6-Principios de Analise Genetica PDF
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Reitor Coordenador
Coordenação de Tutoria
Pró-Reitor de Graduação
Lucilene Gomes da Silva Medeiros
Valdir Barbosa Bezerra
Coordenação Pedagógica
C 569 Cadernos Cb Virtual 5 / Rafael Angel
Torquemada Guerra ... [Org.].-
João Pessoa: Ed. Universitária, 2010.
422p. : II.
ISBN: 978-85-7745-536-2
Educação a Distância. 2. Biologia
I. Guerra, Rafael Angel
Torquemada Guerra.
UFPB/BC CDU: 37.018.43
Este material foi produzido pelo curso de Licenciatura em Ciências Biológicas à
Distância da Universidade Federal da Paraíba. A reprodução do seu conteúdo esta
condicionada a autorização expressa da UFPB.
Princípios de Análise Genética
UNIDADE 1
PADRÕES DE HERANÇA MENDELIANA
1. UM POUCO DE HISTÓRIA
A busca pelo entendimento sobre as origens da humanidade, assim como de toda a vida,
remete aos primeiros pensamentos humanos. Podemos observar, em relatos dos diversos povos
antigos, uma clara referência às origens e a explicações de como se perpetuou as características
adquiridas durante as gerações seguintes. Nestes relatos observamos, embora de forma muito
generalizada, uma referência a padrões de herança entre gerações, onde o Deus ou os deuses
criadores expressam suas características nos seres criados, e estes perpetuam estas
características durante as gerações seguintes.
Ao analisarmos os primeiros registros do pensamento humano racional, onde este busca
o entendimento do mundo pela observação e não mais por meio de relatos míticos, podemos
também identificar uma constante preocupação com a questão de como as características são
passadas durantes as gerações. Os gregos iniciaram um debate bastante interessante neste
sentido, onde duas correntes de pensamento habitavam o imaginário daqueles pensadores: de
um lado, os que acreditavam na pré-formação do indivíduo, onde este já estava completamente
feito e apenas crescia durante a gestação. Neste pensamento, o homem era o único responsável
pela criação e a mulher apenas era vista como uma incubadora do futuro ser. Porém, outro
pensamento começava a ser moldado, tendo como um dos principais defensores o filósofo
Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.). Neste modelo, a formação de um novo ser era entendida como
um processo seqüencial, não estando o indivíduo já formado e, sim, em formação durante a
gestação. Também se admitia uma mistura das características maternas com a paterna, esse
novo jeito de pensar foi chamado de epigênese. O pensamento aristotélico, sobre a origem dos
organismos, prevaleceu até o século XVII, quando os microbiologistas Leeuwenhoek e Luiz Hamm
reacenderam o debate da pré-formação ao afirmar que ao observar um espermatozóide no
microscópio, poderíamos ver um ser humano em miniatura ao qual chamaram homúnculo (figura
1.1).
August Weismann, no século XIX, fez a primeira distinção entre células somáticas e germinativas.
Nesta época, começaram a surgir as primeiras noções reais da hereditariedade. Trabalhos
posteriores demonstraram que, após a fecundação, o ovo continha dois núcleos. Nesta mesma
época, uma nova revolução no pensamento científico estava sendo formada no Império Austro-
Húngaro, atual República Checa, onde o monge Gregor Johann Mendel iniciava seus
experimentos com ervilhas, que no início do século XX causaria uma revolução no modo de ver e
estudar o mundo biológico.
O monge Gregor Mendel nasceu na cidade de Opava, na atual Republica Checa, onde
iniciou seus estudos sobre hibridização de plantas, onde tinha como modelo experimental ervilhas
de jardim (Pisum sativum), uma planta que apresenta características interessantes para realização
de experimentos, tais como: boa disponibilidade de formas e cores, o que torna os resultados
fáceis de observar; auto-polinização e polinização cruzada, o que possibilita a realização de
cruzamentos entre plantas de genótipos diferentes (polinização cruzada) e entre genótipos iguais
(auto polinização); curto tempo de geração, o que torna a experimentação viável.
Após a escolha do organismo modelo utilizado, Mendel iniciou seu trabalho, tendo como
primeiro desafio produzir linhagens puras dessa planta. Linhagens puras são linhagens que,
quando autopolinizadas, dão sempre descendentes iguais à linhagem ancestral. Desta forma,
Mendel conseguiu sete linhagens puras, cada uma com uma característica analisável. Foram elas:
cor das flores, sementes lisas ou rugosas, interior da semente verde ou amarelo, vagens verdes
ou amarelas, vagens lisas ou onduladas, flores axiais ou terminais e caules longos ou curtos. Para
cada uma dessas características, ele tinha dois fenótipos observáveis. Observem que todas estas
características podem ser identificadas sem a necessidade de equipamentos.
Em seguida, Mendel iniciou seus experimentos de cruzamento entre as linhagens puras.
Assim, ele fez polinização cruzada entre fenótipos de uma mesma característica, por exemplo:
plantas com sementes verdes com plantas de semente amarela, e observou nos descendentes
como eram suas sementes. No exemplo citado, Mendel observou que todos os descendentes
apresentavam um único fenótipo, apesar dos pais terem fenótipos distintos. Neste caso, todos os
descendentes tinham sementes amarelas. Essa primeira geração é chamada F1. Ao obter tal
resultado, Mendel realizou um novo experimento, onde realizou autofecundação nas linhagens da
F1. O resultado obtido foi que a característica verde na cor das sementes que não tinha aparecido
no cruzamento inicial, voltava a aparecer, na proporção de 3 sementes amarelas para 1 semente
verde nos descendentes da autofecundação da F1. Os descendentes da autofecundação da
geração F1 chamamos F2. Para as demais características, os resultados estão apresentados na
tabela abaixo.
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Princípios de Análise Genética
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Princípios de Análise Genética
Dizemos que quando o indivíduo possui dois alelos idênticos ele é homozigoto, como no
caso dos indivíduos AA e aa, e quando o indivíduo possui uma copia de cada alelo chamamos de
heterozigoto. Lembramos que durante a formação dos gametas cada genitor doa apenas uma das
copias presentes em seu genoma. Então, no caso do primeiro cruzamento, como estes
organismos que estão sendo cruzados são homozigotos, cada genitor envia sempre a mesma
característica, neste caso a planta com sementes amarelas sempre envia um alelo A e a verde
sempre um alelo a. Desta forma, todos os seus descendentes vão ter em seu genoma um alelo A
e um a, sendo desta forma heterozigoto, e como o alelo A é dominante sobre o alelo a, os
descendentes são todos de sementes amarelas. No próximo cruzamento onde ocorrerá uma
autofecundação, iremos cruzar um genótipo Aa com ele mesmo. Assim, como cada genitor na
hora de forma os gametas doam apenas um alelo e estes se distribuem de forma aleatória, iremos
ter a seguinte configuração possível: os genitores terão 1/2 de seus gametas A e 1/2 a, desta
forma teremos as seguintes probabilidades: ½ A (primeiro genótipo) x ½ A (segundo genótipo) =
¼ AA amarelo (descendentes), ½ A (primeiro genótipo) x ½ a (segundo genótipo) = ¼ Aa
(descendentes), ½ a (primeiro genótipo) x ½ A (segundo genótipo) = ¼ Aa (descendentes), e a
última combinação possível será ½ a (primeiro genótipo) x ½ a (segundo genótipo) = ¼ aa. Desta
forma, na F2 podemos esperar ¼ de indivíduos AA, ¼ Aa + ¼ Aa= ½ de indivíduos Aa e ¼ de
indivíduos aa, como mostrado na figura. Desta forma, Mendel estabeleceu sua primeira lei,
também conhecida como Lei da segregação independente dos alelos, assim ele demonstrou que
durante a formação dos gametas os alelos se distribuem de forma aleatória e separada.
Em resumo, as linhagens parentais levam duas cópias idênticas de um gene, sendo
desta forma diplóide. Se as cópias forem iguais, dizemos que este organismo é homozigoto, se
forem diferentes dizemos que este organismo é heterozigoto. Durante a produção dos gametas,
estas cópias se separam, e cada gameta leva apenas uma delas, dizemos que os gametas são
haplóides. Neste caso, o caráter diplóide de um organismo é restaurado quando os gametas se
unem através da fecundação para formar o zigoto. Caso os gametas venham de organismos
diferentes e homozigotos, o zigoto herda dois alelos diferentes, sendo desta forma um
heterozigoto e assim, uma cópia é dominante e a outra recessiva. O cruzamento de dois
heterozigotos vai gerar gametas com 50% de um tipo alélico e 50% do outro tipo, sendo possível
desta forma o aparecimento de um organismo homozigoto recessivo na proporção de 25%, um
organismo heterozigoto na proporção de 50% e um organismo homozigoto dominante na
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Princípios de Análise Genética
proporção de 25%. Desta análise, concluímos que os alelos segregam de forma independente na
hora de formação dos gametas.
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
Para fixarmos o que vimos até agora, vamos construir um glossário com os
principais termos utilizados até o momento. Depois desta pausa estamos prontos
para entendermos o próximo tópico.
A análise mendeliana da segregação de uma característica com dois alelos mostrou que
estes, no momento de formação dos gametas, se separam para gametas diferentes. A partir
destes resultados, Mendel partiu para analisar como era o comportamento de segregação de duas
características quando observadas em conjunto. Neste caso ele selecionou duas características.
Usaremos como exemplo, a característica para a cor das sementes, sendo AA o genótipo das
sementes amarelas homozigóticas dominante e aa o genótipo das sementes verdes
homozigóticas recessivas, e a outra característica a textura da semente, sendo BB o genótipo das
sementes lisas homozigóticas dominante e bb o genótipo das sementes rugosas homozigóticas
recessivas. Para tal análise, vamos imaginar uma planta que possua as sementes amarelas e
lisas, representada pelo genótipo AABB, sendo cruzada com uma planta com sementes verdes e
rugosas, representada pelo genótipo aabb, lembrando que a letra a representa um gene e a letra
b outro gene. Os resultados obtidos por Mendel revelaram que, na F1, só apareciam plantas de
sementes amarelas e lisas. Analisemos este cruzamento: a planta com sementes amarelas e lisas
vai produzir um único tipo de gameta com o genótipo AB, visto que, como demonstrado, os alelos
tem segregação independente, e a planta com sementes verdes e rugosas vai produzir um único
tipo de gameta com genótipo ab. Desta forma, todos os descendentes deste cruzamento terão o
genótipo AaBb. Como os alelos A e B são dominantes, todos os descendentes têm sementes
amarelas e lisas. Porém, ao auto cruzarmos os membros da gerarão F1, encontramos quatro
fenótipos diferentes em seus descendentes, são eles: sementes amarelas e lisas, com os
genótipos AABB, AaBB, AABb, AaBb, sementes amarelas e rugosas, com os genótipos AAbb e
Aabb, com sementes verdes e lisas, com genótipos aaBB e aaBb, e sementes verdes e rugosas
com genótipo aabb. Estes dados foram encontrados na proporção de 9:3:3:1, respectivamente.
Como explicar tal resultado? Para tanto vamos analisar a figura 1.3.
Podemos observar que existem quatro tipos de gametas possíveis nos machos e quatro
tipos nas fêmeas, visto que ambos têm o mesmo genótipo, todos com probabilidades iguais de
ocorrência. Levando em consideração que o alelo A é dominante sobre o alelo a, assim como o
alelo B é dominante sobre o alelo b, chegamos à conclusão, ao contarmos os diferentes genótipos
na figura, que teremos quatro tipos fenotípicos, que são eles: sementes amarelas e lisas com o
seguintes genótipos 1 AABB, 2 AABb, 2 AaBB e 4 AaBb; desta forma temos 9 indivíduos com
fenótipo sementes amarelas e lisas; com sementes amarelas e rugosas teremos os seguintes
genótipos 1 AAbb e 2 Aabb; desta forma, temos 3 indivíduos com o fenótipo sementes amarelas
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Princípios de Análise Genética
Figura 1.3: Cruzamento diíbrido da F1, onde temos o genótipo do macho e da fêmea AaBa.
Na primeira linha todos os gametas possíveis levando em conta uma segregação independente dos
alelos, e em cinza os genótipos dos descendentes deste cruzamento.
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Princípios de Análise Genética
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
Agora que já vimos às duas leis propostas por Mendel, podemos fazer uma
pequena pausa para fixar estes conceitos. Para tal, vamos identificar a diferença
entre a primeira lei e a segunda. Também podemos analisar o cruzamento entre dois
indivíduos, levando em consideração que eles terão o genótipo AaBb, vamos
identificar a freqüência de cada genótipo da prole.
Mendel em seus estudos identificou um tipo muito simples de interação entre alelos, o
que conhecemos como dominância completa, onde a presença de apenas um alelo dito
dominante é o necessário para a manifestação da característica. Porém, análises posteriores
mostraram que outros tipos de interações eram possíveis.
Outra forma de interação entre alelos foi chamada de dominância incompleta, em
contraposição à dominância completa observada por Mendel. Neste tipo de interação a
característica determinada por um alelo, não se sobressai da característica determinada por outro
alelo. Desta forma, o que observamos é o aparecimento de uma característica intermediária nos
descendentes, podemos observar no cruzamento abaixo (Figura 1.4).
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Princípios de Análise Genética
presentes nos parentais. Desta forma, concluímos que a característica de um alelo não se
sobressai sobre a do outro alelo, como observávamos nos casos estudados por Mendel, que
tinham dominância completa. Neste caso, que a combinação de um alelo A com um a gerou uma
característica intermediaria entre o fenótipo dos dois alelos, neste caso rosa.
Outro tipo de interação é a Codominância, que podemos entender como uma expansão
das observações mendelianas. Neste tipo de relação, nós teremos também um caso de
dominância completa, porém diferente dos casos estudados por Mendel, poderemos ter mais de
um alelo dominante e caso estes alelos se encontrem poderemos observar a manifestação dos
dois de forma igualitária. Um exemplo bem conhecido de Codominância é o sistema sanguíneo
ABO, onde os alelos A e B são dominantes e o alelo O é recessivo. Para entendermos melhor
vamos analisar a figura 1.5.
diferentes se comporta como previsto na segunda lei de Mendel? Ou podemos ter diversas formas
de interações entre diferentes genes? Para responder, vamos para o tema a seguir.
Porém, antes vamos aumentar nosso glossário com os principais termos apresentados
neste tópico.
Como observado no texto acima, existem diversas formas de interação entre diferentes
alelos de um mesmo gene. Agora vamos analisar os diferentes tipos de interações existentes
entre dois genes e como estas interações interferem na analise genética. O primeiro tipo de
interação que vamos estudar é a epistasia. Neste tipo de interação, um gene interfere diretamente
na funcionalidade de outro gene, ou seja, é a interação em que um gene inibe outro gene de
expressar seu fenótipo. A epistasia pode ser dominante ou recessiva. Dizemos que um gene é
epistático dominante quando a presença de um único alelo consegue inibir a atividade de um
outro gene, e dizemos que o gene é epistático recessivo quando este somente tiver seu caráter
inibidor sobre outro gene em homozigose, ou seja, quando tiver duas cópias de um mesmo alelo
recessivo. Vamos analisar um caso de epistasia. Para tal, usaremos, como exemplo, a cor das
penas de galináceos. Nestes organismos existe um gene, que chamaremos de C, com dois alelos
C e c, onde C apresenta dominância completa sobre c, a presença do alelo C confere penas
coloridas em homozigose ou em heterozigose, e o aparecimento de penas brancas está
condicionada a presença do alelo c em homozigose. Porém, existe outro gene, que chamaremos
de E, com dois alelos E e e, que pode inibir as características determinadas pelo gene C. O alelo
E apresenta dominância completa sobre o alelo e. Sendo assim, toda vez que o gene E estiver em
heterozigose ou em homozigose dominante, este exibirá inibição sobre o gene C. Chamamos este
tipo de epistasia de dominante. Desta forma, a presença do alelo E no gene E, inibe o efeito do
alelo C no gene C. Olhando para a figura 1.6 podemos analisar os genótipos e seus respectivos
fenótipos.
Nesta figura, observamos todos os genótipos possíveis para cada fenótipo. Podemos
concluir que a manifestação de certas características não são determinadas exclusivamente pela
simples presença ou ausência do alelo responsável por ela, e que outros genes podem influenciar
sua manifestação no organismo. Chamamos o gene que é responsável pela inibição de epistático,
e o gene que é inibido de hipostático.
Nos casos anteriormente estudados os genes apresentavam efeitos apenas sobre as
características por eles determinadas. Porém, podemos ter também genes que condicionam
diversas características indiretamente, visto estão envolvidos em uma cadeia de evento dentro da
fisiologia do organismo, e dependendo de como seus alelos estão no organismo, estes múltiplos
efeitos se manifestam ou não, conhecemos este fenômeno por pleiotropia. Como exemplo de
pleiotropia, teremos a Fenilcetonúria, uma doença caracterizada pela presença de um alelo em
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Princípios de Análise Genética
homozigose recessiva. Desta forma, o individuo com este alelo não produz uma enzima do
metabolismo do aminoácido fenilalanina. Esta condição causa diversos fenótipos no organismo
portador como, por exemplo, deficiência mental, convulsões, icterícia, queda de cabelo, urina
muito concentrada, entre outros. Podemos ter outra situação onde nem todos os portadores de
uma determinada característica apresentam o fenótipo determinado por este alelo, sendo desta
forma influenciado por outros genes existentes no individuo. A este tipo de situação chamamos de
penetrância, que é a proporção de indivíduos que apresentam as características determinadas por
um alelo e a proporção de indivíduos que tem o alelo, mas não apresentam a característica
determinada por este.
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
4. RESUMINDO
Para concluir esta unidade, vamos resumir os tipos de herança que estudamos.
Primeiramente, podemos identificar um tipo bem básico de herança, que conhecemos como a
primeira lei de Mendel, que diz que alelos de um mesmo gene segregam independentemente
durante a formação dos gametas. Mendel também observou que alguns alelos são dominantes
sobre outros, tendo sua característica prevalecendo quando se encontra em heterozigose. Uma
segunda conclusão importante encontrada por Mendel, é que dois genes apresentam segregação
independente quando vão formar os gametas, essa é a segunda lei de Mendel. Outras
observações foram possíveis após as iniciais feitas por Mendel, dentre elas, que além de termos
alelos dominantes e recessivos, também podemos ter alelos com dominância incompleta. Desta
forma, quando em heterozigose, o indivíduo apresenta uma característica intermediaria quando
comparado com os homozigotos dominantes e recessivos, e que podemos ter também mais de
um alelo dominante e que, quando em heterozigose, as características dos dois alelos são
expressas, sendo, desta forma, codominantes. Existem também alelos que quando presentes,
geralmente em homozigose, podem deixar o indivíduo inviável, estes chamados de alelos letais.
Com relação à interação entre dois genes, podemos ter genes que impedem a expressão das
características de outros genes, efeito conhecido como epistasia, também podemos ter genes que
quando em homozigose, geralmente recessiva, causam múltiplas características no indivíduo.
Neste caso, chamamos de pleiotropia, e existem genes que só vão expressar suas características
quando em combinação com outros genes do organismo, assim temos o que chamamos
penetrância. Com estes conceitos iniciais, vamos agora estudar como ocorre a separação de
genes e alelos na formação dos gametas. Para tal vamos estudar como as células podem gerar
novas células.
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Princípios de Análise Genética
5. ANALISANDO HEREDOGRAMAS
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Princípios de Análise Genética
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Princípios de Análise Genética
Na geração II podemos observar que os indivíduos 1 e 3, que são filhos dos indivíduos da
primeira geração, também são portadores e assim heterozigotos, tendo recebido um alelo
dominante e um recessivo de um dos pais. O individuo 5, que também é filho da geração I, é
afetado, tendo desta forma o genótipo homozigoto recessivo, herdando um alelo recessivo do pai
e um da mãe. Os indivíduos 2 e 4 da geração II, são homozigotos dominantes, não apresentando
nenhuma alelo recessivo, não sendo desta forma portadores. Os descendentes da geração II são
portadores e primos em primeiro grau. Na geração III ocorre um casamento consangüíneo deste
casamento temos 4 descendentes: o individuo de número 1 é portador, sendo desta forma
heterozigoto, o indivíduo 2 não é portador nem afetado, sendo desta forma homozigoto
dominante, o indivíduo 3 é afetado, sendo assim homozigoto recessivo e o indivíduo 4 não
sabemos o sexo, porém o mesmo não é afetado nem portador, sendo assim homozigoto
dominante. A partir da análise do heredograma, podemos obter algumas características deste tipo
de herança. A primeira é que a probabilidade de ocorrência é igual entre os sexos, quando ocorre
casamento consangüíneo aumenta a chance do caráter se expressar. Como observado por
Mendel, no cruzamento entre heterezigotos, a probabilidade de aparecimento de tal característica
na prole é ¼ ou 25%. Em análises futuras podemos utilizar este raciocínio para prever a
probabilidade de uma determinada característica que se apresente de forma recessiva. Para
praticar tente indicar o genótipo de todos os indivíduos da figura 1.8 e 1.9.
:: TA NA WEB!!! ::
http://www.youtube.com/watch?v=tfjDJE4kWhM (parte 1)
http://www.youtube.com/watch?v=VVIr37xPkk0&feature=related (Parte 2)
http://www.youtube.com/watch?v=hEdc96wxyZ8&feature=related (parte 3)
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Princípios de Análise Genética
UNIDADE 2
COMO SE PERPETUA A INFORMAÇÃO GENÉTICA?
1. MITOSE
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:: TA NA WEB!!! ::
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Princípios de Análise Genética
3. MEIOSE
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Princípios de Análise Genética
Figura 2.4: Células filhas da meiose I na metáfase II. Em A as cromátides irmãs dispostas na
região equatorial e na anáfase em B a migração das cromátides irmãs para pólos opostos.
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Princípios de Análise Genética
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Princípios de Análise Genética
:: TA NA WEB!!! ::
3. RESUMINDO
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Princípios de Análise Genética
:: PERGUNTAS?? ::
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Princípios de Análise Genética
UNIDADE 3
OS CROMOSSOMOS: ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E NUMERICAS
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Princípios de Análise Genética
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Princípios de Análise Genética
1. ALTERAÇÕES NUMERICAS
chamado de monossômicos e são representados pela euploidia menos um (Ex. 2n -1). Neste
caso, o organismo é diplóide, porém um de seus cromossomos perdeu uma cópia. Podemos ter
situações onde ocorre um ganho de uma cópia extra de um determinado cromossomo, ao qual
chamamos de trissômicos, e são representados de forma semelhante aos monossômicos, porém
no lugar de -1 representará +1, visto que houve um ganho cromossômico. Um terceiro caso que
pode existir é o que chamamos de nulissômico. Nesta situação, o individuo perdeu as duas cópias
do mesmo cromossomo, e representamos com a euploidia menos 2 se o indivíduo for diplóide.
Casos de aneuploidia ocorrem em decorrência de falha na disjunção dos cromossomos
durante a formação dos gametas. Assim, um dos gametas receberá duas cópias de um
cromossomo, enquanto o outro não receberá nenhuma copia. Assim, dependendo do gameta que
obtiver sucesso o organismo será trissômico, se o gameta que obtiver sucesso for o que recebeu
duas cópias, ou monossômico, se o gameta que obtiver sucesso for o que não recebeu nenhuma.
Os eventos de aneuploidia causam diversas síndromes conhecidas, dentre elas a que
mais conhecemos é a trimosômia do cromossomo 21, mais conhecida como síndrome de down.
Apresenta uma freqüência de 1 caso a cada 650 nascimentos e tem como principais
características fendas palpebrais oblíquas com pregas epicânticas internas, língua grande e
proeminente, fígado e baço grandes e apresentam retardo mental de leve a moderado. Uma
síndrome bastante comum é a de Klinefelter. Nesta síndrome, o indivíduo apresenta dois
cromossomos X e um Y, com uma freqüência de 1 caso a cada 500 nascimentos, apresentando
testículos pequenos geralmente não produtores de espermatozóides, podem apresentar retardo
mental leve, braços longos e apresentam um certo desenvolvimento dos seios. Outra síndrome é
a do duplo Y, que ocorre com uma freqüência de 1 caso a cada 1000 nascimentos. Indivíduos
com esta síndrome apresentam estatura média, orelhas displásicas, ponte nasal larga, acnes,
dedos alongados, hiperatividade, porém apresentam fertilidade e intelecto normal. Podemos ver
com certa freqüência a trissômia do cromossomo X, que ocorre com uma freqüência também de 1
caso a cada 1000 e os indivíduos apresentam tendência à esquizofrenia, amenorréia secundária,
hiperatividade e, como a síndrome do duplo Y, apresentam fertilidade e intelecto normal. Uma
síndrome que pode ocorrer e que apresenta características mais severas é a de Patau ou
trissômia do cromossomo 13, que ocorre em uma frequência de 2-4 casos a cada 10000
nascimentos e indivíduos com esta síndrome apresentam aplasia cutânea do cabelo, microcefalia,
microftalmia, fissura lábio-palatal bilateral, comprometimento do sistema nervoso, surdez, quadro
convulsivo e apresenta uma mortalidade de 95% até o sexto mês de vida.
Os organismos aneuploides causam defeitos mais severos que os organismos com
sua euploidia alterada. Este fenômeno é explicado por um efeito de balanço gênico, pois mesmo
com o conjunto todo de seus cromossomos alterado, o organismo apresenta proporcionalidade no
total celular. Enquanto o organismo aneuploide causa um desbalanço, ao causar uma
desproporcionalidade no seu sistema celular como um todo ao introduzir ou retirar um
cromossomo especifico, causando desta forma os problemas estruturais observados nas diversas
síndromes. As síndromes aneuploides apresentam características diferenciadas, assim como
severidade diferenciada dependendo do conjunto gênico presente no cromossomo que apresenta
tal alteração.
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Princípios de Análise Genética
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
2. ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS
Além das modificações numéricas a que podem estar sujeitos os cromossomos, estes
também podem sofrer alterações estruturais, onde não ocorre mudança no numero de
cromossomos e, sim, um rearranjo na sua estrutura podendo haver duplicação de uma região,
deleção, translocação (quando um cromossomo ganha parte de outro cromossomo) e inversão.
Estas alterações podem levar a problemas funcionais nos cromossomos em que ocorrem e desta
forma, podem prejudicar o funcionamento normal do organismo como um todo.
Vamos começar a analisar o processo de deleção cromossômica. Neste caso, um dos
cromossomos, por exemplo, por radiação, sofre uma quebra bifilamentar na dupla hélice do DNA.
A célula possui diversos sistemas de segurança para garantir a integridade do seu material
genético, o chamado sistema de reparo. Este sistema se adaptou durante milhões de anos de
evolução para solucionar quase todo problema que a célula venha a sofrer no seu material
genético, porém eventualmente alguns danos passam despercebidos deste sistema e desta forma
se instalam mutações. No caso de deleções cromossômicas, o sistema não reconhece a tempo ou
não consegue reparar o dano, como esta porção do cromossomo não irá possuir centrômero,
durante a divisão celular será perdida. O evento de deleção pode vir acompanhado por um evento
de duplicação em outro cromossomo, quando, por exemplo, um cromossomo sofre uma deleção e
por recombinação seu cromossomo homólogo incorpora esta sequência perdida, de forma que
esse cromossomo que recebeu terá agora duas regiões idênticas, uma original dele próprio e
outra que recebeu do seu homólogo (figura 3.4).
Em humanos alguns distúrbios são resultado de deleções em partes significativas de
determinados cromossomos. A mais conhecida é a cri du chat ou síndrome do miado de gato
onde ocorre uma deleção de uma grande porção do braço curto do cromossomo 5. Esta síndrome
apresenta uma freqüência de 1 caso para 50.000 nascimentos, tendo como principais sintomas
um choro característico que lembra o miado de um gato, microcefalia, uma mandíbula pouco
desenvolvida, faringe pequena e anormal, retardo mental severo, epiglote flácida, entre outras.
Outro tipo de modificação estrutural conhecida é a translocação. Esta modificação
envolve a passagem de uma porção de um cromossomo para outro não homólogo, existindo dois
tipos principais, a translocação simples e a recíproca. Na translocação simples, uma porção de um
cromossomo é transferida para outro não homólogo, onde ocupará uma porção intercalar. Na
translocação recíproca, ocorre a troca de porções cromossômicas entre cromossomos não
homólogos. Aparentemente, eventos de translocação não levam a problemas para o
funcionamento celular, visto que não existe perda de material genético, porém foi observado que
translocações provocavam sérios problemas a que as possuía. Esta característica pode ser
explicada por um uma característica chamada de efeito de posição, que é a relação que os genes
em um determinado cromossomo têm com seus vizinhos do mesmo cromossomo, podendo uma
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Princípios de Análise Genética
alteração nesta vizinhança causar problemas na expressão dos genes que foram translocados.
Outro problema envolvido em eventos de translocação é a possibilidade de a quebra
cromossômica ocorrer no meio de um gene importante para o funcionamento normal da célula,
fazendo com que este gene perca funcionalidade.
Um terceiro tipo de
modificação estrutural são as
inversões, que surgem devido a
quebras duplas em dois pontos do
cromossomo com reinserção em
sentido oposto ao original. Podemos ter
dois tipos principais de inversões: as pericêntricas quando envolvem o centrômero e as
paracêntricas quando não envolvem o centrômero (figura 3.5).
Diversas substâncias são fortes candidatas a produzirem efeitos estruturais nos
cromossomos, entre elas, drogas de uso recreativo, pesticidas, herbicidas, radiação, entre outras.
A extensão do dano ao sistema biológico vai depender da porção cromossômica, assim como
também do desequilíbrio gênico provocado por tal evento, visto que uma das principais causas de
danos genéticos é o desbalanço causado por modificação na freqüência gênica e por mudança na
vizinhança, podendo com isto ou amplificar um sinal gênico ou silenciar.
Figura 3.5: Estrutura de um cromossomo normal, com uma inversão paracêntrica que não
envolve o centrômero (representado pelo circulo) e uma inversão pericêntrica envolvendo o
centrômero.
336
Princípios de Análise Genética
:: PERGUNTAS?? ::
3. RESUMINDO
337
Princípios de Análise Genética
UNIDADE 4
HERANÇA LIGADA AO SEXO
Nesta unidade vamos estudar um tipo particular de herança, onde o sexo do indivíduo
afeta a freqüência dos alelos na população, assim como a manifestação de determinadas
características. Chamamos este tipo de padrão de herança de ligada ao sexo. Os animais, em
geral, têm suas características sexuais determinadas por cromossomos específicos, que
conhecemos como sexuais para distinguir dos outros cromossomos, que não estão envolvidos
diretamente na determinação sexual e que chamamos de autossômicos.
Observando as diversas formas de caracterização sexual baseada na constituição
cromossômica, podemos classificar alguns grupos ou alguns sistemas de determinação sexual.
Primeiro, vamos analisar o sistema XY. Neste sistema, o número de cromossomos dos machos e
das fêmeas é o mesmo, porém nos machos, um dos cromossomos sexuais não é totalmente
homólogo ao outro cromossomo, e também apresentando um tamanho reduzido. Um exemplo
deste tipo de sistema é o ser humano, onde as fêmeas têm dois cromossomos X, enquanto o
macho tem um cromossomo X e um Y. Como os cromossomos sexuais do macho não são iguais
dizemos que o sexo masculino é o sexo heterogamético, e a fêmea é o sexo homogamético. Um
segundo tipo de sistema de determinação sexual, é o ZW. Este sistema apresenta as mesmas
características do sistema XY, com uma simples diferença, enquanto que no sistema XY o macho
apresenta dois cromossomos sexuais desiguais e a fêmea apresenta os dois iguais, no sistema
ZW, a fêmea é que apresenta os dois cromossomos sexuais desiguais, ou seja, não homólogos,
com um cromossomo Z e um W, sendo, desta forma, o sexo heterogamético, enquanto o macho
apresenta os dois cromosssomos sexuais iguais, ou seja, homólogos, com dois cromossomos Z,
sendo, desta forma, o sexo homogamético. Este tipo de sistema é encontrado em alguns peixes,
aves e insetos. Um terceiro tipo de sistema de determinação sexual, é o XO, onde a fêmea
apresenta um número par de cromossomos, enquanto o macho apresenta um número ímpar de
cromossomos. Este tipo é encontrado em algumas classes de insetos. Em Drosophila
melanogaster ocorre um fenômeno diferenciado na determinação sexual. Neste organismo, a
determinação sexual depende de um balanço entre o número de cromossomos X e o número de
cromossomos autossômicos, sendo o grau de sexualidade determinado pelo equilíbrio dos genes
feminilizantes encontrados no cromossomo X com os genes masculinizantes encontrados nos
cromossomos autossômicos. Também observamos neste organismo, a presença de um
cromossomo Y, porém este está envolvido na fertilidade do macho e não na determinação sexual.
Vamos analisar, a partir de agora os padrões de herança ligados ao sexo do sistema XY
encontrados em humanos. Como estudamos na unidade 2, os cromossomos estão dispostos aos
pares nas células humanas, sendo estes pares homólogos, o que propicia a partilha da
informação genética de forma igualitária entre os gametas. Porém, os cromossomos sexuais
podem ser homólogos, caso seja uma mulher, ou parcialmente homólogos, caso seja um indivíduo
homem. Desta forma, os cromossomos X e Y apresentam regiões de homologia, identificam estes
cromossomos como pares durante a divisão celular na formação dos gametas. As regiões não
homólogas conferem as características masculinas, no caso do Y, e femininas, no caso do X. O
cromossomo Y possui os genes determinantes dos testículos. Desta forma, durante o
desenvolvimento das gônadas, a opção de se desenvolver em testículos depende dos produtos
gênicos presentes no momento da decisão embrionária. Assim como mulheres não possuem os
338
Princípios de Análise Genética
339
Princípios de Análise Genética
apresentará, o mesmo acontecerá com os descendentes do sexo masculino, onde dos 50% de
chance de nascer um indivíduo deste sexo, 25% apresentará tal característica e 25% não
apresentará. No cruzamento mostrado em C, onde o pai apresenta a característica analisada,
todas as mulheres descendentes apresentarão esta característica e nenhum descendente do sexo
masculino.
Quando uma característica ligada ao cromossomo X, porém tenha caráter recessivo, o
padrão de herança será o seguinte: as mães que apresentarem tal característica irão passar a
todos os descendentes do sexo masculino, porém só será observada esta característica em
descendentes do sexo feminino se o pai também apresentar esta característica. Caso o pai
apresente uma característica com este padrão, nenhum descendente do sexo masculino
apresentará esta característica, e as descendentes do sexo feminino só irão apresentar, caso a
mãe seja heterozigota para tal característica. Dois exemplos bem conhecidos deste tipo de
herança são o daltonismo e a hemofilia. O daltonismo é uma anomalia visual recessiva ligada ao
X, onde os indivíduos têm dificuldades na distinção das cores vermelha e verde. Na população
encontramos muito mais homens com esta característica do que mulheres, visto que para
apresentar tal fenótipo, o sexo masculino necessita apenas de herdar um único alelo recessivo;
desta forma, temos uma incidência de 8%. Nas mulheres a incidência é bem menor, 0,64%, visto
que para desenvolver esta característica as mulheres devem apresentar dois alelos em
homozigose. Na figura 4.2 temos todos os genótipos possíveis na população para tal gene.
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
340
Princípios de Análise Genética
sexo, este comportamento é observado. Este comportamento explica porque é mais comum
encontrarmos homens calvos que mulheres, onde o caráter é raro.
Um tipo particular de herança limitada ao sexo é a de fatores citoplasmáticos como, por
exemplo, as mitocôndrias. Este padrão se estabelece em virtude de que, durante o processo
evolutivo, o gameta feminino contribui praticamente com todo o material citoplasmático, enquanto
o masculino contribui apenas com o material nuclear. Assim, o material genético contido nas
mitocôndrias é exclusivamente de herança materna. Esta característica possibilita estudos de
evolução onde se pode traçar toda a genealogia materna de uma espécie. Estudos com este
enfoque têm sido feito com populações humanas, onde foi traçado a descendência materna de
nossa espécie chegando a uma descendência africana, resultado este que está de acordo com
dados e pesquisas oriundas de diversas áreas do conhecimento científico.
:: ARREGAÇANDO AS MANGAS!! ::
3. RESUMINDO
A determinação sexual dos organismos obedece a padrões peculiares para cada grupo, e
a maioria dos grupos de animais conhecidos possuem, dentre seus cromossomos o que
chamamos de cromossomos sexuais, estando nestes cromossomos os genes que determinam as
características sexuais do indivíduo. Diferentemente dos cromossomos autossômicos, os sexuais
não possuem homologia completa. Podemos ter sistemas de determinação sexual onde o sexo
masculino é heterogamético, como nos organismos que possuem o sistema XY. Neste sistema o
macho possui um cromossomo X e um Y, enquanto a fêmea é o sexo homogamético possuindo
dois cromossomos X. Porém, existem grupos onde o sexo masculino é o homogamético e o
feminino é o heterogamético, como, por exemplo, algumas aves, dizemos que este sistema é ZW,
sendo o macho ZZ e a fêmea ZW. Devido a esta diferenciação, ocorrem padrões diferenciados de
herança a depender do sexo do indivíduo. No caso do sistema XY, podemos ter genes que só
estão presentes no cromossomo X, desta forma, se o caráter for recessivo os indivíduos do sexo
feminino necessitam de duas cópias para expressar enquanto que o masculino apenas uma. Se o
caráter for dominante, uma única cópia no sexo feminino faz com que este caráter seja expresso,
o mesmo ocorrendo no sexo masculino. Podemos também ter genes que estão presentes apenas
no cromossomo Y, sendo, desta forma, restrita a indivíduos do sexo masculino. Além das
características sexuais determinadas pelos cromossomos sexuais, teremos características que
estarão presentes nos cromossomos autossômicos, mas que são ou limitadas ao sexo ou
influenciadas por ele, assim estas características obedecerão a padrões sexuais. Indivíduos do
reino animal apresentam, além das características genéticas encontradas no núcleo,
características citoplasmáticas, as mitocôndrias, que só são herdados do lado materno, visto que
os espermatozóides não passam seu citoplasma durante a fecundação.
342
Princípios de Análise Genética
4. ANALISANDO HEREDOGRAMAS
343
Princípios de Análise Genética
344
Princípios de Análise Genética
345
Princípios de Análise Genética
UNIDADE 5
LIGAÇÃO, RECOMBINAÇÃO E MAPEAMENTO GENÉTICO
Na unidade I, nós estudamos as leis de segregação dos genes estabelecidas por Mendel
em seu estudo seminal da metade do século XIX. Neste trabalho revolucionário são estabelecidas
as primeiras noções de hereditariedade baseadas em observações experimentais. Mendel
estabeleceu duas leis que dizem respeito à segregação gênica: a primeira lei diz que os fatores
(alelos) segregam de forma independente na formação dos gametas, já a segunda lei diz que os
genes segregam de forma independente um do outro.
Alguns anos após a redescoberta dos trabalhos de Mendel, um novo comportamento
gênico começou a despertar a curiosidade dos cientistas da época. Sutton, em 1903, sugeriu que
cada cromossomo devia ter mais de um grupo alélico, e que estes grupos deviam ser herdados
em blocos durante a formação dos gametas, porém este não foi capaz de demonstrar
experimentalmente sua afirmação. Em 1910, o jovem geneticista Thomas Hunt Morgan,
trabalhando com a mosca da fruta, Drosophila melanogaster, conseguiu demonstrar
experimentalmente a localização de um gene neste organismo. Em trabalhos posteriores, Morgan
demonstrou que existe ligação entre alguns genes, sendo estes herdados em bloco, desta forma
foi demonstrado que nem todos os genes segregam independentemente, como visto nos
experimentos mendelianos.
Com os resultados obtidos por Morgan, se verificou que a lei da segregação
independente dos fatores (genes) era verdadeira, apenas se os genes estiverem em
cromossomos diferentes ou se estiverem no mesmo cromossomo, porém distantes o suficiente
para que se comporte como se estivessem em cromossomos diferentes devido à alta taxa de
crossing-over.
Além de observar um novo comportamento dos fatores hereditários, a grande observação
de Morgan foi a correlação estabelecida por ele entre a taxa de recombinação e a organização
linear dos genes em um cromossomo. A técnica desenvolvida para localizar genes, possibilitou o
endereçamento destes em cromossomos específicos, e com isso, a construção de mapas
cromossômicos, que podem mostrar quais genes são herdados em grupo e suas distâncias
relativas. Hoje em dia, estes mapas cromossômicos são bastante utilizados para identificar
prováveis genes envolvidos em doenças genéticas. Neste tipo de utilização observamos o
comportamento de marcadores correlacionados à enfermidade e, com isso, aumentam as
chances de identificação de fatores responsáveis.
Se existem vários genes em um mesmo cromossomo, podem estes genes se
comportarem como se estivessem em cromossomos diferentes? E assim segregarem
independentemente? A resposta para esta pergunta é sim. Apesar de estarem em um mesmo
cromossomo, estes podem se comportar como se estivessem em cromossomos diferentes, ou
seja, segregarem de forma independente. Este fenômeno só é possível graças a um evento
biológico que ocorre na meiose, chamado de crossing-over.
Como estudamos na unidade 2, durante a meiose I, mas precisamente na prófase I,
ocorre a formação de sinapses entre os cromossomos homólogos. Nestes pontos, pode ocorrer
troca de regiões equivalentes entre os cromossomos homólogos, misturando arranjos gênicos de
um cromossomo com o do outro, gerando, dessa forma, diversidade. A freqüência de
recombinação entre genes em um cromossomo está diretamente ligada à distância entre eles.
Quanto maior a distância entre os genes, maior a chance de que ocorra recombinação entre eles.
346
Princípios de Análise Genética
Então, podemos concluir que: quanto mais próximos forem os genes dentro de um cromossomo,
maior a chance deles segregarem juntos na formação dos gametas. Assim, teremos que genes
localizados em diferentes cromossomos têm uma probabilidade de 50% de segregarem juntos,
que é a mesma probabilidade de segregação de genes que estejam no mesmo cromossomo,
porém distantes.
Vamos resumir o que já observamos até o momento. Na nossa constituição genética nós
temos genes que segregam independentemente, estando ou em cromossomos diferentes ou
localizados distantes no mesmo cromossomo. Porém, existem genes que não obedecem a lei da
segregação independente, e segregam em blocos, sendo desta forma encontrados próximos no
mesmo cromossomo. Dizemos que estes genes formam um grupo de ligação. Em diferentes
freqüências estes grupos de ligação podem segregar independentes. Este fenômeno só é
observado quando ocorre crossing-over, sendo a freqüência deste evento diretamente relacionado
à distancia entre um gene e outro neste grupo de ligação.
Podemos definir mapa cromossômico como a localização dos genes em um cromossomo
definidos por eventos de recombinação. A distância entre as unidades gênicas é calculada a partir
da porcentagem de permutações entre eles. Morgan, em 1911, estabeleceu que os genes se
organizam de forma linear nos cromossomos, sendo o primeiro a estabelecer relações de
proximidade entre eles em um cromossomo. A freqüência de recombinação entre dois genes é
proporcional à distância entre eles. Em um mapa cromossômico utilizamos como unidade de
distância o centimorgan (cM).
Para realizarmos uma analise de eventos de recombinação, temos que ter algumas
condições estabelecidas. A primeira delas, é que os genes analisados devem estar em
heterozigose, para que possamos identificar se ocorreu ou não crossing-over e um número alto de
descendentes, para que possamos calcular com o máximo de precisão os eventos de
recombinação. Vamos analisar um exemplo onde teremos três genes em heterozigosidade A, B e
C. Neste caso, vamos admitir que os alelos dominantes estejam localizados no mesmo grupo de
ligação, não apresentando uma probabilidade equivalente com a segregação independente.
Assim, teremos ABC em um cromossomo e abc no seu homólogo. Ao analisarmos, verificamos
que tínhamos nos gametas as seguintes configurações, a taxa de recombinação entre os genes A
e B era de 19%, entre B e C era de 17% e entre A e C era de 2%. A partir destes dados podemos
inferir a ordem e a distancia destes genes no cromossomo, sendo a ordem ACB e as distâncias
equivalentes a frequência de recombinação. Assim, a distância entre A e C é de 2cM, entre A e B
é de 19cM e entre C e B é de 17cM (figura 5.1).
Tabela 5.1: Freqüência gênica de gametas para três lócus de Drosophila melanogaster.
Para interpretarmos tais dados temos que identificar primeiro o genótipo dos parentais.
Neste caso, o genótipo parental é o que aparece em maior freqüência nos gametas. Desta forma,
são eles v . cv+ . ct+ e v+ . cv . ct, que estão presentes numa freqüência de 580 e 592
respectivamente. O próximo passo em nossa análise é identificar a ordem destes genes no
cromossomo, assim como suas distâncias. Na figura 5.2, temos as possibilidades de arranjo
destes genes no cromossomo.
Ao analisarmos as opções da figura 5.2 e os dados da tabela 5.1, levando em conta que
teremos um evento de crossing-over duplo, sendo este tipo de recombinação mais raro, gerando
desta forma menos gametas recombinantes, chegamos à conclusão que a ordem dos genes no
cromossomo é a primeira opção da figura x.2. O próximo passo que devemos seguir é encontrar
a distancia entre estes genes e, assim, confirmaremos a organização gênica dos mesmos.
Figura 5.2: Possibilidades da ordem dos genes no cromossomo e rearranjo dos mesmos
após crossing-over duplo. Modificado de: Introduction to Genetic Analysis. Griffiths, A. J. F.; Miller,
J. H.; suzuki, D. T.; Lewontin, R. C.; Gelbart, W.M. New York: W. H. Freeman & Co.; c1999.
348
Princípios de Análise Genética
Vamos então identificar as classes recombinantes nos dados da tabela 5.1. Para esta
análise, faremos um estudo par a par. Na figura 5.3, temos a identificação dos recombinantes e
suas freqüências.
Vamos iniciar com o par v e cv: nos genótipos parentais, estes estão agrupados ou v e
+ +
cv ou v e cv. Desta forma, todos os outros arranjos entre estes dois genes serão considerados
como produtos de recombinação. Estes grupos recombinantes estão representados pela letra R.
O mesmo raciocínio deve ser utilizado para identificação dos recombinantes para v e ct, assim
como para ct e cv. Após a identificação dos recombinantes para cada par gênico, vamos calcular
a distancia relativa entre eles, lembrando que como observado por Morgan, a quantidade de
recombinantes entre dois genes é proporcional à distância física no cromossomo. Primeiro iremos
calcular a distancia entre v e cv. Para tal, devemos somar todos os recombinantes, que dá 268,
dividir este número pelo total de gametas, sendo o número total 1448, e multiplicarmos por 100,
para termos, desta forma, uma freqüência relativa. Assim, podemos dizer que a distancia entre o
gene v e cv será de 18,5 cM. Para calcularmos a distância entre v e ct, faremos o mesmo cálculo,
então teremos 191 dividido por 1448 e multiplicado por 100, dando uma distancia de 13,2 cM. Por
último vamos calcular a distância entre cv e ct, então teremos 93 dividido por 1448 multiplicado
por 100, tendo, assim, a distância de 6,4 cM. A partir destes dados podemos construir um mapa
cromossômico para estes três genes. A figura 5.4 mostra a organização dos genes com suas
distâncias relativas.
349
Princípios de Análise Genética
intermediárias entre os pontos mais distantes. A este tipo de analise chamamos de cruzamento de
três pontos.
Em humanos, testes como estes exigem uma estatística mais complexa em virtude
principalmente do pequeno tamanho da prole, sendo necessário o cultivo de células em
laboratório para obtenção de um numero minimamente confiável para realização de tal análise.
Também podemos utilizar eventos de recombinação gênica para estimar uma ordem de
localização dos genes no cromossomo de procariotos. Estes organismos apresentam uma
configuração cromossômica diferente dos organismos eucariotos, pois seus cromossomos
geralmente são circulares e estão em cópia única. Se os cromossomos bacterianos estão
geralmente em cópia única, como pode haver eventos de recombinação?
Para responder esta pergunta vamos voltar à década de 1940, quando Joshua Lederberg
e Edward Tatum iniciaram experimentos com a bactéria Escherichia coli, onde tentavam observar
se poderia existir algum tipo de reprodução sexuada neste grupo de organismos, visto que até
então só se conhecia neste grupo, reprodução assexuada. Para tanto, eles dispunham de duas
variedades desta bactéria que possuíam características complementares, o que facilitaria a
análise dos dados. Um das linhagens utilizadas, que chamaremos de 1, apresentava a
característica de ser deficiente na produção do aminoácido metionina e da biotina, um cofator de
diversas enzimas e tinha como característica analisável positivamente a produção do aminoácido
treonina e leucina, assim como a produção de tiamina, também um cofator enzimático. A outra
linhagem, que chamaremos de 2, possuía como característica ser deficiente na produção dos
aminoácidos treonina e leucina, assim como da tiamina, e tinha como característica analisável
positivamente a produção metionina e biotina, desta forma as linhagens eram complementares.
Devido a cada uma das linhagens não produzir todos os compostos que necessitam, estas
precisam que, no meio de cultura onde estão, sejam adicionados os nutrientes não produzidos
pela própria linhagem. A característica destas linhagens possibilitou que se pudesse analisar se
havia trocas de material genético entre eles, visto que, se após haver uma mistura entre as duas
linhagens ocorre o aparecimento de uma linhagem capaz de crescer no meio de cultura sem que
seja adicionado nenhum dos compostos não produzidos pelas linhagens 1 e 2, é um forte indício
de que ocorreu troca de material genético através de recombinação entre estas linhagens. Ao final
de seus experimentos, Lederberg e Tatum observaram que algumas linhagens adquiriam da outra
as características que lhe faltava, o que possibilitou o crescimento desta sem que fosse
adicionado nenhum nutriente ao meio de cultura.
Apesar dos fortes indícios de que havia recombinação gênica entre bactérias, um
questionamento teria que ser resolvido para que se tivesse uma comprovação final. Muitos
pesquisadores da época levantaram a hipótese de que não tinha ocorrido recombinação e, sim,
uma linhagem estava produzindo o que a outra não produzia, o que teria possibilitado o
aparecimento de linhagens no meio de cultura sem que fosse adicionado nenhum nutriente. A
resposta para esta questão veio de um experimento realizado por Bernard Davis, onde este
desenhou um tubo em forma de U (figura 5.5), e separou este com um filtro poroso onde poderia
passar os nutrientes, porém não passariam as linhagens. Caso não tivesse ocorrido recombinação
entre as linhagens e, sim, simplesmente uma complementação metabólica, teríamos linhagens
sobrevivendo nos dois lados do filtro, caso contrário não teríamos em nenhum dos lados. Os
350
Princípios de Análise Genética
resultados mostraram que era necessário que houvesse contato físico para que ocorresse o
aparecimento da linhagem recombinante.
Figura 5.7: fotomicroscopia da formação do pilus entre duas bactérias durante o processo
de conjugação. Imagem retirada do site HTTP://curlygirl.no.sapo.pt/monera.htm em 02/03/2010.
351
Princípios de Análise Genética
O epissomo ao ser transferido leva com ele parte do cromossomo bacteriano. Quando este
cromossomo chega à linhagem receptora e encontra uma região homologa, vai ocorrer um evento
de recombinação, onde a informação contida na linhagem receptora vai ser trocada pela que veio
da linhagem doadora (figura 5.9). Assim, como em eucariotos, a informação genética de
procariotos está disposta em uma fita DNA em sequência, isto possibilita a construção de mapas
cromossômicos. No caso de procariotos, como sabemos o ponto de início da transferência, se
pode interromper o processo de tempos em tempos e verificar quais os genes que sofreram
recombinação, então, por exemplo, em 1 minuto teremos o gene x, em dois minutos os genes x e
y, em três minutos os genes x, y e z, e assim por diante. Assim, saberemos que a ordem destes
no cromossomo é correspondente ao tempo de recombinação. Desta forma vamos construindo o
mapa do cromossomo daquele organismo. Note que não usaremos mais a unidade centimorgan e
sim minutos (min). Através de analises deste tipo, foi construído o mapa do cromossomo da
bactéria E. coli, e após o término do seqüenciamento do genoma deste organismo, se verificou
que o mapa construído através da análise de recombinantes era muito similar ao mapa físico
gerado pelo seqüenciamento de bases.
352
Princípios de Análise Genética
:: PERGUNTAS?? ::
3. RESUMINDO
Nesta unidade vimos que, diferentemente do proposto por Mendel, podemos ter genes
que segregam em bloco quando estão próximos em um cromossomo, o que chamamos de grupos
de ligação. A freqüência com que estes genes irão segregar em bloco é diretamente proporcional
à distância que estão um do outro no cromossomo. Genes muito distantes apresentam um padrão
de segregação semelhante ao que estão localizados em cromossomos diferentes. Este
353
Princípios de Análise Genética
354
Princípios de Análise Genética
UNIDADE 6
GENÉTICA DE POPULAÇÕES
1. O TEOREMA DE HARDY-WEINBERG
No início dos estudos genéticos, no início do século XX, não se compreendia como era
mantida a diversidade gênica dos organismos e, consequentemente, das populações. Nesta
época os conceitos evolutivos ainda não estavam consolidados na comunidade cientifica, e desta
forma alguns cientistas acreditavam que a simples presença em maior número de determinado
alelo era o suficiente para que este se fixasse na população. Porém, em 1909, G. H. Hardy e W.
Weinberg propuseram um modelo matemático simples para analisar tal suposição. Neste modelo,
eles utilizaram como princípio algumas características populacionais hipotéticas, onde as
populações teriam que se reproduzir aleatoriamente, sem eventos de migração, mutação ou
seleção e ter um tamanho relativamente grande.
O início de uma analise genética de populações tem como princípio, o cálculo da
freqüência gênica dos alelos na população. Imaginemos uma população de indivíduos diplóides,
que apresentem reprodução sexuada cruzada e possua n indivíduos. Se analisarmos nesta
população um lócus especifico teremos a seguinte situação: em um lócus autossômico, por
exemplo, o lócus A com dois alelos A e a, podemos ter para este lócus três configurações
355
Princípios de Análise Genética
possíveis, ele pode ser homozigoto dominante AA, pode ser heterozigoto Aa ou pode ser
homozigoto recessivo aa, de forma que a soma da freqüência de todo os genótipo seja igual a 1.
Podemos calcular a freqüência alélica da seguinte forma: a freqüência do alelo A é o número de
homozigotos da população vezes 2, visto que em homozigose teremos dois alelos A, mais o
número de heretozigotos, visto que em heretozigose teremos apenas um alelo A (p) dividido pelo
número total de alelos na população. Utilizaremos o mesmo raciocínio para calcular a freqüência
alélica de a (q), de forma que a soma das freqüências seja igual a 1, assim p + q = 1.
Para este cálculo, teremos o número de homozigotos para o alelo A vezes dois, mais o
numero de heterozigoto, dividido pelo número total de alelos da população, assim teremos (750x
2) + 100/2000 = 0,8. Para calcularmos a freqüência do alelo a, teremos o número de indivíduos
homozigotos a vezes 2, mais o numero de heterozigotos, dividido pelo numero total de alelo na
população, assim teremos (150 x 2) + 100/2000 = 0,2, ou simplesmente podemos utilizar a
formula p + q = 1, sendo p = 0,8, então, 0,8 + q = 1, assim q = 1 – 0,8, que dará 0,2. Agora, como
já temos a freqüência de cada alelo, vamos calcular a freqüência esperada para uma população
em equilíbrio, ou seja, uma população que não esteja perdendo variabilidade. Para calcularmos a
freqüência esperada de indivíduos de asas brancas, teremos p2, então 0,82 = 0,64. Para
calcularmos a freqüência de indivíduos de asas cinza, teremos 2pq, então 2 x 0,8 x 0,2 = 0,32 e
de indivíduos de asas negras teremos q2, então 0,22 = 0,04. Para verificarmos se a população em
análise está em equilíbrio então vamos realizar o seguinte cálculo para o número de indivíduos de
asas brancas 0,64 x 1000 = 640, para o número de indivíduos de asa cinza 0,32 x 1000 = 320 e
para o número de indivíduos de asas negras 0,04 x 1000 = 40. Para analisarmos se as diferenças
observadas entre os números observados e esperados são significativos, analises estatísticas,
como a do qui-quadrado, devem ser efetuadas. Neste tipo de análise, é irrelevante a relação de
dominância ou recessividade entre os alelos, visto que pretendemos verificar se está ocorrendo
alteração na abundância de alelos na população. O teorema do Hardy-Weinberg é baseado em
premissas, que estabelecem que uma população permanece em equilíbrio caso não ocorra
cruzamento preferencial, migração, mutação e esta população seja grande o suficiente.
Você deve estar se questionando que: se populações desse tipo não existem na
natureza, qual a finalidade deste teorema? Na verdade, o teorema quando postula estas
premissas, tem como objetivo verificar se em uma população natural está passando por algum
processo evolutivo de modificação na sua constituição gênica, onde novos alelos estão sendo
introduzidos na população, podendo ser através de migração de indivíduos de populações com
freqüências alélicas diferentes, através de cruzamento preferencial entre grupos desta população,
356
Princípios de Análise Genética
podendo haver endogamia, através de mutação que vai gerar um novo alelo, através de seleção,
onde um alelo é mais bem adaptado ao ambiente que os demais, entre outros. Com isto, podemos
observar o comportamento evolutivo de uma população ao longo do tempo. Estudos de genética
de população têm auxiliado atualmente programa de conservação ambiental. Nestes estudos,
verificamos se está ocorrendo perda de variabilidade gênica, tido nos dias de hoje como uma das
principais causas do processo de extinção. Vamos analisar, agora, alguns eventos que podem
alterar a freqüência gênica de uma população. Em populações humanas, estes estudos
recentemente vêm ganhando um enfoque médico, em virtude principalmente das novas
tecnologias farmacêuticas.
http://saudeuberlandia.blogspot.com/2008/02/programa-municipal-
da-doena-falciforme.html
Para guardarmos as informações até aqui, vamos
construir um quadro um resumo com as principais
características do teorema de Hardy-Weinberg. Vamos
também analisar uma população hipotética que possua 200
indivíduos e que dentre estes tenhamos 50 homozigotos
dominantes, 75 heterozigotos e 75 homozigotos recessivos. Vamos tentar identificar se esta
população esta em equilíbrio.
Um terceiro efeito que pode levar a alterações na freqüência alélica, são os eventos de
migração. Sabemos que diferentes populações apresentam diferente constituição genética, assim
se pode introduzir novos alelos quando temos um fluxo migratório relativamente grande ou
quando o alelo introduzido confere uma vantagem seletiva sobre os demais. Vamos voltar ao
exemplo da anemia falciforme que apresenta uma alta incidência nos países africanos. No Brasil,
este alelo recessivo era relativamente raro nas populações nativas, porém com o aumento do
fluxo migratório vindo da África na época da escravidão, este evento modificou a freqüência
destes alelos em toda a população brasileira. Hoje, temos uma alta incidência deste em Estados
com predominância da população negra. Esta modificação está relacionada apenas com o alto
fluxo migratório e não com nenhuma vantagem seletiva, visto que nestes Estados a malária não é
endêmica.
O último caso que vamos estudar de evento que pode alterar a freqüência alélica de uma
população, será o caso de deriva genética aleatória. No caso de deriva genética, uma pequena
porção da população por algum motivo, que pode ser geográfico, cultural, etc., se isola da
358
Princípios de Análise Genética
população original levando consigo uma freqüência alélica que não representa esta em equilíbrio
com a população original. Esta nova população vai passar por um processo chamado de efeito
fundador, que quer dizer que quando uma população pequena se isola da população original, ela
carrega uma freqüência genética diferente da população de origem, fazendo com que a nova
população tenha a freqüência alélica do seu grupo fundado (figura 6.1).
:: PERGUNTAS?? ::
3. RESUMINDO
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Princípios de Análise Genética
REFERÊNCIAS
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