Estratégias de Sonorização de Histórias
Estratégias de Sonorização de Histórias
Estratégias de Sonorização de Histórias
Resumo Abstract
Este trabalho apresenta estratégias de en- This work presents music teaching strate-
sino de música para a iniciação musical de gies for musical initiation of children in ba-
crianças na educação básica. As propos- sic education. The proposals were based
tas apresentadas foram fundamentadas a on the Active Methods in Music Education,
partir dos Métodos Ativos em Educação some guidelines of Pedagogical Practices
Musical, em algumas orientações de Prá- of the National Curriculum Guidelines for
ticas Pedagógicas das Diretrizes Curricu- Early Childhood Education (DCNEI), the
lares Nacionais para a Educação Infantil National Curriculum Framework for Early
(DCNEI), pelo Referencial Curricular Na- Childhood Education (RCNEI) and teach-
cional para a Educação Infantil (RCNEI) ing and learning proposals of Psychology
e pelas propostas de ensino e aprendi- of Education. They were based on authors
zagem da psicologia da educação. Foi such as Murray Schafer, Teca Alencar de
fundamentado em autores como Murray Brito and Violeta de Gainza. Music-making
Schafer, Teca Alencar de Brito e Viole- is supported by storytelling, which can be
ta de Gainza. O fazer musical é apoiado addressed by music teachers and also by
na contação e sonorização de histórias, teachers of other subjects.
que podem ser trabalhadas tanto pelo(a)
professor(a) especialista quanto não es-
pecialista em música. Keywords: Musicalization. Storytelling.
General education
Palavras-chave: Musicalização.
Sonorização de histórias. Educação
básica.
SILVA, Carlos Antônio Freitas da; CARVALHO, Valéria Lazaro. Pedro e a festa na lagoa: estratégias de sonorização
de histórias no ensino de música. Música na Educação Básica, v. 9, n. 10/11, 2019.
V. 9 Nº 10/11 2019
19
Música na Educação Básica
Introdução
O trabalho de musicalização que des-
creveremos aqui foi inspirado a partir das
propostas pedagógicas de um projeto de
contação e sonorização de histórias. Nele,
objetivamos promover um ambiente que fa-
voreça o desenvolvimento integral da crian-
ça. Um laboratório de atividades musicais
favoráveis às múltiplas aprendizagens, pois
não devemos fragmentar as experiências so-
noras e musicais dos nossos alunos com a
finalidade de desenvolvermos uma aprecia- Pedro na lagoa
ção ou aprendizagem disciplinar específica
(Schafer, 1991).
bro humano é mais maleável, e os efeitos da
Com base nesse entendimento, as ativi- aprendizagem são maiores que em qualquer
dades apresentadas foram inspiradas, em outra fase da vida” (Ilari, 2005 apud Flohr;
sua maioria, nas propostas pedagógicas Miller; Deebus, 2000).
musicais para o ensino e aprendizagem de
Com isso, acreditamos que os estímu-
música (Métodos Ativos em Música), em
los musicais através da musicalização, já na
confluência com a psicologia da educação
educação infantil, podem ajudar a criança a
e com orientações de Práticas Pedagógicas
desenvolver diversas habilidades musicais e
das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
não musicais, como o conhecimento e a per-
Educação Infantil (DCNEI), como promover
cepção das características básicas do som, o
o relacionamento e a interação das crianças
estímulo à aquisição da escrita, as linguagens
com diversificadas manifestações de música
verbal e não verbal, o raciocínio lógico e a
e favorecer a imersão das crianças nas dife-
memória, além da coordenação motora fina
rentes linguagens. E ainda, pelo Referencial
e grossa, consciência corporal, moral, ética, o
Curricular Nacional para a Educação Infantil
respeito, a cultura, a organização, interação,
(RCNEI), através da interpretação, improvi-
socialização, “integração entre os aspectos
sação e na apreciação musical, na percepção
sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos,
dos sons e do silêncio, entre outros.
assim como a promoção de interação e co-
municação social” (Brasil, 1998, p.49), entre
outros grandes estímulos que culminarão na
Música na infância contribuição para o seu desenvolvimento in-
Concordamos com Gainza (1988) que “O tegral.
objetivo da educação musical é musicalizar”
(Gainza, 1998, p.101) e, ainda, despertar o in-
teresse e desenvolver o gosto pela música,
Para saber mais, leia:
construir, ampliar e favorecer o conhecimen- EUGÊNIO, Mayra Lopes; ESCALDA, Júlia;
to musical, tornar a criança sensível e recep- Stela, EMOS; Maris Aguiar L. Desenvolvi-
tiva aos sons, entre outras coisas. mento cognitivo, auditivo e linguístico em
crianças expostas à música: produção de
Sabemos que é na infância que os seres conhecimento nacional e internacional.
humanos estão mais receptíveis às diver- CEFAC, v. 14, n. 5, p. 992-1003, set./out.
sas aprendizagens, pois seu cérebro ainda 2012. Disponível em: http://www.scielo.
br/pdf/rcefac/v14n5/124-11.pdf.
está em formação. É nessa fase que ocorre
grande parte do seu desenvolvimento neu-
rológico e motor. “Durante a infância, o cére-
Contação de histórias
Então, Entendemos que, ao contar uma história
vamos trabalhar? para alguém, você entra em seu espaço ínti-
mo, em sua subjetividade, entra em contato
É hora de organizar com a maneira que ela se relaciona com o
os materiais e o espaço mundo (emoções, sentimentos e pensamen-
tos). Sendo assim, não temos como deixar
para a realização aqui uma receita pronta de como contar
das atividades uma história, isso vai variar muito. Contudo,
vamos dar algumas dicas que favorecem a
contação de uma boa história.
Alguns fatores devem ser levados em
conta na hora de apresentar uma narrativa.
O primeiro passo é ter conhecimento do que
Espaços você irá contar. Em seguida, escolha um am-
Na hora de realizar as atividades, escolha biente agradável, onde as crianças se sintam
espaços diversos (salas de música e dança, à vontade e confortáveis; procure aguçar a
parquinhos, espaço para convivência, sala de curiosidade dos espectadores, crie um clima
aula ampla, quadra de esportes), um ambien- de expectativa, suspense; estimule a imagi-
te prazeroso, interativo, afetuoso e descon- nação, as habilidades cognitivas, intensifi-
traído, onde as crianças possam se expres- cando gestos, expressões, inflexão na voz;
sar, interagindo com o meio natural, artificial extrapole nas emoções e, principalmente,
e cultural, de forma livre e espontânea, sem permita que a criança participe ajudando a
nenhum tipo de cobrança, regra ou conteú- construir a narrativa.
do, respeitando, assim, o seu fazer musical e
a sua percepção de mundo.
Contando história
Treinando o ouvido
(sons agradáveis e
desagradáveis)
Sabemos que o ouvido é um receptor es- Segundo momento – O som: Com as crian-
pecializado em detectar e interpretar diver- ças ainda sentadas na roda, organize um es-
sos estímulos sonoros, sejam eles acústicos, paço na sala onde possa ser realizada uma
internos ou externos. Sendo assim, antes de atividade de apreciação sonora. Em seguida,
começarmos as práticas musicais, indicamos toque os objetos sonoros, instrumentos mu-
essa atividade para que as crianças possam sicais (variando a intensidade). Pergunte aos
se relacionar com a produção do som (na- seus alunos se o som que eles estão ouvin-
tural, artificial, agradável ou desagradável) e do é agradável ou desagradável. O que eles
do silêncio. acham do som? Que sensação ele provoca?
Ao final, promova um amplo debate a respei-
to dos sons que foram produzidos. Este é um
Desenvolvendo a bom momento para fazer uma boa reflexão
a respeito da poluição sonora.
atividade
Treinando os ouvidos
Que som é esse?
Primeiro momento – O silêncio: Peça para
que as crianças se sentem no chão e formem
uma roda. Em seguida, coloque uma fita
adesiva em sua própria boca. Enquanto isso, Para saber mais:
vá organizando o espaço para a realização Para mais detalhes dessa atividade, consul-
da atividade. Após organizar a sala, retire a tar o exercício “Limpeza de ouvidos” do li-
fita e aguarde os questionamentos que virão. vro O ouvido pensante, do educador musical
Por que o(a) senhor(a) está com essa fita na Murray Schafer.
Tudo o avô.
– A época do ano em que tudo fica mais
pronto! bonito.
– Olhe como a lagoa está linda! Os ami-
Então vamos mais e bichos já voltaram a morar lá – disse
o vovô.
à história e às Pedro decidiu dar uma volta e foi lá para
atividades a lagoa.
Quando se aproximou, Pedro ouviu uma
linda e agradável melodia que vinha de uma
enorme árvore.
Ao chegar à lagoa, o menino ouviu uma
enorme cantoria. O maestro Sapo Cururu es-
tava organizando um coral juntamente com
Pedro e a festa na lagoa seus amigos para se apresentar na festa da
lagoa.
Pedro é um menino que gosta muito de
música e sonha ser um grande baterista. Por Quando o senhor Sapo Cururu viu Pedro
isso, ele fica batendo em tudo o que vê pela na beira da lagoa, disse:
frente, só para ver que sons os objetos pro- – Bom dia, menino! Quem é você?
duzem.
– Meu nome é Pedro – respondeu o garo-
Em um belo dia de sol, Pedro acordou to. – Eu não moro aqui, acabei de chegar lá
bem cedo, pulou da cama, foi correndo to- da cidade!
mar banho e escovar os dentes. Ele estava
muito ansioso, porque o vovô Manel lhe fez O Sapo falou:
um convite: ir passar as férias lá no seu sítio. – Nós estamos ensaiando uma música
Ao chegar, o vovô disse: com o coral da lagoa para cantar logo mais
– Pedro, hoje nós vamos passear de trem! na festa que comemora a chegada da pri-
mavera. Nesta época do ano, a Natureza se
Ao entrar no trem, o menino ouviu um transforma, tudo aqui fica mais belo, os rios
som: Piuí! Piuí! Piuí! Pompoom! Ele ficou im- voltam a encher, as flores ficam mais cheiro-
pressionado com o som que a máquina fazia. sas, e os animais se reúnem à beira da lagoa
Café com pão! para uma grande festa.
Café com pão! O Sapo, juntamente com os seus amigos,
começou a cantar uma linda canção chama-
Café com pão!
da “O ribeirão secou” (Cantigas Populares).
Piuiii!
Em seguida, o grilo se aproximou, pediu
Ao sair da cidade, Pedro notou uma enor- licença a Pedro e ao Sapo e disse que queria
me diferença na paisagem: o caminho ficou recitar um poema.
mais verde, cheio de árvores, flores, riachos,
– Eu serei breve – disse o senhor Grilo Fa-
animais e lindas montanhas.
lante.
Ao chegar ao sítio, Pedro viu que a paisa-
Após ouvir o poema, radiante e feliz, Pe-
gem havia mudado.
dro se despediu de todos e foi correndo para
– Nossa, vovô! Tudo está verde de novo! a casa do seu avô contar as novidades.
Viajando no trem
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O passeio de trem
Terceiro momento – Agora é hora de pas- Segundo momento – Após a discussão dos
sear de trem. Com as crianças em pé e com questionamentos, sugerimos que apresente
seu chocalho na mão, organize uma fila in- e declame para as crianças o soneto “A pri-
diana. Se possível, utilize uma corda ou elás- mavera”, de Antônio Vivaldi. Independente-
tico para orientar a fila e para que as crianças mente da idade, submeta as crianças a essa
não se dispersem na hora do passeio. Faça atividade.
um passeio de trem pela escola.
Depois, veja qual foi o entendimento das
crianças e extraia do poema situações-pro-
blema. Exemplos: O que é primavera? Como
Sugestão de atividade era linda e agradável a melodia que vinha da
Pedro na lagoa árvore? Como eram o som dos relâmpagos
e trovões que anunciavam a chegada da pri-
Professor(a), utilize-se desta atividade mavera? Que melodia dançavam e festeja-
para trabalhar temas transversais da educa- vam ninfas e pastores?
ção, como: ecossistemas, ciclos da natureza,
Terceiro momento – Para reforçar a che-
estações do ano, preservação e conservação
gada da primavera e simbolizar o canto
ambiental, tipo de moradias, relação de con-
dos pássaros, sugerimos que faça a escuta
vivência, entre outros.
do primeiro movimento (ou um trecho) da
música “As Quatro Estações” (Primavera),
de Antônio Vivaldi. Você pode executar no
Desenvolvendo a atividade
instrumento que lhe for mais conveniente ou
Primeiro momento – Retome a história de colocar um vídeo para mostrá-la aos alunos.
Pedro na parte em que ele chega ao sítio e Quarto momento – Para fazer o término
fica encantado com tanto verde ao seu re- dessa atividade, indicamos que faça junto
dor. Na sequência, coloque algumas ques- com as crianças a releitura e a sonorização
tões-problema, como: Qual foi a diferença do poema. Promova estratégias pedagógi-
entre as paisagens sonoras e visuais (urbana cas variadas para o ensino de música, onde
para a rural) que Pedro viu? a criança possa interagir, se familiarizar e se
A lagoa
Conclusão
Podemos ver nesse trabalho que são inú-
meras as possibilidades de uma criança se
relacionar com a música na educação bási-
ca, seja a partir da exploração de materiais
diversos, objetos sonoros, no contato com
instrumentos musicais, na escuta de obras
musicais, na produção do som e do silêncio,
também expressando sensações, sentimen-
tos, ouvindo, percebendo e discriminando
eventos sonoros diversos, na organização,
composição, execução musical, prática de
conjunto, a partir dos gestos e movimentos
corporais, entre tantos outros.
Vimos também que não devemos nos
ater a esse ou àquele método ou proposta
de ensino, mas a um conjunto de possibilida-
des pedagógicas, onde a criança possa inte-
ragir livre e ativamente com seu fazer musi-
cal e com o mundo sonoro da forma que lhe
for mais conveniente, onde ela possa ressig-
nificar constantemente suas aprendizagens.
Esperamos que as atividades aqui des-
critas possam ajudar de forma significativa
a divulgar as práticas de educação musical,
como também incentivar e motivar profes-
sores especialistas ou não a trabalhar com a
música na educação infantil.
Autores Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secreta-
ria de Educação Fundamental. Referencial curricular na-
cional para a educação infantil. Ministério da Educação e
do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Bra-
sília: MEC/SEF, 1998. 3 v. p 45-78.
Carlos Antônio BRITO, T. A. de. Música na educação infantil: propostas
Freitas da Silva para a formação integral da criança. São Paulo: Peirópolis,
[email protected] 2003.
Valéria Lazaro de
Carvalho
[email protected]