Alberto Caeiro

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Alberto Caeiro

Fernando Pessoa e os seus heterónimos

«Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este
mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as
quais esta, sucedida já em maioridade. [...] E assim arranjei, e propaguei, vários
amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta
anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto, vejo... E tenho saudades
deles. [...]»
Fernando Pessoa, Antologia Poética, Lisboa, Relógio D’Água, 2013
Os heterónimos

A palavra heterónimo deriva do grego e significa «outro nome». O


recurso aos heterónimos consiste numa passagem da expressão pessoal
para uma personificação estética do texto ou da escrita.

Segundo Pessoa, a origem dos seus heterónimos deriva do seu lado


histérico ou histeroneurasténico, o qual assume aspetos mentais que o
levam ao silêncio e à poesia.
Poesia dos heterónimos

Alberto Caeiro Ricardo Reis Álvaro de Campos


O poeta bucólico O poeta clássico O poeta da modernidade
Alberto Caeiro
 Nascimento: 1889, Lisboa (morreu em 1915).

 Formação e profissão: instrução primária; sem


profissão.
 Características físicas: estatura média, não parecia
tão frágil como era;cara rapada; louro sem cor,
olhos azuis.

 Contexto de escrita heteronímica: surgiu «por pura


e inesperada inspiração».

 Poeta simples que vive de um modo rústico, em


pleno contacto com a Natureza.
Alberto Caeiro — o «mestre»

Teve por discípulos Ricardo Reis, Álvaro de Campos e o próprio Fernando Pessoa «ele só».
Biografia
— Nasceu em 1889, em Lisboa.
— Os seus pais morreram cedo.
— Viveu quase toda a sua vida no campo.
— Quase não teve educação (apenas a instrução primária).
— Não teve profissão, vivendo de pequenos rendimentos.
— Vivia com uma tia velha, tia-avó.
— Morreu em 1915.

William Turner, O parque


em Petworth House (c. 1830).

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Poesia dos heterónimos

Alberto Caeiro
O poeta bucólico
• Concebido como camponês praticamente desprovido
de educação literária.

• Recusa a abstração e a especulação metafísica, porque


vive no seio da Natureza e capta a realidade pelos
sentidos (sensacionismo).

• Descobre constantemente novidade nas coisas


observadas, atribuindo-lhes um sentido denotativo e
concreto.
O fingimento artístico: o poeta bucólico

Deambulação e contemplação da Natureza.

Integração, comunhão e harmonia com os elementos naturais e afastamento


social.

No poema «O Guardador de Rebanhos», Caeiro apresenta-se como «um


pastor», usando essa máscara poética pela semelhança existente entre ambos:
um e outro deambulam; um e outro vivem em comunhão com a Natureza; um e
outro observam o ambiente que os rodeia.
Poesia dos heterónimos

Alberto Caeiro
O poeta bucólico
• O primado das sensações: as sensações são para
Caeiro a única forma de alcançar o conhecimento, pois
ver além do visível é não ver, é especular.

• O panteísmo: o panteísmo fá-lo ver Deus em todas as


coisas, nomeadamente nos elementos da Natureza; o
próprio Universo é Deus.

• O conhecimento e todas as faculdades decorrem das


sensações, daí que afirme “ver é conhecer”.
O fingimento artístico: o poeta bucólico

Simplicidade e felicidade primordiais.

Bucolismo como máscara poética.

Vivência tranquila no tempo


presente.
Charles-Émile Jacque,
Paisagem com Rebanho, 1872.

Caeiro vive em plena sintonia com os elementos da Natureza, sendo para


ele essencial a ausência de pessoas para a criação do ambiente de paz.
Poesia dos heterónimos

Alberto Caeiro
O poeta bucólico
• A recusa do pensamento: Suspende o pensamento e a
interpretação subjetiva do mundo.

• A defesa do objetivismo e a negação de atitudes de


análise e interpretação.

• A postura antimetafísica (de rejeição do que


ultrapassa a apreensão imediata do real).
Ser parte da harmonia universal da
Natureza.

Fingimento artístico Abolir o pensamento.


de Caeiro
Viver tranquila e alegremente no
seio da mãe Terra.

Criação Artística

Negar a intelectualização Libertar-se da excessiva


de emoções. introspeção, da dor de pensar.
Reflexão existencial: o primado das sensações

Os sentidos (o tato, a visão, a audição, o paladar, o olfato) e as sensações


opõem-se ao conhecimento intelectual.

«Em Caeiro, imagina-se o encontro e a descoberta da “eterna novidade


do mundo”, numa atitude de “pasmo essencial”, num presente absoluto, no
fundo num tempo sem tempo que é o da visão “originária”: a visão em que se
vê tudo sempre da primeira vez, em que não há reencontros, mas encontros
sempre novos e puros.»
Manuel Gusmão, A Obra de Alberto Caeiro, Coleção «Textos Literários».
Lisboa, Editorial Comunicação, 1986, pp. 66-68
O poeta das sensações

Sensacionismo: a sensação
sobrepõe-se ao pensamento.

Observação objetiva da realidade.

Rejeição do pensamento abstrato e


da intelectualização.

«Filosofia» da antifilosofia.
Temas e ideias

O MUNDO COMO
POETA-GUARDADOR REALIDADE FÍSICA —
DE REBANHOS A PROCURA VALORIZAÇÃO
Alberto Caeiro DO REAL DA PERCEÇÃO
apresenta-se como OBJETIVO SENSORIAL
um «guardador
de rebanhos». Alberto Caeiro Alberto Caeiro elege
deseja ver tudo a perceção sensorial
O conjunto das o que o rodeia como meio
sensações que vai
de forma objetiva, privilegiado de
recolhendo quando
deambula no seio como se fosse conhecer o mundo,
da Natureza é o seu a primeira vez. pois, para ele,
«rebanho». só existe
a realidade física.

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Temas e ideias

REJEIÇÃO
DO A NATUREZA
CONHECER COMO PENSAMENTO, COMO
UMA CRIANÇA DA FILOSOFIA MODELO/SER
Para Caeiro, RACIONAL O VERDADEIRO
o mundo é E DA METAFÍSICA POETA
sempre diferente Para Caeiro, DA NATUREZA
e múltiplo. pensar é «estar Apresentando-se
Por isso, deseja ter doente dos como um poeta da
o olhar de uma olhos». Por isso, Natureza, Caeiro
criança, para pensa com os deseja viver de
captar a novidade sentidos: vendo acordo com ela,
essencial do e ouvindo. existindo de forma
mundo. Para ele, «pensar tranquila, simples
é não e serena.
compreender».

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Temas e ideias

Caeiro
representa a
mundividência
Caeiro traze o regresso
pagã
Caeiro
a cura para
a um estado
representa a
a doença do
mundividência primordial de
pensamento
pagã É O MESTRE harmonia entre o
 Homem e a
 DE PESSOA
ORTÓNIMO A solução para
Natureza.
Regresso
E DOS os problemas
a um estado
HETERÓNIMOS existenciais e
primordial de
filosóficos que
harmonia entre
afligem o
o Homem
ortónimo e os
e a Natureza.
heterónimos

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Poesia dos heterónimos

Alberto Caeiro Linguagem, estilo e estrutura


O poeta bucólico

• Revela uma certa infantilidade e simplicidade,


privilegiando a coordenação, expressões familiares,
comparações simples, vocabulário do campo lexical da
Natureza, aparente pobreza lexical.

• Quanto à forma, apresenta variedade estrófica e


métrica.

• Paralelismos, simetrias, polissíndetos, predomínio da


coordenação, marcas de oralidade.
Linguagem, estilo e estrutura

Alberto Caeiro tenta transmitir, através das suas palavras, a


inocência e a pureza da sua visão. Daí, algumas vezes, a simplicidade
quase infantil do estilo.

• Linguagem simples, familiar, objetiva, prosaica e oralizante.


• Presença de máximas e de aforismos.
• Vocabulário concreto.
Linguagem, estilo e estrutura

 Predomínio de construções sintáticas coordenadas e subordinadas adverbiais


(comparativas, causais e temporais).

 Predomínio do presente do indicativo.

 Verso livre e, normalmente, longo.

 Irregularidade estrófica, rítmica e métrica.

 Ausência de rima (versos soltos).

 Recursos expressivos predominantes: comparação, metáfora, anáfora,


repetição.

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