Políticas Linguísticas Da UNESCO

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LÍNGUA, LITERATURA E ENSINO – Maio/2007 – Vol.

II

POLÍTICAS DA UNESCO PARA AS LÍNGUAS AMEAÇADAS

Larissa da Silva LISBOA SOUZA


(Orientador): Prof. Dr. Angel Corbera Mori

RESUMO: A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e


Cultura) vem trabalhando para a preservação das línguas ameaçadas no mundo. Suas
propostas são baseadas em análises feitas por lingüistas e educadores envolvidos com a
diversidade lingüística. A elaboração de materiais como “O livro vermelho das línguas
em perigo de extinção” e planos de ação, como a documentação (coleta e análise de
dados sobre a língua), são alguns dos projetos que a organização tem como prioridades
para conservação dessas línguas.
Palavras-Chave: Línguas Indígenas, Línguas Ameaçadas, Políticas Lingüísticas,
UNESCO

A Unesco e a Diversidade Lingüística

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura


(UNESCO), fundada em 1945, coloca como um de seus objetivos a manutenção
e perpetuação da diversidade lingüística no mundo. Assim, dentro de seus
diversos programas relacionados à promoção das línguas como instrumentos da
educação e da cultura, a UNESCO tem em andamento o projeto The Red Book
of Languages in Danger of Disappearing. A elaboração desse livro contempla
quatro planos de ação:
a) Continuar reunindo informações sobre as línguas que estão em risco de
extinção;
b) Fortalecer a pesquisa e a coleta de materiais relativos às línguas em risco
que ainda não tenham tido nenhuma atividade semelhante envolvida até agora e
que estejam consideradas na categoria de línguas isoladas, línguas essas de
especial interesse para os estudos tipológicos e para a lingüística histórico-
comparativa, sendo ainda definidas como línguas em eminente perigo de
extinção;
c) Comprometer-se com atividades que apontem para o estabelecimento de
um projeto de comitê internacional e redes de centros regionais de pesquisa
sobre a base de contatos já existentes;
d) Estimular a publicação de materiais e os resultados de estudos
relacionados às língua ameaçadas de extinção.
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Além de objetivos específicos, a UNESCO recomenda que os Estados


Membros se comprometam em:
1. Proteger a diversidade lingüística da humanidade e dar suporte para a
expressão, criação e disseminação do maior número de possibilidades de
línguas;
2. Estimular a diversidade lingüística, mas salvaguardando a língua
materna, em todos os níveis de educação, sempre que seja possível, e
incentivando o ensino de várias línguas desde a idade mais jovem;
3. Incorporar, onde for apropriada, a pedagogia tradicional no processo de
educação, visando a preservação e fazendo uso pleno de métodos apropriados
culturalmente para a comunicação e transmissão do conhecimento, e
4. Estimular o acesso universal a todas as informações de domínio público,
através do trabalho em rede, incluindo a promoção da diversidade lingüística no
cyberspace.

Prioridades

Como prioridades relacionadas às línguas em extinção, a UNESCO propõe:

Documentação da língua
(pesquisa e coleta de dados sobre essa língua)

Quem faz essa documentação?


Prioritariamente lingüistas, mas também educadores.

Problemas
Como problema principal a UNESCO coloca a questão de identidade,
relacionada com a valorização da própria língua por parte dos falantes.

Áreas de ajuda às línguas ameaçadas


- Participar junto aos falantes no desenvolvimento de ortográficas práticas
e na produção de todo tipo de material de ensino,
- Desenvolvimento sustentável nas habilidades de documentação local.
Treinar e capacitar os próprios falantes na leitura, escrita e análise de suas
línguas maternas e na produção de materiais pedagógicos,
- Apoio e desenvolvimento de uma política lingüística nacional. As
políticas lingüísticas nacionais devem dar suporte à diversidade lingüística,
incluindo as línguas ameaçadas de extinção,
- Apoio e desenvolvimento de uma política educacional. Segundo a
UNESCO, desde o ano de 1953 e, sobretudo durante os últimos 15 anos, têm

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surgido muitos Programas que levam em conta o uso da língua materna na


educação..
Perguntas freqüentes
A UNESCO considera como questões a serem respondidas os seguintes
pontos:

1. O que é uma língua em perigo?


Uma língua é considerada em perigo quando está face à extinção. Apesar
das causas serem complexas, considera-se que uma língua esta em perigo de
extinção quando seus falantes deixam de usa-lá, e quando não existem novos
falantes (adultos ou crianças).

2. O que está acontecendo com as línguas no mundo?


Pelo menos 50% das 6.808 línguas do mundo estão perdendo falantes, e
muitas estarão extintas num futuro próximo. Algumas línguas ainda vigentes
estão em perigo porque são menos usadas pelas gerações mais novas. Ao
considerar esses fatos, 90% das línguas do mundo podem ser perdidas ate o
final desse século.

3. Por que uma língua fica em perigo?


Uma língua fica em perigo principalmente pela pressão de forcas externas,
tais como militares, religiosas, culturais, ou dominação educacional. As línguas
podem estar ameaçadas também por causas de forças internas, tal como uma
reação negativa dos próprios falantes em relação a sua própria língua. Por
exemplo, muitos povos indígenas são levados a crer que as línguas de seus
ancestrais são inferiores e não valem a pena serem mantidas. Eles abandonam
suas línguas e sua cultura buscando não serem vitimas de discriminação, ou
para se integrarem aos padrões da sociedade dominante.

4. O que se perde quando desaparece uma língua?


Cada língua que se extingue resulta em perdas irrecuperáveis de valores
culturais e intelectuais, incluindo os conhecimentos ecológicos adquiridos em
centos de anos. Como a perda das línguas, os cientistas têm menos elementos
para descobrir mais evidências sobre a estrutura e a função das línguas do
mundo, incluindo a reconstrução da pré-história dos povos.

5. O que precisa ser feito?


A conscientização sobre a perda iminente de uma língua, a valorização do
apoio e o reconhecimento da diversidade lingüística só serão bem sucedidos se
puderem ser estabelecidos papéis significativos para línguas ancestrais, tanto

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dentro da vida moderna dos membros das minorias etnolingüísticas quanto no


interior dos contextos nacionais e internacionais.

Graus de risco de extinção


A UNESCO deixa claro que o acesso ao número de falantes de um língua é
uma tarefa trabalhosa. Por isso, propõe usar uma variedade de critérios para
avaliar a situação dessas línguas. Cinco critérios são considerados como
básicos:

1. Transmissão das línguas entre gerações


Grau de risco Grade Falantes
Estável S Todas as idades, desde a infância
Instáveis 1 Algumas crianças em todos os domínios,
algumas crianças em domínios restritos
Definitivamente ameaçadas 2 Apenas os pais e avós
Severamente ameaçadas 3 Apenas os avós
Estado crítico 4 Apenas poucos falantes de “longas gerações”
Extintas E Sem falantes

2. Proporção de falantes em relação à população total


Grau de risco Grade % de falantes
Estável S 100%
Instável 1 80 – 99%
Definitivamente ameaçadas 2 30 – 79%
Severamente ameaçadas 3 10 – 29%
Estado crítico 4 Menos que 10
Extintas E 0%

Domínios e Funções
Grau de risco Grade Domínios e Funções
Estável S A língua é usada em todos os domínios e
funções
Instável 1 Maioria dos domínios sociais e muitas
funções
Definitivamente ameaçadas 2 Uso da língua herdada limita-se ao uso
doméstico
Severamente ameaçadas 3 A língua só é usada em situações especiais
Estado crítico 4 A língua herdada é usada em situações e por
um número limitado de falantes
Extintas E Não está mais em uso
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4. Atitude perante as línguas


Grade Posição oficial das línguas
S Integração Todas as línguas são protegidas
1 Integração defensora Línguas minoritárias são protegidas
2 Assimilação passiva Não há uma política explícita para línguas minoritárias
3 Assimilação ativa Governos incentivam na prática a assimilação às línguas
dominantes
4 Assimilação forçada Apenas a língua dominante é a língua oficial
5 Rejeição Línguas minoritárias são proibidas

5: Qualidade da documentação
Grade Documentação lingüística
0 Superlativo: Gramáticas excelentes, dicionários e textos. Gravações de
áudio e vídeos, entre outros
1 Excelente: Um grande número de gramáticas, dicionários, textos,
literatura. Também gravações de boa qualidade de áudio e vídeos.
2 Bom: Número suficiente de gramáticas, dicionários e textos. Podem
existir áudios e vídeos de qualidade variada.
3 Fragmentários: Esboços gramaticais, listas de palavras, textos de uso
limitado. Áudio e vídeo de qualidade variada, com ou sem anotações.
4 Inadequado: Poucos materiais; listas breves de palavras e textos
limitados. Áudio e vídeos não existem.
5 Sem documentação

Atividades a serem desenvolvidas urgentemente

Nesse ponto, a UNESCO considera essencial realizar as seguintes


atividades:

(i) Cooperação: Trabalho conjunto com membros da comunidade


lingüística e conscientização dos próprios falantes,
(ii) Documentação: Coleta e análise de dados lingüísticos, sociolingüísticos
e culturais
(iii) Educação da comunidade local: Ajudar a comunidade a entender a
situação de sua língua; providenciar oportunidades de treinamento e pesquisa
para os membros da comunidade; desenvolver a auto-sustentação da pesquisa
local; apoiar o uso da língua ameaçada dentro de todos os contextos (educação,
mídia, vida social e cultural).
(iv) Suporte Institucional: Oferecer para estudantes treinados, membros da
comunidade, assistência financeira acadêmica e facilidades para publicação de
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resultados de pesquisa; Disseminar amplamente o máximo de informações


possível, dentro do país do patrimônio cultural como internacionalmente (de
todas as formas/ mídia).

Conclusões

Em suma, a UNESCO vem trabalhando deste seu surgimento para a


preservação da diversidade cultural, mais precisamente, da diversidade
lingüística. Com essas metas, a organização tende a trazer a conscientização dos
governos nacionais e internacionais para que possam preservar uma das tantas
riquezas que a humanidade tem: a língua.
_________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FISHMAN, Joshua (1977). Sociology of language: an interdisciplinary social


scienceapproach to language in society. Mouton Publishers.
UNESCO no Brasil: www.unesco.org.br
UNESCO (2003). Convención para la Salvaguardia del Patrimônio Cultural Inmaterial.
Paris, octubre 2003. Em http://portal.unesco.org./culture.

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