca da besta será imposta como sinal de apostasia e aqueles que não a tiverem na mão e na fronte
não serão capazes de comprar ou vender e sequer terão a liberdade de sair à luz do dia. Assim o Anticristo
deseja que o mundo inteiro despreze o incomparável mestre que elevou a civilização ao zênite da perfeição
e do progresso. Somente a assistência desse mesmo Deus será capaz de manter os eleitos fiéis ao
Evangelho até o fim.
Nessa época a tecnologia será tal que não haverá lugar desconhecido, o mundo será mapeado e mesmo
as casas deixarão de ser um lugar seguro, pois um irmão entregará o outro à morte e o pai entregará seus
filhos e estes se levantarão contra o seu pai. (cf. Mc 13,12).
O centro da política e eventos humanos será mais uma vez o Oriente e o homem ímpio se instalará nos
lugares mais santos, estabelecendo sua sede em Jerusalém. Felizmente, Deus abreviará o seu reinado
que será de três anos e meio. Nessa módica cifra certamente não está incluído o tempo que antecederá
sua ascensão o poder supremo. Assim também, sabe-se que o sacrifício da Missa subsistirá até o tempo
em que o Anticristo estabelecer seu domínio sobre toda raça, nação e língua.
O nome do Anticristo é indicado no Apocalipse pelo número 666. É sabido que em muitas línguas se pode
converter as letras em números e vice-versa, assim se fizeram e fazem muitas conjecturas sobre qual
nome pode ser este que rende o número 666. A opinião mais segura nesta matéria é aquela de Santo Irineu
que afirma que o Apóstolo deu o nome da besta de modo enigmático para que ele viesse a ser conhecido
unicamente no tempo do próprio Anticristo.
“Justamente quando a tempestade for mais violenta, quando a Igreja estiver sem chefe, quando o incruento
sacrifício tiver cessado e tudo parecer humanamente perdido, duas testemunhos, assim diz São João,
serão vistas ressurgindo.” Essas duas testemunhas, conforme Beda, Santo Agostinho, Santo Anselmo e
muitos outros que se baseiam especialmente em Eclesiástico 48 e no profeta Malaquias – são Enoque e
Elias, os quais foram arrebatados para que, no fim dos tempos, combatam o Anticristo e deem testemunho
de Cristo perante as nações. Eles iniciarão o seu ministério público trinta dias depois do Anticristo ter
logrado o domínio total sobre o mundo, sua principal realização será remover o véu da perfídia judaica.
Enoque e Elias terão poderes sobre-humanos, tanto pela força de sua pregação, feita com uma eloquência
jamais vista desde os tempos apostólicos, quanto pelos prodígios que serão capazes de operar. E assim
será até ter se completado sua missão, tal como se deu no caso de Sansão e Joana d’Arc. Após terem
atingido todos os bons e não havendo nada mais por fazer pelos maus, eles serão mortos pelo Anticristo. E,
depois, não São João, mas São Paulo nos conta que o Anticristo será morto pelo assopro da boca de Cristo
e pelo resplendor de sua vinda. Estas imagens indicam, como afirma São Tomás, não que Cristo o matará
em pessoa, mas o matará pela sua ordem (assopro de sua boca) e com o seu poder (resplendor de sua
vinda).
E o que virá depois? A visão mais autoritativa e que parece estar mais em harmonia com a Escritura é que,
depois da queda do Anticristo, a Igreja Católica prosperará e triunfará mais uma vez. Pois, como São Paulo
observa em Romanos 11,12, o evento da conversão dos judeus trará consigo uma abundância inaudita para
o mundo. Essa passagem é precisa e parece não deixar espaço para duvida. Além disso, ela está em
harmonia com Apocalipse 15,2-3: “E vi… os que venceram a besta e a sua imagem… E cantavam eles o
cântico do servo de Deus, Moisés, e o cântico do Cordeiro”, ou seja, doravante os cristãos e os judeus
serão um só espírito e uma só fé, eles dirigirão os mesmos louvores a Cristo e juntos proclamarão sua
glória.