Folhetim Eletrônico Repaginado - Temática
Folhetim Eletrônico Repaginado - Temática
Folhetim Eletrônico Repaginado - Temática
Resumo
Abstract
The telenovela is the genre of media fiction of major importance for Brazil. Present in
the country since the 1950s, this genre has its formula consecrated, above all, by its
narrative aspect. Structurally speaking, it is a hybrid genre, since its origins are related
to the leaflet, the melodrama, the soap operas and the radionovelas. From this finding,
this article intends to recover the genesis of the telenovela seeking to focus from its
remote matrixes until its constitution as "republished leaflet".
Introdução
1
Mestre em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP-ASSIS).
E-mail: [email protected]
De acordo com dados do Obitel2, a cobertura do sinal de televisão abrange cerca de 97%
dos lares dos brasileiros, que passam em média 4 horas diárias em frente à televisão. É
importante acrescentar que a parcela maior dessa audiência é destina à ficção, uma
necessidade atávica humana.
A partir dos dados revelados pela pesquisa, comprova-se que na
contemporaneidade, mesmo que a televisão dispute com as plataformas multitelas a
hegemonia para a transmissão do alimento vital humano, continua tendo lugar de grande
importância na alimentação do imaginário social. A estudiosa Maria Tereza Fraga
Rocco (1994), ao tecer algumas considerações acerca da televisão, defende que esse
suporte se constitui, ao lado do computador, como o invento mais importante do século
XX.
De acordo com Domenique Wolton (1996), a televisão, suporte que pode ser
rotulado como “fantástica fábrica ficcional”, constitui-se como um verdadeiro laço
social, já que o receptor ou espectador assiste à programação, mas não o faz sozinho.
Em outros locais, há milhares de pessoas que também partilham do mesmo hábito de
assistir aos programas. A esse fenômeno, o estudioso denomina de laço invisível. O
autor explica ainda que nas outras instituições, tais como igreja, trabalho, escola ou
família, esse laço já existe. Para o autor, com o advento da televisão, esse laço é
explicado pela recepção da programação televisiva. Por esse motivo, Dominique
Wolton (1996) sustenta a tese de que a televisão se notabiliza por ser uma espécie de
“espelho” da sociedade, uma vez que ela fornece referências que possibilitam ao
telespectador se ver representado. Nas palavras do estudioso, a televisão “cria não
apenas uma imagem e uma representação, mas oferece um laço a todos aqueles que
assistem simultaneamente” (WOLTON, 1996, p. 124).
Com efeito, a ficção ocupa lugar privilegiado na programação televisiva, de
modo que a telenovela se notabiliza por ser o gênero mais popular da ficção seriada,
particularidade que pode ser atestada pela grande audiência gerada pelo “folhetim
eletrônico repaginado”. Presente no país desde 1951, quando se deu a exibição de Sua
Vida me Pertence, essa modalidade de narrativa goza de bastante prestígio e sucesso no
Brasil, que passou a exportar o produto.
2
Observatório Ibero-americano de Ficção Televisiva.
Não restam dúvidas de que a ficção na mídia exerce o papel de mediadora social,
sendo que o destaque maior deve ser conferido para as telenovelas, que devem seu
sucesso, entre outros fatores, à necessidade atávica do homem em ter acesso à narração.
O estudioso José Roberto Sadek (2008), ao se referir às peculiaridades dos programas
seriados, salienta que esses gêneros da ficção seriada estão entre “os programas mais
cuidados e mais caros da TV brasileira. São campeões de audiência e atraem milhões de
pessoas, que assistem ao mesmo tempo à mesma história” (SADEK, 2008, p. 11).
Para Maria Aparecida Baccega e Maria Amélia Paiva Abrão (2016, p. 180), a
telenovela é um forte componente da teleficção, sendo um formato bastante consagrado
consumido por todas as classes, raças ou gêneros. “É importante traçar o percurso deste
gênero em território brasileiro, tendo em conta as heranças latino-americanas e norte
americanas, assim como o desenvolvimento da televisão e da indústria televisiva”
(TONDATO; ABRÃO; MACEDO, 2013, p. 154). Assim, desde a narrativa primordial,
passando pela ascensão do romance, do folhetim e do meio audiovisual, o ideal humano
prevaleceu, apenas alterou-se o suporte em que a ficção é oferecida.
Muniz Sodré (1985), ressalta os aspectos imanentes dessa narrativa audiovisual:
Para Ana Maria Balogh (2002, p. 24), “a existência da televisão está ligada a um
complexo processo de evolução e entrelaçamentos entre os campos da tecnologia, das
comunicações e das artes”. Nessa perspectiva, o produto ficcional mais promissor da
televisão, como já afirmado, é a telenovela, que responde por ser a grande promotora de
ficção na contemporaneidade, sendo lícito lhe atribuir o título de “folhetim eletrônico”,
sobretudo, por ser o gênero ficcional mais perceptível na televisão devido a sua
serialidade e por constituir-se como um gênero híbrido herdeiro do vasto conjunto de
narrativas anteriores.
Pode-se perfeitamente depreender que cabe à televisão cumprir um novo papel
de legar e promover o acesso à ficção, uma vez que se consubstancia como um veículo
capaz de materializar as referências histórico-sociais do indivíduo e catapultá-las em
suas narrativas repletas de significados e símbolos, que acabam por envolver o ser
humano na urdidura de seu amargo dia, atualizando mitos a partir de aspectos
corriqueiros, fazendo com que os telespectadores encontrem um verdadeiro significado
para sua existência vital.
Milly Buonanno (2004), ao teorizar sobre as histórias seriadas, defende que: “A
razão principal pela qual é necessário levar a sério as histórias, de modo especial
aquelas criadas e contadas pelo contemporâneo “supernarrador televisivo”, é que por
meio delas a sociedade se representa” (BUONANNO, 2004, p. 339). No rol de autores
que veem na telenovela fundamentos da narrativa estão as autoras Cláudia Mogadouro
(2007) e Maria Aparecida Baccega (2013). Assim, falar acerca da origem desse folhetim
eletrônico é mergulhar na história da trama seriada, uma vez que a telenovela é o
representante contemporâneo da velha forma de narrar, cujo exemplo mais distante é As
Mil e uma Noites. Pode se acrescentar ainda que sua constituição segue um percurso
bastante peculiar no Brasil: de um simples produto alienante e destinado às mulheres,
reconfigurou-se e passou a ser o produto de mídia mais importante da televisão
brasileira.
Telenovela e sociedade
Para a autora, tal fórmula foi empregada pelas produções em seu início e a
escritora de maior importância nesse quesito é Glória Magadan, que muito contribuiu
para a consolidação da telenovela para o Brasil. Outros autores, como Martín-Barbero
(2001) sustentam a tese de que esse gênero é constitutivo da América Latina e estão
presentes não apenas na telenovela como em outros programas de auditório, o que
revela uma alta carga de plasticidade dessa estética.
A novela, escrita por Walter Foster, inaugura uma série de outras que
permaneceriam esporadicamente no ar duas ou três vezes por semana
com capítulos curtos, de duração média de 20 minutos. Como a
televisão era uma aquisição recente (1950), as primeiras novelas
ainda carregavam a influência do período áureo das radionovelas,
mantendo a figura de um narrador que ligava os capítulos, informando
aos telespectadores um resumo da história já veiculada anteriormente,
como se fazia no rádio (BRANDÃO, 2007, p. 165).
Essa mesma característica, como destaca Esther Hamburger (2005), pode ser
estendida para as novelas produzidas nos anos 80: a de uma perspectiva crítica acerca da
realidade brasileira, podendo-se dizer que esse gênero contribuiu de maneira contumaz
para o entendimento do contexto social brasileiro no seu movimento modernizador. Ao
polarizar em seu discurso temáticas extremamente complexas, como a reconfiguração
do lar, a alteração do papel da mulher na sociedade, as questões ligadas à política, a
telenovela mostrou-se um gênero de forte representação nacional, tanto é que
Mogadouro (2007) enfatiza que a telenovela “[...] buscou uma forma própria de
narrativa popular, pautada nas relações do cotidiano, agregando realismo e críticas
sociais, construindo um produto extremamente representativo da modernidade brasileira
[...]” (MOGADOURO, 2007, p. 88-89).
Por fim, a última fase compreendida por Lopes (2009) como Fase Naturalista
(iniciada a partir dos anos 1990) deve ser entendida como o momento de radicalização
da presença de elementos realistas da fase anterior associadas ao emprego de temáticas
de cunho social e inserção de campanhas socioeducativas, revelando um forte
componente educativo desse gênero de forte penetração nos lares dos brasileiros. Aqui,
percebe-se a incorporação de um modelo de produção cultural notoriamente brasileiro,
particularidade evidenciada pelas configurações de um gênero que extrapolou sua
função ligada ao entretenimento.
Ademais, devido os mecanismos de identificação e projeção instaurados na
telenovela, o gênero torna-se uma narrativa capaz de alimentar mecanismos de
socialização, tanto é que para Lopes (2009) essa narrativa apresenta a peculiaridade de
ser onipresente na vida do brasileiro, uma vez que fornece assuntos para a discussão na
sociedade, além de alimentar toda uma indústria de entretenimento construída em torno
dessa narrativa. É importante acrescentar que, devido a essa peculiaridade, a telenovela
emerge como o produto principal da indústria televisiva.
Ainda acerca dos mecanismos discursivos da telenovela, é importante salientar
que a incorporação de aspectos realistas e a adoção de campanhas educativas permitiu
ao gênero se constituir, observados evidentemente os limites de sua representação, num
verdadeiro espaço de problematização do Brasil, retratando aspectos ligados à
intimidade bem como problemas sociais. Pela profundidade dos temas retratados e pelo
serviço de formativo que prestam à nação, é indiscutível que a telenovela deixou de
ocupar o posto de mero entretenimento para se consolidar numa narrativa acerca da
Considerações finais
Referências