Gestin 13

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Ano

Ano XIII
XIII -- N.º
N.º 13
13 -- dezembro
dezembro de
de 2016
2016
1

Ano XIV - N.º 13 - dezembro de 2016

Escola Superior de Gestão


Instituto Politécnico de Castelo Branco
2
EDIÇÃO E PROPRIEDADE
Escola Superior de Gestão
Instituto Politécnico de Castelo Branco

DIRETOR
Ana Rita Baptista Garcia

CORPO EXECUTIVO
Sara Margarida Isidoro Frade de Brito Filipe
Cristina Isabel Miranda Abreu Soares Fernandes
Hélio Pedro Gonçalves Lameiras

CORPO REDATORIAL
Ana Maria Gonçalves Lourenço Roque Santos Pinto, Ana Paula Robalo do Nascimento Castela, Ana Rita
Baptista Garcia, André João Pinheiro Costa, António José Fonseca Gaiola, António Mendes Pinto, Cristina Isabel
Miranda Abreu Soares Fernandes, Cristina Maria dos Santos Estevão, David José Geraldes Falcão, Fernando
António Alverca Paulico, Filipe Manuel Antunes Pires, Marta Filipa Geraldes Falcão, Nuno José Martins Guerra,
George Manuel Almeida Ramos, João Renato Caramona Belo Sebastião, Pedro Manuel Rodrigues Carvalho, Sara
Margarida Isidoro Frade de Brito Filipe, Sara Monteiro Morgado Dias Nunes.

CONSELHO DE REVISORES CIENTÍFICOS

ÁREA CIENTÍFICA DA GESTÃO


Gastão Marques (Instituto Politécnico de Portalegre), Pedro Nunes (Instituto Politécnico do Cávado e do Ave),
Cristina Fernandes (Instituto Politécnico de Castelo Branco),
Alejandro del Moral Agúndez (Universidad de Extremadura)
ÁREA CIENTÍFICA DO TURISMO
Tomás Lopez Guzmán (Universidade de Córdoba), Carlos Costa (Universidade de Aveiro),
Adília Ramos (Instituto Politécnico de Coimbra), Fernando Moreira (Escola Superior de Hotelaria e Turismo
do Estoril), Licínio Cunha (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia),
Cristina Estevão (Instituto Politécnico de Castelo Branco)
ÁREA CIENTÍFICA DO DIREITO
José Lamego (Universidade Clássica de Lisboa), Nina Aguiar (Instituto Politécnico de Bragança),
Irene Portela (Instituto Politécnico do Cávado e do Ave), Marcial Herrero (Universidade da Extremadura),
Marta Falcão (Instituto Politécnico de Castelo Branco)
ÁREA CIENTÍFICA DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E DO COMPORTAMENTO
Maria Antonieta Garcia (Universidade da Beira Interior), Maria João Guardado Moreira (Instituto Politécnico
de Castelo Branco), João José Tavares Curado Ruivo (CIPSE - Instituto Politécnico de Leiria),
Jorge Ferraz (Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril)

COMITÉ CIENTÍFICO DAS XXVI JORNADAS LUSO-ESPANHOLAS

COMITÉ CIENTÍFICO PORTUGUÊS

Presidente do Comité Científico Português: Mário Lino Barata Raposo (Universidade da Beira Interior); Vice-
-Presidentes do Comité Científico Português: João José de Matos Ferreira (Universidade da Beira Interior); Helena
Maria Batista Alves, (Universidade da Beira Interior); Secretariado: Carla Fernandes (Universidade da Beira Interior);
Membros: Alberto Baptista (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Alcina Gaspar (Instituto Politécnico
de Leiria); Alcino Couto (Universidade da Beira Interior); Alzira Maria Ascensão Marques (Instituto Politécnico de
Leiria); Amélia Marques (Instituto Politécnico de Setúbal); Ana Bela Teixeira (Instituto Politécnico de Setúbal); Ana
Maria Rodrigues (Universidade de Coimbra); Ana Maria Soares (Universidade do Minho); Ana Maria Sotomayor
(Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa); Ana Marta-Costa, (Universidade de Trás-os-
-Montes e Alto Douro); Ana Morais (Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE)); Ana Paula Matias (Universidade da
Beira Interior); Ana Paula Rodrigues (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Anabela Almeida (Universi-
dade da Beira Interior); Anabela Correia, (Instituto Politécnico de Setúbal); Anabela Dinis, (Universidade da Beira
Interior); António Almeida (Instituto Politécnico de Setúbal); António Cardoso Marques (Universidade da Beira
Interior); António Carrizo Moreira (Universidade de Aveiro); António João Nunes (Universidade da Beira Interior);
António José Fernandes (Instituto Politécnico de Bragança) António Sousa (Universidade Évora); Arménio Rego
(Universidade de Aveiro); Arminda Maria Finisterra do Paço (Universidade da Beira Interior); Arnaldo Coelho
(Universidade de Coimbra); Artur Cristóvão (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Ascensão Braga (Ins-
tituto Politécnico da Guarda); Aurora Teixeira (Universidade do Porto); Carla Alexandra Amado (Universidade do
Algarve); Carla Marques (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Carlos Brito (Faculdade Economia Uni-
versidade do Porto); Carlos Fonseca (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Carlos Machado dos Santos
(Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Carlos Marques (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro);
3
Carlos Rouco (Academia Militar); Carmem Leal (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Cátia Crespo
(Instituto Politécnico de Leiria); Christopher Gerry (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Conceição
Ilda da Silva Gomes (Instituto Politécnico de Leiria); Cristina Estevão (Instituto Politécnico de Castelo Branco);
Cristina Fernandes (Instituto Politécnico de Castelo Branco); Daniel Marinho (Universidade da Beira Interior);
Dina Miragaia (Universidade da Beira Interior); Elisabete Fernanda Mendes Duarte (Instituto Politécnico de Leiria);
Elizabeth Kasteinholz (Universidade de Aveiro); Emerson Wagner Mainardes (Universidade da Beira Interior);
Fernanda Nogueira (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Fernando Ferreira (Instituto Universitário de
Lisboa (ISCTE)); Filipe Coelho (Universidade de Coimbra); Francisco Carreira (Instituto Politécnico de Setúbal);
Francisco Diniz (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Francisco Vitorino Martins (Faculdade Economia
Universidade do Porto); Gabriela Silva (Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE)); Georgete Andraz (Universidade
do Algarve); Helena Alves (Universidade da Beira Interior / NECE); Henrique Diz (Universidade de Aveiro); Ilídio
Lopes (Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE)); Inês Lisboa (Instituto Politécnico de Leiria); Irina Golovano-
va (Academia Militar); Jacinta Moreira (Instituto Politécnico de Leiria); Jacinto Vidigal da Silva (Universidade de
Évora); João Cordeiro (Instituto Politécnico de Setúbal); João Ferreira (Universidade da Beira Interior / NECE);
João Monteiro (Universidade da Beira Interior); João Mota (Instituto Superior de Economia e Gestão); João Pedro
Pina Cordeiro (Instituto Politécnico de Setúbal); João Rebelo (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); João
Tomás (Instituto Politécnico de Setúbal); João Veríssimo de Oliveira Lisboa (Faculdade de Economia de Univer-
sidade de Coimbra); Joaquim Borges Gouveia (Universidade de Aveiro); Jorge Casas Novas (Universidade Évora);
José Alberto Fuinhas (Universidade da Beira Interior); José Carlos Pinho (Universidade do Minho); José Guilherme
Dantas (Instituto Politécnico de Leiria); José Luís Pereira Martins (Instituto Politécnico de Leiria); José Paulo Espe-
rança (Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE)); José Ramos Pires Manso (Universidade da Beira Interior); José
Rebelo (Instituto Politécnico de Setúbal); Júlia Fonseca (Instituto Politécnico de Leiria); Leonor Ferreira (Faculdade
de Economia da Universidade Nova de Lisboa); Lígia Febra (Instituto Politécnico de Leiria); Lúcia Rodrigues (EEG
Universidade do Minho); Luís Farinha (Instituto Politécnico de Castelo Branco); Luís Lourenço (Universidade da
Beira Interior); Luísa Carvalho (Universidade Aberta); Manuel Luís Tibério (Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro); Manuela Sarmento (Universidade Lusíada); Maria Antónia Jesus (Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE)); Maria de Fátima David (Instituto Politécnico da Guarda); Maria do Céu Ferreira Gaspar Alves (Univer-
sidade da Beira Interior); Maria Eduarda Silva Teixeira Fernandes (Instituto Politécnico de Leiria); Maria Elisabete
Duarte Neves (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra); Maria João Machado (Instituto
Universitário de Lisboa (ISCTE)); Maria José Aguilar Madeira Silva (Universidade da Beira Interior); Maria José
Rainho (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Maria Natário (Instituto Politécnico da Guarda); Mário
José Batista Franco (Universidade da Beira Interior); Mário Raposo (Universidade da Beira Interior / NECE); Mário
Sérgio Teixeira (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Marta Silvério (Universidade de Évora); Natália
Maria Prudêncio Canadas (Instituto Politécnico de Leiria); Nelson Duarte (Instituto Politécnico do Porto); Neuza
Ribeiro (Instituto Politécnico de Leiria); Nuno Teixeira (Instituto Politécnico de Setúbal); Odete Pereira (Instituto
Politécnico de Setúbal); Orlando Manuel Martins Marques de Lima Rua (Instituto Politécnico do Porto); Patrícia
António (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro); Paula Odete Fernandes (Instituto Politécnico de Bragan-
ça); Paulo Alexandre Oliveira Duarte (Universidade da Beira Interior); Paulo Gonçalves Pinheiro (Universidade da
Beira Interior); Paulo Maças Nunes (Universidade da Beira Interior); Paulo Neves (Universidade do Algarve); Pedro
Dominguinhos, (Instituto Politécnico de Setúbal); Pedro Marques Silva, (Universidade da Beira Interior); Ricardo
Rodrigues (Universidade da Beira Interior); Rui Alberto de Freitas Martins (Instituto Politécnico de Leiria); Rui Rita
(Instituto Politécnico de Setúbal); Rui Robalo (Instituto Politécnico de Santarém); Rute Abreu (Instituto Politécnico
da Guarda); Sérgio Pereira dos Santos (Universidade do Algarve); Soumudip Sarkar (Universidade de Évora); Teresa
Cristina Pereira Eugénio (Instituto Politécnico de Leiria); Timothy Koehnen (Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro); Vasco Eiriz (Universidade do Minho); Vítor Lélio da Silva Braga (Instituto Politécnico do Porto); Zélia
Maria da Silva Serrasqueiro (Universidade da Beira Interior).

COMITÉ CIENTÍFICO ESPANHOL

Presidentes do Comité Científico Espanhol: Antonio Leal Millán (Universidad de Sevilla); Carmen Barroso Castro
(Universidad de Sevilla); Vice-Presidente e Secretario General do Comité Científico Espanhol: Antonio Navarro
García (Universidad de Sevilla); Membros: Agueda Esteban Talaya (Universidad de Castilla La Mancha); Alfonso
Rodríguez Sandiás (Universidad de Santiago de Compostela); Alfonso Vargas Sánchez (Universidad de Huelva); Ana
María Gutiérrez Arranz (Universidad de Valladolid); Ana Rosa del Águila Obra (Universidad de Málaga); Antonio
de la Torre Gallegos (Universidad de Sevilla); Antonio Padilla Meléndez (Universidad de Málaga); Arturo Rodríguez
Castellanos (Universidad del País Vasco); Begoña Barreiro Fernández (Universidad de Santiago de Compostela);
Belén Fernández-Feijóo Souto (Universidad de Vigo); Bernabé Escobar Pérez (Universidad de Sevilla); Carlos
Flavián Blanco (Universidad de Zaragoza); Daniel Carrasco Díaz (Universidad de Málaga); Domingo Ribeiro
Soriano (Universidad de Valencia); Encarnación González Vázquez (Universidad de Vigo); Enrique Bigné Alcañiz
(Universidad de Valencia); Enrique Buch Gómez (Universidad de Vigo); Enrique Claver Cortés (Universidad de Ali-
cante); Enrique Díez de Castro (Universidad de Sevilla); Enrique Martín Armario (Universidad de Sevilla); Francisca
Parra Guerrero (Universidad de Málaga); Francisco Javier Landa Bercebal (Universidad de Sevilla); Francisco Javier
Llorens Montes (Universidad de Granada); Francisco Javier Martínez García (Universidad de Cantabria); Guillermo
4
Pérez-Bustamante Ilander (Universidad de Oviedo);Inés Küster Boluda (Universidad de Valencia); Jesús Barrena
Martinez (Universidad de Cádiz); Joaquina Laffarga Briones (Universidad de Sevilla); José Alberto Díez de Castro
(Universidad de Santiago de Compostela); José Ángel Miguel Dávila (Universidad de León); José Antonio Ariza
Montes (Universidad Loyola de Andalucía); José Antonio Fraiz Brea (Universidad de Vigo); José Antonio Jiménez
Quintero (Universidad de Málaga); José Luis Galán González (Universidad de Sevilla); José Luis Gascó Gascó (Uni-
versidad de Alicante); José Luis Miralles Quirós (Universidad de Extremadura); José María Gómez Gras (Universi-
dad Miguel Hernández); José Rodríguez Rodríguez (Universidad de Málaga); Juan Carlos Ayala Calvo (Universidad
de La Rioja); Juan José García Machado (Universidad de Huelva); Juan Llopis Taverner (Universidad de Alicante);
Juan Ramón Oreja Rodríguez (Universidad de La Laguna); Julio García del Junco (Universidad de Sevilla); Lázaro
Rodríguez Ariza (Universidad de Granada); Leonor González Menorca (Universidad de La Rioja); Luis Ángel
Guerras Martín (Universidad Rey Juan Carlos); Luis Tomás Díez de Castro (Universidad Rey Juan Carlos); Macario
Cámara de la Fuente (Universidad de Jaén); Manuel Cabanes Fuentes (Universidad Loyola de Andalucía); Manuel
González Rendón (Universidad de Sevilla); Manuel Guisado Tato (Universidad de Vigo); Manuel Parras Rosa
(Universidad de Jaén); María del Mar Miralles Quiros (Universidad de Extremadura); María Isabel Blanco Dopico
(Universidad de Santiago de Compostela); María Jesús Hernández Ortiz (Universidad de Jaén); María José Montero
Simó (Universidad Loyola de Andalucía ); María José Sanzo Pérez (Universidad de Oviedo); María Reyes González
Ramírez (Universidad de Alicante); Mariano Nieto Antolín (Universidad de León); Marta Peris Ortiz (Universidad
Politécnica de Valencia) Mercedes Ruiz Lozano (Universidad Loyola de Andalucía); Ramón Valle Cabrera (Universi-
dad Pablo Olavide); Ricardo Hernández Mogollón (Universidad de Extremadura); Rodolfo Vázquez Casielles (Uni-
versidad de Oviedo); Santiago García González (Universidad de Huelva); Teodoro Luque Martínez (Universidad de
Granada); Yolanda Polo Redondo (Universidad de Zaragoza).

PRODUÇÃO
Instituto Politécnico de Castelo Branco

CAPA
Tomás Monteiro

EXECUÇÃO GRÁFICA
Serviços Editoriais e de Publicação do Instituto Politécnico de Castelo Branco

ASSINATURAS
Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova
Palacete das Palmeiras
6060-163 Idanha-a-Nova
Telef. 277200220; Fax. 277202667; E-mail: [email protected]

PERIODICIDADE
A revista GESTIN é editada semestralmente

PREÇO E ASSINATURA
Assinatura anual: 4 Euros

ISSN Nº 1645-2534
Depósito Legal n.º 170902/02
5

ÍNDICE

EDITORIAL 7

ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES E PREVISÍVEIS IMPAC-


TOS DA TRANSPOSIÇÃO DA DIRETIVA 2013/34/U.E. PARA PORTUGAL
Carla Sofia Teixeira Morais de Carvalho, Amélia Maria Martins Pires & Paula Odete
Fernandes 11

FALHAS DE MERCADO NA ATIVIDADE TURÍSTICA: UMA ANÁLISE EX-


PLORATÓRIA DA ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES
Cláudia S. Costa 27

ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE DO SETOR AGROALIMENTAR EM


PORTUGAL
53
Deolinda Maria Fonseca Alberto

EFICIÊNCIA DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA - LÂMPADAS VAPOR DE SÓDIO


DE ALTA PRESSÃO V.S. TECNOLOGIA LED
Eduardo Augusto Diz Salvador, António Borges Fernandes & Nuno Adriano Baptista
Ribeiro 63

FATORES DETERMINANTES DA LEALDADE DOS CONSUMIDORES: ES-


TUDO APLICADO AO SETOR DA MODA
Jacinta Raquel Miguel Moreira & Sara Gomes Alves 83

AÇÕES DE FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE NO HOTEL VILLA BATALHA


Jéssica Filipe Serradas & Júlia Fragoso da Fonseca 99

NIGHT AND DAYTIME EFFECTS IN US EQUITY EXCHANGE-TRADED


FUND RETURNS
João Dionísio Monteiro & José Ramos Pires Manso 117

MARKETING EXPERIENCIAL: O Estudo de 3 hotéis DE CHARME Da região


centro de PORTUGAL
José Guilherme Leitão Dantas & Alzira Maria Ascensão Marques 137
QUALIDADE DA INFORMAÇÃO: CONCEITOS, EVOLUÇÃO E APLICAÇÕES
José Rascão 157

A INFLUÊNCIA DA REDE FAMILIAR, REDE LABORAL E CONFIANÇA OR-


GANIZACIONAL NA PERCEÇÃO DE FELICIDADE PESSOAL, SATISFA-
ÇÃO COM A VIDA E SATISFAÇÃO COM O TRABALHO: UM ESTUDO EM
CONTEXTO EMPRESARIAL
Liliana Lima Lousinha Alves, Isabel Neira Gómez & Helena Maria da Silva Santos
Rodrigues 183
6
7

EDITORIAL
Este número da Revista GESTIN integra, à semelhança do editado
em junho, trabalhos apresentados nas XXVI Jornadas Luso-Espanho-
las de Gestão Científica que decorreram entre os dias 3 e 6 de feve-
reiro, de 2016, em Idanha-a-Nova, na Escola Superior de Gestão do
Instituto Politécnico de Castelo Branco (ESG/IPCB). O intercâmbio
de conhecimento, e de práticas, em países de língua portuguesa e espa-
nhola, entre investigadores, docentes, estudantes e outros interessados,
nesta área do saber, valorizou e enriqueceu a abordagem científica. O
desenvolvimento deste evento fundamentou-se no conhecimento da
necessidade de as instituições do ensino superior garantirem que as
competências científicas, tecnológicas e culturais que constroem, re-
dundem em benfeitoria da prestação de serviços à comunidade. Na
verdade, o diagnóstico de carências confirmadas implica a pesquisa de
soluções práticas através da ciência e da tecnologia e o favorecer de
uma divulgação que permita à população ativa intervir positivamente
em diferentes domínios e contribuir para o bem-estar social.
Ora, apesar dos abstracts e resumos estarem inseridos em publicação
própria, editada pela Escola, entendemos que a exposição alargada dos
estudos e pesquisas sobre as principais áreas de atuação da Escola se
justificava. No ano em que comemoramos os 25 anos da criação do
Ensino Superior em Idanha-a-Nova, reiteramos o lema e o interesse
de semear conhecimento, cumprindo a finalidade maior da academia:
edificar um diálogo criador de luz, capaz de produzir dissensos e con-
sensos, fundados em princípios e métodos científicos.
A revista GESTIN, à semelhança do presente ano, estará, também,
associada às XXVII Jornadas Hispano-Lusas que se realizarão, em
2017, na Universidad de Alicante, Espanha.
Assim, neste número,
Carla Sofia Teixeira Morais de Carvalho, Amélia Maria Martins Pi-
res e Paula Odete Fernandes autoras de ANÁLISE CRÍTICA DAS
PRINCIPAIS ALTERAÇÕES E PREVISÍVEIS IMPACTOS DA
TRANSPOSIÇÃO DA DIRETIVA 2013/34/U.E. PARA PORTU-
GAL, efetuaram uma análise crítica às alterações introduzidas pela Di-
retiva 2013/34/U.E. Procuraram conhecer o impacto decorrentes des-
sas mudanças na preparação e divulgação da informação financeira, em
Portugal. Identificaram as principais implicações da transposição desta
Diretiva na profissão, em particular no que respeita aos custos admi-
nistrativos a suportar pelas empresas com a preparação da informação
financeira e no plano social. Aplicaram um inquérito, por questionário,
a profissionais nos distritos de Vila Real e Bragança. Apresentam como
conclusão o facto de esta nova Diretiva implicar uma maior responsabi-
lidade para o profissional, que negligencia, por vezes, conceitos oriun-
dos das normas internacionais e privilegia a redução dos encargos das
empresas descurando a qualidade da informação financeira.
Cláudia S. Costa desenvolve o tema FALHAS DE MERCADO NA
8
ATIVIDADE TURÍSTICA: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA
ATUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS PORTUGUESES. A autora elabora
uma análise das intervenções dos municípios portugueses na resolução
de problemas do mercado turístico. A investigação tem como obje-
to um estudo de caso de cinco autarquias. Os resultados do trabalho
evidenciam que as Câmaras portuguesas utilizam as ferramentas políti-
cas identificadas na literatura, para combater as falhas do mercado. Os
dados apontam ainda que os municípios portugueses vão definindo
planos de ação especificamente orientados para a política de turismo
Deolinda Maria Fonseca Alberto disserta sobre: ESTRATÉGIA E
COMPETITIVIDADE DO SETOR AGROALIMENTAR EM POR-
TUGAL. Considera que o setor agroalimentar é uma das fileiras estra-
tégicas para a dinamização da economia nacional. Refere a alteração
do perfil das empresas agroalimentares emergindo, agora, uma maior
preocupação com a qualidade da matéria-prima, com a diferenciação
do produto, com o design, com a marca e com a internacionalização.
Utiliza como instrumento metodológico o modelo do Diamante de
Porter, procede à análise dos fatores de competitividade. Avalia depois
os vetores que estão na base da construção das vantagens competitivas.
Eduardo Augusto Diz Salvador, António Borges Fernandes e
Nuno Adriano Baptista Ribeiro estudam a: EFICIÊNCIA DA ILUMI-
NAÇÃO PÚBLICA - LÂMPADAS VAPOR DE SÓDIO DE ALTA
PRESSÃO V.S. TECNOLOGIA LED. Os autores efetuam uma análi-
se comparativa dos gastos entre duas variantes para a substituição das
luminárias, da iluminação pública em fim de vida, em Macedo de Cava-
leiros. Tendo como base o critério CAL – Custo Atual Líquido, verifica-
ram que a opção mais favorável, em termos económicos, é a tecnologia
LED. A variação da tarifa e o preço das luminárias foram as variáveis
que estiveram subjacentes à análise de sensibilidade.
Jacinta Raquel Miguel Moreira e Sara Gomes Alves debruçam-se so-
bre FATORES DETERMINANTES DA LEALDADE DOS CON-
SUMIDORES: ESTUDO APLICADO AO SETOR DA MODA. O
estudo teve como objetivo analisar a influência de um conjunto de fato-
res (ações de fidelização, comportamento afetivo, satisfação, confiança
e custos de mudança) na lealdade dos consumidores neste setor. As
autoras consideraram um quadro teórico que inclui a caracterização dos
fatores e que serviu de suporte à formulação das hipóteses de investi-
gação bem como ao respetivo estudo empírico. Realizaram um questio-
nário cujos dados foram submetidos a uma análise fatorial e modelos
de regressão logística. Concluíram que no setor da moda, a lealdade
dos consumidores é determinada e influenciada pelo comprometimen-
to afetivo, satisfação, confiança e custos de mudança à marca/empresa.
Jéssica Filipe Serradas e Júlia Fragoso da Fonseca estudam AÇÕES
DE FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE NO HOTEL VILLA BATA-
LHA. Explicam que, atualmente se verifica uma maior necessidade de
diferenciação, pelo que é importante que cada empresa se adapte aos
seus clientes e não imite as estratégias da concorrência. Os clientes não
procuram apenas um produto, pretendem um atendimento personali-
zado. Muitas empresas recorrem então Customer Relationship Manage-
ment - CRM, uma das ferramentas mais apropriadas, quando o objetivo
a atingir é desenvolver um relacionamento sustentável e duradouro: a
9
fidelização dos clientes. As autoras sugerem, então, a implementação de
ações de CRM específico para o Hotel Villa Batalha.
João Dionísio Monteiro e José Ramos Pires Manso apresentam
o tema NIGHT AND DAYTIME EFFECTS IN US EQUITY EX-
CHANGE-TRADED FUND RETURNS. Este artigo examina os re-
tornos médios obtidos durante os períodos em que os mercados estão
abertos e fechados; usam uma amostra dos quatro principais fundos
negociados na bolsa de ações dos EUA (ETFs), no período que decor-
re entre janeiro de 1996 e janeiro de 2014.
Iniciam a abordagem avaliando os efeitos dos dias e noites
nos ETFs. Estudam depois os efeitos comuns dia e noite, por dia da
semana. Aplicam vários modelos de regressão e concluem que, a partir
de 2006, se verifica uma acentuada diminuição e/ou o desaparecimento
do efeito dia e noite. Outra conclusão é que a volatilidade dos retornos
dia é significativamente mais elevada do que a volatilidade dos retornos
noite.
José Guilherme Leitão Dantas e Alzira Maria Ascensão Marques
apresentam um estudo sobre: MARKETING EXPERIENCIAL: O
ESTUDO DE 3 HOTÉIS DE CHARME DA REGIÃO CENTRO
DE PORTUGAL.
Defendem que a competitividade das marcas depende, em par-
te, de as empresas associarem aos produtos e serviços experiências me-
moráveis. É neste contexto que emerge o marketing experiencial. Assim,
com base no caso de estudo de 3 hotéis de charme na região de Leiria
identificaram práticas de marketing experiencial, tendo verificado que es-
tão relacionadas com o nível de satisfação dos clientes e de popularidade
dos hotéis. Estão também na origem do WOM positivo que desempenha
um papel importante na captação de novos clientes. Concluíram que o
marketing experiencial se revela fundamental como orientação estratégi-
ca para o setor da hotelaria.
José Rascão estuda a QUALIDADE DA INFORMAÇÃO: CON-
CEITOS, EVOLUÇÃO E APLICAÇÕES. Este estudo sintetiza os
trabalhos académicos existentes, procurando gerar novos conheci-
mentos. Refere que os resultados podem ser utilizados para aplicação
prática, nas distintas áreas de conhecimento. Identifica, num primeiro
momento, os atributos aparentes focando especificamente alguns deles.
Finalizando o autor propõe um modelo de avaliação da qualidade da
informação para aplicação em futuras pesquisas e estudos empíricos.
Liliana Lima Lousinha Alves, Isabel Neira Gómez e Helena Ma-
ria da Silva Santos Rodrigues, analisam A INFLUÊNCIA DA REDE
FAMILIAR, REDE LABORAL E CONFIANÇA ORGANIZACIO-
NAL NA PERCEÇÃO DE FELICIDADE PESSOAL, SATISFA-
ÇÃO COM A VIDA E SATISFAÇÃO COM O TRABALHO: UM
ESTUDO EM CONTEXTO EMPRESARIAL. As autoras avaliam a
influência da rede familiar, da rede constituída pelos colegas de trabalho
(sem diferença hierárquica) e da confiança organizacional nas três com-
ponentes (felicidade pessoal, satisfação com a vida e com o trabalho) de
bem-estar subjetivo. Realizaram um questionário a empresas localiza-
das no norte de Portugal e na Galiza; obtiveram 224 respostas válidas.
A análise dos dados através de ordered probit regressions revelou que:
a confiança e a colaboração entre os membros da rede familiar e os
10
membros da rede de colegas de trabalho (sem diferença hierárquica),
bem como a confiança na empresa estão associadas positivamente à
probabilidade de sentir felicidade pessoal e satisfação com o trabalho.
Acresce que a confiança nos superiores hierárquicos está positivamente
associada à probabilidade de sentir satisfação com a vida. Concluem
ainda que níveis de escolaridade mais elevados estão associados a me-
nor felicidade pessoal e satisfação com a vida; completam a informação
com um outro dado: o sexo masculino apresenta maior probabilidade
de sentir satisfação com o trabalho.
Ana Rita Garcia
Diretora da Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova
11

ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES


E PREVISÍVEIS IMPACTOS DA TRANSPOSIÇÃO
DA DIRETIVA 2013/34/U.E. PARA PORTUGAL

CRITICAL ANALYSIS OF THE MAIN CHANGES


AND EXPECTED IMPACTS OF TRANSPOSITION
OF DIRECTIVE 2013/34/EU FOR PORTUGAL

Carla Sofia Teixeira Morais de Carvalho1, Amélia Maria Martins Pires2 e Paula Odete Fernandes3

Resumo

O objetivo geral deste estudo é o de desenvolver uma análise crítica às alterações in-
troduzidas pela Diretiva 2013/34/U.E. tomando como ponto de partida a identificação
das principais diferenças nela preconizadas e as até agora prescritas para procurar ante-
cipar o impacto produzido por essas alterações ao nível da preparação e divulgação da
informação financeira em Portugal. Mais concretamente procurar identificar as princi-
pais implicações da transposição da Diretiva na profissão e na envolvente, em particular
no que respeita aos custos administrativos a suportar pelas empresas com a preparação
da informação financeira e no plano social. Para lhe dar resposta aplicou-se um inquérito
por questionário a profissionais nos distritos de Vila Real e Bragança. Concluiu-se que a
transposição da nova Diretiva implica uma maior responsabilidade para o profissional,
que tende a descuidar conceitos oriundos das normas internacionais e a privilegiar a
redução dos encargos das empresas em detrimento da qualidade da informação.
PALAVRAS-CHAVE: Diretiva 2013/34/U.E., Harmonização Contabilística, Nova
Diretiva da Contabilidade, PME, Diretivas Comunitárias

Abstract

This study aimed to develop a critical analysis of the changes introduced by Direc-
tive 2013/34/EU starting from the identification of the main differences and recom-
mended it until now and anticipate the expected impacts of these changes at the level
the preparation and dissemination of financial information in Portugal. It was intended
to identify the main implications of the transposition of the Directive in the accounting
profession and the surrounding (company), particularly with regard to the administrative
costs incurred by companies with the preparation of the financial information and on a
social level. To answer to the main objectives of the study it was applied a questionnaire
to profession in Vila Real and Bragança districts. The results show that the transposition
of the new Directive implies greater responsibility for the profession, neglect concepts
from international standards and focuses on reducing the burdens on businesses in de-
triment of the information quality.
KEYWORDS: Directive 2013/34/EU, Accounting Harmonization, New Accounting
Policy, SMEs, Community Directives.

1
[email protected], Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politécnico de Bragança.
2
[email protected], Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politécnico de Bragança.
3
[email protected], Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Instituto Politécnico de Bragança.
12
1. INTRODUÇÃO

A União Europeia (U.E.), que tem como missão a promoção de um mercado único através
da convergência progressiva das leis dos diferentes Estados Membros (EM), assume a harmo-
nização das práticas de elaboração da informação financeira como um elemento imprescindível
para atingir tal desiderato (Morais & Lourenço, 2005). Para tanto, desencadeou um processo que
viria a culminar com a implementação de novas normas contabilísticas não só com o objetivo de
proporcionar aos utilizadores das demonstrações financeiras (DF) informação financeira fiável,
transparente e comparável (Matos, 2011) como reforçar a transparência dos mercados, estimular
investimentos e reduzir custos (Ribeiro, 2010). Porém, e não obstante os esforços que tem vindo
a levar a cabo para oferecer normas que sirvam os interesses dos diferentes utilizadores vem
manifestando preocupações no sentido de tais normas não se traduzirem em custos adminis-
trativos excessivos, em particular para as empresas de dimensão mais reduzida. Neste sentido
fez publicar, a 29 de Junho de 2013, no Jornal Oficial da União Europeia (JOUE), a Diretiva
2013/34/U.E. relativa às DF anuais e consolidadas e aos relatórios conexos de certas formas de
empresas. Esta Nova Diretiva, que vem substituir as Diretivas 78/660/CEE e 83/349/CEE (4ª e
7ª Diretivas) e que terá que ser transposta para todos os EM até 20 de Julho de 2015, decorre, de
entre outros, dos programas da Comissão “Legislar Melhor” e “A estratégia Europa 2020”, cujo
objetivo é, sem comprometer a qualidade da regulação, ver reduzidos os encargos administrati-
vos, em especial das Pequenas e Médias Empresas (PME), e promover a internacionalização. De
acordo com Correia (2013), a U.E. propõe-se simplificar os processos contabilísticos.
Neste contexto somos em crer que esta Nova Diretiva traz preocupações acrescidas para
com as pequenas empresas e que se prendem, no essencial, com a necessidade de limitar as
exigências de informação que lhe são impostas, impedindo os EM de serem demasiado exi-
gentes em termos de informação contabilística e de relato financeiro. Para evitar encargos
administrativos desproporcionados nessas empresas e assegurar que os requisitos que lhe se-
jam aplicáveis resultem, em larga medida, harmonizados em toda a U.E., esta Nova Diretiva
faz-se assentar no princípio de “pensar primeiro em pequena escala”. Porque é uma Diretiva
que quase tudo permite e muito pouco proíbe, exceto no que se refere às pequenas entidades,
relativamente às quais impõe limites em termos de exigências de divulgação e de complexida-
de ao nível do balanço, demonstração dos resultados e respetivo anexo, no dizer de Correia
(2013) o seu conteúdo distancia-se “em larga medida” das normas emitidas pelo International
Accounting Standards Board (IASB), as IAS/IFRS, que estão na origem da recente reforma
empreendida na U.E. e que em Portugal se traduziu na revogação do Plano Oficial de Conta-
bilidade (POC) e entrada em vigor do SNC.
É no quadro desta nova realidade que se inscreve o estudo que nos propomos realizar e
que tem como objetivo desenvolver uma análise crítica das alterações introduzidas pela Dire-
tiva 2013/34/U.E. a partir da identificação das principais diferenças nela preconizadas e as até
agora prescritas e, ainda, o de antecipar os expectáveis impactos que as previsíveis alterações
no quadro normativo nacional poderão trazer ao nível da preparação e divulgação da infor-
mação financeira e, por essa via, nos custos administrativos das empresas e no plano social.
Para tanto, este trabalho encontra-se estruturado, para além desta introdução e das respe-
tivas conclusões, em duas grandes partes. Uma primeira que respeita à revisão de literatura e
uma segunda que compreende uma investigação empírica, suportada numa metodologia quan-
titativa que utilizará como método de investigação o inquérito por questionário.

2. REVISÃO DA LITERATURA

O novo contexto de informação na U.E. apresenta como uma das principais causas a bus-
ca de harmonização dos relatórios financeiros pela via da obrigatoriedade de se aplicarem as
13
IAS/IFRS, para certas empresas, e por força da reforma dos sistemas contabilísticos nacionais,
para as demais (Cañibano & Alberto, 2009). A publicação do Regulamento n.º 1606/2002/CE
incentivou, de certa forma, a que outras entidades, cuja obrigatoriedade de adoção das IAS/
IFRS não estava prevista, passassem a ser incluídas na vaga da harmonização contabilística por
via da reforma dos normativos nacionais (Albuquerque, Quirós & Marcelino, s/d).
Na senda desta tomada de posição assiste-se, por toda a Europa, a um movimento de
reforma das legislações nacionais e que em Portugal culminou com a revogação do POC e en-
trada em vigor do SNC (publicação do Decreto-Lei (DL) n.º 158/2009). Este novo modelo é
de inspiração anglo-saxónico, porque construído a partir do referencial contabilístico do IASB,
e apresenta uma moldura legal que lhe permite acolher com oportunidade e tempestividade as
alterações que venham a ser adotadas na U.E. (Borges, Rodrigues & Rodrigues, 2010).
No âmbito deste movimento harmonizador a U.E. continua a desenvolver iniciativas onde
se enquadra, como a mais recente, a publicação da Diretiva 2013/34/U.E., em 29 de Junho
de 2013, que apresenta preocupações particulares com as pequenas empresas, no sentido de
limitar as exigências de informação que lhe são impostas, mas sem que tal comprometa a
harmonização dos requisitos aplicáveis às pequenas empresas em toda a U.E. (Correia, 2013).
Neste particular, merecem destaque as caraterísticas do tecido empresarial português, com-
posto maioritariamente por organizações com caraterísticas e dimensões que se enquadram
na categoria das PME. Estas empresas, que formam a estrutura empresarial portuguesa, são
constituídas, na sua maioria, por entidades de reduzida dimensão, e cariz familiar, onde a
gestão e a propriedade se encontram concentradas e com uma estrutura de capital tendencial-
mente fechada (Pires & Rodrigues, 2011). Consequentemente, são as principais responsáveis
pela criação de emprego (INE, 2010), gozam de enorme relevância e influência na economia
nacional (Carvalhosa, 2011) e desempenham um papel crucial na estrutura e no desenvolvi-
mento económico do país (Nunes & Serrasqueiro, 2004). Porém, os seus recursos tendem a
ser escassos e a gestão pouco profissionalizada, pelo que dispõem de sistemas de informação
e de controlo pouco aperfeiçoados. As DF tendem a ter maior interesse para credores finan-
ceiros e Administração Fiscal que para gestores e/ou investidores (Pires & Rodrigues, 2011;
Rosa, 2013; Pires, Rodrigues & Pereira, 2014).
É no quadro desta realidade, necessidade de balancear custos com o retorno esperado, que
se inscrevem os fundamentos que deram corpo à Diretiva 2013/34/U.E., desenvolvida sob o
lema “pensar primeiro em pequena escala”.
No nosso caso em particular, e atendendo a que o tecido empresarial português é com-
posto maioritariamente por organizações com caraterísticas e dimensões que se enquadram
na classificação de PME e, dentro destas, maioritariamente micro, a análise da relação custo
benefício goza de enorme significado e relevância pela influência que pode ter ao nível dos
custos de contexto. As PME caraterizam-se, também, por serem entidades financeiramente
mais constrangidas e com maiores dificuldades de acesso ao crédito. Esta maior dificulda-
de está, muitas das vezes, associada ao facto de apresentarem informação financeira menos
adequada ou mesmo insuficiente e, inclusive, assimetrias na informação financeira propor-
cionalmente maiores. A teoria aponta para o significativo peso das instituições bancárias nas
opções de financiamento das PME, nomeadamente em Portugal, identificando-se o crédito
bancário como a fonte de financiamento preferencial (Pires & Rodrigues, 2011). Neste contex-
to a informação financeira reveste-se de especial importância para as empresas com maiores
necessidades de financiamento por capitais alheios (Pires & Rodrigues, 2011; Rosa, 2013).
Identificamos, assim, uma dicotomia ou paradoxo. Se é verdade que a escassez de recursos que
geralmente se associam a estas entidades recomendam contenção de gastos e que se aliviem
as obrigações que lhe são impostas, por outro lado, quando muito dependentes de capitais
alheios, recomenda-se mais e melhor informação, enquanto veículo facilitador do acesso ao
crédito e das condições em que o mesmo é negociado.
14
Se é verdade que a preparação da informação financeira implica apreciações e opções que a
tornam dependente da envolvente onde a entidade atua (Pires & Rodrigues (2011), o perfil do
empresário emerge como uma das principais caraterísticas da empresa. O empresário “tipo” em
Portugal não possui conhecimentos contabilísticos suficientes e, por vezes, nem sequer é capaz
de avaliar a sua importância, revelando tendência para suportar o processo de tomada de decisão
na experiência e/ou intuição em vez da informação contabilística. Neste sentido, cabe ao conta-
bilista o papel de estreitar a aproximação e demonstrar a importância da contabilidade para a ade-
quada gestão empresarial (Kassai, 1997; Turner, 1997, citados por Nunes & Serrasqueiro, 2004).
Porém, se há quem defenda que para as PME se tornarem decididamente competitivas têm que
investir fortemente na planificação e em sistemas de informação estratégicos (Azeitão & Rober-
to, 2010), não é este o entendimento da U.E., ou pelo menos não o é para as pequenas empresas.

3. COMPONENTE EMPÍRICA

3.1. Hipóteses de Investigação

Para dar resposta aos objetivos do estudo fixaram-se as seguintes hipóteses de investigação:
Hipótese de Investigação 1 (H1): Identificação das principais implicações na profissão
de TOC com a transposição da Nova Diretiva.
Hipótese de Investigação 2 (H2): Identificação dos previsíveis impactos na envolvente
decorrente da transposição da Nova Diretiva.

No sentido de completar o estudo, fundamentalmente com o propósito de observar a


existência de diferenças por variável sociodemográfica e profissional (tais como sexo, idade,
habilitações literárias, área de formação e dimensão da entidade na qual exerce funções de
TOC), relativamente às implicações na profissão de TOC e aos previsíveis impactos na envol-
vente (empresa), decorrentes da transposição da Nova Diretiva, estabeleceram-se as seguintes
hipóteses de investigação:
Hipótese de Investigação 3 (H3): Existem diferenças por variável de caraterização so-
ciodemográfica e profissional relativamente às implicações na profissão de TOC
com a transposição da Nova Diretiva.
Hipótese de Investigação 4 (H4): Existem diferenças por variável de caraterização so-
ciodemográfica e profissional relativamente aos previsíveis impactos na envolvente
decorrente da transposição da Nova Diretiva.

Procurou-se, ainda, verificar se as variáveis latentes “implicações na profissão de TOC”


com a transposição da Nova Diretiva e “previsíveis impactos na envolvente” (empresa) decor-
rentes da transposição da Nova Diretiva se encontram relacionadas, pelo que se estabeleceu a
seguinte hipótese de investigação:
Hipótese de Investigação 5 (H5): Existe uma relação direta e positiva entre a variável
implicações na profissão de TOC com a transposição da Nova Diretiva e a variável
previsíveis impactos na envolvente decorrente da transposição da Nova Diretiva.

3.2. Metodologia e Método de Investigação

O estudo segue uma metodologia de natureza quantitativa, considerada a mais adequada


para responder aos objetivos centrais e, bem assim, para analisar e tratar de forma precisa os
15
dados recolhidos através da aplicação de um inquérito por questionário. Este instrumento, o
inquérito por questionário, é composto por um conjunto de perguntas consistentes e direcio-
nadas para os objetivos desta investigação, de forma a poder obter-se informação consistente
e comparável (Major & Vieira, 2009). O mesmo foi construído a partir da análise e interpre-
tação da revisão da literatura e encontra-se estruturado em três partes: (I) - Caraterização do
Inquirido e da Empresa; (II) - Implicações na Profissão de TOC com a Transposição da Nova
Diretiva; (III) - Previsíveis Impactos na Envolvente (empresa) decorrentes da Transposição da
Nova Diretiva. A primeira parte compreende, essencialmente, questões fechadas e nas segun-
da e terceira partes optou-se por avaliar as respostas com base numa escala tipo Likert de cinco
pontos, de 1 (Discordo Totalmente) a 5 (Concordo Totalmente). Foram utilizadas variáveis
qualitativas medidas nas escalas nominal e ordinal. Para a análise dos resultados recorreu-se
à análise estatística descritiva exploratória, univariada e bivariada, e à análise inferencial. Para
a análise estatística descritiva foram utilizadas tabelas de frequências e medidas de tendência
central (a média) e de dispersão (o desvio padrão) (Marôco, 2011). No tratamento dos dados
estatísticos foi ainda utilizada uma análise inferencial que permitiu, com base nos elementos
observados (amostra) e descritivos, conhecer e compreender determinadas caraterísticas pe-
culiares acerca dos profissionais (Laureano, 2011). De referir, também, que para o processo
de decisão sobre a rejeição das hipóteses nulas foi assumido um nível de significância de 5%.
O questionário foi dirigido a TOC durante o período de 28 de agosto a 30 de setembro de
2014, tendo-se obtido um total de 60 respostas.

3.3. Caraterização da Amostra

Como a população composta pelos TOC é bastante numerosa e dispersa geograficamente


optou-se, por limitações de tempo, por aplicar os questionários a TOC a exercer a sua profis-
são nos distritos de Vila Real e Bragança, mais concretamente nos concelhos de Chaves, Valpa-
ços, Vila Pouca de Aguiar, Murça, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Bragança.
Como os questionários foram distribuídos pessoalmente as respostas obtidas correspondem
aos questionários colocados, num total de 60, e constituem a amostra do presente estudo.

A análise da estatística descritiva efetuada sugere os seguintes resultados relativamente à


caraterização da amostra:
- Idade e sexo: a maioria (27 inquiridos) dos elementos da amostra (60 inquiridos)
tem idades entre 30 e 39 anos e é maioritariamente formada por elementos do gé-
nero feminino (37 inquiridos);
- Habilitações literárias e área de formação: são na sua maioria licenciados (40
inquiridos) e a área de formação maioritária é a contabilidade (37 inquiridos);
- Antiguidade no exercício da profissão: não existe muita discrepância na distri-
buição dos inquiridos em função do número de anos de atividade, ainda que seja
no intervalo de 16 a 20 anos onde se verifica a maior percentagem (25%), repre-
sentativa de 15 inquiridos. Estes resultados revelam que os TOC que integraram a
amostra já contam com alguns anos de experiência na profissão;
- Distribuição geográfica dos inquiridos: dos 60 inquiridos, 65% exercem pro-
fissão no distrito de Vila Real e os restantes 35% no distrito de Bragança. Relativa-
mente à distribuição dos inquiridos por concelho 50% exercem profissão no con-
celho de Chaves, facto que se fica a dever, fundamentalmente, à maior facilidade na
aplicação dos questionários, sendo Murça o concelho com menor peso (3,3%);
- Forma como os profissionais que integram a amostra acederam à profissão:
a maioria (58,3%, representativa de 35 inquiridos) não realizaram exame de ava-
16
liação profissional de acesso à OTOC. Estes resultados estão associados à idade
dos inquiridos, na sua maioria com mais de 30 anos, e ao facto de 63,4% exercer a
profissão há mais de 11 anos. Recorde-se, a este respeito, que o exame de avaliação
profissional para acesso à carteira profissional atribuída pela OTOC se tornou obri-
gatório a partir de 2003;
- Tipo de entidade em que os inquiridos exercem a sua profissão: a gran-
de maioria exerce funções em entidade prestadora de serviços de contabilidade
(ex. gabinete de contabilidade) e com um valor verdadeiramente representativo
(83,3%), em comparação com os 11,7% que exercem funções em entidade com
departamento de contabilidade integrado (próprio) ou com os 5% que exercem
funções em “Outra” (Trabalhador Independente). Estes resultados apontam para
um maior recurso aos “gabinetes de contabilidade” (regime de outsourcing);
- Dimensão da entidade na qual exercem funções de TOC: a maioria (75%)
exercem funções em micro entidades; 13,3% em médias entidades e apenas 11,7%
em pequenas entidades;
- Volume de faturação da entidade na qual os inquiridos exercem funções de
TOC: em concordância, a maior parte dos inquiridos (81,7%) exercem funções em
entidades com um volume de faturação inferior a 500 mil euros e somente 1,7%
exercem funções em entidades com um volume de faturação superior ou igual a 3
milhões de euros;
- Forma societária das entidades onde os inquiridos exercem a sua profissão
de TOC: a grande maioria (96,7%) exerce funções de TOC em entidades com a
forma de Sociedades por Quotas e uma minoria (3,3%) em entidades com “Outra”
estrutura jurídica, que classificaram como “Empresa em Nome Individual”.

3.4. Análise e Discussão dos Resultados

No presente ponto apresentam-se e analisam-se os resultados obtidos para cada uma das
hipóteses levantadas (tabelas 1 a 5).
No que respeita “às implicações na profissão de TOC com a transposição da Nova Direti-
va” pudemos concluir que a maior parte das questões apresenta valores superiores a 3 pontos,
muito embora se encontrem próximos da média (3, na escala de Likert), o que nos permite
destacar que os inquiridos revelam alguma concordância com as afirmações em estudo. Acres-
ce, ainda, que o desvio padrão para cada variável analisada apresenta valores baixos, o que
revela uma concordância/discordância nas respostas obtidas em torno da média empírica. Os
resultados permitem ainda alcançar que existem questões que apresentam médias superiores à
média global, de 3,11 (desvio padrão de 0,394). Há, porém, outros em que, ainda que registan-
do concordância por parte dos inquiridos, apresentam média empírica inferior à média global
(3,11) e, ainda, algumas que apresentam média empírica inferior a 3 na escala de Likert e por
conseguinte abaixo da média global. Estes últimos resultados deixam transparecer uma certa
incerteza e talvez insegurança por parte dos inquiridos (TOC) na sua resposta. Fica, por isso,
a ideia de que o conhecimento acerca da Nova Diretiva pode ainda ser reduzido. Sugere-se,
neste particular, o reforço, por parte da OTOC, na formação sobre este documento que parece
ser pouco conhecido.
A informação descrita pretende responder ao primeiro objetivo do estudo, implicações na
profissão de TOC com a transposição da Nova Diretiva, e conduz a resultados a que corres-
ponde uma média de 3,11 (desvio padrão de 0,394), representativa de um comportamento de
concordância relativamente às implicações na profissão de TOC com a transposição da Nova
Diretiva, e à consequente hipótese de investigação relacionada com este objetivo (H1) (tabela
1).
17
Tabela 1: Hipótese de Investigação 1 versus Resultados da investigação.

Hipótese de Investigação Sistematização dos resultados


H1: Identificação das principais (i) A Nova Diretiva implica maior responsabilidade para o
implicações na profissão TOC; (ii) A OTOC tem proporcionado formação de quali-
de TOC com a transposição dade; (iii) Considera-se efetivamente preparado para aplicar
da Nova Diretiva. a Nova Diretiva; (iv) Com a transposição desta Nova Dire-
tiva vai continuar a exigir-se o máximo da profissão de con-
tabilista (TOC).
Fonte: Elaboração própria.

Dá-se, assim, resposta ao objetivo “implicações na profissão de TOC com a transposição


da Nova Diretiva” e, consequentemente, a H1. Estes resultados não corroboram a teoria,
nomeadamente a posição defendida por Azevedo (2014a), que aconselha “não levem isto
muito a sério, porque esta Diretiva surgiu em circunstâncias muito específicas. Os efeitos na
profissão não são substanciais”. Para o autor os profissionais irão continuar a desempenhar a
sua profissão como habitualmente, sem implicações no seu dia-a-dia. Já a CNC (2012), vem
defender que a sua transposição poderá, de entre outras, originar “quebras de eficácia e de
agilização derivadas de um período de adaptação a uma nova situação”, o que certamente irá
exigir o máximo do profissional de contabilidade.
Na continuação apresentamos os resultados para o grupo de questões que dão resposta
à variável latente “previsíveis impactos na envolvente decorrente da transposição da Nova
Diretiva”.
A este respeito concluiu-se que, globalmente, os inquiridos concordam com as afirmações
colocadas em estudo, uma vez que as questões apresentam na sua grande maioria valores su-
periores a 3 pontos (média teórica) na escala de Likert, registando-se, inclusive, questões que
apresentam uma média empírica superior à média global de 3,18 (desvio padrão de 0,563) e
outras que, ainda que apresentando uma média empírica inferior à média global (3,18), é su-
perior a 3 pontos na escala de Likert, revelando igualmente uma opinião de “concordo” por
parte dos inquiridos.
Identificámos, também, embora com menor significado, questões com médias empíricas
inferiores a 3, ou seja, abaixo da média global, traduzindo a opinião de “não discordo/nem
concordo” e dando a ideia que estes profissionais aguardam para ver o que vai acontecer com
a transposição da Nova Diretiva, não arriscando uma opinião formada.
À semelhança dos resultados obtidos para o primeiro objetivo do estudo, também aqui o
desvio padrão, para cada variável analisada, apresenta valores baixos, o que revela uma con-
cordância/discordância nas respostas obtidas em torno da média empírica. Neste sentido, e
com base na informação descrita anteriormente, para dar resposta ao objetivo “previsíveis im-
pactos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva”, os resultados
traduzem uma média global de 3,18 (desvio padrão de 0,563), o que nos permite concluir pela
existência de um comportamento de concordância relativamente aos previsíveis impactos na
envolvente decorrente da transposição da Nova Diretiva (tabela 2).
Consideramos, assim, ter sido dada resposta ao segundo objetivo do estudo, “identifica-
ção dos previsíveis impactos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova
Diretiva” e, consequentemente, a H2. Permitimo-nos afirmar que os resultados obtidos (para
H2) corroboram a teoria, porque em linha com Correia (2014a), que defende que esta não
é certamente uma Diretiva que encaminhe para a harmonização na Europa porque os EM
podem optar por coisas totalmente diferentes, ou com Silva (2014), para quem a Diretiva se
apresenta pouco atenta aos conceitos das normas do IASB ao dar grande espaço de manobra
aos EM. Os resultados sugerem, também, alguma preocupação com a pouca exigência que os
18
EM possam vir a impor às pequenas empresas em termos de informação contabilística e de
relato financeiro, como defendem Basto (2014) e Silva (2014). Recorde-se que a CNC não vê
com bons olhos a “máxima harmonização”, seja porque os EM têm realidades económicas
muito diferentes seja porque o elevado número de opções que oferece reduz a comparabi-
lidade (Silva, 2014). A simplificação que se pretende ver atingida com esta Diretiva não só
representa um evidente afastamento e/ou confronto com as IAS/IFRS como põe em causa a
comparabilidade (Basto, 2014), seja porque determina o uso de princípios (artigo 6.º) que não
estão em total sintonia com o SNC seja por admitir a opção dos EM poderem dispensar as em-
presas da aplicação do princípio da substância sobre a forma (Correia, 2013). Mais “reduzir os
encargos das empresas em detrimento da informação não traz benefícios para a credibilidade
das empresas, para os investidores e para a estabilidade que os seus trabalhadores necessitam”
(Azevedo, 2014b), para além de que “a transposição da Diretiva poderá implicar acréscimo de
encargos administrativos e não a sua redução” e a “perda de qualidade da informação finan-
ceira em diversos setores de atividade” (Silva, 2014; CNC, 2012).

Tabela 2: Hipótese de Investigação 2 versus Resultados da investigação.

Hipótese de Investigação Sistematização dos resultados


H2: Identificação dos (i) A Nova Diretiva descuida conceitos oriundos das normas
previsíveis impactos na IAS/IFRS, abrindo um enorme espaço de manobra ao exercício
envolvente decorrente de opções por parte dos EM; (ii) Considera preocupante a pouca
da transposição da exigência que a Nova Diretiva impõe aos EM no que respeita
Nova Diretiva. à preparação e divulgação de informação financeira por parte
das pequenas empresas; (iii) A simplificação que se pretende in-
troduzir com a Nova Diretiva no que respeita à preparação e
divulgação de informação de caráter obrigatório, nomeadamen-
te para as pequenas empresas, implicará uma redução no padrão
de qualidade da informação financeira a produzir por estas em-
presas; (iv) As múltiplas opções, situações de exceção e isenções
facultadas aos EM pela Nova Diretiva irão originar uma dimi-
nuição ao nível da integridade e comparabilidade da informação
financeira; (v) Com a Nova Diretiva o relato financeiro tornar-
-se-á menos comparável, claro e transparente e traduzir-se-á,
efetivamente, em maiores dificuldades para os utilizadores
(stakeholders) no processo de tomada de decisão; (vi) A Nova
Diretiva permite o afastamento de princípios contabilísticos que
há muito tempo estão interiorizados em Portugal; (vii) A Nova
Diretiva privilegia a redução dos encargos das empresas em de-
trimento da qualidade da informação; (viii) Considera que a
Nova Diretiva contribui para uma diminuição das condições
de negociação das pequenas empresas junto dos seus principais
financiadores, as instituições bancárias (nacionais e/ou estran-
geiras); (ix) A transposição da Nova Diretiva traduz-se em bene-
fícios para as pequenas empresas.
Fonte: Elaboração própria.

Com o propósito de verificar se existem diferenças por variável de caraterização sociode-


mográfica e profissional (sexo, idade, habilitações literárias, área de formação e dimensão da
entidade na qual exerce funções de TOC) relativamente às implicações na profissão de TOC
com a transposição da Nova Diretiva e aos previsíveis impactos na envolvente (empresa) de-
19
correntes da transposição da Nova Diretiva, foi feita uma análise inferencial e aplicados alguns
testes paramétricos e não paramétricos, de forma a dar resposta a H3. Os resultados obtidos
em função do valor de prova (tabela 3) constam da tabela 4.

Tabela 3: Valor de prova para as variáveis sociodemográficas/profissionais versus implicações


na profissão de TOC com a transposição da Nova Diretiva.

Variáveis Testes Valor de Prova Significância

Sexo t-Student 0,698 ns


Idade Kruskal-Wallis 0,123 ns
Habilitações Literárias Kruskal-Wallis 0,284 ns
Área de Formação Kruskal-Wallis 0,049 *
Dimensão da Entidade na qual
exerce funções de TOC Kruskal-Wallis 0,507 ns
Nota: ns, não significante; *, significante a 5%.
Fonte: Elaboração própria.

Tabela 4: Hipótese de Investigação 3 versus Resultados da investigação.

Hipótese de Investigação Sistematização dos resultados


H3: Existem diferenças por Existe evidência estatística suficiente e significativa para afir-
variável de caraterização mar que pelo menos uma das distribuições para o grupo
sociodemográfica e profissional “área de formação” é diferente dos demais, porque o valor
relativamente às implicações na de prova obtido é inferior ao nível de significância assumido
profissão de TOC com a (5%), relativamente às implicações na profissão de TOC com
transposição da Nova Diretiva. a transposição da Nova Diretiva. Para as restantes variáveis
de caraterização sociodemográfica e profissional (sexo, ida-
de, habilitações literárias e dimensão da entidade na qual
exerce funções de TOC) não existe evidência estatística su-
ficiente para afirmar que possam existir diferenças estatísti-
cas em relação às implicações na profissão de TOC com a
transposição da Nova Diretiva, na perceção dos TOC. A hi-
pótese de investigação três não foi corroborada.
Fonte: Elaboração própria.

Pode concluir-se que existe evidência estatística suficiente e significativa para afirmar que
pelo menos uma das distribuições para o grupo “área de formação” é diferente dos demais
porque o valor de prova obtido é inferior ao nível de significância assumido, ou seja, existe um
grupo, “área de formação em contabilidade”, que tem uma perceção diferente, quando com-
parado com os restantes grupos desta variável, quanto às implicações na profissão de TOC
com a transposição da Nova Diretiva. Para as restantes variáveis de caraterização sociodemo-
gráfica e profissional não existe evidência estatística suficiente para afirmar que possam existir
diferenças estatísticas em relação às implicações na profissão de TOC com a transposição da
Nova Diretiva, na perceção dos TOC. Neste sentido, H3 não foi corroborada.
Com o objetivo de se obter resposta para H4, ou seja, averiguar se existem diferenças por
variável de caraterização sociodemográfica e profissional relativamente aos previsíveis impac-
tos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva, foi também anali-
sado o valor de prova (tabela 5) e os resultados constam da tabela 6.
20
Tabela 5: Valor de Prova entre as variáveis sociodemográficas/profissionais versus Previsíveis
Impactos na Envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva.

Variáveis Testes Valor de Prova Significância


Sexo t-Student 0,515 ns
Idade Kruskal-Wallis 0,024 *
Habilitações Literárias Kruskal-Wallis 0,061 ns
Área de Formação Kruskal-Wallis 0,232 ns
Dimensão da Entidade na qual exerce funções de TOC Kruskal-Wallis 0,992
ns
Nota: ns, não significante; *, significante a 5%.
Fonte: Elaboração própria.

Tabela 6: Hipótese de Investigação 4 versus Resultados da investigação.

Hipótese de Investigação Sistematização dos resultados


H4: Existem diferenças por Existe evidência estatística suficiente para afirmar que pelo me-
variável de caraterização nos uma das distribuições do grupo “idade” é diferente dos de-
sociodemográfica e mais, uma vez que registou um valor de prova inferior ao nível
profissional relativamente de significância assumido (5%), relativamente à variável previ-
aos previsíveis impactos síveis impactos na envolvente (empresa) decorrentes da trans-
na envolvente decorrente posição da Nova Diretiva. Para as variáveis de caraterização so-
da transposição ciodemográfica e profissional (sexo, habilitações literárias, área
da Nova Diretiva. de formação e dimensão da entidade na qual exerce funções de
TOC) não existem diferenças estatisticamente significativas nas
respostas em relação aos previsíveis impactos na envolvente
(empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva, na per-
ceção dos TOC. A hipótese de investigação quatro não foi cor-
roborada.
Fonte: Elaboração própria.

Foi possível concluir que existe evidência estatística suficiente para afirmar que pelo me-
nos uma das distribuições do grupo “idade” é diferente dos demais, uma vez que registou um
valor de prova inferior ao nível de significância assumido relativamente à variável “previsíveis
impactos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva”. Para as
variáveis de caraterização sociodemográfica e profissional (sexo, habilitações literárias, área de
formação e dimensão da entidade na qual exerce funções de TOC) não existem diferenças es-
tatisticamente significativas nas respostas em relação aos “previsíveis impactos na envolvente
(empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva”, na perceção dos TOC. Assim, H4
não foi corroborada.
No sentido de validar H5 aplicou-se o coeficiente de correlação de Pearson, uma vez que
não foi violado o pressuposto da normalidade, obtendo se um coeficiente de correlação de
0,509 e um valor de prova inferior a 0,001 (tabela 7).
21
Tabela 7: Hipótese de Investigação 5 versus Resultados da investigação.

Hipótese de Investigação Sistematização dos resultados


H5: Existe uma relação direta No sentido de validar esta hipótese de investigação aplicou-se
e positiva entre a variável o coeficiente de correlação de Pearson, para o que se obteve
implicações na profissão um coeficiente de correlação de 0,509 e um valor de prova in-
de TOC com a transposição ferior a 0,001. Assim, pode dizer-se que existem evidências
da Nova Diretiva e, a variável estatísticas suficientes para afirmar que existe uma correlação
previsíveis impactos positiva e direta entre as duas variáveis em análise, assumindo
na envolvente decorrente um nível de significância de 5%.
da transposição
da Nova Diretiva.
Fonte: Elaboração própria.

Registaram-se evidências estatísticas suficientes para afirmar que existe uma correlação posi-
tiva e direta entre as duas variáveis em análise. Isto é, à medida que aumentam as implicações na
profissão de TOC com a transposição da Nova Diretiva também aumentam os previsíveis im-
pactos na envolvente decorrente da sua transposição e vice-versa. Desta forma valida-se H5, em
linha com a teoria, nomeadamente com Monteiro (2014), que refere que a transposição da Nova
Diretiva implica uma alteração no atual normativo contabilístico e nas obrigações contabilísticas
e de relato financeiro, que se traduzem em limitações drásticas na informação exigível às peque-
nas empresas. Por sua vez, Diomeda (2013) defende que a Comissão Europeia opta por seguir
um rumo de clara simplificação, votando a questão da contabilidade das PME na Europa para
os padrões “mínimos” das normas nacionais, com claro prejuízo para a qualidade da informação
contabilística e para as empresas e a sociedade. Silva (2014) também defende que a Nova Diretiva
vê a contabilidade como um “fardo administrativo” porque ignora os benefícios e valor acres-
centado que pode aportar para a gestão e a dimensão de interesse público que lhe está associada.

4. CONCLUSÕES E FUTURAS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO

Identificar as principais implicações na profissão de TOC com a transposição da Dire-


tiva 2013/34/U.E. e os previsíveis impactos na envolvente decorrente da sua transposição
constitui o objetivo central desta investigação e cuja realização permitiu extrair as seguintes
conclusões:

1. Que as principais implicações na profissão de TOC se traduzem numa maior res-


ponsabilidade para o TOC, ao continuar a exigir-se o máximo desta profissão, mas
que estes profissionais se consideram efetivamente preparados para o efeito;
2. Quanto aos previsíveis impactos na envolvente (empresa), os resultados permiti-
ram alcançar que:
i. Os conceitos oriundos das normas internacionais (IAS/IFRS) são agora des-
cuidados, abrindo um enorme espaço de manobra ao exercício de opções por
parte dos EM;
ii. Se permite que os EM venham a impor pouca exigência na preparação e divul-
gação de informação financeira por parte das pequenas empresas;
iii. Vem introduzir uma maior simplificação na preparação e divulgação de infor-
mação de caráter obrigatório, nomeadamente para as pequenas empresas, o
que implicará uma redução no padrão de qualidade da informação financeira a
produzir por estas empresas;
22
iv. Oferece múltiplas opções, situações de exceção e isenções aos EM, o que origi-
nará uma diminuição no nível da integridade e comparabilidade da informação
financeira que, por sua vez, se irá traduzir em maiores dificuldades para os
utilizadores (stakeholders) dessa mesma informação;
v. Permite um maior afastamento de princípios contabilísticos que há muito tem-
po estavam interiorizados no referencial contabilístico português;
vi. Privilegia a redução dos encargos das empresas em detrimento da qualidade da
informação;
vii. As condições de negociação das pequenas empresas, nomeadamente junto dos
seus principais financiadores, poderão ver-se claramente diminuídas; e
viii. Os benefícios, fundamentalmente em termos de redução de custos, para as
pequenas empresas tendem a ser maiores.
3. Na continuação, e da avaliação à existência de diferenças por variável de carateriza-
ção sociodemográfica e profissional relativamente às implicações da transposição
da Nova Diretiva na profissão de TOC, os resultados permitiram confirmar que
existem evidências estatísticas suficientes e significativas para afirmar que a dis-
tribuição para o grupo “área de formação” é diferente dos demais, ou seja, que o
grupo “área de formação em contabilidade” tem uma perceção diferente, quando
comparado com os demais, relativamente às implicações na profissão de TOC com
a transposição da Nova Diretiva;
4. Por sua vez, da análise à existência de diferenças por variável de caraterização so-
ciodemográfica e profissional relativamente aos previsíveis impactos na envolvente
(empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva, foi igualmente possível
concluir pela existência de evidências estatísticas suficientes para afirmar que os re-
sultados para a distribuição por grupo “idade” se apresentam diferentes dos demais,
uma vez que registou um valor de prova inferior a 5% para a variável previsíveis im-
pactos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova Diretiva. Ou
seja, estes profissionais (TOC) apresentam uma perceção diferente em relação aos
previsíveis impactos na envolvente (empresa) decorrentes da transposição da Nova
Diretiva em função da “idade”. Não foi porém possível confirmar estes resultados
para as demais variáveis de caraterização sociodemográfica e profissional;
5. Finalmente, e no que respeita ao teste efetuado à existência de relação direta e posi-
tiva entre a variável implicações na profissão de TOC com a transposição da Nova
Diretiva e a variável previsíveis impactos na envolvente (empresa) decorrentes da
transposição da Nova Diretiva, através da aplicação do coeficiente de correlação de
Pearson, para o que se obteve um coeficiente de correlação de 0,509 e um valor de
prova inferior a 0,001, foi possível concluir que há evidência estatística suficiente
para afirmar que existe uma correlação positiva e direta entre as duas variáveis em
análise. Isto é, à medida que aumentam as implicações na profissão de TOC com
a transposição da Nova Diretiva aumentam também os previsíveis impactos na
envolvente decorrentes da transposição da Nova Diretiva e vice-versa.

Em concordância, estes resultados levam a acreditar que esta Nova Diretiva, se for transposta
tal como se apresenta, terá repercussões nas micro, pequenas e médias empresas em Portugal,
nomeadamente no que respeita às obrigações de relato e, por essa via, no plano social. Se é
verdade que a proposta de simplificação das obrigações em termos de informação financeira a
preparar e divulgar por este tipo de empresas merece uma nota positiva, e tanto mais que esta-
mos numa economia global e altamente competitiva onde as pequenas empresas lutam de forma
desigual para sobreviverem, também não é menos verdade que no plano técnico a reforma que
a mesma protagoniza representa um retrocesso quando comparada com o SNC recentemente
aprovado. Se a redução dos custos de contexto representa um argumento de peso no atual con-
23
texto económico, a necessidade de continuar a ver assegurados padrões de qualidade que não
comprometam a estabilidade e abalem a confiança é um argumento igualmente válido.
Assim, e ainda que se reconheça que as empresas de pequena dimensão têm maiores difi-
culdades em competir numa economia global, seja pelas carências ao nível dos recursos dispo-
níveis seja pelos encargos administrativos que são chamadas a suportar, convém não esquecer
que num país como Portugal, onde estas empresas são quase todas as empresas, no momento
de decidir deve considerar-se que o entendimento de “pequena empresa” para nós (Portugal)
não deverá ser o mesmo de “pequena empresa” no seio da U.E.. Recomenda-se, por isso, mui-
to “bom senso” na escolha daquela que virá a ser a posição assumida pelo Governo português,
a quem cabe a decisão final. A falta de consenso no seio da U.E. fez com que o texto final da
Nova Diretiva se apresente com elevado grau de flexibilidade, deixando para os Governos de
cada país a decisão final sobre a posição a adotar.
Não se pode, contudo, concluir sem antes referir que estes resultados devem ser analisados
no quadro das limitações encontradas e que marcaram o desenvolvimento deste estudo, no-
meadamente as limitações de tempo, que condicionaram a escolha da metodologia e o método
de recolha de dados. Por outro lado, e também pelas mesmas limitações (o tempo), a amostra é
não representativa da população e não aleatória, pelo que os resultados obtidos não nos permi-
tem fazer generalizações. Acrescente, ainda, o facto da investigação desenvolvida se constituir
uma análise exploratória, quer por se desconhecerem estudos anteriores quer pelas caraterísti-
cas que apresenta, o que nos leva a acreditar estarmos em presença de um estudo piloto.
Porém, e não obstante, acredita-se que os resultados obtidos poderão ajudar a conhecer
e compreender determinadas caraterísticas gerais e a identificar aspetos críticos deste tipo de
profissionais (TOC), pelo que sugerimos que sejam tidos em consideração na construção de
instrumentos de recolha de dados em futuras investigações, preferencialmente aplicados a todos
os TOC inscritos na OTOC de forma a ser possível generalizar conclusões. Acredita-se que seria
igualmente interessante desenvolver um estudo comparativo com outro(s) país(es) da U.E..

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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25
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170, maio, p. 20.

1
Enquadram-se nesta categoria empresas que empregam menos de 250 pessoas, apresentam um volume de negócios
anual que não exceda os 50 milhões de euros e cujo balanço total anual não exceda 43 milhões de euros (Recomenda-
ção da Comissão (2003/361/CE), de 06 de maio de 2003). Esta definição engloba as micro, pequenas e as empresas
de média dimensão. As pequenas empresas distinguem-se das médias por terem menos de 50 trabalhadores e um
volume de negócios anual (ou ativo total líquido) que não exceda os 10 milhões de euros. As micro empresas distin-
guem-se das pequenas por terem menos de 10 trabalhadores e um volume de negócios anual (ou ativo total líquido)
que não exceda os 2 milhões de euros (INE, 2010). Todavia, são apontados aspetos de caráter quantitativo (número
de empregados, volume de negócios, total de balanço, etc.) como os mais utilizados para identificar, caraterizar e
distinguir uma PME de uma empresa de maior dimensão. Porém, se for considerado isoladamente, o tamanho,
apesar de objetivar a definição de PME, não é uma variável suficiente para definir e caraterizar uma empresa. Ou
seja, encontrar uma caraterística central que defina e distinga uma pequena empresa de uma grande empresa não é
consensual, daí surgir a necessidade de se identificarem tipologias que abranjam as principais diferenças associadas
às PME. Os aspetos de caráter qualitativo complementam os aspetos de natureza quantitativa e permitem uma me-
lhor tipificação das PME, nomeadamente no que concerne à estrutura proprietária e de gestão, à estrutura de capital
e tipo de financiamento, à gestão do resultado e às assimetrias na informação financeira (Rosa, 2013).
26
27

FALHAS DE MERCADO NA ATIVIDADE TURÍSTICA:


UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA ATUAÇÃO DOS
MUNICÍPIOS PORTUGUESES

TOURISM MARKET FAILURES: AN EXPLORATORY ANALYSIS


OF PORTUGUESE MUNICIPALITIES INTERVENTIONS

Cláudia S. Costa1

Abstract

This paper presents an exploratory analysis of Portuguese municipalities interven-


tions to solve tourism market failures (public goods, externalities, natural monopolies
and asymmetric information). With this purpose, and considering the use of interviews
as data collection technique, a case study with five municipalities are carefully examined.
The results suggest that Portuguese municipalities used the most policy tools identified
in state of the art to mitigate the tourism market failures. Additionally, the results also
suggest that Portuguese municipalities increases policy tools to typology specifically ai-
med at tourism policy.

KEYWORDS: market failures, tourism market failures, public policy tools, tourism policy

1. INTRODUÇÃO

A evolução da Administração Pública, em geral, e das Políticas Públicas, em particular, tem


demonstrado profundas alterações na forma como os diferentes governos atuam na resolução
dos problemas públicos. Atualmente, a comunidade científica reconhece que os governos têm
à sua disposição um vasto conjunto de instrumentos de políticas públicas e que a atividade go-
vernamental inclui muito mais do que a tradicional provisão direta de bens e serviços públicos.
Neste contexto, o desenvolvimento da abordagem instrumental2 tem permitido a conceção de
várias tipologias de instrumentos de políticas públicas, de entre as quais, a tipologia definida
por Weimer e Vining (2010) é tida como uma das mais importantes na resolução dos pro-
blemas públicos, em especial os problemas que decorrem das falhas de mercado. Mediante a
crescente importância desta abordagem, não é de estranhar que o seu estudo tenha sido gene-
ralizado a várias áreas de interesse público, incluindo a área do turismo. De facto, e face à no-
tável relevância da atividade turística que claramente é indissociável do contexto de mercado, é
possível encontrar na literatura argumentos teóricos que consideram a atividade turística como
uma atividade particularmente sujeita às falhas de mercado, salientando, ao mesmo tempo, a

1
[email protected], Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo, Instituto Politécnico de Bragança;
Centro de Investigação em Ciência Política, Universidade do Minho.
2
A abordagem instrumental representa uma nova linha de investigação que tem como objetivo avaliar a transforma-
ção das intenções políticas em ações administrativas (Bruijn e Hufen, 1998), considerando assim que os governos
usam determinados instrumentos para influenciar a economia e a sociedade e que a escolha dos instrumentos tem
diferentes impactos no sucesso daquelas intenções (Blair, 2002; Peters, 2000; Peters e Van Nispen; 1998).
28
necessária intervenção governamental, de modo a proporcionar uma alocação mais eficiente
dos bens e serviços públicos turísticos.
Perante esta breve contextualização, o presente trabalho tem como principal objetivo ana-
lisar, de modo exploratório, a intervenção dos municípios portugueses na mitigação das fa-
lhas de mercado resultantes da atividade turística. Nesse sentido, serão avaliadas, de forma
mais aprofundada, as políticas na área do turismo de cinco municípios. Esta primeira análise,
sustentada num estudo de caso com cinco municípios, visa aferir a perceção dos municípios
portugueses relativamente à problemática das falhas de mercado existentes na atividade turís-
tica e analisar as respetivas formas de intervenção neste domínio. Assim sendo, e de modo a
compreender mais facilmente o trabalho desenvolvido pelos municípios, apresentamos, em
primeiro lugar e de modo sucinto, os principais argumentos teóricos relativos às falhas de
mercado no âmbito da atividade turística e os instrumentos de políticas públicas. Em seguida,
efetuamos uma breve contextualização do papel dos municípios na área do turismo e, poste-
riormente, a análise e discussão do estudo de caso.

2. ATIVIDADE TURÍSTICA: FALHAS DE MERCADO E JUSTIFICAÇÃO DE


POLÍTICAS PÚBLICAS

Sob o ponto de vista económico, o mercado turístico é tratado como um mercado imperfei-
to, com uma forte presença de bens públicos, externalidades, monopólios naturais e assimetria
de informação (Michael, 2001). No caso dos bens públicos puros, bens caracterizados pela não
rivalidade no consumo e não exclusividade no acesso, é possível referenciar um vasto conjunto
de autores que advogam a existência, no contexto da atividade turística, de bens ou serviços que
possuem as características acima indicadas, particularmente: a promoção turística, a provisão
de infraestruturas turísticas e a coordenação/planeamento3 da atividade turística (Blake e Sin-
clair, 2007; Rigall-I-Torrent, 2008). A promoção turística nacional e/ou dos destinos constitui o
exemplo mais notável de bem público, sendo ao mesmo tempo não-rival e não-exclusivo (Mak
e Miklius, 1989; Dwyer and Forsyth, 1993; Bonham e Mak, 1996; Mak, 2006; Blake e Sinclair,
2007; Cooper e Hall, 2008; Hall, 2008; Hall, Müller e Saarinen, 2009). Tal significa que os recur-
sos financeiros que as empresas privadas usam na promoção de um destino beneficiam todas
as empresas desse destino, independentemente de estas colaborarem ou não nessa promoção
(não rivalidade). Deste modo, as empresas tendem a minimizar ou a não despender qualquer
investimento financeiro em promoção na expectativa do investimento de outras empresas e, con-
sequentemente, as empresas promotoras não têm capacidade para impedir que essas empresas
beneficiem da promoção turística – não exclusividade (Cooper e Hall, 2008). Mesmo que algu-
mas empresas participem financeiramente na promoção, existem outras empresas que tenderão
a adotar comportamentos do tipo free rider (Mak e Miklius, 1989; Dwyer e Forsyth, 1992 e 1993;
Pearce, 1992; Lundtorp, 2003; Mak, 2004 e 2006; Hall, 2005; Blake e Sinclair, 2007; Cooper e
Hall, 2008; Hall, 2008; Shi, 2012). Este tipo de comportamento resulta, assim, numa incorreta
afetação dos recursos económicos, dado o subfinanciamento da promoção turística (Mak, 2006),
sendo consensual o argumento de que a promoção turística requer alguma forma de intervenção
pública, uma vez que é extremamente difícil determinar com rigor quem é que beneficia com
a promoção turística (Bonham e Mak, 1996; Cunha e Abrantes, 2013). Nesse sentido, a litera-
tura tem sugerido diversos instrumentos de atuação: provisão direta; participação dos agentes
turísticos privados num fundo de financiamento da promoção turística; criação de sistemas de
financiamento cooperativo/princípio do utilizador-pagador; tributação da obtenção de divisas
estrangeiras; tributação de investimentos turísticos; e estabelecimento de taxas turísticas (taxa
de pernoita), entre outros (Bonham e Mak, 1996; Mak, 2006; Blake e Sinclair, 2007; Shi, 2012).
3
Embora a coordenação e o planeamento da atividade turística constituam conceitos distintos, dada a sua comple-
mentaridade, optamos por tratar estas falhas de mercado de forma conjunta.
29
De igual modo, a provisão de infraestruturas turísticas4 constitui um outro exemplo, per-
feitamente documentado, de bem público (Perry, 2003; Wanhill, 2005; Sakai, 2006; Blake e
Sinclair, 2007). De facto, é mais do que evidente que estas representam uma parte importante
e integrante do produto turístico e, por isso, é necessário assegurar a respetiva provisão, de
modo a aumentar a competitividade dos destinos turísticos (Candela, Figini e Scorcu, 2008).
No entanto, e apesar de o setor privado assegurar a provisão de algumas infraestruturas, este
não dispõe de incentivos para prover infraestruturas com características de bem público, par-
ticularmente aquelas em que não é exequível ou rentável, em termos económicos, excluir
indivíduos do seu consumo (Blake e Sinclair, 2007). Assim sendo, o nível eficiente de provisão
de infraestruturas turísticas depende da intervenção governamental, dispondo os governos
de diversos instrumentos elencados na literatura, a saber: provisão direta, cofinanciamento
de capitais públicos e privados, financiamento por parte das empresas privadas, atribuição de
incentivos financeiros e isenções fiscais e ainda a tributação das infraestruturas turísticas (Ja-
mieson, 2001; Jeffries, 2001; Sakai, 2006; Blake e Sinclair, 2007; Hall, Müller e Saarinen; 2009;
Benner, 2013).
À semelhança da promoção turística e da provisão de infraestruturas turísticas, a coorde-
nação/planeamento da atividade turística também evidencia características de bem público
(Blake e Sinclair, 2007). Sendo o turismo uma atividade extremamente complexa com uma
estrutura altamente fragmentada que congrega um vasto conjunto de atividades e produtos
de diversa natureza e envolve uma multiplicidade de agentes públicos, privados, entre outros
(Jeffries, 2001; Blake e Sinclair, 2007; Candela e Figini, 2012; Cunha e Abrantes, 2013), é muito
comum encontrar problemas de coordenação no seio da atividade turística ((Jamal e Getz,
1995; Blake e Sinclair, 2007; Cooper e Hall, 2008; Okazaki, 2008; Hall, Müller e Saarinen, 2009;
Candela e Figini, 2012; Cunha e Abrantes, 2013). A falta de coordenação constitui um fenó-
meno tão característico da atividade turística (Jamal e Getz, 1995; Okazaki, 2008), que muitas
das vezes ocorre de forma não planeada e sem qualquer arranjo institucional (Hall, 2008). Se
a coordenação da atividade turística fosse realizada por agentes privados, esta certamente seria
não-exclusiva e existiriam incentivos para a adoção de comportamentos do tipo free rider
(Blake e Sinclair, 2007; Hall, 2008). Nesse sentido, torna-se indispensável o desenvolvimento
de instrumentos que garantam a coordenação entre os vários agentes públicos dos diferentes
níveis de governo, entre os agentes públicos e privados, e entre os agentes privados (Jamal
e Getz, 1995; Fayos-Sola, 1996; Candela e Figini, 2012; Benner, 2013; Cunha e Abrantes,
2013). Nesse sentido, a comunidade científica é unânime em reconhecer a importante ação de
coordenação assumida pelos governos nacionais, regionais e locais e por outras estruturas de
coordenação, nomeadamente a existência de estruturas de coordenação criadas pelos próprios
governos e que funcionam numa lógica mais próxima do mercado ou de estruturas de coorde-
nação independentes do poder público (Jamal e Getz, 1995; Fayos-Sola, 1996; Faulkner, 2005;
Blake e Sinclair, 2007; Candela, Figini e Scorcu, 2008; Candela e Figini, 2012; Benner, 2013;
Cunha e Abrantes, 2013).
Subjacente a esta ação de coordenação, alguns autores sublinham a importância que um
processo de planeamento também assume no contexto desta atividade (Costa, 2001; Simpson,
2001; Ruhanen, 2004; Cooper e Hall, 2008; Hall, 2008; Dredge e Jenkins 2011). Ao consti-
tuir um processo de preparação de um conjunto de decisões para a ação futura, direcionadas
para alcançar metas estrategicamente identificadas, estabelecendo profundas inter-relações

4
No âmbito desta matéria, a literatura costuma distinguir entre infraestruturas turísticas e superestruturas turísticas
(Porter, 1990; Ritchie e Crouch, 2003). Assim, as infraestruturas turísticas correspondem às construções subterrâ-
neas e de superfície, tais como os sistemas de abastecimento de águas, sistemas de esgotos, gás e eletricidade, siste-
mas de drenagem, estradas, aeroportos, parques de estacionamento, marinas, facilidades de transporte, entre outras
(Jeffries, 2001; Dwyer e Kim, 2003; Levine, 2003; Ritchie e Crouch, 2003; Sakai, 2006; Dwyer, Forsyth e Dwyer,
2010; Candela e Figini, 2012; Cunha e Abrantes, 2013); e as superestruturas turísticas são compostas pelos equipa-
mentos que respondem diretamente às necessidades da procura turística, entre eles o alojamento e os restaurantes,
pelos equipamentos de diversão e pelos serviços de receção turística (Ritchie e Crouch, 2003).
30
e interdependências com diversos setores de atividade, o planeamento de um dado destino
não consegue ser assegurado por empresas privadas (Mason, 2003; Blake e Sinclair, 2007;
Cooper e Hall, 2008; Hall, Müller e Saarinen, 2009; Cunha e Abrantes, 2013). Estas, embora
desenvolvam exercícios de planeamento na área do turismo, têm objetivos orientados para o
lucro ou para o retorno dos investimentos realizados, o que não corresponde aos objetivos
do planeamento por iniciativa pública que preveem um retorno económico ou outro tipo de
retorno, mas sempre sob uma perspetiva de bem público (Hall, Müller e Saarinen, 2009). De
facto, o planeamento do turismo também é passível de ser tratado como um bem público
puro e, como tal, requer a intervenção dos governos para mitigar esta falha de mercado (Choy,
1991; Simpson, 2001; Blake e Sinclair, 2007; Hall, 2008; Hall, Müller e Saarinen, 2009). Com
efeito, muitos governos têm desenvolvido um papel ativo no planeamento da atividade turís-
tica, adotando planos a nível nacional, regional e/ou local dedicados em exclusivo ao turismo,
sem deixarem, obviamente, de enquadrar as restantes atividades e setores de que depende
(Bramwell e Sharman, 1999; Simpson, 2001; Hall, 2005; Blake e Sinclair, 2007; Cooper e Hall,
2008; Cunha e Abrantes; 2013).
Para além da existência de bens públicos turísticos, vários estudos têm reconhecido que
a importância e amplitude da atividade turística arrasta consigo uma série de impactos, que
a literatura vulgarmente designa por externalidades ou efeitos externos (Mathieson e Wall,
1982; Ap e Crompton, 1998; Mason, 2003; Palmer e Riera, 2003; Veal, 2003; Schubert, 2010;
Concu e Atzeni, 2012; Candela e Figini, 2012). Estas externalidades resultam da influência de
uma atividade, positiva ou negativa, sobre terceiros, sem que haja uma contrapartida direta
(Mathieson e Wall, 1982; Ap e Crompton, 1998; Schubert, 2010; Tribe, 2011). Deste modo,
os efeitos do desenvolvimento da atividade turística podem ser positivos ou negativos e, nor-
malmente, são categorizados em efeitos económicos, socioculturais e ambientais (Mathieson
e Wall, 1982; Lindberg e Johnson, 1997; Ap e Crompton, 1998; Lindberg, Dellaert e Rassing,
1999; Biagi e Detotto, 2012; Sharpley, 2014). Ao não serem refletidos nos preços de mercado,
criando diferenças entre o ótimo privado e o ótimo social, os efeitos externos provocados
pela atividade turística pressupõem alguma forma de intervenção governamental de modo a
internalizar aqueles efeitos (Blake e Sinclair, 2007; Figini, Castellani e Vici, 2007; Candela, Cas-
tellani e Dieci, 2008; Schubert, 2010; Rinaldi, 2012; Candela e Figini, 2012). Nesse sentido, a
literatura sugere genericamente dois grandes grupos de soluções. Por um lado, um grupo com
caráter mais centralizado em que os governos podem exercer um controlo direto, recorrendo,
por exemplo, à regulação da atividade turística, ou um controlo indireto, através da definição
de taxas e subsídios (Candela e Figini, 2012). Apesar de algumas divergências, diversos autores
têm defendido o uso de taxas pigouvianas como a solução mais eficiente na resolução dos
problemas causados pelas externalidades (Palmer e Riera, 2003; Piga, 2003; Blake e Sinclair,
2007; Candela, Castellani e Dieci, 2008; Liang e Wang, 2010; Schubert, 2010; Pazienza, 2011;
Rinaldi, 2012). Além de internalizar os efeitos externos, o uso destas taxas permite a obtenção
de receitas que os governos poderão utilizar no desenvolvimento da atividade turística e na
provisão de infraestruturas e serviços aos residentes locais (Rinaldi, 2012). Por outro lado,
também é possível identificar um grupo de soluções com um caráter mais descentralizado e
privado, evidenciando a adoção de mecanismos puros de mercado, fundamentados no teore-
ma de Coase (Candela, Castellani e Dieci, 2008; Hojman e Hiscock, 2010; Candela e Figini,
2012; Zeng e Jin, 2013). Nesse sentido, a resolução do problema das externalidades não exige a
intervenção dos governos. Estes devem limitar-se a definir os direitos de propriedade para que
os agentes económicos através da livre transação desses direitos entre eles, atinjam a eficiência
económica (Candela, Castellani e Dieci, 2008; Santos, 2012).
Considerando o conceito e os exemplos mais comuns que retratam as situações de mono-
pólio natural, não seria de esperar que tais situações se verificassem no contexto da atividade
turística. No entanto, vários autores contrariam esta ideia e reconhecem que a ocorrência
de monopólios naturais é frequente no desenvolvimento da atividade turística (Veal, 2003 e
31
2006; Gooroochurn e Sinclair, 2005; Sakai, 2006; Blake e Sinclair, 2007; Liang e Wang, 2010;
Krozer, 2011; Tribe, 2011). O principal argumento incide sobre as características das atrações
turísticas, em particular a escassez, unicidade, imobilidade e diferenças regionais que podem
resultar numa situação de monopólio natural (Veal, 2003 e 2006; Liang e Wang, 2010). Por
outras palavras, a natureza diferenciadora dos produtos turísticos, em termos de tipologia e
qualidade das atrações turísticas, permite a existência de algum poder de monopólio (Forsyth
e Dwyer, 2002; Gooroochurn e Sinclair, 2005). Conforme refere Veal (2003 e 2006) só existe
um Templo Pártenon, umas Cataratas do Niágara, uma Torre de Londres, um Grand Canyon
ou uma Torre Eiffel, ao que o autor designa por monopólios sociais. De acordo com a teoria
económica, e uma vez que não é possível impor concorrência5, os monopólios tendem a pro-
porcionar lucros excessivos, pelo que estas situações só são minimizadas se a atração turística
for propriedade do Estado, se este regular o preço praticado pelos agentes privados ou ainda
se este retiver parte dos lucros aos agentes privados, a favor da comunidade local (Veal, 2006).
A intervenção governamental é necessária para evitar que os agentes privados tendam a apro-
veitar-se dos benefícios que tal situação proporciona e explorem a vantagem monopolista, es-
pecialmente através da cobrança de preços excessivos (Veal, 2003 e 2006; Ryan e Hoontrakul,
2004; Rodriguez e Murdy, 2006; Blake e Sinclair, 2007; Liang e Wang, 2010).
Finalmente, a última falha de mercado a ser mencionada é a assimetria de informação, uma
vez que o mercado turístico tem sido amplamente considerado um mercado com informação
assimétrica (Crase e Jackson, 2000; Bull, 2006; Smeral, 2006; Schwartz, 2007; Asero e Patti,
2009; Liang e Wang, 2010; Baggio e Baggio, 2011; Candela e Figini, 2012; Núñez-Serrano, Tur-
rión e Velázquez, 2014). Em termos económicos, tal significa que as partes envolvidas numa
dada transação de mercado não dispõem do mesmo conjunto de informações. Normalmente,
os fornecedores de bens e serviços turísticos aproveitam-se da informação completa de que
dispõem, e tendem a fornecer informações incorretas ou a ocultar fatores de desvantagem,
prejudicando os turistas (Bull, 2006; Liang e Wang, 2010). Se considerarmos, por um lado, que
o mercado turístico é fragmentado, uma vez que é composto por vários ramos de negócios e
atividades e que, por outro lado, a deslocação dos turistas é inerente à atividade turística com a
consequente separação entre as empresas no mercado de origem e o destino turístico; será de
esperar que os problemas de assimetria de informação se façam sentir com maior intensidade
(Caccomo e Solonandrasana, 2001; Bull, 2006; Cunha, 2006). De acordo com Baggio e Baggio
(2011), como os turistas não podem testar o produto antes de o comprar, não são capazes de
avaliar totalmente a qualidade do mesmo, pelo que a decisão de comprar será tomada com base
em informações incompletas. Assim sendo, parece evidente que o mercado, por si só, não é
eficiente, justificando-se que os governos desenvolvam instrumentos que regulem a divulga-
ção de informação turística (Asero e Patti, 2009; Liang e Wang, 2010; Nicolau e Sellers, 2010;
Chen, Mak e Li, 2013; Núñez-Serrano, Turrión e Velázquez, 2014). Com efeito, os governos
podem definir padrões de qualidade ou outros critérios normativos, sendo o sistema oficial
de classificação dos empreendimentos turísticos o exemplo mais conhecido deste tipo de me-
dida (Clerides, Nearchou e Pashardes, 2008; Liang e Wang, 2010; Núñez-Serrano, Turrión e
Velázquez, 2014). Complementarmente, Nicolau e Sellers (2010) sugerem que a definição de
padrões de qualidade resultantes de um processo de certificação, por entidades não governa-
mentais e especializadas, também constitui uma outra categoria de instrumentos que permite
reduzir a assimetria de informação. Liang e Wang (2010) propõem ainda que os próprios go-
vernos, através das suas estruturas, também podem prover diretamente informação turística,
ao mesmo tempo, que incentivam os agentes turísticos privados a colaborar na divulgação

5
Relembramos que no contexto de monopólio natural a existência de concorrência é socialmente indesejável, dado
que a existência de um grande número de empresas resulta numa multiplicação desnecessária dos investimentos,
tornando-se mais eficiente sob o ponto de vista económico a procura do mercado ser satisfeita por um único pro-
dutor do que por vários produtores concorrentes (Depoorter, 2000; Santos, 2012). No caso da atividade turística as
principais razões resultam dos elevados custos fixos e da impossibilidade em reproduzir algumas atrações turísticas
(Krozer, 2011; Tribe, 2011).
32
dessa informação (Clerides, Nearchou e Pashardes, 2008). Por último, vários autores enfatizam
outras formas de intervenção pública como, por exemplo, o recurso às tecnologias de infor-
mação e comunicação e à internet como ferramentas úteis na divulgação de informação tu-
rística (Sidali, Schulze e Spiller, 2009; Fernández-Barcala, González-Díaz e Prieto-Rodriguez,
2010; Baggio e Baggio, 2011).
A racionalidade para a intervenção governamental na atividade turística é assim justificada
pelas diversas falhas de mercado que caracterizam o mercado turístico. A provisão de bens e
serviços turísticos, por parte do setor privado, não tem uma dimensão ótima, pelo que o envol-
vimento do setor público deverá proporcionar uma provisão mais eficiente de tais bens e ser-
viços (Smeral, 2006; Blake e Sinclair, 2007). Nesse sentido, a tabela 1 sintetiza os instrumentos
de políticas públicas do turismo propostos pela comunidade científica e enquadrados na sua
totalidade com a tipologia de instrumentos de políticas públicas de Weimer e Vining (2010).

Tabela 1 – Instrumentos de Políticas Públicas do Turismo e Falhas de Mercado na Atividade


Turística

Falhas de Mercado Instrumentos de políticas Instrumentos de políticas


públicas do turismo públicas
(Tipologia Weimer e Vining)
Bens públicos turísticos
Promoção turística Provisão direta de promoção Mecanismos hierárquicos
turística de atuação
Taxas cobradas à atividade Subsídios e taxas
turística
Participação dos agentes Mecanismos puros de
turísticos privados no finan- mercado
ciamento da promoção turística
Infraestruturas turísticas Provisão direta de infraestruturas Mecanismos hierárquicos
turísticas de atuação
Incentivos financeiros Subsídios e taxas
Isenções fiscais
Taxas turísticas
Taxas de utilização ou de entrada
Financiamento por parte dos Mecanismos puros
agentes turísticos privados de mercado
Coordenação/planeamento Provisão direta de coordenação/ Mecanismos hierárquicos
da atividade turística /planeamento da atividade de atuação
turística
Estruturas de coordenação da
atividade turística criadas pelos
governos e que funcionam mais
próximas da lógica de mercado
Estruturas de coordenação da Mecanismos puros
atividade turística independentes de mercado
do poder público
Planos que regulam a atividade Regulação
turística
33
Externalidades turísticas
Positivas/negativas Regulação da atividade turística Regulação
Taxas turísticas Subsídios e taxas
Definição dos direitos Mecanismos puros
de propriedade de mercado
Monopólios naturais no contexto da atividade turística
Provisão direta da atração turística Mecanismos hierárquicos
com característica de monopólio de atuação
natural
Regulação de preços Regulação
Tributação dos lucros Subsídios e taxas
dos agentes privados
Assimetria de informação turística
Provisão direta de informação Mecanismos hierárquicos
turística de atuação
Criação de redes de divulgação
de informação turística
Uso das tecnologias de informação
e comunicação
Uso da internet
Regulação da informação turística Regulação
(por parte dos governos)
Regulação da informação turística Mecanismos puros
(por parte dos agentes privados) de mercado

3. O PAPEL DOS MUNICÍPIOS NA ÁREA DO TURISMO

As considerações teóricas previamente apresentadas demonstram que a atuação dos gover-


nos é crucial para a resolução das falhas de mercado existentes na atividade turística. Tal como
defendem Cunha e Abrantes (2013) existem vários domínios de interesse para o turismo que
escapam à ação do mercado ou em relação aos quais a subordinação a este origina situações ne-
fastas para o turismo, justificando, deste modo, a intervenção do setor público, através de instru-
mentos de políticas públicas, de modo a proporcionar uma provisão eficiente de bens e serviços
públicos na área do turismo. Após este testemunho, e dado que os governos locais portugueses
estão, tradicionalmente, envolvidos na prestação direta de bens e serviços públicos (Rodrigues,
Tavares e Araújo, 2012), não é de estranhar que a história do turismo em Portugal evidencie a
relevância que os municípios portugueses assumem nesta área. A atual Lei de Bases das Políticas
Públicas do Turismo (Decreto-Lei n.º 191/2009, de 17 de agosto) comprova essa mesma im-
portância ao identificar as autarquias locais (que incluem os municípios) como agentes públicos
do turismo, juntamente com outras entidades nacionais e regionais. Com efeito, os municípios
constituem entidades locais com atribuições no planeamento, desenvolvimento e concretização
das políticas de turismo, tendo como missão promover o desenvolvimento da atividade turística
através da coordenação e da integração das iniciativas públicas e privadas, de modo a alcançar as
metas do Plano Estratégico Nacional do Turismo (artigo 17.º, n.os 1 e 2). Uma outra fonte que
corrobora a importância dos municípios na área do turismo é o diploma que estabelece o quadro
34
de atribuições e competências dos municípios (Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, alterada pelas
Leis n.º 25/2015, de 30 de março e n.º 69/2015, de 16 de julho). No entanto, podemos verificar,
numa primeira análise, que o turismo não integra nenhuma das atribuições elencadas no artigo
23.º daquele diploma. Apenas uma avaliação mais exaustiva revela que muitas daquelas atribui-
ções se encontram direta ou indiretamente relacionadas com a área do turismo. É o caso, por
exemplo, das atribuições que os municípios têm ao nível do equipamento rural e urbano, energia,
transportes, património, cultura, entre outras.
Do mesmo modo, Costa (1998) e a Associação Nacional dos Municípios Portugueses
(2004) apresentaram um conjunto de áreas estratégicas que os organismos internacionais re-
comendam que estejam sob a alçada dos municípios, justificando assim o seu envolvimento
na área do turismo. Das áreas elencadas e das atribuições definidas no diploma acima citado, e
atendendo à temática deste artigo, realçamos que se considera que os municípios devem inter-
vir nas áreas que a literatura identifica como falhas de mercado, senão vejamos:

i) Criação ou participação em estabelecimentos de promoção do turismo local;


ii) Construção de equipamentos/infraestruturas com interesse para o turismo e para
as comunidades locais, garantindo, por exemplo, a rede de abastecimento de água,
saneamento e recolha de lixo;
iii) Elaboração de estratégias de planeamento do turismo adequadas a outros instru-
mentos de planeamento;
iv) Coordenação da atividade turística, integrando outras instituições com interesse
direto, ou indireto, no setor;
v) Envolvimento com os agentes públicos do turismo a níveis nacionais e regionais;
vi) Avaliação dos impactos criados pelo turismo a nível local, designadamente econó-
micos, socioculturais e ambientais;
vii) Elaboração de estratégias locais para as diversas atrações turísticas;
viii) Provisão de informação: através de centros de informação e apoio aos turistas;
de folhetos de informação acerca dos equipamentos e infraestruturas turísticas; e
de folhetos informativos acerca do que é oferecido pelo setor privado na área (e.g.
alojamento, restauração, comércio, eventos).

Assim sendo, a próxima seção, tenta retratar de modo exploratório e através da atuação de
cinco municípios portugueses no contexto daquelas áreas estratégicas, uma primeira aborda-
gem à intervenção dos municípios portugueses na mitigação destas falhas de mercado, anali-
sando detalhadamente os instrumentos de políticas públicas mencionados pelos municípios.

4. ESTUDO DE CASO

Uma vez que o tema em análise constitui um tópico ainda pouco explorado pela comuni-
dade científica, mas cujo estado da arte é bastante pertinente, consideramos oportuno utilizar
o estudo de caso como técnica para tentar descobrir evidências empíricas sobre os municípios
portugueses (Eisenhardt, 1989; Bryman, 2012). Deste modo, pretendeu-se explorar, descre-
ver e analisar a intervenção dos municípios portugueses na mitigação das falhas de mercado
resultantes da atividade turística, bem como os instrumentos utilizados para o efeito, sendo a
opção por esta técnica fundamentada pela sua extensiva aplicação em temas relacionados com
o turismo (Beeton, 2005). De entre as várias entrevistas realizadas6, optamos apenas por apre-
sentar a análise da atuação de cinco municípios. Esta escolha deve-se principalmente à abran-
gência e diversidade da respetiva atuação, pelo que a inclusão dos restantes municípios7 pouco
acrescentaria aos conteúdos a seguir expostos. Deste modo, a tabela 2 identifica os municípios
6
No total foram realizadas 16 entrevistas (23 entrevistados), entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013.
35
criteriosamente selecionados para o estudo de caso, bem como alguns detalhes das entrevis-
tas realizadas. A análise do estudo de caso teve por base os princípios da análise categorial e
será dividida de acordo com as falhas de mercado acima identificadas: os bens públicos, que
incluem a promoção turística, as infraestruturas turísticas e a coordenação/planeamento da
atividade turística, as externalidades, os monopólios naturais e a assimetria de informação.

Tabela 2 – Caracterização das Entrevistas Semiestruturadas

Municípios Número Entrevistados Data


de entrevistados
Albufeira 4 Vereador e três responsáveis técnicos 23 janeiro 2013
Amares 2 Vereador e responsável técnico 17 janeiro 2013
Odemira 2 Vereador e responsável técnico 24 janeiro 2013
Porto 2 Vereador e responsável técnico 18 janeiro 2013
Vila Real de
Santo António 2 Vereador e responsável técnico 22 janeiro 2013

4.1. Atividade Turística e Bens Públicos

No que diz respeito à promoção turística, os cinco municípios revelam-se grandes impulsio-
nadores de ações promocionais dos respetivos destinos turísticos e, como seria de esperar pela
diversidade dos casos selecionados, apresentam formas de atuação relativamente distintas. As-
sim, no caso do município de Albufeira, a promoção turística é realizada, essencialmente, através
da Agência de Promoção de Albufeira (APAL) criada pelo próprio município. Trata-se de uma
associação de promoção turística de direito privado, que resulta da parceria de entidades públicas
e privadas, em que o município é o principal parceiro, e onde é possível constatar que os agentes
turísticos de natureza privada são associados e colaboram financeiramente na promoção turística
do município. A APAL tem como principal competência a organização de ações específicas,
na sua essência participações em feiras, que promovam nacional e internacionalmente a marca
Albufeira. Inicialmente, esta agência era responsável apenas pela promoção externa, mas atual-
mente a estratégia promocional do município está delegada em exclusivo naquela agência, através
de protocolos de colaboração estabelecidos entre o município e a agência8. Os entrevistados
destacaram que um dos problemas da agência de promoção criada pelo município é, ainda assim,
beneficiar os agentes que não são associados e que não participam como tal. Um outro parceiro
importante da atividade da APAL é a Agência Regional de Promoção Turística – Associação de
Turismo do Algarve – que assume um papel importante no que concerne à concretização das
várias ações de promoção nos mercados externos. Paralelamente ao trabalho da agência criada
pelo município, este também desenvolve ações promocionais, através da Divisão Municipal de
Turismo, Desenvolvimento Económico e Cultural, mas mais direcionadas para a organização
de eventos e animação turística, envolvendo naturalmente aquela agência. Os entrevistados re-
feriram também que é relativamente comum o município recorrer a fundos comunitários para
efeitos de promoção turística. O município participa, ainda, na Entidade Regional de Turismo do
Algarve, usufruindo assim do plano de promoção regional para o mercado interno, que aquela
entidade desenvolve, articulado com o plano de promoção turística do município.
Os municípios de Amares e de Vila Real de Santo António assumem posições um pouco seme-
lhantes, no sentido em que o município se assume como o principal agente público envolvido na
promoção turística. Deste modo, no município de Amares verifica-se um papel ativo na promoção
7
Foram ainda entrevistados os seguintes municípios: Alcoutim, Alijó, Braga, Bragança, Chaves, Évora e Reguengos
de Monsaraz.
8
A promoção turística interna corresponde à promoção efetuada no mercado interno alargado e a promoção turística
externa refere-se à promoção internacional.
36
turística interna e externa por parte do município, através da participação em feiras, organização
de eventos com caráter promocional, ações de sensibilização, entre outros. No entanto, os entre-
vistados apresentam uma perspetiva muito realista em relação à promoção. Ou seja, as ações pro-
mocionais são realizadas apenas em função do que normalmente o município consegue assegurar.
Os entrevistados referem que o município apresenta uma dimensão reduzida e, consequentemente,
muitas das condições necessárias para um trabalho efetivo de promoção ainda não estão estabeleci-
das. Ainda assim, destaca-se uma relação positiva entre o município e alguns agentes privados, que
sempre que necessário solicitam, em termos logísticos, a colaboração do município para as diversas
ações promocionais em que participam. À semelhança do município de Albufeira, o município
de Amares também participa na respetiva Entidade Regional de Turismo, mas não tem qualquer
participação na Agência Regional de Promoção Turística, beneficiando, ainda assim, das atividades
promocionais de caráter externo desenvolvidas por esta agência. No caso do município de Vila Real
de Santo António, e tal como mencionamos, o município é o principal agente de promoção turís-
tica. Contrariamente ao município de Amares, a estratégia de promoção relativa à participação em
feiras internacionais assenta numa parceria, por iniciativa do município, com os agentes turísticos
locais de natureza privada, no sentido de, em conjunto, conseguirem uma intervenção mais ativa
na promoção do concelho nas mais diversas atividades promocionais. Além da participação em
feiras, a estratégia promocional abrange outras formas de promoção, nomeadamente, organização
de eventos, atuação ao nível das redes sociais, publicações em revistas da especialidade, entre outras.
Tal como o município de Albufeira, o município de Vila Real de Santo António também participa
na Entidade Regional de Turismo do Algarve e na Associação de Turismo de Algarve, beneficiando
dos planos de promoção regional de cada uma daquelas entidades, adequados ao próprio plano de
marketing e promoção turística de que o município dispõe.
O município de Odemira apresenta uma posição muito diferente em comparação com
os restantes municípios. Assim, sob o ponto de vista deste município, o papel da promoção
turística nacional e internacional é da responsabilidade da Entidade Regional de Turismo do
Alentejo e da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo, respetivamente. Neste
caso, o município trabalha a promoção interna apenas para os visitantes que visitam o con-
celho, resultado da promoção efetuada pelas estruturas competentes. No entendimento dos
entrevistados não deve ser o município a desenvolver atividades de promoção com o intuito de
atrair visitantes. Em termos de promoção externa, o município entende que não deve efetuar
essa promoção, pelo que é membro da Agência Regional de Promoção e incentiva os respeti-
vos agentes turísticos locais de natureza privada a fazerem também parte dessa mesma agência.
Relativamente ao município do Porto e, em termos de promoção interna, este município de-
sempenha um papel bastante ativo, desenvolvendo várias atividades de promoção turística da marca
Porto. Constitui uma preocupação constante do município, apoiar, através do Departamento do
Turismo, os mais diversos acontecimentos que ocorrem na cidade (e.g. congressos, seminários,
conferências, entre outros) para tentar captar segmentos que se enquadram nos produtos turísticos.
Como suporte a esta diversidade de atividades, vertidas num plano de marketing e promoção turís-
tica, ambos os entrevistados destacam o Portal do Turismo, desenvolvido pela autarquia, como o
instrumento mais importante em termos de promoção turística, onde toda a comunicação online
está claramente alinhada com a comunicação offline, quer através de brochuras mais específicas,
quer mais genéricas. Quanto à promoção externa, esta foi contratualizada com a Agência Regional
de Promoção Turística do Porto e Norte – Associação de Turismo do Porto. Nesse sentido, as
ações de âmbito externo são executadas pelo município em parceria com aquela associação.
Deste modo, o estudo de caso parece evidenciar que os municípios portugueses desempenham
um papel fundamental na promoção turística, participando de forma ativa e, em alguns casos, consti-
tuindo mesmo o principal agente público envolvido. O caso mais distinto é, sem dúvida, o município
de Odemira, no sentido em que apenas desenvolve atividades de promoção junto dos visitantes que
chegam ao concelho, estando as principais atividades de promoção do destino a cargo de outras en-
tidades competentes. O município investe nessas estruturas, sendo a promoção efetuada a partir dos
37
canais existentes para o efeito. A tabela 3 resume as principais entidades responsáveis pela promoção
turística interna e externa destes municípios, demonstrando uma acentuada importância da atuação
municipal e a tabela 4 as principais ações desenvolvidas no âmbito da promoção turística.

Tabela 3 – Principais Entidades Responsáveis pela Promoção Turística Interna e Externa

Municípios Promoção interna Promoção externa


Albufeira Estrutura interna do Município APAL
Entidade Regional de Turismo Agência Regional de Promoção
do Algarve Turística do Algarve
APAL Estrutura interna do Município
Amares Estrutura interna do Município Estrutura interna do Município
Entidade Regional de Turismo
do Porto e Norte
Odemira Entidade Regional de Turismo Agência Regional de Promoção
do Alentejo Turística do Alentejo
Estrutura interna do Município
Porto Estrutura interna do Município Agência Regional de Promoção
Entidade Regional de Turismo Turística do Porto e Norte
do Porto e Norte
Vila Real de Estrutura interna do Município Estrutura interna do Município
Santo António Entidade Regional de Turismo Agência Regional de Promoção
do Algarve Turística do Algarve

Tabela 4 – Principais Ações Desenvolvidas na Promoção Turística

Municípios Ações
Albufeira Participação em feiras nacionais | Participação em feiras internacionais | Or-
ganização de eventos de promoção turística | Plano de promoção turística |
Participação dos agentes turísticos locais de natureza privada no financiamen-
to da promoção turística | Marca turística | Fundos comunitários
Amares Participação em feiras nacionais | Participação em feiras internacionais | Or-
ganização de eventos de promoção turística | Ações de sensibilização |
Apoio logístico aos agentes turísticos locais de natureza privada para as dife-
rentes ações promocionais
Odemira ---
Porto Participação em feiras nacionais | Participação em feiras internacionais | Por-
tal de turismo | Material de indução promocional | Plano de promoção tu-
rística |Plano de marketing turístico | Marca turística
Vila Real de Participação em feiras nacionais | Participação em feiras internacionais | Or-
Santo António ganização de eventos de promoção turística | Atuação ao nível das redes
sociais | Publicações em revistas da especialidade | Plano de marketing tu-
rístico | Plano de promoção turística | Participação dos agentes turísticos
locais de natureza privada no financiamento da promoção turística

À semelhança da intervenção municipal na promoção turística, o desenvolvimento de infraes-


truturas turísticas também constitui uma preocupação por parte destes municípios, procurando
38
satisfazer um vasto conjunto de necessidades direta e indiretamente relacionadas com a atividade
turística. Naturalmente, a relevância que cada município atribui ao desenvolvimento daquelas in-
fraestruturas depende da dimensão que o turismo assume enquanto elemento crucial no desen-
volvimento local. Deste modo, os municípios de Albufeira, Porto e Vila Real de Santo António
adotam filosofias mais interventivas em comparação com os municípios de Amares e Odemira. No
caso do município de Albufeira, os entrevistados referem que o investimento em infraestruturas
num município como este está claramente associado ao turismo. Os entrevistados relatam, a título
exemplificativo, que o próprio sistema de tratamento de águas residuais urbanas existente no muni-
cípio está concebido para dar resposta às variações em termos de população (incluindo visitantes) e
que é completamente diferente de um município em que o número de habitantes se mantém mais
ou menos estável ao longo do ano. Esta adaptação à vertente turística é comprovada pelo elevado
número de infraestruturas de tratamento de águas residuais de que o município dispõe (cerca de
40), atendendo que o número de habitantes ronda apenas os 40.000. Um outro exemplo mencio-
nado pelos entrevistados incide sobre o forte investimento que o município tem desenvolvido em
infraestruturas desportivas, nomeadamente pistas de atletismo, pavilhões, ginásios, piscinas, entre
outras. Mais uma vez, estas infraestruturas têm uma dimensão social de apoio à população e, ob-
viamente, uma dimensão turística, dado que permitem criar um conjunto de oportunidades relacio-
nadas com a prática do desporto. Os entrevistados indicaram, ainda, um conjunto de projetos que
estão em curso e que embora sejam de índole cultural têm, naturalmente, uma forte componente
turística. Em termos de instrumentos, grande parte destes investimentos resultam de investimento
público municipal com recurso a financiamento e a fundos comunitários, além de que o município
dispõe de uma estrutura vocacionada para o apoio aos promotores de investimento turístico.
De forma idêntica, sendo Vila Real de Santo António um concelho que vive do turismo
é consensual que o desenvolvimento de infraestruturas seja inseparável da atividade turística.
Nesse sentido, os entrevistados relatam que existe uma preocupação constante por parte do
município em desenvolver infraestruturas orientadas para o turismo, de modo a satisfazer as ne-
cessidades dos visitantes e a encontrar motivações alternativas e complementares ao tradicional
produto turístico sol & mar. Como principais infraestruturas de interesse turístico, os entrevista-
dos destacam o Complexo Desportivo Municipal, atualmente um dos mais credenciados a nível
nacional e europeu, dado que integra um conjunto de equipamentos desportivos para diversas
modalidades, constituindo uma referência para o estágio de diversas equipas e atletas; e as ciclo-
vias existentes no concelho. Estas infraestruturas, utilizadas maioritariamente por turistas, cons-
tituem um complemento à oferta turística, sobretudo no inverno, colmatando assim o problema
da sazonalidade. De modo semelhante, é possível constatar que existe um grande investimento
público por parte do município, sendo que este também recorre a fundos comunitários.
O município do Porto tem adquirido nos últimos anos uma notável relevância na área do
turismo, considerando fundamental o investimento em infraestruturas ou equipamentos de
interesse turístico. Os entrevistados destacam vários exemplos de investimentos em infraes-
truturas, designadamente a rede de museus municipais que suportam a procura turística, os
postos de turismo municipais, as infraestruturas virtuais, com especial ênfase para o Portal do
Turismo, a revisão de toda a sinalética turística, a organização do espaço público para melhor
acolher o visitante, entre outros. Tal como os municípios anteriores, também o município do
Porto, além do investimento público municipal, recorre a fundos comunitários, estabelece pro-
tocolos bancários com instituições financeiras e prevê uma estrutura vocacionada para apoiar
os promotores de investimento turístico. A este propósito, os entrevistados indicam que o
município não dispõe de um incentivo direto, no sentido de impulsionar o desenvolvimento de
infraestruturas por parte dos agentes privados. No entanto, e dependendo do nível de investi-
mento, é sempre possível criar instrumentos facilitadores para o efeito, concedendo, por exem-
plo, isenções fiscais através da isenção de pagamento de taxas de licenciamento ou redução de
impostos municipais. Os entrevistados referem, ainda, que no contexto do desenvolvimento
de infraestruturas turísticas é o município quem orienta a articulação entre as entidades que
possuem competências que concorrem para o desenvolvimento turístico.
Os entrevistados do município de Odemira consideram que este apresenta um investimento
39
considerado normal para a própria dimensão do turismo no concelho. O município tem aposta-
do claramente na requalificação do próprio território, melhorando essencialmente as condições
existentes. Nesse contexto, os entrevistados apontam alguns exemplos de investimentos em in-
fraestruturas, tidos como os mais importantes. Assim, destacam a requalificação dos espaços, no
âmbito do programa Polis Litoral Sudoeste, que é fundamentalmente um Polis costeiro, apostando
na revitalização das praias, dos portinhos de pesca e da malha urbana dos dois grandes aglomera-
dos urbanos turísticos, que são Vila Nova de Milfontes e Zambujeira do Mar. O programa Polis
representa para o município um investimento em infraestruturas, sendo um dos 4 municípios com
participação minoritária na Sociedade Polis Litoral Sudoeste – Sociedade para a Requalificação e
Valorização do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, S.A. –, uma sociedade comercial de capitais
exclusivamente públicos e que tem como principal função a gestão, coordenação e execução dos
investimentos a realizar no âmbito deste programa. A Rota Vicentina constitui um outro exemplo
de investimento em infraestruturas, dada a requalificação de alguns caminhos vicinais, a estrutura-
ção de algumas travessias de pontes em ribeiras, bem como o desenvolvimento de instrumentos
de monitorização e georreferenciação. À semelhança do município de Albufeira, e referenciando o
ponto de atração turística de Vila Nova de Milfontes, os entrevistados demonstram, por exemplo,
que os investimentos em infraestruturas públicas relacionadas com o abastecimento de água e com
os sistemas de tratamento de águas residuais urbanas também foram realizados tendo em conta o
número de visitantes e não o número de habitantes efetivos.
No caso do município de Amares, em virtude da sua reduzida dimensão, os entrevistados
referem que não existem infraestruturas com notável importância, no sentido de garantirem
aos visitantes uma oferta estruturada em termos de produtos turísticos. Ainda assim, os entre-
vistados destacam, como principais infraestruturas, os estabelecimentos de alojamento local,
as unidades de turismo rural, existindo algumas unidades de referência, e a Pousada de Santa
Maria de Bouro, integrada na rede de Pousadas de Portugal. À semelhança dos outros municí-
pios, além de promover o investimento em infraestruturas e ter alguns projetos em andamen-
to, também recorre a fundos comunitários e incentiva o investimento por parte dos agentes
privados. A maioria dos projetos relacionados com as unidades de turismo rural existentes
no concelho resultam de candidaturas a fundos comunitários que o município apoia, através
da intervenção junto das entidades responsáveis pela análise das candidaturas, no sentido de
potenciar a viabilização desses mesmos projetos. A tabela 5 descreve as ações desenvolvidas
pelos municípios no desenvolvimento de infraestruturas turísticas.

Tabela 5 – Principais Ações Desenvolvidas no Desenvolvimento de Infraestruturas Turísticas

Municípios Ações
Albufeira Fundos comunitários | Investimento público municipal | Protocolos ban-
cários com instituições financeiras | Estrutura vocacionada para o apoio
aos promotores de investimento turístico
Amares Fundos comunitários | Investimento público municipal | Estrutura voca-
cionada para o apoio aos promotores de investimento turístico
Odemira Investimento público municipal | Programa Polis Litoral Sudoeste
Porto Fundos comunitários | Investimento público municipal | Protocolos ban-
cários com instituições financeiras | Estrutura vocacionada para o apoio
aos promotores de investimento turístico | Isenções fiscais (isenção de pa-
gamento de taxas de licenciamento, redução de impostos municipais) |
Orienta a articulação entre as entidades que possuem competências que
concorrem para o desenvolvimento turístico
Vila Real de Fundos comunitários | Investimento público municipal
Santo António
40
Contrariamente à atuação dos municípios no contexto da promoção turística e da provisão
de infraestruturas turísticas, a coordenação da atividade turística representa uma falha de mer-
cado que não tem, da parte de alguns municípios, a melhor resposta possível. A diversidade de
agentes envolvidos e os diferentes aspetos do turismo criam obstáculos, dificultando assim o
papel coordenador dos municípios. Além disso, esta dificuldade é potenciada pela inexistência de
estruturas especificamente vocacionadas para a coordenação da atividade turística. O único dos
cinco municípios a referir a existência de uma estrutura do género é o município do Porto. Os en-
trevistados destacaram o papel do Departamento do Turismo como um importante articulador
e facilitador da atividade turística em conjunto com os diversos stakeholders públicos e privados
que partilham a mesma visão. Os entrevistados referem que, de facto, a coordenação representa
uma tarefa muito difícil, dado que existe muita informação que não é partilhada e, se não for o
município a assumir um papel coordenador, os agentes por si só não têm qualquer incentivo para
adotar esse papel. Em termos de coordenação com as diversas entidades que atuam no concelho,
o município destaca a coordenação relativamente diminuta que existe com a Entidade Regional
de Turismo do Porto e Norte. No entendimento do município, a marca Porto atingiu um grau
de importância e conhecimento que faz com que o esforço não seja tão significativo, embora
haja um esforço de articulação com essa entidade. Além desta entidade, os entrevistados referem
como principais entidades intervenientes no processo de coordenação a Associação de Turismo
do Porto, a Associação Comercial do Porto, a Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração
e Turismo, a ANA - Aeroportos de Portugal, S.A., entre outras.
Os restantes municípios relatam que a coordenação da atividade turística é realizada de
forma ad hoc. Quer isto dizer que não existe uma estrutura, como no caso do Porto, que pla-
neie de forma consciente a coordenação daquela atividade. No entanto, tal não significa que
os municípios não tenham qualquer intervenção neste processo. Em todos os casos, e ainda
que de modo ad hoc, o município assume um papel crucial, enquanto coordenador da ativi-
dade turística. No caso do município de Albufeira, por exemplo, os entrevistados afirmam
que a coordenação da atividade turística constitui uma tarefa extremamente difícil, tornando-
-se ainda mais complexa num concelho composto por uma grande diversidade de interesses.
Nesse sentido, o município tem desenvolvido um grande esforço para granjear o respeito e a
colaboração de todas as associações locais, nomeadamente a associação de comerciantes, a as-
sociação de restaurantes e a associação de hoteleiros, evidenciando-se uma forte componente
associativista, em termos de dinâmica empresarial. Os entrevistados referem a este propósito
o esforço financeiro que estas associações têm preconizado, no sentido de colaborarem na
organização de eventos, por exemplo, aliviando a estrutura financeira do município. Similar-
mente, o município de Vila Real de Santo António relata que no conjunto das atividades que
desenvolve procura sempre a parceria e o apoio dos agentes turísticos privados com atuação
no concelho. De igual modo, o município tem dialogado com os agentes privados, no sentido
de apelar também à sua colaboração na realização de algumas atividades. O objetivo consiste
em alterar o estigma de que o esforço, em particular, o financeiro, deve ser sempre municipal
e os agentes privados beneficiam de algum modo do investimento municipal realizado. O
município de Odemira também tem desenvolvido um papel ativo na coordenação da atividade
turística, privilegiando uma gestão participada com uma participação ativa dos agentes turís-
ticos do território. Neste contexto de coordenação, os entrevistados enfatizam a importância
da Associação de Turismo de Qualidade do Litoral Alentejano e Costa Vicentina, vulgarmente
conhecida como Associação Casas Brancas. Esta associação, sem fins lucrativos, tem como
objetivo organizar, de forma integrada, diversificada e selecionada, os vários tipos de ofer-
ta existentes, integrando alojamentos rurais, restaurantes e atividades de natureza, contando
atualmente com mais de 60 sócios, incluindo restaurantes e animação turística. O município
de Amares constitui o principal coordenador da atividade turística do concelho, enfatizando
que os agentes privados não conseguem assumir esse papel, e se o fizessem seria certamente
de modo ineficiente. Os entrevistados salientam que o processo de coordenação entre o mu-
41
nicípio e os setores da restauração e do alojamento é bastante positivo.
Complementarmente à coordenação, verificamos que apenas o município do Porto dispõe
de um plano de desenvolvimento turístico de longo prazo/plano estratégico, elaborado pela
estrutura interna do município e de acordo com as orientações estratégicas do Plano Estratégi-
co Nacional do Turismo. Tal como indicam os entrevistados, o planeamento da atividade turís-
tica constitui, à semelhança da coordenação, uma prioridade do município face à importância
que o turismo tem vindo a adquirir neste concelho. Os restantes municípios não dispõem de
planos específicos para o turismo. No entanto, desenvolvem algumas estratégias de ação. O
município de Vila Real de Santo António, por exemplo, tem definida uma estratégia de médio
prazo, consubstanciada num plano de marketing trianual, que brevemente passará a anual. Os
entrevistados referem que à medida que o trabalho vai evoluindo, os resultados vão sendo
analisados e adotadas as medidas necessárias. A mutação da atividade turística é apresentada
como a principal razão para a adoção de uma perspetiva de curto/médio prazo. Os municí-
pios de Amares, Albufeira e Odemira consideram o PDM como o principal instrumento do
processo de planeamento da atividade turística. Os entrevistados do município de Amares
consideram que a existência de um plano no âmbito do território pertencente à Comunidade
Intermunicipal do Cávado seria mais valioso. Por sua vez, os entrevistados do município de
Albufeira mencionam que estão a ser definidas estratégias de desenvolvimento municipal que
irão depois alimentar o processo de revisão do PDM, tratando-se de uma área embrionária
que se encontra a ser trabalhada. A tabela 6 resume as principais ações desenvolvidas pelos
municípios no âmbito da coordenação/planeamento da atividade turística, identificando tam-
bém as principais estruturas de coordenação da atividade turística existentes nos municípios.

Tabela 6 – Principais Ações de Coordenação/Planeamento da Atividade Turística

Municípios Ações
Albufeira Ad Hoc | Associações locais dos diversos agentes turísticos de natureza
privada | Plano Diretor Municipal
Amares Ad Hoc | Plano Diretor Municipal
Odemira Ad Hoc | Associação Casas Brancas | Plano Diretor Municipal
Porto Estrutura orgânica do município – Departamento do Turismo | Plano de
desenvolvimento turístico a longo prazo/plano estratégico
Vila Real de Ad Hoc | Plano de marketing
Santo António

4.2. Atividade Turística e Externalidades

Os efeitos externos, positivos ou negativos, provocados pela atividade turística e classificados


em efeitos económicos, socioculturais e ambientais têm merecido a atenção dos municípios, em
especial daqueles em que a intensidade da atividade turística é mais evidente. Nesse sentido, os
municípios em análise têm tentado minimizar esses impactos, atuando sobretudo através dos
serviços que compõem a estrutura interna do município e da regulação de algumas atividades.
Deste modo, os entrevistados do município de Albufeira reconhecem e identificam claramente
a existência de efeitos externos provocados pela atividade turística, existindo uma preocupação
constante em reduzir esses mesmos impactos. No entanto, e tal como indicam, nem todos de-
pendem de uma resposta meramente municipal. Enquanto os efeitos externos provocados, por
exemplo, pelo aumento da produção de resíduos ou da poluição das praias são mitigados através
de uma intervenção municipal, que reforça no período de época alta a recolha de resíduos e
42
procede à limpeza das praias, a pressão exercida sobre o sistema de saúde pública ou o aumento
da criminalidade não podem ser minimizados apenas através da intervenção direta do município.
Nestes casos, o município de Albufeira tenta procurar respostas e ações junto das instâncias pró-
prias para o efeito. Os entrevistados referiram que o reforço do número de médicos no período
de época alta não era suficiente para fazer face às necessidades, pelo que esta externalidade só
foi colmatada com a construção de um hospital privado. O investimento privado acabou por dar
resposta a uma carência que foi detetada no concelho. Ao nível da criminalidade, o município
todos os anos exerce pressão para reforçar a segurança, sendo que este reforço acontece no
período de época alta e resulta da partilha de competências entre a Polícia Municipal e a Guarda
Nacional Republicana. Numa perspetiva de segurança diferente, existe a intenção do município
emitir em breve licenças de guarda noturno com competências muitos específicas e para áreas
claramente identificadas. Isto porque a probabilidade de ocorrerem desacatos também se verifica
no período de época baixa, dado que há menos pessoas e muitas casas vazias. Quase 50% do
parque habitacional está apenas ocupado em alguns meses do ano. Um outro impacto negativo
identificado pelos entrevistados, e que resulta do desenvolvimento da atividade turística no últi-
mo meio século, decorre dos problemas de planeamento urbano, já que a construção massificada
deixou algumas marcas que ainda hoje são irreparáveis. Como resposta, a autarquia tem criado
vários planos, um deles o Plano de Urbanização da Cidade de Albufeira – PUCA – que visa dotar
o município de instrumentos de gestão territorial, de modo a facultar uma gestão mais rigorosa
do desenvolvimento urbano e das respetivas dinâmicas, tentando assim ultrapassar ou minimizar
os problemas sob o ponto de vista da reabilitação urbana.
Similarmente, a intensidade da atividade turística no concelho de Vila Real de Santo An-
tónio implica uma pronta atuação por parte do município, de modo a que os efeitos negativos
daquela atividade sejam praticamente nulos. Os impactos negativos que se fazem sentir no
município, como sejam o aumento da produção de resíduos, que no período de época alta
quase quadruplica, e da poluição das praias e das zonas de lazer, são prontamente mitigados
por parte da autarquia, que neste período reforça a recolha de resíduos e procede à limpeza das
praias e das zonas de lazer. Quanto aos impactos negativos de caráter económico, nomeada-
mente o aumento dos preços dos bens e serviços, os entrevistados referem que, de facto, nos
meses de verão faz-se sentir um ligeiro aumento dos preços, mas esse aumento é compensado
pela própria atividade económica que é desenvolvida e que beneficia a população local que
vive em grande parte do turismo. Os entrevistados destacam ainda a importância dos impactos
positivos relacionados com o desenvolvimento da economia local e com relacionamento in-
tercultural, referindo que até do ponto de vista cultural a atividade turística é excelente, porque
proporciona um conhecimento de culturas que de outro modo não seria possível.
De igual modo, o município do Porto evidencia uma franca preocupação com os impactos
decorrentes da atividade turística. Além dos impactos mais comuns já evidenciados, os entrevis-
tados indicam duas situações em concreto que mereceram uma profunda intervenção por parte
do município: o fenómeno da “Movida” e o terminal de cruzeiros. O fenómeno da “Movida”,
entendido como a procura que a noite do Porto adquiriu, verificando-se uma abertura a novos
conceitos, a novos estabelecimentos, nomeadamente na baixa da cidade, está relacionado com
quem vive no Porto, mas também com quem visita a cidade. De facto, os impactos negativos des-
ta animação noturna são perfeitamente visíveis, sendo sobretudo impactos ambientais (resíduos,
ruído). Nesse sentido, o município teve de encontrar uma forma de se organizar para responder
a estas necessidades, ao nível da limpeza, da fiscalização e da arrumação dos espaços urbanos.
Assim, o município criou um novo regulamento público para os estabelecimentos de diversão
noturna, havendo uma adaptação regulamentar e logística a esta nova necessidade. O objetivo
é minimizar o efeito destes impactos junto dos próprios residentes e da cidade. O terminal de
cruzeiros constitui um outro impacto. A chegada de um cruzeiro ao porto de Leixões e, con-
sequentemente, a grande quantidade de autocarros que se dirige à Avenida dos Aliados levou a
autarquia a desenvolver todo um suporte logístico para esta nova realidade, desde a organização
43
da chegada dos autocarros à cidade, criação de locais de parqueamento, organização de visitas
e permanência dos autocarros na cidade, criação de novas opções como o metro, os city-tours
e os city sightseeing tours, de modo a criar a mínima perturbação. No contexto dos impactos, a
filosofia do município é regular e criar suporte logístico.
À semelhança dos restantes municípios, os entrevistados do município de Odemira também
reconhecem e identificam os efeitos externos decorrentes da atividade turística, principalmente
nos dois aglomerados turísticos do concelho (Vila Nova de Milfontes e Zambujeira do Mar), e
do Festival do Sudoeste, pelo que são adotados os procedimentos necessários para minimizar
esses efeitos. Os entrevistados referem que sob o ponto de vista do próprio desenvolvimento
da atividade turística, e à semelhança do município de Albufeira, a freguesia de Vila Nova de
Milfontes também cresceu de forma desordenada, com fracionamento e construção ilegal, pelo
que o município aprovou o Plano de Urbanização de Reconversão da Área de Fracionamento
Ilegal da Propriedade Rústica para tentar solucionar este impacto negativo. Tal como o muni-
cípio de Albufeira, os entrevistados relatam que as infraestruturas públicas de tratamento de
águas residuais urbanas e de resíduos sólidos urbanos foram projetadas para suportar o número
de visitantes e que a recolha dos resíduos sólidos é claramente reforçada na época de verão. Ao
nível do sistema de saúde pública e da segurança, o município incentiva e celebra parcerias com
as entidades competentes para garantir a satisfação das necessidades. Assim, na área da saúde há
um reforço, nomeadamente com pontos da Cruz Vermelha e outros que fazem o apoio direto a
turistas. Em termos de segurança, existe uma estreita relação com a Guarda Nacional República
(GNR) que reforça o patrulhamento em zonas previamente definidas. Por exemplo, nos meses
de verão a freguesia da Zambujeira do Mar dispõe de um posto da GNR. Em termos de impac-
tos positivos, os entrevistados também destacam os efeitos económicos e enfatizam o facto de a
oferta turística existente no concelho ser promovida por pessoas de fora, havendo uma multicul-
turalidade com novas dinâmicas, novas culturas, pessoas de países diferentes que concretizaram
no concelho de Odemira a sua iniciativa empresarial.
Por fim, e apesar do município de Amares não ter uma intensidade turística forte, os entre-
vistados deste município identificam os impactos económicos como positivos, nomeadamente
o desenvolvimento da economia local, e destacam como impactos negativos o aumento dos
resíduos sólidos urbanos em algumas zonas de lazer do concelho, reforçando o município a
respetiva limpeza. A tabela 7 apresenta as principais ações adotadas por estes municípios para
tentar mitigar os efeitos externos provocados pela atividade turística. É possível verificar que
todos os efeitos negativos são minimizados através da atuação das estruturas dos próprios
municípios. É o município, e não o visitante, que suporta o custo destes efeitos. Os efeitos po-
sitivos apenas são reconhecidos por alguns destes municípios, mas em nenhuma das situações
os entrevistados mencionaram que os municípios desenvolviam qualquer atividade governa-
mental no sentido de impulsionar tais impactos.

Tabela 7 – Principais Ações Desenvolvidas no Âmbito das Externalidades

Municípios Ações
Albufeira Estrutura interna do município | Regulação
Amares Estrutura interna do município
Odemira Estrutura interna do município | Regulação
Porto Estrutura interna do município | Regulação | Suporte Logístico
Vila Real de Estrutura interna do município
Santo António
44
4.3. Atividade Turística e Monopólios Naturais

Relativamente à existência de situações de monopólios naturais ou, mais concretamente, a


identificação de atrações turísticas com caráter único a nível local, percecionamos que os entre-
vistados, de um modo geral, orientaram este tópico mais no sentido de apresentar as atrações
turísticas que caracterizam e distinguem os respetivos municípios, do que propriamente identi-
ficar atrações cujas características possam resultar numa situação de monopólio natural. Ainda
assim, verificamos algumas exceções. Os entrevistados do município de Albufeira consideraram,
por exemplo, o parque temático Zoomarine como uma atração turística de caráter único. Além
das suas próprias características, este parque oceanográfico de entretenimento educativo apre-
senta uma forte ligação à educação ambiental, pelo que é tido pelos entrevistados como algo
absolutamente único, em Portugal. Atendendo à necessidade de preservação desta atração, os
entrevistados mencionaram que, sendo este parque um equipamento privado e com interesse co-
mercial, o município não tem qualquer intervenção na regulação da atividade turística, pelo que a
preservação desta atração turística é da responsabilidade dos agentes privados. Os entrevistados
do município de Amares identificaram as águas de Caldelas como únicas. Apesar das suas indica-
ções terapêuticas serem comuns a outras estâncias termais, as características da água termal são
específicas e singulares. Em termos de preservação, e sendo a estância termal gerida por agentes
privados, o município de Amares, à semelhança do município de Albufeira, não tem qualquer
intervenção na preservação daquela atração turística. A tabela 8 sintetiza as ações desenvolvidas
pelos municípios para assegurar a preservação destes monopólios naturais.

Tabela 8 – Principais Ações Desenvolvidas no Âmbito dos Monopólios Naturais

Municípios Ações
Albufeira Agentes privados e o município não adota qualquer forma de intervenção
Amares Agentes privados e o município não adota qualquer forma de intervenção
Odemira -
Porto -
Vila Real de
Santo António -

4.4. Atividade Turística e Assimetria de Informação

Em conjugação com a promoção turística, os municípios em análise revelam um comporta-


mento muito ativo na adoção e utilização de vários canais de divulgação da informação turística,
de modo a colmatar a assimetria de informação típica do mercado turístico. Nesse sentido, um
canal de distribuição comum aos cinco municípios é a existência de postos de informação turísti-
ca. Todos os municípios dispõem ou de postos de turismo municipais ou de postos de turismo da
responsabilidade da respetiva Entidade Regional. Adicionalmente, todos os municípios se preo-
cupam em disponibilizar essa informação em diferentes línguas estrangeiras. Além dos postos de
turismo, e de modo a permitir um maior acesso à informação, os municípios de Albufeira, Ama-
res, Porto e Vila Real de Santo António dispõem de pontos de informação complementares que
se encontram distribuídos pelos principais pontos de interesse turístico. O município do Porto,
por exemplo, criou o conceito de iPoint que funciona como postos de turismo complementares
portáteis e que estão localizados em zonas de grande procura turística. Complementarmente,
existem os postos self-service, nos quais o turista pode consultar um conjunto de informação útil
à sua visita, e os agentes (uma espécie de iPoint humano) devidamente localizados em pontos de
45
grande procura turística, e identificados com uma t-shirt com o objetivo de ajudar os turistas em
caso de dúvida. Os entrevistados do município do Porto consideram que o conceito tradicional
de posto de turismo está desatualizado e têm desenvolvido ações no sentido de prestar uma so-
lução simples e prática através da qual o turista rapidamente tenha acesso à informação.
Um outro canal de divulgação de informação turística muito usado consiste na produção e di-
vulgação de brochuras, roteiros, guias e mapas turísticos. Todos os municípios em análise possuem
este tipo de material, quer com informação de caráter geral, quer com informação mais específica
e detalhada, para assim promover e divulgar os principais pontos de atração turística existentes em
cada concelho. Similarmente, todos os municípios possuem sinalização turística, quer em termos
direcionais, quer em termos informativos. As tecnologias de informação e comunicação aplicadas
à atividade turística assumem um papel relevante e dos cinco municípios apenas o de Amares não
possui este canal de divulgação de informação turística. O município do Porto possui um conjunto
de aplicações móveis para as principais plataformas com conteúdos e serviços sobre a cidade do
Porto. Similarmente, o município de Albufeira desenvolveu um aplicativo (City App Albufeira)
que permite fazer o download de diversas informações relevantes para quem visita Albufeira. E os
municípios de Albufeira, Odemira e Vila Real de Santo António dispõem, ainda, de Qr. Codes, ou
seja, códigos de resposta rápida distribuídos por vários locais dos concelhos para facilitar o acesso
à informação. No contexto da utilização da internet e das redes sociais virtuais, é possível constatar
que todos os municípios fazem uso das redes sociais virtuais e do website institucional para divulgar
informação turística sobre o concelho. Adicionalmente, os municípios de Albufeira, Odemira e
Porto possuem um website especificamente dedicado ao turismo.
Por fim, importa destacar que os municípios não constituem os únicos agentes envolvidos
na divulgação de informação turística. É importante a criação e o trabalho em rede com os
principais intervenientes da atividade turística. Os entrevistados do município de Vila Real de
Santo António referem, a este propósito, que entregam material informativo em todas as uni-
dades hoteleiras para assim puderem divulgar o concelho. Os entrevistados do município de
Odemira enfatizam o trabalho realizado pela Associação Casas Brancas que também tem um
website de divulgação da região. Não obstante, o trabalho aparentemente mais interessante é
desenvolvido pelo município do Porto. Este tem constituída uma rede oficial de informação
turística que envolve a participação dos agentes turísticos locais de natureza pública e privada
e entidades não turísticas. Esta rede oficial resulta de um programa que tem como objetivo
preparar os diversos intervenientes na área do turismo para a receção aos turistas, desde taxis-
tas, rececionistas, agentes da Polícia de Segurança Pública, entre outros. Um excelente exemplo
desta rede oficial é a existência de uma Esquadra de Turismo da Polícia de Segurança Pública.
Uma parceria entre o município e aquela polícia permitiu criar uma esquadra composta por
agentes especificamente preparados para atender os visitantes do Porto. A tabela 9 sintetiza os
diversos canais de divulgação de informação turística utilizados por estes municípios.

Tabela 9 – Principais Canais de Divulgação de Informação Turística

Municípios Canais de divulgação


Albufeira Postos de turismo | Informação turística em várias línguas estrangeiras | Pon-
tos de informação complementares | Brochuras, roteiros, guias e mapas turísticos | Sinaliza-
ção turística| App móveis | Qr. Codes | Redes sociais virtuais | Website
institucional | Website especificamente dedicado ao turismo
Amares Postos de turismo | Informação turística em várias línguas estrangeiras | Pon-
tos de informação complementares | Brochuras, roteiros, guias e mapas
turísticos | Sinalização turística | Redes sociais virtuais | Website institucional
Odemira Postos de turismo | Informação turística em várias línguas estrangeiras | Bro-
churas, roteiros, guias e mapas turísticos | Sinalização turística | Qr. Codes |
46
Redes sociais virtuais | Website institucional | Website especificamente de-
dicado ao turismo
Porto Postos de turismo | Informação turística em várias línguas estrangeiras | Pon-
tos de informação complementares | Brochuras, roteiros, guias e mapas
turísticos | Sinalização turística | App móveis | Redes sociais virtuais | Web-
site institucional | Website especificamente dedicado ao turismo | Esqua-
dra de Turismo | Rede oficial de informação turística que envolve agentes
turísticos locais de natureza pública, privada e entidades não turísticas
Vila Real de Postos de turismo | Informação turística em várias línguas estrangeiras | Pon-
Santo António tos de informação complementares | Brochuras, roteiros, guias e mapas
turísticos | Sinalização turística | Qr. Codes | Redes sociais virtuais | Web-
site institucional

5. CONCLUSÃO

A análise deste estudo de caso permite verificar que os municípios, além de percecionarem
e reconhecerem a problemática das falhas de mercado existentes na atividade turística, adotam
diferentes instrumentos de políticas públicas, no sentido de colmatar essas mesmas falhas. De
facto, verificamos que algumas falhas, como sejam a promoção turística, as infraestruturas
turísticas ou a divulgação de informação turística, merecem uma atenção especial da parte dos
municípios, enquanto outras como, por exemplo, a coordenação/planeamento da atividade tu-
rística ou as situações de monopólios naturais, não são solucionadas da melhor forma possível.
No caso da promoção turística, os municípios revelam-se grandes impulsionadores de ativi-
dades promocionais dos respetivos destinos turísticos, denotando-se para além de uma forte
intervenção municipal uma estreita relação com as respetivas entidades e agências regionais
no âmbito de ações de promoção turística interna e externa. No mesmo sentido, observamos
que os municípios demonstram uma franca preocupação com o desenvolvimento de infraes-
truturas e/ou equipamentos turísticos. No entanto, esta preocupação depende, naturalmente,
da dimensão que o turismo assume enquanto elemento crucial do desenvolvimento local e
que os municípios tentam assim satisfazer um vasto conjunto de necessidades direta e indire-
tamente relacionadas com a atividade turística. Ainda no âmbito dos bens públicos turísticos,
e contrariamente à atuação dos municípios no contexto das falhas de mercado anteriores, a
coordenação da atividade turística não tem da parte de alguns municípios a melhor respos-
ta possível. Tal situação deve-se à grande diversidade de agentes turísticos envolvidos e às
próprias características da atividade turística que criam obstáculos ao papel coordenador dos
municípios. Além disso, esta dificuldade é ainda mais potenciada pela inexistência de estruturas
especificamente vocacionadas para a coordenação da atividade turística. Complementarmente
a esta ação de coordenação, observamos que os municípios também demonstram algumas
dificuldades relacionadas com o planeamento da atividade turística. Apenas o município do
Porto dispõe de um plano de desenvolvimento turístico de longo prazo ou plano estratégico
particularmente vocacionado para a área do turismo, ao contrário dos restantes municípios,
cujo instrumento principal é o Plano Diretor Municipal.
Relativamente às externalidades turísticas, e conforme a situação das infraestruturas e/ou
equipamentos de interesse turístico, reparamos que os efeitos provocados pela atividade turís-
tica merecem a atenção dos municípios, em particular, daqueles onde a intensidade da ativida-
de é mais evidente. Estes cinco municípios tentam minimizar os impactos negativos, atuando
sobretudo através dos serviços que compõem a estrutura interna do município e da regulação
de algumas atividades. Reparamos ainda que embora os impactos positivos sejam reconheci-
dos por alguns dos municípios, estes não destacam qualquer intervenção governamental no
47
sentido de os promover. Quanto às situações de monopólios naturais, mais uma vez estas não
são reconhecidas pelos municípios. Para além de não ser uma situação muito comum, uma vez
que não será de esperar que todos os municípios possuam situações de monopólios naturais,
os próprios municípios não reconhecem este conceito e consideram antes as atrações turísti-
cas que caracterizam e diferenciam os municípios, independentemente das suas características
resultarem, ou não, numa situação de monopólio natural. Por fim, os municípios em estudo
também manifestam um comportamento bastante ativo na criação e utilização de vários canais
de divulgação de informação turística como sejam os postos de informação turística, a dispo-
nibilização de informação turística em diferentes línguas estrangeiras, a produção e divulgação
de materiais de indução promocional, bem como o recurso às tecnologias de informação e
comunicação, à internet e às redes sociais virtuais e a criação de trabalho em rede com os
principais intervenientes locais da atividade turística, entre outros.
Em síntese, esta análise exploratória revelou-se fundamental e extremamente importante
para a compreensão e interpretação da realidade da atividade turística a nível municipal. Foi
possível observar que grande parte dos instrumentos de políticas públicas do turismo resul-
tantes do estado da arte são utilizados pelos municípios portugueses na mitigação de falhas
de mercado, existindo situações em que a própria intervenção dos municípios portugueses
acrescenta instrumentos de políticas públicas aos que decorrem da revisão de literatura. Mais
concretamente, são os casos da regulação no âmbito da promoção turística e dos mecanismos
hierárquicos de atuação no contexto das externalidades turísticas. No entanto, se atender-
mos à tipologia de instrumentos proposta por Weimer e Vining (2010), estas situações são
perfeitamente possíveis e ambas são tidas como soluções secundárias. Em termos gerais, de-
preendemos ainda que as formas de intervenção dos cinco municípios não demonstram, na
sua maioria, diferenças muito significativas. Somente em algumas situações observamos que
a atuação dos municípios revela diferenças consoante a sua dimensão, sendo o exemplo mais
proeminente a atuação do município do Porto no contexto da coordenação/planeamento da
atividade turística. Dada a inexistência de estudos prévios abrangentes sobre a temática em
estudo, os resultados desta análise foram/são cruciais para o desenvolvimento de trabalhos
futuros, nomeadamente a elaboração de inquéritos por questionário.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LEGISLAÇÃO

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turismo e define os instrumentos para a respetiva execução.
Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro (2013). Estabelece o regime jurídico das autarquias locais,
aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferên-
cia de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais
e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico.
52
53

ESTRATÉGIA E COMPETITIVIDADE DO SETOR


AGROALIMENTAR EM PORTUGAL
STRATEGY AND COMPETITIVENESS OF THE AGRIFOOD
SECTOR IN PORTUGAL
Deolinda Maria Fonseca Alberto1

RESUMO

O sector agroalimentar representa uma das fileiras estratégicas para a dinamização


da economia nacional. Nos últimos anos tem-se assistido a uma alteração no perfil das
empresas agroalimentares: a preocupação com a qualidade da matéria-prima, a diferen-
ciação do produto, a aposta no design e na marca e a internacionalização, constituem,
os principais elementos de diferenciação face ao perfil tradicional. Nesta comunicação,
utilizando como instrumento metodológico o modelo do Diamante de Porter proceder-
-se-á à análise dos fatores de competitividade e serão discutidos os vetores sobre os
quais deve assentar a construção das vantagens competitivas do sector agroalimentar
em Portugal.

Palavras chave: Portugal, Agroalimentar, Estratégia, Desenvolvimento

Abstract

The agrifood sector is one of the strategic sectors to boost the national economy. In
recent years there has been a change in the profile of agrifood companies: the concern
with the quality of the raw material, product differentiation, focus on design and brand
and internationalization, are the main elements of differentiation from the traditional
profile. In this paper using as a methodological tool the model of Porter Diamond, we
will analyse the factors of competitiveness and will be discussed the main drivers to sup-
port the construction of the competitive advantages of the agrifood sector in Portugal.

Keywords: Accounting Information; decision; indicators; POCP and POC- Education

1. INTRODUÇÃO

O setor agroalimentar em Portugal representa 20% da indústria transformadora; é consti-


tuído por 10.500 empresas, maioritariamente de pequena e média dimensão, emprega 104.000
trabalhadores e representa um volume de negócios de 14.600 milhões de euros (FIPA, 2015;
INE, 2015).

1
[email protected], Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Castelo Branco.
54
Segundo o Gabinete de Planeamento, Política e Administração Geral (GPP) do Ministério
da Agricultura e do Mar, o complexo agroalimentar representava em 2012, 4.1% do PIB, 12%
do emprego, 8.4% das exportações e 14.4% das importações (GPP, 2013).
Trata-se de um setor que contribui, decisivamente, para a internacionalização da economia
portuguesa: de acordo com (GPP, 2013), o crescimento médio das exportações do complexo
agroalimentar foi de 7.9%, claramente superior à taxa de crescimento médio anual das expor-
tações de bens que se cifrou em 3.4%.
Estes dados mostram, claramente, a importância do setor agroalimentar na economia por-
tuguesa, havendo, ainda, potencial de crescimento torna-se necessário definir os vetores sobre
os quais deve assentar a construção das vantagens competitivas.

2. CONCEITO DE COMPETITIVIDADE

Centrando a análise para os níveis nacional/regional e empresarial, verifica-se que as defi-


nições adotadas por instituições de referência apresentam algumas semelhanças entre si.
O Departamento de Comércio e Indústria do Reino Unido (Budd, L. e Hirmis, A., 2004)
enfatiza a relação entre competitividade e eficiência, apresentando competitividade como a
habilidade de produzir bens e serviços, que respondam às efetivas necessidades dos consu-
midores, de modo mais eficiente do que a concorrência. O Yearbook World Competitiveness
adota a definição de Garelli, S. (2006) segundo o qual a competitividade analisa a forma como
as empresas e/ou países gerem as suas competências, no sentido de alcançar lucro ou prospe-
ridade. O National Competitiveness Council (2007) incorpora a questão da equidade social,
definindo competitividade como a capacidade de obter sucesso nos principais mercados, para
conseguir melhores níveis de vida para todos.
A perspetiva da OCDE (2007) é semelhante mas introduz o conceito de sustentabilidade,
o que significa que, a competitividade, deve ser encarada como um conceito de longo prazo.
Esta organização define competitividade como a capacidade de empresas, indústrias, regiões,
nações ou regiões supranacionais gerarem, de forma sustentada e enquanto expostas à con-
corrência internacional, rendimentos de fatores e níveis de vida relativamente elevados. Para a
Comissão Europeia (2006) a competitividade é entendida como a forma da empresa/sector,
manter e acentuar a sua posição no mercado global. Estabelece-se, assim, uma relação entre
competitividade e globalização: a empresa é ou não competitiva em função da sua maior ou
menor participação no mercado global.
Inicialmente, o paradigma que regia a competitividade assentava no princípio das vanta-
gens comparativas que explicava a competitividade (quer ao nível da empresa, quer ao nível
regional) através da dotação dos recursos produtivos.
Na década de 1930 assiste-se a uma mudança de paradigma provocada, em parte, pela
contradição da lei de Say pronunciada em 1803: não é a oferta que cria a sua própria procura é
a procura que determina a oferta, pelo que a competitividade centra-se, agora, não nos baixos
custos derivados de altas dotações de recursos, mas sim, na diferenciação de produtos e sua
adaptação aos diferentes mercados. O desenvolvimento do comércio internacional, ocorrido
a partir da década de 50, veio relacionar competitividade com participação nos fluxos de co-
mércio internacional. A partir dos anos 80, verifica-se um forte acréscimo na concorrência,
impulsionada pelo crescimento económico dos países asiáticos; a concorrência adquire um ca-
rácter global e a competitividade centra-se na inovação, na tecnologia e na qualidade (Mateus,
A. et al., 2000; Pereira, M. 2005).
Porter, M. (1980) introduz o conceito de vantagem competitiva que se refere à diferença
entre o valor que uma empresa produtora de bens/serviços cria para os seus clientes e o custo
de produção desses mesmos bens/serviços.
A competitividade (a nível empresarial) passa a estar relacionada com a capacidade de
55
uma empresa em satisfazer os seus clientes, criando bens/serviços que sejam mais valoriza-
dos do que os produzidos pela concorrência. Atualmente as vantagens competitivas tendem
a ser explicadas por um conjunto de intangíveis como a qualidade, imagem, conhecimento
tecnológico, investigação e inovação (Morgan, B. et al., 2000; Mateus, A. et al. 2000). O acesso
às tecnologias de informação como fator de competitividade é enfatizado por Camagni, R. e
Capello, R. (2005).
Veliyath, R. e Zahra, S. (2000) consideram que a competitividade está intrinsecamente
relacionada com a tecnologia e a inovação uma vez que é a tecnologia que permite a criação
de produtos/serviços com alto valor acrescentado que gera emprego altamente qualificado e,
concomitantemente, proporciona salários mais elevados.
A complexidade de implementar um sistema de inovação conduziu a uma maior interação
entre os agentes envolvidos. Muitas empresas, devido à sua dimensão, não possuíam capital
nem recursos humanos suficientes para avançarem com um sistema próprio de investigação
e inovação; a resposta consistiu no estabelecimento de uma estrutura em rede (networking)
potenciadora das sinergias entre empresas (Morgan, B. et al., 2000).
Nestas redes, a participação do sector público, nomeadamente através de centros de inves-
tigação e desenvolvimento experimental, é crucial uma vez que estes centros atuam como di-
fusores do conhecimento, tentam dar resposta aos problemas concretos das empresas através
da pesquisa das soluções (tecnológicas e económicas) mais eficientes e, proporcionam o acesso
a fontes internacionais de conhecimento e tecnologia (Diez, J. 2000).

3. O MODELO DO DIAMANTE DE PORTER

O desempenho competitivo de um país, numa determinada indústria, resulta, segundo


Porter, M. (1990), da ação articulada de quatro determinantes que moldam o ambiente no qual
as empresas competem, estimulando ou impedindo a criação de vantagens competitivas. Esses
determinantes são:

i - As condições dos fatores, que remetem para a disponibilidade e qualidade dos re-
cursos humanos, físicos, de conhecimento e de capital. Podem-se subdividir em
básicos (recursos naturais, clima, localização, mão-de-obra não especializada e a
dívida de capital) e avançados (mão-de-obra altamente qualificada, instituições de
investigação e sistemas de comunicação digital). Estes fatores avançados são, in-
dispensáveis para a criação de vantagens competitivas de ordem superior nomea-
damente através da produção de bens e/ou serviços diferenciados e de alto valor
acrescentado.
ii - A estratégia, estrutura e rivalidade empresarial que dizem respeito às condições
que, no país, regulam a criação, organização e direção das empresas e a natureza da
rivalidade interna;
iii - As condições da procura que envolvem as características da procura interna para
um determinado bem ou serviço, nomeadamente a presença de clientes sofistica-
dos e exigentes;
iv - A existência de indústrias relacionadas e de suporte que remete para existência
ou não de indústrias fornecedoras e/ou relacionadas que sejam competitivas nos
mercados internacionais. Este determinante incorpora a questão das economias de
aglomeração e o seu efeito sobre a competitividade.

A estes atributos, Porter, M. (1990) juntou a ação do governo e o papel do acaso (aconte-
cimentos fora do controlo das empresas) e assim definiu o diamante da competitividade que
está esquematizado na figura seguinte:
56

Figura 1 – O modelo do diamante de Porter


Fonte - Porter, M. (1990)

O diamante funciona como um sistema interatuante e mutuamente fortalecedor, isto é o


efeito gerado por um determinante depende da aplicação bem-sucedida dos outros.
A competitividade do sector resulta da estrutura relacional evidenciada pela integração dos
determinantes que compõem o diamante; as condições nacionais não são igualmente propícias
para todos os sectores de atividade, pelo que os países têm mais probabilidade de obter êxito
em indústrias ou segmentos de indústria onde o diamante é mais favorável.
As diferentes configurações nacionais do diamante explicam porque as empresas de um
sector de atividade numa determinada localização, conseguem níveis superiores de produtivi-
dade relativamente a empresas similares mas sediadas noutro local.

4. APLICAÇÃO DO DIAMANTE DE PORTER AO SETOR AGROALIMENTAR

4.1. Estratégia, Estrutura e Rivalidade

No que respeita à estrutura o setor agroalimentar nacional caracteriza-se por uma acentua-
da atomicidade e grande dispersão quer geográfica quer por setor de atividade.
Os dados constantes na Tabela 1 mostram que 80.43% das empresas do setor tem menos
de 10 empregados enquanto as empresas com mais de 250 empregados representam, apenas,
0.32% do universo de empresas. Relativamente à distribuição do emprego, verificamos que
21.36% dos ativos estão nas empresas de menor dimensão; estas empresas contribuem com
9.99%para o VAB e representam 8.45% do volume de negócios.
Estes dados mostram, claramente, que se trata de um setor em que predominam as muito
pequenas e pequenas empresas o que dificulta a obtenção de economias de aglomeração e de
capacidade negocial nos mercados. A constituição de clusters pode ser um importante instru-
mento para ultrapassar este problema. Com o mesmo objetivo tem surgido algumas organi-
zações resultantes de estratégias de eficiência coletiva (como por exemplo a Portugal Foods e a
Portugal Fresh) que muito tem contribuído para a internacionalização do setor.
57
Tabela 1 – Caracterização Estrutural do Setor Agroalimentar

EMPRESAS EMPREGADOS VOLUME VAB


DE NEGÓCIOS
Nº % Nº % Milhões € % Milhões € %
IAB 10.485 100 104.209 100 14.600 100 2.580 100
Até 9 8.433 80,43 22.259 21,36 1.234 8,45 258 9,99
10 - 49 1.719 16,39 33.030 31,70 3.077 21,07 601 23,30
50 - 249 299 2,85 30.134 28,92 6.181 42,34 961 37,23
+ 250 34 0,32 18.786 18,03 4.107 28,13 761 29,48
Fonte: FIPA, 2015

No que respeita à distribuição percentual do número de empresas por subsetor de ativida-


de verifica-se uma predominância das indústrias de panificação (62% do número total de em-
presas). Este subsetor é, ainda, responsável por 41% do emprego ma indústria agroalimentar.
Relativamente ao volume de negócios verifica-se que os subsetores mais representativos
são os produtos cárneos, bebidas, lacticínios e frutos/ produtos hortícolas. No que respeita ao
VAB salientam-se os setores das bebidas, produtos de padaria e produtos cárneos. (Tabela 2).

Tabela 2 – Caracterização Estrutural dos Subsetores de Atividade Agroalimentar

Volume de Volume de Empresas Empregados VAB


Negócios Negócios
Milhões % % % %
de Euros
Indústrias Alimentares
e das Bebidas 14 600 100 100 100 100
10 – Indústrias Alimentares 11 668 80 89 87 75
101 – Produtos Cárneos 2 168 15 6 15 12
102 – Pesca e Aquacultura 1 078 7 2 7 6
103 – Frutos e Produtos
Hortícolas 578 4 3 4 4
104 – Óleos e Gorduras 1 165 8 5 2 4
105 - Lacticínios 1 503 10 4 6 9
106 – Cereais e Leguminosas 598 4 2 2 3
107 – Produtos de Padaria 1 645 11 62 41 21
108 – Outros Produtos Alimentares 1 449 10 5 7 11
109 – Alimentos Compostos
para Animais 1 484 10 1 3 5
11 – Indústria das Bebidas 2 931 20 11 13 25
Fonte: FIPA, 2015

Os dados são ilustrativos da grande dispersão subsetorial o que dificulta a implementação


de linhas estratégicas para o setor uma vez que se torna difícil definir quais os subsetores
prioritários.
No tocante à estratégia empresarial adotada verifica-se a coexistência de duas estratégias
distintas: as pequenas empresas que, em virtude da sua dimensão e, por vezes, da escassez de
matéria-prima adotam uma abordagem de nicho de mercado associada a um posicionamento
58
de especialista e, as grandes empresas que apostam na internacionalização usando a diferencia-
ção do produto como força competitiva e adotando um posicionamento challenger.
Importa referir que no período 2007/2012 a taxa média de crescimento anual das expor-
tações da indústria agroalimentar foi de 7.9% valor claramente superior à taxa média nacional
que se situou nos 3.4% (Portugal Foods, 2012).
É de realçar o esforço de inovação que tem vindo a ser feito por muitas empresas: inova-
ção a nível do produto (tabletes de fruta, por exemplo), embalagem (compota em bisnaga ou
azeite em spray), dos processos de produção (pressão a frio no fabrico de sumos de fruta), da
gestão e do marketing.
A aposta na qualidade, da matéria-prima e do produto final, é outra das forças competi-
tivas que importa considerar uma vez que, considerando a impossibilidade de competir pelo
custo, a indústria agroalimentar portuguesa terá, necessariamente, de competir pela qualidade
e diferenciação do produto.

4.2. Procura Interna

Os dados recolhidos pelo Inquérito às Despesas das Famílias 2010/2011 (INE, 2012),
mostram que as despesas com alimentação e bebidas não alcoólicas representam 13.3% do
total das despesas familiares. Segundo (APED, 2015), as vendas na área alimentar registaram
um aumento de 2.1% entre 2012 e 2013 enquanto a área não alimentar registou uma quebra de
6.1%. Estes dados mostram que, apesar do cenário de crise, o mercado interno tem evoluído
favoravelmente.
Os produtos agroalimentares portugueses beneficiam da confiança do consumidor e como
a autossuficiência ainda não foi atingida, existe potencial de crescimento. No entanto, a redu-
zida dimensão do mercado nacional impõe a necessidade de explorar os mercados internacio-
nais nomeadamente os extracomunitários.
As empresas devem, igualmente, estar atentas às tendências da procura nomeadamente no
que se refere à origem dos produtos, bem-estar animal e sustentabilidade ambiental. As novas
exigências dos consumidores estendem-se, igualmente, às embalagens que se querem mais pe-
quenas e, consequentemente melhor adaptadas às novas estruturas familiares, com informação
nutricional mais completa e com menor pegada de carbono.

4.3. Condições dos Fatores

Por fatores entendem-se todos os recursos necessários para o desenvolvimento do processo


produtivo; podem ser subdivididos em recursos humanos, físicos, de capital e de conhecimento.
O setor agroalimentar emprega 10.500 trabalhadores dos quais apenas 8% possuía, em
2012, habilitações ao nível do ensino superior; os trabalhadores com escolaridade básica repre-
sentavam 50.5% do total (Fooddrinkeurope, 2015). Estes dados mostram que há necessidade
de atuar ao nível da formação profissional no sentido de melhorar a produtividade do fator
trabalho.
O acesso ao mercado de capitais é dificultado pela dimensão das empresas e pelas restri-
ções ao financiamento ocorridas nos últimos anos; este fato pode ser um importante constran-
gimento à reconversão e/ou modernização das empresas.
A utilização de fundos comunitários de apoio ao investimento através do PRODER e
agora do PDR 2020, tem sido um importante instrumento para a criação e reconversão de
empresas agroalimentares, no entanto sua plena utilização está dependente da contrapartida
privada que nem sempre está disponível.
No que respeita aos fatores de conhecimento verifica-se que o investimento privado em
59
investigação e desenvolvimento de novos produtos é manifestamente insuficiente cifrando-se
em 0.5% do volume de vendas (INE, 2015).
Deste modo assumem especial interesse o estabelecimento de parcerias com instituições
do sistema nacional de ensino e investigação que possam desenvolver atividades de I&D e
que, posteriormente, promovam a transferência de conhecimento. Registe-se que no quadro
do PDR 2020 foram contempladas medidas de cooperação para a inovação e participação em
redes (grupos operacionais) e medidas transferência de conhecimento (capacitação/divulga-
ção e aconselhamento).

4.4. Indústrias Relacionadas e de Suporte

Nas indústrias relacionadas e de suporte destacam-se, a jusante, as empresas de distribui-


ção e, a montante as empresas fornecedoras de matérias-primas (nomeadamente bens agríco-
las) e as empresas relacionadas com as embalagens.
A jusante, a grande concentração das empresas de grande distribuição, fortemente orga-
nizadas e com elevado poder negocial, exerce uma forte pressão sobre as indústrias agroali-
mentares que, devido à sua fragmentação e dispersão não possuem argumentos empresariais
capazes de fazer frente às grandes empresas de distribuição. Deste modo, muitas empresas
encontram-se em posição de price-takers o que poderá ter consequências negativas na sua
sustentabilidade financeira. A concentração da oferta surge como o instrumento mais eficaz
para equilibrar esta relação.
A montante e no que diz respeito à articulação do sector agroalimentar com o setor agrí-
cola, verifica-se que em alguns setores como vinho, azeite e hortofrutícolas, a matéria-prima
é de origem nacional; no entanto, em outros setores, como a indústria de alimentação animal,
verifica-se uma forte dependência do mercado internacional com os consequentes reflexos ne-
gativos quer na balança comercial quer no valor acrescentado bruto uma vez que os consumos
intermédios são elevados.
Nas indústrias relacionadas com a embalagem encontramos empresas líderes de mercado
(caso da cortiça) ou com forte posição competitiva (plásticos, papel e cartão). São empresas
com forte incorporação tecnológica e precursoras da inovação o que fortalece a posição das
indústrias agroalimentares.

5. CONCLUSÕES

O Diamante apresenta alguns aspetos negativos que importa melhorar e aspetos positivos
que interessa potenciar.
Como aspetos negativos destacam-se a excessiva fragmentação das empresas, a falta de
qualificação da mão-de-obra, as dificuldades no acesso ao mercado de capitais, a dependência
do mercado internacional no que respeita a determinadas matérias-primas e a insuficiente
investigação e desenvolvimento de novos produtos.
Os aspetos positivos mais marcantes dizem respeito à qualidade da matéria-prima de ori-
gem nacional, à diferenciação do produto final, à modernização tecnológica que se verificou
em muitas empresas, ao esforço de internacionalização e conquista de mercados extracomuni-
tários e às estratégias de eficiência coletiva que tem vindo a ser construídas.
A construção das vantagens competitivas para o setor agroalimentar nacional deve, em
nossa opinião, assentar nos seguintes vetores:
• Orientação para o mercado apresentando produtos de qualidade com nítida dife-
renciação ao nível do produto base e do produto percetível;
• Orientação para o mercado acompanhando as tendências de consumo;
60
• Orientação para o mercado através da utilização de tecnologias de produção am-
bientalmente sustentáveis e eco eficientes;
• Aposta nas matérias-primas de origem nacional aproveitando o boom que está a
ocorrer no setor agrícola;
• Reforçar as estratégias de eficiência coletiva e deste modo ganhar dimensão que
permita o reforço da internacionalização e o aumento da capacidade negocial face
às empresas de distribuição;
• Melhorar o acesso ao mercado de capitais;
• Criação de redes colaborativas de modo a melhorar o acesso ao conhecimento e
potenciar a inovação;
• Apostar em políticas de comunicação fortes e que promovam a imagem de Portu-
gal nos mercados internacionais.

6 – BIBLIOGRAFIA

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62
63

EFICIÊNCIA DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA - LÂMPADAS


VAPOR DE SÓDIO DE ALTA PRESSÃO V.S.
TECNOLOGIA LED

PUBLIC LIGHTING EFFICIENCY - LAMPS STEAM HIGH


PRESSURE SODIUM V.S. LED TECHNOLOGY

Eduardo Augusto Diz Salvador1, António Borges Fernandes2 e Nuno Adriano Baptista Ribeiro 3

Resumo
O trabalho teve como principal objetivo a análise da comparação dos gastos entre
duas variantes para a substituição das luminárias, da iluminação pública em fim de vida,
tendo como referência a cidade de Macedo de Cavaleiros. Não se pretende elaborar
qualquer comparação com as características técnicas nem com a repartição de benefícios
entre autarquias e concessionários das redes de iluminação pública.
Na escolha da melhor opção teve-se por base o critério CAL – Custo Atual Líquido
uma vez que apenas foram comparados os gastos com as duas variantes. Pelo critério
utilizado verifica-se que a opção mais favorável, em termos económicos, é a tecnolo-
gia LED. Dado que foram estimadas duas variáveis, a variação da tarifa e o preço das
luminárias, foi elaborada uma análise de sensibilidade a qual indica que a instalação de
tecnologia LED torna-se ainda mais favorável com as alterações das variáveis utilizadas
na análise de sensibilidade.
PALAVRAS-CHAVE: Projeto de investimento, custo atual líquido, iluminação pública,
análise de sensibilidade

Abstract

The work had as main objective the analysis comparing the costs between two va-
riants for replacing light fixtures, street lighting end of life, with reference to the town
of Macedo de Cavaleiros. This is not to prepare any comparison with the technical cha-
racteristics nor benefit sharing between local authorities and concessionaires of public
lighting networks.
In choosing the best option we had to be based on the criteria NPC – Net Present
Cost since only were compared spending on the two variants. At criterion it is found that
the most favorable option in economic terms is the LED technology. In the absence of
estimated two variables, the variation of the rate and the price of fixtures, a sensitivity
analysis has been prepared which indicates that the installation of LED technology
becomes even more favorable to the variations of the variables used in the sensitivity
analysis.

KEYWORDS: Investment Project, Net Present Cost, public illumination, sensibility


analysis

1
[email protected], EDP.
2
[email protected], Instituto Politécnico de Bragança, UNIAG.
3
[email protected], Instituto Politécnico de Bragança, UNIAG.
64
1. INTRODUÇÃO

Desde há algum tempo que a despesa do Estado, e em particular as despesas dos municí-
pios, tem despertado o interesse público. O nível de endividamento de algumas autarquias tem
atingido níveis preocupantes. Neste contexto, Ribeiro e Jorge (2011) consideram ser funda-
mental controlar o endividamento dos municípios, pelo que emerge a necessidade de criação
de mecanismos que permitam, aos próprios e aos organismos de controlo, geri-lo e analisá-lo
de forma credível.
Parte significativa da despesa energética dos municípios está diretamente ligada à Ilumi-
nação Pública (IP), sendo este um dos mais importantes serviços prestados pelos municípios
(Ragone and Abreu 2007). Este facto tem motivado, em alguns autarcas, preocupação com a
eficiência das suas redes de IP. A nível do poder central, foram criados planos nacionais es-
tratégicos tendo por objetivo atingir certos níveis de redução no consumo de energia elétrica.
A possibilidade de investir em tecnologias alternativas, energeticamente mais eficientes,
originou o interesse em estudar a viabilidade de execução de duas variantes alternativas, ten-
do por objetivo substituir as luminárias em fim de vida que constituem a IP do município.
Uma das variantes é manter as lâmpadas de Vapor de Sódio de Alta Pressão VSAP sendo,
a outra variante, substituir toda a IP por tecnologia LED (Light Emitting Diode). Esta análise
não pretende a comparação técnica, entre as diferentes tecnologias disponíveis de IP, nem a
avaliação da eficiência das mesmas. Apenas se pretende determinar qual das duas variantes é
economicamente mais favorável. Neste sentido formula-se a seguinte pergunta de partida, que
é nosso propósito responder ao longo deste trabalho, tomando como referência, para análise,
o município de Macedo de Cavaleiros: É economicamente viável substituir a IP existente, do
município de Macedo de Cavaleiros, por tecnologia LED?
Para a consecução dos objetivos traçados, este estudo compreende, para além desta parte
introdutória, mais quatro Pontos: no Ponto 2 efetua-se uma revisão da literatura, sendo feito
o enquadramento teórico do tema. Neste Ponto são apresentadas as políticas e programas de
eficiência energética. São ainda expostos alguns conceitos e respetivos dados relevantes sobre
a IP em Portugal, mais especificamente no concelho de Macedo de Cavaleiros. No Ponto 3, é
apresentada a metodologia de investigação: objetivos e hipóteses de investigação, recolha dos
dados, variáveis utilizadas, tratamento e análise dos dados. O Ponto 4 apresenta a análise dos
resultados, onde se determina a variante economicamente mais favorável para o município.
Por último, no Ponto 5, serão apresentadas as principais conclusões da investigação, com refe-
rência a algumas limitações, bem como possíveis linhas de investigação futura.

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.1. Eficiência dos Municípios na gestão dos recursos

A necessidade da melhoria dos índices de eficiência, eficácia e economia na Administração


Pública, tem originado profundas alterações ao nível da gestão dos recursos públicos. Neste
âmbito, destaca-se o aparecimento do New Public Management, que segundo Gomes, Carvalho,
Ribeiro & Nogueira (2007) se carateriza por uma maior responsabilização e avaliação baseada
nos resultados.
Para Hood (1991) o New Public Management carateriza-se, de entre outros aspetos, por uma
maior profissionalização da gestão pública; aumento da competitividade entre organizações do
setor público; introdução de técnicas de gestão empresarial; ênfase na responsabilidade basea-
da nos resultados; e pelo aumento da disciplina, da economia e da racionalidade na utilização
dos recursos públicos, o que permite fazer mais, consumindo menos (eficiência).
No âmbito do New Public Management, a gestão eficiente dos recursos públicos também tem
65
sido uma prioridade dos Municípios (Lorenzo & Sanchez, 2007). Neste sentido, os respon-
sáveis municipais tentam, com o mínimo de recursos, prestar serviços (educação, urbanismo,
transportes, iluminação, etc.) com qualidade aos seus munícipes.
O estudo da eficiência municipal tem, segundo Lorenzo & Sanchez (2007), sido efetuado,
tendo por base duas linhas de investigação. A primeira relaciona-se com a análise global dos
serviços prestados pelos municípios. A segunda centra-se na análise individualizada dos servi-
ços municipais (fornecimento de água, transportes públicos, planeamento urbanístico, educa-
ção, etc.), com o objetivo de detetar pontos fortes e fracos na prestação de serviços.
Por exemplo, Karlaftis (2004) estudou a eficiência dos transportes públicos nos Estados
Unidos da América e concluiu que a eficiência e a eficácia apresentam uma relação positiva.
Já Settimi, Vidoli, Fusco, & Ballanti (2014) analisaram a eficiência dos serviços dos cartórios
municipais e concluíram que alguma ineficiência se relaciona com a dimensão dos municípios.

2.2. Iluminação Pública em Portugal

Uma iluminação de rua eficiente, de boa qualidade, bem dimensionada e bem distribuída é
um fator decisivo na melhoria dos índices de segurança pública, de segurança no trânsito e da
satisfação do contribuinte (Ragone & Abreu, 2007).
Os últimos dados da Agência para a Energia (ADENE 2011) indicam que o consumo
elétrico total, em Portugal, em 2013, foi de 46.272 GWh. Deste consumo, cerca de 3% são da
exclusiva responsabilidade da IP, como se verifica na análise da figura 1 correspondendo, em
termos absolutos, a 1.469 GWh. Os custos energéticos relacionados com a IP têm um peso
elevado no consumo de energia, nalguns casos, representam cerca de 70% das despesas dos
municípios com a fatura de energia elétrica. Atualmente estima se que a IP seja responsável
por cerca de 20% a 40% do custo de eletricidade de um município (EDP - Distribuição 2010)

Figura 1. Repartição dos consumos de energia elétrica em 2013 em Portugal.


Fonte: www.pordata.pt – acedido a 22/07/2015.

No distrito de Bragança, o peso relativo dos consumos de IP é ainda maior, quando com-
parado com o consumo a nível nacional, situando-se em 9% do consumo total, como se veri-
fica na análise à figura 2. Esta situação poderá dever-se a uma má gestão da IP, uma vez que a
exposição solar é idêntica em todo o país.
66

Figura 2. Repartição dos consumos de energia elétrica em 2013 no distrito de Bragança.


Fonte: www.pordata.pt – acedido a 22/07/2015.

A tendência, a nível nacional, até ao ano de 2009, foi de um aumento do consumo de


energia elétrica em cerca de 4% a 5% ao ano. A nível distrital este consumo, desde 2009, tem
vindo a contrariar a tendência nacional verificada até então, decrescendo entre 2.2% (de 2010
para 2011) e 5.6% (de 2011 para 2012) conforme se ilustra na figura 3.

Figura 3. Consumos de IP no distrito de Bragança em GWh


Fonte: www.pordata.pt – acedido a 22/07/2015

Esta redução é devida ao esforço implementado nas medidas de poupança e eficiência


energéticas encetadas pelos municípios. Até 31 de dezembro de 2012, os municípios tinham a
vantagem de usufruírem de uma tarifa exclusiva destinada à IP, regulamentada pela Entidade
Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), bem como a isenção de pagamento da taxa de
potência contratada. A partir desta data, a tarifa de IP deixou de ser regulada, acabando mesmo
por ser eliminada, passando os municípios a suportar também a taxa de potência contratada.
Esta situação originou um aumento da fatura com a IP, levando os municípios a tomar medi-
das de racionalização de consumos de energia elétrica (ERSE 2011).
De salientar que a eficiência dos sistemas de IP está ligada diretamente à qualidade de
vida dos cidadãos, de forma que, ações que promovam a excelência deste sistema resultam
em melhoria da qualidade de vida e desenvolvimento socioeconómico do município onde é
implantada (Ragone & Abreu, 2007).
O gráfico da figura 4 ilustra a situação referida, retratando a evolução da tarifa de IP de
2006 a 2012 (intervalo para o qual existe informação disponível).
67

Figura 4. Evolução da tarifa de IP - €/KWh


Fonte: ERSE

A Legislação e regulamentos aplicáveis à IP fixa, atualmente, as condições técnicas e de


segurança exigidas. O estabelecimento e exploração das instalações elétricas, está presente no
Regulamento de Segurança em Rede de Distribuição de Energia Elétrica. O Decreto-Lei n.º
341/90 faz referência aos Decretos-Lei n.º 297/86 de 19 de setembro, n.º 344-B/82 de 1 de
setembro, e n.º 449/88 de 10 de dezembro bem como à Portaria n.º 454/2001 que são funda-
mentais para uma melhor compreensão da legislação em vigor.
O Decreto-Lei n.º 297/86 de 19 de setembro, veio alargar o âmbito dessas entidades per-
mitindo, aos municípios, outorgarem concessões de distribuição de energia elétrica, em baixa
tensão, também a cooperativas. Sendo que, o Decreto-Lei n.º 344-B/82 de 1 de setembro, pelo
artigo n.º1, “estabelece que a distribuição de energia elétrica em baixa tensão, no continente,
compete aos municípios. Podendo estes exercê-la, ou por exploração direta ou, mediante regi-
me de concessão à EDP e a empresas públicas de âmbito local ou regional”.
Com a entrada em vigor, do Decreto-Lei 449/88 de 10 de dezembro, o acesso da iniciativa
privada às indústrias de refinação de petróleo, petroquímica de base e siderúrgica e ainda a
diversas atividades como o serviço de produção e distribuição de gás e energia elétrica para
consumo público, deixa de ser a EDP a única entidade distribuidora. Por seu lado, o artigo 3º
do Decreto-Lei 341/90 indica que, “os contratos de concessão entre os municípios e as enti-
dades referidas no n.º 3 e n.º 4 do artigo 1º serão celebrados pelo prazo de 20 anos, renováveis
por iguais períodos, e a sua denúncia, no termo do prazo ou das suas prorrogações, deverá ser
manifestada com uma antecedência mínima de dois anos.”
No que diz respeito à IP, em 2001, com a publicação da portaria n.º 454/2001, pelos n.º
6 e 7 do artigo 28.º do capítulo V, a gestão da IP passa a ser da inteira responsabilidade das
Câmaras Municipais, no que respeita a níveis e horários de iluminação e ao tipo e número de
aparelhos de iluminação e lâmpadas em serviço.
Por seu lado, o concessionário obriga-se a implementar o sistema de comando de IP que
for acordado com as Câmaras, bem como a mantê-lo atualizado e em bom estado de fun-
cionamento garantindo, desta forma, a necessária assistência à rede de IP, salvo se outra so-
lução for acordada. O n.º 1, do artigo 31 do capítulo V da referida portaria, considera ser da
competência do concessionário manter em bom estado de conservação as instalações de IP,
considerando o n.º 2 que o concessionário suportará inteiramente os encargos de conservação
dos aparelhos de IP e dos respetivos suportes, quer constituam, ou não, apoios da rede de
distribuição, desde que sejam do tipo corrente.
Desta forma, a gestão de toda a IP é da responsabilidade das Câmaras Municipais, no
entanto, cabe à concessionária, que normalmente é a EDP, garantir toda a conservação da IP.
68
2.2. Tipologia da iluminação pública

Em Portugal não é conhecido o número exato de focos de IP, ou pontos de luz, associado
à IP. Uma das causas, para este desconhecimento, deve-se ao facto de, quer as concessionárias,
quer os municípios, não terem pleno conhecimento do estado da rede de IP, nem existir um
cadastro atualizado com fiabilidade. No entanto, estima se que sejam mais de 4 milhões em
Portugal (Zeller, 2013). No que diz respeito ao distrito de Bragança, a realidade não é diferente
da verificada no país.
Atualmente a IP emprega dois tipos de tecnologia de lâmpadas, as lâmpadas de descarga
de alta pressão, que requerem a utilização de aparelhagem auxiliar (balastros, condensadores e
outros) e a tecnologia LED que requer a utilização de drivers.
Dos vários tipos de lâmpadas disponíveis, para os sistemas de IP, o estudo vai focar-se
apenas, nas tecnologias que fazem, ou é espectável que venham a fazer, parte da rede de IP no
distrito de Bragança (EDP - Distribuição 2010).
Estas podem-se diferenciar mediante as suas características técnicas e os seus parâmetros
de desempenho, tais como:
• Índice de restituição de cor (IRC;
• Temperatura da cor (K);
• Eficiência luminosa (lm/W);
• Potência (W);
• Tempo de vida (h);
• Custo (€);
• Fator de sobrevivência (FSL);
• Fator de manutenção da luminosidade da lâmpada (LLMF).
De seguida faz-se uma pequena descrição dos tipos de lâmpadas mais utilizadas na IP em
Portugal.

Lâmpadas de vapor de mercúrio de alta pressão

Esta tipologia foi desenvolvida por volta do ano de 1930 e teve um grande sucesso dado
que o seu desempenho representou, na altura, um melhoramento substancial face às lâmpadas
incandescentes. Esta tipologia atingiu o seu auge na década de 80, sendo, na época, uma das
mais importantes e mais utilizadas na IP.
As principais características técnicas, deste tipo de lâmpadas, encontram-se na tabela 1.

Tabela 1. Características das lâmpadas de Vapor de Mercúrio.


Potência 50 - 1000 (W)
Temperatura da cor 3000 - 5000 (K)
IRC 40 - 60
Eficiência 20 - 50 (lm/W)
Tempo de vida útil 16000 Horas
Fonte: (EDP - Distribuição 2010).

Este tipo de lâmpadas caracteriza-se ainda, pelo seu baixo custo. No entanto, com o surgi-
mento das lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão, a sua utilização foi preterida por dois
motivos. Pela sua baixa eficiência luminosa, e pelo facto de na sua composição ser utilizado
mercúrio, ambientalmente prejudicial e desaconselhável (EDP – Distribuição, 2010).
69
Lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão

A lâmpada de vapor de sódio de alta pressão caracteriza-se por ter uma excelente eficiência
luminosa e durabilidade elevada. Este tipo de lâmpada está disponível numa enorme gama de
formatos, extremamente úteis em diversas aplicações na IP.
As suas principais características técnicas são apresentadas na tabela 2.

Tabela 2. Características das lâmpadas de vapor de sódio alta pressão.


Potência 50 – 1000 (W)
Temperatura da cor 2000 – 3300 (K)
IRC 20 – 40
Eficiência 70 – 140 (lm/W)
Tempo de vida útil 16000 – 32000 Horas
Fonte: (EDP - Distribuição 2010).

As lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão são caracterizadas pela sua tecnologia mais
fiável e desenvolvida, não sendo por essa razão, espectáveis grandes melhorias na sua eficiên-
cia, para além do seu preço ser mais elevado que o das lâmpadas de mercúrio (EDP - Distri-
buição, 2010).

Lâmpadas de iodetos metálicos

A lâmpada de iodetos metálicos foi desenvolvida para colmatar o baixo índice de restitui-
ção da cor apresentado pelas lâmpadas de vapor de mercúrio e de vapor de sódio. As lâmpadas
de iodetos metálicos permitem uma melhor visualização da verdadeira cor do objeto. Estas
lâmpadas apresentam um grande número de aplicações, nomeadamente, em centros históri-
cos, monumentos, estádios de futebol e em algumas zonas residenciais.
Na tabela 3 são apresentadas as principais características técnicas das referidas lâmpadas.

Tabela 3. Características das lâmpadas de iodetos metálicos.


Potência 35 - 3500 (W)
Temperatura da cor 3300 - 5500 (K)
IRC 80 - 90
Eficiência 65 - 110 (lm/W)
Tempo de vida útil 12000 - 16000 Horas
Fonte: (EDP - Distribuição 2010).

Estas lâmpadas têm a desvantagem do seu preço ser elevado e a depreciação luminosa ser
elevada ao longo do seu tempo de vida útil. Estes pontos mais negativos levam a que a sua
utilização não seja massificada, sendo instaladas, pontualmente, em detrimento das lâmpadas
de vapor de sódio de alta pressão (EDP - Distribuição 2010).

Tecnologia LED

O desenvolvimento de novas tecnologias de fabrico e o aparecimento de novos materiais,


levam a que os LED venham a ser produzidos com custos cada vez menores, diversificando
o seu uso numa gama cada vez maior de aplicações. Tiveram início no mercado de iluminação
de interiores, substituindo cada vez mais as lâmpadas incandescentes, todavia o seu uso no
domínio da IP está a dar os primeiros passos.
70
As principais características técnicas encontram-se apresentadas na tabela 4.

Tabela 4. Características típicas dos LED.

Potência 1 - 8 (W)
Temperatura da cor 2700 - 10000 (K)
IRC 65 - 85
Eficiência 50 - 130 (lm/W)
Tempo de vida útil 30000 - 100000 Horas
Fonte: (EDP - Distribuição 2010).

A tecnologia LED apresenta como principais vantagens um menor envelhecimento pre-


coce, uma elevada eficiência (mais de 90% da energia consumida é transformada em luz), não
emite raios ultra violeta (logo não atraem insetos), comparada com as lâmpadas de vapor de
sódio de alta pressão emitem uma luz mais uniforme. O seu tempo de vida médio é bastante
elevado. Quando associadas a reguladores de fluxos, não modificam a tonalidade da cor da luz
emitida e a regulação do fluxo luminoso pode ir dos 100% até perto de 0% (Teixeira, 2006).
Esta tecnologia não é isenta de pontos menos positivos, e como desvantagens à tecnologia
LED são apontados distúrbios na rede, levando à necessidade de implementar sistemas de
proteção. É uma tecnologia recente por essa razão o custo de implementação é ainda elevado.
Tudo leva a crer que, com o passar do tempo, a luminosidade degradar-se-á de forma acentua-
da (EDP - Distribuição 2010).

Luminárias

Pode definir-se luminária como o conjunto ótico, elétrico e mecânico com a função de
distribuir a luz emitida pela lâmpada.
O sistema ótico de uma luminária é constituído por um refletor, um difusor, um refrator e, no
caso de possuir tecnologia LED, por uma ótica primária e outra secundária. Devem possuir suporte
para lâmpadas e para o equipamento auxiliar (e.g. balastros), para além do corpo ou carcaça.
Algumas luminárias podem considerar-se peças decorativas e de design, mas devem asse-
gurar o conforto visual com a máxima eficiência, evitar o encadeamento, satisfazer especifica-
ções elétricas e mecânicas que garantam segurança, proteger os dispositivos elétricos e óticos
de possíveis agressões atmosféricas e promover a dissipação do calor gerado pela lâmpada e
equipamentos auxiliares (EDP - Distribuição 2010).

2.3. Eficiência energética na rede de iluminação pública

A gestão dos sistemas de IP é, por vezes, bastante complexa. Uma gestão integrada das
redes de IP, que visa a minimização de gastos de manutenção (para a concessionária) e de
consumo, está diretamente relacionada a várias questões. Dentre elas, destacam-se: a escolha e
aquisição de produtos, a qualidade dos componentes, a capacitação técnica dos eletricistas que
realizam as intervenções na rede e os procedimentos de manutenção adotados pela empresa
concessionária (Ragone & Abreu, 2007).
Atualmente, a maioria dos municípios e entidades gestoras não tem noção exata da quan-
tidade de focos de IP instalados, nem da potência que lhes está associada. O cadastro da rede
de IP deve ser encarado como uma forma, dos municípios poderem gerir os ativos instalados.
É fundamental que as entidades gestoras implementem práticas que permitam a atualização
permanente do cadastro da rede de IP, de outra forma, mesmo existindo cadastro, ele perde
todas as suas potencialidades como ferramenta de gestão.
71
Nesse sentido, o Centro Português de Iluminação (CPI) elaborou o “Manual de Boas
Práticas para o Cadastro de IP”, com o intuito de despertar, nas entidades competentes, a ne-
cessidade de ter a rede de IP cadastrada com o mínimo de rigor e uniformização (Zeller, 2013).
Nos municípios surgiu a necessidade de desenvolver planos de poupança energéticos que
tivessem resultados imediatos. Essas medidas, consistiram principalmente em, desligar os fo-
cos de IP, efetuar a substituição de interruptores crepusculares por interruptores astronómicos
(pois este permitem regular a desligação mesmo antes do amanhecer e a ligação depois do
crepúsculo, podendo poupar entre 30 a 45 minutos por dia) ou, até desligar totalmente a IP
em meios rurais ou pouco frequentados durante a noite.
No entanto, estas medidas de poupança não se enquadram na definição de eficiência ener-
gética, podendo até por em causa a própria segurança, uma vez que podem criar sombras
perigosas para os utilizadores, retirando a qualidade de vida dos cidadãos.

2.4. Políticas de eficiência energética

Foi estabelecido para Portugal, no quadro das metas europeias “20-20-20”, um objetivo geral
de redução do consumo de energia primária de 25% e um objetivo específico para a adminis-
tração pública, sector onde se encontra enquadrada a IP, de uma redução de 30% (ERSE 2011).
A Estratégia Nacional para a Energia 2020 (ENE 2020), aprovada pela Resolução do
Concelho de Ministros n.º 29/2010, publicada no Diário da República 1.ª série n.º 73 de15 de
Abril, define as linhas estratégicas para o setor da energia, o qual assenta em cinco eixos e com
especial enfoque na competitividade, crescimento e independência energética de Portugal.
Por seu lado, o eixo 3, relativo à eficiência energética, tem por objetivo uma redução de 20%
do consumo final de energia em 2020, contemplando ainda outras medidas nomeadamente a
otimização dos modelos de IP.
No sentido de alcançar estes objetivos, no ano 2008, foi desenvolvido e publicado o Plano
Nacional de Ação para a Eficiência Energética – PNAEE.
Portugal desde 2008 que manifesta interesse na otimização do consumo de energia. Com
a Resolução de Concelho de Ministros n.º 80/2008, publicada no Diário da República 1.ª série
n.º 97 de 20 de Maio de 2008, o governo regulamentou o PNAEE 2008 para o período 2008-
2015 o qual pretende, através da intervenção nas áreas dos transportes, residencial, serviços,
indústria e estado, atingir como meta uma redução de 10% no consumo de energia total em
2015. Este plano identifica o setor Estado como área de intervenção para o qual foi desenvol-
vido o programa de Eficiência Energética. Este programa contém um conjunto de medidas
que, entre outras, englobam a IP. As seis medidas, para alcançar os objetivos de eficiência
energética na IP, são:

• Instalação de reguladores de fluxo como garante da melhoria de eficiência energética


na IP;
• Substituição de globos por equipamento com melhor capacidade de reflexão e neces-
sidade de lâmpadas de menor potência;
• Cumprimento de requisitos mínimos de eficiência energética para novas instalações;
• Phase out de lâmpadas de vapor de mercúrio na IP;
• Substituição de luminária e balastro eletrónico em instalações com mais de 10 anos;
• Sistemas de Controlo de Tráfego. Substituição das fontes luminosas nos sistemas de
controlo de tráfego e peões (tecnologia LED).

Este plano, devido a alterações políticas, teve necessidade de ser revisto, dando origem
ao PNAEE 2016 criado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 20/2013, publicada no
Diário da República 1.ª série n.º 70 de 10 de abril, 2013. Desta forma, PNAEE 2016 surgiu,
72
com a necessidade de rever o PNAEE 2008, com as alterações político-económicas do país
nos últimos anos acrescido de novas ações e metas. De forma resumida, no que à IP diz res-
peito, estas medidas incluem:
• Eliminação de lâmpadas de vapor de mercúrio até final de 2015.
• Substituir balastros ferromagnéticos por balastros eletrónicos em instalações com
mais de 10 anos;
• Substituição de luminárias por outras mais eficientes;
• Instalação de reguladores de fluxo.

2.5. Soluções de fomento da eficiência energética

Neste estudo pretendem-se equacionar três soluções, embora haja outras em fase de de-
senvolvimento, algumas já em fase de teste e outras até já devidamente implementadas, tais
como, os sistemas de telegestão4 e os sistemas stand-alone5.

Tecnologia LED
Para além das vantagens desta tecnologia, descrita no capítulo 2.2, a tecnologia LED per-
mite que, ao substituir uma luminária com lâmpadas de vapor de sódio de características idên-
ticas, se garanta um benefício decorrente do aumento da eficiência energética. Permite ainda,
através da instalação de um regulador de fluxo, a regulação da sua intensidade praticamente
dos 0% aos 100%. Esta tecnologia é pouco sensível a apagamentos e acendimentos constan-
tes, não se alterando consideravelmente o seu tempo de vida útil.
Ao contrário da tecnologia das lâmpadas de vapor de sódio, que tem um custo de manu-
tenção no final da sua vida útil, que representa cerca de 50%, a tecnologia LED tem um custo
de instalação superior. Em contrapartida, os custos de manutenção e energia são mais reduzi-
dos, devido à sua maior eficiência (Müllner & Riener, 2011).

Painéis solares na iluminação pública


De uma forma simples, este sistema é composto por um painel fotovoltaico ligado a uma
bateria. A bateria seria carregada através do painel fotovoltaico durante o dia, para durante o
período noturno usar essa energia na iluminação (Costa et al. 2009).
Esta tecnologia apresenta como principais vantagens:

• Ótima solução para zonas remotas, desprovidas de rede elétrica ou onde a sua imple-
mentação seja dispendiosa;
• Não é poluente;
• Custos reduzidos de operação, por ser independente e estar associado à tecnologia LED;
• Estão associados à tecnologia LED.

Estão, no entanto, subjacentes desvantagens, entra as quais:


• A poluição ou neve pode provocar uma redução da produção solar;
• Equipamentos caros, logo suscetíveis de roubo e custo de implementação superiores
aos convencionais;
• Difícil implementação em países com poucas horas de sol;

4
Permite às suas luminárias o controlo autómato por sensores de movimento, permite configurar o estado de todos os
parâmetros da luminária, bem como as temporizações das variações do fluxo luminoso e estabelecer comunidades
de luminárias por zonas.
5
Cada luminária comporta-se de forma independente graças à sua própria unidade de controlo.
73
• Custo de manutenção pode inflacionar, devido à necessidade de substituição de bate-
rias que representam entre 40% a 50% do custo do sistema;
• Maturidade dos painéis fotovoltaicos.

Reguladores de fluxo
Os sistemas de regulação de fluxo permitem a regulação da intensidade luminosa em pe-
ríodos de menor atividade. Este sistema permite diminuir o nível de luminância, sem limitar a
abrangência dos dispositivos luminosos, em período noturnos de menor tráfego.
Praticamente, todas as lâmpadas de descarga utilizadas na IP, podem ser reguladas, sem
interferências nas suas características. No entanto, consoante o tipo de lâmpada, cuja tensão
de alimentação é regulada, a poupança alcançada irá ser diferente. Este sistema permite, sem
recorrer à desligação de focos de iluminação, poupança energética entre 25% a 50%.
Existem diversos sistemas de regulação de fluxo. O mais utilizado é o chamado regulador
de fluxo à cabeceira (junto ao posto de transformação) o qual trabalha com o controlo da
tensão (redução da tensão).
O regulador de fluxo apresenta algumas vantagens, tais como:
• Poupança de energia;
• Nível de iluminação otimizado;
• Custos de manutenção reduzidos;
• Maior tempo de vida da lâmpada.

A utilização de reguladores de fluxos à cabeceira pode apresentar inconvenientes, dos quais


se destacam. O facto de, quando utilizados em postos de transformação com menos de 50
luminárias, a sua utilização torna-se economicamente pouco atrativa e quando utilizados em
redes de iluminação extensas podem causar problemas de ordem técnica. Em termos mais
técnicos, se a regulação for feita à cabeceira e não ponto a ponto, a diferença de potencial no
início e no final da linha poderá ser consideravelmente diferente. Ou seja, as lâmpadas que
realmente tiverem a tensão mínima admissível aos seus terminais permanecerão ligadas, ao
passo que as restantes apagar-se-ão. Em caso de falha na rede, algumas lâmpadas poderão não
ter um valor de tensão de ignição suficiente que lhes permita reacender-se.
Em termos de manutenção, o aumento do tempo de vida das lâmpadas proporcionado
pelos reguladores de fluxo vai, contrapor-se com o custo de manutenção deste, por serem
aparelhos eletrónicos, com um custo de manutenção elevado (EDP - Distribuição 2010).

3. METODOLOGIA

3.1. Caraterização da cidade de Macedo de Cavaleiros

O modelo que se pretende ilustrar, neste estudo, limita-se à área geográfica da cidade de
Macedo de Cavaleiros, situada no distrito de Bragança, na sub-região do Alto Trás-os-Montes.
Macedo de Cavaleiro é sede de um município com 699,14 Km2 e cerca de 15.776 habitantes,
dos quais 6.257 residente na sede de concelho (INE, 2014).
Segundo o município, com base em dados ainda provisórios, a tecnologia instalada conta
maioritariamente com lâmpadas VSAP. A tecnologia LED, sendo considerada uma tecnologia
imergente, não tem ainda uma grande expressão, representa apenas 3,44% do total de lâmpa-
das instaladas na cidade.
Tendo em conta os dados fornecidos, relativos ao n.º de lâmpadas de VSAP instaladas na
cidade de Macedo de Cavaleiros, foi calculado um valor aproximado do consumo anual de
eletricidade que o município suporta com a IP.
74
Tabela 5. Consumo IP em Macedo de Cavaleiros.

Tecnologia LED
Potência (W) Média Tarifa Dias Custo Nº Custo total
horas IP anual lâmpadas anual
func./dia lâmpada
Lâmpadas Acessórios
43 12,00 0,11 € 365 20,72 € 33 683,67 €
64 12,00 30,84 € 52 1.603,43 €
Subtotal 2.287,10 €

Tecnologia Vapor de Sódio de Alta Pressão


Potência (W) Média Tarifa Dias Custo Nº Custo total
horas IP anual lâmpadas anual
func./dia lâmpada
Lâmpadas Acessórios

70 9 12,00 0,11 € 365 38,06 € 433 16.480,93 €


100 12 12,00 53,96 € 78 4.209,00 €
150 17 12,00 80,46 € 1537 123.667,94 €
250 20 12,00 130,09 € 342 44.489,41 €
0,00 €
Subtotal 188.847,29 €
TOTAL 191.134,40 €

A tabela 5 apresenta os valores estimados dos consumos tendo em conta a potência unitá-
ria do sistema que inclui lâmpada e equipamentos auxiliares (ADENE 2011).

3.2. Abordagem da investigação

O trabalho segue uma abordagem de investigação quantitativa. Tal como consideram os


autores (Amaratunga, Baldry, Sarshar & Newton, 2002) o investigador assume a sua inde-
pendência perante a realidade, contempla a formulação e verificação das hipóteses, usando
normalmente ferramentas de índole quantitativa, socorrendo-se da adoção dos métodos das
ciências exatas às ciências sociais, de maneira a encontrar e deduzir uma relação de causalidade.
Dado que existe uma realidade objetiva do fenómeno em estudo, o trabalho segue a posi-
ção ontológica realista, sendo interpretado, pelo investigador, de forma objetiva. Relativamen-
te à posição epistemológica, e de acordo com a taxonomia desenvolvida por Chua (1986), o
trabalho segue uma posição positivista.

3.3. Objetivos e hipótese de investigação

Com o orçamento municipal cada vez mais reduzido, assim como os novos desafios da
eficiência energética, faz com que os munícipes tenham uma preocupação crescente com a
IP. Com o aproximar do final de vida da IP surge a dúvida se a mesma deve ser substituída
pela mesma tecnologia, lâmpadas de VSAP ou se toda a iluminação deve ser substituir por
tecnologia LED.
75
Deste modo, no ponto 4, serão analisados os gastos com estas duas variantes no município
de Macedo de Cavaleiros.
O objetivo anteriormente definido levanta a questão de investigação, indicada no Ponto 1
deste trabalho, sendo nosso propósito responder à mesma, ao longo deste trabalho. Adicional-
mente foi formulada uma hipótese de investigação, tendo como suporte a revisão da literatura
efetuada.
Desta forma, para se responder à pergunta de investigação, formulou-se a seguinte hipó-
tese geral de trabalho:

H1: É viável a substituição das iluminarias públicas por tecnologia LED.

Para dar resposta a esta questão, foram considerados dois cenários, nos quais se pretende
avaliar a melhor opção para a substituição de luminárias de vapor de sódio de alta pressão em
fim de vida, existentes na rede de IP. Num primeiro caso, será considerada a substituição por
uma nova luminária de VSAP, enquanto no segundo caso, será considerada a sua substituição
por uma luminária LED com características funcionais equivalentes.
Contudo, existem sistemas de IP inteligentes que permitem modos de gestão mais eficien-
tes, com poupanças de energia acrescidas, entre os quais se destacam os sistemas de telegestão.
Estes sistemas não serão tidos em conta neste estudo. O principal motivo da não inclusão
prende-se com o facto de ser fulcral o uso de tecnologia LED (sem grande expressão atual-
mente) para maximizar o potencial destes sistemas e assim obter maiores ganhos económicos.
Seria essencial fazer um primeiro investimento na tecnologia LED, para posteriormente se
poder tirar o máximo partido deste tipo de redes inteligentes e assim obter maiores proveitos
económicos. Pelos mesmos motivos, o uso de reguladores de fluxo, bem como, o uso de pai-
néis solares na IP, também não serão tidos em conta no presente trabalho.
Os custos de funcionamento da IP não são exclusivos de uma autarquia, por esse motivo,
são considerados os custos assim como os benefícios das diferentes partes, autarquia e con-
cessionária. Com a pretensão de separar a determinação do valor do projeto, da forma como
esse valor seria repartido pelas partes interessadas, as reduções de consumo de energia são
consideradas como ganhos e valorizadas à tarifa de IP.

3.4. Recolha de variáveis de investigação

No município de Macedo de Cavaleiros, como na maioria dos municípios, não existe o


cadastro de rede IP. A preocupação crescente na obtenção de uma gestão mais eficiente, destes
ativos, por parte das autarquias e das concessionárias, levou a que fosse iniciado um processo
de cadastro da rede de IP. Os dados fornecidos pela autarquia, são dados provisórios e ainda
não consolidados, mas traduzem valores muito próximos da realidade existente, os quais ser-
virão de base para a realização deste estudo. A tabela 6 ilustra a distribuição das lâmpadas por
tipo e potência na cidade de Macedo de Cavaleiros.

Tabela 6. Distribuição de lâmpadas por tipo e por potência.

Tipo Vapor Sódio LED Total


Potência 70 100 150 250 43 64
Quant. 433 78 1537 342 33 52 2475

O valor da tarifa de IP, utilizado neste estudo, será o valor de referência para o ano 2012
que é de 0,11€/Kwh. Os custos com a substituição das luminárias, em fim de vida, não serão
76
tidos em consideração, já que a substituição de luminária ocorrerá, qualquer que seja a tecno-
logia a instalar (VSAP ou LED).
De acordo com as características das lâmpadas enunciadas na revisão de literatura, a vida
útil média das lâmpadas, foi estimada tendo em conta as horas de funcionamento da IP, cerca
de 12 horas diárias. Este período de vida útil, no caso das lâmpadas VSAP, é de aproximada-
mente 5 anos, correspondendo a um valor médio de cerca de 24.000 horas.
No caso da tecnologia LED, o valor considerado por aproximação, será cerca de 15 anos,
o que corresponde a uma média de 65.000 horas. A tabela 7 apresenta, o custo relativo às lu-
minárias e respetivas lâmpadas VSAP. Estes preços são meramente indicativos e foram forne-
cidos pela autarquia de Macedo de Cavaleiros. Estas luminárias estão classificadas como sendo
do tipo corrente e são fornecidas, neste caso, pela EDP.

Tabela 7. Preço das luminárias VSAP.

Potência (W) 70 100 150 250


Luminária 35 € 41 € 54 € 73 €
Lâmpada 2,90 € 3,40 € 3,40 € 4,20 €

As luminárias com tecnologia LED, consideradas neste estudo, são fabricadas pela Arqui-
led, modelo Arquicity R1, cujos preços foram também fornecidos pela autarquia de Macedo
de Cavaleiros. Estes preços servem apenas de referência para este estudo, não são preços vin-
culativos, podendo sofrer alterações conforme as quantidades adquiridas ou o enquadramento
de um eventual concurso público.

Tabela 8. Equivalência entre luminárias VSAP e LED e preço das Luminárias LED.

Potência VSAP (W) 70 100 150 250


Equivalência LED (W) 31 47 72 128
Preço luminária LED 120,80 € 132,80 € 168,00 € 230,00 €

A tabela 8 apresenta as luminárias funcionalmente equivalentes das duas tecnologias utli-


zadas neste estudo, bem como o preço das luminárias LED.

3.5. Tratamento de dados

A análise das duas variantes tem em linha de conta apenas a comparação dos gastos, ao
longo dos anos, uma vez que não se verificam receitas. Desta forma, a comparação das duas
variantes é feita por intermédio do CAL – Custo Atual Líquido (Maurer, 2009).
O horizonte temporal, de previsão, para a tecnologia LED é elevado, 15 anos, como se
verificou no ponto anterior do trabalho. Como a tecnologia das lâmpadas de VSAP tem uma
vida, de apenas, 5 anos foi utilizado o menor múltiplo comum da vida das duas variantes, sen-
do a análise feita para os 15 anos para as duas variantes (Soares et al. 2015).
A previsão das necessidades, para um período de tempo tão longo, é muito complicado e
propensa a grandes incertezas sendo desenvolvido uma análise de sensibilidade para se poder
avaliar a exposição das variantes à incerteza (Ponciano et al. 2004; Soares et al. 2015). Consi-
derando ainda a longevidade da tecnologia LED, neste estudo, é usado o sistema de preços
constantes. Embora este sistema de preços possa sobreavaliar o VAL, esta opção elimina o
risco associado à previsão de uma taxa de inflação (Castro, 2003).
Por norma, a escolha da melhor alternativa de investimento seria aquela que apresentasse
77
maior VAL. Tratando-se do CAL, a escolha da melhor alternativa de investimento será aquela
que, a priori, apresente um CAL menor (Almeida, 2006). Não são tidas em conta as deprecia-
ções, contempladas na portaria 671/2000 de 17 de Abril, publicada no Diário da República 2.ª
série n.º 91 de 17 de abril de 2000, consideradas para a inventariação de imóveis do Estado,
pelo facto das autarquias não serem tributadas em sede de IRC.
Verifica-se, neste tipo de análise, que as entradas e saídas de dinheiro se escalonam no tem-
po, segundo as mais variadas sequências. Para se ultrapassar esta dificuldade utiliza-se a taxa de
atualização (Castro, 2003), sendo no presente trabalho os gastos atualizados, ao longo dos 15
anos, a uma taxa de atualização de 1%.

4. RESULTADOS

4.1. Tecnologia VSAP vs. LED

Com base na tecnologia atualmente instalada, e nos dados disponibilizados pelo município,
foi estimado o consumo anual de IP para a cidade de Macedo de Cavaleiros, apresentado na
tabela 5.
A manter-se a tecnologia existente lâmpadas de VSAP, no final da sua vida útil, a mesma
requer a realização de um investimento, em luminárias e lâmpadas, discriminado na tabela 9,
para continuar a fazer parte da IP do município.

Tabela 9. Investimento em luminárias com tecnologia VSAP.

Investimento

Potência Luminárias Lâmpada Nº lâmpadas Total



70 35,00 € 2,90 € 433 16.410,70 €
100 41,00 € 3,40 € 78 3.463,20 €
150 54,00 € 3,40 € 1537 88.223,80 €
250 73,00 € 4,20 € 342 26.402,40 €
Total 134.500,10 €

Para além do investimento indicado na tabela 9, a tecnologia VSAP requer a subs-


tituição das lâmpadas, em média, de 5 em 5 anos. Na tabela 10 são apresentados
os custos com a substituição das referidas lâmpadas discriminado por potência e
número de unidades instaladas.

Tabela 10. Custos substituição lâmpadas VSAP.

Custos substituição lâmpadas

Potência Custo unit. Nº lâmpadas Custo subst. Total



70 2,90 € 433 2,00 € 2.121,70 €
100 3,40 € 78 421,20 €
150 3,40 € 1537 8.299,80 €
250 4,20 € 342 2.120,40 €
0,00 €
Total 12.963,10 €
78
Considerando o equipamento, com tecnologia LED foi calculado o consumo de energia, em
IP para a cidade de Macedo de Cavaleiros, apresentado na tabela 11. Para a determinação destes
valores teve-se em linha de conta os dados constantes na tabela 5, bem como a equivalência entre
luminárias VSAP e a tecnologia LED, indicadas pelo fabricante da tecnologia LED.

Tabela 11. Consumo IP cidade de Macedo de Cavaleiros (LED).

Tecnologia LED
Potência (W) Média Tarifa Dias Custo Nº Custo total
horas IP anual lâmpadas anual
func./dia lâmpada
Lâmpadas Acessórios
31 12,00 0,11 € 365 14,94 € 433 6.467,20 €
43 12,00 20,72 € 33 683,67 €
47 12,00 22,64 € 78 1.766,28 €
64 12,00 30,84 € 52 1.603,43 €
72 12,00 34,69 € 1531 53.109,78 €
128 12,00 61,67 € 344 21.214,62 €
TOTAL 84.844,98 €

A tabela 12 indica o investimento que é necessário fazer-se para substituir, toda a IP da


cidade de Macedo de Cavaleiros, por tecnologia LED, discriminado por potência instalada.

Tabela 12. Investimento em luminárias com tecnologia LED.

Investimento
Potência Luminárias Nº lâmpadas Total
31 120,80 € 433 52.306,40 €
47 132,80 € 78 10.358,40 €
72 168,00 € 1531 257.208,00 €
128 230,00 € 344 79.120,00 €
Total 398.992,80 €

Com base nestes dados verifica-se que o consumo anual de energia é 55% inferior no
caso da tecnologia LED comparada com a tecnologia VSAP, embora o investimento inicial na
tecnologia LED é perto de 4 vezes superiores ao da tecnologia VSAP. De referir também que
no caso da tecnologia VSAP.

4.2. Custo atual líquido

Após a determinação dos gastos anuais, com as duas variantes, procedeu-se à determina-
ção dos gastos anuais líquidos, atualizados ao momento atual, para as duas variantes. Tal como
indicado, no ponto 3.5, o horizonte temporal, deste estudo, é de 15 anos dado ser a vida útil
maior das duas variantes. O custo atual líquido (CAL) é calculado, para cada uma das variantes,
tendo por base os valores de investimento e os consumos de energia anteriormente apurados.
Os valores apresentados na tabela 13 referem-se ao CAL da variante das lâmpadas de VSAP,
tecnologia atualmente instalada. Nesta variante é adicionado o valor necessário à substituição das
lâmpadas de 5 em 5 anos, ou seja, ao longo dos 15 anos as lâmpadas são substituídas 3 vezes.
79
Tabela 13. Custo atual líquido em investimentos em tecnologia VSAP.

Tecnologia existente
Anos 0 1 a 4 5 6 a 9 10 11 a 15
Investimento (€) 134.500 12.963 12.963
Gasto Anual (€) 191.134 191.134 191.134 191.134 191.134
Gasto Total Anual (€) 134.500 191.134 204.097 191.134 204.097 191.134
Taxa de atualização = 1% CAL = 2.808.658 €

Desta forma, o município tem um custo para os 15 anos, atualizado ao momento atual
com uma taxa de atualização de 1%, com a variante das lâmpadas de VSAP de 2.808.658€.
De seguida faz-se a mesma metodologia para a variante das lâmpadas com tecnologia
LED, apresentada na tabela 14.

Tabela 14. Custo atual líquido em investimentos em tecnologia LED.

Tecnologia LED
Anos 0 1 a 15
Investimento (€) 398.993
Gasto Anual (€) 84.845
Gasto Total Anual (€) 398.993 84.845
Taxa de atualização = 1% CAL = 1.575.373 €

Tendo em consideração, igualmente, uma taxa de atualização de 1%, obtém-se um CAL


para a variante de tecnologia LED de 1.575.373€.
A escolha da melhor variante a escolher, é claramente, a variante com tecnologia LED, pois
o CAL obtido apresenta um valor menor.

4.3. Análise de sensibilidade

Ao comparar duas variantes é fundamental conhecer a sua sensibilidade, a variações das


variáveis, uma vez que se está a trabalhar com valores previsionais. Esta é uma técnica que
permite avaliar a alteração de uma variável, dentro de um projeto, analisando o resultado dessa
alteração sobre o projeto inicial. Na elaboração desta análise é utilizada a diferença entre o
valor do CAL da variante relativa à tecnologia VSAP e o valor do CAL da variante relativa à
tecnologia LED. As duas variáveis utilizadas são a tarifa IP e o preço das luminárias de tecno-
logia LED. A tarifa de IP tem vindo a apresentar uma tendência crescente ao longo dos anos, a
ERSE (2011) considera que essa evolução regista um crescimento médio aproximado de 5,8%
ao ano. Nesta tendência considerou-se uma variação compreendida entre 0,5% e 10%, como
se verifica pela análise à tabela 15.
A tabela 15 evidencia que a escolha das variantes em estudo é sensível a variações da variá-
vel tarifa de IP. Por exemplo, um aumento médio de 6%, valor aproximado à média anual do
aumento da tarifa registado desde 2006, com o aumento do preço em apenas 0,0066 €/Kwh, a
diferença entre o valor do CAL dos dois projetos aumenta consideravelmente, cerca de 86.520
€. Com base neste cenário, pode-se inferir que, quanto maior for o aumento na tarifa de IP,
mais vantagens haverá em realizar o investimento da IP com a tecnologia LED.
Existe a expectativa da diminuição do preço das luminárias LED venha a ser uma realizada.
80
Esta tecnologia, considerada imergente, tem sido alvo de um apuramento tecnológico. A oferta
deste tipo de tecnologia regista uma crescente diversificação, o que obriga os fabricantes a colo-
car, no mercado, produtos cada vez mais eficientes e cada vez mais baratos. Razão pela qual, esta
tecnologia tem sido uma opção cada vez mais atrativa em detrimento da tecnologia de VSAP.
A massificação desta tecnologia pode levar a uma redução mais ou menos acentuada do
seu custo de instalação. Neste cenário, a análise de sensibilidade que se pretende elaborar,
apresentada na tabela 16, tem por base, tal como no caso do aumento da tarifa de IP, o valor
da diferença entre o CAL dos dois investimentos. Neste caso é induzido uma variação negativa
de 1% no preço das luminárias LED. Pela análise dos valores obtidos, verifica-se que a variante
com tecnologia LED é sensível à diminuição do preço das luminárias. Conclui-se que, quanto
maior for a redução no preço das luminárias, mais favorável se torna investir em luminárias
com tecnologia LED.
A análise anterior foi feita de forma uni variada, variando uma variável mantendo-se tudo o res-
to constante. Na análise multivariada faz-se a variação das duas variáveis em simultâneo, utilizando-
-se o mesmo conjunto de pressupostos que serviram de base para as observações anteriores.

Tabela 15. Análise de sensibilidade à variação da tarifa IP.

Tarifa Variação Δ CAL Tarifa Variação Δ CAL


0,1100 € 0,00% 1.233.285 € 0,1161 € 5,50% 1.312.595 €
0,1106 € 0,50% 1.240.495 € 0,1166 € 6,00% 1.319.805 €
0,1111 € 1,00% 1.247.705 € 0,1172 € 6,50% 1.327.015 €
0,1117 € 1,50% 1.254.915 € 0,1177 € 7,00% 1.334.225 €
0,1122 € 2,00% 1.262.125 € 0,1183 € 7,50% 1.341.435 €
0,1128 € 2,50% 1.269.335 € 0,1188 € 8,00% 1.348.645 €
0,1133 € 3,00% 1.276.545 € 0,1194 € 8,50% 1.355.855 €
0,1139 € 3,50% 1.283.755 € 0,1199 € 9,00% 1.363.065 €
0,1144 € 4,00% 1.290.965 € 0,1205 € 9,50% 1.370.275 €
0,1150 € 4,50% 1.298.175 € 0,1210 € 10,00% 1.377.485 €
0,1155 € 5,00% 1.305.385 €

Tabela 16. Análise de sensibilidade à variação do preço das luminárias LED.

Preço Δ CAL Preço Δ CAL

0% 1.233.285 € -11% 1.277.174 €


-1% 1.237.275 € -12% 1.281.164 €
-2% 1.241.265 € -13% 1.285.154 €
-3% 1.245.255 € -14% 1.289.144 €
-4% 1.249.245 € -15% 1.293.134 €
-5% 1.253.235 € -16% 1.297.124 €
-6% 1.257.224 € -17% 1.301.114 €
-7% 1.261.214 € -18% 1.305.104 €
-8% 1.265.204 € -19% 1.309.094 €
-9% 1.269.194 € -20% 1.313.083 €
-10% 1.273.184 €

A análise de sensibilidade multivariada permite concluir que, o investimento em tecnolo-


gia LED continua a ser sensível às alterações induzidas nestas variáveis em simultâneo. Com
81
naturalidade pode inferir-se que, a opção pela execução de um projeto de substituição de
luminárias com tecnologia LED pode revelar-se como uma escolha certa, tendo em conta os
resultados apresentados.

5. CONCLUSÃO

Com a elaboração deste trabalho, pretendeu-se analisar a viabilidade de duas variantes,


para a substituição da tecnologia atualmente instalada na Iluminação Pública - IP da cidade de
Macedo de Cavaleiros. A primeira variante consiste na substituição das luminárias em fim de
vida, por outras com a mesma tecnologia. No segundo caso, ponderasse a substituição da atual
tecnologia de iluminação, por outra tecnologia mais eficiente mas com custo de instalação
superiores como é o caso da tecnologia LED.
Os consumos energéticos, destas duas tecnologias, quando comparados para o modelo em
estudo, dão clara vantagem à tecnologia LED, onde os consumos apresentam uma redução de
cerca de 56% relativamente à da tecnologia das lâmpadas de VSAP. Apesar de esta vantagem
ser evidente, no que diz respeito a consumos, no que se refere aos custos de instalação a tec-
nologia LED apresenta um investimento superior em cerca de 39% quando comparada com
as lâmpadas de VSAP.
Os resultados apurados foram obtidos por intermédio do indicador Custo Atual Líquido
– CAL. A escolha de este indicador teve por base o facto da natureza dos cash-flows apurados
serem todos negativos uma vez que refletem apenas custos. Ao contrário do critério do Valor
Atual Líquido - VAL, onde é preferido o projeto com maior valor, neste contexto, o CAL
escolhe a variante que apresentar menor valor económico.
Como forma de complementar o estudo foi feita uma análise de sensibilidade às variáveis:
aumento do preço na tarifa de IP, à redução do preço da tecnologia LED e à variação destes
dois parâmetros em simultâneo. O resultado desta análise de sensibilidade mostrou que a
escolha é sensível às alterações destas variáveis. No entanto, pode-se concluir, pela análise de
sensibilidade que a instalação de tecnologia LED, na IP, é ainda mais favorável.
Conclui-se, por este meio, que a análise das duas variantes em estudo revelou que a ins-
talação de tecnologia LED se mostra claramente mais favorável, quando comparada com as
lâmpadas de VSAP, apresentando um CAL significativamente inferior.
As limitações deste estudo prendem-se com o facto de não haver redes de IP cadastradas.
Este facto limita o estudo a valores provisórios do número e tecnologia de lâmpadas existen-
tes. Os preços das tecnologias em estudo fornecidos pela autarquia podem sofrer alterações
significativas, dependendo do contexto e quantidades em que são adquiridos. As tarifas, que
deixaram de ser fixadas pelo regulador em 2012, são definidas de acordo com a opção tarifária
que for considerada mais favorável ao cliente. Este facto pode levar a que haja maiores flutua-
ções na tarifa da IP. O trabalho não teve em linha de conta o facto que determinados compo-
nentes, empregados na IP, podem permitir a sua reciclagem e verem a sua vida útil estendida
por mais alguns anos (Ragone & Abreu, 2007).
A IP pode tornar-se um tema para trabalhos futuros nomeadamente na realização de um
estudo técnico sobre o correto dimensionamento da IP, acompanhado por um estudo econó-
mico e financeiro que refletisse o impacto verificado nas contas de um município.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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83

FATORES DETERMINANTES DA LEALDADE


DOS CONSUMIDORES: ESTUDO APLICADO
AO SETOR DA MODA

DETERMINANT FACTORS OF CONSUMER LOYALTY:


APPLIED STUDY THE FASHION INDUSTRY

Jacinta Raquel Miguel Moreira1 e Sara Gomas Alves2

Resumo

O artigo tem como objetivo analisar a influência de um conjunto de fatores (ações


de fidelização, comportamento afetivo, satisfação, confiança e custos de mudança) na
lealdade dos consumidores no setor da moda. Para o efeito, considera-se um quadro
teórico que compreende a caracterização dos referidos fatores, que servirá de suporte
à formulação das hipóteses de investigação e respetivo estudo empírico. As hipóteses
são testadas com suporte em dados primários, recolhidos através de um questionário
desenvolvido para o estudo, os quais são analisados através de análise fatorial e modelos
de regressão logística. De acordo com os resultados do estudo, a lealdade dos consumi-
dores no setor da moda é influenciada e determinada pelo comprometimento afetivo,
satisfação, confiança e custos de mudança à marca/empresa.

PALAVRAS-CHAVE: Lealdade, Confiança, Satisfação, Ações de Fidelização, Compro-


metimento e Custos de Mudança

Abstract

The article aims to analyze the influence of a set of factors (loyalty actions, affec-
tive behavior, satisfaction, trust and switching costs) in consumer loyalty in the fashion
industry. For this purpose, it is considered a theoretical framework comprising the cha-
racterization of such factors, which will support the formulation of research hypotheses
and respective empirical study. The hypotheses are tested with support on primary data,
collected through a questionnaire developed for the study, which are analyzed by factor
analysis and logistic regression models. According to the study results, the loyalty of
consumers in the fashion sector is influenced and determined by the affective commit-
ment, satisfaction, trust and switching costs to brand/company..

KEYWORDS: Loyalty, Trust, Satisfaction, Loyalty Actions, Behavior and Switching


Costs

1
[email protected], ESTG, Instituto Politécnico de Leiria, CIGS.
2
[email protected], ESTG, Instituto Politécnico de Leiria.
84
1. INTRODUÇÃO

Atualmente, as empresas estão consciencializadas do poder do consumidor, em que tudo é


pensado e desenvolvido tendo em conta as suas necessidades, verificando-se, simultaneamen-
te, uma crescente preocupação com a produção de produtos customizados e personalizados
no sentido de mais facilmente garantir a sua lealdade (Schwartz, 2010).
Ao longo dos últimos anos foram desenvolvidos diversos estudos sobre a temática da
lealdade, embora aplicados sobretudo aos setores da banca, seguros e comunicações. Neste
estudo, optou-se por analisar o setor da moda, dado a sua representatividade económica em
Portugal, sendo que em 2013, segundo dados da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal3,
o setor representava 9% do total das exportações portuguesas, 19% do emprego da indústria
transformadora, 8% do volume de negócios da indústria transformadora e 8% da produção
da indústria transformadora.
A lealdade dos consumidores para com uma marca tem uma grande importância no pla-
neamento de uma estratégia de marketing, constituindo uma base para o desenvolvimento de
uma vantagem competitiva sustentável (Kotler & Pfoertsch, 2010). A este propósito, Aaker
(1996) e Hill & Alexander (2006) referem que a retenção de clientes, enquanto condutora da
lealdade, apresenta menos custos para as empresas, comparativamente à alternativa de con-
quista de novos clientes, tornando-se, por isso, numa estratégia mais rentável.
Jacoby & Chestrut (1978) definem a lealdade a uma marca como sendo um comportamen-
to de resposta verificado com a compra de um produto ou serviço, que partilha das seguintes
características: tendencioso, expresso num horizonte temporal, motivado para tomadas de
decisão, respeito por uma ou mais marcas e resultado de uma interação com processos psico-
lógicos. Considera-se também que a lealdade não surge em resultado de um ato isolado, mas
é antes influenciada por um vasto conjunto de fatores, entre os quais os programas ou ações
de fidelização (Uncles et al, 2003; Murray, 2006; Chaffey, 2009), o comprometimento afetivo
(Matilla, 2001; Prado & Santos, 2004) a satisfação (Oliver, 1999; Sugandhi, 2003), a confiança
(Berry, 1995; Crosby & Crowles, 1990; Rich, 2000) e os custos de mudança (Burnham et al,
2003; Lee et al, 2003; Gastal, 2005). Desta forma, com base nos fatores identificados, formu-
lam-se cinco hipóteses de estudo devidamente sustentadas na revisão da literatura que são
empiricamente testadas através de análises estatísticas.
Relativamente à estrutura do trabalho considera-se o seguinte: no ponto dois efetua-se a
revisão de literatura sobre a temática da lealdade e dos fatores com impacto na mesma; no
ponto três define-se o tipo de estudo, apresenta-se o modelo conceptual, formulam-se as hipó-
teses a testar e define-se a população, método de recolha de dados e amostra; no ponto 4 efe-
tua-se a análise dos dados obtidos, de modo a determinar a influência dos fatores identificados
na lealdade à marca no setor da moda. No último ponto apresentam-se as considerações finais.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A lealdade à marca verifica-se quando um consumidor compra um produto ou serviço da


mesma marca repetidamente, mantendo esta tendência de consumo mesmo perante outros
fornecedores da mesma categoria. Estes consumidores são menos sensíveis ao preço e as
empresas, em retorno, tendem a desenvolver programas de fidelização como forma de re-
compensar o seu comportamento. Os consumidores leais não necessitam de ser persuadidos
com ações de marketing dispendiosas, visto que tendem a louvar as características dos seus
produtos, fornecedores ou serviços preferidos e divulgam-nos pelos seus contactos (Grewal
& Levy, 2011).

3
www.atp.pt/gca/index.php?id=18
85
A lealdade pode ser considerada como uma medida da ligação do consumidor com a mar-
ca e reflete a probabilidade de mudança para outra marca devido a diferenças de preço ou de
outros fatores. Quanto mais fiel for o consumidor, menos vulnerável a marca se tornará em
relação à concorrência, porque o cliente estabelece uma relação de confiança com o produto
ou serviço, inserindo-o no seu dia-a-dia (Oliveira, 2009).
Um conjunto significativo de consumidores leais à marca transmite à empresa valor no
mercado através de diversos fatores, conforme se pode verificar na Figura 1. Todavia, um dos
fatores com maior impacto é a redução dos custos de marketing, visto que é mais económico
manter os consumidores já existentes do que atrair novos. Os consumidores potenciais, maio-
ritariamente, não têm motivação para mudar de marca, logo o custo será alto em contactá-los
porque estes não estão a fazer qualquer esforço para encontrar marcas alternativas. Em geral
é menos dispendioso manter os consumidores existentes felizes, reduzindo as razões que os
levem a mudar, do que atrair novos (Aaker, 1998).

Figura 1 - Valor da lealdade à marca


Fonte: Aaker (1998:48)

De modo a melhor compreender a temática da lealdade, considera-se um conjunto de fa-


tores impactantes, capazes de determinar a ligação de um cliente ou consumidor a uma marca,
nomeadamente: (i) as ações de fidelização; (ii) o comprometimento afetivo; (iii) a satisfação;
(iv) a confiança; e (v) os custos de mudança. O mesmo procedimento foi adotado nos estudos
de Souza (2009) e Costa (2011).
As ações de fidelização podem ser entendidas como veículos para aumentar e/ou manter
a lealdade a uma marca, diminuindo a sensibilidade ao preço, induzindo uma maior resistência
dos consumidores para combater ofertas ou contra-argumentos, enfraquecendo o desejo de
considerar marcas alternativas, incentivando a palavra de apoio e boca-a-boca, atraindo um
maior número de clientes e aumentando a quantidade de produtos comprados (Uncles et al,
2003). Os programas de fidelização são frequentemente usados para encorajar o prolonga-
mento e a retenção do consumidor, fazendo uso de um sistema de recompensas. Segundo
Chaffey (2009), os tipos de recompensas mais comuns praticados pelos programas de fideliza-
ção são: (i) pontos iniciais ao fazer o registo do cliente, quer online quer presencialmente; (ii)
pontos para desenvolver ou prolongar a relação com o consumidor, através da atribuição de
pontos adicionais numa segunda ou terceira compra; (iii) pontos adicionais por reativar a conta
com a marca; e (iv) oferta de produtos populares com um número baixo de pontos de forma
a encorajar a repetição de compra.
86
Neste seguimento, Murray (2006) considera que os programas de fidelização geram diver-
sos resultados positivos ou vantagens, nomeadamente:

i. Consumidores fazem compras de forma repetida, visto que fizeram uma escolha
consciente de compromisso com a marca em troca de recompensas;
ii. Dão a possibilidade de fazer comunicações de marketing personalizadas, usando os
dados disponibilizados pelos consumidores;
iii. Os dados recolhidos são de grande utilidade se forem analisados, possibilitando
seguir tendências de mercado, revelando mudanças significantes nas compras dos
consumidores;
iv. Minimizam o desperdício de ofertas personalizadas para consumidores que não
têm interesse nas mesmas;
v. Promovem a confiança e abrem caminho para a inserção de novos produtos e ser-
viços de modo a satisfazer os consumidores.

No que diz respeito ao comprometimento afetivo Prado & Santos (2004) caracterizam-no
como a dimensão atitudinal da lealdade e consideram que a lealdade é uma resposta compor-
tamental para uma alternativa de escolha a longo prazo, resultado de uma atitude positiva em
relação à marca, enquanto que o comprometimento afetivo resulta de uma ligação psicológica
que faz com que o consumidor desenvolva resistência à mudança para outras marcas. Mattila
(2001) considera que os consumidores que apresentam um alto nível de comprometimento
afetivo são mais resistentes à mudança e têm um comportamento positivo face à lealdade,
contrariamente aos que apresentam um baixo comprometimento afetivo.
No entendimento desta relação verifica-se que os consumidores estão psicologicamente
ligados à marca e o comprometimento desenvolve-se a partir do grau de reciprocidade e envol-
vimento pessoal do consumidor (Gustafsson et al, 2005). Os consumidores que têm um eleva-
do comprometimento afetivo são mais resistentes a trocar de marca do que os consumidores
com níveis inferiores e mostram um comportamento de lealdade mais positivo, sustentado
em laços emocionais, que resulta do facto do consumidor sentir familiaridade com a empresa
ou ter vivido uma experiência agradável com a mesma, o que, por sua vez, influencia as suas
decisões de compra (Mattila, 2001).
Um paradigma mais evidente identifica-se na relação entre a satisfação e a lealdade, uma
vez que muitos retalhistas consideram que a satisfação e a lealdade do consumidor são concei-
tos idênticos, visto que sentem que se o consumidor estiver satisfeito vai ficar automaticamen-
te leal à marca, o que não se reflete na realidade atual. De facto, existe uma diferença entre estes
conceitos, pelo que a satisfação é um sentimento sobre um acontecimento passado enquanto
a lealdade está relacionada com as ações que o consumidor terá no futuro (Sugandhi, 2003).
Oliver (1999) considera que estes dois conceitos são dependentes um do outro, na medida em
que a satisfação é um conceito chave para a conquista da lealdade e sem satisfação não poderá
haver lealdade por parte dos consumidores.
Kotler & Armstrong (2008) definem satisfação como o sentimento de prazer que resulta
da comparação entre o desempenho de um produto e as expetativas iniciais do consumidor.
Se o desempenho de um produto foi inferior ao esperado o consumidor ficará insatisfeito, se
igualar as expetativas este alcança a satisfação e se superar as expetativas o consumidor ficará
encantado. Além disso, os autores indicam que os clientes satisfeitos são menos suscetíveis ao
preço e permanecem com a marca durante um período de tempo mais alargado, para além de
que compram produtos adicionais à medida que a empresa lança produtos relacionados ou
quando efetua atualizações ou melhoramentos e falam favoravelmente da empresa às pessoas
que os rodeiam.
No que diz respeito à confiança, esta constitui um fator indispensável em relações de curto
e longo prazo entre o consumidor e uma empresa, visto que quanto maior for a confiança
87
maior será a probabilidade do consumidor realizar negócios com a empresa no futuro e man-
ter uma relação duradoura com a mesma (Rich, 2000). Berry (1995) salienta que à medida que
o consumidor aumenta a sua confiança na marca gera maior comprometimento, esperando-se
que a confiança aumente as probabilidades das partes se comprometam com um relaciona-
mento sustentado na lealdade.
A confiança pode ser definida como a crença do consumidor sobre como o prestador de
serviços irá cumprir as suas promessas (Morgan & Hunt, 1994). A confiança verifica-se quan-
do o cliente reconhece que o fornecedor é credível e íntegro e tem o know-how necessário
para cumprir com as suas promessas e obrigações contratuais (Gronroos, 2000). A confiança
do consumidor na marca ou empresa permite prevenir o risco inerente às trocas comerciais
e é um requisito básico tanto nos relacionamentos de longo prazo como nos de curto prazo,
gerando e mantendo a motivação do consumidor (Crosby & Crowles, 1990). Rich (2000)
considera que quanto maior for a confiança, maior será também a probabilidade do cliente
realizar negócios com a empresa no futuro e de manter um relacionamento duradouro, indutor
da lealdade.
Os custos de mudança, por sua vez, relacionam-se principalmente com os custos psico-
lógicos de terminar um relacionamento com uma marca com a qual se mantém uma relação
amigável e de longo prazo, funcionando como barreiras à mudança, embora nalguns casos
possam também compreender custos de caráter económico e/ou monetário (Verhoef, 2003;
Burnham et al., 2003; Caruana, 2004; Bordeaux-Rego & Feitosa, 2009). Verifica-se assim que
os clientes podem permanecer leais mesmo quando insatisfeitos, pressionados pelos custos
que poderão surgir ao mudar de fornecedor de um determinado produto ou serviço (Gastal,
2005). Burnham et al. (2003) e Lee et al. (2003) constataram no seu estudo que, tanto a satisfa-
ção como o custo de mudança, conduzem o consumidor à intenção de permanecer com um
determinado fornecedor, promovendo a lealdade.

3. METODOLOGIA

O estudo desenvolvido é do tipo quantitativo que, segundo Malhotra & Birks (2006), re-
sulta numa pesquisa conclusiva e com o objetivo de descrever algo. A sua escolha e utilização
prende-se com a pretensão de quantificar os dados recolhidos e posteriormente analisá-los
estatisticamente. Insere-se ainda na pesquisa descritiva e causal em que o seu objetivo princi-
pal é descrever algo específico e demonstrar características ou funções, definindo claramente
a informação necessária e formulando previamente as questões e hipóteses de investigação.
Além de seguir uma pesquisa descritiva e causal, o estudo é transversal único, visto que envol-
ve a recolha de informações de uma dada amostra de elementos da população numa só vez
(Solomon, 2013).
Tendo em consideração a revisão de literatura efetuada, o objetivo geral deste trabalho
consiste no estudo dos fatores determinantes da lealdade, concretamente aplicado ao setor da
moda em Portugal. Para tal, elaborou-se um modelo conceptual (Figura 2) que procura expli-
car a influência dos diferentes fatores identificados na lealdade à marca, contemplando uma
variável dependente e um conjunto de variáveis independentes.
Consideram-se como variáveis dependentes aquelas que dependem dos procedimentos da
investigação, tendo uma relação direta com as repostas que se procuram atingir com a inves-
tigação (Souza, 2009). No modelo concetual do estudo a variável dependente a considerar é a
lealdade, visto que este tem como objetivo estudar e compreender as influências da lealdade
à marca.
De forma a definir os determinantes da lealdade no setor da moda foram consideradas
diversas variáveis independentes, nomeadamente: (i) as ações de fidelização; (ii) o comprome-
timento afetivo; (iii) a satisfação; (iv) a confiança e (v) os custos de mudança.
88

Figura 2 - Modelo Conceptual


Fonte: Elaboração própria.

As hipóteses declaram possíveis razões para o problema de marketing e podem ser defi-
nidas como tentativa de solução, como uma declaração provisoriamente aceite do problema
de marketing ou como uma oportunidade, que irão definir a área da pesquisa e indicar a sua
direção (Wiid & Diggines, 2009). Apresentam-se de seguida as hipóteses de investigação.

H1 – As ações de fidelização influenciam positivamente a lealdade.

Os programas de fidelização podem ser vistos como veículos para aumentar e/ou manter
a lealdade a uma marca, diminuindo a sensibilidade ao preço, induzindo uma maior resistên-
cia dos consumidores para combater ofertas ou contra-argumentos, enfraquecendo o desejo
de considerar marcas alternativas, incentivando a palavra de apoio e boca-a-boca, atraindo
um maior número de clientes e aumentando a quantidade de produtos comprados (Uncles,
Dowling & Hammond, 2003).

A influência positiva das ações de fidelização sobre a lealdade foi comprovada por Kahn &
Schmittlein (1992) e Laroche, Habibi & Richard (2013), que referem que um consumidor que
tem uma intenção positiva de utilização das ações de fidelização promovidas por determinada
marca tem mais hipóteses de desenvolver uma relação de lealdade com a mesma.

H2 – O comprometimento afetivo influencia positivamente a lealdade.

Para Prado & Santos (2004) o comprometimento constitui uma dimensão atitudinal da leal-
dade e consideram que a lealdade é uma resposta comportamental para uma alternativa de es-
colha a longo prazo, resultado de uma atitude positiva em relação à marca. Do mesmo modo,
Mattila (2001) refere que os consumidores que apresentam um alto nível de comprometimento
afetivo são mais resistentes à mudança e têm um comportamento positivo face à lealdade.
Assim, considera-se que o comprometimento afetivo antecede a lealdade, conforme com-
provado empiricamente por diversos autores, cujos estudos comprovam a sua influência po-
89
sitiva sobre a lealdade dos consumidores (Schemwell, Cronin & Bullard, 1994; Mattila, 2001;
Bloemer & Odekerken-Schroder, 2002).

H3 – A satisfação influencia positivamente a lealdade.

A satisfação constitui um elemento chave para a conquista da lealdade e sem satisfação não
poderá haver lealdade por parte dos consumidores (Oliver, 1999), para além de que propor-
ciona a compra de produtos adicionais, diminui a sensibilidade dos consumidores ao preço e
promove a participação mais ativa dos clientes na empresa (Anderson, Fornell & Lehmann,
1994; Kotler e Armstrong, 2008). Segundo Oliver (1999), com o evoluir do relacionamento
entre o consumidor e a marca, a satisfação transforma-se progressivamente em lealdade.
Vários autores, nos seus estudos empíricos, relacionaram estes aspetos e concluíram que a
satisfação tem um forte impacto na lealdade, na medida em que as experiências consideradas
satisfatórias para o consumidor podem ter um impacto significativo e positivo na lealdade
(Garbarino & Johnson, 1999; Agustin & Singh, 2002).

H4 – A confiança influencia positivamente a lealdade.

A confiança pode ser etendida enquanto crença do consumidor acerca do cumprimento


de promessas e obrigações contratuais da empresa (Morgan e Hunt, 1994; Gronroos, 2000),
diminuindo o risco inerente às trocas comerciais e, simultaneamente, constituindo um dos
requisitos para as relações a longo prazo (Crosby & Crowles, 1990; Rich, 2000). Acresce que
a confiança depende não só das práticas de gestão da empresa mas também do comportamen-
to dos próprios colaboradores (Laurentos, 2009). A confiança do consumidor na empresa/
marca tem assim um impacto positivo na lealdade, uma vez que a lealdade resulta da intenção
comportamental de manter um relacioanmento duradouro com a empresa, o que, por sua vez,
só é possivel mediante a exist~encia de confiança no desempenho da empresa (Sirdershmukh,
Singh & Sabol, 2002).
Vários estudos empíricos confirmam que a lealdade é influenciada positivamente pela
confiança do consumidor numa determinada marca. Por exemplo os estudos de Singh & Sir-
deshmukh (2000) propõem um modelo para melhor se compreender os mecanismos-chave
que moldam a satisfação dos consumidores e a lealdade em transações contínuas, sendo que
a confiança determina a satisfação, enquanto Morgan & Hunt (1994) desenvolveram a teoria
compromissso-confiança aplicada ao marketing relacional.

H5 – O custo de mudança influencia positivamente a lealdade.

Burnham et al. (2003) definem custos de mudança enquanto custos associados ao proces-
so de mudança de um fornecedor para outro, sejam eles de caráter financeiro, relacional ou
processoal, sendo que na opinião de Verhoef (2003) funcionam como barreiras à mudança,
evitando assim que o cliente troque de fornecedor.
Lee et al. (2001), Patteson & Smith (2001), Burnham et al. (2003) e Gastal (2005) confir-
maram, através dos seus estudos empíricos, que os custos de mudança são reconhecidos por
influenciar a lealdade dos consumidores, sendo que esta situação se verifica maioritariamente
no setor dos serviço, com a utilização de contratos e em que os custos de mudança são mo-
netários, embora segundo Jones e Sasser (1995) essa lealdade nem sempre seja verdadeira,
mas antes derivada da obrigação do cliente permanecer com a marca para não incorrer num
aumento de custos.
Já no que diz respeito à população, métodos de recolha de informação e amostra, con-
sidera-se a população objeto de estudo homens e mulheres com mais de 18 anos, que ha-
bitualmente façam compras em lojas de marcas de moda (lojas de vestuário ou acessórios).
90
Pretende-se assim determinar, por um lado, se a utilização de programas de fidelização em
lojas de vestuário e acessórios constitui uma mais-valia para as marcas e, por outro lado, qual a
sua influência dos programas de fidelização no processo de decisão de compra dos consumi-
dores e consequente lealdade.
Como método de recolha de dados optou-se pela aplicação de um questionário, elaborado
em formato online através do programa Google.docs, divulgado entre os dias 29 de janeiro
e 15 de fevereiro de 2015, através da Internet (email e redes sociais) a indivíduos maiores de
18 anos residentes em Portugal, recorrendo-se assim à técnica de amostragem não-aleatória e
por conveniência.
O tratamento de dados foi realizado através de análise estatística utilizando o software de
análise estatística SPSS 20 (Statistical Package for Social Science 20). Da amostra recolhida de
356 questionários foram eliminados dois questionários por excesso de missing values, sendo a
amostra final composta por 354 respostas válidas.
De acordo com os dados recolhidos, verifica-se que a maioria dos respondentes são mu-
lheres (70%), com idades compreendidas entre os 18 e os 25 anos (44%) e com habilitações
literárias ao nível do ensino superior (68%). Quanto ao estatuto profissional da maioria dos
respondestes, verifica-se que estes são sobretudo quadros médios, superiores e empresários
(27%) ou empregados de comércio, serviços e administrativos (17%), têm agregados familiares
constituídos por 3 pessoas (30%) e o seu rendimento mensal está compreendido entre 1000€
e 1500€ (33%).
Acresce também que 58% dos inquiridos têm cartões ou fichas de cliente de alguma loja
de vestuário ou acessórios de moda. Dos 42% que responderam negativamente a esta questão,
15% justificaram a sua resposta pelo facto de não percecionarem vantagens ao aderir a cartões
ou fichas de cliente e 13% por nunca lhe terem proposto a sua adesão, entre outros fatores.
Através da análise dos dados recolhidos, constatou-se que as marcas de que um maior nú-
mero de inquiridos tem cartões de cliente são a Modalfa (33%), a Springfield (30%) e a Woman
Secret (15%), sendo a frequência de utilização de qualquer um deles esporádica ao longo do
ano. No que diz respeito à razão inerente à utilização dos cartões ou fichas de cliente, as três
principais razões identificadas são a acumulação de pontos nas compras efetuadas (44%), as
promoções exclusivas (32%) e os descontos ou prenda de aniversário (28%).

4. ANÁLISE DE DADOS

Para a análise das variáveis de estudo foi utilizado o modelo fatorial. Assim, recorreu-se ao
método de análise de componentes principais, sendo este um método estatístico multivariado
que permite a transformação de um conjunto de variáveis correlacionadas noutro menor,
composto por variáveis não-correlacionadas (componentes principais) (Pestana & Gageiro,
2005).
Primeiramente efetuou-se o teste KMO, que corresponde a um índice utilizado para medi-
ção da dimensão das variáveis e qualidade da análise fatorial. De acordo com os pressupostos
do teste de KMO, os valores desta medida estatística variam entre 0 e 1, sendo que os valores
abaixo de 0,6 indicam que a análise não é apropriada e é considerada medíocre; os valores
entre 0,6 e 0,7 são considerados fracos; os valores entre 0,7 e 0,8 são considerados razoáveis;
os valores entre 0,8 e 0,9 são considerados de bons e muito bons se superiores a 0,9 (Pestana
& Gageiro, 2005). O valor do índice de KMO do estudo apresenta na sua maioria valores
considerados razoáveis (0,7<KMO<0,8) e bons (0,8<KMO<0,9), com exceção da variável
custos de mudança que têm o valor de 0,69, por isso considerado fraco. Contudo considera-se
a análise fatorial apropriada dado todos os valores serem superiores a 0,6, tal como se pode
verificar na Tabela 1.
Para medição da confiabilidade das variáveis foi utilizado como indicador o coeficiente
91
Alpha de Cronbach que, segundo Malhotra & Birks (2006), indica o grau em que os itens que
compõem as escalas utilizadas para avaliar as variáveis estão integrados, verificando se as es-
calas produzem medições coerentes. O coeficiente permite avaliar a consistência interna dos
itens referentes a uma variável presente no estudo, analisando o efeito de um fator na variável,
testando se as médias das variáveis são em cada item iguais (Pestana & Gageiro, 2005). Este
coeficiente varia entre 0 e 1, considerando-se uma melhor consistência interna consoante a
proximidade do valor 1. Qualquer valor abaixo de 0,6 é considerado como insatisfatório em
relação à consistência interna (Malhotra & Birks, 2006).
A análise revela que a correlação dos itens é satisfatória em todas as variáveis, apresentando
valores superiores a 0,6 em todas as variáveis, sendo o valor mais elevado o correspondente ao
comprometimento afetivo (a=0,89).
O método de análise fatorial permite a redução da complexidade da interpretação dos
dados, analisando a percentagem da variância total que deve ser superior a 60% e a explicação,
através dos coeficientes (loadings), da variância máxima nos dados originais, que não estejam
correlacionadas entre si (Pestana & Gageiro, 2005). Conforme se pode observar na tabela os
valores da variância explicada ultrapassam os 60% à exceção da variável ações de fidelização
com 56,3%.
Em termos dos coeficientes (loadings) pertencentes a cada variável estes são escolhidos para
que as variáveis derivadas (componentes principais) expliquem a variação máxima nos dados
originais e não estejam correlacionadas entre si. São considerados significativos os loadings
iguais ou superiores a 0,5 (Pestana & Gageiro, 2005), tendo-se utilizado nesta análise o método
de rotação varimax.. Os itens com loadings com valores inferiores a 0,5 foram eliminados do
estudo, visto não serem pertinentes para a análise, considerando-se apenas os apresentados
na tabela.
Posteriormente, procedeu-se à análise do coeficiente de correlação de Pearson (r) que
mede a intensidade de um relacionamento entre duas variáveis. Os seus valores podem variar
entre -1 (se uma variável muda, a outra muda na direção oposta) e +1 (quando uma variável
muda, a outra muda na mesma direção e na mesma quantidade) (Field, 2009), sendo que quan-
to mais próximo os valores se aproximarem de -1 ou 1, maior é a associação linear (Pestana
& Gageiro, 2005).
Como se verifica na tabela, a associação linear entre as variáveis varia entre muito baixa a
moderada , oscilando entre 0,18 a 0,67.

Tabela 1 – Análise Fatorial

Variável Itens KMO Alpha de Variância Loadings Correlações


Cronbach Explicada Inter-itens
Lealdade L1 0,59
L2 0,64
L3 0,52
L4 0,56
L5 0,69
L6 0,77 0,79 75% 0,72 0,24 a 0,67
L7 0,73
L8 0,62
L9 0,69
L10 0,52
L12 0,62
L13 0,52
L14 0,69
92
Variável Itens KMO Alpha de Variância Loadings Correlações
Cronbach Explicada Inter-itens
Ações de AF2 0,79 0,76 56,3% 0,53 0,29 a 0,43
Fidelização AF5 0,5
Comprome- CA1 0,53
timento CA2 0,62
Afetivo CA3 0,77
CA4 0,61
CA5 0,79 0,89 74,2% 0,72 0,24 a 0,67
CA6 0,59
CA7 0,74
CA8 0,76
CA9 0,52
CA10 0,54
Satisfação S1 0,68
S5 0,74 0,80 72,8% 0,72 0,37 a 0,58
S6 0,64
Confiança C1 0,65
C3 0,5
C4 0,86 0,76 60,9% 0,63 0,18 a 0,58
C5 0,51
C6 0,55
Custos de CM2 0,69 0,61 67,3% 0,54 0,18 a 0,24
Mudança
Fonte: Elaboração própria

Os resultados obtidos na análise fatorial confirmam a unidimensionalidade de todas as


variáveis utilizadas no questionário, enquanto que os resultados obtidos na análise dos itens e
no alfa de Cronbach evidenciam que as escalas utilizadas têm uma consistência interna adequa-
da, pelo que todos os itens referenciados foram mantidos nas análises estatísticas posteriores.
De forma a dar continuidade à análise da relação entre as variáveis, pretende-se agora
realizar a análise da regressão linear múltipla, cujo objetivo concreto passar por testar as hipó-
teses definidas no ponto 3.2. de modo a averiguar a influência que as variáveis independentes
exercem sob a variável dependente. A análise de regressão linear múltipla é o método mais
adequado para verificar a relação entre uma variável dependente e um conjunto de variáveis
independentes (Pestana & Gageiro, 2005; Hair et al. 2010).
Um dos primeiros parâmetros a analisar no MRLM diz respeito ao valor do coeficiente
de determinação (R2), que correspondente à percentagem da variação da variavel dependente
explicada no modelo. O valor ideal do R2 é o mais proximo possível de 1, pois quanto mais
próximo estiver deste valor, mais forte é a relação entre a variável dependente e as variáveis
independentes. O presente estudo apresenta um R2 de 0,56 refletindo que mais de 50% da
variância da variável dependente lealdade é explicada pelo modelo.
Seguidamente, através da análise ANOVA efetuou-se o teste global de significância da re-
gressão, ou teste de precisão do ajustamento. Esta análise fornece um teste de significância es-
tatística (F) em relação à variância entre as variáveis independentes e a variável dependente, em
que quanto maior for o valor F em relação à significância, maiores são as hipóteses de se rejei-
tar a hipótese nula, ou seja da não existência de diferenças entre as variáveis (Malhotra & Birks,
2006). Neste caso, o modelo apresenta um valor de F de 52,15, significativo ao nível de 0,00,
93
o que indica que a relação linear é estatisticamente significativa e que o modelo apresentado é
adequado para medição da relação entre as variáveis independentes e a variável dependente.
Após a verificação das medições referidas anteriormente e de forma a sintetizar os resulta-
dos obtidos, elaborou-se a análise da avaliação global do modelo de regressão linear, tal como
apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Avaliação global do modelo de regressão linear

B Desvio Padrão Estatística T Significância

(constante) 9,397 2,277 4,128 0,00


Ações de fidelização 0,103 0,182 0,564 0,573
Comprometimento afetivo 0,343 0,057 5,978 0,000
Satisfação 0,875 0,189 4,630 0,000
Confiança 0,552 0,136 4,045 0,000
Custos de mudança 0,710 0,304 2,336 0,020
Medidas globais de avaliação do modelo: R2= 0,56 /R2a= 0,57/F= 0,52 / Sig.=0,05
Fonte: Elaboração própria

A hipótese H1 previa uma influência positiva das ações de fidelização na lealdade do consu-
midor. Esta hipótese não é suportada no presente estudo visto que a variável ações de fidelização
não é estatisticamente significativa a um nível de 5%, rejeitando-se assim a hipótese de que as
ações de fidelização tenham influência positiva na lealdade dos consumidores no setor da moda.
A hipótese H2 determinava uma influência positiva do comprometimento afetivo sobre
a lealdade do consumidor. Esta hipótese é suportada no presente estudo, uma vez que a va-
riável comprometimento afetivo apresenta um coeficiente positivo e representativo (p=0,34)
e significativo ao nível de 5%, confirmando desta forma que o comprometimento influência
positivamente a lealdade do consumidor no setor da moda. Assim, quanto maior for o com-
prometimento afetivo do consumidor com a marca, maior a tendência para a lealdade à marca.
Também Freire (2005) concluiu no seu estudo sobre a influência do envolvimento com o
produto e do comprometimento com a marca na lealdade à marca, que o comprometimento
afetivo influência positivamente a lealdade dos consumidores e que o seu impacto é maior em
serviços em comparação com produtos. Outros estudos empíricos comprovam esta relação,
referindo o comprometimento afetivo como antecedente da lealdade (Schemwell et al,1994;
Matilla, 2001; Bloemer & Odekerken-Schroder, 2002).
A hipótese H3 indicava uma influência positiva da satisfação na lealdade dos consumido-
res. Esta hipótese também é suportada pois a variável satisfação apresenta um coeficiente posi-
tivo (p=0,87) e significativo, confirmando que a satisfação influencia positivamente a lealdade
do consumidor no setor da moda, pelo que quanto mais o consumidor estiver satisfeito, maior
a probabilidade de ser leal à marca.
À semelhança do presente estudo, diversos autores confirmam que a satisfação tem um
forte impacto na lealdade e sem a sua existência esta não poderá ser alcançada (Gabarino
& Johnson, 1999; Agustin & Singh, 2002). Contudo, conforme referido por Oliver (1999)
a satisfação por si só não se transforma em lealdade, dependendo de outros fatores como a
determinação pessoal e o suporte social, necessários para o consumidor avançar da satisfação
para a lealdade.
A hipótese H4 previa uma influência positiva da confiança na lealdade dos consumidores.
Tal hipótese é suportada dado que apresenta um coeficiente positivo (p=0,55) e é significativa ao
nível de 5%. Assim, pode-se afirmar que quanto maior for a confiança do consumidor na marca,
maior a tendência para a lealdade à marca. Os resultados alcançados vão ao encontro das conclu-
94
sões dos estudos de Morgan & Hunt (1994) e Singh & Sirdeshmukh (2000), que referem que a
confiança dos consumidores conduz a relações duradoras com a marca e à lealdade.
A hipótese H5 preconizava uma influência positiva dos custos de mudança na lealdade
dos consumidores. Esta hipótese é suportada visto que apresenta um coeficiente positivo (p=
0,71) e significativo, confirmando desta forma que os custos de mudança influenciam positiva-
mente a lealdade do consumidor no setor da moda, pelo que quanto mais elevados forem os
custos de mudança para o consumidor, maior a sua predisposição para ser leal à marca.
Também Burnham et al. (2003) no seu estudo na área dos serviços telefónicos de longa
distância nos EUA, concluíram que a satisfação e os custos de mudança levam a que o consu-
midor queira permanecer com o seu fornecedor. Os autores verificaram que os custos de mu-
dança apresentam valores superiores de influência na retenção de clientes comparativamente à
satisfação. Gastal (2005) replicou a investigação de Burnham et al. (2003), aplicando a mesma
no Brasil, concluindo igualmente que os custos de mudança estão relacionados com a lealdade
exercendo na mesma um impacto positivo e superior ao exercido pela satisfação.
Em conclusão, verifica-se que das variáveis apresentadas como suscetíveis de influenciar a
lealdade do consumidor no setor da moda e tendo em conta o tratamento estatístico realizado
aos dados recolhidos, apenas as ações de fidelização não exercem uma influência positiva na
lealdade, sendo a lealdade determinada pelo comprometimento afetivo, satisfação, confiança
e custos de mudança.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo analisar a influência de um conjunto de fatores na leal-
dade dos consumidores no setor da moda, considerando-se as ações de fidelização, o compro-
metimento afetivo, a satisfação, a confiança e os custos de mudança. Com base nestes fatores
formularam-se posteriormente cinco hipóteses de estudo que foram testadas empiricamente
através de análise estatística.
Os resultados da análise estatística indicam que à exceção das ações de fidelização, as
restantes variáveis consideradas são determinantes da lealdade dos consumidores da amostra,
indo ao encontro dos diversos estudos analisados e cujos resultados referem estes componen-
tes como antecedentes da lealdade (Morgan & Hunt, 1994; Schemwell et al., 1994; Augustin
& Singh, 2002; Burnham et al., 2003). Do conjunto de variáveis consideradas verifica-se que a
satisfação e os custos de mudança constituem os maiores determinantes da lealdade, com um
peso de 0,875 e 0,710, respetivamente, pelo que se torna indispensável que as empresas traba-
lhem no sentido de garantir a satisfação dos seus consumidores e clientes, ao mesmo tempo
que lhes devem proporcionar uma relação com base na confiança mútua, de modo a promover
a fidelização das mesmas à marca ou empresa.
Do estudo apresentado resultam algumas considerações que podem ser entendidas sob a
forma de contribuições, limitações e sugestões para futuras investigações, conforme se apre-
senta de seguida.
O principal contributo deste trabalho consistiu num input teórico para as empresas no
sentido de enfatizar a necessidade da prática do marketing relacional, concretamente através
de um alerta para um conjunto de fatores que de facto são importantes e preponderantes
quando se tem como objetivo a fidelização de clientes. Por sua vez, considera-se também que
o presente trabalho tem um caráter inovador na medida em que visa o estudo de um setor com
uma grande importância económica no país, mas que não é muito explorado no âmbito dos
estudos em marketing relacional, o que pode ser encarado como um ponto de partida para o
desenvolvimento de estudos posteriores, mais aprofundados teoricamente.
No que diz respeito às limitações do presente estudo, estas, apesar de constituirem alguns
pontos menos positivos no trabalho, podem ser encaradas como sugestões para futuras in-
95
vestigações na área. A primeira sugestão prende-se com o alargamento da amostra, de forma
a elaborar uma análise mais completa e fiável, expandindo o estudo por um maior número
de consumidores. Outra limitação do estudo prende-se com as variáveis apresentadas, o que
apesar de na sua maioria terem sido confirmadas estatisticamente, não vieram acrescentar
contributos novos ao desenvolvimento da área. Desta forma, seria interessante a introdução
de novas variáveis que desafiassem os estudos até agora desenvolvidos, de forma a percecionar
novas influências que os consumidores possam sentir na sua lealdade a uma marca. Sugere-se
igualmente a elaboração de estudos com uma maior abrangência em termos de setores, de for-
ma a comparar a influência de um conjunto amplo de fatores na lealdade dos consumidores e
clientes em setores diferenciados, por forma a concluir em que setores estes fatores têm maior
relevância para os consumidores e influenciam de facto a sua lealdade.
Por último, os resultados deste estudo sugerem diversas recomendações estratégicas para
as marcas do setor da moda, concretamente ao nível da sugestão de melhorias para atingir a
lealdade dos consumidores. Assim e conforme os resultados obtidos, as ações de fidelização
levadas a cabo pelas empresas do setor da moda em Portugal não são percecionadas como
relevantes para os consumidores, visto que estas não influenciam a lealdade dos consumidores
nem o seu processo de compra. Uma das causas possíveis para justificar esta insignificância
percecionada pelos consumidores em relação às ações de fidelização, prende-se com o facto
de estas não oferecerem vantagens consideradas pelo consumidor como valiosas. A este pro-
pósito, Schulz (1998) questiona a adequação da elaboração das ações de fidelização feitas pelas
marcas atualmente, pois acredita que muitas não passam de ações promocionais isoladas, não
contribuindo para a construção da lealdade a longo prazo. Por outro lado, para obter resul-
tados positivos e significativos na lealdade dos consumidor através da utilização de ações de
fidelização, é necessário definir objetivos e direcionar os esforços para os atingir (Hart, 2000),
de forma a transmitir valor para o cliente, pois este necessita de percecionar os ganhos pro-
venientes da relação com a empresa e, por sua vez, a empresa utiliza essa relação para reunir
dados a sua respeito (Raider, 1999). Johnson & Leger (1999) consideram que, para se obter
resultados positivos através das ações de fidelização, é necessário ter em atenção quatro etapas:

(i) Selecionar adequadamente os clientes, ou seja definir corretamente o público-alvo


da estratégia de fidelização e compreender as variáveis que estes valorizam;
(ii) Entregar valor adicional, utilizando informações acerca das variáveis valorizadas
pelo cliente e proporcionar-lhes um acesso diferenciado às mesmas, de forma a
estimular a sua participação;
(iii) Fomentar continuamente o relacionamento, procurando um contacto frequente
com os clientes através de ofertas e comunicações personalizadas;
(iv) Percorrer o caminho correto, avaliando e promovendo ajustes nas ações realizadas
de forma a potenciar os resultados.

Bolton et al. (2000) referem que as ações de fidelização apenas causam impactos positivos
a longo prazo se as experiências que os consumidores tiverem com a empresa forem conside-
radas satisfatórias, salientando desta forma a necessidade de satisfazer os clientes de modo a
atingir a lealdade.
Em conclusão e de acordo com os resultados obtidos, foi verificada uma influência positi-
va exercida pelo comprometimento afetivo, a satisfação, a confiança e os custos de mudança na
lealdade, pelo que as marcas, para atingirem a lealdade dos consumidores, terão de ter em con-
ta estas variáveis, preocupando-se em inclui-las nas suas estratégias de marketing relacional.
96
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO

Tabela 3 - Descrição das empresas da população e respetivos setores de atividade

BEL20 PSI20
Empresa Setor Empresa Setor
Ackermans & van Haaren Serviços financeiros Altri Indústria Geral
Ageas Seguros de vida BPI Bancário
ABInBev Bebidas BCP Bancário
Befimmo-Sicafi Investimento imobiliário BES Bancário
Bekaert Indústria Geral Brisa Transportes
Belgacom Telecomunicações Cimpor Materiais de construção
Cofinimmo Investimento imobiliário EDP Renováveis Eletricidade
Colruyt Comida e medicamentos a retalho EDP Eletricidade
Delhaize Group Comida e medicamentos a retalho Galp Energia Produtor de óleos e gases
DIETEREN Retalho especializado Inapa Florestal e Papel
GBL Serviços financeiros Jerónimo Martins Comida e medicamentos
a retalho
GDF Suez Gás, Água e Múltiplos Mota-Engil Materiais de construção
KBC Group Bancário Portucel Florestal e Papel
Mobistar Telecomunicações móveis Portugal Telecom Telecomunicações
NYRSTAR Indústria de Metais e Mineração REN Eletricidade
Omega Pharma Farmacêutico e Biotecnológico Semapa Florestal e Papel
Solvay Químico Sonae Comida e medicamentos
a retalho
Telenet Group Média Sonae Indústria Materiais de construção
UCB Farmacêutico e Biotecnológico Sonaecom SGPS Telecomunicações Móveis
Umicore Químico ZON Multimedia Média

Fonte: www.euronext.com
99

AÇÕES DE FIDELIZAÇÃO DO CLIENTE


NO HOTEL VILLA BATALHA

CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT


IN HOTEL VILLA BATALHA

Jéssica Filipe Serradas1e Júlia Fragoso da Fonseca2

Resumo

Nos dias de hoje existe uma maior necessidade de diferenciação, é importante que
cada empresa se adapte aos seus clientes e não imite as estratégias da concorrência. Os
clientes não procuram apenas um produto, pretendem um atendimento personalizado de
acordo com as suas necessidades. Atualmente, muitas empresas recorrem ao Marketing
Relacional, que é uma mais-valia que as permite ser únicas, com este surge a ferramenta
Customer Relationship Management - CRM, uma das ferramentas que melhor se adap-
ta quando o objetivo é desenvolver um relacionamento sustentável e duradouro com os
clientes. A identificação de ações de fidelização é algo muito importante para as empresas
que procuram posicionar-se e diferenciar-se melhor que os seus concorrentes. Pelo facto
do hotel não constituir nenhuma implementação de ações de CRM específico, este artigo
pode ser considerado uma mais-valia e um avanço no crescimento a longo prazo da mes-
ma, permitindo assim um relacionamento duradouro entre o hotel e o cliente

PALAVRAS-CHAVE: Marketing Relacional, CRM, Hotelaria, Fidelização do Cliente

Abstract

These days, in the context of global and challenging markets, differentiation is ine-
vitable for those who aim to both secure the actual customer’s loyalty and attract new
ones. Customers are not simply looking for products or facilities. They seek for a cus-
tomized service according to their preferences and needs. Numerous companies’ relyon
relationship marketing considered by many as an important plus point which allows cor-
porates to stand out of the competition. With this marketing approach emerges CRM,
one of the most flexible tools when the purpose is to develop and maintain customer’s
lasting relationships. Identifying the actions that might improve customer’s fidelity is im-
portance for those companies aspiring to be distinguished from the competitors, gene-
rate superior income in addition to a superior customer’s satisfaction by using its assets
and resources more efficiently. Considering that at this time the hotel does not operate
within a specific CRM framework, this article report may be considered a positive featu-
re and a step forward regarding the long term growth and lasting relationships between
the hotel and the customers.

KEY WORDS: Relationship marketing, CRM, Hospitality, Customer loyalty


1
[email protected], Mestre em Marketing e Promoção Turística, Escola Superior de Turismo e Tecnologia
do Mar, Instituto Politécnico de Leiria.
2
[email protected], Professora Adjunta da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, Instituto Poli-
técnico de Leiria.
100
1. INTRODUÇÃO

Com a crise económica existente pela Europa, o turismo é um dos setores mais afetados,
apesar de continuar a ser o principal setor económico para muitos países. As pessoas têm
medo de viajar por não saberem como irá ser o futuro, o custo de vida aumenta cada vez mais
e o turismo acaba por ficar para “segundo plano” ou então começa a ser praticado no próprio
país de residência. Com isto, muitas organizações começam a analisar a melhor forma de voltar
a ter os clientes, de que forma os podem fidelizar de novo ou ganhar novos para que o negócio
se torne sustentável e ultrapasse esta situação. Sendo que, muitas das vezes é mais sustentável
tentar manter os clientes já existentes do que angariar novos.
O tema deste artigo incide sobre “ações de fidelização”, e tem como propósito fazer uma
análise crítica das ações de fidelização desenvolvidas pelo Hotel Villa Batalha, sugerindo me-
lhorias e novas formas de fidelização.
Para que uma empresa desenvolva um bom desempenho ao longo do seu ciclo de vida é
essencial existirem estratégias de fidelização dos clientes, estratégias essas que permitem desen-
volver um relacionamento vantajoso com o cliente, através de emails, redes sociais, mensagens
telefónicas, cartões de desconto, promoções, entre outras. Não é fácil escolher a ferramenta
apropriada para cada tipo de cliente, todos têm preferências diferentes e isso torna o custo/
benefício elevado para empresa. Para isso é necessário traçar bem os objetivos pretendidos e
segmentar os diferentes tipos de clientes.
Os objetivos principais do artigo são a análise das ações de fidelização utilizadas pelo hotel
e o nível de satisfação do cliente, a identificação da necessidade de mudança de CRM existente
no hotel para posteriormente analisar as fichas de cliente e segmentá-los, sugerir ações de fide-
lização de CRM, desenvolver um relacionamento fiel com os clientes e superar as expetativas
iniciais dos mesmos.
O artigo está dividido em 5 partes na primeira é apresentada uma fundamentação inicial
ao tema que irá ser abordado, na segunda é feito um enquadramento teórico com os temas
principais deste artigo, na terceira é abordada a metodologia utilizada, na quarta é feita uma
breve caracterização ao Hotel Villa Batalha e por último são apresentadas as propostas de
ações de fidelização.

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

O mundo mudou e, nos negócios tem-se assistido à intensificação da competição, o apare-


cimento de novos concorrentes, novos distribuidores, novas formas de distribuição e também
mudanças nas tecnologias tem vindo a proporcionar a competição a nível global. Visto esta
situação estar em constante mudança, as empresas necessitam cada vez mais de recorrer a
ferramentas de Marketing, entre elas o CRM (Amaro, 2013:5).
Nesta parte serão abordados temas como a hotelaria, o Marketing Relacional e a sua ferra-
menta CRM, a sua importância nas empresas, os modelos existentes, e a fidelização do cliente
com base na implementação de CRM.

2.1. Hotelaria e Turismo

De acordo com a OMT (Organização Mundial do Turismo), turismo define-se como: “um
conjunto de atividades desenvolvidas por pessoas durante as viagens em locais situados fora
do seu ambiente habitual por um período consecutivo que não ultrapasse um ano, por motivos
de lazer, de negócios e outros”.
101
Segundo a mesma entidade, esta indústria é uma das áreas da economia que mais cresce
ao longo dos anos. Devido ao crescimento rápido deste sector e, como consequentemente a
concorrência existente, torna-se cada vez mais premente existirem estratégias de diferenciação
entre as diversas cadeias hoteleiras.
Um dos grandes fatores de distinção está precisamente na qualidade de serviços prestados
aos seus consumidores. Para se conseguir alcançar a qualidade é preciso não negligenciar nun-
ca o relacionamento com o cliente, implementando estratégias pensadas especialmente para
CRM. É preciso entender que o CRM é um fator crítico de sucesso para o sector hoteleiro,
com um enfoque nos serviços, esta consciência é ainda mais urgente, para que se possa trilhar
um caminho estável.

2.2. Conceito de CRM

O Marketing Relacional tem surgido no panorama da indústria hoteleira como uma ferra-
menta fundamental para a conquista de novos clientes e a fidelização dos já existentes. Este
tipo de marketing permite estabelecer uma relação mais próxima entre empresa e consumidor
final. É cada vez mais importante conhecer de forma aprofundada os gostos, interesses e
preferências dos clientes.
Como tal, hoje em dia, o foco de competição no mercado deixou de ser “conquistar a
maior fatia da quota de mercado” como meio de sobrevivência na economia, e sim privilegiar
a manutenção dos clientes já conquistados, para que eles não migrem para a concorrência.
O conceito de Marketing Relacional segundo Evans e Laskin (1994) é um “(…) processo
onde a firma constrói alianças de longo prazo tanto com clientes atuais ou potenciais, de
forma que comprador e vendedor trabalham em direção a um conjunto comum de objetivos
específicos”. Os objetivos fulcrais são os de criar, manter e desenvolver fortes relacionamen-
tos com os clientes existentes, para além de se criar estratégias para atrair novos clientes, os
quais são alcançados mediante a compreensão das necessidades dos clientes como parceiros,
a garantia e salvaguarda de que os colaboradores da empresa satisfaçam as necessidades dos
consumidores e o fornecimento aos consumidores da melhor qualidade possível face às neces-
sidades individuais. (Amaro, 2013:5)
Tendo em mente a definição de Marketing Relacional, e com base nas suas ferramentas
(marketing one-to-one, o CRM, o marketing viral, o marketing experiencial e o marketing de
permissão) irá ser abordada ao longo do artigo uma das suas principais, o CRM. Pode-se então
definir CRM como a “abordagem empresarial destinada a atender e influenciar o compor-
tamento dos clientes, por meio de comunicações significativas para melhorar as compras, a
retenção, a lealdade e a lucratividade deles”. (Silva e Silva, apud SWIFT, 2001:12)
A manutenção do cliente através da permanente satisfação das suas necessidades é difícil
e exige alterações de comportamentos e de mentalidades não só nas estratégias adotadas pela
empresa, como pelos seus próprios colaboradores. Para isto é necessário existir formação na
área, melhorar e adaptar atitudes e comportamentos, visando a oferta de um serviço de quali-
dade, em que o cliente é o centro de toda a atividade da empresa.
Segundo Ferrão (2003), o conceito de CRM traduz-se na automatização de processos de
gestão integrados horizontalmente que envolvem os pontos de contacto com o cliente no
“frontoffice” – vendas (gestão de contactos, configuração de produtos), marketing (gestão de
campanhas, telemarketing), e serviço ao cliente (callcenter, serviço pessoal de pós-venda) –
através de canais múltiplos e interligados.
Este pode ser dividido em três diferentes níveis de execução: o CRM analítico que facilita
a identificação das necessidades dos clientes e torna a relação mais fácil e conveniente; o CRM
colaborativo que facilita a interação entre os clientes e o negócio ao integrar todos os pontos
de contacto, como a utilização de correio eletrónico, visitas a lojas físicas, algo que permita ao
102
cliente dialogar com a empresa; e o CRM operacional que se traduz em aplicações que intera-
gem diretamente com o cliente e integram os designados front-office, back-office e incluem a
automatização da força de vendas, a automatização das tarefas de marketing e ainda o serviço
ao cliente. (Amaro, 2013:11)
Segundo Ramos (2002:147) apud Swift (2001), o CRM traz benefícios não só para a em-
presa como também para os seus clientes, tais como a redução de custos no recrutamento de
compradores, uma menor necessidade de recrutar compradores para manter um nível estabi-
lizado, um reduzido custo das vendas, maior rentabilidade dos compradores, aumento da leal-
dade e retenção dos compradores e a possibilidade de avaliar a rentabilidade dos compradores.
Para tal é preciso saber conhecer, ser diferente dos concorrentes, saber vender e posteriormen-
te fidelizar o cliente ou empresa ao produto, estes são os 4 princípios fundamentais para que
ambos tenham benefícios quando compram ou vendem algo.

2.3. Modelos de Implementação de CRM

É importante compreender a forma como as empresas executam o CRM, e para isso, é


necessário conhecer e analisar os diferentes modelos de CRM existentes. Deste modo, abaixo
é feita uma análise de alguns dos existentes modelos de implementação de CRM com o pro-
pósito de ajudar a empresa a superar dificuldades, e alcançar uma gestão dos relacionamentos,
ideal com os seus clientes.
Modelo de Winer (2001) é composto por sete etapas, a primeira consiste na elaboração
de uma base de dados, com recurso ao histórico de contatos que as empresas possuem. A
segunda refere-se ao estudo das bases de dados, com a finalidade de definir os segmentos de
consumidores e reconhecer padrões de consumo. A terceira diz respeito à seleção dos clientes
mais rentáveis. A quarta é o momento correspondente à segmentação de clientes selecionando
a melhor forma, para comunicar com os escolhidos antecipadamente. A quinta diz respeito à
conceção do projeto de relacionamento com os consumidores. A sexta corresponde à garantia
de privacidade dos clientes, quer isto dizer que as empresas utilizam a informação obtida dos
clientes, mas têm de assegurar a sua privacidade. A última etapa diz respeito à monitorização,
ou seja é essencial utilizar indicadores que possibilitem avaliar o êxito da implementação do
CRM.
Modelo de Bose (2002) é composto por oito etapas, a primeira é a proposta de análise do
negócio, verificando a sua rentabilidade de interação e investigando de que forma os processos
de negócio podem oferecer esse tipo de interação. Na segunda é necessário identificar méto-
dos que abordem as necessidades da organização, tendo em conta, a estrutura organizacional,
a cultura da empresa, vendedores, fornecedores, etc. A terceira é onde devem ser considerados
diversos fatores, entre eles, tipos de interação com cliente, a necessidade do suporte de tercei-
ros para implementar o CRM, possibilidade de etapas de CRM, redesenho das informações do
cliente, disponibilizar as informações para as tomadas de decisão, a capacidade de ampliação
do sistema e o estudo da viabilidade dos recursos. A quarta está relacionada com a especifi-
cação detalhada das fases de CRM após o planeamento e a determinação da viabilidade do
projeto, sendo crucial nesta fase a seleção dos aplicativos de CRM. Na quinta procede-se à
execução do plano desenhado, sendo o CRM uma tarefa de grande transição. A sexta está rela-
cionada com a implementação e fase de treino dos colaboradores. Na sétima o autor ressalta a
importância da necessidade do CRM numa avaliação contínua sobre o desempenho do sistema
e da quantidade e qualidade das informações, tendo em conta um mercado dinâmico. A última
etapa do é a fase de adaptação, em que o modelo ainda se encontra no seu estágio inicial e
funciona portanto como uma adaptação por parte da empresa.
Modelo de Barretto (2004) é um modelo que segue seis etapas, a primeira é considerada
103
como uma das mais importantes, visto que é onde se identifica qual a necessidade de adotar
uma estratégia organizacional como a de CRM, e é necessário ter em conta para que mercado
alvo será direcionada a estratégia. Na segunda, é pertinente definir qual o objetivo que a em-
presa pretende alcançar, ou seja, é necessário definir metas iniciais e futuras a ser atingidas. A
terceira engloba a conceção, os processos organizacionais e os recursos humanos. Na quarta
destaca-se a importância das tecnologias de informação, definindo quais as que melhor se
adaptam ao conceito da empresa. Na quinta, ressalta-se a necessidade da medição do desem-
penho da estratégia, ou seja, é essencial a criação de um sistema que mensure os resultados de
CRM. Na última fase são discutidas as condições propícias ao desenvolvimento da estratégia
de CRM e as dificuldades inseridas no ambiente organizacional.
Modelo de Curry&Kkolou (2004) é composto por cinco fases na implementação de CRM:
a primeira fase é a definição da estratégia da empresa que se centra no cliente, contudo todos
os colaboradores da organização trabalham para alcançar as metas estabelecidas e os gestores
devem incentivar toda a equipa. Posteriormente realiza-se a implementação da estratégia, em
que é necessário alterar os procedimentos habituais e confirmar a adaptação dos colaborado-
res. A terceira etapa está relacionada com a capacidade que a empresa tem de perceber se a
implementação de CRM será benéfica ou não para a empresa, e para tal é necessário fazer um
estudo através de ferramentas de medição como o Customer Management AssessmentTool
(C-MAT) para fazer a monitorização, porque estima o ciclo de vida do cliente e o Customer
Capital Asset Management (C-CAM), que ajuda a avaliar a performance da empresa através
dos concorrentes. A quarta etapa diz respeito à descrição dos planos da empresa e a última fase
refere-se à implementação de uma tecnologia de CRM, que reflita as características da empresa
e que se centre no cliente.
Modelo de Payne (2006) é formado por cinco etapas, o primeiro passo é o desenvolvi-
mento da estratégia que se divide em duas vertentes, a da empresa que avalia a situação atual
da organização, e a vertente dos clientes que diz respeito à identificação e segmentação dos
clientes da organização. A segunda etapa está relacionada com a criação de valor, é necessário
perceber a melhor maneira de criar valor e aumentar o valor de cada cliente para a empresa.
A terceira corresponde à integração multicanal, ou seja, a firma deve sondar os seus clientes,
para perceber qual a melhor forma de comunicar com estes. A quarta diz respeito à gestão da
informação, com o modo como a organização estrutura os dados dos seus clientes. Por fim,
com o intuito de perceber o sucesso da implementação de CRM, é preciso elaborar métricas
de análise, quer a nível dos acionistas, quer a nível dos clientes.
Após a análise destes cinco modelos, considera-se que os mais compatíveis com os obje-
tivos do artigo são os modelos de Bose (2002) e Baretto (2004). Estes modelos apresentam
uma forma de implementação simples, direta e adaptável a qualquer caso, sendo que com a im-
plementação destes pretende-se que os resultados obtidos sejam positivos, ou seja, manter os
clientes habituais e atrair potenciais clientes, aumentar o gasto médio por cliente e desenvolver
um relacionamento com os clientes, para que eles venham mais vezes ao hotel.

2.4. Fidelização do Cliente

Uma empresa hoje em dia necessita de fidelizar clientes, é algo imprescindível e que não
pode passar ao lado, devido à forte concorrência de mercado existente. Atualmente, as em-
presas de maior sucesso são aquelas que estão a fazer de tudo para manter os seus clientes ou
atrair novos.
Para Kotler (2006) fidelizar o cliente significa vender o maior número de produtos a um
único cliente por maior tempo possível, mantendo-o satisfeito. É conquistá-lo de tal forma
que o impeça de migrar para a concorrência. A fidelidade é, portanto, desenvolvida por meio
de abordagens que desencadeiam e reforçam um estado mental positivo. O objetivo não é
104
tornar todos os clientes fiéis, mas, sim, aumentar a fidelidade daqueles clientes mais propen-
sos a reagir. Alguns clientes são mais suscetíveis de reagir a incentivos, outros a atendimento
diferenciado proporcionado apenas para clientes leais, enquanto outros, ainda, podem reagir
apenas à combinação dos dois. (Stone &Woodcock, 1998)
A fidelização do cliente deve ser sempre focada em três principais objetivos segundo Duffy
(2002), estes são, aumentar o valor unitário das compras dos clientes e, consequentemente, o
seu valor; aumentar a repetição de compras estendendo o ciclo de vida do cliente na empresa
e, novamente, o seu valor; e conhecer os perfis e hábitos individuais dos clientes para melhor
atender e antecipar as suas necessidades.
Até se conseguir chegar à satisfação total do cliente é necessário passar por diversos pas-
sos, perceber o que o mesmo gosta e de que forma o conseguiremos fidelizar à nossa empresa
até que este se envolva com certo produto ou serviço. Para isso é preciso realizar um estudo
antecedente ao cliente e aos seus gostos, para se fidelizar teremos de implementar estratégias
de CRM destinadas aos diferentes segmentos de mercado.
Segundo Monteiro (2012:31), o processo de fidelização pode acontecer de duas formas:
a mecânica que assenta simplesmente nos padrões de consumo e confirma-se através dos
comportamentos de vendas, nomeadamente, nas vantagens obtidas no momento da compra
(promoções, pontos, descontos, entre outros). E a fidelização emocional está relacionada com
a capacidade de identificação emocional do cliente, para com um determinado serviço ou
produto e todos os valores inerentes a essa relação.
Para que haja fidelização dos clientes é necessário que se implementem programas de
fidelização conforme os diferentes segmentos de mercado, tendo em conta que os programas
também devem ser rentáveis para a empresa e não só para o cliente.

2.5. Programas de Fidelização do Cliente

Surgem cada vez mais programas de fidelização devido à concorrência existente, estes
cedem algo aos seus clientes em troca da repetição das suas compras, contudo para que um
programa de fidelização tenha o êxito pretendido é necessário apostar nos clientes mais rentá-
veis e dar menos valor aos clientes menos lucrativos.
Programas de fidelização são programas promocionais elaborados para construir relações
a longo-prazo e com benefícios mútuos entre a empresa e o seu público-alvo. Estes programas
têm como base a oferta de descontos, alertas no lançamento de novos produtos e outros be-
nefícios exclusivos, em troca de dados dos consumidores para uma eficaz construção de bases
de dados que possibilite a compreensão das suas preferências. (Lamb, 2011)
Berman (2006) salienta o facto de existirem vários riscos ou ameaças quando se constrói
um programa de fidelização eficaz, tais como, a saturação do mercado, o frágil compromisso
ao programa de fidelidade, a escolha do programa de fidelidade errado, o cliente centrar-se
unicamente nas recompensas apoiadas em descontos ou brindes, e utilizar programas de fide-
lização para disfarçar a ineficácia da estratégia de marketing.
Murray (2006) considera que os programas de fidelização também trazem algumas vanta-
gens e benefícios tanto para o cliente como para a empresa, nomeadamente, os consumidores
fazem compras de forma repetida, dão a possibilidade de fazer comunicações de marketing
personalizadas, minimizam o desperdício de ofertas personalizadas para consumidores que
não têm interesse nas mesmas e promovem a confiança e abrem caminho para a inserção de
novos produtos e serviços de modo a satisfazer os consumidores.
Na perspetiva dos consumidores o processo é bastante simples, basta registar-se no pro-
grama da marca, disponibilizar os dados demográficos e de hábitos de compra, obtendo então
um cartão e desta forma passa a fazer parte da base de dados de clientes da marca (Mullin,
2010).
105
Segundo Monteiro (2012:35), existem vários tipos de programas de fidelização nomeada-
mente: o modelo de recompensa, que retribui a lealdade do comprador através de incentivos,
bónus, prémios e pontos; o modelo educacional, que aposta no processo comunicativo com o
cliente, aumentando assim a informação sobre este e sustentando a base de dados; o modelo
contratual, em que se utiliza o nome da empresa e a base de dados para presentear um produto
ou serviço periodicamente, usufruindo de alguns benefícios como preços mais reduzidos em
certos produtos ou acesso a determinadas informações. O modelo de afinidade, que consiste
em reunir clientes que têm interesse no mesmo produto ou serviço, e o modelo de serviço de
valor acrescentado, que pretende dar algo mais ao cliente para além dos serviços ou produtos
habituais que costumam fornecer.
Segundo Bowen et al. (2003), as redes hoteleiras reconhecem o facto de os clientes nem
sempre se envolverem com a marca se forem compras de baixo envolvimento. Por exemplo, o
Sheraton reformulou o seu sistema de limpeza, permitindo que os membros do Sheraton Club
Internacional façam o check-out até às 16:00 horas.
Outro exemplo é o utilizado pela cadeia Rosewood Hotelsand Resorts, esta através da
informação de carácter pessoal recolhida pelos cartões de fidelidade prepara antes da chegada
dos clientes elementos tais como almofadas, bebidas no mini bar e refeições especiais. (Noone
et al, 2003)
Segundo Tepeci (1999), embora os programas de fidelização sejam caros, funcionam. A
cadeia hoteleira Hilton questionou 10.000 membros do seu programa Honoros e descobriu
que 19% deles não iriam ficar na cadeia Hilton se não estivessem associados ao programa. Por
outro lado, a cadeia hoteleira Marriott também constatou que os membros do seu programa
de cliente frequente estiveram em média mais duas vezes e meia na cadeia Marriott desde que
se tornaram membros do programa.
Após a análise deste capítulo pode-se concluir que o CRM é uma estratégia de negócio
que tem como objetivo, selecionar, fazer a gestão e otimizar os clientes de forma a obter valor
a longo prazo. Hoje em dia as pessoas não compram apenas pela marca ou local em si, mas
pelo conceito global do produto e os serviços oferecidos. É fundamental que haja uma relação
entre os clientes e a empresa, de forma a aumentar a confiança e a satisfação com o produto
ou serviço.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada na realização do artigo reparte-se em dois processos. Primeiro


foi necessário realizar uma pesquisa bibliográfica para a realização da revisão da literatura, e
melhor compreensão do tema que iria ser abordado ao longo do artigo. Em segundo, e mais
importante, é preciso analisar o nível de satisfação do cliente de forma a perceber onde é que
é necessário haver mudanças e sugerir as ações de fidelização mais indicadas. Para tal, foi efe-
tuada uma atualização ao questionário de satisfação destinado aos hóspedes, de forma a obter
um número maior de informações de satisfação, e poderem ser feitas mudanças no hotel com
base nas suas respostas.
Como método de recolha de dados optou-se pela aplicação de um inquérito por questio-
nário, que permite estudar a interrogação de uma situação em particular com o objetivo de
generalizar, obtendo de forma sistemática e ordenada informação sobre uma determinada
população (Ghiglione&Matalon, 2001).
No método de recolha de dados quantitativos foram utilizados os questionários de satis-
fação destinados aos hóspedes do hotel, estes foram formulados pelo investigador e poste-
riormente revistos pela direção do hotel, tendo por base os já existentes anteriormente. Após
a aprovação foram colocados nos quartos, para que o cliente possa responder ou não, visto
que não é de resposta obrigatória. Este questionário é composto por oito questões principais,
106
sendo que optou-se por realizar respostas fechadas de sim ou não, e da utilização da escala
de Likert de 5 pontos. No final do questionário optou-se também por colocar um espaço de
opiniões, para que se possa saber o que mudar para o cliente ficar totalmente satisfeito. (ver
apêndice I)
A população objeto de estudo da presente investigação é composta por homens e mulhe-
res, com mais de 18 anos, nacionais ou estrangeiros, que tenham ficado alojados no HVB. O
questionário foi colocado nos quartos dos hóspedes a partir do dia 25 de agosto e está em
vigor até os dias de hoje. Neste caso o estudo irá abranger os dias 25 de agosto de 2014 a 31
de maio de 2015. A amostra recolhida foi de 366 questionários.
O tratamento de dados foi realizado através de análise estatística, onde a cada mês eram
inseridos todos os questionários que tinham sido respondidos.

4. HOTEL VILLA BATALHA

O Hotel Villa Batalha é uma unidade hoteleira de 4* situada na vila da Batalha, na região
oeste de Portugal, desde Outubro de 2009. Localizado junto ao rio Lena, apresenta uma paisa-
gem dos quartos entre a serra e vista rio/jardim ou vista para o Mosteiro da Batalha, Patrimó-
nio Mundial da UNESCO e uma das Sete Maravilhas de Portugal.
Este é um hotel que tem para oferecer aos clientes diversos serviços tais como, 93 quartos,
o restaurante “Adega dos Frades”, o bar “O Claustro”, o “Villa Batalha Golfe”, campo de té-
nis, Spa Villa Batalha, 8 salas de reuniões/conferências, esplanadas e jardins. A nível estrutural,
o hotel divide-se em cinco pisos (piso -1, piso 0, piso 1, piso 2 e cobertura/solário) e duas alas,
a ala norte e a ala sul.
É conhecido pelo seu lema “Transformamos pequenos momentos em grandes memó-
rias!”. A sua visão é: “Enraizados no oeste de Portugal e da Europa, mostrarmos como a con-
temporaneidade e a tradição cultural se fundem num forre abraço, olhando o futuro através
de um conceito inovador”. E a sua missão: “Inspirador pelos nossos valores culturais e raízes
tradicionais, assumindo a hospitalidade portuguesa como a bandeira do nosso serviço de ex-
celência, querendo transmitir de forma apaixonada a riqueza do nosso património cultural, na-
tural, gastronómico e de bem-estar, para que cada hóspede se sinta envolvido por experiências
únicas e sensações autênticas”.
O HBV é um hotel de título individual/familiar, não pertencendo a nenhuma cadeira
hoteleira. Este está sobre a responsabilidade da direção, que coordena e gere o funcionamen-
to do hotel. Posteriormente está dividido por diferentes departamentos, tais como: receção,
manutenção, departamento comercial, housekeeping, restaurante e bar, cozinha, spa, golfe.
Após análise aos segmentos existentes no HVB constata-se que são o segmento MICE
(Meetings, Incentives, Conferences, Exhibitions), o segmento de negócios/corporate e o seg-
mento familiar, os principais segmentos de mercado.
O segmento MICE inclui a organização de eventos que decorrem durante todo o ano no
hotel. O hotel aposta bastante neste segmento, visto que é com este que consegue contrariar
a sazonalidade.
O segmento de negócios funciona maioritariamente através da fixação de clientes de em-
presas da região, é um dos principais geradores de hóspedes para o hotel, principalmente clien-
tes estrangeiros, que pernoitam entre uma e duas noites seguidas, durante várias vezes por mês.
No que refere o segmento familiar este diz respeito a todos os hóspedes que se deslocam,
por motivo de férias ou pequenas pausas, optam pela Batalha por ser uma zona histórica,
relativamente calma e com uma diversa oferta de atividades, seja cultural, religiosa ou lazer.
107
4.1. Análise SWOT

A análise S.W.O.T. é uma ferramenta estrutural da administração, utilizada na análise do


ambiente interno e externo, com a finalidade de formulação de estratégias da empresa. Nesta
análise identificamos as Forças e Fraquezas da empresa, extrapolando então Oportunidades e
Ameaças internas para a mesma. (Neto, 2011)
Em termos de análise interna, a análise SWOT propõe a identificação dos principais pon-
tos fortes (Strengths) e pontos fracos (Weaknesses), caracterizadores da organização e que po-
dem ser controlados e melhorados pela empresa, ou seja poderá ser sempre diferente dos con-
correntes. No que respeita à análise externa tem como objetivo a identificação das principais
oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats), ou seja a empresa não pode controlar, não
está nas mãos dela melhorar algo, caso esteja algo mal não depende da empresa.
Relativamente à análise interna é apresentado abaixo:

Pontos Fortes:

• Localização – O HVB localiza-se na região centro de Portugal, entre Lisboa e o


Porto, e fica próximo de grandes pontos de interesse turístico nacionais (Mosteiro
da Batalha e Alcobaça, Santuário de Fátima, Nazaré, etc.);
• Diversos segmentos de mercado – Negócios, MICE, Cultural, Religioso, Natureza.
Não se limita a um só segmento o que permite que a oferta seja mais abrangente;
• Infraestruturas recentes – Hotel moderno e recente, familiar e de negócios, e adap-
tado a todos os tipos de necessidades e clientes;
• Parcerias – Com empresas da região, com a Câmara Municipal da Batalha, entre
outras, que ajudam na promoção e divulgação do hotel;
• Preços competitivos relativamente aos seus concorrentes, o que leva muitas vezes
aos clientes escolherem o hotel pois dispõe de mais serviços e pratica o mesmo
valor que outro que não dispõe de serviços;
• Preocupações ambientais – Redução de consumos energéticos, aproveitamento de
águas, etc;
• Profissionalismo e simpatia dos funcionários – Algo que se reflete na qualidade do
serviço prestado.

Pontos Fracos:

• Fraca aposta na promoção turística – Baseando-se muitas vezes apenas na divulga-


ção de promoções ou eventos nas redes sociais;
• Website desatualizado - O cliente nos dias de hoje necessita de informações online
sobre os produtos que quer comprar, caso esta seja fraca ou inexistente a probabi-
lidade de comprar é menor;
• Falta de conhecimento externo dos serviços disponíveis no hotel – O restaurante,
bar e spa podem ser usufruídos por clientes externos ao hotel mas muitas pessoas
não o sabem porque não é bem divulgado;
• Mão-de-obra precária – Falta de funcionários para o tamanho, capacidade e ser-
viços do hotel. Prendendo-se, a funcionários extras e estagiários, que contribuem
para o decréscimo da qualidade do serviço prestado ao cliente;
• Oferta limitada ao nível da restauração – O cliente procura frequentemente servi-
ços externos ao hotel, porque o que o hotel apresenta não tem muita escolha;
• Pouco aproveitamento do jardim que o hotel dispõe, para além do campo de golfe
e ténis poderia ter um parque infantil, realizar atividades ao ar livre, etc;
• Recursos financeiros limitados – os recursos para uma mudança constante são limi-
108
tados e isso é um ponto fraco que o hotel depende;
• Declínio do ciclo de vida do hotel - o hotel está a entrar na maturidade, já não é
novidade na região o que pode levar ao seu declínio com o passar de alguns anos;
• Mudança agressiva nas necessidades dos hóspedes - estes podem se tornar cada
vez mais exigentes e o hotel não se conseguir adaptar ao novo mercado e suas
necessidades. Para isso terá de criar ações de marketing que atraiam estas novas
necessidades e tentar cativar os clientes para o que é oferecido.

A análise externa apresentada abaixo divide-se em oportunidades e ameaças que poderão


existir para o hotel.

Oportunidades:

• Região centro não é um destino sazonal – Existem turistas durante todo o ano e
não só no verão, porque tem uma variada oferta turística;
• Boas acessibilidades - Junto ao IC2 e de fácil acesso à A8 e A1;
• Poucos concorrentes com oferta de serviços similares na cidade mais próxima,
Leiria (hotéis de 4 e 5 estrelas). Oportunidade de conquistar mais clientes tendo
serviços diferenciados;
• Turismo Religioso – O hotel insere-se numa zona de turismo religioso e tem a
oportunidade de apostar nesse segmento, especialmente em dias que os hotéis em
Fátima estão lotados (13 outubro e 13 maio);
• Turismo de Negócios e MICE – São 2 produtos estratégicos definidos pelo PENT,
portanto o hotel deve fazer uma grande aposta nestes segmentos melhorando sem-
pre mais o que já é oferecido, pois estão sempre em constante crescimento.
• Turismo de Natureza – Esta é uma região abrangida pela Serra de Aire e Candeei-
ros, onde cada vez mais são praticadas atividades ligadas à natureza. O hotel deverá
apostar mais neste segmento de mercado, as pessoas já estão a valorizar mais a
natureza e a fazer mais atividades ao ar livre.
• Concorrência – Hotéis da mesma categoria e com oferta de serviços idênticos
tornam-se uma ameaça mas também um fator positivo para o HVB. Para solucio-
nar terá de criar um produto/serviço que seja diferenciador dos seus concorrentes
e isso é algo que o hotel poderá inovar.

Ameaças:

• Recessão económica – Com a crise económica em Portugal e em alguns países da


Europa o turismo é um dos principais prejudicados, pois com instabilidade finan-
ceira as pessoas não podem viajar. O hotel para solucionar esta crise deverá ter em
atenção a que segmento de mercado se dirige, deve apostar em segmentos que não
sejam imediatamente afetados com as alterações económicas, como o turismo de
Natureza.
• Aumento agressivo da concorrência – com o aumento do turismo em Portugal a
concorrência irá aumentar, mais hotéis irão ser construídos o que pode ser uma
ameaça para o HVB.
• Introdução de novos tipos de turismo substitutos - que façam com que as pessoas
se afastem de hotéis e optem por se alojar em um meio mais natural, como por
exemplo o glamping e o campismo, que englobam o turismo de natureza.

Através da análise SWOT é possível identificar elementos chave que permitem estabelecer
prioridades para a empresa. A empresa deverá preocupar-se principalmente com os seus pon-
109
tos fracos e as ameaças de forma a não deixar que estes influenciem o seu ciclo de vida, as suas
receitas e a satisfação dos clientes.

5. PROPOSTAS DE AÇÃO DE FIDELIZAÇÃO

Nesta fase pretende-se utilizar as ideias apresentadas na exposição teórica e as sugestões


referidas pelos hóspedes através dos questionários de satisfação. É necessário formular um
conjunto de propostas de ação de fidelização de clientes, a serem implementadas pelo hotel,
com vista a alcançar os objetivos.
Esta parte é dividida em três subpartes, em primeiro é apresentada a análise feita aos ques-
tionários de satisfação dos clientes, em segundo irão ser abordadas as ações de fidelização já
praticadas pelo HVB, tanto positivas como negativas, e na terceira parte são sugeridas propos-
tas de ação de fidelização.

5.1. Análise dos Questionários de Satisfação

Analisando as respostas dadas pelos hóspedes, no que diz respeito à caracterização da


amostra, verifica-se que os hóspedes que mais respondem são de género masculino com 202
questionários respondidos e a idade média é de 39 anos. Em 362 respostas obtidas a esta ques-
tão a média de número de noites que os clientes passam no hotel é de 2.
O motivo da visita dos hóspedes é de turismo-lazer, com 284 respostas, num total de 361
respostas a esta questão. No que se refere ao perfil do viajante normalmente viaja em família
com 364 respostas, sendo que, a esta questão obteve-se o total de 357 respostas.
No que se refere às respostas segundo a escala de Likert, estas irão ser apresentadas abaixo
conforme a média dada na totalidade dos temas (chegada, quarto, pequeno-almoço, restauran-
te/bar, áreas públicas, serviços do hotel, satisfação geral). Em relação à opinião dos hóspedes
no procedimento de reserva, em 688 respostas obtidas a média de resposta é de 4,80, ou seja é
um serviço excelente. No ponto em relação à chegada, em 999 respostas a média de opinião é
4,72, ou seja é um excelente serviço. No que toca ao quarto, em 1448 respostas obtidas a média
é de 4,72 sendo também considerado um espaço excelente. No pequeno-almoço, foram consi-
derados como um muito bom serviço com média de 4,35 em 680 respostas. Enquanto as áreas
públicas, foram consideradas como excelente com média de 4,70 em 1053 respostas. O serviço
de restaurante/bar, foram avaliados como excelentes com média de 4,62 em 477 respostas. Os
serviços do hotel foi o ponto onde se observou uma maior insatisfação com média de 4,17
em 345 respostas, sendo que neste caso só era respondido à questão caso tivesse usufruído do
serviço ou como opinião geral. O último ponto apresentado nesta escala de Likert é a nível
da satisfação geral da estada, em relação à qualidade-preço praticada pelo hotel, neste caso em
345 respostas a média é de 4,45, ou seja é considerado um preço muito bom para os serviços
que oferece aos clientes.
As próximas questões estão relacionadas com a anterior apresentada, pois caso os hós-
pedes estejam satisfeitos irão querer voltar e recomendar. Em 309 respostas obtidas apenas 5
responderam que não recomendariam o hotel e as restantes responderam positivamente. Em
relação à questão de considerar voltar 289 responderam que consideram voltar e 15 dizem
que não consideram voltar, neste caso o não voltar não significa que não tenham gostado da
experiência, se for uma família estrangeira é normal que não considerem voltar, visto que estão
apenas de passagem.
A última questão é de resposta aberta, serve para os hóspedes deixarem as suas opiniões e
sugestões futuras. As opiniões e sugestões das pessoas no geral são imensas, mas normalmente
110
utilizam mais este espaço para comentários menos positivos que ocorrem durante a estada
desde: o mau funcionamento do spa, a falta de uma piscina exterior, o pequeno-almoço dispor
de pouca variedade, o preço das refeições ser elevado; haver uma única entrada para o hotel
e ser afastada do parque de estacionamento; falta de informações dos preços e serviços no
quarto; quarto quente no verão e frio no inverno; dificuldade de funcionamento do ar condi-
cionado; escassos canais televisivos; minibar dispor apenas de águas; pouca luz nos quartos,
entre outras opiniões.
Estas são algumas das opiniões negativas e sugestões futuras que se irá ter em consideração
aquando as sugestões de ações de fidelização.

5.2. Ações de Fidelização no Hotel Villa Batalha

Os clientes esperam que com os produtos e serviços que o hotel oferece, haja algo de di-
ferente que os surpreenda e que fique na memória, não pela sua dimensão mas pelo impacto
emocional que é proporcionado.
Oferece em todos os seus quartos, TV, assim como internet wireless em todo o hotel.
Investe na venda de turismo acessível, estando constantemente em contacto com empresas na-
cionais e internacionais de forma a criar parcerias, realizando também conferências em vários
locais com o intuito de reforçar esta estratégia.
Dispõe de um campo de golfe federado onde são dinamizados programas de aulas de gol-
fe, apresentação a escolas, e eventos relacionados com o mesmo, estando aberto ao público em
geral e não apenas aos hóspedes, tal como é feito com o restaurante. No entanto, e apesar do
restaurante e bar estarem abertos ao público no geral, não sendo necessário ser hóspede para
os frequentar, esta mais-valia não está a ser aproveitada. Para além disso poderiam também
haver packs/menus especiais direcionados ao público, ou serem estudados os segmentos que
melhor podem aderir a este tipo de oferta.
Como forma de concretizar a promessa do seu lema “transformamos pequenos momen-
tos em grandes memórias!”, o hotel dispõe de pequenos momentos para satisfazer os seus
clientes, em programas diferentes. Foram criados programas para os românticos “Momentos
de Romance no Hotel Villa Batalha”, para quem quer relaxar no spa “Momentos no Spa do
Hotel Villa Batalha”, para os apaixonados pelo desporto ao ar livre “Momentos no Golfe do
Hotel Villa Batalha”, para os que gostam de conhecer a região a pé e de natureza “Momentos
de Natureza e bem-estar no Hotel Villa Batalha” e para as pessoas que procuram a cultura e
o que de melhor ela tem “Momentos de cultura com o Hotel Villa Batalha”. É sugerido no
entanto que fosse preparada uma Base de Dados específica para estes segmentos, para que as
pessoas pudessem ser informadas de uma forma personalizada e consoante a sua preferência
e perfil.
Visto que o hotel é bastante procurado pelo turismo corporate e MICE, este oferece pa-
cotes com preços especiais de grupo para a realização de reuniões, conferências ou outro tipo
de eventos. Em relação à estada por parte de algum membro da empresa o hotel também tem
preços especiais com vista a fidelizar os colaboradores. Neste caso poderia fazer sentido criar
um cartão business que incentivasse os clientes a preferirem o hotel para além do seu custo
promocional. Desta forma, e com vantagens associadas, poderia criar-se nos colaboradores
alguma rotina e consequente fidelização à unidade.
Em resposta à necessidade da gestão de dados é utilizado apenas o Software PROTEL-
programa que serve para registar/guardar os planos futuros e anteriores de reservas, os planos
de quartos (check-in, disponibilidade, consumos, check-out), os dados dos clientes e respetivo
histórico de estada, registo e lançamento de faturas. É através deste software que o hotel re-
gista os dados dos clientes e com isso, posteriormente, cria uma mailing list para o qual envia
promoções e programas futuros a realizar. É importante que se inove cada vez mais neste tipo
111
de programas, podendo um investimento na base de dados representar elevados retornos a
longo prazo.
O hotel tira também partido das redes sociais para uma maior proximidade com o clien-
te, sendo o Facebook e o Twitter utilizados diariamente para comunicar com posts sobre as
promoções ou até mesmo com curiosidades e efemérides associadas ao setor. Como forma de
reconhecimento o HVB tem investido em alguma comunicação, para além da referência em
alguns meios do sector, foi-lhe atribuído o Certificado de Excelência de 2013 do Tripadvisor,
o que pode de certa forma motivar outros clientes a optarem pelo hotel. Neste caso é aconse-
lhado um acompanhamento muito próximo dos comentários de plataformas como o Tripad-
visor e o Booking, não só para evitar efeitos negativos como para dar resposta às críticas dos
consumidores. Esta é uma forma bastante eficaz de conhecermos a opinião dos clientes, que
podem ser mais sinceros numa plataforma que não está diretamente relacionado com o hotel.

5.3. Proposta de Ações de Fidelização

O HVB pretende que o serviço de atendimento ao cliente seja realizado de uma forma
personalizada, mas para isso há necessidade de obedecer a uma ordem de tarefas a executar
no atendimento. Uma boa base de dados de clientes é uma ferramenta essencial em qualquer
estabelecimento comercial, no caso específico de um hotel, esta ferramenta é crucial na medi-
da em que se comercializa serviços que são usufruídos por pessoas. É importante que o hotel
mantenha atualizada a sua base de dados, para que no momento em que o cliente contacta o
hotel, o rececionista possa aceder aos seus dados atualizados, conhecendo o histórico de esta-
das do cliente, os seus gostos e as suas preferências.
O HVB é um hotel pequeno e ainda em crescimento, pois tem apenas 7 anos de operação,
apresentando no entanto já algumas estratégias de marketing.
Verifica-se que o HVB, apesar de não ter um sistema oficial de CRM instalado, começa
a praticar subtilmente, e de uma forma muito intuitiva, estratégias de satisfação do cliente,
gerando resultados positivos de uma forma pouca estudada. É por isso fundamental que a
administração se consciencialize da importância do CRM, oficializando esta estratégia e ana-
lisando os seus resultados. Acredita-se que uma utilização mais eficaz do software já existente
(PROTEL), em que se transferissem todos os dados obtidos para uma base de dados tratada,
permitirá uma recolha muito mais eficaz da informação dada pelos clientes. É necessário que
todos conheçam as ferramentas e que pratiquem as boas práticas pessoais de atendimento
inerentes a qualquer negócio de prestação de serviços. Uma atitude gera outra atitude, e um
gesto de simpatia e um sorriso podem ser um investimento a custo zero, com enorme retorno.
Para além de algumas propostas de ação de fidelização já anteriormente mencionadas são
sugeridas, em jeito de suma, a implementação das seguintes ferramentas:

• Tablet de empréstimo para o cliente, com informações do hotel e possibilidade de


efetuar reserva no restaurante e bar sem ter de sair do quarto - isto era sugerido
como substituição aos normais folhetos informativos, o cliente poderia usufruir do
tablet sem qualquer custo. No ato de check-in era fornecido e depois teria de ser
devolvido no check-out e esta era uma forma de controlar os danos materiais que
poderiam acontecer caso estivesse fixo no quarto, e por outro lado dar a conhecer
o hotel de uma forma mais estimuladora.
• Criar um programa romântico exclusivo de utilização da piscina interior, durante 2
horas à luz de velas e massagem para 2 pessoas – este programa teria de ser marca-
do com antecedência e era exclusivo para as 2 pessoas.
• Oferta de “cabaz de despedida” com pequenos snacks para poder consumir du-
rante a sua viagem de regresso – esta era uma forma de cativar as pessoas a voltar
112
e degustar produtos da região, teria custos para o hotel mas neste caso teria de ser
definido o público a que iria ser oferecido, como por exemplo a estadas superiores
a três noites ou consumo superior a 200€.
• Programa de spa só para pais e crianças, num horário pré-estabelecido, de forma a
combater as reclamações existentes, pois verifica-se que alguns clientes não apre-
ciam esta interação;
• Desejar os parabéns aos clientes através de email ou mensagem com a oferta de
algumas promoções só no dia de aniversário ou no fim-de-semana imediatamente
seguinte - através dos questionários e da segmentação do mercado, caso tenha sido
disponibilizado o email, poderia ser feita uma lista com as datas de aniversário dos
clientes habituais ou que já foram ao hotel mais de duas vezes.
• Criação de um cartão de empresas, com a vantagem de poderem vir a ser usufruí-
dos em tempos de família, visto que a maior parte dos seus clientes são empresa-
riais;
• Criação de programas de animação (familiar ou não) para congressos de média
duração (3 ou mais dias) – ou seja, quando existe um grupo que esteja hospedado
3 dias ou mais no hotel seria agradável criar algo como distração ao final do dia de
reunião, como por exemplo um sessão de cinema no bar, um concerto ao vivo, o
que faria com os hóspedes não se limitassem ao que a empresa disponibiliza duran-
te o congresso/evento e consumissem no bar;
• Criação de parcerias locais com descontos, por exemplo no Mosteiro da Batalha ou
Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, ou mesmo oferta das entradas
nas estadas superiores a 2 dias;
• Colocação de pequenos chocolates, bebidas alcoólicas e sumos no minibar dos
quartos, visto que o hotel apenas dispõe águas com e sem gás;
• Criação de um diretório A-Z para colocar nos quartos – a meu ver isto é algo es-
sencial num quarto de hotel, os hóspedes precisam de se manter informados acerca
dos serviços existentes e respetivos valores e horários.
• Aproveitamento da esplanada e espaços exteriores para a produção de atividades
ao ar livre e concertos de música ao vivo - principalmente no verão, e durante os
fins-de-semana. Esta era uma forma de atrair os clientes para o bar do hotel e assim
gerar maiores lucros;
• Criação de um acesso mais direto ao hotel através do parque de estacionamento –
Apesar de existir garagem subterrânea com acesso direto aos quartos, os hóspedes
optam por deixar as viaturas no exterior, como o parque exterior se situa na parte
de trás do hotel e o único acesso à receção/elevadores de acesso é pela frente esta
seria uma ação que o hotel deveria adaptar criando um acesso lateral.
• Mudar o horário do spa - O seu horário de funcionamento é das 10h às 20h, suge-
ria neste caso que abrisse por volta das 09h para que as pessoas possam usufruir e
desfrutar mais calmamente do serviço, visto que muitas das vezes como a hora de
check-out é as 12h acabam por sair insatisfeitas;
• Diversificar e modificar alguns produtos do pequeno-almoço - as pessoas não estão
satisfeitas com o serviço e sugerem colocar mais variedade de bolos, trocar os sumos
de máquina por sumos naturais, colocar salsichas, ovos cozidos e fritos, entre outros.
• Atualização do operador de canais televisivos nos quartos – com base na experiên-
cia tida no departamento de front-office esta é uma das reclamações constantes dos
hóspedes.

Outra estratégia a adotar dentro do marketing relacional, como já foi referido, é a criação
do cartão empresarial (talvez o mais relevante entre os que sugerimos). O HVB poderia avan-
çar com a distinção anteriormente referida de business; cliente habitual e o público em geral.
113
No cartão para empresários, existiriam benefícios de utilização nas diversas instalações da uni-
dade por parte da família do beneficiário deste cartão. Ao fazer isto, promover-se-ia a utiliza-
ção por motivos de negócios, fomentando ao mesmo tempo a visita futura da família. Propõe-
-se que o restaurante e bar “saiam à rua” aquando das festividades locais e promovam provas
gastronómicas dos variados pratos confecionados e cocktails. Ao realizar estas ações para a
comunidade local pode-se contribuir para o posicionamento no top of mind das pessoas em
relação à oferta regional, criando Word of mouth (os locais podem ser o nosso melhor cartão
de visita). Outra ação a realizar será a criação do “dia aberto” no hotel com animação, onde a
população é convidada a usufruir das variadas instalações, em especial na época baixa.
Estas são algumas práticas de CRM que poderão vir a ter grande sucesso, e promover o
HVB de uma forma bastante positiva junto da população circundante, e dos seus clientes. Seja
como for, estas iniciativas promocionais e relacionais têm de ser devidamente acompanhadas
e avaliadas, pois deve sempre existir adaptações com o objetivo de criar “pequenos momentos
em grandes memórias!”.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente as ações de fidelização são estudadas em investigações focadas no desenvolvi-


mento de estratégias para a retenção de clientes e maximização de resultados e da competitivi-
dade das empresas (Bolton et al 2000), ou em investigações sobre a possibilidade destas ações
conseguirem ou não mudar o comportamento dos consumidores e promoverem a lealdade
dos mesmos (Omar et al 2011);
Nas redes hoteleiras os gestores/diretores devem focar-se principalmente no cliente, pro-
curando diariamente superar as suas expectativas. É necessário apostar na personalização dos
serviços, dar valor ao atendimento e confiar no bom trabalho e preparação dos colaboradores
do hotel, estes são a cara do hotel. O CRM baseia-se sobretudo na relação e empatia entre os
colaboradores e o cliente.
Uma mais-valia do HVB é o facto de ser um hotel integrado numa comunidade, e com
uma característica cultural muito acentuada. A vila da Batalha pode ser explorada e a co-
munidade integrada de forma a reconhecer o local como motivo de orgulho para os locais,
promovendo-se ações diversas de dinamização na própria comunidade. O objetivo principal
deste artigo era a realização de uma análise de CRM praticada pelo HVB e posterior sugestão
de ações de fidelização, de forma perceber se a implementação de um programa de fidelização
no HVB iria contribuir para o bem-estar e satisfação dos clientes.
Com base na informação recolhida através de questionário numa amostra de 366 respos-
tas, o objetivo geral foi concretizado, visto que as opiniões e sugestões dadas pelos clientes
indicam que o hotel necessita de fazer uma mudança e atualização ao nível de ações de fide-
lização. Os clientes ficam satisfeitos quando vêm mudanças e sentem-se bem até ao ponto
de querer voltar mais vezes, é essas mudanças que o hotel necessita de fazer para tornar os
clientes mais fiéis e atrair novos.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Haliotis, Relatório de Estágio Mestrado de Marketing e Promoção Turística, Escola Supe-
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115
8. APÊNDICES

8.1. APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO DE SATISFAÇÃO DO CLIENTE


116
117

NIGHT AND DAYTIME EFFECTS IN US EQUITY


EXCHANGE-TRADED FUND RETURNS

João Dionísio Monteiro1e José Ramos Pires Manso 2

Abstract

This paper examines average returns over periods when markets are open and when
markets are closed using a sample of the four major US equity exchange-traded funds
(ETFs) in the period January 1996 to January 2014. First, we examine common day and
night effects across ETFs. Second, we examine common day and night effects decom-
posed by day of the week. In the analysis we use panel data regression models with esti-
mators of the standard errors of the estimated parameters robust to various departures
of the least square residuals from independent and identically distributed assumptions.
In previous studies (Cliff et al., 2008), it was observed the surprising result that returns
during the night period are strongly positive and significant and the night minus day re-
turn differences are also pervasively positive and significant. Our results show a marked
decrease and the disappearance of the night and day effect from 2006. Results show that
in this asset class night returns are no longer consistently higher than the day returns,
overall and across days of the week. Another puzzling fact in light of the asset pricing
models, already evidenced in previous studies, but which tends to remain, is that the
volatility of day returns is significantly higher than the volatility of night returns.

KEYWORDS: night and daytime effects, market efficiency, US equity exchange-traded


funds

1. INTRODUCTION

In financial markets, information flows continuously throughout twenty-four hours a day but
price variations are not continuous due to periodic market closure. Sudden changes in daily tran-
saction regimes, when markets open and close, have important implications for the dynamics of
prices in the short term. Several researchers have presented evidence on the impact of periodic
market closure in transaction volume, liquidity, volatility and pricing (Jones, Kaul and Lipson,
1994; George and Hwang, 2001). On the other hand, several theoretical papers have sought to
model the implications of periodic market closure for equilibrium prices (Foster and Wiswana-
than, 1990; Slezak, 1994; Hong and Wang, 2000). However, theoretical models suggest different
predictions of the effects of periodic market closure at the first moment of returns.
On one hand, various models proposed in theoretical papers predict lower returns during
non-trading periods than in trading periods (Slezak, 1994; Hong and Wang, 2000), a predic-
tion consistent with the evidence documented in the early empirical studies of the weekend
effect on returns. On the other hand, other theoretical papers predict higher returns during

1
[email protected], NECE, University of Beira Interior
2
[email protected], NECE, University of Beira Interior
118
non-trading periods to compensate liquidity providers for bearing additional risk. In this line,
the model of Longstaff (1995) predicts higher returns over periods of market closure arising
from a liquidity related non-marketability effect.
The purpose of this paper is to add to the body of empirical papers on this theme an
empirical analysis of the effects of the periodic market closure on the first moment of return
distributions in US equity exchange-traded funds (ETFs). First, we examine whether there
exist a common night and day effect across ETFs. Second, we extend the analysis and exami-
ne whether there exist a common night and day effect decomposed by day of the week. The
analysis is carried out using panel-data regression models with standard errors of the estima-
ted parameters corrected for several departures of the least square residuals from independent
and identically distributed assumptions.
Our major findings on the US equity ETFs are: i) No significant overall common and
robust night and daytime effects is exhibited in our sample of US ETFs; only a positive and
marginally significant night average return is found while the day average return is not signi-
ficantly different from zero; ii) Concerning common night and day effect, decomposed by
day of the week, only the estimated coefficient (average) for Tuesday-night is positive and
significantly different from zero; these findings contrast with evidence obtained by previous
empirical studies on the same type of assets in US equity market. Cliff et al. (2008) found
pervasive evidence of a significant difference, first, between overall night and day returns and,
then, between night and day returns by day of the week; iii) our results confirm the evidence
obtained in previous studies that the volatility is pervasive and significantly higher during the
trading periods than during the market closing periods, contradicting the predictions of asset
pricing models that the market price of the risk would be positive. These results continue to
present a challenge to the asset pricing models in explaining why in diversified portfolios, as
are the ETFs, zero average returns (daytime period) have higher volatility than that associated
with slightly positive average returns (night period).
The remainder of this paper is organized as follows. Section 2 reviews the literature on the
effects of the periodic closure of markets in returns when they are open and closed. Section 3
presents the data and the methodology used in the study. Section 4 present and discusses the
results. In section 5 conclusions are presented.

2. LITERATURE REVIEW

In recent decades calendar anomalies have been widely surveyed in empirical papers but
most studies used daily closing prices or volume weighted averages prices to identify these
seasonality effects. Pearce (1996), for example, for US equity markets, used daily returns from
1972 to 1994 on a variety of portfolios to simultaneously test for weekend effects, post-ho-
liday effects, January effects and serial correlations. Evidence was obtained that the calendar
anomalies were more pronounced for smaller than larger firms. The returns for smaller firms
were consistently lower after weekends and consistently higher preceding holidays. Thaler
(1987) offered various hypotheses that can, partially, explain these abnormal returns, namely,
the timing of the arrival of good and bad news. Thaler gives the example of bad news being
postponed until after close on Friday. Schwert (2002) found that many market anomalies (size
effect, value effect, weekend effect and dividend yield effect) have weakened or disappeared
after research articles about them have been published.
A related topic less developed but equally important to the literature of market efficiency is
the analysis of regularities in intraday period returns. Although empirical literature is not com-
pletely consensual about patterns of intraday returns within this topic of market efficiency,
the most striking and surprising result is that various studies obtained evidence that overnight
returns are strongly positive and the returns during the day are close to zero and sometimes
119
negative. Wood, McInish and Ord (1985), using intraday data for an equally-weighted index of
NYSE listed stocks, from September 1971 to February 1972 and for the calendar year 1982,
show that close-to-open returns account for two-thirds of close-to-close returns in the 1971-
1972 period. However, in the 1982 period, close-to-open returns account for a percentage
that is not statistically different from zero. Branch and Ma (2006) find a very strong negative
autocorrelation between the overnight and the intraday return. The study analyses stocks on
the NYSE, AMEX and NASDAQ over two periods between 1994 and 2005 and divide the
stocks into size categories. The authors find significant relationships for each sub-sample. The
correlations do tend to be almost monotonically stronger as market capitalization decreases.
They find a powerful negative correlation between the overnight and intraday returns and a
significant relationship between overnight and the prior intraday and prior overnight returns.
The signs of the correlations alternate, with adjacent periods having negative correlations
and one step back being positively related. Using samples3 of a diverse set of data in the pe-
riod 1993-2006, Cliff et. al. (2008) also perform an extensive study in US equity markets on
the overnight and daytime returns. They document that the US equity premium during this
decade is entirely due to overnights returns: the returns during the night are strongly positive
and returns during the day are close to zero and sometimes negative. The authors show that
this day and night effect is found on individual equities, equity indices, exchange traded funds
and futures contracts on equity indices and is robust in the NYSE, NASDAQ, AMEX and
Chicago Mercantile Exchanges.
These results constitute a reversal on the evidence reported by studies on the weekend
effect in returns. French (1980), Agrawal and Ikenberry (1994), Wang et al.(1997) and Zainu-
din et al.(1997), among others, found that weekend returns were negative (from Friday close
to Monday close) and that a significant part of this effect was generated from Friday close to
Monday open. Evidence of positive and significant overnight returns contrasts with previous
reported evidence under the day-of-the-week effect where, in general, returns in some transac-
tion days are larger than in others. The most commonly reported anomaly in this regard is the
significantly lower returns, if not negative, on Mondays and, usually, higher returns on Friday
(Jaffe and Westerfield, 1985; Chang et al., 1993, 1998). Several hypotheses have been proposed
to explain the occurrence of the day-of-the-week effect: information release hypothesis, where
companies delay disclosure of negative information until late in the week and the information
processing hypothesis, linked with the asymmetry in information costs between small and
large investors (Thaler, 1987).
The timing of information releases was also used to explain the potential day and night
effect. Early papers on the timing of earnings announcements found that companies had a
tendency to publicize bad news after the market close. Patell and Wolfson (1982) find that
good news are more likely to be disclosed while the markets are open but bad news are more
likely to be released after the market close. In turn, Bagnoly, Clement and Watts (2005) find
that announcements made on Fridays, during the trading period and after the market close,
are more negative than on other days of the week. Damadoram (1989) shows that despite the
announcements of earnings and dividends made on Friday are actually more likely to contain
bad news and result in subsequent negative returns during the weekend, these announcements
of bad news can explain only a small part the weekend effect. Doyle and Magilke (2009) ree-
xamine the conventional wisdom that managers are more likely to delay disclosure of unex-
pected negative information until after the close of the markets. They find no evidence that
managers strategically choose to disclose negative information after the close of the markets
or on Friday. They also find no evidence that managers decide to report “good” news before
the opening of the markets or on Monday-to-Thursday period.

Individual stocks included in the S&P 500 index, individual stocks of technology companies included in the AMEX
3

interactive week internet index, a sample of 14 of the largest exchange traded funds and the intraday behavior of
the S&P 500 E-mini futures contract.
120
Cliff et. al. (2008) also test the possible explanation of the timing of disclosure. Using a
sample of earnings announcements, where the time of disclosure and the unexpected earning
signals (positive, negative, neutral) are identified, results show that although there was a trend in
the period of analysis (2000-2005) for managers to disclose positive unexpected earnings after
the market closes, this tendency does not explain the significant day and night effect on returns.
Another proposed argument to explain the night and daytime effect are the effects of asset
liquidity. Amihud (2002) documents a negative relationship between various measures of liqui-
dity and future stock returns: increased (lower) risk or transactions costs of low (high) liquidity
stocks would predict more (less) night minus daytime return spread. Using various measures to
proxy liquidity, Cliff et al. (2008) find that positive night minus day return spread is not mainly
due to the high risk or to the high transaction costs of illiquid stocks.
Given evidence that the positive and significant night minus day return spread constitutes
an anomaly in US equity markets, which appears to have a substantial magnitude and that goes
against the predictions suggested by models based on the risk of assets, this pattern is an intri-
guing fact and a challenge for the asset pricing literature to explain it. In the following section
we present the data and methods used to examine hypotheses of the day and night effects,
decomposed by day of the week and pre- and post-holiday.

3. DATA AND METHODOLOGY

The data employed in this study are opening (first recorded trade) and closing (last recor-
ded trade) daily prices from a group of ETFs based on the main US equity market indices.
ETFs allow investors to trade a basket of stocks in a single transaction. The creation and des-
truction features of the ETF ensure that prices on the exchange closely reflect the fair value
of the underlying portfolio´s components. In our analysis we use broad-based index ETFs.
The ETFs used are the DIA (representing the Dow Jones Industrial Average 30), the IWM
(representing the Russel 2000 index - a small-cap US companies index), the QQQQ (repre-
senting the NASDAQ 100 index) and the SPY (SPYDERs - representing the S&P 500 index).
The process to create an ETF begins when an ETF manager (the sponsor) submits a plan
with the U.S. Securities and Exchange Commission to create an ETF. Once the plan is appro-
ved, the sponsor forms an agreement with an authorized participant, generally a market maker,
specialist or large institutional investor, who is empowered to create or redeem ETF shares. The
authorized participant borrows stock shares, places those shares in a trust and uses them to
form ETF creation units. These are bundles of stocks varying from 10,000 to 600,000 shares,
but 50,000 shares is what’s commonly designated as one creation unit of a given ETF. Then, the
trust provides shares of the ETF, which are legal claims on the shares held in the trust to the
authorized participant. Because this transaction is an in-kind trade - that is, securities are traded
for securities - there are no tax implications. Once the authorized participant receives the ETF
shares, they are sold to the public on the open market just like stock shares (SEC, 2012).
When investors want to sell their ETF holdings, they can do so by one of two methods.
The first is to sell the shares on the open market. This is generally the option chosen by most
individual investors. The second option is to gather enough shares of the ETF to form a
creation unit, and then exchange the creation unit for the underlying securities. This option is
generally only available to institutional investors due to the large number of shares required to
form a creation unit. When these investors redeem their shares, the creation unit is destroyed
and the securities are turned over to the redeemer. This option has no tax implications for the
portfolio (SEC, 2012).
The return series of ETFs were obtained from www.finance.yahoo.com. The return series
span from the period 3rd January 1994 to 3rd January 2014. However, according to Kelly and
121
Clark (2011), the liquidity of the ETFs was poor during the first half of the 90’s and has vastly
improved during the second half of this decade. To determine from where to start the analy-
sis, we follow the criteria used by Kelly and Clark (2011). Kelly and Clark computed the 5th
percentile of sorted opening and closing times. Data were not used from years in which the
5th percentile time of the first trade of the day is not in the first ten minutes of the trading day
or the 5th percentile time of the last trade before 4 pm is not between 3:50 pm and 4:00 pm.
Based upon their criteria, DIA data are used from 1998, IWM data are used from 2001,
QQQQ data are used from 1999 and SPY data are used from 1996. Until the middle of the
first decade of this century, while the AMEX exchange was the primary exchange for most of
the ETFs, they also actively traded on other exchanges. From the second half of this decade
the QQQQ ETF is primarily traded on NASDAQ exchange and the other ETFs are primarily
traded in NYSE ARCA, a subsidiary of NYSE Euronext, the second largest electronic com-
munication network in terms of shares traded in US markets.
We calculate the returns in the ETFs during the two daily time sub-periods: night (close-
-to-open prices) and daytime (open-to-close prices) returns. As is common in the analysis of
daily and intraday financial data, we work with log returns: rCi,t=ln[Pi,t/Pi,t-1].100 where Pi,t is the
ETF level i at the end of day t and the C superscript stands for daily close-to-close return.
We decompose the continuously compound close-to-close return on day t for the ETF i as
rCi,t=rNi,t+rDi,t where rNi,t stands for the night and rDi,t for the daytime return. The reported ave-
rage returns are geometric averages returns and therefore its sign indicates whether the ETF
gained or lost value during this intraday range over the sample period.
Two approaches are used to examine the hypotheses of day and night effects on ETFs.
The first involves a descriptive analysis of the returns and tests of equality of means returns
using parametric tests.
The second is a panel data regression-based approach. The following panel data regression
model is specified to capture night and daytime effects common in all ETFs:

ri,t=β0+β1 xi,t_night+εi,t (1.1)

where the depend variable ri,t is a scalar accounting for rNi,t or rDi,t, xi,t_night is a dummy va-
riable taking the value of one for the night period t in the i th ETF and zero otherwise, β are
parameters to be estimated and εi,t is the error term. Then, the following panel data regression
model is specified to capture common night and daytime effects, by day-of-the-week:

ri,t=β0+∑4k=1βkxk,i,t_daytime+∑5k=1θk xk,i,t_night +εi,t (1.2)

where xk,i,t_daytime and xk,i,t_night are dummy variables for the daytime and night periods, in
the k day of the week, in the i th ETF, respectively. βk and θk are parameters to be estimated
and εi,t is the error term. The night and daytime average returns, by day of the week, are the
coefficients (given the reference category) from a regression of the panel of returns (stacked
for all ETFs, dates, and daily sub-periods) on dummy variables for the daily time periods, by
day of the week.
To evaluate the statistical significance of the parameters and test for the robustness of the
day and night effects in the US equity ETFs, we use various robust variance-covariance matrix
estimators for the panel data models to account for departures of the residuals from homos-
cedasticity, temporal, contemporaneous and cross-temporal independence. As is common in
the analysis of times-series cross-section (TSCS) data in finance, the disturbances εi,texhibits
evidence to be heteroskedastic within and between groups, autocorrelated up to some lag,
contemporaneously and possibly cross-temporal correlated between groups in different time
periods (Petersen, 2008). The errors may be heteroskedastic between groups and autocorrela-
ted within panels but must have zero conditional mean, E[εi,t |X’it ]=0 , where the vector of
122
independent variables is X’it . We make the following assumptions about correlations between
errors:

ETF effects: The errors may exhibit ETF effects, meaning that errors may have ar-
bitrary correlation across time for a particular fund: E[εi,t εi,t-k|X’i,t , X’i,t-k ] ≠0 for
k≠0.
Time effects: The errors may exhibit time effects, meaning that errors may have arbi-
trary correlation across ETFs at a moment in time: E[εi,t εj-k|X’i,t , X’j,t ] ≠0 for i≠j.
Persistent common shocks: The errors may exhibit persistent common shocks, mea-
ning that we allow for some correlation between different ETFs in different time
periods, but these shocks fade away over time, and may be ignored after L periods.
So E[εi,t εj,t-k| X’i,t , X’i,t-k ]=0 for i≠j and |k|>L.

To understand the differences between time effects, ETF effects, and persistent common
shocks, consider the following data generating process (Thompson, 2011):
εi,t= θi,ft+ωit+uit, (2)
ωit=ϕωi,t-1+δit, ωi,o=0,
where f is a vector of random factors common to all ETFs, and θ is a vector of factor loa-
dings specific to ETF i. uit and δit are random shocks, uncorrelated across both ETF and time.
The ωit term generates ETF effects - shocks specific to ETF i. θi’ft generates both time effects
and persistent common shocks. When f is uncorrelated across time, we have time effects but
no persistent common shocks - ETFs are correlated with one another at a moment in time,
but different ETFs in different time periods are uncorrelated. When f is persistent, we have
both time effects and persistent common shocks. We assume that the autocorrelations for
ft disappear after L periods4 . In the following sub-sections we present the various variance-
-covariance matrix estimators robust to the various behavior assumptions of the errors.

3.1. Beck-Katz method

The Parks-Kmenta method, originally proposed by Parks (1967) and then improved by
Kmenta (1986), seeks to take into account heteroscedasticity between panels as well as tempo-
ral and spatial dependence in the residuals of TSCS models. This method uses an application
of the Generalized Least Squares (GLS) estimation. This estimation is based on the assump-
tion that the variance-covariance matrix of the errors, Ω , is known. However, since the Ω
matrix is unknown, this method uses the feasible GLS (FGLS) using a consistent estimator of
this matrix to obtain a consistent estimator of the coefficient vector, β. This method combines
assumptions about serial correlation (within panels), contemporaneous correlation (between
panels) and heteroscedasticity of disturbances across panels:
E[ε2it|Xit ]=σii (3.1)

E[εit εjt| Xit , Xjt ]=σij if i≠j, (3.2)

εit =ρi εi,t-1+υit, (3.3)

where ρi is the first-order autoregressive coefficient, allowing the value of this parameter
to vary from panel to panel, being necessary to find consistent estimators of the σii, σij and ρi

More generally, shocks to ft could decay slowly but not completely disappear after L periods. For example, ft could
4

follow a first-order autoregressive process. While this would violate the assumption, we assume that after some time
the correlation between shocks is small enough that it can be ignored. Autoregressive processes could be handled
by allowing the lag length L to grow with the sample size (see for example Newey and West, 1987).
123
(i.e., matrix elements of Ω). The estimated GLS results of the Parks-Kmenta method are given
by
ˆ = (X ˆ 1X) 1 (X ˆ 1y), (4)
GLS
ˆ ar( ˆ ) = (X ˆ 1X)
V 1
GLS . (5)
The variance-covariance matrix of the disturbances can be written in terms of the Kro-
necker product

, (6)
and the ˆ m x m matrix is estimated as
ˆ = ( ˆ i ˆ j ) / Ti , j, (7)
i, j
ˆ
where i and ˆ j are the residuals for panels i and and j is the number of matched time period
observations between panel i and j.

The Parks-Kmenta method consists of three sequential FGLS transformations and is es-
timated as follows. In the first step OLS pooled regressions (1.3) or (1.4) are estimated. Then
residuals from the first step are used to estimate panel i - specific serial correlation. In the
second step, ri are used to transform the model into a model with serially independent errors.
Residuals of the second step are then used to estimate contemporaneous correlation and he-
teroscedasticity of the errors across panels. In the third step the data is again transformed with
estimates of the correlations and variances to allow the parameter estimation of equations
(1.3) or (1.4) by OLS or the coefficient estimates in equation (4), with errors now corrected
of the three previous assumptions, and the standard error estimates of the parameters in
equation (5).
According to Beck and Katz (1995), although the GLS method has optimal properties for
handling TSCS data, the Parks-Kmenta FGLS method does not hold the same properties.
This is because, although the FGLS uses an estimate of the error process, the FGLS´s for-
mula for standard errors assumes that the variance-covariance matrix is known, not estimated.
According to Beck and Katz this is a problem in TSCS models because the errors’ process has
a large number of parameters. In contexts where the number of time- periods is not much
higher than the number of cross-sectional units, this oversight would lead standard error es-
timates of the estimated coefficients to understate their true variability. In the dataset of this
study, however, as the number of time-periods points is immeasurably greater than the num-
ber of cross-sectional units, overconfidence in the standard errors should not occur because
the Ti|m ratio is high.
In the Beck and Katz (1995)’ method disturbances are assumed to be heteroskedastic, con-
temporaneously correlated (across panels), autocorrelated (within panel) and the first-order
autocorrelation parameter can be constant or different for each panel. This method produces
OLS estimates of β when autocorrelation is not specified or uses Prais-Winsten method to
produce parameters’ estimates when autocorrelation is specified. By specifying autocorrela-
tion, parameters’ estimates are conditional to estimates of the autocorrelation parameters. To
estimate the parameters’ variance-covariance matrix, which is asymptotically efficient under
the assumed covariance structure, this method also uses the variance-covariance matrix of the
disturbances and the estimation method of its elements is similar to that used by the Parks-
-Kmenta method, which are described in equations (6) and (7), respectively. Parks-Kmenta and
Beck-Katz estimators are both consistent as long as the conditional average (x it ) is correctly
specified. However, if the assumed covariance structure of the errors is correct, parameter
estimates generated by Parks-Kmenta method are more efficient.
The estimated variance-covariance matrix of parameters of OLS or Prais-Winsten is given
by
124
ˆ ar ( ˆ ) = ( X X) 1 ( X ˆ 1 X) 1 (X X) 1 (8)
V
where ˆ is the full estimated covariance matrix of disturbances. When errors are serially
correlated, this method assumes a first-order autoregressive process of errors and uses the
GLS to estimate the parameters whose estimates are conditional on the estimated value of .
The Prais-Winsten method consists on the following. The 0-th iteration is obtained by
estimating equations (1.3) or (1.4). An estimate of the serial correlation in residuals series is
obtained. By default the following regression is used εi,t=riεi,t+δit. Then the following trans-
formation is applied and estimated:

(rit-ri ri,t-1)= x it -ri xit 1 +vit. (9)


By default, this estimation process is performed using an iterative mechanism until con-
vergence is achieved; this process is repeated until the change in the ri estimate is within
a specified tolerance. Thus, the new parameter estimates are used to produce estimates of
rit =x it ˆ and then r is re-estimated using, by default, the regression defined by
i

(rit-rit)=ri ri ,t 1 - rˆi ,t 1
+εit. (10)
Then equation (9) is re-estimated using the new estimate and continue to iterate between
(9) and (10) until the estimated converges. The residuals, removed from the serial correlation,
are then used to estimate the matrix of the residuals and the Var ( ) matrix of
parameter’s standard errors.

3.2. Double clustered standard errors by time and stock indices effects

In finance panel data analysis, it is common that the error term includes a specific effect in
the unit (index) as well as common shocks that affect all units (indexes), i.e., that the error term
is correlated temporally (within indexes) and contemporaneously (between indexes). When
using the usual standard errors that do not fit to the correlation between observations for the
two dimensions, Cameron et al.(2006), Petersen (2009) and Thompson (2011) show that this
choice of methodology can lead to standard errors that are very small. Small standard errors
lead to higher than expected t statistics and F statistics, thus showing significance even when it
does not exist. When we cluster along a single dimension (within or between) this can lead to
understated standard errors. Thompson (2011) considers that when clustering is made by time
allowing only units to be correlated with one another at a given time period, this procedure
will ignore specific persistent effects to a unit. One way to simultaneously handle unit and
time effects would be to use unit and time dummies (for example, we could cluster standard
errors by time and include units fixed effects including in the regression dummy variables
specific to the units). However, Thompson considers that this procedure does not take into
account many relevant forms of correlated errors because inclusion of time periods and units
dummies does not correctly model the structure of the temporal correlation (time dummies)
and the autoregressive process (unit dummies) of the errors.
Cameron et al.(2006) and Thompson (2011) propose the double clustered standard error
estimator robust to temporal (within units) and sectional (between units) correlation. In this
regard, this study also uses the double clustered standard error estimator, also used by Cliff,
Cooper and Gulen (2008). Double clustered standard errors are formulated with the following
covariance matrix estimator of β

Vˆ ar( ˆ ) = Vˆ t + Vˆ i Vˆ w (11)
125
where the three matrices are the variances-covariances matrices time-clustered, index-clus-
tered and the White (1980) consistent estimator (no clustering), respectively. Each matrix is
a heteroscedasticity autocorrelated consistent (HAC) “sandwich” estimator which takes the
form ( X X) 1 S(X X) 1, where each differ in the construction of S, the spectral density
matrix of uˆ it = xit ˆit, where ˆit is the residual in t -th time period and i -th stock index and
xitrepresents the vector of the regressors` values in t -th time period and t -th stock index. The
V̂t term assumes that a (common) shock at any given time affects multiple indexes and so
account for cross-index (contemporaneous) correlation. This term is computed as
T
St = t,
t =1 (12.1)
N 1
t = 0 +
n=1
[] n + n , (12.2)
N n
n = u it u i +n,t
i =1 . (12.3)
The n matrix measures correlation between indices that are n - positions apart. Because,
unlike the time, does not exist a natural order of the indexes Ω, captures all possible interac-
tions between i and j indices at the t-time period and St captures all the possible time periods
in the analysis. The clustered index term, V̂i , has a similar structure. This term is computed as
N
Si = i =1 i, (13.1)
T 1
i = 0 + =1
[ + ], (13.2)
T
= t =1
uit ui ,t + . (13.3)
The matrix measures correlation between residuals at the time t and t+t for a given
i -th index. Thus, Ω is the HAC estimator for a single index. The above general version su-
ggests that all possible lags from 0 to T-1 should be included. However, when an excessive
number of lags are included, these estimators have poor finite sample properties. Standard
implementations, such as the Newey-West method, modify the Ω computation by truncating
the summation at a much lower lag length k5. We follow this intuition and set K = 4 daily time
sub-periods, taking into account the order of the significant autocorrelation coefficients in
each index. Finally, the V̂w term is the White´s conventional estimator, ignoring any clustering,
and is computed as
ˆ =
V
N Ti
uit u it
w i ==
11 t . (14)
This estimator is subtracted to avoid double counting of the common-index, common-
-time terms ( 0) included in V̂t and V̂i estimators. All three V̂ estimators are multiplied by
a finite sample adjustment of (T-1)/(T-p), where p is the dimension of β. The estimators V̂t
and V̂i are also multiplied by T/(T-1) and N/(N-1), respectively, to adjust for the number
of clusters.
Thompson (2011) warns that it can sometimes be a disadvantage to double-clustering and
that it is not always appropriate to use the most robust standard error formula. Thompson
considers that the more robust standard error formula tend to have less bias, but more varian-
ce. The lower bias improves the performance of the statistical test. But the increase in variance
often leads to find statistical significance even when it does not exist.
5
The Newey-West procedure also weights by w =1 (k + 1) to ensure that the resulting matrix is positive
definite.
126
3.3. Robust standard errors to general forms of cross-sectional, tempo-
ral and cross-temporal dependence

It is common in economic and financial processes that the data behavior be heterosce-
dastic, correlated over time, correlated between subjects in a given time period and correlated
between different subjects in different time periods. To estimate standard errors of the pa-
rameters that are robust to these features of the errors on the underlying panel data model,
Driscoll and Kraay (1998) demonstrate that the standard nonparametric time-series covariance
matrix estimator (Newey-West) can be modified such that it is robust to general forms of
cross-sectional as well as temporal dependence. Driscoll and Kraay approach loosely applies
a Newey-West - type correction to the sequence of cross-sectional averages of the moment
conditions. Driscoll and Kraay´s standard errors for the coefficient estimates are then obtained
as the squares roots of the diagonal elements of the asymptotic (robust) covariance matrix,
ˆ ar ( ˆ ) = ( X X) 1 S (X X) 1
V T , (15)
where ST is defined as in Newey-West (1987)

ST = 0 +
m (T )
j =1
w( j , m) [ j + j ] (16)
where m(T) denotes the lag length up to which the residuals may be autocorrelated and the
modified Bartlett weights w(j,m)=1-j/(m(T)+1) ensures positive semi-definiteness of ST and
smooth the sample autocovariance function such that higher-order lags receive less weight.
The Ωj matrix is defined as
T N (t )
j = ut ut j ut = u i ,t
t = j +1 , with i =1 (17)
In (17), the sum of the individual time t moment conditions u i,t runs from 1 to N(t),
where N is allowed to vary with t. This is a small adjustment to Driscoll and Kraay (1998)
original estimator introduced by Hoechle (2007) in his xtscc Stata program. This adjustment
makes their estimator ready for use with unbalanced panels. For pooled OLS estimation, the
individual orthogonality conditions u i,t in (17) are the (kx1) dimensional moment conditions
of the regression model, i.e., u i ,t = x it it . From (16) and 17) it follows that Driscoll and
Kraay (1998)´s covariance matrix estimator equals the heteroskedasticity and autocorrelation
consistent covariance matrix estimator of Newey-West (1987) applied to the time series of
cross-sectional averages of the u i ,t = x it it . Hoechle (2007) considers that estimating the
covariance matrix with this approach yields standard errors that are robust to general forms
of cross-sectional and temporal dependence. In the following section, to estimate pooled
OLS long panel data and fixed effects regression models with double clustered standard errors
and standard errors robust to general forms of cross-sectional, temporal and cross-temporal
dependence in residuals, we use Stata´s ivreg2 and xtivreg2 routines from Baum, Schaffer and
Stillman, (2010) and Schaffer (2010), respectively.

4. RESULTS AND DISCUSSION

4.1. Summary statistics of night and day returns

Summary statistics for day and night returns series of ETFs during the entire sample
period are reported in table 1. These returns are categorized according to the hypothesized
day of the week effect for time period of the day. Results show that there is no pattern for
the higher night average returns by day of the week across ETFs. In turn, lower day average
127
returns are recorded on Friday in 3 out of 4 ETFs. Regarding the volatility of day returns (as
measured by standard deviation) results show no pattern by day of the week on higher volati-
lity. Concerning lower volatilities, these occurs at Friday.
The night average returns are higher on Tuesday in 3 out of 4 ETFs. In fact, every Tuesday
night’s returns are positive and significantly greater than zero in all 4 ETFs. Regarding lower
night returns there is no pattern by day of the week across the ETFs. Regarding overnight
volatility, the lowest value is exhibited on Wednesday in 3 out of 4 and the highest value is
exhibited on Friday in 2 out of 4 ETFs (SPY and SPDR). Overall, for all ETFs, volatility du-
ring the day is about two times greater than that exhibited during the night period for all days
of the week.
The distributional properties of the return series, by time period of day and day of the
week, for all ETFs, are not normal. Since the sampling distribution of the skewness parameter
of a normal distribution is normal with zero mean and standard deviation 6 T , where T is
the sample size, virtually all returns by time period of the day and day of the week are positive
or negative and significantly biased, but there is no common pattern as to the sign and mag-
nitude of the bias. By time period of the day and day of the week, the SPY and SPDR ETFs
have a sign and significance approximately identical. As to skewness, for day time returns,
QQQQ and IWM ETFs also have a similar pattern by day of the week. It is observed that in 3
out of 4 ETFs (SPY, SPDR and IWM) night returns on Monday (weekend return) are positive
and significantly skewed, suggesting a greater likelihood of the returns having higher values
than under the normal. Conversely, day returns on Monday are negative and significantly
skewed and are more likely to have lower extreme values than under the normal.
The degree of excess kurtosis across ETFs, for returns categorized by time period of the
day and day of the week, is also high, suggesting leptokurtic (i.e., peaked) distributions with
higher chances of generating extreme returns (i.e., fat tails) compared to a normal distribution.
Since the sampling distribution of kurtosis parameter is normal under a normal distribution,
with mean zero and standard deviation , where is the sample size, almost all kurtosis
estimates for night and day returns categorized by day of the week are statistically significant
at 1% level, there being no pattern in the magnitude estimate between day and night returns.
In table 1, the average return column also presents returns significantly different from
zero. Only night returns are positive and significantly different from zero. Tuesday-night (all
ETFs), Monday-night (SPY and IWM), Thursday-night (QQQQ) and pooled night returns
(SPY, DIA and QQQQ) are positive and significantly different from zero. In no ETF day
returns are significantly different from zero. These results suggest the possibility that the day
and night effect might occur in some ETF, where in some days of the week night returns are
positive and significantly higher than the corresponding day return. In general, day returns are
not significantly different from zero. The significant higher volatility on day than night returns
constitute a puzzle to the asset pricing literature in face of the significant lower average day
than night returns.
In the last two columns of Table 1 are presented results of Student t-tests, with and wi-
thout equal variances, for the equality of means between day and night returns, by day of week
and overall return and for each ETF. For the SPY and SPDR ETFs it is observed that in no day
of the week there is a significant difference between night and day average return.
For the SPY ETF, however, the overall night is significantly higher than the overall day
average return at the 0, 05 level. To quadruple Q ETF, the Tuesday, Friday night and pooled
returns are significantly higher than the corresponding day returns. To the quadruple Q ETF,
Tuesday, Friday and overall night returns are significantly higher than the corresponding day
returns. For the IWM ETF, only the night (weekend return) is significantly higher than the day
Monday average return.
128
Table 1: Descriptive analysis of night and day returns by day of the week

Exchange Number Mean Std. dev. Skewness Kurtosis t- test of t- test of


Traded Fund (%) (%) equality of equality of
means (equal means
variances) (unequal
variances)

SPY
Daytime
Monday 855 -0.0155 1.1276 -0.7419 12.456 -1.589 -1.602
Tuesday 929 0.0104 1.1432 0.3870 10.652 -1.244 -1.276
Wednesday 930 0.0020 1.0894 0.1799 11.439 -0.266 -0.267
Thursday 912 -0.0131 1.0829 -0.7335 12.007 -0.817 -0.819
Friday 908 -0.0316 1.0050 0.1023 5.340 -1.263 -1.268
total 4534 -0.0093 1.0901 -0.1521 10.788 -2.306** -2.325**
Overnight
Monday 823 0.0578*** 0.7082 0.6724 13.006 --- ---
Tuesday 846 0.0657*** 0.6332 0.6447 11.271 --- ---
Wednesday 920 0.0129 0.5997 -0.6918 7.599 --- ---
Thursday 903 0.0208 0.6332 -0.2906 6.878 --- ---
Friday 881 0.0219 0.7710 -1.8800 26.618 --- ---
total 4373 0.0350*** 0.6710 -0.4736 16.341 --- ---
DIA
Daytime
Monday 755 0.0194 1.0660 -0.2820 13.3011 -0.270 -0.273
Tuesday 821 0.0018 1.0383 0.2270 10.3669 -1.165 -1.193
Wednesday 825 0.0096 1.0472 0.0623 12.6368 -0.061 -0.061
Thursday 810 0.0107 1.0732 -0.6773 12.8931 0.099 0.100
Friday 804 -0.0322 0.9701 0.1826 5.6626 -0.313 -0.314
total 4015 0.0017 1.0390 -0.1150 11.354 -0.740 -0.746
Overnight
Monday 726 0.0320 0.6888 0.4618 10.936 --- ---
Tuesday 746 0.0522*** 0.5919 1.1312 11.95 --- ---
Wednesday 815 0.0121 0.5697 -0.5804 6.611 --- ---
Thursday 803 0.0063 0.6198 -0.1226 7.594 --- ---
Friday 782 -0.0186 0.7340 -2.3344 35.416 --- ---
total 3872 0.0161* 0.6430 -0.5431 18.894 --- ---
QQQQ
Daytime
Monday 701 -0.0504 1.6341 0.4818 12.198 -0.167 -0.165
Tuesday 762 -0.0886 1.8076 -0.6387 6.8034 -2.173** -2.245**
Wednesday 765 0.0048 1.8635 0.9034 17.470 -0.186 -0.187
Thursday 752 0.0396 1.6841 -0.0991 6.1786 -0.566 -0.568
Friday 749 -0.0994 1.5386 0.1086 7.8503 -2.026** -2.036**
total 3729 -0.0385 1.7115 0.1652 10.887 -2.017** -2.022**
129
Overnight
Monday 676 -0.0298 2.8160 -21.882 538.48 --- ---
Tuesday 692 0.0731*** 0.7913 0.4330 7.327 --- ---
Wednesday 755 0.0190 0.9479 0.1910 10.019 --- ---
Thursday 745 0.0794*** 0.9251 0.6980 7.7974 --- ---
Friday 728 0.0399 1.0541 -0.3125 12.539 --- ---
total 3596 0.0369* 1.4836 -28.125 1317.11 --- ---
IWM
Daytime
Monday 615 -0.0906 1.3703 -0.8618 7.821 -2.195** -2.213**
Tuesday 669 0.0260 1.4458 -0.2212 6.891 -0.986 -1.014
Wednesday 671 0.0365 1.4429 0.0288 8.193 0.603 0.606
Thursday 659 -0.0269 1.4330 -0.4729 9.795 0.306 0.305
Friday 657 -0.0083 1.3171 0.5877 9.160 -0.476 -0.478
total 3271 -0.0113 1.4034 -0.1941 8.397 -0.823 -0.822
Overnight
Monday 593 0.0528* 0.8259 0.2368 8.503 --- ---
Tuesday 607 0.0907*** 0.7562 1.8274 23.101 --- ---
Wednesday 662 -0.0012 0.7196 -0.2882 7.160 --- ---
Thursday 652 -0.0647 2.8199 -22.830 561.88 --- ---
Friday 638 0.0218 0.9272 -0.1987 32.434 --- ---
total 3152 0.0181 1.4718 -33.233 1571.4 --- ---
Sample period is 20 January 1998 to 3 January 2014 for SPDR, 1 January 1996 to 3rd
th rd st

January 2014 for SPY, 10thMarch 1999 to 3rd January 2014 for QQQQ and 30th May 2000 to
3rd January 2014 for IWM.

4.2. Panel data regression-based analysis of night and day time effects

This section presents the estimated panel data regression models, first, by day time period
and, then, simultaneously, by day time period and day of the week. In these long panel data
models we use standard error estimators of the coefficients robust to departures from inde-
pendent and identically distributed (i.i.d.) residuals over time and across sectional dimensions.
The panels comprise N=4 ETFs and T varies by ETF, i.e., we use an unbalanced panel.
With the first regression model specified in Eq. (1.1) we intend to examine whether ETFs
show significant common high-low tendencies in average returns during the night and day
time periods. In the second regression model, specified in Eq. (1.2), we examine whether there
occurs significant common high-low regularities in mean returns during the night and day time
periods by day of the week. The occurrence of such abnormal mean returns across ETFs by
time period of the day and day of the week could be profitably used for timing the deals: when
buying / selling at the open and selling / buying at the close of the market.
The estimated coefficients and standard errors of the parameters specified in Eq. (1.1) to
testing for the day and night common effects across ETF are presented in Table 2. The table
also includes the R2, the adjustedR2 and an F-test (Wald χ2- test) of the null hypothesis that
the slope coefficients are jointly zero. The column of the pooled OLS regression also includes
the White’s general test, the modified Wald test and the Breusch- Pagan LM test. The White´s
general test is used to test for heteroscedasticity in the residuals, where the assumption of
normally distributed residuals is relaxed. The modified Wald test is used to test for groupwise
130
heteroscedasticity in the residuals of the pooled OLS regression and the Breusch-Pagan LM
test is used to test for contemporaneous correlation of residuals across ETFs. We also conduc-
ted tests for cross-temporal pairwise correlations between residuals from ETFs which proved
significant at several lags.
Thus, the null hypotheses of no within heteroscedasticity, no groupwise heteroscedasti-
city, no within serial correlation, no contemporaneous and no cross-temporal correlations in
residuals across ETFs from pooled OLS regression were rejected. Following this, regression
models were estimated with standard errors corrected for these departures of the residuals
from i.i.d assumptions using the panel corrected standard errors method (Beck-Katz method),
the pooled OLS method with standard errors clustered by time and ETF, the pooled OLS
and the OLS fixed effect methods with standard errors corrected for heteroscedasticity, serial
correlation, contemporaneous and cross-temporal correlations in residuals.

Table 2: Estimated coefficients and standard errors of night and daytime effects for U.S equity
exchange-traded funds panel data regressions

Model Pooled PCSE (3) Double- Driscoll- Fixed -


OLS (1) clustered (4) Kraay (5) Driscoll-Kraay (6)
Constant -0.0139 -0.0141 -0.0139 -0.0139 ------
(daytime)
(s.e.) (0.0097) (0.0153) (0.0169) (0.0178) ------
Overnight 0.0410*** 0.0412* 0.0410* 0.0410* 0.0410*
(s.e.) (0.0139) (0.0217) (0.0211) (0.0216) (0.0216)

NxT 30542 30542 30542 30542 30542

R2 0.0003 0.0003 0.0003 0.0003 0.0003


Adjusted R2 0.0003 -------- ------- -------- -------
F- statistic
(Wald chi2) 8.65*** (3.59*) 2.84 3.59* 3.59*
White Modified 1.35 --------- --------- --------- ---------
Wald-stat 997.83*** --------- --------- --------- ---------
Breusch-Pagan
LM stat 30150*** --------- --------- --------- ---------

Sample period is 20th January 1998 to 3rd January 2014 for SPDR, 1st January 1996 to 3rd
January 2014 for SPY, 10thMarch 1999 to 3rd January 2014 for QQQQ and 30th May 2000
to 3rd January 2014 for IWM. F-test and Wald chi2-test are for the null hypothesis that all
slope coefficients are zero. White is the White (1980) heteroskedasticity general test for
pooled OLS regression model. Modified Wald stat. test for groupwise heteroscedasticity
across stock indices in the context of an OLS regression fit to pooled cross-section time
series data, following page 598 of Green (2000). Breusch-Pagan (1980) LM statistic test
for contemporaneous correlation of residuals across stock indices. (1) stands for OLS
regression fit to pooled cross-section time series data, (2) stands for Beck-Katz method,
(3) stands for OLS regression fit to pooled cross-section time series data with standard
errors clustered by time and stock index effects, (4) stands for OLS regression fit to pooled
cross-section time series data with standard errors estimated following Driscoll and Kraay
(1998)´s covariance matrix estimator and (5) stands for fixed effects regression model with
standard errors estimated following Driscoll and Kraay (1998)´s covariance matrix estima-
tor. Asterisks stands for significance at the *0.10, **0.05, *** 0.01 levels.
131
In the pooled OLS regression, the estimated coefficient for night return is significantly
positive while that for day return is not significantly different from zero. When standard errors
of the parameters are adjusted for departures of the residuals from i.i.d. assumptions, the
significance of the estimated coefficient for the night return decreases, being now marginally
significant. These results suggest that the equity ETFs are characterized by a common night
positive albeit marginally significant effect. These results also suggest a sharp decrease in the
intensity of the night effect in view of the results reported in previous studies on the same
type of assets (Cliff et al., 2008), providing, albeit marginally, some support to theories that
predict higher returns during non-trading periods to compensate suppliers investors of liqui-
dity for the risk endured during the period of non-marketability (Longstaf, 1994). However,
the lower values of the volatility on night relatively to the day returns constitute a puzzle on
the risk-return space to the asset pricing literature.

Table 3: Estimated coefficients and standard errors of night and daytime effects by day of the
week for U.S equity exchange-traded funds panel data regressions

Model Pooled PCSE (3) Double- Driscoll- Fixed -


OLS (1) clustered (4) Kraay (5) Driscoll-Kraay (6)

Constant-daytime -.0306 -.0304 -.0306 -.0306 -------


(s.e.) (.0225) (.0354) (.0395) (.0421) -------
Tuesday-daytime .0184 .0181 .0184 .0184 .0184
(s.e.) (.0312) (.0491) (.0558) (.0619) (.0619)
Wednesday-daytime .0426 .0418 .0426 .0426 .0426
(s.e.) (.0312) (.0490) (.0549) (.0602) (.0602)
Thursday-daytime .0334 .0327 .0334 .0334 .0334
(s.e.) (.0313) (.0492) (.0525) (.0590) (.0589)
Friday-daytime -.0125 -.0128 -.0125 -.0125 -.0125
(s.e.) (.0313) (.0493) (.0524) (.0568) (.0568)
Monday-night .0597* .0594 .0597 .0597 .0597
(s.e.) (.0321) (.0504) (.0478) (.0532) (.0532)
Tuesday-night .0999*** .0998** .0999** .0999** .0999**
(s.e.) (.0319) (.0500) (.0471) (.0486) (.0486)
Wednesday-night .0418 .0420 .0418 .0418 .0418
(s.e.) (.0312) (.0492) (.0433) (.0478) (.0478)
Thursday-night .0438 .0436 .0438 .0438 .0438
(s.e.) (.0314) (.0494) (.0474) (.0533) (.0533)
Friday-night .0464 .0463 .0464 .0464 .0464
(s.e.) (.0316) (.0497) (.0506) (.0511) (.0511)

NxT 30542 30542 30542 30542 30542


R2 0.0006 0.0006 0.0006 0.0006 0.0006
Adjusted R2 0.0003 -------- ------- -------- -------
F- statistic
(Wald chi2) 1.97** (7.22) 1.00 1.11 1.11
White Modified 7.84 --------- --------- --------- ---------
Wald-stat 997.93*** --------- --------- --------- ---------
Breusch-Pagan
LM stat 30139*** --------- --------- --------- ---------

Sample period is 20th January 1998 to 3rd January 2014 for SPDR, 1st January 1996 to 3rd
132
January 2014 for SPY, 10thMarch 1999 to 3rd January 2014 for QQQQ and 30th May 2000
to 3rd January 2014 for IWM. F-test and Wald chi2-test are for the null hypothesis that all
slope coefficients are zero. White is the White (1980) heteroskedasticity general test for
pooled OLS regression model. Modified Wald stat. test for groupwise heteroscedasticity
across stock indices in the context of an OLS regression fit to pooled cross-section time
series data, following page 598 of Green (2000). Breusch-Pagan (1980) LM statistic test
for contemporaneous correlation of residuals across stock indices. (1) stands for OLS
regression fit to pooled cross-section time series data, (2) stands for Beck-Katz method,
(3) stands for OLS regression fit to pooled cross-section time series data with standard
errors clustered by time and stock index effects, (4) stands for OLS regression fit to pooled
cross-section time series data with standard errors estimated following Driscoll and Kraay
(1998)´s covariance matrix estimator and (5) stands for fixed effects regression model with
standard errors estimated following Driscoll and Kraay (1998)´s covariance matrix estima-
tor. Asterisks stands for significance at the *0.10, **0.05, *** 0.01 levels.

Table 3 presents the estimated coefficients and standard errors of the parameters specified
in Eq. (1.2) for common day and night effects decomposed by day of the week. In the metho-
ds using robust variance-covariance matrix estimators of the parameters, only the Tuesday-
-night coefficient is positive and significant.
In the pooled OLS method, in addition to the Tuesday-night also the Monday-night coe-
fficient (i.e., weekend return) is positive and marginally significant. Another interesting result,
although not statistically significant, is that negative mean returns are only observed during the
Monday and Friday day time period.
The results shown in Table 3, concerning the entire sample period, are not consistent with
those obtained by Cliff et al. (2008) in a sample of 13 US equity ETFs, and individually for the
SPY ETF, in the period May 1995 through December 2006. Cliff et al. (2008) found that there
are significant pervasive differences between day and night returns by day of the week for the
sample and for the individually SPY. Our results only exhibit the occurrence of a positive and
significant difference between Monday daytime and Tuesday night returns.
Considering that the sampling period in this study goes beyond 2006, until early 2014, the
comparison of these results suggests that the US equity ETF market will have become more
(weak form) efficient, leading to a decrease or disappearance of the day and night effects pre-
viously evidenced by Cliff et al. (2008) in the sample period 1995-2006.
In addition to the longer sampling period used in this study, which may have reflected the
increased (weak form) efficiency in the 2nd half of the sample period, differences with the re-
sults of Cliff et al.(2008) may also be due to both institutional and procedural transformations
that have taken place from 2006. In August 2006, the Securities Exchange Commission-SEC,
mandated by the Congress of United States, adopted the National Market System (NMS)
Regulation which introduced regulation designed to protect the rights of the investing public,
improve the market´s informational efficiency, reduce transaction costs and, ultimately, pro-
vide access to untapped financial resources belonging to investors and companies, while bri-
ghtening the long-term investment prospects in the market. The principal rules and initiatives
of the NMS Regulation are aimed to reduce “trade-throughs” (order protection rule), to allow
the efficient access to quotes by market participants and rules that provide for the efficient
dissemination of market data to the investing public. The procedure “trade-throughs” repre-
sent the execution of trades at a price that is inferior to the price of a protected quotation,
often representing an investor limit order, displayed by another trading center (SEC, 2005).
This type of transaction, occurring at a rate of 1 in 11 actively traded Nasdaq stocks, prevents
transparency in the price discovery process by precluding investors access to more favorable
quotes, namely counterparty limit orders (SEC, 2005, pg.20). To qualify for the application of
this rule, the transaction center should be able of displaying and executing trades in under two
133
seconds, requiring that the trading center automate its system in order to ensure that the speed
requirement is met. Plausibly, the implementation of this rule (Rule 611) severely hampered
the role of the specialist on the NYSE where an automatic order execution system exist, de-
creasing its ability to influence, among others, opening and closing prices.
Also, the implementation of the access rule (rule 610) in this regulation, which oversees
the fair and efficient access to quotes by market participants, allows the disclosure of protec-
ted quotes (bid and ask prices of limit orders), allowing an improvement in the informational
efficiency and contributing to the narrowing of the capabilities of market makers affecting in
own benefit the price discovery, in particular, opening and closing prices. Likely, these proce-
dural and institutional changes will have contributed to the decline and disappearance of the
hypothesized night and day return effect in the second part of the sample period.

5. CONCLUSION

This study examines the presence of night and daytime common effects in a set of US
equity Exchange-Traded Funds returns series from January 3rd, 1994 to January 3rd, 2014.
Two hypothesized manifestations of the effects are examined: the pooled night and daytime
effect and the night and daytime effect by day of the week. To examine these effects, classical
parametric tests are applied and panel data regressions models are estimated using robust
variance-covariance matrix estimators of the models’ parameters. Panel data regression mo-
dels are estimated with standards errors corrected for the presence of within and groupwise
heteroscedasticity and serial, contemporaneous and cross-temporal correlation in the least
squares residuals of the US equity ETFs. To date, other studies have empirically evaluated the
night and daytime effects in the US equity ETFs returns. The most prominent one, the Cliff
et al. (2008)´s study, use several asset types, including a sample of large ETFs, which replicate
the behavior of the principal US stock indices. Their study cover the period from 1995 to
2006 while our goes further and covers the period of 1995 to the beginning of 2014, covering
the post implementation period of the NMS Regulation, enacted by the Securities Exchange
Commission in 2006, which will have introduced significant changes in the procedures of
transactions in the US equity markets.
Regarding the common overall night and daytime effect in the ETFs return series, using
panel data regressions with robust variance-covariance matrix estimators, a positive and mar-
ginally significant night average return is found while the day average return is not significantly
different from zero. Ours findings on the night and daytime effects, by and large, are not con-
sistent with those evidenced in the Cliff et al. (2008)’s study.
As regards the hypothesized common night and daytime effect decomposed by day of
the week, over the entire sample period and for regressions using robust variance-covariance
matrix estimators, only the estimated coefficient for Tuesday-night is significantly positive.
For the pooled OLS regression, with standard errors not corrected from departures of the
residuals from i.i.d. assumptions, the estimated coefficient for Monday-night is also positive
but marginally significant.
These results contrast with those obtained in previous studies using a sample of US equity
ETF but with a shorter sampling period. The study carried out by Cliff et al. (2008) in a sample
of 13 US Equity ETFs, and individually in the SPY ETF, showed a pervasive evidence for the
day and night effect overall and decomposed by day of the week in this type of assets, i.e., a
significantly positive night and a not so significantly different from zero day average return.
Ours findings show a marked decrease or even the disappearance of the day and night effects
previously evidenced by Cliff et al. (2008).
The disappearance of the effects may imply that US equity markets became gradually more
(weak form) efficient as from 2006. Several contributing factors are possible, including the
134
wide supremacy of US markets on a global scale in terms of transaction volume, liquidity and
capital admitted to public trading, which will have attracted a growing number of domestic
and foreign investors, accompanied by a decrease in transaction costs, especially those related
to brokerage and information procurement. We also conjecture that the observed discrepancy
between previous findings and ours can be attributed to the legal and institutional changes
introduced with the NMS Regulation passed by SEC (2005), which reduced the intervention
of specialists in the NYSE trading platforms and the narrowing of the capabilities of market
makers affecting in own benefit the price discovery in NASDAQ trading platforms.

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136
137

MARKETING EXPERIENCIAL: O ESTUDO DE 3 HOTÉIS


DE CHARME DA REGIÃO CENTRO DE PORTUGAL

EXPERIENTIAL MARKETING: THE STUDY OF 3 BOUTIQUE


HOTELS OF THE CENTRAL REGION OF PORTUGAL

José Guilherme Leitão Dantas1e Alzira Maria Ascensão Marques2

Resumo

A competitividade das marcas depende, em parte, de as empresas associarem aos


produtos e serviços experiências memoráveis, uma vez que os consumidores os com-
pram não só por aquilo que eles fazem mas também por aquilo que eles significam. Os
clientes esperam ser influenciados de um modo positivo, emocional e memorável em
todos os níveis da sua vivência comercial. É neste contexto que emerge o marketing
experiencial, que tem pautado a orientação estratégica do setor da hotelaria, motivo pelo
qual o escolhemos para alvo de estudo. Assim, com base no caso de estudo de 3 hotéis
de charme na região de Leiria identificámos as práticas de marketing experiencial imple-
mentadas e verificámos que estão relacionadas com o nível de satisfação dos clientes e de
popularidade dos hotéis, estão também na origem do WOM positivo que desempenha
um papel importante na captação de novos clientes.

PALAVRAS-CHAVE: Marketing Experiencial, Hotéis de Charme, WOM

Abstract

The competitiveness of brands depends partly on enterprises associating products


and services with memorable experiences, since consumers buy them not only for what
they do but also for what they mean. Customers expect to be influenced in a positive,
emotional and memorable way at all levels of their business experience. It is in this con-
text that experiential marketing emerges, which has guided the strategic direction of the
hospitality industry, our target in this case study. Thus, based on the case study of three
boutique hotels in the region of Leiria experiential marketing practices implemented
were identified and verified which are related to the level of customer satisfaction and
popularity of the hotels, are also at the origin of positive WOM that plays an important
role in attracting new customers.

KEY WORDS: Experiential Marketing, Charming Hotels, WOM

1
[email protected], ESTG, CIGS, Instituto Politécnico de Leiria.
2
[email protected], ESTG, CIGS, Instituto Politécnico de Leiria.
138
1. INTRODUÇÃO

O marketing evolui de uma posição acessória relativamente às funções de produção e


financeira, tornando-se numa função abrangente e transversal à empresa, a qual, mais do que
qualquer outra, condiciona a sua sobrevivência, o seu crescimento e a sua prosperidade. Esta
importância crescente do marketing manifesta-se, simultaneamente, pelo espaço que lhe é
dado nas estruturas organizacionais e pelos orçamentos que lhe são consagrados.
No entanto, o status do marketing como prioridade estratégica, integrado e transversal
a toda a empresa, corresponde a uma mudança de paradigma no marketing que deixa de ser
orientado para a gestão dos produtos e das transações e passa a ser orientado para o cliente e
para a relação, fazendo a fidelização e satisfação dos clientes parte de um processo que envolve
tudo e todos dentro das organizações e não apenas a equipa de marketing (Marques, 2014).
Porém, a satisfação e fidelização dos clientes é difícil de concretizar no contexto do marke-
ting tradicional. Vem esta afirmação a propósito de se continuar a enfatizar excessivamente,
na nossa opinião, a vertente utilitária, racional, como determinante do comportamento do
consumidor, menorizando a vertente experiencial do consumo.
O argumento anterior não é novo. De facto, já em meados do século passado Levy (1959:
118) afirmava que as pessoas “compram produtos não por aquilo que eles fazem mas também
por aquilo que eles significam”. Logo, a compra de uma determinada marca e a fidelização dos
clientes a essa marca depende, em parte, da capacidade das empresas em associar aos produtos
e serviços experiências memoráveis. Os clientes esperam ser influenciados de um modo posi-
tivo, emocional e memorável em todos os níveis da sua vivência comercial. É neste contexto
que emerge o marketing experiencial.
Schmitt (1999) define experiências como acontecimentos que ocorrem em resposta a um
estímulo. As experiências duram a vida toda. Geralmente são o resultado de uma observação
direta e/ou da participação nos acontecimentos. Kemp e Murray (2007) defendem que marke-
ting experiencial consiste em criar experiências entusiasmantes em redor de uma marca que
resultarão em emoções positivas e que influenciarão o consumo futuro. Por sua vez, Smilansky
(2009) define marketing experiencial como o processo de identificação e satisfação das neces-
sidades e aspirações dos consumidores, de forma rentável, cativando-os através de uma comu-
nicação bidirecional que dão vida às personalidades da marca e criam valor para o público-alvo.
Sendo assim, acrescentar valor emocional às experiências dos clientes é uma das vantagens
competitivas mais significativas e exige não somente o aperfeiçoamento da competência emo-
cional dos funcionários, mas também a melhoria das operações empresariais de forma que
possam influir positivamente nas empresas, do ponto de vista emocional. Qualquer marca tem
que saber despertar e trabalhar os cinco sentidos; apelar aos sentimentos interiores e às emo-
ções dos consumidores; apelar ao intelecto com o objetivo de criar experiências cognitivas que
façam com que os consumidores se envolvam com a marca de uma forma criativa e despoletar
novas experiências, estilos de vida e interações.
O setor da hotelaria tem-se reinventado no sentido de deixar de vender alojamento para
passar a vender experiências memoráveis e é neste contexto que o trabalho que aqui apresen-
tamos se insere. Assim, pretende-se conhecer as práticas de marketing experiencial implemen-
tadas pelos hotéis de charme na região de Leiria. Para o efeito, desenvolvemos uma pesquisa
exploratória de natureza qualitativa, baseado num estudo de caso com 3 casos. Precedendo o
estudo de caso, foi realizada uma revisão da literatura sobre marketing experiencial, no contex-
to do turismo, que apresentamos seguidamente.
139
2. O MARKETING EXPERIENCIAL NO CONTEXTO DO TURISMO

Sem prejuízo de outros autores que, direta ou indiretamente, abordaram a vertente experiencial,
justifica-se referir os trabalhos de Hirschman e Holbrook (1982) e de Holbrook e Hirschman (1982).
O primeiro daqueles trabalhos aborda o consumo hedónico, que define como “as vertentes
do comportamento do consumidor relacionadas com os aspetos multissensoriais, as fantasias
e as emoções decorrentes da experiência com o produto” (Hirschman & Holbrook, 1982: 92).
Os autores não questionam, obviamente, o caráter racional da decisão de compra, ou seja,
o facto de o consumidor adquirir produtos que resolvam o seu problema específico, presente
no modelo das cinco etapas do processo de decisão (identificação do problema, busca de in-
formação, avaliação das alternativas, decisão de compra e avaliação após-compra), decorrente
da teoria de processamento de informação (Bettman, 1979).
Consideram, contudo, que aquela abordagem utilitária deve ser complementada com a
vertente experiencial, nomeadamente porque “os atos de consumo hedónico são baseados não
no que os consumidores sabem que é real, mas sobretudo com base no que eles desejam que
seja a realidade” (Hirschman & Holbrook, 1982: 94).
Posição idêntica é assumida em Holbrook e Hirschman (1982), quando os autores afir-
mam, expressamente, que não pretendem propor uma “nova” teoria do comportamento do
consumidor nem rejeitar a “velha” abordagem, mas sim defender uma visão mais ampla (Hol-
brook & Hirschman, 1982) que também tenha em consideração as fantasias, os sentimentos e
os prazeres do consumidor, decorrentes da experiência de consumo.
É neste contexto que deve ser entendido o livro de Pine e Gilmore (1998), intitulado “We-
lcome to the experience economy”. Para estes autores o percurso parece claro: do predomínio
das soluções estandardizadas para os bens, destes para os serviços e com uma tendência para
as experiências se afirmarem crescentemente.
Como afirma Schmitt (1999: 57), “na atualidade os clientes tomam as funcionalidades, os
benefícios, a qualidade dos produtos e a imagem positiva da marca como um dado adquirido. O
que querem são produtos, comunicações e campanhas de marketing que deslumbrem os seus
sentidos, que toquem os seus corações e estimulem as suas mentes”. Nesse sentido Schmitt
(1999) identifica cinco diferentes tipos de experiências que os profissionais de marketing podem
criar para os seus clientes: (1) experiências sensoriais; (2)experiências afetivas; (3) experiências
criativas/cognitivas; (4) experiências físicas, comportamentos e estilos de vida; e (5) experiências
de identidade social, que resultam de um grupo de referência ou cultura (relacionar).
Por sua vez, para Pine e Gilmore (1999), existem quatro domínios de experiência: entrete-
nimento, estética, educacional e escapista. Enquanto numa experiência educacional o consu-
midor quer aprender, numa escapista quer fazer, numa de entretenimento quer sentir e numa
experiência estética o consumidor quer apenas estar e ser deslumbrado pelo ambiente.
Independentemente da tipologia da experiência de consumo, o pensamento inerente à
construção de uma experiência deve ser o da complementação, ou seja, a experiência deve
ser desenhada objetivando a utilização dos vários domínios, de forma a criar uma experiência
memorável para o consumidor em todos os aspetos.
Também a Future Foundation (2005), considera que as pessoas tenderão, crescentemente,
a diferenciar-se pelo que fazem e não pelo que compram, apostando na aquisição de capital
social, através de experiências que lhes tragam benefícios emocionais. É natural, por isso, que o
sucesso futuro das organizações dependa, em boa medida, da sua capacidade de proporcionar
experiências convincentes aos seus clientes, como defende Schmitt (1999), já que, em última
análise, “o propósito de um projeto de consumo é sempre gerar uma experiência” (Andersson,
2007: 47). Assim, os bens e os serviços têm de ser experienciados, porque os clientes procuram
experiências de consumo agradáveis, memoráveis e gratificantes (Pine & Gilmore, 1998).
O marketing experiencial está em toda parte. Neste contexto, algumas empresas, se não
mesmo indústrias/setores de atividade, entre as quais identificamos o turismo, têm mudado o
140
foco do marketing das características/benefícios do produto/serviço para a criação de expe-
riências para os seus clientes.
Esta mudança na direção de marketing experiencial ocorreu como resultado de três desen-
volvimentos simultâneos no ambiente de negócios mais amplo:

a) A onipresença das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). As TIC vie-


rem revolucionar as comunicações, as relações e os negócios. Agora, empresas/
marcas e consumidores estão conectados e, a qualquer momento, podem partilhar
experiências. Esta realidade é sobretudo visível no turismo, onde a promoção, a
venda de alojamento e transporte se faz sobretudo on-line.
b) A supremacia da marca. Mesmo as coisas que tradicionalmente não associamos a
marcas estão sendo tratadas e comercializadas como tal. Exemplos incluem luga-
res, cidades e países. Num mundo dominado pelas marcas, os produtos já não são
conjuntos de características funcionais, mas são meios para fornecer e melhorar a
experiência do cliente.
c) A ubiquidade das comunicações e entretenimento. Como tudo é possível de ser
tratado como marca, tudo se torna uma forma de comunicação e de entretenimen-
to. As empresas estão a orientar-se para o cliente, para as comunidades de marca e
não se poupam a esforços para proporcionar diversão e entretenimento aos seus
clientes. As comunicações deixaram de ser unidirecionais.

Os clientes querem produtos, comunicação e campanhas de marketing para proporcionar


uma experiência. O grau com que uma empresa é capaz de proporcionar uma experiência
desejável ao cliente - e usar a tecnologia de informação, marcas e comunicação integrada para
fazê-lo - é em grande parte a chave de sucesso no mercado global em que vivemos.
A globalização, impulsionada pelas tecnologias de informação e comunicação e pelas tec-
nologias de transporte de passageiros, tem facilitado a mobilidade de pessoas e consequen-
temente promovido a atividade turística, através da vivência de experiências diversificadas.
Admitimos, como menciona Andersson (2007), que os turistas vão acumulando competências
ao longo das suas experiências, o que os pode levar a reduzir o seu leque de opções (repetir
algum tipo de atividade, como o ski, por exemplo) e repetir a mesma unidade hoteleira, para
sentir o conforto de estar num ambiente conhecido que lhes minimiza o risco inerente a novas
experiências. Contudo, partilhamos mais a perspetiva de Chandralal e Valenzuela (2013). Estes
autores, na sua análise qualitativa sobre os antecedentes de experiências turísticas memoráveis,
consideram que não é expectável que os turistas repitam o mesmo destino.
A não repetição de destinos, pelo menos no curto-prazo, tem, no mínimo, 2 razões: existe
uma enorme vastidão de potenciais novas experiências para usufruir e nada garante que o re-
gresso não “destrua” a imagem de excelência com que se ficou daquele destino3. Os potenciais
turistas, como afirma Cinotti (2007), baseando-se no já referido estudo da Future Foundation
(2005), saltarão de uma aventura para outra, comprando experiências de férias únicas.
Assim, os agentes turísticos têm de assumir a conceção de uma ampla gama de experiên-
cias e a sua renovação sistemática como uma via incontornável para assegurar o seu sucesso.
Será o meio a privilegiar para incrementar as suas receitas (Barsky & Nash, 2002), já que
os clientes permanecerão mais tempo na unidade/localidade, de incrementar as probabilida-
des do seu regresso (Morgan, Elbe & Curiel, 2009) e, não menos importante, de conquistar
“embaixadores” que, gratuitamente, divulgarão a sua marca/unidade/localidade. Neste último
caso, estamo-nos a referir ao enorme poder do passa-palavra (Brown, Broderick & Lee, 2007).
O “nascimento” de novos canais de comunicação nos media e o número cada vez maior

3
As experiências anteriores são uma importante fonte de expectativas nos serviços (Dantas, 2013; Zeithaml, Bitner
& Gremler, 2006). Contudo, como é amplamente reconhecido (Hoffman & Bateson, 2002; Lovelock, 1996), os
serviços são heterogéneos, ou seja, a experiência seguinte dificilmente será idêntica à primeira.
141
de utilizadores das ferramentas Web 2.0 como blogues, redes sociais, fóruns on-line, entre outros,
estão a reconfigurar a comunicação do passa-palavra (word-of-mouth) que agora é tendencial-
mente um word-of-mouth eletrónico (eWOM) (Sparks & Browning, 2011).
Através da internet, os utilizadores partilham experiências e opiniões sobre produtos, marcas
e serviços específicos. Essas opiniões e relatos são suscetíveis de serem julgados como fontes
confiáveis, uma vez que a partilha é desinteressada, ou seja, não há intenção de manipular o
utilizador e não há interesse na venda do produto (Bickart e Schindler, 2001). Esta realidade
é particularmente relevante no caso dos serviços e fará com que clientes entusiasmados com
a experiência que viveram se tornem em extraordinários “vendedores”4 da marca/hotel ou da
localidade.
Como é amplamente reconhecido (Holbrook & Hirschman, 1982; Pine & Gilmore, 1999;
Schmitt, 1999), os negócios, em geral, têm de assumir como uma tendência irreversível o facto
de os consumidores procurarem experiências únicas, que superem o mero consumo de bens e
serviços, que ofereçam maior valor acrescentado. Esta situação é ainda mais óbvia na atividade
turística que pode ser considerada uma referência tradicional no contexto dos negócios de
base experiencial (Cohen, 1979; Tarssanen & Kylänen, 2005), já que o turismo é, em essência,
a vivência de experiências.

2.1. A experiência turística

No âmbito das ciências sociais, o conceito de experiência turística é entendido tradicional-


mente por oposição às atividades quotidianas (Cohen, 1972), como a possibilidade de usufruir
algo distinto do habitual, como uma fuga temporária às regras e valores que enformam a
existência rotineira (Turner & Ash, 1975), em busca de autenticidade (MacCannell 1973), de
momentos quiçá paradisíacos (the peak experience, na terminologia anglo-saxónica), únicos,
frequentemente consubstanciados em algum tipo de atração.
Esta dicotomia entre a atividade normal e o turismo é demasiado generalista. Parece es-
quecer, em primeiro lugar, o carácter único, individual (Schmitt, 1999), das experiências, o que
justifica, aliás, o aparecimento de tipologias de experiências turísticas (Cohen, 1979; Uriely,2001);
devemos ter em consideração, aliás, que o fornecedor cria as condições para a experiência mas
esta pode ser vivida (ou não) e interpretada de forma distinta por cada turista (Mossberg, 2007).
Aquela abordagem também não toma em consideração o crescente esbatimento da fron-
teira entre a atividade laboral e o turismo, como ilustram o crescimento exponencial dos city
breaks, as reuniões de trabalho em complexos turísticos, as deslocações em serviço que ten-
dem a contemplar algum espaço de lazer – veja-se a localização de muitas conferências acadé-
micas internacionais que levam alguns investigadores a falar, depreciativamente, em “turismo
académico” – nem o desenvolvimento das TIC que colocam à distância de um clique a genera-
lidade das atrações. Deste modo minimiza-se, em parte, a sua excecionalidade, o que leva Lash
e Urry (1994) a considerar que as pessoas se estão a tornar turistas todo o tempo quer quando
estão de férias, quer quando estão a exercer as suas atividades quotidianas.
Contudo, o acesso àqueles momentos excecionais, únicos – a peak experience – implica
atividades suplementares como é o caso do transporte, do alojamento e da alimentação (Quan
& Wang, 2007). A qualidade destas atividades de suporte, algo ignoradas no conceito inicial de
experiência turística, são críticas para a oferta turística, não apenas porque a sua menor quali-
dade pode pôr em causa o tal momento excecional, como podem, elas próprias, constituir os
tais momentos culminantes da experiência turística.
No estudo de Oh, Fiore & Jeoung (2007), a que aludiremos em 2.1, a decisão de compra dos turistas baseou-se,
maioritariamente, na recomendação de amigos e familiares (41%) e na internet (30%). Sobre o impacto das expe-
riências nas atitudes futuras, estes autores alertam que a memória também regista as más experiências. Experiências
malsucedidas conduzirão a uma atitude negativa em relação a esse destino e, consequentemente, ao potencial passa-
-palavra negativo que, reconhecidamente, se expande mais que o positivo.
142
Na realidade, no âmbito da gestão e do marketing, a experiência turística é vista como
uma experiência de consumo (Moutinho, 1987; Quan & Wang, 2007) de múltiplos produtos.
Assim, “o sucesso de um fornecedor de serviços turísticos depende de conhecer como podem
as organizações criar condições que potenciem as experiências dos clientes” (Mossberg, 2007:
60). Como afirmam Gilmore & Pine II (2002: 89), “a questão não é se se deve adotar novas
técnicas para encenar experiências, mas antes que técnicas utilizar e quando as pôr em prática
para obter o máximo efeito”.
De acordo com Mossberg (2007) a experiência turística integra duas dimensões distintas
que constituem um todo orgânico: a peak experience, momento de excelência que se afasta da
atividade quotidiana, e as atividades de suporte à experiência do consumidor, nomeadamente
o transporte, o alojamento e a alimentação.
As duas dimensões influenciam-se mutuamente e podem mesmo ser intercambiáveis. Uma
visita ao Alto Douto vinhateiro, por exemplo, constituirá, certamente, uma experiência de
excelência (a peak experience) para a generalidade dos turistas, mas poderá ter uma avaliação
menos positiva se a viagem ocorrer no Verão, numa viatura sem ar condicionado. Em contra-
partida, para alguém menos sensível à extraordinária beleza da paisagem, considerada Patrimó-
nio Mundial pela UNESCO, em 2001, a peak experience pode ser constituída pela excelente
gastronomia da região, ou seja, por uma atividade de suporte.
Nesse sentido, o objetivo final do marketing experiencial é criar experiências holísticas que
integrem as experiências individuais numa gestalt holística (holistic gestalt). Por isso, Schmitt
(1999) defende que o marketing experiencial difere do marketing tradicional através de quatro
pontos-chave: o foco na experiência de consumo, a perspetiva dos consumidores como ani-
mais racionais e emocionais, o foco no consumo como uma experiência holística e o fato das
ferramentas e os métodos serem ecléticos.
Como acontece há muito com a generalidade dos bens e, crescentemente, com a maioria
dos serviços, a comoditização põe à prova a capacidade inovadora das organizações, sugerindo
a encenação de experiências enquanto via de diferenciação e de criação de valor acrescentado
(Pine & Gilmore, 1998), quer para o turista, a quem se oferece níveis mais elevados de satis-
fação, quer para a organização que poderá incrementar os seus resultados quer seja através do
aumento das vendas, quer através de preços mais elevados, ou ambos.
O turismo não escapa a esta tendência de comoditização conduzindo a que os clientes,
confrontados com ofertas semelhantes, tomem as suas decisões essencialmente com base no
preço, como mencionam Richards & Wilson (2006). Estes autores, usando como exemplo
a crescente banalização da marca Guggenheim, dada a proliferação do museu em distintas
cidades, que denominam de McGuggenheimisation, defendem a aposta no turismo criativo,
como forma de assegurar uma diferenciação sustentável, promovendo a participação ativa dos
turistas, tornando-os cocriadores das suas experiências.
Em definitivo, escapar à armadilha da decisão de compra baseada no preço, passa por gerir os
destinos como locais que proporcionam experiências e não apenas como meros espaços físicos
(Gilmore & Pine, 2002). Para isso é fundamental a implementação de uma estratégia de marketing
experiencial que, segundo Schmitt (1999), implica desenvolver competências no desenvolvimento
de experiências (sensoriais, afetivas, criativas/cognitivas, físicas e relacionais) e na gestão das rela-
ções de parceria entre os fornecedores de experiências que incluem comunicações, identidade visual
e verbal e sinalização, presença de produto, marca, ambientes espaciais e media sociais.
A implementação de estratégias de marketing experiencial tem consequências na atuação
das unidades hoteleiras. Alguns estudos, que comentamos seguidamente, verificaram que as
experiências se refletem positivamente na satisfação, na lealdade, na excitação e na memória
dos consumidores bem como na perceção da qualidade global.
Oh et al. (2007) baseados nas quatro dimensões propostas por Pine e Gilmore (1999)
desenvolveram uma escala que permitisse medir as experiências dos turistas (que esperamos
adaptar para utilizar numa segunda etapa do nosso estudo). Para o efeito, desenvolveram um
143
estudo qualitativo preliminar que, a partir de um brainstorming, identificou 56 itens para me-
dir as 4 dimensões de experiência que, após sujeitos a avaliação de um painel de especialistas,
foram reduzidos a 24 itens, 6 para cada dimensão.
Afinado o instrumento de recolha de dados, os autores utilizaram uma escala de concor-
dância/discordância de 7 pontos para recolher informação dos hóspedes de 95 hotéis do tipo
bed & breakfast5 rurais do meio Oeste dos Estados Unidos da América, tendo obtido 419 res-
postas válidas. A partir desses dados estimaram um modelo de equações estruturais que, numa
primeira fase, confirmou a pertinência das dimensões propostas por Pine e Gilmore (1999)
para avaliar as experiências dos turistas.
Numa segunda fase, o estudo evidenciou a existência de uma relação entre as experiências
individuais e as consequências dessas experiências, como a satisfação, a excitação, a memória
e a qualidade global. Contudo, apenas a dimensão estética teve capacidade para explicar de
modo significativo as 4 variáveis dependentes: satisfação, excitação, memória e qualidade glo-
bal. A dimensão educação evidenciou ter um impacto positivo na excitação, mas as dimensões
entretenimento e escapista não evidenciaram ter qualquer efeito nas variáveis dependentes,
eventualmente porque os promotores das experiências de consumo nos 95 hotéis não valo-
rizam estas dimensões. Desse modo, os autores concluem que os resultados obtidos foram
condicionados pela escolha da amostra.
Por seu turno, Mehmetoglu e Engen (2011) testaram a influência das 4 dimensões ex-
perienciais (entretenimento, estética, educacional e escapista) de Pine e Gilmore (1999) na
satisfação dos clientes em dois contextos: o Ice Music Festival, um evento musical de 2 noites
em que são utilizados diferentes instrumentos musicais feitos de gelo e o Maihaugen Museum
(que integra 5 museus), ambos localizados no Sul da Noruega.
Partindo de uma amostra de conveniência e com base em 75 e 117 questionários válidos
para o festival e para o museu, respetivamente, concluíram que as dimensões escapismo e
estética influenciaram o nível de satisfação dos visitantes do Ice Music Festival (o que não
aconteceu com as dimensões educação e entretenimento), enquanto a satisfação dos visitantes
do Maihaugen Museum foi influenciada pelas dimensões educação e estética (mas não pelo
escapismo e entretenimento). Consideram, por isso, que “as experiências devem ser concebi-
das e encenadas tendo em consideração o contexto associado” (Mehmetoglu & Engen, 2011:
251), podendo não se justificar a existência simultânea das quatro dimensões propostas por
Pine e Gilmore (1999).

3. OS HOTÉIS DE CHARME

Como já tivemos oportunidade de mencionar, o fenómeno da comoditização tem sido


algo transversal à generalidade das atividades económicas. A hotelaria não tem sido alheia a
esta tendência, como ilustra o slogan utilizado pela Holiday Inn, mencionado por Rogerson
(2010): “The best surprise is no surprise” (a melhor surpresa é não ter surpresas).
Se por um lado a posição daquela cadeia hoteleira se pode entender, já que a tendencial he-
terogeneidade dos serviços pode ser uma causa de insatisfação dos clientes por frustrar as suas
expetativas (Dantas, 2013; Zeithaml & Bitner, 2003), por outro lado muitos clientes (turistas)
estão cansados de ouvir as mesmas palavras, de ver os mesmos sorrisos ou de encontrar as
mesmas amenities, típicos dos hotéis convencionais, ou seja, estão saturados da estandardiza-
ção, de encontrar “mais do mesmo”, preferindo unidades hoteleiras que, além do alojamento
ofereçam autenticidade, experiências distintivas ou, mesmo, se constituam elas próprias como
experiências únicas.

5
Preferimos não traduzir por “alojamento e pequeno-almoço” porque estamos perante um conceito específico de
alojamento, com uma significativa vertente experiencial que, aliás, tem algumas caraterísticas semelhantes às unida-
des objeto do nosso estudo.
144
Foi neste contexto de rutura, de fuga aos padrões existentes que Ian Schrager, em 1984,
nos Estados Unidos da América, considerou que a unidade hoteleira que tinha acabado de lan-
çar – o Morgans, em Nova Iorque – se parecia mais com uma boutique do que com um grande
armazém e assim terá nascido a designação “boutique” (Albazzaz et al., 2003). O sucesso de
Schrager foi rapidamente imitado no Reino Unido e progressivamente expandiu-se um pouco
por todo o mundo. Contudo, outras expressões como hotéis design, hotéis exclusivos, ou hotéis
de charme referem-se à mesma realidade, sendo esta última expressão (hotéis de charme) a
mais frequente em Portugal, pelo que será esta expressão que utilizaremos doravante.
A literatura existente nesta temática é escassa e não nos oferece uma clarificação precisa de
hotéis de charme. Como mencionam Balekjian & Sarheim (2011), na medida em que o foco
deste conceito consiste em afastar-se das fronteiras da padronização das marcas (hotéis) insta-
ladas, tentar apresentar uma definição significaria enfiarmo-nos num pântano.
Contudo, da nossa análise da literatura (e.g. Aggett, 2007; Forsgren & Franchetti (s.d.); Alba-
zzaz et al., 2003) pode-se concluir que estamos perante unidades de pequena dimensão, frequen-
temente inferiores a 50 quartos e raramente superiores a 100 (no estudo de Rogerson (2010), que
incide sobre 127 hotéis de charme, na África do Sul, 77% das unidades tinham 25 quartos ou me-
nos e a média por estabelecimento ficou em 22 quartos), com localizações de exceção (e.g. bair-
ros típicos na moda e/ou centralidade, no caso urbano; paisagens de excelência, no caso rural).
Estas unidades apresentam, quase sempre, caraterísticas arquitetónicas diferenciadas (aco-
lhedoras e intimistas) e um serviço personalizado de elevada qualidade. Em alguns casos ofe-
recem as soluções tecnológicas mais avançadas, enquanto noutros privilegiam a sensação de
paz, de distanciamento do mundo (e.g. ausência de televisão nos quartos) e o estabelecimento
de relações genuínas com os seus clientes (e.g. preferir formar os colaboradores a recrutá-los
“formatados” pela escola hoteleiras). São maioritariamente geridos pelos seus proprietários,
embora se assista a uma entrada crescente das cadeias hoteleiras neste nicho de mercado
(Aggett, 2007; Robertson, 2010), e geralmente ostentam classificações não inferiores a 4 estre-
las (Rogerson (2010) na sua análise de 115 hotéis boutique na África do Sul constatou que 9%
tinham apenas 3 estrelas) (Aggett, 2007; Forsgren & Franchetti (s.d.); Albazzaz et al., 2003).
Um estudo desenvolvido por Siggs (2004) junto de 19 hotéis de charme, na Nova Zelân-
dia, levou-o a concluir que existem 5 variáveis que levam os turistas a preferir estas unidades: o
seu caráter único (e.g. arquitetura exterior/interior ou mobiliário), o contacto pessoal (e.g. não
ser o hóspede do quarto 758, mas o Sr. Pinho), o ambiente acolhedor (e.g. a receção carinhosa,
os pequenos gestos), a qualidade global (e.g. conforto) e o valor acrescentado (e.g. conhecer a
cultura local ou entabular novas relações).
A investigação de Aggett (2007) indica a localização e a qualidade como os 2 atributos
mais decisivos para optar pelos hotéis de charme, mas globalmente confirma a relevância das
5 variáveis apontadas por Siggs6 (2004). Este estudo aprofunda os serviços prestados pelos
hotéis de charme e conclui que o serviço de quartos, a higiene e a simpatia e o caráter prestável
dos colaboradores, são os pontos mais relevantes, com 21,7%, 17,4% e 13%, respetivamente.
No contexto português não conhecemos qualquer investigação que incida sobre os hotéis
de charme, pelo que presumimos que este estudo seja pioneiro nesta temática.

4. OBJETIVO E METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

A partir do corpo teórico resultante da realização da revisão da bibliografia publicada


sobre marketing experiencial e tendo em consideração que o marketing experiencial tem sido,
fundamentalmente estudado na perspetiva dos clientes, delimitou-se o problema e procedeu-

6
Na realidade, Aggett (2007) não se refere à dissertação de Siggs (2004), mas a uma publicação de McIntosh & Siggs
(2015) baseada na dissertação de Siggs.
145
-se à clarificação do objetivo da investigação, que, neste caso, é investigar esta temática do
ponto de vista do fornecedor do alojamento turístico, particularmente dos hotéis de charme,
identificando os fatores de competitividade das estratégias de marketing experiencial e relacio-
ná-las com o desempenho, avaliado em termos de taxa de ocupação, de satisfação de clientes
expressa na avaliação dos clientes postada nos sites de reservas on-line e no eWOM positivo,
e do reconhecimento de entidades externas ligas ao turismo.
Escolhemos para objeto de estudo 3 pequenos hotéis de charme da região Centro de
Portugal, nas proximidades de Leiria: Rio do Prado, Luz Houses e o Cooking and Nature.
Para o efeito, propomo-nos desenvolver um estudo empírico com suporte na aplicação da
metodologia do trabalho científico. Só assim é possível que os resultados contribuam para a
evolução da teoria e da prática do marketing experiencial aplicado aos serviços turísticos. Nes-
te estudo usamos o método científico indutivo. Partimos de algo particular para uma questão
mais ampla, mais geral.
A pesquisa científica foi desenvolvida de forma sequencial. Do ponto de vista da sua na-
tureza, estamos perante uma pesquisa aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação
prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.
Do ponto de vista dos seus objetivos o estudo assume características de estudo exploratório.
Numa primeira fase, a pesquisa exploratória compreende a revisão da literatura sobre marke-
ting experiencial no contexto do setor hoteleiro, em particular dos hotéis de charme em Portu-
gal. Na segunda parte do estudo compreende uma pesquisa de campo de natureza qualitativa,
envolvendo entrevistas com pessoas com experiências práticas no problema pesquisado.
Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, ou seja, a maneira pela qual obtemos os
dados necessários para a elaboração da pesquisa, a escolha recaiu no estudo de caso, envolven-
do o estudo de 3 hotéis de charme da região Centro. Sob o ponto de vista da abordagem do
problema, a pesquisa é qualitativa. As técnicas de recolha de dados consistiram na observação
direta, em entrevistas semi-estruturadas, e na análise de documentos/conteúdos de páginas da
internet e da comunicação social.
A entrevista adquire bastante importância no estudo de caso, pois através dela o investi-
gador percebe a forma como os sujeitos interpretam as suas vivências já que ela “é utilizada
para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador
desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do
mundo” (Bogdan & Biklen, 1994:134).
O tratamento dos dados consistiu basicamente as tarefas de: (1) identificação; (2) transcri-
ção e (3) organização da base de dados, obtendo-se uma base de dados a partir da qual são tra-
balhadas as fases seguintes de análise dos dados (“a codificação” e a “criação de categorias”).
Uma das críticas mais comuns ao uso do estudo de caso, como metodologia de pesquisa, é
que ele produz resultados não generalizáveis. Segundo Yin (2005) esta posição não é verídica,
argumentando que o estudo de caso, da mesma forma que o estudo experimental, são genera-
lizáveis a proposições teóricas, e não a populações ou universos. O investigador, ainda defende
que o estudo de caso é uma metodologia adequada para responder a perguntas de pesquisa do
tipo “como” e “porquê”, quando se trata de um assunto sob o qual o pesquisador tenha pouco
ou nenhum controlo com enfoque em acontecimentos contemporâneos.
Segundo Guba & Lincoln (1994), o objetivo do estudo de caso é relatar como sucederam
os factos, descrever situações ou factos, proporcionar conhecimento acerca do fenómeno
estudado e comprovar ou contrastar efeitos e relações presentes no caso.
Para aumentar a credibilidade das interpretações realizadas pelo investigador, este deverá
recorrer a um ou a vários “protocolos de triangulação”. O estudo de caso é também conhecido
como uma estratégia de investigação de triangulação. A necessidade de triangulação surge da
necessidade ética para confirmar a validade dos processos. Em estudos de caso, isto pode ser
feito utilizando várias fontes de dados (Yin, 1984), como fizemos.
146
5. A APLICAÇÃO DO MARKETING EXPERIENCIAL EM 3 HOTÉIS DE
CHARME DA REGIÃO CENTRO DE PORTUGAL

A região centro de Portugal é muito bem servida de vias rodoviárias, tem um património
natural, monumental e cultural muito rico. No interior, maciços montanhosos e aldeias tradi-
cionais. Junto ao mar, povoações piscatórias e praias cosmopolitas com os desportos náuticos
a marcar o ritmo dos dias. E por todo o lado o património, milenar, exibe orgulhosamente a
história da região.
Alguns destes lugares têm tanta importância para a Humanidade que foram incluídos pela
UNESCO na lista de património mundial. É o caso dos Mosteiros de Alcobaça e da Batalha,
do Convento de Cristo em Tomar e da Universidade de Coimbra (https://www.visitportugal.
com/pt-pt/destinos/centro-de-portugal). Daí que nos últimos anos tenha surgido uma oferta
hoteleira muito interessante, que desenvolve conceitos diferenciadores, que vê os hóspedes
como seres humanos completos com coração, mente e espírito (Kotler et al., 2011). Conse-
quentemente, os novos hotéis desenvolvem conceitos e práticas de marketing relacional apoia-
das no marketing experiencial que visam encantar os seus clientes, fidelizá-los e torná-los seus
embaixadores, através do passa-a-palavra e da recomendação (Marques, 2014).
Além disso, estas novas unidades hoteleiras desempenham um papel importante na promo-
ção e desenvolvimento da região onde estão inseridos. Por exemplo, promovem a rota dos mos-
teiros (Batalha, Alcobaça e Tomar), a rota dos castelos (Leiria, Porto de Mós, Ourém, Óbidos e
Pombal, Almourol), a rota dos fortes (Peniche, Berlengas e Nazaré) o parque natural das serras
de Aire e Candeeiros com as suas grutas e algares e a reserva natural das Berlengas, aldeias e vilas
históricas, praias, florestas e muitas atividades ao ar livre e de desporto aventura que se podem
praticar na região.
Escolhemos para ilustrar a aplicação do marketing experiencial 3 unidades hoteleiras de
referência da região centro de Portugal: o Rio do Prado, localizado em Óbidos, o Luz Houses,
localizado em Fátima e o Cooking and Nature, localizado em Alvados. São pequenos hotéis
com conceitos algo semelhantes, porque todos associados à categoria de hotéis de charme, que
apresentaremos a seguir.

5.1. Rio do Prado

O Rio do Prado (hotel) é uma pequena unidade hoteleira, situada numa zona rural (Are-
lho), na vizinhança da Lagoa de Óbidos e a 4 quilómetros da vila medieval de Óbidos. Está
registado no Turismo de Portugal como uma unidade de agroturismo, embora seja mais co-
nhecido como hotel de charme, e apresenta uma arquitetura muito peculiar, assente no princí-
pio da sustentabilidade ambiental.
O hotel está aberto ao público há 3 anos. Está instalado num terreno amplo e ajardinado,
onde se distribui o complexo hoteleiro constituído por múltiplos edifícios, que se confundem
com a paisagem e suportam os serviços prestados, e onde também se pratica agricultura bioló-
gica. No edifício de entrada encontra-se a receção, o restaurante (Maria Batata), um bar e uma
pequena “mercearia”, para venda de produtos regionais.
Em termos de alojamento, o hotel dispõe de 15 suites, dispersas ao longo do espaço. Inte-
gra, ainda, um auditório polivalente (pode até ser transformado em suite nupcial), instalações
de SPA com banho turco e sauna (contíguas ao auditório), uma estufa, onde também se reali-
zam workshops e outros eventos empresariais e piscina exterior para adultos e crianças.
A unidade hoteleira faz jus ao seu tema (turismo criativo e sustentável), particularmente
através de 2 vertentes: reutilização de recursos e introdução de múltiplas medidas ecológicas.
A reutilização de recursos pode constatar-se, por exemplo, na utilização de madeiras usadas
na obra para fazer móveis (mesas, cadeiras, portas, molduras) ou em usar resíduos da limpeza
147
dos eucaliptais para fazer portadas, ou na reciclagem da água dos banhos para alimentar os
autoclismos. O recurso a medidas no âmbito ecológico é muito vasto. A título de exemplo,
podemos mencionar os materiais utilizados na construção dos edifícios e a sua orientação,
para minimizar o consumo de energia, as coberturas verdes das construções e o facto de es-
tarem semienterradas no solo, para tirar partido da energia geotérmica (também minimizam o
impacto visual na paisagem), um significativo parque fotovoltaico, a utilização predominante
de lâmpadas led, a monitorização contínua da energia consumida por suite, que permite mostrar
aos clientes o impacto da sua estadia, e a recolha das águas pluviais, para rega dos jardins.
Além dos proprietários, que são os gestores do empreendimento (também foram os res-
ponsáveis pela sua decoração), o hotel conta com uma equipa permanente de 11 colaborado-
res, com formação ou significativa experiência na atividade hoteleira, que assumem os serviços
oferecidos pela unidade.
Pode dizer-se, em suma, que o empreendimento se apresenta como um verdadeiro centro
ecológico, oferecendo aos seus hóspedes um espaço simples e discreto, onde reina a tranqui-
lidade, conseguindo compaginar ecologia, criatividade e luxo. É natural, por isso, que já tenha
obtido várias distinções, nomeadamente: a Chave de Ouro e a Chave de Platina, em 2013 e
2014, respetivamente, atribuídos pelo Guia Boa Cama, Boa Mesa (do jornal Expresso), ser
finalista do Conde Nast Johansen’s Award em 2014, passando a integrar a sua restrita lista
de hotéis de luxo, e ter sido nomeado para os Prémios Publituris Portugal Trade Awards, em
2015, na categoria de melhor projeto de ecoturismo.
No que respeita às OTA, crescentemente decisivas para a decisão de escolha do cliente, o
Rio do Prado encontra-se classificado como soberbo (9 pontos em 10) no Booking, com base
em 219 comentários e no TripAdvisor ultrapassa ligeiramente os 4 círculos (num máximo de
5), com base em 101 avaliações.
Entre os comentários, como aspetos positivos, os mais referidos são a qualidade de aten-
dimento de todo o pessoal ao serviço, o horário do pequeno-almoço, até às 12h, a cozinha do
restaurante Maria Batata, os gin servidos no bar e a disponibilidade de bicicletas. São valoriza-
dos os conceitos ecológico e hippy-chic e a tranquilidade do espaço, sendo reconhecido como
excelente para descansar, física e mentalmente, e para namorar. No TripAdvisor uma hóspede
refere-se ao Rio do Prado como:
“Absolutamente delicioso e uma experiência a repetir! Recomendo esta experiên-
cia vivamente! Um conceito diferente especialmente para quem gosta da natureza
e se preocupa com sustentabilidade ambiental. O quarto é fantástico e diferente
conferindo imensa privacidade além de ter tudo o que é necessário para o nosso
conforto. O serviço é acolhedor, familiar e muito caloroso. Sentimo-nos em casa”.
Entre os aspetos que merecem reparos salientam-se os preços que, por serem considera-
dos elevados, incremental as expectativas e tornam os hóspedes menos tolerantes a pequenas
falhas, mesmo que a natureza possa ser usada para as explicar, como é o caso dos incómodos
causados pelos mosquitos e o coaxar das rãs.

O mercado

Os clientes encontram-se, essencialmente, na faixa etária 30-50 anos, sendo rara a presença
de seniores. A sua origem divide-se quase equitativamente entre estrangeiros (sobretudo Bel-
gas, Franceses, Holandeses e Alemães) e nacionais. Os primeiros veem sobretudo no Verão
e fazem estadias mais prolongadas (7/8 noites); os nacionais surgem predominantemente na
época média/baixa e nos fins-de-semana, com permanências mais curtas (1/2 noites).
A unidade hoteleira também está disponível para eventos (como casamentos ou reuniões
empresariais), exceto nos meses de julho e agosto, desde que assegurem a totalidade da ocupação.
148
A taxa de ocupação ronda os 80%, no verão e os 25%, no restante período. Por seu turno,
o restaurante, aberto ao público em geral, tem grande procura pelo mercado empresarial du-
rante a semana, esgotando a sua capacidade no fim-de-semana.
Cerca de 50% das reservas são efetuadas através do seu sítio (www.riodoprado.pt), as-
sociado a outras OTA (e.g. Booking, Splendia) e as restantes são efetuadas por telefone, na
sequência da consulta do sítio ou da recomendação de amigos e familiares.

As experiências

O hotel oferece um conjunto de programas para ocupar os hóspedes que queiram manter-
-se ativos. Entre eles destacam-se o que chamam de momentos criativos que, com a colabora-
ção de um artista ou artesão, visam ensinar a fazer. Por exemplo, os hóspedes podem fazer pão
em forno de lenha, jardinagem/agricultura ou pintar. Assim, o hotel assume-se como um lugar
de promoção de talentos que estimula a criatividade e a partilha de conhecimento, elementos
fundamentais da vida moderna. Também é possível a observação de pássaros (bird watching)
e a pesca numa bateira, nas águas calmas da lagoa. Disponibiliza, ainda, bicicletas para fazer
passeios pelos arredores da lagoa de Óbidos e da praia da Foz do Arelho.
Através de parcerias com empresas da região, os hóspedes também podem usufruir de
passeios a cavalo, atividades aquáticas na lagoa de Óbidos e partidas de golfe. Em suma, o
hotel pretende proporcionar experiências de bem-estar em harmonia com a natureza. Esse
bem-estar pode ainda aumentar ao pedir uma massagem na suite e de seguida relaxar numa
original banheira com música ambiente.
Embora a unidade hoteleira seja ainda bastante jovem, o relacionamento estabelecido pe-
los gestores e pelos colaboradores com os seus clientes, contribui para que estes regressem
frequentemente ao hotel, seja para uma refeição, para tomar uma bebida ou mesmo para
apresentar cumprimentos, seja para um novo período de permanência. Verificam-se, pois,
níveis crescentes de fidelização, havendo mesmo um caso (extremo) de um cliente que já se
hospedou 7 vezes no hotel.
De acordo com a nossa entrevistada, sócia-gerente do empreendimento, os clientes apre-
ciam particularmente a arquitetura, a decoração, o atendimento e a paz e harmonia que vi-
venciam no local. No que concerne a experiências, confidenciou-nos que o que a maioria dos
clientes aprecia particularmente é ser mimada, descansar (praia, piscina, lareira, leitura).

5.2. Luz Charming Houses

O Luz Charming Houses (hotel) é uma pequena unidade hoteleira, ainda numa fase emer-
gente. Embora seja considerado um hotel de charme, encontra-se formalmente registado no
Turismo de Portugal (www.turismodeportugal.pt) como “casas de campo”. Abriu ao público
em abril de 2015 e está situado numa propriedade designada Estrumeira da Conceição, onde
se afirma a Irmã Lúcia ter vivenciado os primeiros contactos “divinos” (desconhecidas pelo
público), em 1915, a escassos minutos a pé do Santuário de Fátima, no concelho de Ourém.
A unidade hoteleira foi promovida por um jovem casal (seus proprietários e gestores),
oriundos da região (está instalada onde era o quintal da sua residência) que, algo desaponta-
dos com a descaraterização da região, pretenderam transportar para o projeto a arquitetura
tradicional local. Para o efeito socorreram-se de uma publicação promovida pelo Santuário de
Fátima (Abrantes, Pinto & Carvalho, 1993) que faz um levantamento da região. O resultado é
uma pequena aldeia, com 4 pequenas casas que tentam retratar diferentes épocas, sem ignorar
as exigências/conveniências dos nossos dias.
Dispõe de 15 unidades de alojamento independentes (inseridas nas referidas casas), cons-
149
tituídas por 9 quartos superiores, 3 suites, 2 suites superiores e 1 master suite. Do complexo fa-
zem parte, ainda, a denominada Mãe casa – centro nevrálgico do empreendimento – onde se
encontra a receção, uma pequena “mercearia”, para venda de produtos e artesanato regionais,
um honesty bar, uma sala de estar e uma sala de refeições e, ao lado, um forno a lenha para cozer
pão, atividade em que os clientes podem colaborar.
Existe ainda um pequeno edifício, designado por Ermida, local de contemplação e medi-
tação (sem presunção de qualquer cariz religioso) e um algar (espécie de gruta), a que se acede
através do arvoredo e que funciona como Wellness, onde são feitas massagens em ambiente de
aromoterapia com uso de algumas ervas aromáticas da região. Finalmente, num dos extremos
da zona arborizada exclusivamente com flora autóctone, existe um abrigo de ovelhas.
O serviço é assegurado pelos proprietários/gestores e por 5 colaboradores permanentes
que, propositadamente, não têm formação de base em hotelaria. Em vez de recrutar pessoas
com base nos diplomas preferem fazê-lo com base nas suas capacidades de relacionamento
interpessoal e dar-lhes formação no posto de trabalho, contribuindo para uma maior autenti-
cidade das relações, como é defendido na literatura.
A arquitetura e a decoração, simples mas sofisticadas e atentas aos pequenos detalhes,
conferem ao espaço um caráter único, romântico, confortável, tranquilo e conferente de paz
de espírito, dando corpo ao tema do hotel: a soul experience. Não são de estranhar, por isso, co-
mentários dos hóspedes como: “Momentos de magia, paz e tranquilidade” (anitapirulita2015,
no TripAdvisor) ou “Um lugar surreal, um cantinho de amor... um paraíso que deixa saudade.”
(Fábio B, no TripAdvisor)
Pese embora o seu escasso tempo de vida, a unidade foi recentemente (em 30 de outu-
bro de 2015) distinguida com o prémio Europe’s Best Newcomer Boutique Hotel 2015, pela
World Boutique Hotel Awards, uma organização que se dedica em exclusivo ao reconhecimen-
to da excelência dos hotéis boutique, ou de charme. Com base em 37 clientes, o Boking.com
atribui-lhe a nota 9,6 (numa escala de 10) e o Tripadvisor, com base em 36 avaliações, brinda-o
com a nota máxima (5).

O mercado

O escasso tempo de existência da unidade dificulta uma caraterização rigorosa do seu mer-
cado. Contudo, da nossa entrevista conclui-se que os clientes são maioritariamente casais ou
famílias, nacionais e estrangeiros, com idades médias em torno dos 40 anos.
As reservas podem ser feitas diretamente no sítio do hotel (http://www.luzhouses.pt/) ou
através de distintos OTA (e.g. booking, splendia). Cerca de 90% são feitas on-line e 10% através
de telefone, na sequência da recomendação de amigos. A estadia média cifra-se em 1,7 noites e
ainda não é possível apontar taxas médias de ocupação (atingiu 30%, em outubro).

As experiências

Para além das atividades que podem ser desenvolvidas dentro do espaço, incluindo o con-
vívio entre hóspedes à volta de uma fogueira, ao ar livre, e os jogos tradicionais (e.g. lançar o
pião, jogar à malha), estão em fase de conceção novas experiências e os colaboradores ajudam
os clientes a definir programas de visitas.
A partir da “aldeia” podem-se fazer pequenos passeios pedestres no circuito meditativo e
visitar locais relacionados com a vertente religiosa de Fátima (Capelinha das Aparições, Igreja
da Santíssima Trindade, Museu da Cera e Museu das Aparições). O hotel disponibiliza bicicle-
tas e prepara cestas de piquenique a pedido dos hóspedes, o que permite passeios mais longos
nas redondezas, em plena natureza, como o Monte dos Valinhos, o Calvário Húngaro e a Loca
150
do Cabeço, onde terão ocorrido a primeira e a terceira aparições do anjo aos pastorinhos, po-
dendo descer até Aljustrel e visitar o Museu Etnográfico e a antiga casa da Irmã Lúcia e dos
irmãos Francisco e Jacinta.
A escassa distância podem disfrutar de um vasto número de pontos de interesse natural e
cultural, como as Grutas da Moeda, de Alvados e de Santo António, os mosteiros da Batalha,
de Alcobaça e de Tomar, uma multiplicidade de castelos (Almourol, Leiria, Óbidos, Ourém,
Pombal e Porto de Mós), parques, jardins e praias.
Provavelmente, contudo, a principal experiência é constituída por usufruir da harmonia,
da magia de todo o complexo e da simpatia e empenho dos seus colaboradores, como parece
depreender-se do comentário de uma cliente (MManuela M, no TripAdvisor):

“LUZ é antes de mais uma experiência de amor...Bom gosto, requinte nos peque-
nos detalhes, conforto numa simplicidade encantadora, muita simpatia, um aten-
dimento personalizado com muito mimo, aliados a uma sensação única de paz,
tranquilidade, LUZ, convidativo à meditação, à reflexão e ao amor que emana de
todos os cantos deste espaço único. Voltar é imperativo!”.

5.3. Cooking and Nature Emotional Hotel

O Cooking and Nature Emotional Hotel (Cooking) (http://www.cookinghotel.com) é


uma pequena unidade hoteleira, classificada como Hotel Rural de 4 estrelas, localizada na
freguesia de Alvados, concelho de Porto de Mós e a cerca de 30 km da sede do distrito, Leiria.
Situa-se em pleno Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros, “uma área protegida
possuidora de vasto património natural e cultural, que resulta na existência de imensos locais
de grande interesse, para quem gosta do contacto direto com a natureza”, como afirma o Ins-
tituto da Conservação da Natureza e das Florestas (http://www.icnf.pt).
Além de outros monumentos e centros de interesse que abundam nas proximidades, en-
contra-se a uma escassa distância de Fátima (relevante foco de turismo religioso) e de 3 impor-
tantes monumentos classificados como património mundial pela UNESCO: o Mosteiro dos
Dominicanos da Batalha, na Batalha, o Convento de Cristo, em Tomar e o Mosteiro de Santa
Maria de Alcobaça, em Alcobaça.
O enorme potencial deste património foi reconhecido há muitos anos atrás pelos proprie-
tários e gestores do Cooking (um jovem casal) que já há 11 anos abriram uma guest house na
mesma localidade (Casa dos Matos, a primeira unidade a surgir na aldeia) e por vários outros
promotores, o que conduziu a que a aldeia ofereça atualmente mais de 100 camas.
O hotel dispõe de 12 quartos temáticos (um convite a uma nova experiência), rasgados por
enormes janelas que facultam uma excelente exposição para a serra, piscina interior e exterior,
spa, uma pequena “mercearia”, onde é possível adquirir produtos regionais e um honesty bar,
além das facilidades normais dos estabelecimentos hoteleiros desta categoria.
A sua curta existência tem sido acompanhada pela atribuição sistemática de distinções:
Prémio Criatividade, em 2012, pela Unique Stays; Revelação do Ano, em 2013, pelo guia “Boa
Cama Boa Mesa” (do jornal Expresso); Prémio Experiência do Ano, em 2014, pela Unique
Stays; e Vencedor do Certificado de Excelência, em 2015, pela TripAdvisor.

As atividades/experiências

As atividades proporcionadas pelo hotel estão bem patentes na sua designação: cooking,
nature e emotional. O cooking, nomeadamente pelo seu caráter diferenciador, constitui uma ati-
vidade particularmente apreciada por muitos clientes. Consiste em os clientes poderem, eles
151
próprios7, preparar a sua refeição, surpreendendo os seus acompanhantes, sob o acompanha-
mento de um chef, desde que reservem antecipadamente. Para o efeito, o hotel dispõe de 3
pontos de cozinha (um dos quais mais intimista).
As restantes atividades8 que são propostas aos seus clientes, como os passeios a cavalo,
de bicicleta e pedestres (têm rede de percursos própria e disponibilizam GPS) ou os batismos
de parapente, estão muito ligadas à natureza (nature), à vida ao ar livre e decorrem da própria
escolha da localização.
Admitimos, contudo, que a principal experiência, que envolve todos os sentidos (Pine e
Gilmore, 1998) e que ajuda a compreender o tema proposto pelo hotel, o seu slogan (a place
to fall in love), seja proporcionada pelo enquadramento paisagístico e pela harmonia, beleza e
simplicidade da decoração do interior do hotel, que apelam à tranquilidade, à descontração, à
fuga ao bulício quotidiano.
Talvez a melhor expressão dessa aplicação do marketing sensorial se possa extrair de uma
avaliação de uma cliente, identificada como CarmoMoser, no Tripadvisor (http://www.tripad-
visor.com.br/) que, em 18 de Maio de 2015, intitula o seu comentário de “fenomenal!”, atribui
a classificação máxima e escreve:

“Os 5 sentidos:
VISÃO: paisagens indescritíveis, campos coloridos, um por do sol dourado... Cada
divisão, cada quarto, cada objecto cheios de personalidade. Fez-me sentir em casa!
OLFACTO: cheiro a rosmaninho, alfazema, alecrim... Cheiro a pão quente, a granola...
TACTO: lençóis suaves, almofadas fofas, mantinhas quentinhas... O sol quentinho a
bater na pele, a água fresca da piscina...
AUDIÇÃO: passarinhos a cantar, o som do vento, o som da paz..
PALADAR: pão de cereais; granola de noz, figo, goji... bolo quentinho, fruta fresca;
bolachas de alecrim; doce caseiro... Pequeno almoço divinal!
Ahhhhh! Não podia pedir mais! Ou melhor, só peço para voltar!”

O Mercado

As características do Cooking, nomeadamente a localização, o tipo de experiências (com-


paginando o conceito de “refúgio” com as atividades ao ar livre) e o preço, delimitam em boa
medida o mercado-alvo: pessoas da classe média-alta, com formação superior, provenientes
dos centros urbanos, frequentemente com atividades stressantes e tendencialmente com ida-
des entre os 35 e os 45 anos.
Os clientes do hotel são maioritariamente estrangeiros (cerca de 70% da receita), com
predomínio dos Belgas, Holandeses, Alemães e Franceses, e a procura é superior entre abril
e outubro.
A taxa média de ocupação ronda os 50% e a estadia média cifra-se em 2,2 noites. Os clien-
tes veem crescentemente através da recomendação de terceiros e as reservas diretas represen-
tam cerca de 50%, cabendo os restantes às OTA (online travel agent), com predomínio para
o Booking (cerca de 15%).

7
O hotel assegura uma pré-preparação prévia, o que permite aos clientes preparar a entrada, o prato principal e a
sobremesa em cerca de 45 minutos.
8
Pontualmente, o hotel aposta noutras atividades, como exposições de pintura e cerâmica, ballet e sessões musicais e
manifestou a sua intenção de alargar o âmbito das experiências, embora tenha consciência que a dimensão consti-
tuirá sempre um constrangimento.
152
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Num contexto de inegável estandardização de bens e serviços, a economia da experiência


(Pine & Gilmore, 1998) parece irreversível, enquanto via de diferenciação perante a aguerrida
concorrência presente, em maior ou menor grau, em todos os setores de atividade.
A atividade turística, particularmente a atividade hoteleira, dado o seu eminente caráter
experiencial, não pode ignorar esta tendência, ou correrá o risco de concorrer essencialmente
com base no preço, se optar por vender apenas alojamento, com inequívocas repercussões nos
seus resultados.
Conscientes disso, os hotéis mais recentes têm desenvolvido conceitos que os colocam na
categoria de hotéis de charme, escolhidos para objeto do nosso estudo. Nesse termos, os 3
hotéis alvo de estudo: Rio de Prado, Luz Houses e Cooking Nature, apresentam características
arquitetónicas intimistas, decoração que privilegia o conforto e um serviço personalizado de
elevada qualidade, num ambiente de paz e grande harmonia com a natureza e respeito pela
cultura e tradição local. Todas ancoram a sua atuação particularmente em torno da encenação
de experiências e estão em consonância com a literatura disponível sobre o tema.
A conceção das experiências começa na evidência física (Bitner, 1992), destacando-se a
localização (em plena natureza, nos 3 casos), a arquitetura exterior (particularmente no Luz
Houses e no Rio do Prado) e interior e o espaço circundante, criando um ambiente de paz e
harmonia (em todos eles), em consonância com um tema (Pine & Gilmore, 1998) que todos
eles têm definido. Essa experiência turística representa uma fuga às atividades quotidianas (Co-
hen, 1972), proporcionando uma experiência escapista como é designada por Pine e Gilmore
(1999) e uma busca de autenticidade (MacCannell 1973).
Como se refere na literatura, são habitualmente unidades de pequena dimensão (12 quar-
tos no Cooking e 15 em cada um dos outros 2), um aspeto crítico para a criação de um am-
biente familiar, caraterístico deste tipo de alojamento, e para propiciar o relacionamento entre
a equipa do hotel e os hóspedes e entre os próprios hóspedes (atividades como as lareiras
interiores ou as fogueiras exteriores, disponíveis nas 3 unidades, incentivam esse convívio).
Deste modo, e de acordo com Schmitt (1999), os hotéis em estudo promovem experiências
sensoriais, afetivas e de identidade e relacionamento social.
Para a vertente relacional é decisiva a atuação dos gestores, que também são proprietários
da unidade, situação comum noutros estudos (Aggett, 2007; Robertson, 2010), que tipicamen-
te agem como anfitriões, fazendo os hóspedes sentirem-se em sua casa, mas também a política
de recrutamento que valoriza muito mais as competências interpessoais (Rogerson, 2010) do
que as técnicas, facilmente adquiríveis no contexto de trabalho.
No que concerne à classificação (estrelas) e como consequência do tipo de unidade regista-
da formalmente, só o Cooking está classificado, com 4 estrelas. Contudo, como consequência
da qualidade das suas instalações, dos serviços que prestam e até dos preços que praticam,
todos eles estão posicionados para o segmento médio/alto.
Além da experiência sensorial que pode constituir a estadia nas suas organizações, todos
eles oferecem experiências complementares, quer tirando partido da sua localização numa
zona privilegiada, quer proporcionando experiências mais específicas, físicas e/ou criativas/
cognitivas, (e.g. preparar a própria refeição sob orientação ou um batismo de parapente), fre-
quentemente em parceria com entidades externas.
Das nossas entrevistas e da análise dos comentários dos clientes nas redes sociais, pode-
mos confirmar, também, que as experiências têm um caráter único, ou seja, são interpretadas
de modo distinto por cada cliente. Assim, enquanto alguns hóspedes ficam encantados por
encontrar um refúgio no meio da natureza, outros ficam incomodados com o coaxar das rãs
(no caso do Rio do Prado) ou com o relinchar extemporâneo de um burro (que “mora” nas
proximidades do Luz Houses). Enquanto alguns permanecem maioritariamente na unidade
hoteleira, deleitando-se com o modo como são mimados, outros optam por fazer longas ca-
153
minhadas na montanha, em trilhos devidamente identificados e acompanhados de um GPS,
como acontece no Cooking, o que os deixa extasiados.
Concluindo, os 3 hotéis em estudo praticam um marketing experiencial, de modo geral agra-
daram ou superam as expectativas, levando os clientes a avaliar os hotéis com nota de excelente e
a partilharem as suas experiências e opiniões na internet, influenciando outras pessoas a formar a
sua opinião e a comprar. A venda de alojamento associada a experiências memoráveis está positi-
vamente relacionada com a popularidade dos hotéis, o preço praticado e a taxa de ocupação, para
além de poder estar associado ao preço praticado. Nesse sentido, podemos afirmar que a prática
do marketing experiencial contribui para melhorar a performance empresarial.
Esta constatação deve ser tida em consideração pelos marketeers no momento da conceção
das experiências e da política de comunicação para não frustrar as expectativas dos clientes e,
consequentemente, evitar a sua insatisfação.

6.1. Limitações

Como acontece com a generalidade dos estudos exploratórios, estre trabalho apresenta
várias limitações. A primeira delas, por se tratar de um estudo de caso que, embora tenha
contribuído para uma melhor compreensão do fenómeno (o nosso objetivo), não permite
generalizar os resultados obtidos a populações ou universos.
A impossibilidade de generalizar os resultados é agravada, aliás, pelo facto de se tratar de uma
amostra de conveniência, cobrindo uma área geográfica muito restrita, e por se basear, essen-
cialmente, na informação dos proprietários/gestores, embora se tenham utilizado outras fontes
documentais para dar maior consistência à informação recolhida nas entrevistas (Denzin, 1984).
É objetivo dos autores, numa segunda etapa do estudo, ampliar a amostra, para garan-
tir uma maior representatividade e, paralelamente, dirigir um questionário aos hóspedes das
entidades a estudar, já que é a estes que cabe, em última análise, a avaliação da experiências
oferecidas, nas suas diferentes dimensões.
Sendo o usufruto de experiências um dos pilares da atividade turística e, particularmente,
da atividade hoteleira, pensamos que seria particularmente útil, em termos académico e para
os profissionais do setor, se fosse estabelecido o confronto entre os hotéis de charme e os
hotéis tradicionais de idêntica categoria, desafio que deixamos em aberto para eventuais inves-
tigadores interessados.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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156
157

QUALIDADE DA INFORMAÇÃO: CONCEITOS,


EVOLUÇÃO E APLICAÇÕES

QUALITY INFORMATION: CONCEPTS, EVOLUTION AND


APPLICATIONS
José Rascão1

Resumo

O objectivo deste artigo é o de contribuir para uma melhor compreensão do con-


ceito de qualidade da informação no âmbito das ciências da informação, bem como
nas outras áreas de conhecimento, baseada na agregação da literatura existente. É uma
pesquisa descritiva, com o objectivo de identificar e caracterizar os atributos da quali-
dade da informação de uma forma transversal e universal entre as diferentes áreas de
conhecimento.
A estrutura do artigo sintetiza os trabalhos académicos existentes, procurando gerar
novos conhecimentos. Os resultados podem ser utilizados para aplicação prática nas dis-
tintas áreas de conhecimento. O artigo procura em primeiro lugar identificar os atributos
aparentes e em seguida concentra-se mais em pormenor em alguns desses atributos.
Para concluir propõe um modelo inicial de avaliação da qualidade da informação para
aplicação em futuras pesquisas e estudos empíricos.

PALAVRAS-CHAVE: Informação, ciência da informação, conhecimento, qualidade,


qualidade da informação.

Abstract

The purpose of this article is to contribute to a better understanding of the concept


of quality of information in the field of information sciences, as well as in other areas
of knowledge, based on the aggregation of existing literature. Is a descriptive research,
with the aim of identifying and characterizing the attributes of quality of information
of a cross shape and universal among the different areas of knowledge.
The structure of the article synthesizes the existing academic work, seeking to gene-
rate new knowledge. The results can be used for practical application in different areas
of knowledge. The article seeks to firstly identify the apparent attributes and then focu-
ses in greater detail on some of these attributes. To complete initial proposes a model
of evaluation of the quality of information for future research and empirical studies.

KEYWORD: information, information science, knowledge, quality, quality of the in-


formation.

1
[email protected], Escola Superior de Ciências Empresariais, Instituto Politécnico de Setúbal.
158
1. INTRODUÇÃO

A qualidade da informação é um tema recente. Contudo existe um consenso generaliza-


do entre os investigadores de que é essencial para a sobrevivência de qualquer organização
e como tal este conceito deve ser definido, medido e avaliado para apoiar os decisores. No
contexto organizacional é um dos alicerces para a sobrevivência e aumento da competitivida-
de. Alguns investigadores têm proposto modelos e metodologias para medir a qualidade da
informação disponível.
Este capítulo tem como objectivo proporcionar uma reflexão sobre a qualidade da in-
formação, tendo em consideração o contexto no qual está inserida e contribuir para uma
melhor compreensão deste conceito na Ciência da Informação, tendo por base a agregação
da literatura existente. É uma pesquisa descritiva com o objectivo de identificar e caracterizar
os principais atributos de uma informação com qualidade A abordagem sucinta dos conceitos
de informação, qualidade e qualidade da informação introduzem facilmente o leitor no tema,
procurando gerar novos conhecimentos. Os resultados podem ser utilizados pelas distintas
ciências e ou áreas do conhecimento.

2. INFORMAÇÃO

Nos últimos anos assistiu-se a uma importante transformação no mundo civilizado, isto é,
passou-se da era pós-industrial para a era da informação e do conhecimento. Hoje em dia são o
conhecimento e a informação que ligam a sociedade e as organizações, tendo-se transformado
a própria informação numa indústria.
Esta dependência do conhecimento e da informação tenderá a aumentar nos próximos
anos, pelo que a compreensão básica da importância da informação será tão importante como
eram antes a perícia nos campos, na idade do agricultor ou os conhecimentos industriais bá-
sicos, na era industrial. É necessário entender o recurso informação de uma forma segura e
eficiente. A inocência da importância da informação pode ser comparada com a inocência da
Madame Marie Curie quando manipulava o urânio radioactivo no seu laboratório, inconsciente
dos perigos a que se expunha, acabando por pagar essa inocência científica com a própria vida.

3. OBJECTIVISMO E SUBJECTIVISMO DA INFORMAÇÃO

3.1. Objetivismo

No manuseamento da informação é necessário passar da inocência ao conhecimento, de


modo a que os utilizadores / decisores possam dispor de uma compreensão baseada cienti-
ficamente na informação para a tomada de decisão e que a possam gerir. A informação e o
conhecimento têm sido afetados pelo pensamento objetivista. O objetivismo tem determi-
nado o domínio, a racionalidade, a definição e o objetivo que são comummente atribuídos
à informação e ao conhecimento, assim como as definições dos conceitos de informação,
conhecimento, comunicação e aprendizagem.
Além disso, a informação e o conhecimento mostram uma profunda apreciação pela for-
ma, como se organiza o mercado, como sugerido pelos economistas. Ser uma teoria influente
significa que as suposições teóricas subjacentes estão internalizadas nos sistemas em que as
pessoas acreditam e que podem transformar-se numa ideologia. O objetivismo é a cultura
dominante do mundo ocidental. Usa-se o objetivismo como um «guarda-chuva» para todas
as escolas do pensamento e teorias que são baseadas na ideia de que para o desenvolvimento
do conhecimento, deve ver-se o mundo como consistindo de objetos distintos que podem e
159
devem ser separados dos seus inventores e utilizadores. Construída ao longo do tempo pela
tradicional teoria racionalista e empirista, esta ideia está profundamente entrincheirada nas
ciências, tais como, a economia, a ciência da computação, a matemática e a sociologia, assim
como, nas disciplinas do negócio, tais como a contabilidade e a gestão financeira. Compreende
também uma grande parte da gestão da informação e os campos adjacentes do conhecimento
e da aprendizagem, na teoria e na prática. A gestão da informação é objetivista por defeito.
O objetivismo está associado com a «verdade científica, racionalidade, precisão, clareza, e
imparcialidade» (Lakoff & Johnson, 1980: 189). Os objetivistas afirmam que o comportamen-
to humano é determinado pelas forças do mundo exterior. As pessoas, entretanto, não podem
controlar essas forças exteriores e têm dificuldade em compreendê-las. As forças exteriores
e o seu controlo devem ser suportados pelo conhecimento, de modo a ajudar as pessoas a
dominar o seu meio envolvente, para que as possa conduzir ao desempenho bem-sucedido.
Por conseguinte, para o desenvolvimento do conhecimento torna-se relevante na prática, fo-
carmo-nos nos aspetos externos de como compreender o mundo.
O mundo exterior aos seres humanos está pensado ser composto de distintos objetos
reais. Estes objetos têm propriedades inerentes implicando por isso que os mesmos não são
afetados pela maneira como se pensa acerca deles ou como se usam. Uma rosa é uma rosa, não
obstante como alguém a percebe.
Os objetos vivem em si próprios, imunes à subjetividade dos nossos pensamentos, senti-
mentos e emoções. Eles têm significados específicos que podem ser conhecidos pela investi-
gação das suas propriedades. As rosas têm espinhos, cheiros distintos e outras propriedades
fixas que juntas definem as nossas interações e entendimento desta categoria de flores. Uma
vez que as propriedades são totalmente compreendidas, o conhecimento verdadeiro é durável.
Construindo uma teoria que tenha por base as propriedades da informação e do conhecimen-
to é uma aproximação favorecida pelas literaturas relevantes (Shapiro & Varian, 1999 e Boisot,
1998). Geralmente o raciocínio é de que as teorias tradicionais foram desenvolvidas para a
sociedade industrial que ajudavam as organizações a controlar os bens físicos. A informação e
o conhecimento, entretanto, têm propriedades e características derivadas daqueles bens físicos.
O exemplo típico de tais propriedades idiossincráticas implica, por exemplo, que a informação
pode ser facilmente copiada com custos mínimos ou que o conhecimento pode apreciar o seu
uso. Compreender estas propriedades objetivas e estruturá-las, numa estrutura de causa e de
relacionamentos abstratos do seu efeito, criam a teoria que guiam as organizações na sociedade
da informação e do conhecimento.
Pode compreender-se o nosso meio envolvente explorando e abstraindo as propriedades
dos objetos e usar o conhecimento adquirido para determinar o nosso relacionamento com
os objetos. No objetivismo, o conhecimento consiste em «discretos e abstratos» grânulos da
representação do entendimento da realidade objetiva e a aprendizagem é um processo passo
a passo dirigido para o refinamento constante dessas representações factuais. Claramente de-
lineando objetos com propriedades inerentes e compreendendo como estas propriedades se
relacionam umas com as outras, considera-se ser a passagem ao conhecimento e ao domínio
sobre o meio envolvente para aqueles que têm esse conhecimento.Uma vez que o conheci-
mento no objetivismo é factual, objetivo e fixo, é transferível para os outros pelo significado
da comunicação. Através da comunicação, os significados fixos dos objetos são transferidos
de um remetente ativo para um recetor passivo, uma visão da comunicação que é conhecida
como a metáfora do canal (Bryant, 2007). Neste ponto de vista, a principal fonte da falha de
comunicação é o subjetivismo humano. As falhas de comunicação podem ocorrer quando o
remetente usa uma linguagem inadequada ou quando o recetor está inconsciente do significa-
do exato da linguagem usada e interpreta mal a mensagem.
No objetivismo, a subjetividade deve também ser suspeita por outras razões. Porque o de-
sempenho bem sucedido no meio envolvente está inteiramente dependente dele, a criação do
conhecimento não pode ser deixada às pessoas individualmente, por mais propenso que sejam
160
ao erro humano estimulado por polarizações pessoais e culturais, por preconceitos ou por
outras limitações subjetivas. O único conhecimento real é considerado ser o conhecimento
objetivo e racional, para o qual se necessita do esforço da ciência no que diz respeito à precisão
das verdades inoportunas. A ciência permite que se abstraia o conhecimento experimental da
prática de tal maneira que o correto, o geral e o definitivo da realidade podem ser dados que
são objetiva, universal e incondicionalmente verdadeiros. As pessoas podem ser objetivas, mas
somente se usarem uma linguagem clara, consistindo de palavras com significados fixos, que
combinam a realidade com o que está sendo descrito. A ciência proporciona-nos isso com a
linguagem. Além disso, as metodologias científicas permitem que se apresentem os modelos
resultantes do comportamento racional, como as teorias prescritivas que nos dizem como ter
sucesso no ambiente externo. Esta visão do positivismo da ciência, da metodologia e do co-
nhecimento também prevalece nas literaturas da informação e do conhecimento. Finalmente,
o objetivismo é preferido ao subjetivismo, porque ajuda a estar acima dos julgamentos pes-
soais, das ilusões e dos erros humanos e, nesse sentido, promove a clareza e a imparcialidade
do relacionamento humano.

3.2. Subjectivismo

O subjetivismo é a tradição filosófica que emergiu no século XX com o descontentamen-


to com o objetivismo que joga um jogo na evasiva teoria científica. Usa-se o subjetivismo
como um termo de «guarda-chuva» para todas as escolas do pensamento e teorias que partem
da ideia de que para o desenvolvimento do conhecimento, nos devemos focalizar nos seres
humanos e vê-los como agindo no mundo através do fazer sentido e de que modificam o
contexto em que vivem. Não é minha ambição dar uma visão global completa das teorias do
subjetivismo; uma vez que é uma tarefa que me atemoriza demasiado. Com a intenção de apre-
sentar um número de entendimentos básicos do subjetivismo usou-se o modelo neoclássico
do mercado perfeito. Considera-se a economia neoclássica e a prática da teoria social baseada
nas aplicações representativas do objetivismo e do subjetivismo, respetivamente, como sendo
a luz do discernimento em ambos os mundos do pensamento. Desenvolvido na hermenêu-
tica, na fenomenologia, na sociologia interpretativa e na teoria crítica, o subjetivismo ganhou
particularmente significado nas ciências, tais como a sociologia, a antropologia, a psicologia e
a semiótica. O subjetivismo pode também ser encontrado na literatura da gestão e das organi-
zações, por exemplo, nas teorias cognitivas das organizações ou nas teorias sociais da aprendi-
zagem organizacional (Bonifácio e outros, 2004).
Com isto não quer dizer que o subjetivismo se transformou no ramo dominante do pensa-
mento em muitas ciências. Mais do que isso, é muitas vezes tomado como uma alternativa ao
pensamento objetivista, que é também o caso da literatura da ciência da informação. Há en-
tretanto uma maior consciencialização de que a informação e o conhecimento são fenómenos
sociais e não apenas objetos económicos. Não importa, como podem ser entendidas as dife-
renças filosóficas entre o objetivismo e o subjetivismo, visto que têm implicações profundas.
Comparado com o objetivismo, o subjetivismo envolve redefinir os conceitos fundamentais
da gestão da informação, num novo jogo de suposições subjacentes de reformulação do seu
domínio, racionalidade, objetivo e definição, e uma perspetiva diferente da gestão e da organi-
zação. O subjetivismo é uma visão diferente do mundo, certamente.
O subjetivismo é uma tradição filosófica que se opõe ao objetivismo. O subjetivismo sig-
nifica «fornecer uma alternativa à experiência humana e à compreensão, em vez da verdade
objetiva» (Lakoff & Johnson, 1980). No objetivismo, o comportamento humano é o resultado
das forças que agem no mundo e que as pessoas não podem controlar e encontram dificuldade
de compreensão. O interesse e a motivação do objetivismo é consequentemente fornecer às
pessoas como lei, o conhecimento racional que as ajudará a funcionar com sucesso no mun-
161
do exterior. Visto que o objetivismo é dirigido para os aspetos externos da compreensão, os
aspetos internos são o domínio preliminar do subjetivismo. O que motiva o subjetivismo é a
consciência, a compreensão, a verdade, e o significado que são relativos ao contexto físico e
cultural, do modo de vida das pessoas, assim como as estruturas mentais de como o mundo
funciona (Putnam,1983). Quando os contextos e as conceções mentais das pessoas se opõem
seriamente um contra o outro, não pode haver nenhum objetivo, entendimento, verdade e
significado universal válidos. Por outro lado, a compreensão, a verdade e o significado não são
estritamente pessoais tampouco. Quando o significado for inteiramente pessoal, cada com-
preensão individual poderá ser chamada uma verdade.
Neste caso extremo do subjetivismo, o sentido humano seria totalmente espontâneo. O
céu imaginativo seria o limite. A história mencionada dos Trobiand Papuas ilustra como o
objetivismo e as visões extremas do subjetivismo são ambas inadequadas, pelo menos para
aqueles aspetos da realidade que estão relacionados com a intervenção humana. O significado
de que os Papuas deram ao jogo do grilo é: nem objetivo nem pessoal, mas subjetivo. Deram
conjuntamente sentido ao jogo, que é agora do conhecimento comum. No seu contexto e na
sua prática social, este conhecimento é verdadeiro. A localidade desta verdade impede-os de
participarem no campeonato mundial, mas presumivelmente não se importam. A subjetivida-
de é relevante para muitas formas de organização, porque permite a ação coletiva das unidades
organizacionais – um departamento, uma equipe da gestão, uma rede de profissionais – na
base de experiências e de entendimentos localmente partilhados (Weick, 1995). O exemplo
dos Papuas ilustra além disso que a verdade e o conhecimento verdadeiro estão sempre de-
pendentes de como as pessoas compreendem experimentalmente os seus mundos e daquilo a
que as pessoas encontram significado e significativo, nas suas vidas. Por sua vez, aquilo a que
as pessoas dão importância, não é unicamente relevante no objetivismo do seu conhecimento
racional, mas também na sua imaginação, intuição, emoções, valores, crenças, experiências e
ambições.

4. QUALIDADE

O termo qualidade vem do latim qualitate, e é utilizado em situações bem distintas. Por
exemplo, quando se fala na qualidade de vida das pessoas de um país ou região, quando se
fala da qualidade da água que se bebe ou do ar que se respira, quando se fala da qualidade do
serviço prestado por uma determinada empresa, ou ainda quando se fala da qualidade de um
produto em geral. Como o termo tem diversas utilizações, o seu significado nem sempre é de
definição clara e objetiva.
No que diz respeito aos produtos e/ou serviços vendidos no mercado, há várias definições
para qualidade: “conformidade com as exigências dos clientes”, “relação custo/benefício”,
“adequação ao uso”, “valor agregado, que produtos similares não possuem”; “fazer bem à
primeira vez”; “produtos e/ou serviços com efetividade”. Enfim, o termo é geralmente em-
pregue para significar “excelência” de um produto ou serviço. A qualidade de um produto ou
serviço pode ser olhada de duas ópticas: a do produtor e a do cliente, ainda conforme Deming2
“A qualidade só pode ser definida em termos de quem a avalia”[2] . Do ponto de vista do pro-
dutor, a qualidade associa-se à concepção e produção de um produto que vá ao encontro das
necessidades do cliente. Do ponto de vista do cliente, a qualidade está associada ao valor e à
utilidade reconhecidas ao produto, estando em alguns casos ligada ao preço.
Do ponto de vista dos clientes, a qualidade não é unidimensional. Quer dizer, os clientes
não avaliam um produto tendo em conta apenas uma das suas características, mas várias. Por

Deming, W. Edwards. “Qualidade: a revolução da administração”. In Qualidade: a revolução da administração. Mar-


2

ques Saraiva, 1990.


162
exemplo, a sua dimensão, cor, durabilidade, design, funções que desempenha etc. Assim, a
qualidade é um conceito multidimensional. A qualidade tem muitas dimensões e é por isso
mais difícil de definir. De tal forma, que pode ser difícil até para o cliente exprimir o que
considera um produto de qualidade. O cliente não avalia se um produto e ou serviço possuem
qualidade apenas pelo preço, ou por determinada característica, pelo contrário, a qualidade é
determinada quando o produto e ou serviço atingem a expectativa do cliente. A definição de
qualidade deve sempre estar relacionada com a satisfação do cliente.
Do ponto de vista da empresa, contudo, se o objetivo é oferecer produtos e serviços de
qualidade, o conceito não pode ser deixado ao acaso. Tem de ser definido de forma clara e
objetiva. Isso significa que a empresa deve apurar quais são as necessidades dos clientes e, em
função destas, definir os requisitos de qualidade do produto. Os requisitos são definidos em
termos de variáveis, tais como: comprimento, largura, altura, peso, cor, resistência, durabili-
dade, funções desempenhadas, tempo de entrega, simpatia de quem atende o cliente, rapidez
do atendimento, eficácia do serviço, etc. Cada requisito é em seguida quantificado, a fim de
que a qualidade possa ser interpretada por todos (empresa, trabalhadores, gestores e clientes)
exatamente da mesma maneira.
Os produtos devem exibir esses requisitos, a publicidade faz-se em torno desses requisitos
(e não de outros), o controle de qualidade visa assegurar que esses requisitos estão presentes
no produto, a medição da satisfação faz-se para apurar em que medida esses requisitos estão
presentes e em que medida vão realmente ao encontro das necessidades. Todo o funciona-
mento da “empresa de qualidade” gira em torno da oferta do conceito de qualidade que foi
definido. A qualidade é uma propriedade, atributo ou condição das pessoas capazes de as
distinguir de outras. Numa escala de valores a qualidade é uma propriedade, atributo ou con-
dição que permite aceitar ou recusar qualquer coisa (Almeida, 1994, p.5; Neihmy, Guimarães
(1996, p.112). A qualidade indica, por exemplo, o valor relativo dos produtos e ou serviços, a
eficiência e eficácia dos processos na produção de produtos e serviços. Nas ciências empre-
sariais a qualidade dos produtos e ou serviços pode ser aproveitada para conseguir vantagens
competitivas (Almeida, 1994, p.5; Neihmy, Guimarães (1996, p.111).

5. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

O termo qualidade da informação é um termo recente e foi abordado pela primeira vez
no Seminário de Nordie Council for Scientific Information and Research Libraries em 1989
em Copenhague, Dinamarca (Calazans, 2008). De acordo com Marchand (1989) e Calazans,
(2008) o conceito de qualidade da informação pode ser abordado segundo os seguintes cri-
térios:

• Transcendência – o valor da informação é reconhecido, como absoluto e universal


(sinónimo de excelência) ou seja qualidade intrínseca (ex: um poema, uma formula
matemática, etc.);
• Produto – trata a informação enquanto coisa que pode ser medida, quantificada,
vendida, copiada;
• Produção – a qualidade da informação como adequação aos padrões estabelecidos
pelos clientes; qualquer desvio em relação aos padrões significa redução de qualida-
de.
• Decisores / utilizadores – os tipos e as fontes de informação que mais satisfazem
os decisores / utilizadores do ponto de vista subjectivamos e com fracas possibili-
dades de operacionalização.
• Aspecto de valor – o valor da informação é considerado como categoria mais
abrangente e como um dos seus atributos.
163
English (2001) baseou-se nos princípios da qualidade de Denning, Ishikawa, Juran e
Crosby e outros autores que implementaram os modelos da qualidade na era industrial. São
identificados alguns atributos da qualidade da informação, tais como: exactidão, actualização,
confiabilidade, efectividade, eficiência, entre outros. Segundo Strong, Lee e Wang (1997) exis-
tem três papéis no ciclo da informação: os produtores da informação, o material cru para a
informação, os curadores da informação que fornecem e controlam os meios para armazenar
e manter a informação e ainda os consumidores da informação para executar as suas funções.
Segundo Li e Chi (2002) existem três abordagens para identificar os atributos ou características
da qualidade da informação:

• Intuitiva – identificação dos atributos baseados na experiência de experts e na in-


tuição dos atributos importantes;
• Empírica – identificação dos atributos pelos utilizadores / decisores;
• Teórica – enfase nos atributos das teorias existentes (ontológicas, analógicas e ope-
racionais).

Huang, Lee, Wang (1999) reviram as três abordagens utilizadas na literatura e propuseram
a definição sistémica baseada na ontologia com fundamentos lógicos derivados da visão de
qualidade da informação sob a óptica do utilizador / decisor.

Tabela nº 1 Atributos e dimensões da Qualidade da Informação na óptica do utilizador /


decisor

Atributos / Categorias Dimensões da Qualidade da Informação

Intrínseca • Objectiva
• Exacta
• Credível
• Fidedigna

Contextual • Relevante
• Actual
• Completa
• Com valor (acumulado)

Representacional • Interpretável
• Clara
• Concisa
• Precisa

Acessibilidade • Acessível
• Fácil de manipular
• Segura

Fonte: Calazans, A. T. S., (2008), in: Transformação, Campinas, 20(1): 29-45, Jan/Abr.
164
Tabela nº 2 Atributos e dimensões da Qualidade da Informação na óptica do produto

Atributos / Categorias Dimensões da Qualidade da Informação

Intrínseca • Objectiva
• Exacta
• Credível
• Fidedigna

Contextual • Relevante
• Actual
• Completa
• Com valor (acumulado)

Representacional • Interpretável
• Clara
• Concisa
• Precisa

Acessibilidade • Acessível
• Segura

Fonte: Calazans, A. T. S., (2008), in: Transformação, Campinas, 20(1): 29-45, Jan/Abr.

Huang, Lee e Wang (1999) definiram contextos de qualidade da informação e propuseram


um vocabulário das características e dimensões da qualidade da informação num ciclo contí-
nuo da informação. Propuseram também um programa de qualidade da informação adaptado
ao conceito de gestão da qualidade total que utiliza os cinco princípios de qualidade para a
indústria, considerando a informação como produto.

6. PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

A percepção é a função cerebral que permite ao indivíduo organizar e interpretar as im-


pressões sensoriais, de forma a atribuir significado ao meio envolvente, a partir de um his-
tórico de vivências passadas. O seu processo consiste na aquisição, interpretação, selecção
e organização das informações obtidas, podendo ou não depender de alguma informação
proveniente da memória. Esta actividade cognitiva ocorre graças aos órgãos dos sentidos que
veiculam as informações obtidas. Primeiramente, os órgãos receptores detectam e recebem o
estímulo, processo designado por sensação. De seguida, esse estímulo é traduzido em impul-
sos nervosos que são conduzidos ao cérebro, onde são processados. Toda esta sequência tem
início com a atenção, um processo de observação selectiva em que actuam diversos factores
determinantes: os factores externos e os factores internos. Por factores externos entendemos
agentes que surgem exteriormente ao corpo, ou seja, estímulos que os órgãos dos sentidos
identificam. Como exemplo, podemos considerar o movimento do estímulo, a sua intensidade,
contraste e incongruência. Os factores internos estão relacionados com o nosso ser e a nossa
personalidade. Podemos tomar como exemplo a motivação para o estímulo, as experiências
que tivemos anteriormente, o maior ou menor conhecimento e entendimento do estímulo, a
natureza social e a expectativa, entre outros.
À medida que adquirimos novas informações, a nossa percepção em relação a um deter-
minado assunto vai-se alterando. Contudo, é de salientar que mesmo na ausência de alteração
165
do estímulo, a sua interpretação poderá variar, por influência das experiências presenciadas pelo
sujeito. Assim, após a chegada da informação ao cérebro, vão-se estruturar e organizar continua-
mente as representações do mundo. É nele que se dá sentido ao que vemos, ouvimos e sentimos,
dado que a informação proveniente dos órgãos sensoriais é processada no cérebro, estrutura do
sistema nervoso na qual os estímulos ganham sentido e, por isso, significado. No entanto, caso
o cérebro ou os órgãos sensoriais não estejam em total equilíbrio com as características do meio
ambiente, as percepções poderão não corresponder àquilo que efectivamente se observa, ouve e
sente, daí a existência de percepções deficientes, alucinações ou ilusões dos sentidos.
Por vezes, poderá não existir qualquer percepção face ao estímulo. Esta situação ocorre quan-
do o objecto percebido não tem qualquer base na realidade da pessoa em causa, pelo que ela po-
derá simplesmente não o perceber, acabando por o ignorar. A percepção representa um processo
cognitivo único. É distinto da memória, pois, enquanto esta está relacionada com acontecimen-
tos passados, a percepção está directamente relacionada com acontecimentos observáveis no
momento presente. Também se considera a percepção diferente do pensamento e da consciên-
cia, visto que a percepção não remete para a subjectividade do ser humano. A percepção nasce
a partir de um estímulo proveniente do exterior, contrariamente à consciência e ao pensamento
que constituem processos mais íntimos e existem sem que haja um estímulo, pelo que apenas é
necessário recorrer à memória. A dor é uma resposta do cérebro resultante da activação de estí-
mulos locais, podendo resultar de qualquer tipo de percepção. Está relacionada com a percepção
táctil, sendo extremamente importante para o ser humano, dado permitir a transmissão da infor-
mação de que existe algo no organismo que não está no seu estado mais equilibrado e saudável.
A dor é considerada subjectiva, visto que a informação transmitida pelo cérebro causadora da
dor é sempre a mesma, simplesmente varia de intensidade. Esta é claramente influenciada pelo
estado psicológico do indivíduo e pela sensibilidade do local a que está a ser aplicada.
A presença e a condição do indivíduo são extremamente importantes para a percepção do
estímulo, dado que o indivíduo possui diferentes tipos de percepção que lhe permitem ade-
quar-se à informação recebida e, assim, organizar as representações do mundo. Deste modo,
existem diversos tipos de percepção, em que as percepções visual e auditiva representam as
formas mais desenvolvidas no ser humano, dado que foram fundamentais à sobrevivência da
espécie humana.

• Percepção Visual – percepção de raios luminosos pelo sistema visual. Caracteriza-


-se pela percepção das formas, relações espaciais, cores, intensidade luminosa e
movimentos.
• Percepção Auditiva – percepção de sons pelos ouvidos. O estudo da percepção
auditiva baseia-se na análise da percepção de timbres, alturas e frequências, da per-
cepção da intensidade sonora e volume, e ainda da percepção rítmica, intensamente
relacionada com a percepção temporal.
• Percepção Olfactiva – percepção de odores pelo nariz. Apesar de o olfacto não
ser um sentido muito apurado nos seres humanos, este é extremamente importante
para o nosso paladar, nomeadamente durante a alimentação.
• Percepção Gustativa – percepção de sabores pela língua, geralmente associada ao
prazer. Tal como o olfacto, representa um dos sentidos menos desenvolvidos nos
seres humanos.
• Percepção Táctil – percepção de objectos e sensações pela pele. Este tipo de per-
cepção permite reconhecer a presença, forma, tamanho e temperatura dos objec-
tos em contacto com o corpo. Além disso, é extremamente importante para o ser
humano ao permitir o adequado posicionamento do seu corpo como a protecção
física do mesmo. Este tipo de percepção não é uniforme, dado que as mãos, a lín-
gua e os lábios apresentam uma maior sensibilidade, pelo que é mais acessível para
os mesmos a identificação dos estímulos.
166
• Percepção Temporal – percepção das durações temporais, produção de ritmos,
ordem temporal e simultaneidade. Este tipo de percepção é extraordinariamente
importante na música, daí estar directamente relacionado com a percepção audi-
tiva. A percepção temporal não é exclusivamente identificada por nenhum órgão,
resultando da identificação combinada por parte dos órgãos dos sentidos e das
potencialidades do cérebro.
• Percepção Espacial - percepção das distâncias entre os objectos. Não existe ne-
nhum órgão específico que identifique a percepção espacial, dado que a percepção
de distância e do tamanho relativo dos objectos implica a conjugação da percepção
auditiva, visual e temporal. Deste modo, poderemos identificar se um objecto se
está a aproximar ou a afastar através do som mais ou menos intenso por ele produ-
zido, pela observação das suas dimensões ou pela análise do aumento ou diminui-
ção da sua nitidez.

Segundo (Klein & Hirschleim, 1987), A percepção da qualidade da informação4 influen-


cia a nossa visão dos factos e ou eventos, mas também a nossa percepção de comunicação
(Mokros, 1993, Schement, 1993) e a condução da pesquisa (Newman, 2001, Schement 1993).
Isto significa que a percepção da qualidade da informação, tem uma profunda influência no
campo das ciências da informação. O conceito de qualidade da informação é tratado de uma
forma pragmática pelas pessoas e nada de muita reflexão. Tem sido a prática que tem levado à
construção do conceito de qualidade da informação. Os conceitos de qualidade da informação
não são percebidos de forma clara pelas pessoas e os atributos da qualidade da informação
misturam-se e é ténue a distinção inequívoca entre eles.
A prática e o modo de uso da informação dão às pessoas o entendimento do conceito aca-
démico que ele intuitivamente trabalha sem conhecer a teoria que constrói as definições e os
conceitos. Alguns dos atributos da qualidade da informação não são evidentes para as pessoas.
Estas não escolhem a informação pelos conceitos, trabalham-na de forma intuitiva utilizando
o senso comum e a sintonia para manifestar a sua percepção da qualidade da informação. Não
há evidência de familiaridade ou de conhecimento explícito com o tema. Quando muito um
conhecimento tácito, desorganizado e pautado por comparações e sinónimos. A percepção
da qualidade da informação não é nítida para as pessoas, fica mais próxima do conhecimento
popular do que do conhecimento científico. Talvez seja pela própria falta de conceitos claros
que sustentem interpretações inequívocas que qualifiquem a informação.

7. QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

Para Oleto, R. R., (2006)5 a qualidade da informação é um conceito de difícil apreensão,


visto que é um substantivo abstrato e de entendimento rápido por meio do senso comum, mas
complexo de entendimento, quando se procura uma definição mais rigorosa. De acordo com
Ferreira (1975, p. 1165) “a qualidade é uma das categorias fundamentais do pensamento: ma-
neira de ser que se afirma ou se nega de uma coisa”. Também pode ser definida como “aspecto
sensível e que não pode ser medido das coisas”. Dada a quantidade de informações disponí-
veis, as pessoas individualmente e nas organizações vivem o problema de selecionar / filtrar,
de entre tantas informações, aquelas que têm qualidade para apoio na tomada de decisão.
Mas quais são os critérios a serem observados no processo de filtragem das informações
disponíveis para verificar se uma informação tem qualidade? Será que se pode deixar o pro-
blema da selecção entregue ao bom senso dos decisores / utilizadores, com a suposição de
4
A distinção entre definição e percepção, é que a definição é o que caracteriza o fenómeno definido, ao passo que a
percepção (conceito) é o processo de olhar para o fenómeno. Aceitando a ideia de percepção torna-se fácil olhar
para a utilidade da percepção com mais razão do que a universalmente verdadeira definição [Belkin, 1978, p.58]
5
Oleto, R. R., (2006), Percepção da Qualidade da Informação, in: Revista Ciência da Informação, vol35, nº1, p. 57-62,
Jan/Abr.
167
que o conceito de qualidade da informação seja semelhante ao de beleza: “Eu reconheço a
beleza quando a vejo”? A saída normalmente utilizada pela ciência é por meio de uma defi-
nição operacional que leve para o nível das observações quantitativas. Esta operacionalização
nem sempre é satisfatória, visto que depende do nível de conhecimento do conceito, da teoria
na qual está envolvido e das possibilidades instrumentais de medida. Além das dificuldades
mencionadas anteriormente o conceito de qualidade da informação, na ciência da informação,
parece configurar dificuldades mais profundas, como pode ser comprovado no trabalho de
desconstrução desse conceito feito por Nehmy e Paim (1998) e por Nehmy (1996). Segundo
os mesmos autores, sob o ponto de vista epistemológico, a noção de qualidade da informação,
tal como definida, é um conceito vago, ambíguo, impreciso e subjectivo, pelo que deve ser re-
cusado enquanto conceito científico. Mesmo assim a ciência da informação faz estudos sobre
a qualidade da informação, mas mais propícios à operacionalização do conceito no que diz
respeito aos aspectos objectivos, baseados no produto.

Abordagem da qualidade da informação baseada no produto

A abordagem baseada no produto faz enfase da informação como coisa, segundo o con-
ceito de Bukland (1991, p.351-360) e como tal atribui algumas dimensões ou atributos à qua-
lidade da informação, tais como, abrangência, actualidade, objectividade, confiabilidade, pre-
cisão, acessibilidade e validade. Estes atributos conferem multidimensionalidade à qualidade
da informação (Paim, Nehmy e Guimarães, 1996). Nehmy (1996, p.30) considera os atribu-
tos abrangência e objectividade como valores intrínsecos da informação. Segundo Buckland
(1991) o atributo acessibilidade é importante para a área da informação, sobretudo para a pres-
tação de serviços, uma vez que a grande preocupação destes é a redução do tempo necessário
para que os clientes / utilizadores tenham acesso à informação de que precisam para a tomada
de decisão para atingir os objectivos pessoais ou de trabalho institucional.
Para Paim, Nehmy, Guimarâes (1996, p. 116) a confiabilidade significa credibilidade no
conteúdo e na fonte de informação e relacionam-na com a ideia de autoridade cognitiva –
prestígio, respeito, reputação da fonte, autor ou instituição, isto é, assemelha-se a uma espécie
de fé. A precisão tem o significado de exactidão, correcção, o que nos remete à forma de regis-
to fiel ao facto representado. O conceito de validade pressupõe integridade da fonte de infor-
mação. Segundo Campos (1992, p. 2) afirma que “um produto ou serviço de qualidade é aque-
le que corresponde de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo às necessidades do
cliente”. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1994, p.3-4) define a qualidade
da informação como uma entidade que confere a capacidade de satisfazer as necessidades
explícitas e implícitas dos clientes, isto é, a qualidade é definida como “adequação ao uso” ou
“adequação ao propósito” ou “satisfação do cliente” ou “conformidade com os requisitos”.

Abordagem da qualidade da informação baseada no utilizador / decisor

Segundo Saracevic (1996, p. 46) nos anos 70 o paradigma da recuperação da informação


deslocou-se em direcção à contextualização, voltando-se para os utilizadores / decisores e suas
interacções, reflectindo uma compreensão mais aprofundada do problema. Dervin e Nilan
(1986) fizeram um recenseamento das questões que estavam a ser discutidas e que apontavam
para vários caminhos, mas centravam-se todas no utilizador / decisor. Os autores confirma-
ram a existência de uma tensão visível existente na literatura entre a pesquisa na ciência da
informação e a prática. Os diferentes autores apelavam a pesquisas sobre as necessidades e uso
da informação pelos utilizadores / decisores com o argumento de que era necessário reorien-
tar as pesquisas, uma vez que, as actuais não estavam a promover a base para essa reorientação.
Entre os temas para os quais se pedia maior atenção dos investigadores eram: a neces-
sidade de dar maior atenção aos utilizadores / decisores e a centralidade das necessidades
168
e uso da informação definidas a partir dos utilizadores / decisores. Nehmy e Paim (1998, p.
42) associam a relevância objectiva à qualidade da informação, visto que trabalha a partir de
hipóteses de adequação dos tópicos de indexação e classificação de documentos às questões
da pesquisa bibliográfica, onde a pesquisa é definida pela representação de uma necessidade
de informação. Em tal perspectiva a relevância está associada à adequação entre uma fonte e
um destinatário. Paim, Nehmy e Guimarães (1996, p. 116) associam eficácia à adequação da
informação na solução do problema sujeito-utilizador. A eficácia decorre do usa da informa-
ção, isto é, a informação é eficaz se contribui para algum resultado positivo para o sujeito da
acção, como por exemplo na tomada de decisão. Da revisão da literatura existente constatou-
-se que vários autores apresentam diferentes atributos / critérios para avaliar a qualidade da
informação.De acordo com a revisão da literatura, apresenta-se em seguida uma tabela com os
atributos / critérios síntese dos diferentes autores:

Tabela nº 3 Atributos e critérios da Qualidade da Informação na óptica do utilizador / decisor

Dimensão Atributos/critérios
de qualidade Definição
Tempo No momento certo A informação deve ser fornecida no momento certo,
quando necessária.
Actualização A informação deve estar actualizada quando for fornecida
Frequência A informação deve ser fornecida tantas as vezes quan-
tas for necessário
Oportunidade A informação deve estar disponível à pessoa certa no
momento certo.
Redução da incerteza Uma boa informação reduz a incerteza. Boa informa-
ção envolve diferenças que faz a diferença;
Elemento de surpresa A informação pode ser usada para obter vantagens
competitivas;
Acessibilidade A informação só é útil se as pessoas têm acesso a ela; a
acessibilidade está ao alcance daqueles que podem obter
a informação a tempo de ser usada com eficiência e no
formato que a torna útil. O armazenamento electrónico
torna a informação muito mais facilmente acessível, do
que a tecnologia do lápis e do papel
Período A informação deve ser fornecida sobre períodos passa-
dos, presentes e futuros
Contexto Precisão / correção A informação deve estar isenta de erros
Relevância A informação deve estar relacionada com as necessida-
des de informação de um receptor específico para uma
situação específica. Deve ser destacado o que é relevan-
te, as excepções
Pertinência A informação deve relacionar-se com os factos, estar
disponível e ser importante para a pessoa que a requer.
A informação ajudará as pessoas a tomarem decisões
Integridade Toda a informação que for necessária deve ser fornecida
Completude A informação completa contém todos os factos impor-
tantes
Concisão Apenas a informação que for necessária deve ser fornecida
Amplitude/flexibilidade A informação pode ter um alcance amplo ou estreito
ou um foco interno ou externo
169
Desempenho A informação pode revelar desempenho pela medida
das actividades concluídas, do progresso realizado ou
dos recursos acumulados. Avaliação do impacto da in-
formação nos resultados desejados
Simplicidade A informação deve ser simples, não excessivamente
complexa
Verificalidade A informação deve ser verificada e a sua correção pode
ser assegurada
Confiabilidade A informação depende de algum outro factor como o
método de recolha de dados e a fonte de informação. O
utilizador precisa acreditar na informação para se sentir
seguro ao tomar decisões.
Exactidão A informação deve ser exacta, isto significa que se a
informação não for exacta, perde o interesse
Comparação A informação deve reflectir a comparação dos planos
em execução (planeado vs real vs desvio) e as tendên-
cias (acima ou abaixo ou dentro das espectativas), como
por exemplo a comparação com períodos anteriores
(ano, mês e acumulado, etc.)
Forma Clareza na
interpretabilidade A informação deve ser fornecida de uma forma que seja
fácil de compreender
Detalhe A informação deve ser fornecida em forma detalhada,
resumida ou em síntese. As informações devem apare-
cer num nível de síntese adequada ao nível do decisor/
utilizador, sem apresentar nada de irrelevante para o de-
cisor/utilizador e tão pouco num grau de síntese exces-
sivo com relação ao seu interesse.
Ordem A informação deve ser organizada numa sequência pre-
-determinada
Apresentação A informação deve ser apresentada em forma de narra-
tiva, numérica, gráfica ou outra
Midia / suporte A informação pode ser fornecida na forma de docu-
mentos em papel impresso, monitores de vídeo ou ou-
tros midias

Fonte: Adaptado de Bio (1996); Stair & Reynolds (2011) e O’Brien (2004)

8. MODELO DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INFORMAÇÃO

Segundo Parasuraman et al. (1985), a avaliação da qualidade da informação pode ser medi-
da através de dois indicadores e momentos:

• A qualidade esperada (E) da informação – tendo por base as necessidades do uso


da informação
• A qualidade percebida (P) da informação – tendo por base a utilização da informa-
ção na tomada de decisão.
170
Tabela nº 4 – Dimensões e atributos da Qualidade da Informação esperados e percebidos

Expectativas (E) Percepções (P)


Tempo Prontidão – a informação deveria Prontidão – a informação é fornecida quando
ser fornecida quando necessária. necessária
Pontualidade – a informação Pontualidade – a informação está próxima do
deveria estar próxima do fato. fato.
Atualização - a informação deveria Atualização - a informação está atualizada
estar atualizada quando fornecida quando fornecida.
Freqüência – a informação deveria Freqüência – a informação é fornecida tantas
ser fornecida tantas vezes quantas vezes quantas são necessárias.
são necessárias.
Período – a informação deveria Período – a informação é fornecida sobre
ser fornecida sobre períodos períodos passados, presentes e futuros
passados, presentes e futuros.
Contexto Precisão/correção – a informação Precisão/correção – a informação está isenta
deveria estar isenta de erros. de erros.
Relevância/exceção – a Relevância/exceção – a informação está
informação deveria estar relacionada relacionada às necessidades de informação
às necessidades de informação de de um receptor específico para uma situação
um receptor específico para uma específica; é destacado o que é relevante, as
situação específica; deveria ser exceções
destacado o que é relevante,
as exceções.
Integridade – toda informação Integridade – toda informação necessária é
necessária deveria ser fornecida. fornecida.
Completude – a informação Completude – a informação completa contém
completa deveria conter todos todos os fatos importantes
os fatos importantes.
Concisão – apenas a informação Concisão – apenas a informação necessária é
necessária deveria ser fornecida. fornecida.
Amplitude/flexibilidade – a Amplitude/flexibilidade – a informação tem
informação deveria ter um alcance um alcance amplo ou estreito, ou um foco
amplo ou estreito, ou um foco interno ou externo.
interno ou externo.
Desempenho – a informação Desempenho – a informação revela
deveria revelar desempenho desempenho pela medição das atividades
pela medição das atividades concluídas, do progresso realizado ou dos
concluídas, do progresso realizado recursos acumulados.
ou dos recursos acumulados.
Simplicidade – a informação Simplicidade – a informação é simples, não
deveria ser simples, não excessi- excessivamente complexa.
vamente complexa.
Verificabilidade – deveria ser Verificabilidade – é possível verificar a
possível verificar a informação informação e assegurar sua correção.
e assegurar sua correção.
Confiabilidade – a informação Confiabilidade – a informação é confiável e
deveria ser confiável e poder pode ser utilizada sem risco para a tomada de
ser utilizada sem risco para a decisão.
tomada de decisão.
171
Comparação – a informação Comparação – a informação reflete a compa-
deveria refletir a comparação do ração do planeado com o realizado, assim como,
planeado com o realizado, assim tendências.
como, tendências.
Forma Clareza – a informação deveria Clareza – a informação é fornecida de uma
ser fornecida de uma forma que forma que seja fácil de compreender.
fosse fácil de compreender.
Detalhe – as informações Detalhe – as informações aparecem num nível
deveriam aparecer num nível de síntese adequada ao nível do utilizador, sem
de síntese adequada ao nível do apresentar nada de irrelevante e tampouco num
utilizador, sem apresentar nada grau de síntese excessivo com relação ao seu
de irrelevante e tampouco num interesse.
grau de síntese excessivo com
relação ao seu interesse.
Ordem – a informação deveria Ordem – a informação é apresentada organizada
ser apresentada organizada numa numa seqüência predeterminada.
seqüência predeterminada.
Apresentação – a informação Apresentação – a informação é apresentada em
deveria ser apresentada em forma forma narrativa, numérica, gráfica ou outras.
narrativa, numérica, gráfica ou outras.
Mídia – a informação deveria ser Mídia – a informação é fornecida na forma de
fornecida na forma de documentos documentos em papel impresso, monitores de
em papel impresso, monitores de vídeo ou outras mídias.
vídeo ou outras mídias.
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
Discordo fortemente Concordo fortemente
________________________________________________________________________
Fonte: Adaptado de Bio (1996), Stair & Reynolds (2011), O’Brien (2004) e Salomi et al. (2005)

Segundo Parasuraman et al. (1985), a qualidade da informação (Q) resulta da diferença


entre a percepção (P) e a expectativa (E) da qualidade da informação, ou seja, (Q = P – E). As-
sim, se o gap resultante for negativo, então o nível de qualidade está aquém do que se esperava,
resultando numa qualidade inaceitável. Estes indicadores podem auxiliar na identificação dos
gaps entre as expectativas e a percepção da qualidade da informação.
O Modelo Gap (Parasuraman et al., 1985), pode ser adaptado a perspectiva da Qualidade
da Informação:

• Gap 1 – A diferença entre as expectativas dos utilizadores da informação e a


percepção dos decisores sobre essas expectativas;
• Gap 2 – A diferença entre a percepção do (s) decisor (es) em relação às expectativas
do (s) utilizador (es) da informação e as especificações da informação;
• Gap 3 – A diferença entre as especificações da informação e as informações
realmente oferecidas;
• Gap 4 – A diferença entre as informações oferecidas e o que é comunicado ao (s)
utilizador (es);
• Gap 5 – A diferença entre o que o (s) utilizador (es) da informação espera (m)
receber e a percepção que ele (s) tem (têm) das informações oferecidas.

O modelo de gaps foi adaptado para a Qualidade da Informação evidenciando que a expec-
tativa dos utilizadores pode ser uma confluência de necessidades de informações:
172
• Para medições de desempenho (ad hoc ou não; referências cruzadas e indicadores);
• Para avaliação de cenários de decisão (simulações), e
• Para consultas de informações históricas (relatórios e gráficos).

De acordo com Jiang et al. (2003), apresentam-se questões relacionadas com a qualidade
da informação com a finalidade de identificar os gaps existentes:

• O gap da expectativa - Quais são as expectativas dos clientes sobre as informa-


ções fornecidas? Quais são as expectativas dos gestores da informação? Os ges-
tores da informação entendem as expectativas dos seus clientes / utilizadores? Se
não, onde estão os gap ? Esta medida de gap de expectativa inclui expectativas atuais
dos clientes, percepção dos gestores da informação sobre essas expectativas, e a
habilidade dos gestores baseados em padrões de Qualidade da Informação.
• O gap da percepção - Quais são as percepções dos clientes sobre a informação
que lhes é dada? Quais são as percepções dos gestores da informação sobre o de-
sempenho da informação? Eles aceitam? Se não, os clientes estão muito ou pouco
satisfeitos com a informação que lhes é fornecida?
• O gap de desempenho - representa uma inabilidade para satisfazer as expecta-
tivas. A informação e o utilizador da Informação: Quais são as percepções dos
utilizadores sobre a Qualidade da Informação? Eles estão satisfeitos com as in-
formações fornecidas? Se não, quais são as informações que precisam ser melho-
radas? Quais são as percepções dos gestores da informação sobre a qualidade das
informações? Eles estão satisfeitos com o seu desempenho? Se não, quais são as
informações que precisam ser melhoradas? Estas medidas representam o gap (G)
entre as perspectivas dos utilizadores e as dos gestores da informação.
• O gap de satisfação - Há um gap na Qualidade da Informação medida entre os
utilizadores e os gestores de informações? Se sim, quais são as dimensões e os atri-
butos que contribuem para este gap? Estes são independentes para os dois grupos
(utilizadores e gestores) e as expectativas e as percepções de cada grupo são unica-
mente identificadas.

De acordo com Jiang et al. (2003), acredita-se que as respostas a estas questões possibili-
tem um diagnóstico rico sobre a Qualidade da Informação fornecida e forneçam uma medida
para promover uma melhor gestão da Qualidade da Informação. Grandes gaps indicam que
os gestores da informação não entenderam as necessidades de informação dos seus clientes /
utilizadores; um mau entendimento pode fazer com que informações de má qualidade sejam
oferecidas aos clientes / utilizadores, resultando em insatisfação e afetando seriamente o pro-
cesso de decisão.


Tabela nº 5 – Avaliação da Qualidade da Informação segundo as expectativas do avaliador

Avaliação da Qualidade da Informação


Expectativas

Atributos da quali- Inf 1 Inf 2 Inf 3 Inf 4 Inf 5 Inf 6 Inf 7 Inf 8 Inf 9 Inf 10 Media
dade da Informação

Tempo
Prontidão
Pontualidade
Actualização
Frequência
Oportunidade
Redução da incerteza
Elemento de surpresa
Acessibilidade
Período

Contexto Precisão/correção
Relevância
Pertinência
Integridade
Completude
Concisão
Amplitude/flexibilidade
Desempenho
Simplicidade
Verificalidade
Confiabilidade
Exactidão
Comparação

Forma
Clareza na interpretabilidade
Detalhe
Ordem
Apresentação
Midia/suporte
173
Tabela nº 6 – Avaliação da Qualidade da Informação segundo as Percepções do avaliador
174

Avaliação da Qualidade da Informação


Percepções

Atributos da quali- Inf 1 Inf 2 Inf 3 Inf 4 Inf 5 Inf 6 Inf 7 Inf 8 Inf 9 Inf 10 Media
dade da Informação

Tempo
Prontidão
Pontualidade
Actualização
Frequência
Oportunidade
Redução da incerteza
Elemento de surpresa
Acessibilidade
Período

Contexto Precisão/correção
Relevância
Pertinência
Integridade
Completude
Concisão
Amplitude/flexibilidade
Desempenho
Simplicidade
Verificalidade
Confiabilidade
Exactidão
Comparação

Forma
Clareza na interpretabilidade
Detalhe
Ordem
Apresentação
Midia/suporte
Tabela nº 5 – Avaliação da Qualidade da Informação segundo as expectativas do avaliador
Avaliação da Qualidade da Informação
GAPS de satisfação

Atributos da quali- Inf 1 Inf 2 Inf 3 Inf 4 Inf 5 Inf 6 Inf 7 Inf 8 Inf 9 Inf 10 Media
dade da Informação

Tempo
Prontidão
Pontualidade
Actualização
Frequência
Oportunidade
Redução da incerteza
Elemento de surpresa
Acessibilidade
Período

Contexto Precisão/correção
Relevância
Pertinência
Integridade
Completude
Concisão
Amplitude/flexibilidade
Desempenho
Simplicidade
Verificalidade
Confiabilidade
Exactidão
Comparação

Forma
Clareza na interpretabilidade
Detalhe
Ordem
Apresentação
Midia/suporte
175
176
9. CONCLUSÕES E PISTAS PARA NOVAS INVESTIGAÇÕES

Alguns autores questionam se é possível medir a qualidade da informação, visto que a


percepção da qualidade da informação não é nítida para muitos utilizadores / decisores. Al-
gumas perguntas pertinentes podem-se colocar desde já. Será possível selecionar ou trabalhar
uma informação a partir de determinados atributos / conceitos? Será possível definir quantos
e quais os atributos / conceitos que são suficientes para garantir a qualidade da informação?
Para responder a estas e outras questões foram apresentados alguns modelos que se po-
dem aplicar em diferentes ambientes organizacionais. A qualidade da informação é um tema
novo e multidimensional com um vasto campo para experimentação e aplicação. Existem
muitos modelos propostos, mas poucas aplicações. Convém salientar que qualquer que seja
o modelo ou ferramenta a ser utlizado ou adaptado, será necessário ter em consideração as
seguintes premissas:

• Identificar um domínio ou contexto de interesse organizacional para analisar a


qualidade da informação, visando as necessidades pontuais de informação nesse
contexto;
• A necessidade de identificar ontologicamente os conceitos e as relações que exis-
tem nesse domínio ou contexto de interesse, de forma a ajudar os utilizadores /
decisores a atingir um consenso no entendimento dessa área de conhecimento, de
modo a explicitar as diferenças e procurar um consenso sobre os seus significados
e importância;
• Procurar os aspectos que podem completar a pesquisa da qualidade da informação,
não somente definindo ou adaptando um modelo, mas aplicando o ao mundo real,
mapeando o nível de qualidade da informação e procurando identificar os aspectos
que influenciam positivamente ou negativamente o processo informacional da or-
ganização, na tomada de decisão / utilização;

Independentemente da abordagem adoptada (intuitiva, empírica, analógica ou outra) para


medir a qualidade da informação é primordial entender os aspectos que facilitam e dificultam a
aprendizagem da qualidade da informação nas organizações. Estamos cientes de que o modelo
de avaliação da qualidade da informação proposto irá acrescentar valor tanto para as organiza-
ções, em termos de eficiência e de eficácia, assim como para os utilizadores e decisores, bem
como para o meio académico.

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A INFLUÊNCIA DA REDE FAMILIAR, REDE LABORAL


E CONFIANÇA ORGANIZACIONAL NA PERCEÇÃO
DE FELICIDADE PESSOAL, SATISFAÇÃO COM A VIDA
E SATISFAÇÃO COM O TRABALHO: UM ESTUDO EM
CONTEXTO EMPRESARIAL

THE INFLUENCE OF FAMILY NETWORK, JOB NETWORK AND


ORGANIZATIONAL TRUST IN PERSONAL HAPPINESS, LIFE SA-
TISFACTION AND JOB SATISFACTION: A STUDY IN BUSINESS
CONTEXT
Liliana Lima Lousinha Alves1, Isabel Neira Gómez2 e Helena Maria da Silva Santos Rodrigues3

Resumo

A felicidade pessoal e a satisfação com a vida é frequentemente investigada em


amostras de macro ou micro de regiões ou países, enquanto a satisfação com trabalho é
abordada pela área de recursos humanos, existindo evidências da influência da confiança
e das redes neste três conceitos. A ausência de estudos que agreguem estes três conceitos
enquanto componentes do bem-estar subjetivo, bem como o seu estudo em ambientes
empresariais são o nosso ponto de partida. A nossa proposta de investigação apresenta
como hipótese a influência da rede familiar, da rede constituída pelos colegas de trabalho
(sem diferença hierárquica) e da confiança organizacional nas três componentes de bem-
-estar subjetivo que propomos. Neste sentido, submeteu-se um questionário a empresas
localizadas no norte de Portugal e na Galiza, tendo-se obtido 224 respostas válidas. A
análise dos dados através de ordered probit regressions revelou que a confiança e a cola-
boração entre os membros da rede familiar e os membros da rede de colegas de trabalho
(sem diferença hierárquica), bem como a confiança na empresa estão associadas posi-
tivamente à probabilidade de sentir felicidade pessoal e satisfação com o trabalho. Por
sua vez, a confiança nos superiores hierárquicos revelou-se positivamente associada à
probabilidade de sentir satisfação com a vida. Níveis de escolaridade mais elevados estão
associados a menor felicidade pessoal e satisfação com a vida e ser do sexo masculino
está relacionado com a probabilidade de sentir satisfação com o trabalho.

KEYWORDS: felicidade pessoal, satisfação com a vida, satisfação com trabalho, redes,
confiança

Abstract

Personal happiness and life satisfaction is often investigated in macro or micro regions
or countries samples, and job satisfaction is studied by human resources. There is evidence
of the influence of trust and networks on three concepts. The absence of studies that put

1
[email protected], Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
2
[email protected], Universidade de Santiago de Compostela
3
[email protected], Instituto Politécnico de Viana do Castelo
184
together these three components of subjective well-being as well as their study in business
environments are our starting point. Our research proposal presents as hypothesis the
influence of the family network, the coworkers (no hierarchical difference) network and
organizational trust on the three subjective well-being concepts suggested. In this sense, it
underwent a questionnaire to companies located in northern Portugal and Galicia, having
obtained 224 valid responses. Data analysis through ordered probit regressions exposed
that trust and collaboration between members of the family network and members work
colleagues network (no hierarchical difference), as well as trust in the company are posi-
tively associated with the probability of personal happiness and job satisfaction. In turn,
trust in superiors proved positively associated with the probability of life satisfaction. Hi-
gher education levels are associated with lower personal happiness and life satisfaction and
being male is related to the probability of job satisfaction.

PALAVRAS-CHAVE: personal happiness, life satisfaction, job satisfaction, networks,


trust

1. INTRODUÇÃO

A análise de conceitos como felicidade pessoal, satisfação com a vida e satisfação com
trabalho é desenvolvida em diversas áreas científicas e está relacionada com fatores individuais,
económicos e socioculturais. Considerando a investigação científica desenvolvida até ao mo-
mento, a confiança em redes próximas ao indivíduo e/ou em redes mais amplas tem demons-
trado elevada importância na sensação de bem-estar subjetivo. No entanto, o foco de análise
dos conceitos associados ao bem-estar subjetivo é frequentemente a esfera individual ou a
esfera nacional, sendo rara a análise em microambientes, nomeadamente no microambiente
de uma empresa. Os estudos na área baseiam-se em questionários europeus, norte-americanos
e canadianos observando os inquiridos de acordo com fatores sociodemográficos, culturais,
económicos e analisando do ponto de vista individual ou de forma agregada por país ou re-
giões nacionais. Existem vários estudos que analisam a influência do desemprego na sensação
de bem-estar, no entanto há uma ausência de estudos que investiguem diferentes tipos de
bem-estar considerando o ambiente laboral de indivíduos empregados e a importância das
suas redes nesse bem-estar. Esta lacuna é o nosso ponto de partida, baseando-se na impor-
tância que o emprego tem no bem-estar subjetivo e no espaço temporal que os indivíduos
vivem no local de trabalho. Atendendo à validade científica da confiança como influente na
sensação de bem-estar subjetivo, bem como à importância da confiança e do bem-estar sub-
jetivo na construção da vantagem competitiva da empresa, propomos uma abordagem sobre
felicidade pessoal, satisfação com a vida e satisfação com trabalho em empresas, procurando
perceber em que medida estas variáveis são influenciadas pela confiança, colaboração e sentido
de interajuda em redes próximas do indivíduo – família e colegas de trabalho (sem diferença
hierárquica) - e com a confiança organizacional onde os inquiridos trabalham. Na próxima
secção é apresentada a revisão bibliográfica sobre os conceitos chave, seguindo-se a apresenta-
ção da metodologia, dados e procedimentos metodológicos. Na secção 4 são apresentados os
resultados estatísticos e na secção 5 a discussão dos resultados. O artigo encerra sumariando
as principais conclusões retiradas das análises desenvolvidas e que podem constituir pontos de
partida de investigações futuras.

2. REVISÃO DE LITERATURA

O termo bem-estar subjetivo é utilizado como sinonimo de felicidade e satisfação com a


vida em diversas áreas científicas: psicologia (Kim-Prieto, Diener, Tamir, Scollon, & Diener,
185
2005; McCann, 2011), biologia (Cacioppo, Berntson, Sheridan, & McClintock, 2000; De Neve,
Christakis, Fowler, & Frey, 2012), sociologia (Joshanloo & Weijers, 2014; Lu & Gilmour, 2004),
economia (Akbarzadeh, Dehghani, Khoshfar, & Janalizadeh, 2013; Diener & Biswas-Diener,
2002; McCann, 2011). No entanto, Diener, Suh, Lucas, & Smith (1999) referem-se ao bem-
-estar subjetivo como resultado de três avaliações, sendo elas a avaliação ao afeto positivo, a
avaliação ao afeto negativo e a avaliação à satisfação com a vida. Mais tarde, vários autores
evidenciam a génese da avaliação – emocional ou racional –, na qual o afeto positivo ou nega-
tivo resulta de avaliações emocionais, enquanto a satisfação com a vida resulta de avaliações
racionais (Diener, Oishi, & Lucas, 2003; J. F. Helliwell & Putnam, 2004a; Klein, 2013; Pittau,
Zelli, & Gelman, 2010). A este tipo de abordagem acresce o contributo de Kim-Prieto, Diener,
Tamir, Scollon, & Diener (2005) e que está relacionado com o espaço temporal em análise. De
acordo com os autores, o bem-estar subjetivo resulta das circunstâncias da vida e seus eventos,
reações afetivas aos eventos, recordação das reações perante as circunstâncias, e julgamento
global da vida. Apesar de não ser consensual, a avaliação emocional de períodos temporais
curtos e atuais é considerada quando o foco de estudo é a felicidade, enquanto a avaliação ra-
cional de períodos temporais longos é analisada quando o objetivo é estudar a satisfação com
a vida (Diener, 1984; J. F. Helliwell & Putnam, 2004a; Pittau et al., 2010). Por outro lado, o es-
tudo da satisfação com o trabalho não é frequente na investigação sobre o bem-estar subjetivo,
predominando em investigações sobre recursos humanos e sendo considerada uma parte da
satisfação com a vida (Judge & Watanabe, 1994; Saari & Judge, 2004; Tait, Padgett, & Baldwin,
1989). No entanto, a relação entre a satisfação com a vida e a satisfação com o trabalho não
é linear, defendendo Saari & Judge (2004) que são tipos de satisfação distintos e com uma
dinâmica que pode ser de segmentação, spillover ou compensação. A relação de segmentação
significa que os dois tipos de satisfação não interagem, sendo a relação oposta à relação de spi-
llover. A relação de compensação considera a procura da satisfação em outra área, traduzindo-
-se na procura de satisfação com a vida quando não existe satisfação no trabalho, ou o oposto.
De acordo com o estudo de Diener & Seligman (2002), as pessoas que consideraram
ter relações sociais de qualidade demonstraram níveis superiores de bem-estar subjetivo. Os
autores defendem que a quantidade e a qualidade das relações estão relacionadas com estes
elevados níveis, sendo que a qualidade reconhecida na relação influencia o bem-estar subjetivo
sentido pela pessoa. De forma inversa, Diener & Seligman (2002) observaram que a ausência
ou a baixa frequência de relações sociais está presente em indivíduos com baixo bem-estar
subjetivo e em estado de depressão. Em estudos com distintas amostras observou-se que a
baixa satisfação com a vida estava associada a taxas de suicídio mais elevadas (J. F. Helliwell,
2005; Rodríguez-Pose & Berlepsch, 2012). Por sua vez, F. Helliwell & Huang (2005) analisaram
a influência de aspetos não financeiros (por exemplo, a confiança sentida no local de trabalho)
na satisfação com o trabalho, tendo concluído que a confiança tinha maior impacto do que o
salário na satisfação com o trabalho dos empregados. A pré-disposição para o contacto social
e a valorização do contacto com colegas de trabalho é explicativa do cenário descrito anterior-
mente (J. F. Helliwell, 2005).
Fukuyama (1995) denominou a pré-disposição e a aptidão para o trabalho em grupo em
prol de objetivos grupais ou organizacionais de capital social. O capital social é considerado
como fundamental para o funcionamento organizacional, podendo incrementar a criação e
partilha do conhecimento (Davenport & Prusak, 1997) e a criação de capital intelectual (Har-
gadon & Sutton, 1997; Nahapiet & Ghoshal, 1998). De acordo com Nahapiet & Ghoshal
(1998) o capital social pode ser definido do ponto de vista da rede bem como do ponto de vista
dos recursos mobilizados pela rede. Assim, o capital social é constituído pelo somatório dos
recursos atuais e futuros relacionados, disponíveis e derivados da rede de um determinado in-
divíduo ou organização. Considerando o capital social de uma empresa, Nahapiet & Ghoshal
(1998) e Tsai & Ghoshal (1998) defenderam que o capital social é composto por três compo-
nentes: estrutural, relacional e cognitiva. A componente estrutural é referente à posição que a
186
empresa tem na rede, enquanto a componente relacional engloba a confiança e as relações de
confiança entre os diferentes atores da rede, e a componente cognitiva a visão partilhada entre
estes. Neste sentido, o capital social potencia a eficácias das equipas (Rosenthal, 1996), a troca
de recursos internos e a inovação de produto (Gabbay & Zuckerman, 1998; Hansen, 1998;
Tsai & Ghoshal, 1998), a redução de custos para encontrar parceiros (Adler & Kwon, 2002),
a troca de informação valiosa e a construção de vantagem competitiva (Beugelsdijk, 2009).
De acordo com a OEDC (2001) o ser humano liga-se socialmente a outros ser humanos
através de uma agregação próxima e de uma agregação ampla. Enquanto esta última está rela-
cionada com grupos amplos e transversais à sociedade, como a política, o voluntariado e ge-
nerosidade perante o outro, a agregação próxima é referente à conexão que estabelece com os
amigos, a família, os vizinhos e a religião. Considerando a agregação próxima dos indivíduos, o
nível micro do capital social é explorado fundamentalmente pela investigação na área da gestão
e das organizações. Neste sentido, Burt (2000) focou-se na densidade das redes, Bae & Gargiu-
lo (2004) no tamanho das redes, Gimeno, Hoskisson, Beal, & Wan (2005) na sobreposição de
redes, enquanto outros focaram-se nas tipologias de redes (Uzzi, 1996; Venkatraman & Lee,
2004). Por outro lado, um dos conceitos mais analisados no funcionamento de redes é a con-
fiança, podendo esta ser uma confiança nas pessoas em geral – confiança horizontal – ou uma
confiança vertical - confiança nas instituições (Adler & Kwon, 2002; Becchetti, Di Giacomo, &
Pinnacchio, 2008; Bruni & Stanca, 2008; J. Helliwell, 2003; J. F. Helliwell, 2006; J. F. Helliwell,
Huang, & Wang, 2013; J. F. Helliwell & Putnam, 2004b; Klein, 2013; Rodríguez-Pose & von
Berlepsch, 2014). O conceito de confiança está enraizado em dois aspetos chave: a aceitação
da vulnerabilidade (Mayer, Davis, & Schoorman, 1995) e expectativas positivas em relação ao
outro (Rousseau, Sitkin, Burt, & Camerer, 1998). A confiança implica aceitar que se está à mer-
ce do comportamento de outra pessoa/entidade e que essa pessoa/entidade em quem con-
fiamos tem poder de decisão sobre aspetos que interferem no nosso percurso. Quando existe
confiança na outra pessoa/entidade, significa que existe uma crença de que as ações da outra
pessoa/entidade não nos vão prejudicar (Colquitt, Lepine, Zapata, & Wild, 2011; De Jong &
Elfring, 2010; Gambetta, 1998). Mayer, Davis, & Schoorman (1995) focaram-se na questão da
vulnerabilidade. Para os autores sentir confiança face a outra pessoa significa aceitar ser vulne-
rável perante as suas ações que interferem com o percurso pessoal. Por outro lado, Rousseau,
Sitkin, Burt, & Camerer (1998) conceptualizam a confiança como estado psicológico baseado
na expectativa positiva das intenções e do comportamento do outro.
Beugelsdijk (2009) refere que o conceito de capital social está intimamente ligado ao con-
ceito de redes e de confiança, existindo uma análise ao nível macro e ao nível micro destes
conceitos. De acordo com Gulati (1998) as empresas desenvolvem confiança através de nor-
mas ou através do conhecimento que têm da outra parte ao longo de diversas interações, argu-
mentando alguns investigadores que se trata de uma extensão da teoria dos custos de transação
(Chiles & McMackin, 1996). A gestão de relações entre empresas está relacionada com fatores
de custos de transação económica, bem como com a confiança (Gulati, 1995; Nooteboom,
Berger, & Noorderhaven, 1997). De acordo com Ring & van de Ven (1992), as conexões pes-
soais e informais que se estabelecem entre e dentro das organizações desempenham um papel
fundamental nas estruturas de funcionamento utilizadas para gerir as transações entre indi-
víduos/empresas. Por sua vez, Gulati (1995) realçam que os laços repetidos entre empresas
originam confiança, manifestando-se a crescente confiança na diminuição de especificidades
nos contratos estabelecidos entre os parceiros. As empresas que ocupam uma posição central
na rede tendem a ter maior acesso à informação (Dyer & Singh, 1998). De acordo com os
autores, esta posição central proporciona à empresa maior informação sobre a natureza e o
grau de acesso a recursos complementares e a potenciais parceiros.
Por outro lado, considerando a análise da confiança a um nível micro - nível individual -
Das & Teng (2001) referem que as diferentes denominações encontradas na literatura estão
relacionadas com a fonte da confiança: confiança baseada na cognição versus confiança ba-
187
seada no afeto; confiança frágil versus confiança resiliente; confiança baseada na boa vontade
e confiança baseada na competência; confiança baseada na dissuasão, no conhecimento e na
identificação (Das & Teng., 2001).
Diversos autores expõem que a confiança nos outros constrói-se através da partilha de
valores fundamentais, proporcionando a criação de laços entre as pessoas e aumentando a
cooperação e eficiência nas transações, sejam elas de teor económico ou social (J. F. Helliwell
& Putnam, 2004b; Klein, 2013; Portela, Neira, & Salinas-Jiménez, 2013; Sarracino, 2010). De
acordo com Zaheer & Venkatraman (1995), a confiança é uma mais-valia organizacional uma
vez que reduz a necessidade de estabelecer contratos formais detalhados e forte controlo hie-
rárquico para minimizar comportamentos oportunistas. Por outro lado, Dirks & Ferrin (2002)
observaram que a confiança organizacional aumenta o compromisso face à organização, di-
minuindo o desejo de autodespedimento, enquanto Abrams, Cross, Lesser, & Levin (2003)
concluíram que a construção de confiança em ambiente organizacional mostra-se fundamental
uma vez que fomenta a partilha de conhecimento e incentiva a cooperação interna.
Mayer & Gavin (2005) destacaram a ausência de confiança dentro de uma organização
como impulsionadora de comportamentos como não cumprimentos de regras, frustração e
agressão. Acresce a esta tendência o facto do colaborador da organização necessitar de des-
pender tempo e esforço extra para monitorizar o comportamento pessoal de forma a prote-
ger-se. Neste sentido, Schoorman, Mayer, & Davis (2007) e Schaubroeck, Peng, & Hannah
(2013) realçam a importância da confiança na redução da incerteza individual e no incremento
da qualidade das trocas sociais, enquanto J. F. Helliwell (2005) enfatiza a importância da con-
fiança na satisfação laboral. Apesar da satisfação laboral estar relacionada com diversos fatores,
J. F. Helliwell & Huang (2005) concluíram que a confiança no local de trabalho destaca-se dos
restantes fatores, pois a conexão social é importante para o ser humano, sentindo-se o ser
humano feliz colaborando com e para os outros (Batson & Shaw, 1991; J. F. Helliwell, 2005).

3. METODOLOGIA

3.1. Dados

A recolha de dados realizou-se através da submissão de um questionário original a empresas


localizadas no norte de Portugal e na Galiza. A divulgação do questionário decorreu entre janeiro
e junho de 2015, tendo sido divulgado em formato papel e em formato digital. Considerando
as variáveis em análise, utilizou-se como referência as questões utilizadas pelo European Value
Study (2008) sobre bem-estar subjetivo e adaptaram-se algumas questões do Current Population
Survey (2012) sobre conceitos importantes dentro das redes. Assim, solicitou-se ao inquirido
que respondesse, numa escala de likert de 10 pontos, o grau de concordância com frases que
avaliavam a felicidade pessoal, a satisfação com a vida e a satisfação com o trabalho. Por outro
lado, solicitou-se que respondesse, também numa escala de likert de 10 pontos, o grau de concor-
dância com frases que examinavam a confiança, a colaboração e o sentido de interajuda entre os
membros da sua rede familiar e rede colegas de trabalho (sem diferença hierárquica), a partir de
agora denominadas como rede família e rede colegas de trabalho. Adicionalmente pediu-se que
caracterizasse estas redes quanto ao seu tamanho e à frequência de contacto semanal. A confian-
ça organizacional foi analisada através das respostas obtidas sobre a confiança sentida nos supe-
riores hierárquicos, na empresa e no gestor, bem como o sentido de justiça e não oportunismo
entre os membros da empresa. Por fim, colocaram-se questões relacionadas com a caracterização
sociodemográfica: género, idade, estado civil, nível de escolaridade, nacionalidade, salário mensal
liquido, estado de saúde, anos na empresa e cargo na empresa.
O questionário divulgado na eurorregião norte de Portugal- Galiza foi respondido por 224
pessoas, com uma média etária de 38 anos e a trabalhar, em média, há 10 anos na empresa
188
sobre a qual responderam. Entre os inquiridos, 92 eram do sexo feminino e 132 do masculino,
tendo 65% dos inquiridos formação universitária. Foram identificadas 84 empresas participan-
tes e observou-se que 57 dos participantes tinham cargos de gestão e 167 eram colaboradores.
A análise dos dados realizou-se nos softwares IBM SPSS e Stata – Data Analysis and Sta-
tistical Software. Após a codificação dos dados procedeu-se à análise descritiva. Considerando
o tamanho das redes, a rede família dos 224 inquiridos é constituída, em média, por 6 pessoas.
Este número transmite o número de familiares com quem o inquirido contacta - pessoalmente
ou através de telefone ou internet-, no mínimo, uma vez por semana. Por sua vez, o tamanho
da rede de colegas de trabalho é maior do que a rede familiar, sendo, em média, constituída por
15 elementos. Realça-se no entanto que o desvio padrão é de 17.5. À semelhança da caracteri-
zação da rede família, a rede colegas de trabalho é caracterizada pelo número de colegas, sem
diferença hierárquica, com quem o inquirido contacta - pessoalmente ou através de telefone
ou internet-, no mínimo, uma vez por semana.
Em seguida, as redes analisadas foram caracterizadas quanto à frequência de contacto
semanal. Verificou-se que os inquiridos mantêm um contacto muito frequente com os fami-
liares, uma vez que 60% contacta com os membros desta rede entre 7 a 5 vezes por semana.
Observou-se um cenário idêntico na rede colegas de trabalho, uma vez que os inquiridos
responderam na sua maioria que mantêm um contacto muito frequente com os indivíduos
pertencentes à sua rede colegas de trabalho. 64% dos participantes contacta com os membros
da rede colegas de trabalho entre 7 a 5 vezes por semana.
Posteriormente, procedeu-se a uma análise descritiva das respostas relativas à caracteriza-
ção da Felicidade Pessoal, Satisfação com a Vida, Satisfação com o Trabalho, bem como das
respostas relativas às Redes família e colegas de trabalho e Confiança Organizacional.
Ponderando sobre a Felicidade Pessoal, a Satisfação com a Vida e Satisfação com o Traba-
lho, os inquiridos responderam, numa escala de likert 1 - 10, entre 7 e 8. A Satisfação com a
Vida foi a que obteve média superior, possuindo no entanto um desvio padrão superior entre
os três conceitos analisados (ver tabela 2).
Observando os valores médios das redes, conclui-se que a Confiança sentida na Rede
Família é a que apresenta valor médio mais elevado – 9.04 – enquanto o valor médio mais
baixo encontra-se no Sentido de Interajuda entre os colegas de trabalho – 6.93. Comparando
os dados obtidos sobre a Confiança, Colaboração e Sentido de Interajuda na Rede Família e
na Rede Colegas de Trabalho, a Rede Família tem valores médios mais elevados nos três con-
ceitos. Entre os conceitos analisados na Rede Colegas de Trabalho, a Colaboração é a que têm
média superior – 7.42. No que concerne à Confiança Organizacional, destacaram-se as médias
elevadas da Confiança nos Superiores, na Empresa e no Gestor enquanto o Sentido de Justiça
e Não Oportunista revelou médias menos elevadas. Procedeu-se em seguida à análise fatorial
exploratória das variáveis da Rede Família e Rede Colegas de Trabalho, tendo-se concluído
que as variáveis Confiança e Colaboração nos membros das respetivas redes são variáveis com
maior carga nos fatores.

3.2. Procedimento Metodológico

No probit ordenado, uma pontuação subjacente é estimada como função linear das va-
riáveis independentes e do conjunto dos pontos de corte. A probabilidade de se observar
resultados i corresponde à probabilidade de que a função linear estimada, mais o erro aleatório,
encontra-se dentro da gama de pontos de corte estimados para o resultado, traduzindo-se:

uj é assumido como estando distribuído normalmente. Em ambos os casos, estimamos os


coeficientes β1, β2,..
189
βκ em conjunto com os pontos de corte κ1, κ2, …, κI-1, onde I é o número de possíveis
resultados
κ0 é considerado como -∞ e κI como +∞
Assim, com o objetivo de perceber a influência da Rede Família, da Rede Colegas de Traba-
lho e da Confiança Organizacional na probabilidade de ocorrer cada uma das três componen-
tes propostas do Bem-estar Subjetivo, realizaram-se três ordered probit regressions, onde as
variáveis dependentes foram a Felicidade Pessoal (modelo 1), Satisfação com a Vida (modelo
2) e Satisfação com o Trabalho (modelo 3). Estes modelos tiveram como variáveis indepen-
dentes o fator Rede Família, o fator Rede Colegas de Trabalho e as variáveis relacionadas com
a Confiança Organizacional – Sentido de Justiça, Não Oportunismo, Confiança nos Superio-
res Hierárquicos, Confiança na Empresa e Confiança no Gestor. Por último, foram considera-
das as seguintes variáveis de controlo: Género, Idade, Estado Civil, Nível de Escolaridade, Na-
cionalidade, Salário Mensal Líquido, Estado de Saúde, Anos na Empresa e Cargo na Empresa.
Apresenta-se na seção seguinte os resultados alcançados nas três ordered probit regres-
sions referidas.

4. RESULTADOS

Na tabela seguinte são apresentados os resultados das análises efetuadas aos dados dos
224 questionários válidos. No que concerne ao modelo 1, a Rede Família e a Rede Colegas de
Trabalho demonstraram estar relacionadas positivamente com a probabilidade de sentir Feli-
cidade Pessoal, a um nível de significância de 0.05, enquanto a variável Confiança na Empresa
demonstrou a sua influência positiva com uma significância de 0.001. Entre as variáveis socio-
demográficas, o Nível de Escolaridade e o Estado de Saúde destacaram-se, a primeira variável
pela sua relação negativa e a segunda variável pela sua relação positiva com a probabilidade de
sentir Felicidade Pessoal. Por sua vez, no modelo 2 apenas se observou a influência da Con-
fiança nos Superiores na probabilidade de sentir Satisfação com a Vida. A variável Nível de
Escolaridade revelou estar negativamente relacionada com a probabilidade de Satisfação com
a Vida, com um nível de significância de 0.01. Por fim, na ordered probit regression realizada
para testar o modelo 3, concluiu-se que a Rede Colegas de Trabalho e a Confiança sentida
na Empresa estão relacionadas positivamente, a um nível de significância de 0.001, com a
probabilidade de sentir Satisfação com o Trabalho. Adicionalmente, ser do Género Masculino
demonstrou estar relacionado positivamente com a probabilidade de sentir este tipo de satis-
fação, enquanto o Nível de Escolaridade revelou uma relação negativa.

Tabela 1 – Modelos: Resultados Ordered Probit Regressions

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3


Felicidade Satisfação Satisfação
Pessoal com a Vida com o Trabalho
Redes
Fator Rede Família 0.230* -0.0381 0.150
(2.57) (-0.43) (1.75)
Fator Rede Colegas de Trabalho 0.188* 0.0185 0.375***
(2.28) (0.21) (4.50)
Confiança Organizacional
Confiança – Pessoas N Interesseiras -0.00704 0.00146 -0.0105
(-0.72) (0.13) (-1.02)
190
Confiança – Pessoas Justas -0.0148 -0.0145 -0.0135
(-1.69) (-1.46) (-1.51)
Confiança Superiores -0.000575 0.00669* 0.00414
(-0.21) (2.20) (1.50)
Confiança na Empresa 0.141*** 0.0289 0.252***
(3.39) (0.67) (5.99)
Confiança Gestor -0.00252 -0.00336 -0.00290
(-0.74) (-0.93) (-0.85)
Variáveis de controlo
Género (Feminino)
Género (Masculino) 0.354*
(2.09)
Género 0.148 0.124
(0.88) (0.71)
Idade -0.179 -0.232* 0.0877
(-1.80) (-2.22) (0.92)
Estado Civil -0.272 0.0307 -0.285
(-1.66) (0.18) (-1.76)
Escolaridade (Básico)
Escolaridade (Secundário) -1.127** -0.568
(-3.01) (-1.48)
Escolaridade (Universitário) -1.597*** -1.060**
(-4.06) (-2.65)
Escolaridade -0.381*
(-2.39)
Nacionalidade -0.0433 -0.304 -0.0921
(-0.29) (-1.81) (-0.61)
Salário Mensal Líquido 0.0489 0.00573 0.0131
(0.77) (0.09) (0.21)
Saúde 0.347*** 0.0758 0.0828
(3.70) (0.80) (0.92)
Anos na Empresa 0.0529 -0.0245 0.146
(0.59) (-0.26) (1.75)
Cargo na Empresa 0.129 0.0260 -0.316
(0.57) (0.11) (-1.41)
Pseudo R2 0.1483 0.0830 0.1479
Número de Observações 223 223 223

Na secção 5 expõe-se a discussão dos resultados obtidos, refletindo-se sobre as probabili-


dades dos fatores e variáveis observadas nas ordered probit regressions.
191
5. DISCUSSÃO

De acordo com os resultados alcançados, no modelo 1 verificou-se que a probabilidade de


sentir Felicidade Pessoal está relacionada positivamente com a relação de Confiança e Cola-
boração entre os membros da Rede Família e da Rede Colegas de Trabalho, com um nível de
significância de 0.05. Considerando ainda o ambiente organizacional, a Confiança na Empresa
está relacionada positivamente (com nível de significância de 0.001) com a probabilidade de
sentir Felicidade Pessoal. Por outro lado, o Nível de Escolaridade e o estado de Saúde também
se revelaram significativos no modelo, embora o primeiro no sentido negativo e o segundo
no sentido positivo. Atendendo aos resultados, quanto maior o Nível de Escolaridade maior a
probabilidade de sentir menor Felicidade Pessoal, apresentando estes resultados um nível de
significância de 0.001. Por sua vez, o estado de Saúde está relacionado positivamente com a
probabilidade de sentir Felicidade Pessoal com um nível de significância de 0.001.
Observando os fatores e as variáveis do modelo 2 – Satisfação com a Vida – verifica-se
que nenhum fator relacionado com as redes revelou significância na probabilidade de sentir
este tipo de satisfação. Ao nível organizacional, apenas a variável Confiança nos Superiores
demonstrou estar relacionada positivamente com a probabilidade de sentir Satisfação com
a Vida, sendo uma relação com um nível de significância de 0.05. À semelhança do modelo
1 – Felicidade Pessoal – o Nível de Escolaridade também comprovou estar negativamente
relacionada com a Satisfação com a Vida.
Por fim, o modelo 3 – Satisfação com o Trabalho – demonstrou que a Confiança e a Cola-
boração entre os membros da Rede Colegas de Trabalho e a Confiança na Empresa estão sig-
nificativamente (0.001) relacionadas com a probabilidade de sentir Satisfação com o Trabalho.
Com níveis de significância elevados, a Confiança na Empresa destaca-se pelo seu valor mais
elevado na relação positiva com a probabilidade deste tipo de Satisfação. Entre as variáveis
sociodemográficas, a análise revelou que ser do Sexo Masculino está positivamente relaciona-
do com a probabilidade de Satisfação com o Trabalho, mantendo-se a relação probabilística
negativa entre o Nível de Escolaridade e a Satisfação com o Trabalho.
Após a análise dos resultados e a discussão apresentada conclui-se que a relação de confiança e
de colaboração entre os membros da rede familiar e os colegas de trabalho contribuem para a sen-
sação de felicidade pessoal e satisfação com o trabalho. No entanto, estes fatores não demonstraram
ser influentes em todos os modelos, destacando-se a importância da rede colegas de trabalho na
probabilidade positiva de felicidade pessoal e satisfação com o trabalho, não revelando significância
na probabilidade de sentir satisfação com a vida. Por sua vez, a rede familiar demonstrou ser signifi-
cativa apenas para a probabilidade de felicidade pessoal. No que concerne ao ambiente empresarial,
destaca-se a importância da confiança nos superiores na probabilidade positiva de sentir satisfação
com a vida, bem como a importância da confiança na empresa na probabilidade positiva de sentir,
quer felicidade pessoal, quer satisfação com o trabalho. Estas conclusões evidenciam a importância
da construção da confiança nas empresas como condutor da satisfação com o trabalho, felicidade
pessoal e motivação de equipas. Realça-se que a confiança na empresa está relacionada com a pro-
babilidade de satisfação com o trabalho com um valor bastante elevado e com uma significância de
0.001. Observou-se ainda que níveis de escolaridade mais elevados estão inversamente relacionados
com a probabilidade de felicidade pessoal e satisfação com a vida e ser do sexo masculino está po-
sitivamente relacionado com a satisfação com o trabalho.

6. CONCLUSÃO

Atendendo aos resultados alcançados, concluiu-se que a confiança na empresa e nos mem-
bros das redes próximas dos indivíduos está fortemente relacionada com os componentes
de bem-estar subjetivo propostos: felicidade pessoal, satisfação com a vida e satisfação com
192
o trabalho. Além da esfera laboral ter um peso preponderante na satisfação com o trabalho,
também alicerça a felicidade pessoal. O ambiente laboral, quer ao nível de confiança e colabo-
ração entre colegas de trabalho, quer ao nível de confiança na empresa, demonstra um peso
importante na sensação de felicidade pessoal e satisfação com o trabalho, comprovando-se
que o micro ambiente empresarial e a agregação social próxima dos indivíduos tem influência
nas sensações de felicidade e satisfação. Destaca-se ainda que a satisfação com a vida não se
revelou neste estudo relacionada com a rede familiar, mas sim com a esfera laboral, nomeada-
mente com a confiança sentida nos superiores. Este resultado poderá estar relacionado com
a diferente importância atribuída por cada indivíduo à esfera familiar e à esfera laboral, tendo
maior peso a esfera laboral na análise da vida como um todo. Acrescenta-se que o nível de
escolaridade demonstrou estar negativamente relacionado com a probabilidade de sentir satis-
fação com a vida bem como felicidade pessoal, aumentando negativamente esta probabilidade
quanto maior for o nível de escolaridade. Este resultado poderá ser explicado pelos objetivos e
metas de vida de indivíduos com maior nível de escolaridade, projetando expectativas maiores
de que os indivíduos que têm menores níveis de escolaridade, não sendo estas posteriormente
correspondidas. Por sua vez, o estado de saúde demonstrou-se influente apenas na probabili-
dade de sentir felicidade pessoal, tendo esta relação um nível de significância de 0.001. No que
concerne ao género, esta variável destacou-se no modelo sobre satisfação com trabalho, uma
vez que os indivíduos do sexo masculino têm uma probabilidade positiva e de significância de
0.05 de sentir satisfação com o trabalho. Esta primeira abordagem pode constituir um ponto
de partida para novas investigações em amostras de maior dimensão sobre a influência das
redes sociais e da confiança, enquanto capital social, na felicidade pessoal e na satisfação com
o trabalho em ambientes empresariais.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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APENDICE

Tabela 2- Análise descritiva

Descriptive Statistics
N Minimum Maximum Mean Std.
Deviation
F_Pessoal 224 1 10 7,90 1,923
S_Vida 224 1 10 8,01 2,460
S_Trabalho 224 1 10 7,24 2,360
F_Confiança 224 3 10 9,04 1,485
F_Colaboração 224 2 10 8,62 1,639
F_Ajuda 224 1 10 8,49 2,743
C_Confiança 224 1 10 7,18 2,159
C_Colaboração 224 1 10 7,42 1,969
C_Ajuda 224 1 10 6,93 2,717
P_N_Interesseiras 222 1 10 5,70 2,409
P_Justas 221 1 10 6,20 2,549
C_Superiores_Trabalho 186 1 10 7,26 2,705
C_Empresa 224 1 10 8,01 2,060
C_Gestores 194 1 10 7,32 2,431
Valid N (listwise) 174
196

Normas de Colaboração:

1. A Revista GESTIN tem como objetivo a divulgação de estudos nas áreas da Gestão,
do Turismo, do Direito e das Ciências Sociais e do Comportamento. Publica traba-
lhos originais sob a forma de artigos, pappers e recensões críticas de obras.
2. Aceitam-se trabalhos em língua portuguesa, inglesa e espanhola.
3. Os trabalhos devem ser submetidos em formato Word, fonte Times New Roman,
corpo 12, espaço simples, e não podem exceder 50 mil caracteres (incluindo os
espaços). Todas as figuras, tabelas e gráficos serão numerados sequencialmente,
legendados e citados no corpo do texto.
4. A estrutura dos trabalhos deverá ser a seguinte: título no idioma do texto, em portu-
guês e em inglês, nomes dos autores (em rodapé, deverá constar o respetivo ende-
reço eletrónico e filiação institucional), resumo, palavras-chave, texto e referências
bibliográficas.
5. O resumo não deve ultrapassar as 300 palavras, será um pequeno texto autónomo
em português, em inglês e no idioma original do texto redigido.
6. As palavras-chave, até um máximo de cinco, devem ser apresentadas em português,
em inglês e no idioma original do texto.
7. Os textos devem estar divididos em secções e subsecções, de acordo com o conteúdo.
8. As citações serão efetuadas de acordo com as normas da American Psychological
Association (APA). Exemplos:

American Institute of Physics (1978). Style manual (3rd ed., rev.). New York: Author.
Bass, B. M. (1979). Confessions of a former male chauvinist. American Psychologist, 34,
194-195.
Hill, M. & Cochran, W. (1997). Into print: A pratical guide to writing, illustrating, and pu-
blishing. Los Altos, CA: William Kaufman.
Reisman, S.J. (1962). A style manual for technical writers and editors. New York: Macmillan.

Artigo acedido na Internet mas com fonte impressa:

VandenBos, G., Knapp, S. e Doe, J. (2001). Role of reference elements in the selection
of resources by psychology undergraduates [Versão electrónica]. Journal of Bibliogra-
phic Research, 5: 117-123.

Artigo de uma publicação periódica apenas existente on-line:

Fredrickson, B.L. (2000, 7 de Março). Cultivating positive emotions to optimize health


and well-being. Prevention &Treatment, 3, Article 0001a. Acedido a 20 de Novembro 2000, em:
http://journals.apa.org/prevention/volume3/pre0030001a.html.

Documento disponível on-line no Web site de uma Universidade, de uma organização ou


de uma empresa:

Instituto Nacional de Estatística (2003). Índices de Preços na Produção Industrial. Acedi-


do em 24 de Novembro de 2003, em: http://www.ine.pt.
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9. A Lista de referências bibliográficas deve ser organizada alfabeticamente.
10. Os trabalhos para publicação deverão ser enviados para [email protected], referen-
ciando na mensagem o título do trabalho e os dados pessoais do autor ou autores
(nome, endereço, telefone, instituição de vinculação e email). Os autores deverão
ainda anexar um documento com um breve curriculum vitae.
11. Depois da sua publicação na GESTIN, os artigos passam a ser propriedades desta
revista.
12. Todos os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores.
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