Psicopatologia Das Doenças Psíquicas
Psicopatologia Das Doenças Psíquicas
Psicopatologia Das Doenças Psíquicas
DAS DOENÇAS
PSÍQUICAS
7
P436p Pereira, SalézioPlácido
Psicopatologia das doenças psíquicas /
SalézioPlácido Pereira. – Santa Maria: Ed.
ITPOH, 2013.
294p. ; 15cm.
ISBN 978-85-86991-39-4
1. Psicologia 2. Psicanálise 3. Psicopatologia
4. Psicanálise humanista I. Título.
CDU 159.964.2
Produção gráfica:
Jeferson Luis Zaremski
Revisão ortográfica:
Andréa Alves Borgert
Impressão:
Inov9 | Gráfica e Editora | Santa Maria – RS
AUTORES
9
Eden Jorge Pereira Perez - Natural de Santiago (RS),
graduado em Direito, advogado com militância nas áreas civil e
comercial, integrante também da Assessoria Jurídica Regional
do Banco do Brasil em Porto Alegre (RS), psicanalista em
formação pelo Instituto de Psicanálise Humanista de Santa
Maria (RS). Membro aspirante ao Colégio Brasile.
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Sumário
Prefácio....................................................................................07
Dr. Salézio Plácido Pereira
1. O paciente psicossomático...................................................10
Ana Maria de Lima Camargo.
2. Depressão e psicanálise:
do início da enfermidade à superação......................................45
Andréa Alves Borgert
7. O paciente obsessivo-compulsivo
na psicanálise humanista........................................................191
Eden Jorge Pereira Perez
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PREFÁCIO
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O PACIENTE PSICOSSOMÁTICO
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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desconhece suas potencialidades bloqueadas pelo estresse que
os leva a mergulhar em doenças psicossomáticas.
As pessoas afetadas pelo estresse, na maioria, carecem
de recursos econômicos para conveniar-se a um plano de saúde
competente, para tratar clinicamente de sua saúde psíquica e
também culturalmente desconhecem a importância de habituar-
se a tratar cuidadosamente, com zelo da saúde psíquica.
Toda pessoa está sujeita a passar por momentos
crivados de tristeza, ansiedade, raiva, ódio, mágoa, frustrações,
dilemas conflitantes de natureza afetiva, sendo tragado pelo
“stress”, nestas críticas situações o organismo reage e responde
com uma queda brusca e agressiva de baixa resistência, que
abala abruptamente o sistema imunológico da pessoa, então
ocorre o sintoma, resultado, somatiza as emoções negativas,
desencadeia a doença.
A princípio é conveniente que as pessoas contemplem e
reflitam sobre este importante detalhe psicanalítico, abordado
no tema deste estudo: “O Paciente Psicossomático”,
compreendam que no estado de estresse existe uma vasta gama
de emoções reprimidas ou recalcadas, que desengatilham
pulsões negativas no organismo, as quais silenciosamente
eclodem em destrutivos sintomas patológicos, pulsões
destrutivas. Por conta dessas trágicas consequências destrutivas
é necessário, fazer análise para tomar consciência. Importante é
conhecer-se, saber lidar com os referentes motivos
inconscientes do sintoma somático.
Somente é possível entender como se livrar de doenças
psicossomáticas, quando a pessoa permitir-se buscar a
Psicanálise, realizar sessões de análise pessoal com um
psicanalista humanista.
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2. EMOÇÕES: PEDESTAL DAS PULSÕES
21
As pulsões destrutivas são agressivas, silenciosas,
violentas, bloqueiam a existência da pessoa, isto é, imobilizam
o ânimo, tornam sem sentido a vida da pessoa. A pulsão de
morte instaura-se com intensa rigidez, que desenvolve a doença
crônica, doença degenerativa de algum órgão no corpo da
pessoa, destruição vital, (doença fatal). Produz na existência
doentia, a reação de infelicidade, insatisfação, desistência,
insegurança, de atrofiamento, sofrendo consecutivas adições
severas no organismo.
Importante é entender que entre o cérebro, o corpo e as
emoções há uma extrema e perfeita sincronia, pois esta
comunicação mútua funciona tão reciprocamente, que são
inseparáveis, ou seja, impossíveis de desconectar-se a mente do
corpo. Assim sendo, o físico e o psíquico sempre andam juntos.
Convém enfatizar que o ideal triunfo da humanidade é
libertar-se das amarras de tantas psicopatologias, e isso
depende somente do avanço de nível cultural de cada pessoa,
da conscientização da importância de cuidar da saúde psíquica
e determinação de que cada pessoa deve tratar analiticamente
seu psiquismo desde cedo.
A saúde psíquica das pessoas estressadas que
negligenciam a busca da terapia analítica, apresenta aparelho
psíquico rígido, comparável a uma gigantesca bolha, espécie de
reservatório psíquico, que inflama, estufando de frustrações,
bloqueios, conflitos, limitações, rótulos, traumas que se nunca
tratados em análise, tornam-se recalcados pelo inconsciente.
A vítima acorrentada pelos elos neuróticos, causadores
do sufocante sofrimento psíquico, desvia-se de seu próprio
caráter, transforma-se, em um corpo inflamável devorado pelas
somatizações patológicas. Muitas pessoas interpretam que
fazer análise, buscar um profissional da Psicanálise é ser um
doente mental, um louco. Muito pelo contrário, quem nega-se
tratar analiticamente da higiene da saúde mental, cuidar da
mente e corpo é que está cometendo uma demência, está
sujeito a adentrar no mundo dos diversos e graves transtornos
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psíquicos, destruindo-se por suas próprias emoções. Não se
conhece, muitos não tem a coragem de se autoconhecer. Isso já
é um traço indicativo de transtorno psíquico.
Quando a pessoa não faz análise, torna-se vítima de
suas neuroses, está optando pela morte, pois falta força de
ânimo, seus desejos estão morrendo. Desconhece o manejo de
suas emoções. Suas potencialidades estão morrendo também,
não usa suas criatividades, reclama e põem a culpa nos outros,
quer ser o centro da atenção das outras pessoas pelo fato de
estar doente, não se ama, nem ama ao outro e
consequentemente não se permite ser amado durante a sua
existência. Vive destrutivamente a morte gradativa de sua
existência.
Uma existência sem sentido, desmotivada na vida,
sucumbe na infelicidade, convive com a total insatisfação e
abraça a total desistência de viver, existência necrófila, realiza
somente adições de pulsões de morte.
A pessoa passa a ser atormentada, problemática,
impotente para enfrentar e resolver situações complexas que
possam surgir na sua existência. Um legítimo incapaz, eterno
abraçado na pulsão de morte (Tanathos). Em decorrência,
torna-se portadora fatal de doenças psicossomáticas.
Para melhor compreensão absoluta do referido tema, a
princípio é essencial tomar conhecimento do vocábulo
denominado somatização, o qual significa: conjunto de
alteração de variados sintomas descompensados, que afetam
agressivamente a fisiologia dos diversos sistemas do
organismo, sendo causadas pelas pulsões negativas, que são
potenciais de energia, capazes de levar uma pessoa à doença
crônica.
Esse conjunto de alterações é o processo destrutivo
denominado somatização expressa também o significado com a
seguinte explicação sob o aspecto científico para este fato, é
que o “stress” e a ansiedade provocam graves alterações no
organismo humano, acentuando ou reduzindo a produção de
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hormônios como o cortisol e a adrenalina (típicos do stress) e
da serotonina. Estas variações alteradas continuamente
provocam os distúrbios corporais descritos e são responsáveis
pelos sintomas que aparecem em várias áreas do corpo,
corroendo, aniquilando, matando certos órgãos, isto é, como
consequência, paralisando-os, impedindo-os de funcionar na
sua devida normalidade e que são determinantes para
encaminhar a pessoa ao processo de autodestruição pessoal.
Eventualmente a somatização também é um indicativo
de sintomas negativos que alerta, emitindo assim um
comunicando à pessoa para prestar atenção em si mesmo e ver
o que está errado na sua vida, a forma equivocada, desregrada
de tratar a sua saúde. As emoções negativas somatizam
pulsões necrófilas, energias destrutivas, que invadem
abruptamente através de choques eletrizantes órgãos cansados,
são atrofiados, adoecem e falam através dos sintomas.
Portanto, somatizar as emoções negativas levam a pessoa às
mais diversas patologias. As pessoas adoecem, porque geram
inconscientemente as doenças, tudo por conta da mente
desorganizada emocionalmente.
Quando passa por momentos importantes de tristeza,
ansiedade, raiva, problemas afetivos, pelo “stress”, nestas
situações o organismo reage em conjunto com uma sensação de
baixa da resistência.
Então, é necessário refletir e compreender, através desta
abordagem, os significativos aspectos fundamentais, referentes
à psicossomática. Tema este que evidencia o olhar clínico da
Psicanálise humanista ao paciente psicossomático.
24
3. A PSICANÁLISE HUMANISTA
E O PACIENTE PSICOSSOMÁTICO
26
Os problemas orgânicos são manifestações
simbólicas, ou seja, cada doença em no
corpo simboliza algum processo que ocorre
no psiquismo, portanto a cura destes
sintomas será possível após a compreensão
destes símbolos. Por isso se faz tão
necessário investigar quais foram os
motivos que levaram um ser humano a
enfermidade e não tratar apenas a doença,
mas o ser que está doente. (GRODDECK,
2006, p. 349).
27
Portanto, a doença ou sintoma psicossomático,
instalada no paciente é uma reivindicação, ou seja, uma
exigência oriunda de alguma emoção ou pulsão, uma espécie
de dor que alerta, que favorece a existência do sofrimento e até
mesmo em alguns fatos, facilita a própria morte.
Dejours define a somatização como o “processo pelo
qual um conflito que não consegue encontrar uma resolução
mental desencadeia, no corpo, desordens endócrino-
metabólicas, ponto de partida de uma doença somática” (1992,
p. 127).
Confirma-se assim, que a somatização é um processo
psíquico destrutivo, resultante da motivação inconsciente de
emoções e pulsões negativas que afetam a existência da pessoa.
No decorrer da existência o ser humano se depara com uma
diversidade de situações vivenciadas que produzem as
emoções, muitas delas, por sua vez são reprimidas, são tão
negativas, geram recalques, mobilizam as pulsões de morte,
que se manifestam com muita violência e agressividade,
comprometendo a normalidade fisiológica, causando disfunção
hormonal de certos órgãos. Os mais variados tipos de conflitos
que não encontram espaço para serem resolvidos, isto é, não
são sanados na mente, são transferidos para alguma parte do
corpo, revelando-se através de sintomas.
Essa pulsão de morte gera doenças sistêmicas crônicas
(fatais). São pulsões destrutivas. Torna a existência da pessoa
sem sentido, apático, a vida da pessoa sem sentido. A pessoa
existe na infelicidade, na insatisfação e na completa desistência
a tudo e a todos.
A pessoa mobiliza-se somente para sentir o prazer na
dor e recepcionar adições de sintomas orgânicos e existencial.
Todas estas etapas ora mencionadas neste contexto, são
características deste processo, constituintes da psicossomática.
A somatização para instalar-se e manifestar-se num
corpo depende somente de um processo de atuação de energia
de natureza emocional e das pulsões instintivas. Tais pulsões
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podem através de influências culturais, sociais, financeiras,
atuar sob a forma indireta no histórico do sintoma.
A somatização manifesta-se em forma de sintoma com
diferentes aspectos de alterações, um exemplo: se for uma
neurose de natureza orgânica, pode caracterizar-se através de
uma gastrite, uma síndrome cardiovascular. Segundo a terapia
da psicanálise humanista, o método analítico interpreta o
sintoma como sendo a agressão da pessoa, a causa que altera a
função da fisiologia e o bem - estar psíquico do paciente.
Geralmente, muitos dos sintomas, manifestados nas
alterações do humor e do sistema nervoso do paciente,
dependem somente de dois fatores, ou seja, do nível de
intensidade e do período, no qual o estado de tensão ou até o
nível de stress encontra-se instalado na existência da pessoa,
totalmente dominado pela inconsciência.
Na sequência somatiza vários órgãos que são afetados e
alteram destrutivamente sua morfologia, alterando a função
bioquímica, deixando graves sequelas de patologias
irreversíveis. Convêm citar algumas, como exemplo, a função
lenta do pâncreas, das suprarrenais, da dilatação da rede
bronquial, a asma, úlcera gástrica, diverticulite, tumores, otites,
enxaquecas crônicas e etc.
As somatizações geralmente entram no enquadre
daquilo que se denomina de distúrbios funcionais, que
recobrem um conjunto muito extenso de queixas,
principalmente com predominância física, cuja organicidade é
inviável ser estabelecida, inserida num contexto geral de
insatisfações, frustrações, de dificuldades da vida existencial
ou até do estresse agudo e contínuo.
É importante elucidar que as diversas patologias
psicossomáticas podem deflagrar manifestações com ardentes
sintomas, em pessoas, nas quais, a estrutura mental caracteriza-
se pela insuficiência de defesas, manifesta uma impotência
muito densa, onde sua estrutura psíquica é incapaz de superar
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conflitos, sendo mais frágeis frente aos traumatismos que a
vida inevitavelmente provoca.
Eis que, através da sessão de análise, o analista pode
transportar o paciente pela conexão da preciosa escuta,
levando-o à compreensão das constantes insistências da energia
emocional, as quais são oriundas do inconsciente.
30
investigação, através de um interrogatório anamnésico ou de
anamnese associativa.
No “setting” é o local em que o psicanalista recepciona
o paciente, com afeto humanista, para realizar na primeira
sessão, a anamnese e depois nas consecutivas sessões
analíticas, os recebe, a fim de que o mesmo se deleite com total
confiança, desvendando através de seus relatos de dilemas
conflitantes vivenciados em sua existência e possa descobrir a
si mesmo, quem ele é verdadeiramente.
Nessa exploração da coleta de dados biográficos do
paciente, é possível garimpar, filtrar, destilar os possíveis
conflitos, a personalidade, enfim, todo conteúdo que se revela
referente ao estilo de vida do paciente, acontecimentos
possíveis desencadeadores dos transtornos emocionais.
Na anamnese é fundamental conhecer os principais
dados básicos de identificação pessoal do paciente, para que se
estabeleça o vínculo analítico entre o analista e paciente,
acorda informações esclarecedoras, relativas de como funciona
a aliança de trabalho na clínica psicanalítica humanista.
Nas próximas sessões consecutivas, a investigação
analítica deve perpetuar. A psicanálise humanista estabelece o
cuidado de respeitar as resistências do paciente, permite que as
mesmas se desvendem progressivamente.
Especialmente, uma parcela dos psicanalistas utiliza um
método de anamnese mais flexível, que contenha minimizadas
quantidades de questões.
Na psicanálise humanista, o analista faz a leitura e
interpretação dos sintomas psicossomáticos do paciente, neste
sentido é possível perceber a diferença no que tange às demais
categorias de terapias analíticas que tratam a mente – alma -
corpo. A anamnese pode perdurar por mais de uma sessão,
depende somente dos diversos níveis de discursos de cada
paciente.
A anamnese é um procedimento analítico, através da
qual o psicanalista inicia o processo do diagnóstico da etiologia
31
das patologias psicossomáticas do paciente e demais alterações
de ordem emocional.
Na anamnese da psicanálise humanista é possível
observar e constatar as diferenças, de que existem vários tipos
de neuroses, entre elas a neurose de caráter, neurose de
conversão, neurose reativa e a neurose crônica.
33
6. CARACTERÍSTICAS DA CRONICIDADE
DA NECROFILIA.
35
encontrar uma solução, torna o sujeito escravo, prisioneiro do
sofrimento, recorrendo ao refúgio das adições como uma fuga.
A pessoa com neurose de caráter possui seu potencial
bloqueado, não se dá conta de que está provocando um grave
prejuízo em si próprio, não percebe o prejuízo na sua saúde,
sua vida sofre a destruição, o refúgio predileto está nas adições
ao excesso de trabalho, alcoolismo, drogas, sexo e outros
flagelos autodestrutivos. A psicanálise humanista procura
descobrir a origem das doenças.
6. CARACTERÍSTICAS DA BIOFILIA
– PULSÃO DE VIDA.
36
tipo de relação estabelecida com os
familiares, amigos e pessoads amadas,
“este processo de interdependência, mostra
o quanto necessitamos da presença do
outro”. (PEREIRA, 2011, p. 19).
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7. EMOÇÕES REPRIMIDAS GERAM PATOLOGIAS
41
estágio, o paciente é competente para mudar, transformar sua
própria energia emocional, com um novo olhar.
Importante é que cada pessoa tenha consciência de que
possui o livre arbítrio de optar à realização de si próprio, cada
um com seu nível de capacidade e de intelecto emocional.
Tudo depende somente do tipo, nível e intensidade de energia
emocional liberada pela pessoa. Cada emoção possui uma
intencionalidade, ou seja, manifesta o desejo de concretizar
certo tipo de manifestação comportamental. Cada emoção é
capaz de alertar-nos, sinalizando fatores maléficos ou
benéficos. Essa energia emocional, conforme o grau de
mudança na pessoa pode contagiar o outro.
Fundamental para o paciente é tomar consciência da
emoção, no exato momento que a mesma nasce, deve
simultaneamente ter habilidade de ser capaz de escolher outra
emoção, a fim de obter resultados propriamente desejáveis. O
mais importante, é descobrir com a ajuda das análises, a
etiologia dos sintomas psicossomáticos que afetam
nocivamente sua saúde e aprender a manejar, estabelecer o
diálogo com as emoções.
42
O sintoma psicossomático tem uma lógica
interpretativa, o sujeito que vive o drama
da doença consegue entender seu
significado, são estas interpretações que
precisam de reinterpretação. Esta mesma
artificialidade retira a sua originalidade, a
autenticidade, sem estas emoções presentes
na sua vida, torna se um ser amorfo,
indiferente, frio, distante, sobre o qual
aparecem as emoções destrutivas que
permitem a expressão do estado necrófilo.
(PEREIRA, 2010, p. 12).
45
Evidentemente que os conflitos emocionais não
resolvidos no passado podem ser na atualidade, réplicas de
remotas vivências isto é, conflitos repetindo-se no presente
com outras pessoas, dominado por emoções negativas,
somatizando, acendendo pulsões necrófilas, gerando ódio e
ressentimentos que alteram a reação química, afetando órgãos,
que adoecem fatalmente.
Geralmente, o paciente teme, desconhece e interpreta
que buscar a solução para seu sério sintoma físico, através da
terapia na Psicanálise, é tratamento para pessoas com estas
sintomatologias, ignora descobrir a etiologia desses sintomas
fisiológicos.
Então, permite-se, entregar-se ao adormecimento dos
sintomas, prefere optar e mergulhar na terapia do
entorpecimento, anestesiante de posologias psicotrópicas, que o
torna dependente químico controlado, com probabilidades de
graves efeitos colaterais, que breve ou futuramente
desorganizará a normalidade da função de outros órgãos no
paciente.
A contento da opção terapêutica psicotrópica, o
paciente percebe logo, os efeitos rápidos dos bloqueadores
paralisantes temporariamente do sintoma físico, que lhes
atormentava, ignorando totalmente o agente das origens que
causaram os sintomas psicossomáticos, permanecendo assim,
sem resolução alguma seus conflitantes dilemas inconscientes
de sua alma.
No paciente os sintomas somáticos são meros recursos,
cujo inconsciente apodera-se para realizar algum tipo de
denúncia, ou até mesmo de incapacidade para lidar e resolver
alguma situação de sua existencial vida. Por esta razão é
preciso entender que os sintomas são oriundos de determinadas
emoções, são manifestados dolorosamente no corpo da pessoa.
Convictamente o paciente psicossomático é um
enfermo, cuja pulsão predominante é a pulsão necrófila, que
atua impregnada no seu inconsciente, fazendo com que
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inconscientemente a pessoa deseje, opte em satisfazer essa
pulsão, resultando a somatização.
Então, o paciente psicossomático que não trata da saúde
emocional, é um forte convidado ao portal da morte, pois
negligencia buscar o luminoso portal do amor à vida com plena
saúde e felicidade, ignora-se, pois não permite optar pela vida
saudável. A somatização mascara o sofrimento mental.
“[...] nesse jogo entre pré-consciente e inconsciente é
que se negociam as relações de prazer, de sofrimento, de desejo
e de saúde mental e até de saúde física, se nos referirmos
também à psicossomática” (DEJOURS, 1992, p.157).
A inconsciência é tão dominante, que a pessoa opta em
recorrer à terapia regada de posologia psicotrópica, que apenas
seda, bloqueia temporariamente as crises, os sintomas dos
surtos são mascarados e com este procedimento se torna
inviável o paciente descobrir a etiologia do núcleo neurótico
que afeta seu psíquico. Por falta de conhecimento, nega-se
buscar a saúde psíquica através da terapia analítica, de realizar
sessões de análises no portal da Psicanálise humanista de Erich
Fromm.
A psicanálise humanista tem como objetivo interpretar
e conhecer a origem dos sintomas. É desconhecimento do
público que uma grande quantidade de doenças
psicossomáticas tem sua origem nas repressões das emoções
inconscientes.
“O paciente psicossomático utiliza deste expediente
para aliviar e conviver com suas dores emocionais, mas muitas
destas ações são destrutivas e ilusórias, pois não combatem a
estrutura da neurose”. (PEREIRA, 2010, p. 110).
47
9. A PROMOÇÃO E PREVENÇÃO
DA SAÚDE EMOCIONAL
49
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
51
BIBLIOGRAFIA
53
DEPRESSÃO E PSICANÁLISE: DO INÍCIO DA
ENFERMIDADE À SUPERAÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
54
A depressão é uma enfermidade antiga tanto quanto a
humanidade. Historicamente em várias épocas encontra-se o
homem apresentando comportamentos tipicamente depressivos
desde eras mais remotas. Hipócrates teria sido o pioneiro a
atribuir doenças psíquicas aos distúrbios no cérebro, e também
o primeiro a descrever alguns fenômenos conhecidos na
atualidade sobre a mania e a depressão.
Com início nas teorias de Hipócrates, a teoria dos
quatro humores que seriam: o sentimento de um abismo
profundo, o ânimo entristecido, extinção do desejo e da fala, e
também períodos de hebetude seguidos de exaltação com
tendências fortes para a nostalgia, o luto e a morte.
Já na Idade Média a melancolia era palavra considerada
como sinônimo de uma tristeza sem causa, passando a ter
caráter existencial, virou drama, tédio, espelho da falência dos
que caiam na escala social.
E no fim do século XX a melancolia em forma
atenuada, tornou-se a depressão, considerada uma verdadeira
doença de época.
Na sociedade pós-moderna onde ocorrem
transformações constantes, este mesmo homem precisa
acompanhar o mundo do conhecimento e da produtividade
compulsiva. Pois as pessoas, assim como os países, as cidades
procuram a ascensão, um lugar ao sol, emergir, constantemente
estão acontecendo transformações socioeconômicas, culturais,
conflitos internos e externos, criados pelo próprio homem.
Na contemporaneidade o homem acabou sendo
absorvido pelos inventos criados por ele mesmo, seu foco
passou a ser o domínio e conquista de conforto e bens de
consumo. Para Fromm, o homem “deixou de usar a produção
como um meio para uma vida melhor, transformando-a em um
fim em si, um fim ao qual a vida está subordinada”. (1965, p.
340). Tornou-se assim, inseguro, ansioso e dependente de
aprovação, suscetível às variadas enfermidades, e estados
depressivos.
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Quando este mesmo homem se depara com a realidade,
que nada tem de paradisíaca, fatalmente entra em choque por
ser afetado por seu narcisismo, seus sentimentos infantis de
onipotência, por não sentir-se mais parte da sociedade tendo
seus relacionamentos interpessoais seriamente abalados,
trazendo um profundo sofrimento pessoal e prejuízos indiretos
à família e ao trabalho, a patologia é a resposta ou a defesa
distorcida para a fuga desta realidade.
Os sintomas da depressão variam muito de pessoa para
pessoa, podendo ser vivenciada como um sentimento de torpor
ou de vazio. Além das alterações de humor e dos sintomas
psicossomáticos que representam a enfermidade psíquica,
deve-se levar em consideração que o indivíduo que encontra-se
deprimido, em seu corpo também está havendo uma mudança
na química cerebral, e em uma área específica do cérebro, o
sistema límbico, responsável pelas emoções.
Sendo que o sistema nervoso cerebral funciona em
estímulo – resposta, e através de um neurotransmissor as
mensagens passam de um neurônio a outro, nesta comunicação
o receptor é ativado ou inibido, dependendo de sua função,
ficando assim, o humor afetado e comprometido por estas
mudanças neuronais. A questão é: Antes da alteração da
química cerebral algo aconteceu? Este desequilíbrio neuronal
seria a causa ou a consequência da depressão?
Conjectura-se neste estudo que são os estímulos, por
exemplo, o que sentimos, o que sofremos, o que dói a alma, o
que nos emociona, as dificuldades da existência, a luta contra
nossos sentimentos de onipotência e o próprio narcisismo, as
dificuldades conscientes e inconscientes, isto tudo seria causa,
e a alteração química cerebral seria então a consequência;
sendo que se mudarmos a qualidade das emoções,
consequentemente mudaríamos a química cerebral.
Para melhor compreensão abordaremos aspectos gerais
desta enfermidade segundo a psiquiatria e a psicanálise, alguns
tipos de depressão, o adoecimento psíquico, como se dá o
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tratamento do paciente depressivo na clínica psicanalítica, bem
como a superação desta enfermidade.
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E os sintomas são de ordem diversa e de muitas formas,
as comorbidades da vida moderna têm a marca incessante da
busca de completude, o ser humano coloca a si mesmo uma
condição para a sua existência enquanto sujeito, Roudinesco
diz que “o homem doente da sociedade depressiva é
literalmente “possuído” por um sistema biopolítico que rege
seu pensamento à maneira de um grande feiticeiro”, (2000, p.
42), sendo que o mesmo “não é responsável por coisa alguma
em sua vida, como também já não tem o direito de imaginar
que sua morte possa ser um ato decorrente de sua consciência
ou de seu inconsciente”.
Em sua obra psicanálise em perguntas e respostas,
Zimerman (2005) esclarece de modo geral quais os sintomas da
depressão, sendo que a pessoa deve apresentar cinco ou seis
dos sintomas descritos abaixo para ser considerado um paciente
depressivo:
Tristeza permanente;
Desânimo e apatia;
Insônia ou hipersonia;
Falta de estímulo e de tomada de iniciativas;
Perda da libido e do prazer em geral;
Baixo desempenho no trabalho;
Irritabilidade;
Falta ou excesso de apetite;
Sensível prejuízo em manter a atenção e concentração;
Redução da autoestima;
Queixas constantes, inclusive de natureza
hipocondríaca;
Visão pessimista do futuro;
Ideação ou tentativa suicida.
Sendo que o quadro depressivo já instalado pode
possuir características diferentes, por se tratar de tipos diversos
e ter iniciado por causas singulares, por exemplo, a depressão
anaclítica é aquela que surge no primeiro ano de vida da
60
criança devido a um afastamento súbito e prolongado da mãe,
mesmo depois de estabelecido um bom vínculo com ela; sendo
recorrente a apatia generalizada. Um adulto pode sentir uma
depressão do tipo anaclítica quando reedita a mesma sensação
de abandono e desamparo.
A depressão distímica se instala de forma súbita e dura
no mínimo dois anos com tendência a se tornar crônica;
aparece com sintomas de aflição, aborrecimento, negativismo,
redução ou anulação de impulsividade, sensação opressiva de
tensão, alteração no humor, ideias de fracasso ou de
inferioridade e de que nada vale a pena fazer.
Quanto à Depressão Narcisista ela seria decorrente de
um fracasso da ambição, muitas vezes ilusória, que a pessoa
tem de atingir determinados objetivos por ele, ou por seus pais
quando era criança, idealizados; que funcionaria da seguinte
maneira, o narcisista após algum insucesso compreende como
um grande fracasso, que gera vergonha, e humilhação, seu
pensamento recorrente ‘é que consequentemente perderá o
reconhecimento, a admiração e o amor dos demais. Este
sofrimento psíquico lhe acarretaria a depressão.
62
culpa, costumam acompanhar estas dores. São gritos de
desespero vindos de dentro do humano.
Quando profundamente fragilizado, o homem
comumente procura um médico para com algum tratamento
medicamentoso fazer cessar a dor. Mas o que dizer daquele
vazio e da dor inomeável que leva o ser ao desespero, quando
passa anos em tratamento e ela não desaparece? Esqueceram-se
os seres humanos que amor, carinho, afeto, compreensão não
estão à venda em cápsulas nas farmácias. E que os
medicamentos não ensinam habilidades novas aos pacientes.
64
Segundo Mackinnon & Michels (1981) de certa forma,
as reações depressivas do adulto são respostas adiadas, com o
desencadeante imediato na vida adulta, revelando sentimentos
que podem ter sido seguidos desde a infância. Como por
exemplo, quando a pessoa às vezes nega uma perda ou o
impacto causado pela mesma, a fim de evitar uma reação
emocional; porém quando diante de um novo acontecimento
que remete ao trauma inicial, esta negação torna-se ineficaz, e a
depressão então se instala.
Para tanto as pessoas recorrem aos consultórios e saem
com uma receita espetacular, com diversos nomes de pílulas
milagrosas contendo doses de alegria e felicidade. Para estes
pacientes é mais fácil remediar do que aceitar suas limitações,
sofrimento, incompetências, fracassos, tristeza; do que aceitar
que também podem sentir raiva, ódio, medo, e que
principalmente necessitam perdoar a si e as outras pessoas,
sendo que para isso é necessário vencer o orgulho.
Bauman (1998, p. 156) vê estes problemas como “mal-
estares, aflições e ansiedades típicos do mundo pós-moderno”.
Freud em o mal-estar na civilização coloca que essa “frustração
cultural” domina o grande campo dos relacionamentos sociais
entre os seres humanos. Como já sabemos, é a causa da
hostilidade contra a qual todas as civilizações têm de lutar.
(FREUD, 1930[1929]/1992, p. 52).
Na psicanálise a depressão é abordada por Freud
(1917), em seu artigo Luto e Melancolia. O pai da psicanálise
faz uma distinção da depressão causada pelo luto e pela
melancolia. Sendo que no luto a depressão estaria relacionada
com a perda de um objeto amado, a pessoa sabe o que perdeu e
sofre por esta falta. Na melancolia ela não sabe o que perdeu, é
como se tivesse perdido algo, uma parte de si mesmo que traz
um sofrimento muito grande, seria a perda do “eu” do sujeito.
Freud (1917[1915], p. 251) afirma que: “no luto, é o mundo
que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio eu”.
65
O termo melancolia deriva do grego, onde melas é
negro e khole é bile, a bile negra, e foi utilizado na história da
humanidade para designar uma forma de loucura, que tinha por
característica o humor sombrio e uma grande e profunda
tristeza, medo e desânimo, capaz de levar ao suicídio.
Freud observou que tanto o luto quanto a depressão
ocorrem após a perda de um objeto amado, e reconheceu que as
pessoas podem experimentar sentimentos ambivalentes em
relação a objetos de amor perdidos, ao mesmo tempo é possível
sentir amor e sentir raiva ou ódio por causa da rejeição e do
abandono sentidos. Pretendeu mostrar também que os
deprimidos são frequentemente autocríticos, sentindo raiva de
si mesmos, e culpando-se por coisas que não são suas. Sendo
que para Freud, o fator principal na depressão é a raiva
internalizada, e o que dispara este processo é a perda.
Além do pai da psicanálise, outros psicanalistas também
se preocuparam em estudar e compreender os estados
depressivos. Dentre muitos estudiosos da depressão estão
Abraham (1911, 1924), Rado (1928), Géro (1936), Klein
(1935, 1940, 1946), Fenichel (1946), Jacobson (1953, 1971),
Bowby (1969), Winnicott (1963, 1954) e Bleichmar (1983).
Conforme Mackinnon & Michels (1981) as depressões
exógenas ou reativas são resultado de experiências traumáticas
que aconteceram na vida do paciente; e as depressões
endógenas seriam a expressão padronizada de uma reação
condicionada, pouco afetada pelos fatores externos. Segundo
os autores outro fator que desencadearia a depressão seria a
redução da autoconfiança e da autoestima. Pois existe nestas
pessoas perturbações que as levam a autoacusações, expressões
de sentimentos de desvalia, a presença demasiada de
sentimentos de culpa e vergonha, e um discurso que revela a
ambivalência dos sentimentos envolvidos neste processo. “A
pessoa depressiva é atormentada pela sensação de culpa e vive
se autorrepreendendo, está sempre ocupada em voltar às boas
(fazer as pazes) com tudo”. (DTHLEFSEN, 2007, p. 221).
66
Mackinnon e Michels classificam as depressões em:
Depressão dissimulada ou equivalente: Os pacientes
apresentam sinais de depressão, mas apresentam negação de
seus afetos muitas vezes expressados nos sintomas somáticos.
Depressão reativa ou secundária: surge em resposta a
um estresse identificável, como perdas (reações a luto),
doenças físicas graves ou uso/abstinência de drogas. Uma
reação de esgotamento às pressões da vida, aparecendo depois
de períodos de dificuldades como um sinalizador.
Depressão menor ou distimia: o paciente acometido por
este tipo de depressão possui uma falta de humor crônico, nesta
síndrome depressiva o paciente consegue conviver
socialmente, porém sem experimentar prazer.
Depressão maior ou unipolar: desordem primária e
endógena, caracterizada por episódios depressivos em períodos
variáveis da vida do paciente, o paciente é geneticamente
predisposto à doença.
Transtorno de humor bipolar: Desordem primária e
endógena, caracterizada por episódios depressivos alternados
com fases de mania ou de humor normal. O paciente apresenta
comportamento extremamente alegre logo após está em plena
tristeza e apatia.
Para Zimerman (2001) as depressões são resultantes de
perdas que podem ser dos objetos amados e ou odiados, ou
perdas da capacidade do ego. Também por culpas, devido à
rigidez do superego que pune e castiga. Outro fator é o fracasso
narcisista que se dá em decorrência da ruptura de papéis
impostos à criança e que o adulto repete. Para Mackinnon &
Michels (1981) a perda seria um dos principais fatores
desencadeantes da depressão, traduzindo-se seja pela morte ou
separação do objeto de amor. Sendo que essa perda pode ser
real ou iminente. Algumas vezes pode ser uma perda
psicológica interna real ou fantasiosa, como consequência da
interpretação de ser rejeitado pela família ou amigos, ou perda
também a perda de status social.
67
Psicanalistas renomados como Melaine Klein e
Winnicot sempre enfatizaram a primeira infância e as relações
de objeto como aspectos importantes na organização
emocional. Sendo que para eles a depressão se baseia na falta
de uma boa relação de objeto. Porque toda patologia está
relacionado ao afeto estabelecido nas relações de objeto, estes
são fatores importantes no desencadeamento de uma psicose
depressiva ou numa reação depressiva.
Sendo que a pessoa se fere em suas relações de objeto
nas primeiras relações, pelo mecanismo do recalcamento acaba
repetindo o mesmo desfecho em novas relações de objeto pela
vida, vivendo em um ciclo de repetições, este fato leva à
exaustão, mas inconsciente desta realidade, acaba encontrando
uma saída pouco eficaz que é criar uma doença como defesa,
aumentando as marcas e repetindo as feridas. Muitos chegam
ao estremo de pensar em tirar a própria vida, isto porque uma
sequência de frustrações consequentemente gera o
esgotamento, a desesperança, o vazio, é como se a pessoa
tivesse a necessidade de matar a vida que está lhe matando.
Segundo o psicanalista humanista Salézio Plácido
Pereira “as doenças psíquicas estão intrinsecamente
relacionadas com as experiências, vivências e, de modo muito
particular, a visão de mundo de cada indivíduo. Cada
interpretação da realidade traz na essência da representação
uma aprendizagem”. (2007, p. 93).
Pereira ainda destacando a patologia, contribui
afirmando que, quando não há amor o ser humano perde o
sentido de existir, quando não há mais sentido ou motivos para
continuar vivo o “pathos” acaba instalando-se, neste caso, a
depressão pode levar inclusive ao suicídio, isto porque a
patologia surge no momento da falta, e ela aparece “sobre
diversas formas e conteúdos, em alguns casos o desespero é
maior que a fortuna econômica, em outros a inferioridade
assola a autoestima, alguns se sentem tão culpados que
preferem terminar com a própria vida”. (2009, p. 92).
68
5. O TRATAMENTO DO PACIENTE DEPRESSIVO
NA CLÍNICA PSICANALÍTICA
71
causadas pelo próprio homem, que por seguir vida a fora
inconsciente de suas atitudes acaba sofrendo. O processo de
conscientização é inevitável, a fim de transformar energias,
hábitos, crenças, valores.
A psicanálise está interessada em entender o indivíduo
em sua totalidade, para isto faz-se necessário investigar a
história de vida do paciente e o contexto social e cultural do
mesmo, a depressão pode estar associada às perdas,
ambivalências, instabilidade financeira; ou também ligada às
culpas seguidas de autopunição, a fracasso, insucessos, uma
vida infeliz de inconsciência. E o paciente “ao reviver o drama
neurótico, aparece durante a análise, a repressão, ou seja, o
núcleo neurótico emocional que impede a livre expressão de
suas potencialidades”. (PEREIRA, 2009, p. 15).
Portanto, o tratamento analítico não visa à doença, mas
o sujeito que está em sofrimento, visa o descortinamento e a
desconstrução de padrões, crenças, valores, que nos foram
impostos como verdades absolutas que são geradores de
conflitos. A pessoa em tratamento “ao tomar consciência
visceral do bloqueio emocional, consegue identificar onde se
encontra o trauma que impede a solução de um determinado
tipo de problema pessoal”. (PEREIRA, 2009, p. 15).
O tratamento é feito mediante uma escuta especializada
fundamentada na teoria do inconsciente que permite que o
sujeito possa se conhecer, olhar para si, descobrir e modificar
as “verdades” no qual acreditou até agora. A psicanálise
permite que o sujeito entre em contato com o seu próprio
desejo para criar suas próprias escolhas. Sendo que o analista,
durante o tratamento, “é uma tela onde o paciente projeta suas
emoções de medo, raiva, rancor, inveja, ciúme, alegria, desejos
eróticos, amor fraternal e outras tantas emoções que no seu
devido tempo será confrontado, esclarecido e interpretado”.
(PEREIRA, 2009, p. 15).
O tratamento pela psicanálise se dá pela subjetividade,
sendo que em alguns casos o uso de medicação é fundamental,
72
mas deve ser de forma integrada, pois somente a medicação
não vai resolver a causa, portanto muitos pacientes fazem
análise e são pacientes na psiquiatria, sendo medicados até que
não mais necessitem desta “muleta”. Ou até conseguirem
novamente utilizar todo seu potencial na existência, para poder
despertar sua alegria e encanto pela vida, e o cérebro voltar a
fabricar os mesmos componentes químicos contidos nos
remédios, seja a dopamina, a serotonina. O segredo seria mudar
as emoções, a fim de mudar a bioquímica cerebral,
equilibrando nossa “farmácia interna”.
74
que a patologia é uma alternativa equivocada para resolver os
problemas da existência.
Para Bleurer (1985, p. 360) o paciente que está
depressivo “pode reencontrar-se e voltar para a vida e a
evolução futura pode-se desenrolar favoravelmente”, sendo que
ele pode “fazer novos amigos, lutar com nova coragem pela
sua existência, adquirir novos interesses. Pode ocorrer uma
vida interior mais rica e a pessoa pode-se dirigir para atividades
altruístas, artísticas ou cientificas.” Esta seria uma forma
positiva de aplicar sua energia física e psíquica com o intuito
de utilizar todas as suas potencialidades, que na verdade é o
que defende a psicanálise humanista.
Comumente acompanha-se na mídia e presencia-se o
acontecimento de tragédias, pessoas doentes, dor e sofrimento
que assolam a vida do ser humano, inúmeras perdas que
solapam, abalam e levam ao desespero as pessoas. Muitos
choram, se desesperam, outros se vitimizam, adoecem,
perecem, morrem, tiram a própria vida. Porém vemos aqueles
que lutam, buscam alternativas, procuram ajuda, querem
melhorar. O que acontece? O que diferencia estas pessoas umas
das outras?
Pereira (2012) acredita que quando o ser humano
consegue acumular força e criatividade através de suas
experiências traumáticas é porque conseguiu fazer uma leitura
destes sofrimentos, podendo assim utilizar estes momentos
difíceis para conseguir superar os problemas da existência, são
pessoas que popularmente se fala que “souberam fazer do
limão uma limonada”, desenvolveram a capacidade de utilizar
a pobreza para tornarem-se ricos, fazer da doença um caminho
para lutar e viver com saúde, transformaram suas neuroses para
conseguir equilíbrio e ter satisfação em viver, e fazer das
adições e compulsões um aprendizado para ajudar as pessoas
que precisam.
Este é o lado bonito da existência e a satisfação do
psicanalista, ver que aos poucos o paciente consegue evoluir,
75
trilhar o seu caminho pela via da saúde, do prazer, da
satisfação, procurando a cada dia desenvolver seu potencial
intrínseco de alegria, felicidade, amor, sendo produtivo,
despertando potenciais, relacionando-se bem consigo, com os
outros, com o mundo. Isso tem nome e chama-se superação.
Isto porque a psicanálise “evidencia no tratamento o
acompanhamento prático das capacidades, da criatividade, do
poder de decisão, da capacidade de enfrentar determinados
obstáculos e conseguir com esta experiência ser mais maduro e
corajoso”, (PEREIRA, 2012, p. 06).
A superação é um conjunto de potencialidades que
fazem parte da natureza humana, está aliada à sabedoria e boa
autoestima, na coragem de enfrentar os medos, as culpas. É a
capacidade de saber lidar com situações negativas e
estressantes, com as pressões e tensões, e saber tirar um
aprendizado, sair mais criativo, com mais força de vontade,
com sentimento de triunfo, porque todos na vida passam por
adversidades. Seria “encontrar os recursos na existência para
sobreviver a todo tipo de tempestades emocionais”.
(PEREIRA, 2012, p. 125).
As pessoas depressivas e que passam pelo tratamento
psicanalítico terão que gradativamente trilhar este caminho,
buscando este aprendizado, buscando o afeto no amor, na
alegria, nas conquistas e não por intermédio da dor, da
vitimização e da patologia. Porque para poder superar os
problemas e superar-se, a pessoa precisa ter segurança
emocional, sua pulsão de vida precisa estar bem mais forte que
a pulsão de morte, ela precisa de convicção e disciplina. Isso se
torna possível quando o paciente encontra o amor em sua vida,
porque “o amor é esta disposição para fazer o bem, isto inclui
atenção, cuidado, estudo, inteligência, simplicidade, qualidades
que podem representar a estética do amor.” (PEREIRA, 2012,
p. 113).
76
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
77
BIBLIOGRAFIA
78
______. (1926 [1925]). Inibições, sintomas e angústia. Rio de
Janeiro: Imago, 1996. v. XX.
79
Organização Mundial da Saúde. (1993). Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde - Décima Revisão (CID-10). São Paulo,
EDUSP/ Centro Colaborador da OMS para Classificação de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.
81
UMA ANÁLISE DIALÉTICA DA PERVERSÃO DE
SIGMUND FREUD A ERICH FROMM
Flávio Rodrigues
82
Palavras-chave: Perversões, orientações de caráter,
personalidade, Psicanálise Humanista.
86
O desenvolvimento da sexualidade tem relação com
uma complexa cadeia de acontecimentos, que estão ligadas
diretamente a pulsão sexual, em que as pulsões parciais têm
menor importância, assim como o social e cultural. Os
acidentes seriam os agentes desencadeadores, que em alguns
casos, contribuiriam para que ocorressem tais desvios ou
fixações. Assim, o ponto principal do desenvolvimento da
sexualidade seria a repressão das pulsões sexuais, esta
repressão acarretaria a condição neurótica do indivíduo. A
formação do reprimido seria uma reação orgânica as demandas
da pulsão sexual.
88
Os rudimentos dessa fase podem desencadear a fixação
do desenvolvimento acarretando a estruturação psíquica pré-
genital. Freud, aponta o chutar como sendo uma opção libidinal
(pulsão parcial), que perdeu o vínculo com a nutrição,
passando a desempenhar um papel autoerótico. Esse desvio de
função libidinal, fixação oral, poderá incorrer em perversão,
em que a libidinização encontrará satisfação apenas nesse alvo
(zona erotizada), com seu objeto de escolha apropriado.
89
função psíquica (Ibidem, p.181), que não tem vínculo com a
função excretora.
90
3. A ESTRUTURAÇÃO DAS PERVERSÕES SEXUAIS.
92
fator, segundo nossas colocações
anteriores, é inadmissível. (FREUD, 1989,
132).
4. AS PERVERSÕES E AS ESTRUTURAS
DE CARÁTER EM ERICH FROMM.
96
para Fromm se dá dentro da estrutura familiar, e corresponde
ao reservatório das relações estabelecidas neste núcleo social.
Ao reler Freud não deixa de reconhecer as facetas
sócias e culturais de sua teoria. Como também não se deixa
seduzir pelo Behaviorismo, que tinha como premissa a
modificação pelo ambiente do inato. Este fator se torna
importante para formar a base de sua teoria humanista. Pois
desloca da natureza animal biológica, para uma natureza
animal humana que está em permanente reflexão com a
existência, resolvendo as questões complexas de sua
experiência com a vida.
Seus pressupostos diferenciam o animal humano do
restante, pelas metas de transcendência das próprias
capacidades do humano. Estas capacidades estão também a de
ter a condição de expandir a autorreflexão a ponto de estar
consciente de sua natureza humana social, que é correlacional a
natureza em que está incluído. Afirma ele que, “A meta da vida
humana, portanto, deve ser entendida como expansão de seus
poderes segundo as leis de sua natureza” (FROMM, n/d, p. 30).
Compreendeu, portanto, o humano como dialético:
cultura/cultura e meio social natureza/meio social
humano/natureza humana1.
1
Não será problematizada aqui a hipótese de Natureza Humana, como
criação humana ou essência, tendo em vista neste artigo a construção social
desta natureza, já que como espécie o humano é e sempre será um animal
natural incluído na natureza, mesmo que não se pense desta forma, que se
diversifica pela condição simbólica altamente desenvolvida e a capacidade
de formar associações complexas, como a própria cultura e sociedade.
97
pessoas e culturas, mas não em outros.
(FROMM, 1986, p. 223).
99
O consumo sexual partilha a qualidade de
todo consumo: é superficial, impessoal,
sem paixão, ousado-passivo-dotado de
crescimento fisiológico. A diferença é que
tem vantagem de ser praticamente grátis e
de não se desinteressar da capacidade de
trabalho. Dá prazer e ajuda as pessoas a
esquecerem das preocupações e as dores de
suas vidas diárias. (1992, p.112)
100
humana. Os valores intrínsecos do caráter são ascensão em si-
mesma, a conquista em si-mesma, mais que a objetivação
produtiva derivada da ascensão e da conquista. O produzir liga-
se ao consumo e as metas de venda do produto, que são
fomentados, pela competição. Êxito produtivo é a voracidade e
a impetuosidade, que são ligadas ao favorecimento do
consumo, mais que a própria produção de algo real, objetivo e
fecundo.
Essa concepção do caráter Fromm chama de concepção
dinâmica do caráter, que são as orientações improdutivas, tais
como: receptiva, exploradora, acumulativa, mercantil. Que
embora, tenham aspectos negativos, ainda assim, podem ser
benéficas em alguns casos. As orientações de caráter variam de
acordo com as necessidades de resolução das questões
apresentadas pela vida e o limiar de interpretação de cada
questão.
Caráter de Orientação receptiva: tem como base
fundamental buscar fora de si à resolução para as demandas de
sua vida. Acreditam que a resolução de suas questões está em
um agente exterior que provem todas as suas necessidades.
Esta orientação de caráter permanentemente credita todas as
suas forças em receber: amor, bens materiais, informações,
afeição, conhecimento, prazer, etc. Não produz, apenas usa o
que vem da produção de outrem, dependendo do apoio em
coisas básicas. Fromm afirma, que “[...] estão sempre em busca
de um “auxiliar mágico”. Revelam uma espécie particular de
lealdade, no fundo da qual há a gratidão pela mão que as
sustenta e o medo de algum dia perdê-la.” (N/D, 66). Este fator
apresenta o nível de desamparo e insegurança constituída pela
pessoa ao longo da vida “[...] tornam-se ansiosas e muito
perturbadas quando sua “fonte de sofrimento” é ameaçada.”
(Ibidem, p.66).
Caráter de Orientação Exploradora: Assim, como a
orientação anterior, esta orientação tem foco centrado no
externo, não produz e tem como objetivo garantir que a fonte
101
esteja sempre à disposição, porém, não espera receber, mas
“tomá-las por meio da força ou da astúcia. Essa orientação
estende-se a todos os campos de atividade” (Ibidem, p.67).
Dominadora, é uma orientação, que pretende conservar-se pela
reprodução de ideias, pensamentos, bens materiais, objetos, ou
tudo que outro tenha ou produza. A inveja é o sentimento, que
mais se aproxima dessa inclinação de caráter, mesmo
possuindo inteligência, oportunidade, bens materiais, ainda
sim, tende a querer aquilo que é de outrem.
Possui conduta tendenciosa, “parece ser simbolizada
pela boca sarcástica, que comumente é um aspecto
predominante [...] Não é mero jogo de palavra dizer que elas
amiúde fazem comentários “sarcásticos” sobre outros. Sua
atitude é matizada por uma mescla de hostilidade e
manipulação.” (Ibidem, p. 67). Esta orientação, também
apresenta um traço forte, como a anterior, que é a baixa
autoestima, em que a confiança em si é débil, necessitando
possuir o que é do outro para se autoafirmar, já que o que
possui não tem valor.
Caráter de Orientação Acumulativa: o objetivo
central é acumular indiscriminadamente, sentindo a
necessidade de proteger suas aquisições. Suas tendências
voltam-se para o passado, tendo nas lembranças uma posse
pela acumulação. Desprender-se de algo é sempre penoso e que
tem um custo alto, já que também seria deixar uma parte
importante ir embora. Não se comunicam com o externo com a
mesma facilidade com que as anteriores, pois, sentem a
necessidade de resguardarem-se poupando o máximo possível
de gestos, energia, expressões, etc.
É uma pessoa obsessiva na organização dos objetos
externos, embora a dificuldade em comunicar-se, necessita de
organização e permanência, “[...] o mundo exterior ameaça
irromper em sua posição fortificada; ser organizado implica em
dominar o mundo de fora, pondo-o e mantendo-o no lugar
adequado, a fim de impedir o perigo da intromissão.” (Ibidem,
102
p.68). Sua conduta é sempre a permanência dos estados das
coisas, organização a fim de conseguir perceber a
imutabilidade, e assim, a continuidade. Este saudosismo, não se
trata de valorização do conquistado, mas o não desprender-se,
ou a possessão por si-mesma dos objetos de desejo.
Caráter de Orientação Mercantil: de todas as
orientações esta é aquela que transfigura a pessoa em objeto de
valor monetário, expressando não somente o valor em si, pela
representação de outrem. Mas da própria representação de si-
mesmo, a partir dos valores da norma mercantil, ou de
mercado. A reificação do sujeito, neste caso, “[...] tem raízes na
impressão de que se é também “mercadoria” e do valor pessoal
de cada um como um valor de troca [...] Empregados de
escritório e vendedores, diretores de empresas e médicos,
advogados e artistas todos aparecem nesse mercado [...]”
(Ibidem, p.70). No raciocínio da orientação mercantil, a mais
valia não trata-se do potencial criativo, mas do potencial
gerador de lucro e eficiência, em que as ligações e relações são
fomentadas pela lucratividade. O sucesso para esse caráter
depende efetivamente dos atrativos principais de um produto,
que seriam,
103
que garante os tipos de personas em que se vão apostar. Esta
personalização é feita de maneira clara e formal, pela educação
escolar e incentivada pela família, em que ter é sempre mais
importante que ser.
Assimilação Socialização
a) Receber.....................................Masoquista
Simbiose
(aceitar) (lealdade)
b) Explorar.......................................... Sádica
(tomar)
(autoridade)
c) Acumular.................................. Destrutiva
(conservar) (autoafirmação) Afastamento
d) Mercadoria................................Indiferente
(permutar)
(imparcialidade)
105
5. PERSONALIDADE NARCÍSICA MALIGNA
E PERSONALIDADE NECROFILIA.
6. AS INSTITUIÇÕES E O CARÁTER
PERVERSO DA NORMA.
108
normas sem serem capazes de questiona-las. Criando um
inconsciente social, de ajustamento à norma,
112
REFERÊNCIAS
113
CONHECER E COMPREENDER A ESQUIZOFRENIA
114
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
115
2. BREVE HISTÓRICO
3. VISUALIZANDO A ESQUIZOFRENIA
4. SINTOMAS DA ESQUIZOFRENIA
119
Assim, o esquizofrênico paranoide tem sintomas
positivos (delírios e alucinações) que são mais facilmente
reconhecidos contribuindo para o diagnóstico, e os
hebefrênicos e catatônicos apresentam mais sintomas negativos
como o isolamento social, o desinteresse, a dificuldade em
expressar afetos, facilmente confundidos com preguiça, falta de
vontade, acomodação e dependência.
4.2 Delírios
121
Também comuns são os delírios místicos ou religiosos
com teor ligado frequentemente à Bíblia em função da nossa
cultura. Em muitos casos o paciente acredita ser Deus ou um
enviado dele para pregar a palavra divina, dotados de vidência
e sabedoria, estarem possuídos por espíritos. Este
comportamento delirante por vezes é tão compulsivo que os
leva a mutilações para seguir na integra a sua interpretação da
Bíblia e para livrá-los dos pecados que acreditam macularem
sua existência.
Aprofundando-se no tema dos delírios, Palmeira (2009,
p. 56-57) discorre sobre a existência de outros temas como
delírio de possessão em que o paciente acredita estar possuído
por um espírito ou encarnado em outro personagem; delírio de
influência quando o paciente acredita em sua capacidade de
influenciar outras pessoas por telepatia; delírio de ciúme
quando acredita ser traído por quem ama; delírio erotomaníaco
quando tem a convicção de que alguém está apaixonado por ele
e assim se apaixona por outra pessoa que desconhece esse
sentimento por ele; delírio hipocondríaco acreditando estar
com uma doença grave, sem cura; delírio de culpa assumindo a
culpa pela miséria do mundo, por catástrofes trazendo intenso
sofrimento depressivo; delírios de negação e de ruína que são
bem comuns nos estados depressivos. Nos delírios de negação
ele pode acreditar estar “morto” por dentro, com seus órgãos
podres ou em mau funcionamento e no delírio de ruína pode
acreditar estar endividado, falido financeiramente, abandonado
mesmo quando as evidências demonstrem o contrário.
4.3 Alucinações
125
A redução da motivação caracteriza-se pela falta de
vontade, de iniciativa, pelo desânimo, apatia e a dificuldade de
enfrentar as ocupações diárias. Frequentemente tal atitude é
confundida como preguiça, má vontade pelos familiares, pois
ocasiona isolamento e retraimento social.
126
5. TIPOS DE ESQUIZOFRENIA
6. VISUALIZANDO A ESQUIZOFRENIA
129
O ser humano, no início do seu desenvolvimento não
possui um referencial que lhe proporcione a indicação de sua
integridade física, pois não se percebe como um todo. É como
que seu corpo funcionasse em partes, com sensações
desintegradas. E, essas partes do corpo quando libidinizadas
passam a constituir as zonas erógenas que Freud chamou de
pulsões parciais.
Compete à mãe ou ao seu substituto no papel materno
exercer a erogenização do corpo do filho auxiliando-o a ter
uma imagem única de si mesmo, uma percepção de seu corpo
como um todo e a constituir-se enquanto um “eu” (ego) que
integrado é o resultado da passagem do autoerotismo ao amor
objetal. E, esta “nova ação psíquica” que provoca o advento do
narcisismo é o mecanismo de identificação. (FREUD, 1914,
apud STERIAN, 2011, p.107).
Os pais são os responsáveis pela idealização de uma
imagem com o qual o filho poderá vir a identificar-se,
categoricamente indispensável para a constituição do
psiquismo humano e resultado dos atributos e predicados que
eles (os pais) gostariam de ter e que possibilitará ao bebê, sua
primeira identificação. É essa imagem que propicia à criança a
visualização antecipada de um corpo unificado. “Ela passa a ter
a ilusão de ser aquilo que os pais gostariam que ela fosse: uma
pessoa “inteira”, com qualidades que eles lhe atribuem. A
criança forma, assim, seu ego ideal”. (STERIAN, 2011, p.108)
Porém, as frustrações, as castrações com que esse ego
se deparará no decorrer de sua vida o abalarão em seu
narcisismo que, impedido de manter-se nesta posição
idealizada, projeta para o futuro a realização desses ideais,
encontrando desta forma um objetivo para viver e passa a
mobilizar-se para a concretização dos seus desejos. Surge então
o ideal do ego. O ideal de ego herda o narcisismo perdido na
infância e a marca da castração, tornando-se assim o protótipo
do superego cuja função é comparar o ego atual com o ideal do
130
ego, apontando suas falhas e o caminho a ser percorrido para
atingir a perfeição desejada.
Em suma entende-se que a base desta patologia é a
cisão, a ruptura da pessoa com o mundo externo, mas não
como na neurose em que os sintomas podem atuar como uma
fuga da realidade. Nos sintomas esquizofrênicos, a realidade
não é a realidade compartilhada, e sim uma realidade singular
criada pela pessoa de modo a influenciar todo o seu
funcionamento mental.
Em Neurose e Psicose (1924) Freud postula que as
causas do conflito psicótico estão situadas nas relações entre o
ego e o mundo externo, onde o ego a serviço dos desejos do id
recusa as realidades externas e internas passando a criar uma
nova e própria realidade. Segundo Freud isto decorre de uma
frustração muito forte do seu desejo. Desse modo, o conflito da
psicose está na falha da organização egóica.
Para uma melhor compreensão trago a seguir de forma
mais abrangente como a psicanálise investiga e elucida os
distúrbios decorrentes da esquizofrenia e, de como estes
distúrbios adquirem uma nova significação a partir do
entendimento psicanalítico.
135
passa por uma desorganização peculiar, que as torna
incompreensíveis para nós, a ponto de suas observações
parecerem disparatadas” (FREUD, 1915, capítulo VII, p. 225)
e postula como hipótese a origem dos distúrbios de linguagem
que,
136
a apresentação da coisa apenas”. A esquizofrenia, em sua
rejeição de fragmentos da realidade, concretizaria, para tanto, o
corte dessa ligação, pois é essa a ligação entre a representação
da coisa com a representação da palavra que desenvolve “uma
organização psíquica mais elevada, permitindo que o processo
primário seja sucedido pelo secundário”. (FREUD, 1915, p.
230).
No esquizofrênico a atividade psíquica encontra-se
conduzida pelo processo primário. A simbolização que
efetivaria a ligação das representações de coisa de
determinados objetos da realidade a palavras encontra-se
incapacitada. O pensamento e a linguagem do esquizofrênico
neste contexto perde a noção da continuidade, das associações
e da totalidade da figura que aquelas ideias ou palavras
deveriam representar, pois não se ligam a nada. As palavras
passam a ocupar o lugar das representações de coisa. “O
desligamento de certos pedaços da realidade da cadeia
associativa provoca efrações no tecido psíquico”. (STERIAN,
2011, p.125).
Freud nos remete em seu Suplemento metapsicológico à
teoria dos sonhos a uma diferença essencial entre a elaboração
dos sonhos e a esquizofrenia. Nos sonhos o que muda “não são
as palavras, mas a apresentação da coisa à qual as palavras
foram levadas de volta. Nos sonhos há uma regressão
topográfica; na esquizofrenia, não”. (FREUD, 1917 [1915],
p.260-261)
Nos sonhos, entretanto, sobrevém uma livre
comunicação entre as catexias da coisa (inconsciente) e as
catexias da palavra (pré-consciente), enquanto que na
esquizofrenia esta comunicação encontra-se interrompida, vez
que as palavras “são as coisas em si” regidas pelo processo
primário. Também, da mesma maneira que nos sonhos os
restos diurnos geram material a ser ligado a representantes
pulsionais recalcados, as palavras, na esquizofrenia recebem
um alto investimento libidinal, pois o psiquismo procura,
137
através de seus movimentos, a passagem para a recuperação do
fragmento da realidade rejeitada.
Na esquizofrenia, a rejeição da realidade é tão radical
que gera um desinvestimento da representação inconsciente da
coisa, que não foi elaborada, e que angustia o psiquismo. Desta
feita, quando Freud teoriza sobre a esquizofrenia,
138
Que o melancólico, na realidade, retirou do
objeto sua libido, mas que, por um
processo que devemos chamar de
‘identificação narcísica’, o objeto que se
estabeleceu no ego, digamos, projetou-se
sobre o ego. (...) O ego da pessoa então é
tratado à semelhança do objeto que foi
abandonado e é submetido a todos os atos
de agressão e expressões de ódio vingativo,
anteriormente dirigido ao objeto. (FREUD,
1916-1917, apud STERIAN, 2011, p.137).
139
7. A CLÍNICA PSICANALÍTICA
NO TRATAMENTO DA ESQUIZOFRENIA
140
7.1 Modificações na Clínica Psicanalítica
no Tratamento de Pacientes Esquizofrênicos
7.2 O divã
7.4 Interpretação
8. TRANSFERÊNCIA COM
PACIENTES ESQUIZOFRÊNICOS
145
No estabelecimento da situação analítica, o lugar do
psicanalista no tratamento do psicótico é bastante diferente da
abordagem utilizada no tratamento do paciente neurótico. Na
psicose, o psicanalista atua muito mais sobre o paciente do que
faz ao tratar a neurose, em consequência da transferência
tipicamente maciça que ele recebe e por seus atos serem
investidos de uma significação particular a este paciente. Pode
tornar-se uma tarefa um tanto complexa, desafiadora e por
vezes até incômoda, mas por mais inusitada que a situação se
apresente ao psicanalista, ele não deve afastar-se do
compromisso ético da Psicanálise – o amor à verdade.
Reichmann (1994) postula que a dificuldade do
esquizofrênico não está em estabelecer um vínculo consistente
com o analista, mas por suas reações de transferência serem
extremamente intensas e sensíveis, reforçando a necessidade de
entendermos a essência das reações de transferência e como o
analista pode trabalhar com elas.
Considerando a infância como base psicológica da
influência patogênica das frustrações, onde a criança, nos seus
primeiros anos vive em um mundo narcisista que lhe é próprio,
onde não diferencia, mas tem suas necessidades e desejos
atendidos como fruto de seu pensamento mágico e ainda não
adquiriu linguagem; considerando como uma pessoa
esquizofrênica a pessoa que tenha tido vivências traumáticas
neste período em que o “eu” e sua capacidade de avaliar a
realidade ainda não se encontravam desenvolvidos, e que não
recebeu o investimento adequado de seu cuidador.
Pode-se dizer que tais vivências ocasionaram mais
lesões a sua personalidade que as produzidas em etapas
posteriores à infância, porque esse período inicial da vida é o
que prepara e dá suporte a criança a sentir-se mais segura e
confiante para enfrentar com maior destreza as etapas que
estarão por vir. Portanto o que pouco significaria para um
psiconeurótico ao lidar com as frustrações, muito significaria
para o esquizofrênico em termos de dor e sofrimento, porque
146
sua capacidade de lidar com a frustração fica restrita e
insuportável ocasionando sua fuga para um mundo irreal.
Desta forma explica-se a reação do paciente
esquizofrênico, desconfiado, reticente, sentindo-se ameaçado
pelo mundo e principalmente pelo analista. A aproximação do
analista é vista como uma invasão de território particular,
inviolável e um forte prenúncio de voltar às frustrações de sua
vida real e sua incapacidade de enfrentá-las.
150
e eu o fumei. No dia seguinte, ele havia
preparado um assento para mim cobrindo
com uma folha limpa de papel o banco do
pátio onde fui até ele. ‘Não quero que suje
o vestido’ comentou. Este foi o início de
sua aceitação comigo como amiga e
analista. (REICHMANN, 1994, p.14,
tradução nossa)
152
(REICHMANN, 1994, p.19, tradução
nossa).
9. CONTRATRANSFERÊNCIA
COM PACIENTES ESQUIZOFRENICOS
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
156
BIBLIOGRAFIA
157
Geraldes, Ana Beatriz Costa Bezerra. – Rio de Janeiro:
Interciência, 2009.
158
Sites pesquisados:
159
A PARANOIA SOB A ÓTICA DA PSICANÁLISE.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
160
Historicamente tem-se registrado que o termo paranoia
foi empregado pela primeira vez na Alemanha por Heinroth,
sendo que em seguida foi utilizado em mais três escolas da
Europa, que seriam a escola psiquiátrica alemã, a francesa e
italiana.
Literalmente o termo paranoia vem do grego, onde -
para – é ao lado de, fora; e – noia - de si, sendo assim. – “fora
de si”. No vocabulário de psicanálise Laplanche e Pontalis,
encontra-se o termo paranoia como sendo uma palavra de
origem grega que significa “loucura”, “desregramento do
espírito”. O pai da medicina Hipócrates já havia utilizado este
termo para se referir ao delírio com febre alta, e outros autores
já utilizaram a palavra paranoia como sinônimo de demências e
loucura. E no século XIX, este termo foi recuperado e
empregado pela psiquiatria.
Neste contexto, buscou-se, subsídios teóricos para
discutir a questão do sofrimento psíquico na paranoia sob a
ótica do mecanismo da projeção. Importante ressaltar que esses
três termos não constituem novidade, sendo que a paranoia
sempre foi, desde o início na história da psicanálise, ligada à
projeção, e como todo mecanismo de defesa, ligada a um
sofrimento psíquico.
No vocabulário de psicanálise Laplanche e Pontalis
encontra-se a definição de projeção para a psicanálise:
161
Para compreender esta patologia precisa-se perceber a
estreita e forte ligação com o medo, o que a princípio é apenas
uma experiência negativa, muito frustrante e aterrorizante,
torna-se o inferno pessoal deste paciente, como se ele temeroso
aguarde todo tipo de má sorte, de morte, doença, loucura,
sofrendo todo momento com o medo de ser excluído, que a
perturbação retorne, perturbações que não conseguiu elaborar.
Antes de ser atacado, então, porque em seu delírio todos o
odeiam e podem prejudicá-lo, desenvolve a vingança e ataca
qualquer um que ouse uma aproximação social ou afetiva.
Neste sentido, este artigo contempla o estudo da
paranoia sob a ótica da psicanálise, e para melhor compreensão
do tema, faz-se reflexões acerca da etiologia e a dinâmica desta
patologia, bem como, apresenta-se em caráter introdutório, a
análise do Pai da psicanálise sobre a paranoia, abordando ainda
brevemente o caso Schereber.
2. ENTREVISTA E DIAGNÓSTICO
164
Caracteriza-se pelos aspectos seguintes: as
pulsões agressivas coexistem desde o início
com as pulsões libidinais e são
particularmente fortes, o objeto é parcial
(principalmente o seio materno) e clivado
em dois o “bom” e o “mal”; os processos
psíquicos predominantes são a introjeção e
a projeção; a angústia intensa é de
natureza persecutória (destruição pelo
“mau” objeto). (LAPLANCHE E
PONTELIS, 2001, pp. 346, 347).
4. O QUADRO PSICOPATOLÓGICO
170
Tinha tanto medo de sair da cama à noite pro banheiro
Medo de saber que não estava ali sozinho porque sempre...
Sempre... sempre...
Eu estava com Deus!
Eu estava com Deus!
Eu estava com Deus!
Eu tava sempre com Deus!
Para...noia
177
influências exteriores que estavam em
jogo. (SCHREBER, 1995, p. 54).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
181
BIBLIOGRAFIA
182
________. Novos comentários sobre as neuropsicoses de
defesa. In: Edição standard brasileira das obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1969. v.
3.
183
KLEIN, M. Notas sobre alguns mecanismos esquizoides. In:
___. Inveja e gratidão. E outros trabalhos (1946-1963). Rio de
Janeiro: Imago, 1991.
184
ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise.
Elisabeth Roudinesco e Michel Plon. Rio de janeiro: Zahar,
1998.
185
A PSICANÁLISE HUMANISTA
E O PACIENTE SOCIOPATA
186
1. CONCEITUAÇÕES
187
Está ligada ao uso da razão, por parte do
sujeito, para apresentar uma explicação
coerente, do ponto de vista da lógica, ou
para encontrar uma justificativa do ponto
de vista da moral para uma atitude, uma
conduta, uma ideia, um sentimento etc.,
cujos motivos verdadeiros, de alguma
forma, ele nega (ZIMERMAN, 2009, p.
351).
188
O sociopata é paciente que tendo baixa autoestima,
mostra-se inseguro de si mesmo, tem ausência mórbida de
vontade (abúlico), ansioso por valores apresenta particular e
excessivo apego a questões de honra (filotímico); tem
dificuldade para adaptação a regras e rotinas.
Pelo transtorno afetivo de personalidade, apresenta
traços ciclotímicos, perturbações crônicas e flutuantes de
humor, alternando sensações de bem estar com períodos de
depressão (bipolaridade), ora mostrando humor
preponderantemente alegre, tentando mostrar-se extrovertido e
simpático, para isso chegando a ter atitudes teatrais, ora
mergulhando em tristeza e depressão.
Os sociopatas podem também ser caracterizados como
pessoas insinceras, marcadas por egocentrismo e incapacidade
de amar, ostentando pobreza de reações afetivas, conduta
fantasiosa, impessoalidade na vida sexual, vivência para si
também muito pobre de emoções.
190
atual contribuirá para nivelar o equilíbrio.
[...] A escolha específica de conduta
perversa ou antissocial tem significado
simbólico. Por exemplo, o exibicionista
está, geralmente, preocupado com a
adequação de seu equipamento sexual e
procura tranquilizar-se pela reação dos
outros. Alguns padrões de furto repetitivo
refletem o sentimento de que o indivíduo
foi injustamente privado de algo que lhe
pertencia por direito. (MACKINNON,
1981, p. 252).
2. PSICOPATIA E NEUROSE
191
O caráter neurótico desenvolveu, mais que
sintomas neuróticos, modos de adaptação
egossintônicos como meio de lidar com o
conflito endopsíquico e a ansiedade. Isto
significa que adquiriu padrões de conduta
para gratificar parcialmente seus impulsos,
refrear sua ansiedade e acalmar, ou
satisfazer, as demandas do superego sem
prejudicar indevidamente o funcionamento
autônomo de seu ego ou suas relações com
os demais. (MACKINNON, 1981, p. 245).
3. OS ENFOQUES DA PSICANÁLISE
193
Como introdução a este tópico, parece que nada poderia
ser mais apropriado que essa observação, na qual se contém
praticamente uma síntese sobre as neuroses, sua etiologia e
correta abordagem psicanalítica à luz de nossa
contemporaneidade:
196
Nesse terreno (o das experiências familiares), é
fundamental compreender, para que se entenda as neuroses, a
importância das vivências infantis na estruturação e no
desenvolvimento do caráter da pessoa humana, até porque é na
infância que surge a grande maioria dos problemas dessa
natureza, pela imaturidade do indivíduo nessa fase de formação
da personalidade, onde são essenciais as condições favoráveis
para o crescimento e onde eventos traumáticos acabam
deixando marcas profundas no psiquismo infantil.
Nessas “condições favoráveis”, está compreendida a
capacidade e a boa vontade que devem ter os pais para muitas
vezes superarem suas próprias necessidades neuróticas,
evitando negligenciar ou rejeitar os filhos (ou no oposto,
superprotegendo e sendo indulgentes), a fim de proporcionar às
crianças a satisfação de suas necessidades de afeto,
amorosidade e segurança.
Carentes disso, as crianças podem desenvolver angústia
e ansiedade, sementes de neuroses pelo sentimento de solidão
em um mundo que se mostre hostil.
Dominado pela neurose, o indivíduo pode buscar
defender-se da hostilidade desenvolvendo o ânimo, por
exemplo, de lutar por ter poder, prestígio e posses, como meio
de dominar, humilhar e até mesmo de privar as outras pessoas
de alguma coisa; e, quando mais profunda a ferida neurótica,
pode a pessoa até atingir níveis de rejeição ao meio social,
quando então o doente, impactado pelo ego ferido, é impelido a
afastar de si a ansiedade, o sentimento de solidão e a
hostilidade, lutando com todas as suas forças para tornar-se
independente ou emocionalmente desapegado de seus
semelhantes, mecanismo que lhe pode servir de proteção para
que não mais se sinta machucado pela rejeição, que pode ser
real ou imaginária, pode apenas existir no mundo de suas
próprias fantasias e desamor.
As pessoas normais, em maior ou menor grau, buscam
no dia a dia também defender-se da rejeição, da
197
competitividade e da hostilidade, em um mundo sempre mais
dominado pelas vaidades e ausência de humanismo, onde “a
felicidade do homem moderno consiste na sensação de olhar as
vitrinas das lojas e em comprar tudo quanto esteja em
condições de comprar, quer a dinheiro, quer a prazo”
(FROMM, 1995, p. 11).
Mas, pessoas pautadas por padrões de normalidade têm
discernimento e têm capacidade, mesmo perante uma
modernidade hostil, para utilizar manobras defensivas de
forma a extrair delas alguma utilidade, enquanto o neurótico
age de maneira essencialmente ineficaz, aprisionado em um
círculo vicioso onde necessidades compulsivas conduzem a
atitudes e comportamentos que lhe realimentam a baixa
autoestima, a sensação de inferioridade e seus medos derivados
da ansiedade básica.
Aí já se destaca a função do psicanalista, em seu
trabalho de conduzir seu paciente a entender que “quanto mais
conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor”
(FROMM, 1995, p. 8, citando Paracelso), havendo desta
tomada de consciência o convencimento de que,
199
O senso de identidade estaria mais intimamente ligado à
formação do ‘self’ da pessoa humana, a capacidade de estar
ciente de si própria como uma entidade autônoma e separada.
A estrutura de orientação poderia ser comparada a um
roteiro, capacitando o indivíduo a organizar e dar sentido aos
estímulos provenientes de sua energia interior, podendo aí
haver desvirtuamento na direção de filosofias irracionais ou
bizarras, como as preconizadas por falsos profetas, líderes
religiosos ou políticos fanáticos e sectários.
Enfim,
201
Sofrendo essa consciência de desamparo, o homem
pode buscar readquirir equilíbrio na busca por estados de transe
ou de êxtase, seja através das drogas ou do alcoolismo, seja
também por meio da transitoriedade do ato sexual, protótipo da
satisfação momentânea, que não raro se reduz a uma
experiência meramente narcisista, despida da orientação do
amor e, portanto, capaz de tão só aprofundar o vácuo
existencial.
Estímulos são necessários para levar uma pessoa a
tornar-se ativa, aberta a entabular os laços de afetividade e
amorosidade necessários a uma vida em sociedade, em padrões
normais de saúde e produtividade.
São esses estímulos que se vão constituindo em
aprendizagem e que se formam desde quando se compõem os
primeiros rudimentos da personalidade, lá na infância mais
remota, quando a estruturação do próprio ‘self’ ainda é um
processo inacabado, entendendo-se que “as paixões destrutivas
e sádicas em uma pessoa são usualmente organizadas em seu
sistema de caráter” (FROMM, 1975, p. 341).
Fundado na razão e formado, a nível social, também por
tradições arraigadas, o caráter é na verdade um fenômeno
essencialmente humano, necessário no processo da
sobrevivência humana, por isso então não encontrado em igual
patamar em outros mamíferos que, não tendo o dom da fala,
não têm condições para expressar símbolos, valores e ideias.
202
de uma racionalização convincente para ser
posto em ação (FROMM, 1975, p. 341).
203
(FROMM, 1975, p. 272), distúrbio também capaz de dar
contorno a uma personalidade sociopata.
Integrado por Freud aos estudos sobre a libido, o
narcisismo remonta aos relacionamentos originários da
infância, quando ainda não havia relacionamentos com o
mundo externo, mas fundamentalmente do bebê com sua mãe
(narcisismo primário), um estágio normal do desenvolvimento
humano.
Em circunstâncias especiais, contudo, “a libido é
desligada dos objetos e dirigida novamente de volta ao ego”
(FROMM, 1975, p. 271), quando então se dá o narcisismo
secundário, anomalia da qual “a pessoa narcisista exibe graves
defeitos de julgamento e mostra-se carente frente à
objetividade.” (FROMM, 1975, p. 272). Características
também marcantes da personalidade sociopata.
205
sentimento de “impotência, de vulnerabilidade, que os torna
fracos diante de sua compulsão” (PEREIRA, 2010, p. 95).
Pelo psiquismo afetado por experiências regressivas
traumáticas e dolorosas, se recusam ao amor, porque “amar
alguém é tornar possível a repetição do abandono e da traição”
(PEREIRA, 2010, p. 97).
Também nas perversões sexuais pode haver raízes
neuróticas.
Conceitualmente, “perversões são padrões de conduta
sexual que a sociedade considera desviados, geralmente porque
o ato específico ou o companheiro escolhido não correspondem
aos critérios tradicionais” (MACKINNON, 1981, p. 256).
Segundo esse conceito padrão,
206
5. MECANISMOS DE DEFESA
207
Os sociopatas, indivíduos assolados por angústias
internas muito intensas, estruturam inconscientemente suas
defesas, além dessas apontadas, empregando a generalização, o
isolamento e a racionalização.
Generalizando, para enfrentar o desconforto de sua
conduta antissocial, o sociopata procura excluir-se da
anormalidade nutrindo o sentimento de que “todos fazem isso”,
ou seja, sente-se autorizado na medida em que considera que as
demais pessoas não agem diferentemente, que seu padrão está
associado à média da conduta dominante no meio social onde
vive, sentindo-se enquadrado, portanto, na normalidade.
No isolamento emocional, busca refúgio em recurso de
certa forma com natureza mágica, criando uma espécie de hiato
ou pausa que lhe permita entender cindido seu pensamento,
formando como que uma barreira capaz de evitar o contato
associativo, como se fosse um processo também de clivagem
pelo qual busca inconscientemente fugir do sofrimento e da
depressão.
O sociopata igualmente racionaliza, buscando aplacar
seu ego através de uma explicação coerente ou uma
justificativa moralmente aceitável para sentimentos, ideias ou
condutas cujos motivos verdadeiros ele nega, pela viva noção
que nutre sobre a sua diversidade na relação com o meio.
Negando, o indivíduo “recusa percepção a um fato que
se impõe no mundo exterior, negando que lhe pertença”
(LAPLANCHE, 2012, p. 293), porque inconscientemente não
quer tomar conhecimento desse fato, o que também pode
ocorrer com relação a algum desejo, fantasia, pensamento ou
sentimento ao qual renegue e ao qual se recuse à apropriação.
Derivando para a negação fantasiosa, o indivíduo
“escolhe a gratificação delirante e renuncia à função de
comprovação da realidade. Desliga-se do mundo exterior e
cessa inteiramente de registrar os estímulos externos”
(FREUD, 2006, p. 62).
208
6. CONCLUSÕES
209
foram reduzidas a pouco mais de um terço do contingente
populacional, hoje predominantemente urbano.
Num tal quadro, são evidentes as transformações
culturais que ocorreram no que diz respeito aos usos e
costumes, conceitos sociais e de ordem moral ou ética nas
relações, na economia e nas comunicações, enfim, na própria
estruturação dos hábitos pessoais e familiares, em constante
adaptação aos modelos que evoluíram desde a vida camponesa
até aqueles dos conglomerados urbanos.
A família patriarcal, de numerosos filhos e mão de obra
farta direcionada muitas vezes à própria subsistência do grupo,
cedeu lugar aos núcleos familiares modernos bastante
reduzidos, onde pai e mãe disputam lugar num mercado de
trabalho sempre mais competitivo, os filhos desde tenra idade
ficam comumente sob a guarda de cuidadores profissionais,
sejam babás nas residências, sejam educadores em instituições.
Na sociedade urbana e industrial, regida por novos
hábitos e condicionada por apelos midiáticos e pela
instantaneidade das comunicações, pais e mães sempre mais
vem tendo intensificadas suas necessidades neuróticas, acabam
massificados pela inevitável adesão aos novos usos e costumes,
muitas vezes negligenciando as necessidades de afeto e de
segurança dos filhos, intelectualizando, sublimando ou
racionalizando culpas através de processos compensatórios de
satisfação, seja superprotegendo, seja tratando seus filhos com
excessivas indulgências, tudo isso podendo reverter em
hostilidade básica, ansiedades e medos, gerando sentimentos de
desconfiança e rebeldia e alimentando neuroses que podem
resultar em sociopatia.
Nesse mundo novo, evoluíram as ciências humanas e
sociais, atualizou-se a economia, progrediu a medicina, que
encontrou na modernidade recursos tecnológicos suficientes
para avanços até bem pouco tempo atrás impensáveis,
erradicando moléstias e empregando técnicas elaboradas de
saúde pública, tudo isso fazendo parte da constante evolução
210
buscada pela sociedade contemporânea, na direção de
encontrar melhores condições e qualidade de vida.
Iguais desafios deve enfrentar a psicanálise, como
ciência também voltada às questões de saúde pública e
educação, que procura através da tomada de consciência e do
autoconhecimento o caminho para uma vida saudável, feliz e
de amorosidade nos relacionamentos, sendo que dos
profissionais a ela dedicados se espera a cada dia maior
comprometimento com o estudo, base e um dos tripés da
análise.
211
BIBLIOGRAFIA
213
O PACIENTE OBSESSIVO-COMPULSIVO NA
PSICANÁLISE HUMANISTA
214
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
216
2. PRIMEIRA ENTREVISTA - ANAMNESE
217
rejeição, abandono, preconceito e julgamento” (PEREIRA,
2009-b, p. 84).
Todos esses cuidados requerem uma redobrada atenção
flutuante do analista já na primeira entrevista, quando deverão
ser tracejadas as premissas clínicas, havendo consenso de que
as enfermidades em geral podem ter origem em fatores ao
mesmo tempo de ordem psíquica, somática e social, fatores
cujo peso relativo pode ser bastante díspar.
Sabe-se que antes de ser admitido ao tratamento na
psicanálise humanista, o futuro analisando deverá ser
submetido à entrevista preliminar, onde possa ser previamente
avaliada seu potencial de analisabilidade, elaborando-se então a
anamnese do caso.
Em se tratando então de paciente com queixa de
Neurose Obsessiva, ou Transtorno Obsessivo Compulsivo –
TOC, ao ser admitida essa pessoa à análise, será esclarecida de
que deve continuar nos tratamentos médicos pertinentes, pois
mesmo havendo doenças onde a psicogênese pode ser
relevante, não é menos importante saber que o processo
patológico, uma vez desencadeado, já não pode ser detido por
meios exclusivamente psíquicos, além do que, como se viu
acima, pode ser necessária uma intervenção multidisciplinar –
trata-se de verdadeira questão ética.
Etchegoyen (2008, p. 30) é bem enfático: “eu me
atreveria a dizer que há uma vocação para a análise, assim
como para outras tarefas da vida”.
Convém lembrar: a oferta que se pode dar ao potencial
paciente é a de um tratamento possivelmente longo e penoso,
com a premissa do autoconhecimento e o decorrente confronto
com energias pulsionais e sua valoração, pela leitura da história
individual criptografada no inconsciente através das narrativas
e investigações sobre fatos arcaicos da vida.
Isso pode se mostrar nem sempre atrativo, e pode ser
quase sempre desagradável.
Bem a propósito, o alerta de Erich Fromm:
218
O objetivo da psicanálise é de dar
segurança e não ser uma muleta, preparar a
pessoa para a autonomia e não torná-la
débil e fraca, reencontrar-se com suas
verdades e não tornar-se cúmplice da
escravidão conceitual e teórica, levá-la a
desenvolver suas potencialidades e
criatividade e não manipulá-la com mitos e
falsas esperanças. (PEREIRA, 2011, p. 02).
219
Freud delimitou esse espaço em três etapas, a primeira a
“abertura da análise, iniciada com a primeira sessão e com a
extensão em geral limitada a dois ou três meses, caracterizada
pelos ajustes entre os participantes enquanto se situam e tentam
compreender um ao outro”. (ETCHEGOYEN, 2008, p. 339).
Na sequência, a segunda etapa ou etapa intermediária, a
menos típica e mais longa, demarcada a partir de “quando o
analisando compreendeu e aceitou as regras do jogo:
associação livre, interpretação, ambiente permissivo, mas não
diretivo, etc.”. Não tem duração que possa ser estimada,
perdura por tempo variável e “distingue-se pelas contínuas
flutuações do processo, com marés de regressão e progressão,
sempre regidas pelo nível da resistência” (ETCHEGOYEN,
2008, p. 339).
Desde esse tracejamento geral sobre pontos comuns, a
psicanálise humanista envereda por caminhos peculiares e que
lhe são próprios.
Nessa linha de terapia, o analisando é levado a pensar e
a meditar sobre suas vivências e suas ações, iniciativas e
investimento sobre o potencial de suas neuroses, sobre suas
crenças e seu espaço para acolher o autoconhecimento e a
aceitação de mudanças que poderão colocar em choque antigas
crenças e valores introjetados em seu psiquismo – daí a ideia
do renascimento, com o sentido de ressignificação para
aceitação do amor e da presença do outro em sua vida.
Relevante e expressiva a ausência do diagnóstico, aqui
já se espera do analista o interesse real em conhecer com
profundidade o analisando para bem avaliar sua dor,
estabelecendo-se entre ambos (analista e analisando) a união
através de um laço baseado “na fraternidade, na solidariedade,
na humanidade, no comprometimento, na responsabilidade,
sendo o analista presente e atuante” (PEREIRA, 2009-a, p.
151), avultando como imperativo entender que “a análise
humanista tem como finalidade, na busca pela verdade, levar o
paciente ao confronto com sua realidade objetiva e subjetiva,
220
levando o paciente a livrar-se de toda ilusão e engano”.
(PEREIRA, 2009-a, p. 153).
Sem que, na psicanálise humanista, haja rigidez no
estabelecimento prévio de diagnóstico, o paciente cujo sintoma
venha a ser a Neurose Obsessiva ou Transtorno Obsessivo
Compulsivo – TOC deve ser encarado como um ser carente de
afeto e de acolhimento, focando-se o analista na ideia de que
“qualquer teoria do amor deve começar com uma teoria do
homem, da existência humana”. (FROMM, 1995, p. 16).
Nenhuma dessas considerações, entretanto afasta a
necessidade de cautela, haja vista que em psicanálise, como
bem pode ser resumido, “apenas o núcleo nosograficamente
reduzido, mas epidemiologicamente extenso da neurose, é
acessível à análise: Freud, nesse sentido, foi categórico”
(ETCHEGOYEN, 2008, p. 26).
Com efeito, basicamente – durante o processo de
análise – a conquista buscada pelo par analítico é a de levar o
analisando a ampliar sua capacidade de diferenciar a realidade
externa da realidade psíquica (o que varia de pessoa para
pessoa, momento da vida, grau de ansiedade).
Essa é uma evolução que somente ocorrerá com a
instalação, no campo analítico, do movimento concêntrico
implementado pela energia da transferência, sendo notável que
“apesar de todos os neuróticos serem potencialmente capazes
de estabelecer uma neurose de transferência, nem todos podem,
de fato, conseguir isso” (ETCHEGOYEN, 2008, p. 34).
No que se refere ao obsessivo, podem ser encontradas
“dificuldades para desenvolver uma neurose de transferência
franca e analisável durante o primeiro período da análise”
(idem, p. 33), o que se dá durante o período de ajuste, nos
primeiros dois ou três meses, como antes visto.
Cauteloso, na anamnese dos pacientes com sintoma de
Neurose Obsessiva, ou Transtorno Obsessivo Compulsivo –
TOC, levar na devida conta:
221
O que é decisivo para determinar a
analisabilidade dos pacientes obsessivos é
que sejam capazes de tolerar a regressão
instintiva, para que se constitua a neurose
de transferência, sem que por isso a aliança
terapêutica sofra. Ou seja, o obsessivo tem
de poder tolerar o conflito pulsional entre
amor e ódio da neurose de transferência,
distinguindo-o da relação analítica.
(ETCHEGOYEN, 2008, pp. 33/34).
3. OBSESSÕES E COMPULSÕES
222
Seres inteligentes, porque dotados de habilidades
mentais cuja essência nos permite planejar, nutrir esperanças e
teorizar – mas também alimentar anseios e temer insucessos –
nós humanos sustentamos preocupações e níveis de sofrimento,
inerentes à existência e inevitáveis, próprios de nossa condição;
isto é genérico e se dá com todos, consistindo parte inerente de
nossas contingências vitais.
Algum nível, portanto, de preocupação e de ansiedade,
é inevitável à vida humana. Sendo que há alguns sinais de
alarme que devem ser observados.
É preciso saber detectar situações de anormalidade
quando preocupações e ansiedades venham a adquirir
contornos de fobias, sendo que para o tema em questão, assume
especial interesse dar destaque aos casos de pessoas com os
sintomas obsessivos, pessoas que estão entre as que mais
sofrem, permanentemente afligidas pela ideia do mal, do
prejuízo iminente.
Angustiados, permanentemente apavorados, tais
pacientes sofrem um processo que se retroalimenta, onde medo
gera medo, preocupação gera preocupação; quanto mais
pensam em seus temores, mais esses fantasmas se robustecem,
mais o problema se avulta, agravado pela vergonha ante a
perda do controle, o que agudiza o sofrimento, intensifica a
sensação de infortúnio, carreando prejuízos na interação com o
outro, nos relacionamentos sociais, uma vez que o neurótico
desse grupo não elimina da consciência o sentido de
inadequação das condutas obsessivo-compulsivas.
Elucidando o núcleo dessas condutas:
224
Originada na experiência infantil, essa neurose tem
sintomas que vão se manifestar em termos regressivos, de
expressão infantil, as defesas obsessivas são extremas, são
rígidas, afligem com intensidade pela hipoacomodação e
prejudicam fortemente, causando dificuldade em estabelecer
novas representações, mantendo fixo o pensamento em ideias
recorrentes, dificultado o raciocínio.
Em se tratando de sede humanista, “a questão do
sofrimento e dos traumas tem suas raízes nas crenças e
costumes, bem como nas regras morais que cada cultura impõe
a sua comunidade”. (PEREIRA, 2010, p. 07).
São conjunturas de natureza moral, moldadas pelas
condicionantes culturais de cada povo em um determinado
momento histórico, portanto, os vetores que internalizam
crenças e costumes capazes de fazer com que haja privações de
afeto e de carinho verdadeiros, banalizando a violência sexual,
os castigos físicos como os espancamentos, negligências ou
rejeição, o que tudo deixa marcas no psiquismo infantil,
gerando necessidades neuróticas como defesas poderosas,
porque são as únicas formas de fazer com que a criança tenha
sentimento de segurança.
De tal soma de experiências iniciais pode ser
estruturado o caráter que leve o paciente a pautar-se ou moldar-
se pela hipoacomodação, dificultando novas representações,
instalando-se a psicopatologia da neurose obsessiva
compulsiva.
Desse conflito central entre a orientação à obediência e
o desafio à autoridade, nasce a exacerbação do problema entre
aniquilar e ser aniquilado, muito rígida que é a defesa
obsessiva, necessária no psiquismo infantilizado para trazer a
pessoa ao nível da segurança, porquanto o de que o homem
“mais precisa para conservar seu juízo é de algum laço ao qual
se sinta firmemente ligado”. (FROMM, 1984, p. 80).
225
Oportuno, aqui, grafar ponto central da teoria humanista
e que tem estrita pertinência com o tema objeto da abordagem
enfocada pelo presente estudo:
226
A teoria humanista “coloca o desenvolvimento do
inconsciente social em primeiro plano na aplicação terapêutica
da Psicanálise” (FROMM, 1990, Prefácio, p.15), atribuindo-se
importância menor à biologia, enquanto se confere valor maior
ao impacto da história, da cultura e da sociedade, do meio em
que se vive, o que significa dizer – sem ignorar os fatores
biológicos – a personalidade humana é histórica e
culturalmente determinada.
Posicionado o estudo quanto ao referencial teórico cuja
corrente vem filiado, já é tempo de tornar às apreciações
relacionadas à neurose obsessiva compulsiva, cuja
caracterologia tem a base já vista, assentada no conflito entre a
obediência e o desafio à autoridade.
A etiologia, já foi mencionado, via de regra está
radicada em conflitos da infância, sabe-se que as experiências
infantis são fundamentais à estruturação da personalidade e,
quando debilitantes, gerando ansiedade e hostilidade, podem
desencadear fantasias onde a busca pelo objeto do desejo leva à
reações agressivas capazes de desencadear culpa, medo e
diminuição da autoestima.
Assim, o aparelho psíquico acaba envolvido pela
hipoacomodação, isto é, há enormes dificuldades para construir
novos esquemas, restringindo-se o linguajar à repetição
continuada e persistente de uma mesma ideia, caracterizando-
se então a neurose obsessiva compulsiva, mediante a
ruminação de pensamentos recorrentes, faltando capacidade
para a formação de novas representações, limitando o paciente
a esquemas empobrecidos, e à repetição automática e frequente
dos mesmos pensamentos, com dificuldades em desenvolver
um raciocínio, por escassez de estímulos verbais, carência de
recursos de linguagem ou até mesmo dificuldade de
coordenação mental.
Haveria aí um déficit no desenvolvimento de função
psicológica superior, prejudicada no plano interno (o da
evolução cognitiva) pela recepção de impulsos inadequados
227
recebidos do plano externo (o das condições socioambientais
circundantes).
Essa hipoacomodação, em tais circunstâncias,
implicaria em prejuízos à função de controle exercida pela
linguagem, como elemento essencial ao diálogo interior da
pessoa.
Na dinâmica da neurose obsessivo compulsiva, o
indivíduo que tenha a personalidade obsessiva, limitado em
suas representações, pauta seus atos por rigorosos princípios de
pontualidade, é meticuloso, demonstra ter escrúpulos doentios,
procede com ordem e busca transmitir confiança, o que tudo
deriva de seu temor à autoridade, não sendo esses traços
adaptativos motivados por forças amadurecidas, sadias ou
construtivas, porque derivam de temores imaginários
arraigados no inconsciente.
Na clínica, não é por acaso nem por entusiasmo que o
paciente chega bem cedo para a sessão; sua busca é a de um
apaziguamento simbólico, para evitar o castigo – temido por
transgressões – haja vista seu ânimo voltado ao permanente
conflito com a autoridade, que transfere para a pessoa do
analista; tudo, é óbvio, no terreno do inconsciente.
Portanto, há que ter cuidado perante uma conduta que
se demonstre obsessivamente marcada por comportamento
assíduo, pontual, com demonstração que chega a ser ansiosa
por ostentar boa receptividade à associação analítica; “existe a
possibilidade de que o analisando mais esteja cumprindo a
tarefa de ser um bom paciente do que propriamente alguém
disposto a fazer mudanças verdadeiras” (ZIMERMAN, 2009,
p. 303).
O obsessivo compulsivo projeta em seu trato social os
mais precoces conflitos que traga irresolvidos da fase infantil,
podendo ocorrer que conceitos paternos (ou de cuidadores)
rígidos com relação a hábitos alimentares e de higiene,
desenvolvam fantasias hábeis para associar, por exemplo, a
sujeira como agressão e desafio, conduzindo a temor culposo e
228
expectativa de punição, tudo baseado em regras paternas e
culturais relacionadas com os perigos da sujeira, mas que
também levam à sensação de desafio à autoridade;
exemplificativamente, seria o caso da pessoa capaz de
demonstrar preocupação em sujar um bonito cinzeiro, mas que
não mostra escrúpulos em deixar cair cinzas num tapete, muitas
vezes valioso.
Outro tema diz respeito à rigidez paterna (aí
representada pelo excessivo zelo de cuidadores) com relação à
obediência rigorosa aos horários das refeições, das
brincadeiras, do sono e de fazer trabalhos escolares.
Na mente obsessiva, um sistema de tal quilate remete à
disputa com o princípio da autoridade, numa luta pelo controle
e pelo domínio; na clínica, o paciente demonstra ansiedade,
preocupa-se com a duração da entrevista, consulta seu relógio,
externando cuidado que demonstra preocupação com a
capacidade do analista em manter o controle do tempo, mas
ainda – e muitas vezes – para adiar certas abordagens.
Regressivo e infantilizado, com a mera concessão
eventual de alguns minutos adicionais sente-se gratificado,
engrandecido e importante, como se houvesse recebido um
prêmio.
Outra característica do obsessivo é a tendência em
utilizar, como base para sua segurança emocional, dinheiro e
status em lugar do amor, erigindo bases materiais como suas
fontes mais íntimas de autoestima, tratando questões ligadas a
esse campo com sigilo e aprofundadas (até desconfiada)
reserva.
230
5. MECANISMOS DE DEFESA
231
para encontrar uma justificativa do ponto
de vista da moral para uma atitude, uma
conduta, uma ideia, um sentimento etc.,
cujos motivos verdadeiros, de alguma
forma, ele nega. (ZIMERMAN, 2009, p.
351).
232
basicamente desagradável ou embaraçosa.
(MACKINNON, 1981, p. 93).
233
Na esfera sexual, “o obsessivo tem fixação e conflito
particulares na área da masturbação” (MACKINNON, 1981, p.
87).
Impermeável ao prazer, evita a interação sexual, em seu
psiquismo doentio o encontro carnal com o parceiro constitui
verdadeiramente um campo de provas, onde está em luta pelo
poder, na desesperada compreensão de que não pode externar
seus sentimentos de inadequação, preocupado como está em
demonstrar capacidade para ser superior, “a sexualidade torna-
se patológica, não consegue ver a outra pessoa como um ser
humano dotado de sentimento, mas sim como um objeto que
deve ser usado e depois desprezado e até humilhado”
(PEREIRA, 2010, p. 85).
O sofrimento experimentado é intenso:
234
demonstrar eficiência e responsabilidade, retroalimentando
seus medos derivados do conflito com a autoridade.
Racionalizando, idealizando, dando vazão de forma
masoquista e/ou sádica a seu irrefreável desejo de exercer o
controle sobre as outras pessoas, o obsessivo compulsivo
manipula os demais, mascara-se como vítima e ao conquistar
tal realização, consegue gratificação que se pode chamar ganho
secundário, “defesa muito comum naquelas pessoas que
possuem muito medo e fogem do contato mais íntimo e
particular com as suas emoções”. (PEREIRA, 2010, p. 93).
235
de qualquer objeto amado, como também
com os aspectos de desafio da luta pelo
poder. (MACKINNON, 1981, p. 88).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
236
As pessoas modernamente vivem e convivem segundo
usos e costumes próprios dos centros urbanos (onde está
concentrada a imensa maioria de nossas populações), usos e
costumes que pela instantaneidade da comunicação logo se
espalham pelos mais distantes rincões, acelerando a cada dia
mais uma espantosa evolução dos fatos sociais e das condições
ditas “modernas” de vida, levando o homem do século XXI à
perplexidade, no seio da competitividade e da emulação, o que
gera frieza e desamor, em ambiente adverso à condição
humana.
Nesses conglomerados, é predominante a massificação,
industriada por apelos midiáticos que incentivam o
consumismo imoderado, a competição desmedida, a disputa
por posições de aparente maior destaque e suposta maior
evidência, tudo descambando em um modo de vida onde
acabam por imperar o hedonismo e a vaidade, o narcisismo, a
megalomania e de conseguinte toda uma gama de emoções
nocivas e prejudiciais, como a raiva, o ciúme, a inveja, os
sentimentos de impotência e de insegurança perante exigências
que são socialmente auto-internalizadas, e que nem sempre
estão ao alcance da capacidade de realização de cada um,
sujeitando assim os indivíduos a sucumbir a obsessões,
adições e compulsões.
Atualidade das mais palpitantes, nos tempos atuais, é a
utilização do ciberespaço como substitutivo das relações
interpessoais (em casos extremos, há relatos de casais cujos
consortes, habitando uma mesma residência, “conversam”
através de veículo informatizado, enclausurado cada um em um
cômodo diferente da morada comum!), configurando-se o
recurso tecnológico das redes sociais como um meio onde as
pessoas se valem dos mais variados recursos de comunicação
interpessoal, com disponibilidade tão só para os apelos digitais,
sob o domínio dos sentidos e não da cognição. Não há tempo
para o abraço, a caminhada, o encontro com amigos.
237
Conveniente apontar que o fato de as pessoas se
tornarem superficiais, ou desatentas, ou desmemoriadas, ou
desinteressadas, não pode nem deve ser imputado
exclusivamente como responsabilidade ou equívoco dos meios
eletrônicos de comunicação – conquista científica ímpar e da
maior importância para a humanidade – consistindo essa
realidade fática, isto sim, um evidente desvirtuamento
decorrente do mau uso ou emprego mal orientado de tão
importante recurso tecnológico.
A criança, ainda estruturando a personalidade, vai
formando sua identidade a partir das associações que formula
desde informações que a privam de sensações reais,
substituídas pela simulação digital das experiências vitais,
simulação potencialmente indutora de equívocos; assim pode
ocorrer com games capazes de introjetar conceitos de
banalização da violência, instigando à agressividade e
apresentando modelos que se poderia até dizer “pasteurizados“
da morte, vulgarizando a vida humana pela esterilidade dos
jogos letais voltados a combate e destruição.
Resulta mais fértil o campo para proliferação de todas
as neuroses, no seio de uma sociedade tecnológica em franco
progresso, que com a velocidade vertiginosa como progride,
acaba por massificar, desumanizar, escravizar a padrões
comportamentais desarraigados de nossas origens enquanto
criaturas integrantes do mundo animal, resultando em
crescentes sensações de desamparo e insegurança, fazendo-nos
afastados a cada dia mais intensamente das condições ideais
relativas à satisfação de nossas necessidades humanas básicas.
O ser humano passa a correr o risco de ser tornado um
objeto, alienado, servo e vassalo de pretensas utilidades por ele
mesmo criadas, invertidos, subvertidos os valores que
deveriam presidir as relações econômicas entre criador e
criatura, em circunstâncias onde o homem que, na antiguidade,
prestava culto aos ídolos, hoje paga tributos à alienação
massificante; o consumo, um verdadeiro deus totêmico
238
supremo da alienação, é cultuado em templos suntuosos e
grandiosos, como os centros de compras ou shopping centers.
Sem embargo, o homem moderno, autor e fautor das
grandes transformações sociais, guarda e conserva em suas
estruturas ontofilogenéticas a memória e a recordação dos fatos
de seu passado, dos usos e costumes de épocas imemoriais, os
arcanos, o inconsciente coletivo de Jung.
Nessa que pode ser chamada literalmente uma
“síndrome de coisificação”, chega a instalar-se no seio das
coletividades um verdadeiro “efeito manada”, um estado
coletivo de hipnose onde se implanta em toda extensão uma
espécie de vontade inconsciente que conduz a fazer alguma
coisa, ou a acreditar em algo porque a maioria das pessoas ou
grande parte delas fazem ou acreditam nessas mesmas coisas e
ordens de valores, independentemente mesmo da convicção
pessoal de cada um em particular, numa atitude em relação à
vida que, sem embargo, acaba por aprisionar o indivíduo no
estreito cárcere de seu ego, da sua cobiça, ilhando as pessoas
ao separá-las do próximo, e aprofundando a solidão básica de
cada um.
Considerando que o ser humano necessita de condições
favoráveis para se desenvolver, pode-se concluir que em um
ambiente como o do ciberespaço, que é anódino por insensível,
árido, pobre de amor e afetividade, essa solidão básica resulta
em hostilidade básica, em ansiedade básica, em falta de
segurança e de satisfação.
Forma-se um caldo de cultura onde pais ou cuidadores,
premidos por suas próprias necessidades neuróticas, acabam
dominadores, ou negligentes, ou superprotetores, que tendem
ora a rejeitar ora a tratar as crianças com excesso de
indulgência.
Como se viu no contexto bibliográfico desta pesquisa, a
neurose obsessiva compulsiva se estrutura exatamente numa tal
ambiência, onde o indivíduo tem minada a autoestima,
acabando por ser levado a temer a autoridade e à sensação
239
difusa de culpa por infrações que julga cometer, perdido e
confuso em inadequada e conflitiva luta pelo poder.
Por isso aqui o enfoque à vertiginosa mudança nos usos
e costumes e à perspectiva da causação de sintomas, haja vista
que nessas realidades se pode identificar condições de vida
com qualidade questionável aos padrões da natureza humana.
Importantes são os campos que se abrem para
interpretação psicanalítica, atenta às causas e efeitos do “status
quo” vigente na sociedade do século XXI, para harmonizá-la
(natureza humana) ao ambiente frio e anódino da evolução
tecnológica, presidido por meio de cultura onde, se for mal
utilizado, pode imperar a impessoalidade, a ausência de
humanidade e de sentimentos – haja vista o predomínio da
tecnologia, dos computadores e das telecomunicações (=
ausência do contato pessoal, da comunicação face a face, do
abraço, do aperto de mãos).
Caberia enfatizar que pais, cuidadores e educadores
poderiam ser orientados a evitar a proliferação de neuroses,
para que não se eternize a aparente submissão do homem às
coisas por ele criadas e às circunstâncias de seus atos, alertas
todos perante a possibilidade de que nesse mundo impessoal o
desvio, por comportamentos equivocados, uma vez visto pelo
ângulo analítico, é capaz de trazer em si os germes da angústia
e da neurose, da aflição e do desamor, da perplexidade do ser
ante um meio social desumanizado, da expressão de fantasias
reprimidas e de carências objetais inatendidas, carga de males
que desagregam a estrutura anímica da criatura humana, assim
desamparada do atendimento a sua necessidade básica de um
sistema de orientação e de devoção, pagando, pela consciência,
o alto preço da insegurança.
240
BIBLIOGRAFIA
WIKIPÉDIA,http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipoacomoda%C3%
A7%C3%A3o_introjetiva, consulta em 17.01.2013, às 17,18
horas;
242
A ESTRUTURA DE UMA MENTE NA PSICOSE
243
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
250
4. A COMPREENSÃO PSIQUIÁTRICA DA PSICOSE
252
o receptor fica bloqueado, não conseguindo fazer seu encaixe,
impedindo de exercer sua função.
Outra função dos psicotrópicos é diminuir a produção
de neurotransmissores, dificultando seu armazenamento nas
vesículas, desse modo, altera o código das vesículas e muda a
velocidade de destruição dos neurônios, o que dificulta a
recaptação para dentro das vesículas. Ou seja, impedir ou
facilitar que os neurotransmissores se encaixem nos receptores
são as funções dos psicotrópicos.
Considerando que, na clínica de psicoses, em muitos
dos casos se faz necessário utilizar os tratamentos da
psiquiatria e da psicanálise de forma conjugada. Como ressalta
Keppe (2006), o psicanalista não pode prescrever
medicamentos ou fazer qualquer outro tratamento que seja
exclusivo da psiquiatria. Em alguns casos que necessitam de
medicação ou outro procedimento que seja da prática
psiquiátrica, o psicanalista deve atender em parceria com o
psiquiatra. Por esta razão, o psicanalista deve conhecer a
psicopatologia, para encaminhar, se necessário para
profissional competente.
É relevante ter conhecimento de como é tratada e
enquadrada na clínica psiquiátrica, isso porque, a psiquiatria e
a psicanálise têm práxis diferentes, e cada uma delas as suas
formas de tratamento.
Uma vez que o diagnóstico é baseado principalmente
sobre suas ideias delirantes, e apresenta perturbação da
identidade, não tem uma consciência clara de si mesmo e do
mundo. Por esta razão, em muitos casos, a pessoa cria
realidades diferentes, visto que, sua realidade é regida por
regras diferentes da aceita pela sociedade.
253
Para elas o mundo é uma prisão sem
grades, um campo de concentração sem
arame farpado. (LAING, 1982, p. 86).
A desorganização do pensamento e da
comunicação não são raras. Ainda que a
capacidade para desenvolver essas
dificuldades possam ser, enfim, explicadas
biologicamente, o processo de
desorganização pode ser entendido melhor
sob um ponto de vista dinâmico.
(MACKINNON & MICHELS, 1981, p.
196).
263
Na construção de relacionamentos, a pessoa não
consegue investir em relações amorosas, ainda que tenha
desejo de se envolver emocionalmente, construir uma relação
sólida, que é natural no ser humano, não consegue fazer o
investimento o que gera sofrimento tanto para a pessoa, tanto
quanto para com quem ela se envolve.
Mas uma característica forte apresentada é seu poder de
sedução muito alto, o que facilita nas suas conquistas.
265
Por esta razão, temos que observar que existem muitas
pessoas de estrutura neurótica, que se aproveitam de modo
inconsciente desta situação a qual desenvolveu um caráter
sádico, que também poderá se envolver em relações
destrutivas.
268
nos símbolos as três instâncias dos
transtornos de caráter: necrofilia,
narcisismo maligno e simbiose incestuosa.
(PEREIRA, 2012, p. 117).
269
Desse modo, como destaca Myra y Lópes (1974) um
paciente com personalidade exploradora, busca obter vantagens
em tudo, exigindo muito em troca de pouco ou nada, se
aproveita das pessoas de todas as formas, seja emocional,
intelectual ou financeiramente, são pessoas desconfiadas,
cínicas, invejosas e ciumentas. Assim sendo, são estes os
conteúdos psíquicos que irão ser projetados por esta pessoa,
que o psicanalista deve estar atento. Posto que, estes fazem
parte da subjetividade da pessoa. “A análise humanista tem
como finalidade, a busca da verdade, levar o paciente ao
confronto com sua realidade objetiva e subjetiva [...]”.
(PEREIRA, 2009, p. 153).
Outro paciente pode apresentar uma personalidade
receptiva, este paciente é aquele que está sempre esperando
pelas outras pessoas, se vitimiza esperando a ajuda e a
compaixão, está sempre submisso a todos, “não sabe dizer
“não” e adora a fórmula serei como desejam que eu seja.”
(MYRA Y LÓPES, 1974, p. 260). São pessoas que estão
aparentemente demonstrando alegria para as outras pessoas,
podendo ficar tristes diante a mais simples dificuldade.
Apresentam baixa autoestima, não se sentem capaz de realizar
nada, tudo para ela é difícil, não reconhece suas capacidades.
Outra personalidade apontada por Erich Fromm é a avarenta,
uma pessoa avarenta, tem uma preocupação constante em
economizar e conservar com extrema possessividade.
Já a pessoa de personalidade mercantil, tudo tem um
preço, ela usa de todos os seus talentos para comercializar, tudo
é mensurável, e quer levar vantagem em tudo sempre, só
apresenta diferença do caráter explorador porque é covarde.
E finalmente a personalidade criadora, sendo esta a
considerada saudável, visto que, ela é produtiva, uma pessoa
com esta personalidade tem ideias firmes, desejo de lutar e
vencer, superar as adversidades, pessoas assim, tem uma
autoestima saudável, e são confiantes. Porém, estas segundo
Fromm são as mais escassas na sociedade.
270
Essas características da personalidade tendem a se
manifestar, ainda que em forma de delírio, posto que, estas são
características que fazem parte da estruturação da
personalidade da pessoa e devem ser observadas na clínica. E
para o psicótico, na sua própria forma de se expressar, ainda
que seja no delírio, está contido uma representação simbólica
do seu modo de ser humano, e sua forma de ser-no-mundo,
como pessoa que sente e interage.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
272
BIBLIOGRAFIA
273
____________. A descoberta do inconsciente social. São
Paulo, Manoele, 1992.
274
Nota on line do conselho federal de psicologia- em terça, 09
outubro 2012 14:12, consulta em 22/10/2012.
SUZANA PIENIS.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
277
2. O PAPEL DO PSICANALISTA:
ENTREVISTA E DIAGNÓSTICO.
Ao atender na clínica um paciente que chega com a
queixa de fobia o psicanalista deve investigar quando iniciou
este medo, se caso o paciente recorda. Na maioria das vezes as
causas da fobia são inconscientes, cabe ao analista fazer as
intervenções com seu paciente e descobrir quando surgiu e qual
a suas causas.
Por exemplo, um paciente tem muito medo ao subir
uma escada, evita ir a lugares que tenha escada, este medo
pode trazer serias consequências para o indivíduo que sofre da
mesma, pois nos dias de hoje é frequente encontrarmos uma
escada, seja na casa de um amigo, na rodoviária, na escola,
faculdade entre outras, o que fazer? Primeiro passo se você não
faz análise, precisa procurar ajuda psicanalítica para trabalhar
com esta fobia.
As fobias são o representante simbólico de um trauma,
alguma vivência que se reverteu em uma dor, mágoa, abuso,
violência, abandono, rejeição, estas e outras emoções
pertencem a algum tipo específico de fobia, aquela emoção de
medo, alerta todos os sistemas do organismo para iniciar uma
mudança fisiológica nos sistemas, seu investimento tem como
objetivo a proteção de alguma experiência do passado.
A emoção do medo é revestida desta fobia como se
fosse uma máscara para fugir do contato com aquele tipo de
experiência, na sua fantasia acredita que está se protegendo do
pior, afastando-se do amor, do afeto, das pessoas, consegue
sentir-se tranquilo, calmo e seguro. O analista então entrevista
seu paciente buscando os sintomas.
É possível observarmos que existe uma fantasia
presente nesta fobia, seja a fantasia de cair rolando da escada,
de se machucar entre outras. Quando a fobia está bem
desenvolvida o indivíduo que sofre desta patologia evitar subir
278
em uma escada, muitos até enfrentam este medo com a ajuda
de um amigo.
Exemplificando: certa vez em uma reunião presenciei
uma moça que tinha fobia de escada, ela parou no início da
escada e pediu ajuda a uma amiga de confiança, pois só assim
iria conseguir subir, me parei a pensar e se está amiga não
estivesse presente? Será que ela iria subir? E quando não tem
ninguém de sua confiança por perto?
Se esta fobia for intensa com certeza está moça não iria
subir a escada, e se provavelmente essa ou outra amiga de
confiança não estivesse, como subiria a escada? Geralmente
estas emoções do medo estão reprimidas ou recalcadas, a
repressão geralmente aparece nos sonhos, resistências,
fantasias, que podem ser interpretadas e conscientizadas,
porém no recalque precisa utilizar a hipnose, somente desta
forma pode trazer a consciência aquela experiência emocional
que está impedindo uma melhor qualidade de vida.
O analista faz sua escuta em relação ao símbolo; esta
imagem da escada está relacionada ao seu medo de subir na
vida, de ter sucesso, de sobressair-se sobre os demais, o não
querer subir precisa ser conhecido e melhor elaborado pelo
paciente.
Poderíamos levantar algumas questões em relação a
esta imagem ou cena específica deste paciente; fazendo-lhe
algumas intervenções, como por exemplo: Qual é o significado
de escada para você? Existe alguma recordação que se lembre
deste seu medo de subir escadas? Quando vem a mente a
imagem de escada, o que você sente? Existe alguma relação
desta fobia de escadas com o fato de você estar desobedecendo
alguma figura de autoridade? Qual é o ganho secundário de
manter-se atrelado a este medo? Receber afeto, cuidado,
carinho, atenção, daqueles que ajudam a subir a escada.
O analista precisa fazer a intervenção correta no sentido
de conscientizar estas emoções inconscientes, este fluxo de
energia segue um caminho de autoproteção, cada defesa
279
procura justificar sua ação para não viver aquela experiência
fóbica.
Penso que só é possível tratar uma patologia fóbica se o
paciente tiver consciência da importância da análise e do seu
autoconhecimento. A cura torna-se possível se o paciente
conseguir enfrentar estes desafios, por isso é necessário um
apoio psicanalítico para que isso aconteça.
A emoção do medo, da fobia, na maioria das vezes pode
ser muito angustiante, trazendo sintomas somáticos como uma
dor de cabeça, forte dor no estômago, dor de barriga, falta de
ar, sudorese entre outros sintomas. Os sintomas são diferentes
para cada pessoa, pois tudo depende da intensidade destes
sintomas, desta emoção e da experiência traumática de cada
experiência em relação ao medo.
Também é possível observarmos que a maioria das
pessoas demora em perceber que sofre de fobia, e muitos
acabam percebendo depois de muitos anos de sofrimento. De
acordo com Pereira (2007, p.130) “o medo é o pior dos
sintomas, porque coloca constantemente o paciente em
confusão, em conflito, desequilíbrio, tornando-se violentos e
agressivos com as pessoas que convivem no seu dia a dia”.
281
ainda não foram resolvidos em sua existência, pode com
certeza aprender a lidar com a expressão destas fobias.
A emoção do medo responde a uma defesa de fuga de
alguma experiência sofrida, de abusos, abandonos e
negligências esta, sensação de mal estar é produto das
modificações fisiológicas que ocorrem no organismo devido a
este estado irracional de alucinação que a mente inconsciente
vive como se fosse verdade. A pessoa vive este drama e não
consegue entender as motivações que levam a sofrer por causa
deste estado de alucinação.
286
Então pude entender que para Freud a fase oral, anal,
fálica é as fases que formam a personalidade da criança. Já o
período de latência ocorre pouco desenvolvimento sexual e no
período genital ocorre o interesse pela vida sexual.
287
que pode passar por humilhações ou comentários maldosos ao
seu respeito. Segundo Hockenbury,
288
precisa ser enfrentado e dominado, assim
como no processo de amadurecimento.
289
O inconsciente está presente em todas as pessoas,
porém somente quem faz análise é capaz de perceber a
presença, e com a terapia começar a tomar consciência do
inconsciente. Para Pereira, “a psicopatologia estuda as
motivações inconscientes que desencadeiam uma série de
reações destrutivas em relação a si mesmo e aos outros” (2009,
p. 142).
291
O autor contribuiu afirmando exemplos de compulsões
e atitudes de obsessões. Também se pode perceber que uma
fobia pode torna-se uma obsessão por isso precisamos estar
sempre atentos ao que acontece a nossa volta, pois quanto antes
procurar ajuda psicanalítica mais eficaz será o tratamento.
A pessoa que sofre do Transtorno Obsessivo
compulsivo geralmente sofre de ansiedade, por isso compensa
as suas ansiedades e medos através das compulsões, muitas
vezes o indivíduo que sofre do transtorno não percebe, pois já é
rotina a sua obsessão. Cabe aos familiares orientar para a
procura de um analista, visto que com os passar dos dias esse
transtorno pode ser tornar maior.
Zimerman, diz que:
292
em todos os gestos e atitude para ajudá-lo nesta difícil tarefa de
superação e não simplesmente encaminhar a outro especialista.
A mente inconsciente leva a pessoa totalmente a um
estado de inconsciência fazendo muitas que não perceba o seu
estado, é normal a pessoa que sofre desta psicopatologia
deslocar os seus sentimentos ou emoções para um animal ou
objeto, geralmente esta emoção é algo desagradável e que pode
ter acorrido na infância, por isso, na idade adulta desloca para
outras áreas de sua vida, cabe ao psicanalista juntamente com o
paciente descobrir onde e quando começou está psicopatologia
do medo.
294
ilícitas, e engajar-se de corpo e alma neste novo desafio de
recriar na sua mente uma nova experiência em relação aquele
medo específico.
Muitas emoções assim como o medo são inconscientes,
portanto cabe ao analista fazer seu paciente tomar consciência
sobre as suas emoções. Pereira contribui afirmando que “o
conteúdo de um símbolo deve ser interpretado, porque neste
significado está presente a intenção e os desejos de uma
emoção” (2010, p. 11). O analista contribui fazendo com que o
paciente consiga perceber os símbolos presentes nas suas
emoções, e com isso possa interpretar o seu desejo, seja ele
consciente ou inconsciente.
O analista faz com que o paciente descubra quando
iniciou a emoção do medo, o que levou a desenvolver esta
emoção, para assim então, trabalhar seu potencial e a sua
superação. O medo do amor, de portas fechadas, do elevador,
de afeto, de falar em público, de ser feliz, de ganhar dinheiro,
realça o prejuízo deste tipo de fobia que esconde desta pessoa
algum trauma muito forte, o significado desta defesa é uma
proteção, a fuga da vivência deste amor, de uma gravidez, do
casamento, da relação sexual, está ancorada naquela
experiência traumática que retrata sempre o mesmo tema.
Uma paralisia, uma fuga, suas defesas estão prontas
para justificar os seus medos; negação, projeção, repressão,
inserem esta realidade emocional num imenso conflito
inconsciente de proporções incomensuráveis, pois o sofrimento
vem sempre acompanhado da falta de amor, de afeto, de sexo,
de caricias, de intimidade.
Cabe ao analista fazer com que seu paciente comece a
perceber os seus potenciais, os prejuízos são enormes,
geralmente os medos impedem algum tipo de satisfação ou
gratificação, ao impedir a vivência do prazer, acaba retraindo
seu potencial de alegria, optando pela tristeza, porque o
silêncio, a falta de palavras, a inibição, denuncia a presença
desta fobia de relacionar-se de mostrar o seu potencial.
295
Penso que a potencialidade do paciente anda em
conjunto com a superação, pois uma precisa da outra. Em
primeiro lugar é preciso descobrir as sua potencialidade, logo a
seguir superar seus medo, angústias, timidez inferioridade entre
tanta outras. Para Pereira “temos que acreditar que o ser
humano é capaz de escolher um tipo de vida diferente do senso
comum, um dos valores básicos é o direito a vida, a proteção, a
liberdade de expressão” (2007, p. 187).
O psicanalista precisa acreditar no potencial humano de
cada paciente, sendo que as potencialidades são diferentes para
cada um, cabe a cada paciente decidir o que lhe faz bem e
acreditar na sua existência. Depois que o paciente tomar
consciência do inconsciente e se conhecer melhor, pode então
começar o trabalho da superação. Cabe ao psicanalista fazer o
seu paciente perceber quais são as suas potencialidades e a
partir de então começar a desenvolvê-la a seu favor.
296
insegurança, e é capaz de influenciar os
seus valores éticos e morais. (2012, p. 44)
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Ao escrever sobre fobia não pude, é claro, deixar de
mencionar o nome do Sigmund Freud, um psicanalista que
contribuiu com a pesquisa da fobia no caso Hans.
Na sequencia abordo a questão da ansiedade angustia
conflitos neuróticos, fantasia e o prazer pela compulsão e
também sobre o transtorno obsessivo compulsivo.
Percebeu-se o importante papel exercido pelo
psicanalista no processo ao trabalhar com esta psicopatologia, a
questão das alterações fisiológicas no corpo do paciente, quem
faz o diagnóstico da pessoa fobia, a questão do uso de
medicamentos e o trabalho do psicanalista frente às fobias.
Finalizando, não poderia deixar de mencionar o resgate
das potencialidades do paciente e o processo de superação dos
traumas.
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BIBLIOGRAFIA
300