O Ensino de Geografia Na Educação Básica
O Ensino de Geografia Na Educação Básica
O Ensino de Geografia Na Educação Básica
Geoeducacionais
E-ISSN: 2178-0463
[email protected]
Universidade Federal do Ceará
Brasil
Resumo
A Geografia, na Educação Básica, deveria permitir e possibilitar aos educandos uma apreensão crítica da
realidade, pois os mesmos devem se colocar de forma propositiva diante dos problemas enfrentados.
Neste sentido, o presente estudo visa analisar as condições em que ocorre a formação do professor de
Geografia, através das práticas docentes vivenciadas na Educação Básica. E compreender de que forma
ela interfere na construção e (re) construção da Geografia escolar, verificando-se a relação entre formação
inicial do professor e qualidade do ensino ministrado em duas escolas em que atuamos: Dáulia Bringel e
Edite Alcântara Mota. Para tanto, os fundamentos teórico-metodológicos desta pesquisa se apóiam em
trabalhos de estudiosos como Cavalcanti, Kaercher, Callai, Pontuschka, Seabra de Lima e Resende. A
metodologia operacional utilizada destaca-se na aplicação de questionários, entrevistas. Também na
efetivação de observações dos ambientes escolares. Foi realizado o confronto entre o material coletado
nos trabalhos de campo e as anotações do trabalho de interpretação do material bibliográfico de apoio que
fundamenta o presente estudo. Dessa forma elaboramos um diagnóstico das possíveis causas que
justificam a falta de interesse dos alunos pelas aulas de Geografia. Ao final, apresentamos um
encaminhamento metodológico, com contribuições a melhoria do processo ensino-aprendizagem desta
disciplina.
Palavras Chave: Ensino de Geografia; Formação de Professor e Geografia Escolar.
Geography in Primary Education should enable and allowing learners a critical view of reality, as they
should be placed in a purposive view of the problems faced. In this sense, this study aims to examine the
conditions under which formation occurs teacher of geography through the practices experienced teachers
in Basic Education. And to understand how it interferes with the construction and (re) construction of
school geography, verifying the relationship between initial teacher training and quality of teaching in
two schools in which we operate: Dáulia Bringel and Edite Alcântara Mota. For both, the theoretical and
methodological foundations of this research are based on the work of scholars such as Cavalcanti,
Kaercher, Callai, Pontuschka, Seabra de Lima and Resende. The operational methodology used stands out
in questionnaires and interviews. Also in the realization of observations of school environments. Was
carried out confrontation between the material collected during field work and notes the work of
interpretation of bibliographic material support that underlies this study. Thus we make a diagnosis of
possible causes that justify the lack of student interest by geography lessons. Finally, we present a routing
methodology, with contributions to improving the teaching-learning process of this discipline.
Conforme orientam Azambuja & Callai (1999, p.189), os conteúdos não deverão
ser estudados apenas no seu caráter informativo, mas principalmente como meio
formativo da capacidade de raciocínio geográfico, de interpretação dos fenômenos
socioespaciais.
Embora se queira avançar, pois, no âmbito das discussões acadêmicas, muitas
coisas estão resolvidas, a prática da sala de aula é ainda hoje assim, extremamente
fragmentada em itens sem sentido, isolados e, no conjunto, sem o encadeamento que
permite dar significado à Geografia escolar. Em parte, essa fragmentação dos conteúdos
é resultado direto da uma formação acadêmica na qual se tem docentes e discentes
fechados em seus mundos geográficos, pois a especialização dos conhecimentos já é
incentivada desde o inicio do curso de graduação. È nesse sentido que Vesentini, ao
realizar uma crítica aos cursos de graduação, adverte:
Formar especialistas é uma atribuição dos cursos de pós-graduação (ou de
especialização) e não da graduação. E o geógrafo (professor ou não, pois essa
diferença no fundo é ou deveria ser pouco importante) deve ter uma formação
completa na sua área, estando apto a dar aulas no ensino elementar ao ensino
médio, e a exercer outras atividades nas quais a sua presença costuma ser
requisitada: análise ambiental, turismo, planejamentos etc. (VESENTINI,
2009. p. 239).
Convém destacar que a formação do professor se constitui um elemento
primordial para a construção e reconstrução dos conhecimentos geográficos
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fundamentais e de seus significados sociais. Para tanto, não basta ao professor ter
domínio da matéria (conteúdos), torna-se necessário que o docente tenha a capacidade
de pensar criticamente, desvendar os processos que permeiam a realidade social e que se
coloque como sujeito transformador desta realidade.
Compreende-se que a Geografia é uma disciplina de caráter estratégico 1 na qual,
inicialmente, a construção da aprendizagem é fundamentada na consideração da
realidade vivenciada do cotidiano para se buscar diversos questionamentos, que levem o
professor a realizar de forma adequada as explanações no interior de uma sala de aula.
Cavalcanti aponta alguns questionamentos que são levantados para uma aprendizagem
mais significativa, como:
O que é a Geografia escolar na atualidade? Como ela se realiza? Como o
professor a constrói? Quais os desafios da prática do ensino da Geografia?
Quem são os alunos da Geografia? Como são esses alunos? Como praticam a
Geografia do dia-a-dia? Como aprendem Geografia na escola? Que
significados têm para os alunos aprender Geografia? Que dificuldades eles
têm para aprender os conteúdos trabalhados nessa disciplina?
(CAVALCANTI 2006, p. 66).
Na atualidade, a ocorrência de dificuldades está relacionada à maneira como são
conduzidas as didáticas e metodologias utilizadas na Geografia escolar. Embora haja
situações difíceis enfrentadas pelos professores, por exemplo, a baixa remuneração, a
formação inicial desqualificada, o excesso de carga horária de trabalho, além do
problema da indisciplina e a ausência da família na tarefa de educar, o professor deve
buscar alternativas para superar e transformar a realidade em que está inserido.
De acordo com Pontuschka (2000), não é possível pensar o ensino e a
aprendizagem da Geografia sem pensar que ela é parte integrante do contexto escolar.
Nessa perspectiva, Kaercher (1999) afirma que, juntamente com outras disciplinas
escolares, a Geografia pode ser um instrumento valioso para elevar a criticidade dos
alunos, pois trata de assuntos intrinsecamente polêmicos e políticos, quebrando a
tendência secular da escola como algo tedioso e desligado do cotidiano.
Pontuschka (2000) também compartilha dessa ideia, pois, segundo ela, a
interação com os professores das demais áreas do conhecimento e a cultura escolar é
necessária no sentido de mobilizar toda a possibilidade existente nesse espaço em
1
O termo estratégico presente neste estudo está relacionado à importância da Geografia escolar, sobretudo
no que diz respeito à formação crítica dos estudantes que devem buscar a compreensão das essências
existentes nas relações empíricas.
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direção à formação do aluno no seu movimento de vida e nas relações sociais que
mantém no interior de grupos sociais e nas instituições a que pertence ou a que venha a
pertencer, contribuindo, desta forma, com a construção da cidadania do aluno.
Para haver Geografia crítica (ou uma Geografia renovada), é necessário,
segundo Kaercher (2009), que se altere a relação professor-aluno, relação esta que
continua, muitas vezes, fria, distante e burocrática. Além disso, é preciso haver uma
postura renovada não só de maior diálogo entre professor e aluno, mas também do
próprio conhecimento.
O ensino de Geografia vem mudando sensivelmente, embora ainda longe de
atingir a maior parte do professorado. Para Kaercher (2009), este ensino continua
desacreditado, os alunos, no geral, não têm mais paciência para ouvir os professores. É
preciso fazer com que o aluno perceba qual a importância do espaço na constituição de
sua individualidade e da sociedade da qual ele faz parte. Nessa perspectiva, há a
necessidade de se considerar o saber e a realidade do aluno como referência para o
estudo do espaço geográfico.
Neste trabalho, analisa-se a prática da sala de aula de seis professores e de um
grupo de doze turmas do Ensino Médio. Dos seis professores pesquisados, os quatro
primeiros, denominados P1, P2, P3 e P4, lecionam na escola estadual de Ensino Médio
Edite Alcântara Mota, e os outros dois professores, P5 e P6, trabalham na escola
particular Dáulia Bringel. No Quadro 1, são apresentados os dados sobre a titulação e as
experiências dos professores pesquisados.
Quadro 1: Titulação e experiência do grupo de professores pesquisados
Professor(a) Gênero Idade Curso Instituição Licenciado Anos de Pós-
em experiência graduação
P1 Feminino 22 Licenciatura Universidade Curso não 3 anos Não
específica em Estadual Vale concluído
Historia. do Acaraú.
P2 Masculino 41 Licenciatura Universidade 2004 20 anos Não
específica em Estadual Vale
Matemática e do Acaraú.
Física.
P3 Masculino 38 Pedagogia Universidade Curso não 15 anos Não
com Estadual Vale concluído
habilitação em do Acaraú.
História e
Geografia.
P4 Feminino 30 Pedagogia Universidade 2008 2 anos Não
com Estadual Vale
habilitação do Acaraú.
para Língua
Portuguesa.
Com base nos dados apresentados, percebe-se que os professores P1, P2, P3 e P4
apresentam grandes dificuldades acerca da efetivação do ensino de Geografia, sobretudo
relacionadas ao domínio dos conteúdos, à didática da Geografia e ao domínio de sala de
aula. No que se refere à interação professor-aluno, observa-se uma relação amigável,
porém é notória a indisciplina da maioria dos estudantes.
Na sala de aula, diversas situações denotam a pouca importância que a Geografia
tem como componente curricular. Esses momentos são caracterizados pela dispersão,
pelas conversas paralelas no interior da sala de aula, pela apatia total de alguns alunos,
que acabam adormecendo sobre as carteiras sem constrangimento, outros ainda realizam
atividades desvinculadas do que está sendo proposto, como leituras de textos de outras
disciplinas. Frente a essa realidade, como pode haver uma construção coletiva da aula se
o estudante não percebe significado na aula de Geografia?
A única relação tensa observada ocorreu entre o professor P4 e uma de suas
turmas, que, já saturada das mesmas aulas, ou seja, da leitura do livro didático,
estabeleceu um caos generalizado na sala, ao ponto de o professor não conseguir
dialogar. Então, diante do descontrole total, na maior parte do tempo, o professor deixou
a bagunça fluir, fez de conta que esteve tudo normal e continuou a leitura “coletiva”,
que foi interrompida quando alguns estudantes correram de um lado para o outro na sala
de aula, quando começam os xingamentos rotineiros.
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Tal realidade suscita uma afirmação a priori, a de que o professor não possui
domínio de turma. Resposta esta simplória e vulgar, quando, na realidade, as razões da
indisciplina na sala de aula transcendem todo esse entendimento de ser simplesmente
interpretada como “falta de domínio da turma”. Estaria na competência do professor de
Geografia ensinar que não pode xingar o colega? Que é falta de educação correr de um
lado para o outro dentro da sala de aula enquanto o professor ou o colega falam? Que é
falta de respeito ignorar a fala do outro, simplesmente baixar a cabeça e dormir? Afinal,
é de competência da escola ensinar tudo? E a família? Qual o seu papel diante da
educação?
Segundo Tedesco (2008), na escola tradicional, a família tem um importante
papel para o êxito escolar. Ao discutir sobre essa importância no processo de ensino-
aprendizagem, este afirma que:
(...) um dos problemas mais sérios que enfrenta, atualmente, a formação do
cidadão é o que podemos chamar de “déficit de socialização” que caracteriza
a sociedade atual. Vive-se num período em que as instituições educativas
tradicionais – e em especial a família e a escola – estão a perder a capacidade
de transmitir, eficazmente, valores e modelos culturais de coesão social
(TEDESCO, 2008.p.35 e36).
As aulas planejadas e executadas como palestra são observadas nas práticas dos
professores P5 e P6, que utilizam como fundamento central a exposição dos conteúdos
de Geografia através da oralidade. Cabe destacar que os dois professores são formados
em Geografia, na modalidade licenciatura. A relação entre o livro didático e os
professores P5 e P6 é de desapego, pois os professores organizam e se apóiam em textos
e apostilas.
Como se pode observar no Quadro 3, no geral, a lousa não é utilizada pelos
professores P1, P2, P3 e P4. Quando é usada, serve apenas o docente para escrever as
atividades a serem respondidas como tarefas de casa. A esse respeito, Celso Antunes
afirma que os professores se comportam da seguinte forma diante da lousa:
Há os que fazem um registro no quadro-negro de tudo quanto falam e a tarefa
do aluno é apenas copiar. Esse procedimento é incorreto: existem formas de
uso mais coerente deste recurso, que não constitui uma peça a ser usada a
critério de cada um. O uso correto deste recurso evita transformar a aula em
uma simples cópia, que não trabalha a aprendizagem significativa e não
transforma informação em conhecimento nem desenvolve competências nos
alunos (ANTUNES, 2005, p. 109).
Fatores que justificam a falta de interesse dos alunos pelas aulas de Geografia
Serve para se compreender o clima; as divisões das cidades, as localidades dos Estados e países, e das
sub-regiões do Nordeste;
Contribui para um entendimento das variedades dos tipos de climas, solos, vegetação e como variam
as temperaturas, os tipos de terrenos que encontramos no dia a dia;
Muitas contribuições como varias coisas no dia-a-dia; que a geografia nós ajuda muito a nos preparar;
Ajuda a melhorar o entendimento sobre questões sociais do Brasil;
Utiliza estatísticas para o controle de epidemias, percepção referentes aos problemas ambientais e
aquecimento global.
Alunos do Ensino Médio da Você gosta da aula de Geografia ministrada pelo professor?
Escola Edite Alcântara Mota
Em linhas gerais, tem-se :
É uma matéria que estuda os mapas, os oceanos, as regiões, os planetas, os climas, os relevos, o
globo terrestre, a atmosfera, os solos, a natureza, as temperatura, as cidades;
É o estudo do meio e da sociedade em que vivemos, sendo analisados aspectos como política,
economia, e outros que podem ser observados na humanidade;
É o estudo do mundo.
Alunos do Ensino Médio da Escola Dáulia Quais as contribuições que você percebe da Geografia em
Bringel seu cotidiano ?
Em linhas gerais, tem-se:
Alunos do Ensino Médio da Escola Dáulia Você gosta da Aula de Geografia Ministrada pelo
Bringel professor?
Em linhas gerais tem-se :
Sim, ele demonstra o domínio do conteúdo, explica muito bem, as aulas são bem dinâmicas;
Sim, o professor ensina muito bem, ele torna a aula engraçada, isso faz com que os alunos prestem
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atenção na explanação efetuada pelo do docente;
Sim, o professor é uma enciclopédia de saber, a aula é de fácil absorção, transmite muito bem os
conhecimentos, ele ajuda a despertar o senso crítico; é uma aula dinâmica, e o professor domina o
conteúdo ministrado;
Não, o professor poderia trabalhar diferentes textos sobre os conteúdos presentes nas provas, a aula é
muito expositiva.
Considerações finais
Referências bibliográficas