DOENCAS INFECCIOSAS Volume 2 Numero 1 65p. 2020

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JORNAL MedVetScience FCAA

Volume 2, número 1, 65p., 2020.

DOENÇAS INFECCIOSAS

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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Sumário

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA BRUCELOSE BOVINA NO BRASIL .................. 3


TUBERCULOSE E BRUCELOSE: ASPECTOS GERAIS ........................................... 8
RETROSPECTIVA DA INCIDÊNCIA E LEGISLAÇÃO VIGENTE DE MORMO NO
BRASIL ..................................................................................................................... 13
ANEMIA INFECCIOSA EQUINA – REVISÃO DE LITERATURA .............................. 18
MASTITE: RESISTÊNCIA À ANTIBIOTICOTERAPIA .............................................. 23
DIARRÉIA VIRAL BOVINA: INTERFERÊNCIA E PREJUÍZO NA BOVINOCULTURA
DE CORTE ................................................................................................................ 29
PROFILAXIA E TRATAMENTO PARA PODODERMATITE INFECCIOSA EM
OVINOS .................................................................................................................... 34
PESTE SUÍNA AFRICANA E SEU IMPACTO NA ECONOMIA ................................ 41
CORONAVÍRUS CANINO ......................................................................................... 46
PROTOCOLO DE TRATAMENTO DAS LEISHMANIOSES EM CÃES – REVISÃO
DE LITERATURA ...................................................................................................... 51
AGENTES INFECCIOSOS DO COMPLEXO RESPIRATÓRIO FELINO .................. 57
PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES OFTÁLMICAS DO HERPESVÍRUS FELINO ........ 62

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SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA BRUCELOSE BOVINA


NO BRASIL
EPIDEMIOLOGICAL SITUATION OF BOVINE BRUCELLOSIS IN
BRAZIL

Camila Andrade Furukawa*¹; Dalila Azevedo Abrantes¹; Daniela Scantamburlo


Denadai²
¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ²Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: A brucelose bovina é causada pela bactéria Brucella abortus, sendo


considerada uma enfermidade endêmica no Brasil. O Programa Nacional de Controle
e Erradicação da Brucelose e Tuberculose implantado pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento tem como um dos objetivos reduzir a incidência de
brucelose no Brasil. Visto a dimensão territorial e as características próprias de cada
região, os dados referentes aos focos são bastante distintos. Todavia, evidenciou-se
maiores números na região Centro-Oeste.
Palavras-chave: Bovinos. Brucella abortus. Ocorrência.

INTRODUÇÃO
A brucelose bovina é uma enfermidade infectocontagiosa, causada por
bactérias do gênero Brucella, principalmente pela espécie Brucella abortus.
Caracteriza-se como um problema grave ligado à saúde pública por ocasionar
prejuízos econômicos elevados, além de ser uma zoonose de distribuição mundial
(MAPA, 2017).
Em 2001, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ao
verificar a ineficácia das medidas de controle até então adotadas, implantou o
Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT),
que consiste em um conjunto de medidas sanitárias estratégicas para reduzir a
prevalência e incidência destas enfermidades (MAPA, 2017; POESTER et al., 2009;
SOLA et al., 2014).
Para a brucelose bovina, as estratégias podem ser resumidas em vacinação,
certificação de propriedades livres por rotinas de testes indiretos, controle da
movimentação de animais e sistema de vigilância específico (POESTER et al., 2009).

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Atualmente, a forma mais eficiente e econômica para diminuir a prevalência de focos


de brucelose é a vacinação anual de, no mínimo, 80% das bezerras entre três a oito
meses, com a amostra vacinal B19 (CHATE et al., 2009).
Objetivou-se com esta revisão fazer uma compilação dos focos de brucelose
bovina já relatados no Brasil, de acordo com os estados e regiões.

REVISÃO DE LITERATURA
A brucelose bovina é uma enfermidade considerada endêmica no Brasil.
Devido à grande dimensão territorial e as características próprias de cada região, os
dados referentes aos focos são bastante distintos pelo país (LAGE et al., 2008; SOLA
et al., 2014; POESTER et al., 2009).
Para determinar a presença de um foco, em cada estado brasileiro estimou-
se a prevalência de propriedades infectadas pela brucelose bovina e a quantidade de
animais soropositivos, por meio de um estudo amostral dirigido para detectar focos da
enfermidade. O planejamento amostral permitiu determinar as prevalências de focos
e de fêmeas com mais de 24 meses soropositivas para brucelose no Brasil (ALVES et
al., 2009; AZEVEDO et al., 2009; CHATE et al., 2009; DIAS et al., 2009; GONÇALVES
et al., 2009; KLEIN-GUNNEWIEK et al., 2009; MARVULO et al., 2009; NEGREIROS
et al., 2009; OGATA et al., 2009; ROCHA et al., 2009; SIKUSAWA et al., 2009; SILVA
et al., 2009; VILLAR et al., 2009; FIGUEIREDO et al., 2011; SOUZA et al., 2012).
Concentra-se na região Centro-Oeste o maior número de focos da doença,
sendo os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso os que possuem mais casos,
com 41,5% e 41,1% respectivamente. Goiás apresenta 17,5% e Distrito Federal 2,5%.
Em relação aos soropositivos, destaca-se o Mato Grosso com 10,2 % e Goiás com
3% (CHATE et al., 2009; NEGREIROS et al., 2009; ROCHA et al., 2009; GONÇALVES
et al., 2009).
A região Norte possui o segundo maior número de focos, onde Rondônia
apresenta 35,1%, Roraima 27,4% e Tocantins 21,2%. Já em relação aos
soropositivos, Rondônia possui 6,2%, Roraima 4,1% e Tocantins 4,4% dos casos
(VILLAR et al., 2009; SOUZA et al., 2012; OGATA et al., 2009).
Na região Sudeste os números são moderados para focos e soropositivos,
destacando-se o estado de São Paulo com 9,7% e 3,8%, Espírito Santo com 9% e

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6,5%, e Rio de Janeiro com 15,4% e 4%, respectivamente (DIAS et al., 2009;
GONÇALVES et al., 2009; AZEVEDO et al., 2009; KLEIN-GUNNEWIEK et al., 2009).
A região Nordeste apresentou poucos focos de brucelose e soropositivos,
sendo Sergipe o estado com maior número, totalizando 12,6% e 3,3% (SILVA et al.,
2009; ALVES et al., 2009; FIGUEIREDO et al., 2011).
A região Sul é a que possui menor número de focos, possuindo apenas 4%
no Paraná e 2% no estado do Rio Grande do Sul. Para animais soropositivos, totaliza-
se 1% no Rio Grande do Sul e Paraná (MARVULO et al., 2009; DIAS et al., 2009;
SIKUSAWA et al., 2009).
Há relatos do aumento dos números de focos de 2001 à 2004, possivelmente
por ser os primeiros anos da implantação do PNCEBT e os produtores estavam
preocupados em diagnosticar e notificar a doença. É observado, a partir de 2004,
diminuição destes números, indicando o sucesso do PNCEBT no país (GUIMARÃES,
2011).
É notável que a notificação de casos na região Centro-Oeste diminuiu
acentuadamente de 2004 até 2015, demonstrando a eficácia do PNCEBT, todavia,
ressalta-se alguns problemas nos dados devido às subnotificações (OLIVEIRA et al.,
2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A brucelose bovina está distribuída de forma heterogênea pelos diversos
estados brasileiros. Evidenciou-se o maior número de focos na região Centro-Oeste,
principalmente, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que concentram o maior
rebanho bovino brasileiro. Todavia, é evidente que ainda é de suma importante a
ampla divulgação e implantação das medidas de controle do PNCEBT no Centro-
Oeste brasileiro, aliado à conscientização dos produtores rurais e médicos
veterinários, em prol da redução do número de casos de brucelose.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Biol., São Paulo, vol.78, n.1, p.9-16, 2011. Disponível em: <
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GUIMARÃES, G. O. Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose
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POESTER, F. et al. Estudos de prevalência da brucelose bovina no âmbito do Programa Nacional de


Controle e Erradicação de Brucelose e Tuberculose: Introdução. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Belo
Horizonte, vol.61, supl.1, p.01-05, 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
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ROCHA, W. V. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Goiás. Arq. Bras.
Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, vol.61, supl.1, p.27-34, 2009. Disponível em: <
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30/03/2020.
SIKUSAWA, S. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Santa Catarina. Arq.
Bras. Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, vol.61, supl.1, p.103-108, 2009. Disponível em: <
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em: 30/03/2020.
SILVA, V. G. S. O. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado do Sergipe. Arq.
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em: 30/03/2020.
SOLA, M. C. et al. Brucelose bovina: revisão. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer,
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31/03/2020.
SOUZA, L. P. A. et al. Brucelose bovina no Estado de Roraima: estudo retrospectivo. Arq. Inst. Biol.,
São Paulo, vol.79, n.3, p.319-325, 2012. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-16572012000300001&lng=pt&tlng=pt >.
Acesso em: 30/03/2020.
VILLAR, K. S. et al. Situação epidemiológica da brucelose bovina no Estado de Rondônia. Arq. Bras.
Med. Vet. Zootec., Belo Horizonte, vol.61, supl.1, p.85-92, 2009. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-09352009000700011&script=sci_arttext&tlng=pt >. Acesso
em: 30/03/2020.

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TUBERCULOSE E BRUCELOSE: ASPECTOS GERAIS


TUBERCULOLIS E BRUCELLOSIS: GENERAL ASPECTS

Gabriela Fagundes da Silva¹; Cassia Regina de Avelar Gomes²


¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ²Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: A tuberculose e a brucelose são doenças infecciosas de caráter zoonótico


com grande importância na saúde pública que geram muitos impactos negativos na
produção animal. Ambas possuem como agente etiológico bactérias, sendo na
tuberculose, do gênero Mycobacterium e na brucelose, do gênero Brucella. A
transmissão de ambas ocorre por meio de secreções e excreções contaminadas,
sendo as principais fontes de infecção os animais positivos. A prevenção conta com o
uso de vacinas, a segregação e abate dos animais doentes. O objetivo desta revisão
foi de sintetizar o agente, a transmissão, o diagnóstico e tratamento dessas doenças.
O médico veterinário tem papel de extrema importância na programação e
gerenciamento dos programas de controle e erradicação dessas doenças que afetam
a saúde pública.
Palavras-chave: Prevenção. Sintomas. Transmissão. Zoonose.

INTRODUÇÃO
A tuberculose é uma das doenças mais antigas relatadas pela humanidade,
causada por bactérias pertencentes ao complexo Mycobaterium sp. A doença em
seus primórdios, deve ter atingido inicialmente animais, através de uma variante que
antecedeu o Mycobacterium bovis. A zoonose se disseminou primariamente pelo
consumo humano de carne ou leite contaminados, porém, aos poucos novas
linhagens mutantes da bactéria foram surgindo e sendo transmitidas pelo ar (SILVA
NETTO, 2007).
A brucelose, de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), a
Organização Mundial da saúde (OMS) e a Organização Mundial da Saúde Animal
(OIE), é uma das zoonoses mais importantes e difundidas no mundo (POESTER;
GONÇALVES; LAGE, 2002).
Enquanto a tuberculose atinge principalmente o sistema respiratório, em
média 80% a 90% dos animais infectados são por meio de via aerógena (PINTO,

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2003), a brucelose causa maiores danos ao sistema reprodutivo, segundo Carter e


Chengappa (1991) Ribeiro, Motta e Almeida (2008) e Xavier et al. (2009), os órgãos
de predileção do gênero Brucella são aqueles que oferecem elementos necessários
para o seu metabolismo, como o eritritol - álcool polihídrico de quatro carbonos,
presente no útero gravídico, tecidos mamários, ósteo articulares e órgãos do sistema
reprodutor masculino, sendo importante ressaltar que humanos, equinos, coelhos e
roedores possuem ausência ou baixa produção do eritritol, fato este que justificaria o
reduzido impacto da brucelose no aparelho reprodutivo nestas espécies.
Tanto a tuberculose como a brucelose são doenças infecciosas causadas por
bactérias e possuem caráter zoonótico, portanto, representam grande importância na
saúde pública, e ambas causam quedas drásticas na produção animal, gerando
enormes prejuízos (SILVA; MOURA; REIS, 2011).
O objetivo da presente revisão foi de sintetizar os agentes, a transmissão, o
diagnóstico e tratamento dessas doenças.

REVISÃO DE LITERATURA
Agentes
A Tuberculose é uma doença infecciosa, causada pelo Mycobacterium
tuberculosis, M. bovis e M. avium, agentes etiológicos da tuberculose humana, bovina
e aviária, respectivamente. O agente etiológico, pode sobreviver fora do hospedeiro,
em condições ambientes favoráveis, por longos períodos (acima de dois anos). É
resistente a diversos desinfetantes químicos, com exceção dos produtos que
desnaturam proteínas, como: formol, cresol, álcool e fenol (ABRAHÃO, 1999).
A Brucelose, é uma antropozoonose (doença primária em animais) causada
pelo gênero Brucella, sendo, Brucella melitensis, B. suis, B. abortus e B. canis,
consideradas patogênicas para humanos. Sendo que a humana é endêmica em vários
países do mediterrâneo, Oriente Médio, Ásia, África e América do Sul, e alguns países
da Europa, como Grécia, Portugal, Espanha, Itália e França (MEIRELLES-BARTOLI,
SOUSA e MATHIAS, 2014).
No Brasil, as informações, embora escassas, apresentam a ocorrência da
Brucelose em humanos em diversas partes do país e principalmente em grupos
ocupacionais de pessoas que lidam com animais, como, fazendeiros, vaqueiros,
médicos veterinários e funcionários de matadouros (SOLA, et al. 2014)

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Assim como o agente etiológico da tuberculose bovina, a Brucella sp. é


sensível ao calor (fervura e pasteurização), a cal, ao cloro, cresol e formol (OTA,
2013).
Transmissão
As fontes de infecção da tuberculose são os animais doentes ou portadores,
como os bovinos, bubalinos e o homem. Os bacilos são eliminados por meio de tosse,
espirro, corrimento nasal, leite, urina, fezes, sêmen, secreções vaginais e uterinas
(GARCIA e MARTINS, 2008).
Primariamente as vias de infecção da tuberculose bovina são respiratória,
pela inalação da bactéria, e digestória, pela ingestão. A ingestão é mais comum em
bezerros, onde a fonte de infecção é o leite, forragem ou água contaminados; no
homem, com a ingestão de produtos lácteos não fervidos ou pasteurizados (SILVA
NETTO, 2007.).
As portas de entrada do agente etiológico da brucelose tanto nos animais,
quanto nos humanos, são a boca e mucosas. Enquanto as vias de eliminação são o
sistema urogenital e glândulas mamárias. Já as vias de transmissão são capim
contaminado, lóquios fetais, fetos abortados, leite não pasteurizado, urina e sangue
(LAGE et al., 2008).
Sintomas
Os sintomas da tuberculose pulmonar no homem são compatíveis com os de
uma doença infecciosa, de curso geralmente crônico, no qual se destacam febre
vespertina, emagrecimento, fadiga, dor no tórax, sudorese noturna, astenia, e em sua
forma clínica mais prevalente, tosse com expectoração, que pode evoluir para
escarros sanguíneos e hemoptise (BRASIL, 2017).
Nos bovinos, a lesão pulmonar primária é muito similar à lesão que ocorre no
homem, com a formação de necrose caseosa. Na ocorrência de sepse, a necrose
caseosa pode ocorrer em outros órgãos. Os sinais vistos nos bovinos são dispnéia,
tosse, febre, emagrecimento, diarréia e debilidade em geral (SANTOS e LIMA, 2017).
Os sintomas da brucelose são inespecíficos, podendo atingir qualquer órgão
ou tecido do organismo. Mas as principais características da brucelose bovina são,
abortamento no terço final da gestação, retenção de placenta, nascimento de
natimortos, nascimento de bezerros fracos ou debilitados e queda na produção leiteira
(PESSEGUEIRO; BARATA; CORREIA, 2003).

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Prevenção
No homem, as principais medidas de prevenção e controle da tuberculose
são: vacinação BCG para crianças, quimioprofilaxia, saneamento de rebanhos
bovinos infectados e a ingestão de leite fervido ou pasteurizado (BRASIL, 2019).
Nos bovinos as ações apoiam-se na instalação do diagnóstico precoce com a
aplicação da prova tuberculínica intradérmica e no sacrifício dos animais tuberculina-
positivos. A vacina BCG não é aplicada em bovinos devido ao baixo efeito protetor e
por interferir no teste tuberculínico (ABRAHÃO, 1999).
A principal forma de prevenção da brucelose em animais, é com vacinação,
para estirpes de B. abortus, B. canis, B. suis e B. melitensis (MEIRELLES-BARTOLI,
SOUSA e MATHIAS, 2014). Segundo Corbel (1997), ainda não foi encontrada
nenhuma vacina eficaz e segura para os humanos, em se tratando de animais
doentes, a medida preventiva mais eficaz é a separação e abate.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tanto a tuberculose, quanto a brucelose, são zoonoses de grande importância
pelo grande impacto causado na produção animal. O conhecimento das
características dos agentes etiológicos, dos meios de transmissão, sintomas e
prevenção, são importantes para que haja controle e erradicação das doenças, sendo
o médico veterinário, responsável por essa ação para prevenção e gerenciamento
necessários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Considerações gerais e a importância dos reservatórios animais. Arct. Vet. Science, [S.I.]. v. 4, p. 5-
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RETROSPECTIVA DA INCIDÊNCIA E LEGISLAÇÃO


VIGENTE DE MORMO NO BRASIL
RETROSPECTIVE OF THE INCIDENCE AND LEGISLATION
CURRENT OF MORMO IN BRAZIL

Giovanna Dutra Souza*¹; João Gabriel Salomão Esteluti¹; Fernanda Bovino²


¹Discente de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina (FEA);
²Docente de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: O mormo é considerado uma doença infectocontagiosa, de caráter crônico


ou agudo, que acomete principalmente os equinos e pode também ocorrer no homem,
carnívoros e eventualmente pequenos ruminantes. É uma zoonose causada pela
bactéria Burkholderia mallei, vista como a enfermidade mais antiga dos equinos,
descrita no Brasil pela primeira vez em 1811. Animais infectados ou portadores
assintomáticos representam o grupo de importância como fonte de infecção. Sua
transmissão pode ocorrer pelas vias respiratória, genital e cutânea. Para que ocorra a
transmissão é necessário contato com exsudato contaminado, e sua propagação pelo
ambiente se dá pelos alimentos, como forragens, água, fômites, e principalmente por
bebedouros e cochos. Os sinais clínicos mais frequentes incluem febre, tosse e
corrimento nasal. Na forma aguda da doença a morte por septicemia ocorre em
poucos dias já na fase crônica a manifestação se divide em nasal, pulmonar e cutânea.
Atualmente não existe nenhum tratamento ou vacina eficaz contra a bactéria, sendo
recomendado como medidas profiláticas e controle, coibir propriedades com focos
comprovados para saneamento e sacrifício imediato de tais animais positivos à
enfermidade. Casos da doença ainda persiste no Brasil, com casos mais recentes nas
regiões Sudeste e Nordeste. O Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos reforça
a vigilância e controle de propriedades, e propõe novas ações para controle e
erradicação do mormo, pelo fato de existir focos no ainda no país, é necessário que o
plano de controle seja seguido de maneira metódica.
Palavras-chave: Burkholderia mallei. Eutanásia. Zoonose.

INTRODUÇÃO
O mormo, também conhecido como catarro de burro, catarro de mormo,
lamparão, garrotilho atípico e cancro nasal, é uma doença é causada pela bactéria
Burkholderia mallei (SAID et al., 2016).
É uma zoonose infectocontagiosa, piogranulomatosa (inflamação de caráter
purulento), caracterizada por lesões respiratórias, linfáticas e cutâneas em equídeos,
pode ser transmitida através de secreções de animais contaminados, por água e
alimentos contaminados, ou ainda inalação de partículas em suspenção. O mormo é
responsável por alta taxa de mortalidade em equídeos (FONSECA et al., 2010). O
fluxo de portadores assintomáticos para comercialização, reprodução e práticas

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esportivas é a mais importante forma de disseminação da doença entre as criações


de equídeos (KHAN et al., 2013).
A primeira descrição no Brasil ocorreu em 1811 (LANGENEGGER et al.,
1960), e foi introduzida provavelmente por animais infectados provenientes da Europa
(PIMENTEL, 1938), desencadeando verdadeiras epizootias em vários pontos do
território nacional, vitimando muares, cavalos e humanos que adoeceram com
sintomatologia de catarro e cancro nasal.
A respectiva revisão tem como objetivo relatar a incidência de mormo no
Brasil, desde seu primeiro caso até os mais recentes confirmados, e as exigências da
legislação vigente de controle.

REVISÃO DE LITERATURA
No Brasil, os registros datam no final do século XIX, quando ocorreram casos
de mormo tanto em animais de serviço, quanto em humanos do Exército Brasileiro.
As perdas no plantel foram enormes e levaram, inclusive, à contratação de médicos
veterinários franceses para ajudar a controlar os sucessivos surtos (MORAES, 2011).
Após vários relatos da ocorrência da enfermidade em equídeos e humanos, a
doença parecia ter sido erradicada no Brasil em 1960. Contudo, em 1999, foi
registrado seu ressurgimento, nos estados de Alagoas e Pernambuco. Desde então,
a ocorrência de casos de mormo vem sendo observada em vários estados do Brasil
(MOTA et al., 2000)
No período entre 2006 e 2015, foram registrados 582 casos de mormo no
Brasil, o que dá uma média de 58 casos por ano. Porém, o número de casos teve um
grande aumento nos últimos cinco anos, passando de 40 em 2011, para 428 em 2015.
Nesse mesmo ano, 19 estados da federação registraram casos de mormo (OLIVEIRA,
2016).
Desde 2005 até 2017 vários casos desta zoonose ocorreram em diferentes
regiões do país, suspeitando-se que a mesma nunca tenha sido erradicada (MOTA et
al., 2000). De janeiro de 2005 até dezembro de 2016, 697 focos de mormo foram
registrados no país, sendo que a região Nordeste deteve 61,4% (428/697) do total e,
nos anos de 2013 a 2016 observou-se um incremento considerável nos casos da
enfermidade no Brasil, especialmente na região Nordeste (FONSECA-RODRÍGUEZ;
JÚNIOR; MOTA, 2019).

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A ocorrência de casos somente na região Nordeste pode ser justificada pelo


elevado número de equídeos que ainda são utilizados para o transporte da cana-de-
açúcar e, que não recebem o manejo sanitário correto, além de serem alocados em
ambientes coletivos com pouca ventilação e alta umidade, favorecendo a
disseminação da bactéria (SILVEIRA et al., 2013).
Foram recebidas 1073 amostras para diagnóstico de mormo no período de
janeiro de 2018 a abril de 2019. O estado da Bahia foi responsável pela maior
demanda de envio, totalizando 64,86% das amostras, seguido pelo estado de Minas
Gerais com 30,7%. Detectou-se uma frequência de casos confirmados de mormo de
0,74% e, considerando a exclusividade de casos positivos no estado da Bahia, a
frequência neste estado foi de 1,14% (8/696) (CARVALHO et al., 2019).
No Estado de São Paulo não haviam registros da doença desde a década de
1960, sendo diagnosticada novamente em 2008, em um equino na zona urbana do
município de Santo André, proveniente do estado de Pernambuco. Desde então, a
legislação sanitária estadual passou a exigir o exame negativo de mormo para o
trânsito de equídeos em todo o estado por seis meses. Em abril de 2013 surgiu um
caso em um equino, em um centro de treinamento no município de Araçariguama. A
partir desse episódio a legislação foi alterada e exigi novamente o exame negativo
para o mormo para trânsito de equídeos no estado (CDA/SAA, 2013).
Os equídeos de todas as idades e sexos são susceptíveis a infecção, tendo
maior probabilidade de ocorrer quando o animal é submetido a condições
predisponentes como estresse, má alimentação e habitação em ambientes
contaminados. Nos países onde os equídeos são utilizados como animais de tração,
os prejuízos econômicos são consideráveis, incluindo a perda pela morte e a
manutenção de animais debilitados e impróprios ao trabalho (MOTA et al., 2000).
Os sinais clínicos mais frequentes incluem febre, tosse e corrimento nasal. Na
forma aguda da doença a morte por septicemia ocorre em poucos dias. A fase crônica
da doença é caracterizada por três formas de manifestação clínica: a nasal, onde
observa-se lesões nodulares na mucosa que evoluem para ulceras; a pulmonar,
caracteriza-se por pneumonia crônica com tosse, epistaxe, respiração laboriosa e
dispneia, febre, apatia e caquexia também podem ser observados; e a cutânea, com
presença de nódulos endurecidos ao longo do trajeto dos vasos linfáticos,
principalmente na região abdominal, costado e na face medial dos membros

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posteriores, cujos nódulos podem tornar-se flácidos, fistular conteúdo purulento.


Porém estas formas não são distintas, podendo o mesmo animal apresentar todas
simultaneamente (GALYOV et al., 2010).
A Portaria SDA n° 35 define que os testes de triagem são o de Fixação de
Complemento (FC) e o ELISA, e prevê que todos os laboratórios oficiais, públicos ou
privados poderão adotar a prova de ELISA (indireto ou competição) como prova de
triagem. A prova de FC será utilizada apenas para trânsito internacional, conforme
regulamentação da OIE. Para o exame confirmatório daqueles exames diferentes do
resultado negativo na prova de triagem, serão retestados pelo método complementar
Western Blotting (WB) nos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária. Este
protocolo, combinando ELISA e WB, reduz a praticamente zero os falsos positivos,
bem como os inconclusivos. Ressalta que os exames de triagem (ELISA e FC) são
determinantes de eutanásia dos equídeos com resultados diferentes de negativo,
apenas com exame confirmatório WB positivo (PORTARIA SDA, 2018).
O Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE) propõe ações de
Vigilância e Defesa Sanitária Animal. De acordo com a Instrução Normativa n° 6, de
16 de janeiro de 2018, as normas para erradicação e controle do mormo baseiam-se
na interdição e regime de saneamento em propriedades com um ou mais animais
diagnosticados com mormo, cuja suspensão da interdição só ocorrerá após o
sacrifício dos animais positivos e a realização de dois exames de FC sucessivos de
todo plantel, com intervalos de 21 a 30 dias, com resultados negativos no teste de
diagnóstico (BRASIL, 2008; BRASIL, 2018).
Animais testados positivos deverão ser sacrificados e em seguida feita a
incineração ou enterro dos cadáveres no próprio local assim como de todos os
materiais utilizados nas instalações. Como controle deve-se realizar a desinfecção das
instalações e fômites, desinfecção de veículos e equipamentos (cabrestos, arreios e
outros), abolição de cochos coletivos, aquisição de animais de áreas livres; uso de
equipamentos de proteção individual pelas pessoas que manipulam esses animais,
controle de trânsito interestadual com exame negativo de mormo dentro do prazo de
validade de 60 dias, e notificação da suspeita de foco (BRASIL, 2018).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mormo é uma zoonose grave, presente no Brasil desde o ano de 1811 até
os dias atuais. Os maiores focos estão presentes nas regiões Nordeste e Sudeste do
país. A legislação vigente de controle e erradicação da doença define novos testes,
como o ELISA e o Western Blotting para triagem e confirmação, respectivamente. O
uso desses meios diagnósticos reduz os resultados falso positivos e inconclusivos
tornando mais preciso e eficiente o diagnóstico. É de suma importância a realização
de medidas de controle para evitar ainda mais a propagação da doença no país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sanidade dos Equídeos -PNSE, no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
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MORAES, D. D. A. Prevalência de mormo e anemia infecciosa equina em equídeos de tração do
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2013.

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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ANEMIA INFECCIOSA EQUINA – REVISÃO DE


LITERATURA
EQUINE INFECTIOUS ANEMIA VIRUS -LITERATURE REVIEW

Juliana Pupo Teixeira*1; Natália Frizzeira Moreira1; Fernanda Bovino2


1Discente de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina (FEA);

²Docente de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina;


*[email protected]

RESUMO: A anemia infecciosa equina é uma doença infectocontagiosa que acomete


os equídeos, cuja transmissão ocorre entre os animais saudáveis e infectados pelo
contato sanguíneo ou de secreções, e também pela via intra-uterina ou pela picada
do mosquito hematófago. É importante conscientizar a realização de exames dos
equídeos da propriedade, como hemograma para triagem de suspeitos e Teste de
Coggins (IDGA) para identificação de animais positivos. O médico veterinário
responsável pela coleta e realização dos exames deve ser credenciado no Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento, e seguir um regulamento específico(Artigos
18 e 53 do anexo I do Decreto 8.852 de 20 de setembro de 2016, tendo em vista o
disposto no Decreto 5.741 de 30 de março de 2006, na Instrução Normativa MAPA nº
57, de 11 de dezembro de 2013, e o que consta do Processo nº 21000.003588/2015-
18). Como não há tratamento, a principal recomendação é a prevenção intensa.
Palavras-chave: Lentivírus. Hematócrito. Teste de Coggins. IDGA.

INTRODUÇÃO
O vírus da anemia infecciosa equina (AIE) faz parte da família do Retrovírus,
do gênero Lentivírus e é considerada uma doença de alcance mundial (LEROUX et
al., 2004).
Essa doença foi descrita pela primeira vez no Brasil em 1967 (SILVA et al.,
2001),e desde então se tornou um impedimento para o desenvolvimento da
equideocultura, por ser de fácil propagação e incurávele provocar grandes prejuízos
econômicos (ALMEIDA, 2006).
O homem se torna o principal personagem da cadeia de transmissão, muitas
das vezes por falta de informação, expondo o animal a utensilios contaminados, não
realizando controle de insetos hematófagos e deixando de fazer exames em suas
tropas (SILVA et al., 2001).
O cavalo infectado pode desenvolver sinais clínicos em 15 a 60 dias após a
infecção, e muitas vezes se tornam assintomáticos. A alternativa é um precoce

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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diagnóstico e realização de métodos preventivos para diminuir possíveis reicindências


(SILVA et al., 2001).
O objetivo da revisão é explanar sobre a anemia infecciosa equina, incluindo
sintomatologia, diagnóstico e prevenção.

REVISÃO DE LITERATURA
A transmissão do vírus da AIE ocorre através do contato de um cavalo sadio
com um sangue contaminado, através do vetor hematófago(tabanídeo -“Tabanus
sp.”ou mosca-dos-estábulo - “Stomoxys calcitrans”), ou por fômites (agulhas,
utensílios, esporas, freios), ou ainda por meio da transmissão vertical, como intra-
uterina, leite materno ou sêmen (Figura 1) (CAVALCANTE, 2009).

Figura 1- Adaptado de:https://www.mapa.gob.es/es/ganaderia/temas/sanidad-


animal-higiene-ganadera/sanidad-animal/enfermedades/anemia-infecciosa-
equina/anemia_inf_equina.aspx#prettyPhoto

Sua manifestação clínica pode se expressar de diferentes maneiras, em casos


agudos e subagudos é caracterizado por febre intermitente, fraqueza, anorexia, até
morte com 10 a 30 dias depois do início dos sintomas. Já em casos crônicos, a febre
pode permanecer por um a sete dias, e retorna ao basal após algumas semanas,
principalmente se o animal estiver em condições de estresse e má-nutrição
(THOMASSIAN, 2005).

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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O diagnóstico inicial é clínico observando o histórico do animal e da


propriedade. Posteriormente, é realizado o exame laboratorial, que incluihemograma
para contagem de hemácias (THOMASSIAN, 2005). A maior parte do animais que se
apresentam como assintomáticos e não manifestam sinais clínicos da fase aguda ou
crônica, deste modo, a realização rotineira de hemograma pode auxiliar na suspeitade
que o animal estar infectado (FIORILLO, 2011).
Nos quadros graves de AIE, o hemograma é caracterizado por 2 a 4milhões

de hemácias/mm3,12% de hematócrito e 4 a 5% de hemoglobina. Também pode ser


observado quadros de leucopenia por neutropenia, com linfocitose relativa.
Entretanto, o diagnóstico definitivo é realizado pela prova de imunodifusão em Ágar
Gel (IDGA), denominado prova de Coggins (THOMASSIAN, 2005).
A coleta de sangue é realizada por venopunção jugular, utilizando seringas,
agulhas e tubos limpos e estéreis para que não haja contaminação do material. O
sangue coletado deve ser armazenado em tubo sem EDTA e com a identificação do
animal. O material deve ser enviado à um laboratório autorizado onde será realizado
o teste de IDGA. Anexo ao material, deve conter a resenha devidamente preenchida
pelo médico veterinário responsável e o resultado será encaminhado de volta para o
mesmo. Em caso positivo, este deve imediatamente comunicar ao MAPA para que
sejam tomadas as devidas providências (FRANCO,2001; HEIDMANN, 2012).
Destaca-se que o médico veterinário responsável por realizar a coleta e os
exames laboratoriais deve ser credenciado no Ministério da Agricultura e do
Abastecimento (MAPA, 2004).
O teste de IDGA é específico e de fácil execução. Consiste na migração de
um antígeno comercial e os anticorpos do soro do animal para o gel, um meio semi-
sólido para que precipite. A prova detecta anticorpos precipitantes que são exclusivos
e identificado entre 14 e 45 dias de infecção. Ressalta-se que no período inicial, a
doença não é detectada e pode se observar reações cruzadas com outros vírus do
gênero Lentivirus (NAKAJIMA, 1974).
A Instrução Normativa nº52 (MAPA, 2018), determina um novo critério de
diagnóstico para a AIE utilizando a técnica de ensaio imunoenzimático ELISA pelos
laboratórios. Deve ressaltar que os testes positivos para ELISA deverão ser
submetidos à técnica do IDGA em triplicata e só assim emitir o relatório de ensaio
definitivo.

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Sempre que houver diagnóstico positiva da doença em uma propriedade, é


necessária a separação e isolamento de animal positivos, com distância de 200
metros dos animais negativos, prevenindo a transmissão vetorial. O grupo negativo
deve ser testado periodicamente, a cada três ou quatro meses, passando para cada
seis meses em casos de dois testes negativos consecutivos. Posteriormente, a cada
dois anos (MAPA, 2004).
O animal, uma vez que confirmado positivo, deverá ser obrigatoriamente
sacrificado conforme as normas do Programa de Nacional de Sanidade de Equídeos
(PNSE) do Ministério da Agricultura, a não ser que o mesmo viva em regiões
pantaneiras às quais a doença é endêmica. Nos casos de animais positivos que vivem
nessas regiões, devem ser seguidos os protocolos de controle da doença entre os
animais da propriedade (FRANCO, 2001; HEIDMANN, 2012).
Segundo a Instrução Normativa 45/2004 do MAPA, as propriedades onde
estão os animais positivos são considerados focos da doença e o PNSE determina as
seguintes medidas:
Deve ser realizada a investigação epidemiológica e marcação dos equídeos
portadores da AIE com a letra “A” do lado esquerdo na paleta, contido em um círculo
de 8 cm, seguido da sigla da Unidade Federal. Optar preferencialmente pelo
isolamento seguido de sacrifício, e realizar exames para diagnóstico de todos animais
da propriedade. Desinterditar a propriedade depois de realizado dois exames com
resultados negativos consecutivos, intervalos de 30 a 60 dias. Também deve-se
submeter a exames os animais que se encontrarem na área perifocal.
Já no caso de potros que nasceram de éguas positivas, as recomendações
são fazer exame de confirmação na égua, e obter amostras de sangue venoso
periférico do potro pré e pós amamentação para sorologia. Deve-se manter o potro
com a mãe em afastamento de outro animais, e colher sangue seriado em intervalos
de 4-6 semanas. Se o potro apresentar uma quantidade decrescente de anticorpos e
nenhuma evidência do vírus, este deve ser desmamado aos 4-5 meses de idade, e
também mantido em quarenta por 45 dias mesmo após desmamado e longe de outros
animais, e permanecer assim até o teste com resultado negativo.
Como não há tratamento, a prevenção ainda é a melhor alternativa para
combate da doença, realizando testes na tropa, manejo sanitário na propriedade e
isolamentocorreto dos animais doentes (THOMASSIAN, 2005).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A anemia infecciosa equina é um desafio dentro da medicina veterinária pois
continua acometendo muitos animais e ocasiona graves impactos sanitários e
financeiros na propriedade. O diagnóstico rápido e preciso através da prova de
Coggins é o melhor método identificação da enfermidade, sendo necessário a
imediata instituição das recomendação do regulamento específico, destacando a
interdição da propriedade e eutanásia do animal positivo (Artigos 18 e 53 do anexo I
do Decreto 8.852 de 20 de setembro de 2016, tendo em vista o disposto no Decreto
5.741 de 30 de março de 2006, na Instrução Normativa MAPA nº 57, de 11 de
dezembro de 2013, e o que consta do Processo nº 21000.003588/2015-18).

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MASTITE: RESISTÊNCIA À ANTIBIOTICOTERAPIA


MASTITIS: RESISTANCE TO ANTIBIOTICTHERAPY

João Gabriel Salomão Esteluti*¹; Giovanna Dutra Souza¹; Fernanda Bovino²


¹Discentes de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina;
²Docente de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina.
*[email protected]

RESUMO: A mastite é um dos principais obstáculos na bovinocultura leiteira, pois


acarreta grandes prejuízos econômicos devido à queda causada na produção do
rebanho. Esta consiste em um processo inflamatório da glândula mamária que leva a
alterações físicas, químicas e bacteriológicas no tecido glandular, trata-se de uma
doença multifatorial, com diversos patógenos envolvidos. Um dos principais
problemas, é sua prevalência silenciosa, ou seja, em sua forma subclínica, onde a
mesma representa uma maior incidência quando comparada a sua forma clínica.
Possui como principal agente infeccioso bactérias do gênero Staphylococcus spp. que
apresenta um alto índice de resistência aos antibióticos utilizados no tratamento dessa
enfermidade. A resistência aos antibióticos pronuncia-se devido a mutações de seus
genes ou por meio da aquisição de genes de resistência de outras bactérias, da
mesma espécie ou não. A mastite pode ocasionar também problemas a saúde pública,
decorrente dos resíduos de antibióticos, toxinas e bactérias que são eliminadas no
leite, causando prejuízos as indústrias lácteas. A utilização do antibiograma para
aferição de sensibilidade é fundamental para um tratamento de sucesso. Para poder
diminuir esses problemas gerados pela mastite é necessário reduzir as infecções
presentes no rebanho e acima de tudo prevenir que novas infecções se instalem na
propriedade.
Palavras-chave: Antibiótico. Inflamação. Glândula mamária.

INTRODUÇÃO
De acordo com a FAO (Organização para ações Unidas para Agricultura e
Alimentação), últimos dados publicados referentes a 2017, o Brasil ocupa o terceiro
lugar entre os países produtores de leite, com produção média é de 33,5 milhões de
tonelada por ano (FAO, 2017). Uma das principais doenças responsáveis pelo
comprometimento da rentabilidade da pecuária leiteira é a mastite, devido ao fato de
levar a redução da produção, alterar a composição físico-química do leite (KREWER
et al., 2013). Além disso, a doença apresenta um risco a saúde pública, devido à
veiculação de patógenos e suas toxinas, ou pela presença de resíduos de antibióticos
no leite (COSTA et al., 2013).
A mastite é definida como uma inflamação da glândula mamária que causa
alterações no tecido glandular e/ou físicas, químicas e bacteriológicas (OLIVEIRA et

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al., 2011). Existem vários agentes envolvidos nas mastites, entre eles, estão:
bactérias, algas, fungos e vírus (LANGONI, 2013).
Dentre os microrganismos encontrados, as bactérias são responsáveis por 80
a 90% dos casos de mastite, sendo que 95% das infecções são originadas por
Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Streptococcus dysgalactiae,
Streptococcus uberis e Escherichia colli (RODRIGUES, 2009). Bactérias do gênero
Staphylococcus spp. estão entre os principais agentes etiológicos da mastite bovina e
são frequentemente resistentes aos antimicrobianos, em especial aos beta-
lactâmicos, limitando assim, a escolha do antibiótico para o tratamento das infecções
causadas por este agente (COELHO et al., 2009).
A mastite pode se apresentar de duas formas, a mastite clínica, quando as
alterações são visíveis macroscopicamente (rubor, aumento da sensibilidade ao tato
e presença de grumos ou flocos no leite) e mastite subclínica, quando as alterações
não são visíveis a olho nu e necessita de testes de campo como o “California Mastitis
Test” (CMT) ou de laboratório como a contagem direta ou eletrônica de células
somáticas (ACOSTA et al., 2016). O aparecimento de cepas multirresistentes a
antibióticos tem dificultado o tratamento dessas infecções, então, a análise
antimicrobiana in vitro deve ser empregada pelos proprietários rurais para auxiliar a
reduzir perdas na produção leiteira (ZANETTE et al., 2010).
O antibiograma é um teste que possibilita obter resultados padrões de
resistência e suscetibilidade de uma bactéria específica a antimicrobianos. A aferição
de sensibilidade é fundamental, para a segurança no momento do tratamento
(COSTA, 2010).
A presente revisão visa abordar a importância da resistência aos principais
antimicrobianos utilizados nos tratamentos de mastite, causadas principalmente por
Staphylococcus spp.

REVISÃO DE LITERATURA
Um aspecto de vital importância no controle da mastite refere-se à resistência
dos patógenos aos antimicrobianos, gerados pelo uso indiscriminado dos mesmos
sem o conhecimento da susceptibilidade dos agentes patogênicos, não só pela
dificuldade no êxito do tratamento da doença ocasionando falhas no tratamento, como

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também pelo alto risco que representa para a saúde pública pela presença de toxinas
e resíduos antibióticos (ACOSTA et al., 2016; GIRARDINI et al., 2016).
Para Saeki et al., (2011) o gênero Staphylococcus, está presente em 74,6 %
dos casos de mastite. Alguns estudos relacionados à mastite bovina demonstraram
que os microrganismos de origem contagiosa são os mais prevalentes, e entre esses,
o gênero Staphylococcus spp., destaca-se novamente (LOPES; LACERDA; RONDA,
2014).
Bactérias do gênero Staphylococcus spp. são frequentemente resistentes aos
antimicrobianos, especialmente aos beta-lactâmicos, como ampicilina e penicilina.
Seu uso inadequado no tratamento de mastite pode selecionar cepas resistentes e
comprometer a eficiência do tratamento. Isso ocorre principalmente por dois
mecanismos distintos: a produção da enzima extracelular beta-lactamase que inativa
o princípio ativo, e a produção de uma proteína ligante de penicilina de baixa afinidade
(MENDONÇA et al., 2012; SPINOSA et al., 2011). A resistência do S. aureus aos
antibióticos são expressas devido a mutações de seus genes ou por meio da aquisição
de genes de resistência de outras bactérias, da mesma espécie ou não (RATTI;
SOUZA, 2009).
Em um estudo realizado no Distrito Federal e entorno, com intuito de identificar
sensibilidades do gênero Staphylococcus sp., através da realização do antibiograma
foi possível traçar um perfil de resistência dos diferentes antibióticos testados. As
bases farmacológicas que tiveram uma maior porcentagem de S. aureus resistente
neste estudo foram: penicilina (71,2%), ampicilina (52,9%) e enrofloxacina (39,9%).
Já as bases que apresentaram alta sensibilidade foram a gentamicina (79,8%),
neomicina (76,9%), norfloxacina (76,9%), cefalexina (74,1%), cefazolina (74,1%),
lincomicina (74,1%), oxacilina (74,1%), tetraciclina (74,1%), tobramicina (74,1%),
ceftiofur (71,2%) (ANDRADE, 2012).
Em rebanhos leiteiros pequenos, como descrito em Minas Gerais, não
encontraram resistência das linhagens isoladas de S. aureus para nitrofurantoína e
associações de: neomicina, bactracina e tetraciclina (NBT); e penicilina, nafcilina e
dihidroestreptomicina (PND). Baixos índices de resistência foram encontrados no
grupo das cefalosporinas (0% para cefquinoma, 0,28% para cefalotina e 0,40% para
ceftiofur) e no grupo dos aminoglicosídeos (1,69% para gentamicina e 3,35% para

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neomicina). No entanto, foi observada resistência aos beta-lactâmicos (80,92% para


ampicilina e 80,45% para penicilina) (COSTA et al., 2013).
Em relação à sensibilidade in vitro frente aos antimicrobianos testados, Kaiser
et al. (2015) obtiveram resultado, em que o S. aureus apresentou maior sensibilidade
in vitro à tetraciclina (79%) e à cefalotina (78%) e menor sensibilidade aos antibióticos
ampicilina (56%), penicilina (45%) e eritromicina (29%), isso ocorreu na região
noroeste do estado de Rio Grande do Sul.
A sensibilidade antimicrobiana das amostras de S. aureus isoladas por Bonora
e Rossi (2015) em Santa Catarina foram: 0% para penicilina, 19% para ampicilina e
11% para eritromicina. Avaliando o perfil de sensibilidade de 83 amostras de S. aureus
em rebanhos leiteiros do município de Garanhuns-PE, região mais importante de
produção leiteira do estado de PE, Silva et al. (2012) encontrou baixas taxas de
sensibilidade para penicilina G (5%) e ampicilina (12%) e, as amostras foram sensíveis
à tetraciclina (93%) e cefalotina (100%).
De acordo com os estudos acima descritos, em todas as regiões em todas as
regiões do Brasil observa-se que a penicilina, ampicilina, amoxicilina e neomicina são
os antimicrobianos para aos quais os microrganismos causadores de mastites em
ruminantes apresentam maior resistência (ACOSTA et al., 2016). As variações nos
perfis de resistência dos isolados microbianos entre rebanhos e no próprio rebanho
podem ocorrer, o que justifica a necessidade de monitoramento periódico do perfil de
susceptibilidade dos diferentes micro-organismos envolvidos na etiologia da mastite
bovina. Assim, é possível acompanhar evolução dos índices de resistência e
adequação terapêutica (COSTA et al., 2013).
Avalia-se que para cada caso de mastite clínica, existam entre 15 a 40 casos
de mastite subclínica, portanto, diminuir a duração dessas infecções é um importante
artifício para o tratamento da mastite (SIMÕES; OLIVEIRA, 2012).
A identificação destes microrganismos evidencia a carência de adoção de
boas práticas de higiene, pois são agentes comuns de mastite contagiosa. A
transmissão da mastite contagiosa ocorre principalmente durante a ordenha, devido
ao pré-dipping ineficaz, ou a utilização de toalhas usadas em comum para todos os
animais no momento da secagem dos tetos (LANGONI, 2013).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prevenção, através da higiene é o ponto-chave para a limitação da mastite.
A alta prevalência da doença nos rebanhos, bem como o alto custo dos tratamentos
instituídos, juntamente com os prejuízos e perdas na produção, justificam a
necessidade de instituir programas relacionados à sua prevenção e controle. Sabendo
que o principal causador da enfermidade é o gênero Staphylococcus sp., recomenda-
se a pratica de antibiograma, o que torna mais eficiente a seleção de antibióticos a ser
utilizado no tratamento, mediante o resultado obtido. Porém, nem sempre é de fácil
acesso para todos produtores.
O uso errôneo dos antibióticos eleva os índices de resistência, a prática do
uso indiscriminado sem o conhecimento adequado do campo de atuação do mesmo
proporciona um tratamento ineficaz. Antimicrobianos de rotina como penicilina,
tetraciclina e ampicilina já não são mais eficazes em tratamentos simples da doença,
mesmo adotando todas a medidas de boas práticas na produção, ressalta-se a
importância de um manejo adequado na associação e escolha dos antibióticos a
serem usados para o tratamento, assim evita-se a possibilidade de resistência em um
rebanho.

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DIARRÉIA VIRAL BOVINA: INTERFERÊNCIA E PREJUÍZO


NA BOVINOCULTURA DE CORTE
BOVINE VIRAL DIARRHEA: INTERFERENCE AND LOSS IN
CUTTING CATTLE

Henrique Franco Arsenio ¹; Dalila Azevedo Abrantes¹; Whelerson Luiz Vitro²


¹Discentes do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO A Diarréia Viral Bovina (BVDV) ou doença nas mucosas, como é conhecida,
varia de infecções agudas transitórias à permanentes. Em algumas ocasiões, as
infecções agudas podem levar a episódios clínicos de diarréia, agalactia, infertilidade
e em bezerros, principalmente, causar doenças respiratórias. A infecção venérea
mostra-se importante na transmissão viral, causando infecções fetais e congênitas
levando a abortos, malformações e desenvolvimento de bezerros persistentemente
virêmicos. O maior interesse em qualquer invasão do trato urogenital pelo BVDV é a
possibilidade de infecção congênita subsequente. Esse risco é maior com o animal
persistentemente virêmico. Infecções agudas do trato urogenital de bovinos
soronegativos com BVDV podem produzir doenças clínicas e podem ser uma causa
maior de perda para o rebanho nacional, já que os sintomas mais aparentes da doença
não aparecem e o diagnóstico se torna pouco provável, assim o pecuarista continua
com touro disseminando a doença e acarretando perdas econômicas. Com o sistema
de inseminação artificial em tempo fixo (IATF), os exames do sistema genital se
tornaram quase que obrigatórios, e a falta deles podem resultar em prejuízos.
Dependendo de como a BVDV está agindo no organismo, o sêmen do touro é
aprovado por não demonstrar maiores problemas, por exemplo, num exame
andrológico. Nesta revisão iremos abordar os sinais clínicos e como o pecuarista pode
prevenir a doença.
Palavras-chave Bovinocultura de corte. Doenças infecciosas. Infertilidade

INTRODUÇÃO
A família Flaviviridae inclui importantes patógenos humanos e animais. Os
membros desta família são vírus de RNA de fita e envelope positivos que
compartilham semelhanças na replicação e organização do genoma. Eles foram
classificados em quatro gêneros: Flavivírus, Hepacivírus, Pestivírus e Pegivírus. Nesta
revisão vamos abordar o vírus da diarreia viral bovina que pertence ao gênero
Pestivirus, que acomete outros animais e causa diferentes infecções, incluindo o vírus
da peste suína clássica (CSFV) e vírus da doença de fronteira (BDV) de ovinos
(CALLENS et al., 2016).

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O Vírus da Diarréia Viral Bovina (BVDV) emergiu como um dos agentes mais
importantes de doenças infecciosas em bovinos. Sua natureza insidiosa levou a
perdas econômicas substanciais nos setores de leite e carne em nível mundial, até
porque o BVDV foi associado às patologias em vários sistemas, incluindo o
respiratório, hematológico, imunológico, neurológico e reprodutivo (GROOMS, 2004).
Além da eficiência reprodutiva reduzida, o BVDV usa o sistema reprodutivo
para se manter e se espalhar na população bovina, induzindo imunotolerância após a
infecção fetal, resultando no nascimento de bezerros persistentemente infectados (PI)
pelo vírus, que são a principal fonte de disseminação viral dentro e entre fazendas
(VALLE; ANDREOTTI; THAGO; 1998).
Nesta revisão vamos abordar a fisiopatologia da doença, o que se deve fazer
e como preveni-la, a modo de diminuir os prejuízos que podem ser causados na
produção de bovino de corte.

REVISÃO DE LITERATURA
A eficiência reprodutiva é essencial para a manutenção da lucratividade em
fazendas com criação de bovinos de corte (GROOMS, 2004). O vírus da BVDV é um
importante agente infeccioso de bovinos que pode potencialmente ter um efeito
negativo em todas as fases da reprodução (RIBEIRO, 2018).
Taxas reduzidas de concepção, mortes embrionárias precoces, abortos,
defeitos congênitos e bezerros fracos têm sido associados à infecção por BVDV em
bovinos (fêmeas e machos) susceptíveis. Além disso, o nascimento de bezerros com
BVDV como resultado da exposição fetal no útero é extremamente importante na
perpetuação do vírus em um rebanho infectado ou na disseminação para outros
rebanhos suscetíveis (CALLENS, 2016).
O mecanismo da fertilidade reduzida não foi totalmente esclarecido ainda,
entretanto, existem algumas explicações sugeridas que incluem: falha na fertilização,
morte embrionária precoce e disfunção ovariana (ADLER, 1996). Os problemas de
fertilidade dos rebanhos também foram associados a sêmen de baixa qualidade,
originário de touros persistentemente infectados pelo BVDV e que não passaram por
exames precedentes (ADASHI, 1990).
A ooforite crônica já foi descrita após infecção aguda pelo BVDV (GROOMS;
KENNY; WARD; 1998). Esses achados podem levar a alterações na função ovariana,

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resultando em uma redução na fertilidade. Estudos anteriores sugeriram que a função


ovariana pode ser alterada em bovinos infectados aguda ou persistentemente com
BVDV (ADASHI, 1990).
A detecção do antígeno do BVDV e uma ooforite associada podem explicar a
fertilidade reduzida em vacas após infecção aguda pelo BVDV. Foi demonstrado que
macrófagos e várias citocinas desempenham papéis importantes na função ovariana.
O fator de necrose tumoral alfa2 e a interleucina são produtos de macrófagos que têm
efeitos importantes no crescimento e diferenciação foliculares (ADLER et al., 1996).
Estudos in vitro identificaram alterações na função de macrófagos após
infecção aguda por BVDV. Alterações nas concentrações de citocinas como resultado
de inflamação ou interrupção da função normal dos macrófagos teciduais podem levar
a uma interferência na dinâmica ovariana normal (KETELSEN; JOHNSON;
MUSCOPLAT; 1979).
Nos touros a fisiopatogenia ainda não é totalmente elucidada, entretanto
estudos indicam que a predileção do vírus no sistema urogenital faz com que haja
uma inflamação no epidídimo, dificultando o processo de maturação dos
espermatozoides. Outros estudos mostram que o vírus da BVDV criou uma relação
positiva no aparelho reprodutivo dos machos ficando viáveis no esperma mesmo
quando o animal está assintomático, por isso a disseminação via monta natural ou
inseminação (THOMPSON et al. 2006).
O teste de ELISA foi estabelecido para a quantificação de anticorpos contra o
vírus da BVDV. As diluições únicas dos soros devem ser analisadas e as unidades de
anticorpo calculadas a partir de uma curva padrão. Para detectar o número máximo
de animais que responderam, os anticorpos IgG1 e IgG2 devem ser analisados,
embora a detecção de IgG1 sozinha tenha sido quase tão eficaz. O ELISA foi tão
sensível quanto o teste de neutralização do vírus para detecção de anticorpos (FRAY;
PATON; ALENIUS; 2000).
A transmissão do BVDV pode ser controlada através de vacinação. A
tecnologia das vacinas vem se desenvolvendo nos últimos 30 anos, mas atualmente
disponíveis ainda são do tipo convencional, com o vírus inativado ou atenuado. Em
geral, a vacinação não é aplicada com rigor suficiente para causar um impacto
significativo no nível do vírus circulante, diferentemente de alguns programas
nacionais e regionais de erradicação (HOWARD; CLARKE; BROWNLIE; 1985).

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A erradicação confere a vantagem adicional de melhorar a saúde do rebanho,


no entanto, também cria uma população de gado susceptível que precisa ser
protegida por rigorosa biossegurança (FRAY; PATON; ALENIUS; 2000).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Práticas de manejo sanitário e nutricional, incluindo eliminação de bovinos PI,
medidas de biossegurança como a escolha da localidade da fazenda, evitando áreas
endêmicas, sistema de criação utilizado, de quais propriedades serão adquiridos os
animais, equipamentos de segurança dos funcionários, o uso estratégico da
vacinação, podem ser implementadas para reduzir o risco de perdas relacionadas ao
BVDV. O desenvolvimento de vacinas e estratégias capazes de fornecer melhor
proteção contra a infecção fetal seria benéfico, pelo ponto de vista de que a
persistência do vírus é uma das principais causas para perpetuar a BVDV na
bovinocultura mundial.

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Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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PROFILAXIA E TRATAMENTO PARA PODODERMATITE


INFECCIOSA EM OVINOS
PROPHILAXIS AND TREATMENT FOR FOOT ROT IN SHEEP

Higor da Silva João*¹; Maria Eduarda Tamboreli1; Fernanda Bovino2


¹Discente do cursos de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); 2 Docente da Faculdade de Medina Veterinária de Andradina (FEA).
* [email protected]

RESUMO: A pododermatite infecciosa em ovinos ou foot rot é uma doença bacteriana,


que acomete os cascos dos ovinos e afeta substancialmente o bem-estar dos animais
acometidos e causa grandes impactos econômicos na sua exploração. A doença
geralmente ocorre em surtos, pois apresenta fácil transmissão, sendo que as bactérias
causadoras, Dichelobacter nodosus e Fusobacterium necrophorum, são encontradas
no solo e assim permanecem no ambiente. As medidas de controle recomendadas
são a adequação no manejo dos cascos, limpeza do ambiente, estabelecimento de
pedilúvios e vacinação. Entretanto, mesmo procedendo com as formas de prevenção
corretamente, a doença ainda pode acometer aos animais. O tratamento é composto
por limpeza e curativo do casco, casqueamento corretivo, isolamento do animal, e uso
de antibioticoterapia. Entretanto, novas pesquisas procuram diferentes possibilidades
de tratamento como, por exemplo, o uso da jurema preta e terapia fotodinâmica.
Palavras-chave: Antibióticos. Foot rot. Vacinas.

INTRODUÇÃO
Pododermatite infecciosa, também conhecida como “foto rot.” ou podridão dos
cascos, é uma doença infecciosa que causa pododermatite associada à necrose
causada por duas bactérias Gram-negativas (Fusobacterium necrophorum e
Dichelobacter nodosus), que afetam a região entre o tecido epidérmico e o estojo
córneo. A D. nodosus acomete a parte superficial da pele causando lesão na epiderme
facilitando a entrada para a F. necrophorum, estabelecendo uma relação de
sinergismo entre elas (RIBEIRO, 2001; VERISSIMO, 2010).
Em geral, a podridão de cascos afeta ambas as unhas em mais de um
membro. O “foto rot.” pode se manifestar de duas formas: a benigna e a virulenta. Na
forma benigna é caracterizada por inflamação e necrose do tecido interdigital. O tecido
córneo fica mole e se separa da pele. Na forma benigna um ou poucos animais são
acometidos. Na forma virulenta, se manifesta como claudicação severa em vários
animais do rebanho, com desenvolvimento anormal de tecido córneo duro e presença
de exsudato fétido (RAILLY; BAIRD; PUGH, 2005; CONSTABLE et al., 2017).

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A forma virulenta é a mais significativa, pois é considerada importante do


ponto de vista econômico na criação de pequenos ruminantes devido ao ônus
causado sobre a produção e a saúde da pecuária. Além do mais, o tratamento e
controle são caros e difícil quando comparado com a forma leve da doença, que não
requer muita intervenção (BITRUS et al., 2017).
Nesta revisão objetiva-se abordar sucintamente algumas formas de
tratamento e formas de prevenção da pododermatite infecciosa nas propriedades de
ovinos.

REVISÃO DE LITERATURA
A pododermatite infecciosa ovina é uma doença contagiosa dos cascos dos
ovinos e outros ungulados. Inicialmente se apresenta como uma dermatite interdigital,
que é seguida por formações de lesões na parede interdigital do casco, com
subsequente separação do estojo córneo (BENNETT; HICKFORD, 2011). Este
processo ocorre pelo sinergismo do D. nodosus com o F. necrophorum (WANI;
SAMANTA, 2005).
O F. necrophorum é uma bactéria normal do solo e fezes e, aparentemente,
contribui para a patogenia do “foto rot.”, pois promove invasão inicial e superficial do
casco que resulta em lesão leve da epiderme, facilitando o estabelecimento do D.
nodosus. E, após o estabelecimento do D. nodosus, ocorre à invasão mais profunda
dos tecidos pelo F. necrophorum resultando no descolamento dos cascos (RIBEIRO,
2010; WANI; SAMANTA, 2005).
Mesmo com os animais apresentando dificuldade em se locomover, muitos
proprietários não procuram auxílio do Médico Veterinário e tentam tratá-los sem
conhecimento. Sendo assim, não recorrem à ajuda profissional para saber se é uma
doença contagiosa que poderá afetar todo o rebanho (HODGKINSON, 2010).
A base do tratamento é o casqueamento adequado dos cascos, geralmente
duas vezes ao ano. A aplicação tópica de antibióticos após o casqueamento melhora
a taxa de cura, e esta pode ser realizada com tetraciclinas ou antissépticos, como:
sulfato de cobre, sulfato de zinco, cetrimida ou formalina 4 a 5%. O tratamento tópico
deve ser associado à bandagem local para assegurar o contato do produto com o
casco afetado (RAILLY; BAIRD; PUGH, 2005).

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Após o tratamento de qualquer animal acometido é correto fazer a


desinfecção do local após o procedimento, pois, o D. nodosus pode ficar no ambiente
por 14 dias, sendo um importante meio de contágio para os animais que não
infectados (HODGKINSON, 2010).
O pedilúvio é o tratamento mais prático e rápido quando há vários animais
acometidos. Os animais doentes devem ser separados dos sadios, e depois de passar
pelo pedilúvio é necessário que fiquem pelo menos 30 minutos com os pés em locais
secos, caso contrário, a solução não apresentará eficácia (RAILLY; BAIRD; PUGH,
2005; HODGKINSON, 2010). Os produtos que podem ser utilizados no pedilúvio e
com eficácia semelhante são: sulfato de cobre 5%, sulfato de zinco 10% e formalina
5% (RAILLY; BAIRD; PUGH, 2005; CONSTABLE et al., 2017).
Em algumas situações, para que ocorra a erradicação da doença dentro de
uma propriedade pode ser necessário o abate de alguns animais. Contudo, a
preocupação em seguir essas normas deve ser de aspecto regional ou local diante da
comercialização dos animais por diferentes propriedades. A doença pode se
manifestar pela entrada de novos animais que já estejam infectados, por isso é
importante que, antes da entrada de um novo animal que este seja examinado e seja
descartada a possibilidade da existência da doença (DHUNGYEL; HUNTER;
WHITTINGTON, 2014).
O tratamento das lesões pode ser realizado com uso de antibióticos,
geralmente de amplo espectro e com ação prolongada. Um dos mais utilizados, com
boa eficácia é a oxitetrataciclina LA (20 mg/kg/IM ou SC), que pode ser ainda
associada ao seu uso por via tópica. A associação por via parenteral e tópica
apresenta bons resultados (BITRUS et al., 2017). O emprego do florfenicol
(20mg/kg/IM; duas doses/48h intervalo) também é capaz de curar lesões severas de
FR, mesmo em época úmida do ano (RIBEIRO, 2010). A amoxicilina também pode
ser uma alternativa eficaz no tratamento. Outra opção é a administração tópica de 1%
de clortetraciclina que promove redução da doença, além de, controlar possíveis
novas infecções, associada à aplicação da amoxicilina parenteral. O tratamento
parenteral e tópico são vistos como a melhor opção em relação ao tratamento isolado
(DUNCAN et al., 2012).
A fotodinâmica antimicrobiana também foi testada nas lesões podais.
Alzamora filho et al. (2018) utilizaram laser de diodo com 0,1W de potência, emissão

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contínua, área do spot de 0,028 cm2 e irradiância de 3,5W/cm2, aplicado sobre a lesão
gaze embebida com 5 mL de solução aquosa de azul de metileno (300 μM), com
tempo de pré-irradiação de 5 minutos e irradiada com laser vermelho (λ = 660 nm),
energia de 9J por ponto de aplicação, fluência/ponto de 321J/cm2 e tempo de
exposição/ponto de 90 segundos. Após o tratamento, o animal teve diminuição da dor
conseguindo colocar os pés, e redução da inflamação com ausência de secreção
depois de um dia. Apesar de um excelente desempenho para tratamento, ainda tem
poucos estudos sobre o uso da fotodinâmica antimicrobiana em casos de “foot rot”,
mas pode ser um tratamento complementar promissor.
Além disso, outras medidas de controle de doenças que provaram ser
eficazes na redução do início e severidade da podridão dos cascos, mas que são
onerosas e de difícil manutenção, incluem: criação seletiva, quarentena, uso de
antibióticos prévios (metafilaxia) e vacinação. Entretanto, mesmo que as medidas de
controle sejam empregadas, poderão ocorrer novos casos da doença na propriedade
(BITRUS et al., 2017).
A vacinação contra o “foot rot” pode aumentar significantemente a resistência
à infecção por um curto tempo e é um importante componente da estratégia de
controle da doença, principalmente, em locais onde o clima e as práticas de manejo
não favorecem o controle. A vacinação em nenhum dos casos será 100% efetiva
(CONSTABLE et al., 2017). No entanto, relata-se alta prevalência de reação a
aplicação da vacina (RAILLY; BAIRD; PUGH, 2005; CONSTABLE et al., 2017).
A aplicação da vacina deve ser feita antes da estação úmida/ chuvosa. São
aplicadas duas doses em intervalo de quatro a seis semanas. A proteção não é
completa e dura apenas um curto período (4 a 16 semanas), sendo assim, a vacina
deve ser feita na época em que há mais casos (RAILLY; BAIRD; PUGH, 2005;
RIBEIRO, 2011).
As primeiras vacinas desenvolvidas em 1969 eram monovalentes e
homólogas, e apesar de terem efeitos terapêuticos, não agiam para sorogrupos
heterólogos, o que levou a discussão sobre as vacinas serem do tipo mono ou
multivalentes, dentro da eficácia esperada. A melhor opção são as vacinas fimbriais
mono ou bivalentes específicas que ajudam a controlar e erradicar a doença, pois não
apresentam competição gênica, sendo que estas devem ser correspondentes ao
sorogrupo identificado no rebanho (DHUNGYEL; HUNTER; WHITTINGTON, 2014).

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Além de ser uma ótima forma de prevenção, a vacinação associada ao antibiótico


demonstra melhores resultados no tratamento (DUNCAN et al., 2012).
A metafilaxia, que consiste na administração parenteral de um antibiótico de
eleição em um grupo de animais, antes do surto esperado da doença é considerada
um método preventivo. Entretanto, nos rebanhos testados no Reino Unido, a
tilmicosina apenas reduziu o aparecimento das lesões de “foot rot”, mas não foi capaz
de eliminar a doença (ANGEL et al., 2016). O uso do Florfenicol avaliado num rebanho
na Alemanha foi capaz de eliminar a doença no período de chuvas (STROBEL;
STAUCH, 2014).
O alto custo do tratamento relacionado a uma possível resistência microbiana
induz a novas formas de tratamento, como os fitoterápicos. Foi testado em lesões
podais de ovinos causados por D. nodosus e F. necrophorum, tratamento tópico com
extrato hidro alcoólico das plantas: Jurema-preta (Mimosa tenuiflora), Jurema
vermelha (Mimosa arenosa), Cajueiro (Anaçariam ocidental Lin.), Angico vermelho
(Parapiptadenia rigida Benth. Brenan) e Quixabeira (Bumelia sertorium Mart). O F.
necrophorum mostrou-se sensível a 10 e 20% da A. occidentale, P. rigida, M. arenosa
e B. sertorium, enquanto que D. nodosus foi sensível a todas as plantas, sendo assim,
o tratamento tópico com o extrato das plantas avaliadas pode ser introduzido nos
estágios iniciais (LIMA; SANTANA; VIEGO, 2010).
A jurema-preta também pode ser associada ao mel em forma de pasta. Essa
mistura foi aplicada em lesões no casco de animais e demonstrou uma redução nas
lesões e maior cicatrização, tendo um ótimo efeito curativo com um menor custo de
tratamento (SANTANA et al., 2008).
O fator genético também pode estar dentre as soluções para a podridão dos
cascos, visto que, raças britânicas tem maior resistência ao desenvolvimento da
doença e apresentam uma melhor resposta a antibioticoterapia. Melhoramentos
seletivos podem desenvolver raças cada vez mais resistentes contra a doença a partir
da criação de um modelo genético (DHUNGYEL; HUNTER; WHITTINGTON, 2014).
A prevenção é o primeiro passo e o mais importante para que a doença não
se instale na propriedade. Atitudes simples, de baixo custo, como por exemplo,
promover a limpeza das instalações, para que o local onde se encontra o rebanho se
mantenha sempre seco e livre de dejetos, utilizar os pedilúvios e o casqueamento
corretivo para manter os cascos sadios. Outra opção também é a vacinação de todo

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rebanho como forma de prevenção, não somente contra a pododermatite infecciosa,


mas também contra outras doenças. Isso pode reduzir em até 100% da doença desde
que, não permaneçam com o mesmo protocolo de vacinação por mais de dois anos,
para evitar resistência dos microrganismos, e elevar consideravelmente os índices de
proteção. O bem estar dos animais é indispensável para o manejo da aplicação, pois
até o estresse pode atrapalhar a eficácia da vacina (VERISSIMO, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diagnóstico precoce da doença facilita o tratamento comumente feito com
uso de antibióticos de amplo espectro, mas a desvantagem é que pode ter alto custo
dependendo do número de animais infectados, por isso o uso de fitoterápicos e
terapias alternativas tem sido estudado. A profilaxia através das vacinas é a melhor
forma do rebanho não contrair pododermatite infecciosa, pois ela estimula uma melhor
resposta imune por mais tempo a partir da realização correta do protocolo. Entretanto,
a vacina sozinha não é única medida de prevenção, a higienização dos ambientes,
casqueamento, quarentenas e outros, são os primeiros passos para erradicação.

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Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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PESTE SUÍNA AFRICANA E SEU IMPACTO NA ECONOMIA


AFRICAN SWINE FEVER AND ITS IMPACT ON THE ECONOMY

Ângela Santos Franceze¹; Amanda Cristina Carvalho Cardoso¹; Camila Motta


Marin Bernardi²
¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: A PSA (Peste Suína Africana) é uma doença viral dos suínos, considerada
atualmente, um dos grandes desafios enfrentados pelo mercado da suinocultura
mundial. Por consequência, tornou-se uma grave ameaça aos produtores de suínos
em todo o mundo desde 2007. Sendo uma enfermidade grave e altamente contagiosa
e com alta taxa de mortalidade. As espécies mais acometidas são suínos domésticos
e selvagens. A suspeita inicial da enfermidade baseia-se, principalmente, na
observação dos sinais clínicos de doença hemorrágica. Testes laboratoriais para PSA,
como diagnóstico diferencial de Peste Suína Clássica (PSC) e o uso de técnicas
laboratoriais, são empregados para a confirmação do diagnóstico. Não existem
vacinas disponíveis. Como medida de controle devido a alta morbidade da doença, se
recomenda o abate sanitário de todo o rebanho. Como a carne suína é uma das mais
consumidas no mercado mundial, por isso devido aos enormes surtos de PSA, sendo
um deles na China, começaram a faltar cortes nobres no mercado e o Brasil começou
a suprir essa demanda, foi observado um aumento de mais de 100% nos preços de
exportação da carne suína brasileira para a China. Estima-se que a China já abateu
cerca de 1,5 milhões de animais na tentativa de controlar os focos em seu território.
No Brasil, o primeiro surto da PSA ocorreu em 1978 e até o presente momento o país
foi declarado livre da doença. Intensas ações de vigilância sanitária e epidemiológica
são fundamentais para que a PSA não volte a atingir a suinocultura brasileira.
Palavras-chave: Exportação. Suinocultura. Viral.

INTRODUÇÃO
A PSA (Peste Suína Africana) é uma doença viral dos suínos, considerada
uma enfermidade letal, capaz de causar grandes prejuízos econômicos, visto que o
maior agravante está no fato de não existir vacinas disponíveis. A PSA foi erradicada
em vários países, exceto nos estados da África subsaariana (LIMA et al., 2017).
A Asfarviridae é considerada uma família de vírus complexa, que apresenta o
seu DNA envelopado, semelhante ao Poxvírus, por acometer espécies de suínos
domésticos, javalis e cruzamentos com suínos domésticos (Quinn et al.,2005; Bastos,
2008 e EMBRAPA, 2019).
A família do vírus possui alta resistência às condições ambientais adversas,
como temperatura baixas, entre 4 °C a 20 °C e um pH ambiental de 3 a 10. Podendo

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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propagar-se por seis meses em alimentos embutidos e carnes congeladas por até
quatro anos. Assim, é imprescindível que a carne identificada com Asfavírus não seja
consumida. A PSA tem sido observada desde o início do século XX no sul e leste
Africano, inicialmente era caracterizada pelos aspectos clínico-patológicos
semelhantes à peste suína clássica (LIMA et al., 2017). Posteriormente, foi observado
que a Peste Suína Africana e a Clássica são enfermidades distintas. A suspeita inicial
da enfermidade baseia-se principalmente na observação dos sinais clínicos de doença
hemorrágica. Contudo, o uso de técnicas laboratoriais, como as moleculares, é
imprescindível para a confirmação do diagnóstico (EMBRAPA, 2019).
Nesta revisão objetiva-se discorrer sobre a Peste Suína Africana e os
impactos causados à economia brasileira e de outros países.

REVISÃO DE LITERATURA
A Peste Suína Africana (PSA) é uma doença grave e altamente contagiosa,
que acomete suínos e se tornou uma perigosa ameaça aos produtores de suínos em
todo o mundo desde 2007. A doença circula na África Subsaariana, onde se acredita
ser a sua origem em javalis silvestres, mas atualmente é um patógeno comum em
suínos domésticos. A PSA é uma doença letal, que preocupa os produtores do mundo
inteiro. As mudanças nas práticas de produção aliadas a crescente globalização
também aumentaram o risco da propagação da doença em outros países. Surtos
ocorreram na Europa, América do Sul e Caribe, e os custos com a erradicação foram
significativos (OLIVEIRA et al., 2014).
A Peste Suína Africana é endêmica na maior parte da África subsaariana
incluindo a Ilha de Madagascar, porém, a PSA também foi relatada fora do continente
Africano. O vírus foi eventualmente erradicado na maioria dos casos, embora
permaneça endêmico na Ilha da Sardenha (Itália) no Mediterrâneo. Em 2007, a PSA
foi introduzida no Cáucaso, região da Eurásia, através da República da Geórgia e se
espalhou para suínos domésticos e javalis em vários países da região. A partir de
2015, as infecções haviam sido relatadas no extremo oeste da Lituânia, Letônia e
Polônia. O vírus que aparentemente originou este surto também foi encontrado em
javalis no Oriente Médio (Irã). Em 2018, o vírus da Eurásia foi detectado na China e
desde então, tem se alastrado a inúmeros países do sudeste asiático, como Vietnam,

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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Mongólia, Camboja, Laos e Coréia do Norte. Javalis silvestres também foram


detectados nessas áreas (OLIVEIRA et al., 2014).
No Brasil o primeiro foco da doença foi notificado em 1978, no estado do Rio
de Janeiro, onde por meio da Portaria nº 543, de 27 de junho de 1978, foram tomadas
medidas para a erradicação da PSA. A partir de 1981, não foram constatados focos
no Brasil (OLIVEIRA et al., 2014). Foram registrados, cerca, de 68 rebanhos e dentre
estes, 17 animais foram diagnosticados como positivos, entre os períodos de 1978 a
1982 em Minas Gerais. Em seguida ao grande susto da população devido à doença,
que obrigatoriamente levou ao enorme número de suínos sacrificados, houve queda
na venda da carne em todo o território brasileiro, que atingiu em torno de 80% do
comércio deste tipo de alimento, mesmo após ser declarado que seu consumo não
afetaria o ser humano (VIANA, 2004).

[... Hoje, o Brasil tem um sistema de vigilância das síndromes hemorrágicas,


que inclui a realização de testes laboratoriais para PSA como diagnóstico diferencial
de Peste Suína Clássica (PSC). O Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) implementou cuidados nas fronteiras importações de
produtos agrícolas e alimentos de países onde a PSA está ocorrendo. caso ocorra
um surto no país, as ações de controle da doença incluem o abate sanitário rápido
de todos os suínos; a eliminação adequada de carcaças e limpeza e desinfecção
completas das instalações; a designação da zona infectada, com controle de
movimentação e trânsito dos suínos; e uma pesquisa epidemiológica detalhada,
com rastreamento de possíveis fontes de infecção e de disseminação, além da
vigilância da zona infectada e da área circundante (EMBRAPA,2019)...]

No ano de 2018 foram produzidas 117 milhões de toneladas de proteína suína,


que é a mais consumida no mundo todo, perfazendo 42,9% do consumo mundial
(DEPEC, 2019). E devido à crescente demanda de consumo, gerou-se também,
grande preocupação com a sanidade dos suínos. Segundo a OIE (Organização
Mundial de Saúde Animal) a ocorrência da doença é de notificação obrigatória,
conforme as leis do Código Zoossanitário Internacional para os Animais Terrestres
(MOURA, 2009).
A doença tem um impacto significativo nos mercados globais, devendo
aumentar suas importações de carne suína em 5,2 milhões de toneladas, com
aumento de 10% no ano de 2019, de acordo com a FAO (Food and Agriculture

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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Organization). Uma das consequências diretas ao mercado brasileiro é o aumento das


exportações de carne de porco em receita, de US$ 647,54 milhões (alta de 30,5%) e,
em volume, 647,54 milhões de toneladas, com um crescimento de 27,3%, descrito no
primeiro semestre de 2019 com relação ao mesmo período do ano de 2018, de acordo
com o Ministério da Economia. A situação é favorável e pode se prolongar por
bastante tempo. Especialistas acreditam que serão necessários entre dois e dez anos
para controlar totalmente o vírus da PSA na Ásia, porque as normas sanitárias e de
biossegurança não são sempre aplicadas na região, sobretudo, se as milhares de
granjas de pequenos produtores não seguirem um manejo sanitário eficiente e
rigoroso (PRESSE, 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os impactos da PSA são gigantescos para os produtores, visto que a doença
tem uma altíssima taxa de mortalidade, podendo chegar a 100% nos suínos
domésticos. Todas as categorias de produção são extremamente vulneráveis ao vírus.
Mesmo que algum animal sobreviva a Peste Suína Africana, ele se torna portador do
vírus e certamente contaminará outros animais sadios do plantel. Por isso, deve-se
estar sempre atento às práticas de manejo sanitárias, priorizando a capacitação da
equipe de produção, e recorrer aos órgãos competentes para manter o plantel livre do
vírus, e evitar que se dissemine para outros plantéis, que vem em crescente expansão,
com significativo aumento no valor do corte nobre da carne de porco brasileira,
aumentando a produção de animais para que os planteis sejam capazes de suprir a
demanda chinesa, valorizando a carne no mercado internacional e gerando lucros a
grandes e pequenos produtores do Brasil.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Pseudomonas aeruginosa. 2008. 52 f. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária).
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Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Carne suína: mercado doméstico ainda
é um gigante a ser conquistado. Disponível em:
<http://www.sistemafaesc.com.br/Noticias/Detalhe/16364>. Acesso em: 28 de Maio, 2020.
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Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.

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CORONAVÍRUS CANINO
CORONAVIRUS CANINE

Samira Adil Ahmad*¹; Gabriela Fagundes da Silva²


¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: O coronavírus canino (CCov), tem grande importância pois infecta cães em todo
o mundo, os filhotes apresentam maior susceptibilidade. O vírus, que não apresenta
aspectos zoonóticos, foi classificado em dois genótipos, CCov-I e CCoV-II, os quais causam
doenças respiratórias, entéricas e generalizadas em animais domésticos. Os cães são
infectados pelas vias oro-fecais, e a replicação viral ocorre nas vilosidades intestinais
provocando diarreia súbita e iniciando suas manifestações clínicas. As principais são:
diarreia, vômito, desidratação, anorexia, febre e letargia. O PCR é o teste diagnóstico mais
sensível e específico para a identificação do patógeno. O tratamento muitas vezes é
baseado no equilíbrio hidroeletrolítico e no controle de possíveis infecções secundárias por
bactérias e parasitas concomitantes. A profilaxia se dá através da vacinação, evitar contato
do cão sadio com outro infectado, e evitar tudo que possa causar imunossupressão no
animal.
Palavras-chave: Gastroenterite viral. Cães. Diagnóstico. Profilaxia.

INTRODUÇÃO
O coronavírus canino (CCoV) foi identificado pela primeira vez na Alemanha
em 1971 com o isolamento do vírus em cães com enterite aguda. No entanto, somente
em 2002, com o surgimento da Síndrome Respiratória Aguda (SARS) em humanos
que ocorreu na China, o interesse pelo CCoV foi renovado e as pesquisas começaram
a surgir (ZUELOW, 2018). Existem quatro gêneros de coronavírus, dentre eles o
Alphacoronavirus e o Betacoronavirus. O coronavírus responsável pela atual
pandemia, o SARS-CoV-2, pertence ao gênero Betacoronavirus. O CCoV que
pertence ao gênero Alphacoronavirus acomete somente cães e não possui aspectos
zoonóticos (BOEHRINGER, 2020).
O CCoV tem sido afiliado a surtos de gastroenterites moderada em cães de
todas as idades, entretanto com gravidade superior em filhotes, principalmente
quando adepto à parvovirose, que além de grave, se torna em muitos casos fatal
(PRATELLI et al., 1999).

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Com base nas cepas de CCoV foram classificados dois genótipos, CCoV tipo
1 (CCoV-I) e CCoV tipo 2 (CCoV-II) (DECARO; BUONAVOGLIA, 2001). As cepas
foram classificadas em dois subtipos, CCoV-IIa (cepas clássicas) e CCoV-IIb (cepas
decorrentes de supostos eventos de recombinação entre o CCoV-II e o TGEV, vírus
da gastroenterite transmissível de suíno (PODER, 2011).
No Brasil o primeiro estudo que identificou o CCoV-II na população canina é
recente. Neste estudo, que foi realizado no Rio Grande do Sul, o CCoV-II foi
encontrado nas fezes e em diversos órgãos como cérebro, coração, pulmão, baço,
fígado, rim entre outros, em três de um total de cinco cães com até seis meses de
idade que evoluíram para óbito com gastroenterite hemorrágica (PINTO et al., 2014).
Essa revisão bibliográfica tem como objetivo explanar sobre o coronavírus
canino, evidenciando suas características etiológicas, sinais clínicos, diagnóstico,
tratamento, profilaxia e controle.

REVISÃO DE LITERATURA
Etiologia
O coronavírus canino (CCoV), pertence à família Coronaviridae, gênero
Alphacoronavirus, espécie Alphacoronavirus-I. São vírus envelopados, com a
membrana formada pela proteína M, sendo a proteína estrutural mais abundante e
que demonstrou induzir anticorpos, enquanto a glicoproteína de espículas S é a
principal indutora de anticorpos neutralizadores do vírus (NAVARRO et al., 2017).
Segundo Ettinger e Feldman (2004), o CCoV é resistente em clima frio e
permanece infeccioso por longos períodos durante o inverno. Porém pode ser
inativado pela maioria dos detergentes e desinfetantes comerciais como o hipoclorito
de sódio (água sanitária) na medida de uma colher de sopa para cada litro d’água
utilizado.
É considerado o patógeno mais relevante responsável pela gastroenterite viral
aguda em cães filhotes e possui alta capacidade de intensificar infecções causadas
por outros patógenos (PINTO, 2013).
Epidemiologia
De acordo com Flores (2012), não há idade ou raça susceptível a infecção por
coronavírus canino. Porém, estudos apontam que os filhotes tem maior sensibilidade
e desenvolvem mais comumente sinais clínicos de gastroenterites, apresentando

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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maior índice de mortalidade. A doença é frequente em canis, abrigos e locais onde há


convívio entre os cães, pelo fato de ser altamente contagiosa e de disseminação
rápida nos cães.
A coinfecção com outros patógenos como parvovírus, adenovírus, vírus da
cinomose canina, bactérias ou parasitas, desenvolvem uma forma mais idônea ou
fatal da doença. O estresse também é considerado um fator agravante nas
manifestações clínicas (FLORES, 2012).
Transmissão
Segundo Flores (2012) a via de transmissão do CCoV é fecal-oral, dessa
forma os dejetos de cães infectados são as principais fontes de infecção do vírus,
além de fômites contaminados. Cães assintomáticos podem excretar partículas virais
nos dejetos por entre 37 e 180 dias.
Patogenia
Após a ingestão, o vírus passa pelo estômago, resiste ao pH ácido, e se
replica nas vilosidades do intestino delgado (duodeno) se disseminando da superfície
intestinal até o íleo. Um ou dois dias após a infecção, as partículas virais são
eliminadas pelas fezes. Os vírus podem se disseminar nos linfonodos mesentéricos e
alcançar o fígado e o baço (FLORES, 2012).
Sinais Clínicos
Segundo Vieira (2015), os sinais clínicos podem se diversificar dependendo o
genótipo viral infectante. Os animais infectados por CCoV-I manifestam sinais clínicos
de leves a moderados pois dependem de coinfecção para serem mais graves, já os
animais infectados por CCoV-II apresentam sintomas e lesões mais graves,
independente da coinfecção por outros agentes. Os sinais clínicos tem início entre um
e quatro dias pós-infecção e apresentam febre, letargia, anorexia, êmese, diarreia
alaranjada (hemorrágica ou não) e desidratação, ainda podem exibir sinais
neurológicos como ataxia e convulsões e acentuada leucopenia por linfopenia.
Quando os sinais não se agravam, a melhora clínica se dá uma semana após
a infecção (FLORES, 2012).
Diagnóstico
A descoberta do vírus nas fezes ou no intestino é a forma mais assertiva de
diagnóstico diferencial de enterites causadas por outros patógenos, como parvovírus,

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rotavírus e os picornavírus. O isolamento viral pode ser executado em células


primárias de rim e membrana sinovial canina (FLORES, 2012).
Segundo Vieira (2015), a Proteína C reativa (PCR) é o método de escolha
para detecção do CCoV por ser mais específico e sensível quando comparado a
outras técnicas, como Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (ELISA), teste de
hemaglutinação (HA) e isolamento viral. Pois a sorologia tem pouca utilidade
diagnóstica pela distribuição do vírus nos cães e a grande quantidade de infecções
subclínicas e a constatação de anticorpos no soro não indica apresentação recente
ao vírus.
Tratamento
De acordo com Flores (2012), a terapêutica da enterite pelo CCoV consiste
na devolução do equilíbrio hidroeletrolítico, por meio do tratamento suporte com
fluidoterapia, além do controle de infecções bacterianas com antibióticos de amplo
espectro e controle de doenças parasitárias simultâneas.
Prevenção e Controle
É essencial evitar o contado de cães soronegativos com cães infectados,
condições de estresse ocasionadas por superlotação, desmame precoce e infecções
concomitantes por outros agentes. Por se tratar de um vírus envelopado, no ambiente
é facilmente inativado por calor e solventes lipídicos (VIEIRA, 2015).
Segundo Avci et al. (2016), a vacinação é essencial para a prevenção. A
Vanguard Plus® é a vacina de eleição, pois previne 10 tipos de doenças virais,
incluindo a coronavirose canina. É indicada para cães sadios filhotes a partir de 45
dias, sendo administradas 3 doses com intervalo de 3 semanas cada. A revacinação
é anual com dose única. Sua via de administração é subcutânea ou intramuscular.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O coronavírus canino tem extrema notoriedade por gerar alta taxa de
mortalidade, caso a doença não seja tratada desde o início. Diversos fatores podem
contribuir para a infecção do animal, como estresse, aglomeração e principalmente
contato com ambientes e animais infectados. A profilaxia é efetivada através da
administração de vacinas, evitar contato com animais infectados e a higienização dos
locais onde anteriormente cães infectados estiveram.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ETTINGER. S. J; FELDMAN. E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro:
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ZUELOW, S. J. Coronavirose Canina: Relato de caso. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso
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PROTOCOLO DE TRATAMENTO DAS LEISHMANIOSES EM


CÃES – REVISÃO DE LITERATURA
PROTOCOL OF TREATMENT OF LEISHMANIOSIS IN DOGS -
LITERATURE REVIEW

Natália Frizzeira Moreira*1; Juliana Pupo Teixeira1; Júlio Cesar Pereira Spada2
1Discentes Medicina Veterinária FEA; 2Docente Medicina Veterinária FEA¹Discente

do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina (FEA).


*[email protected]

RESUMO: As leishmanioses são causadas por diferentes espécies de protozoários


do gênero Leishmania, podendo acometer os seres humanos, sendo os cães os
principais reservatórios na zona urbana. A doença pode se manifestar de duas
maneiras, a leishmaniose visceral sendo a forma grave e a leishmaniose cutânea.
Para cada uma são escolhidos tratamentos de acordo com a necessidade do animal,
ressalta-se que as manifestações clínicas podem ocorrer e que o animal sempre será
um portador.
Palavras-chave: Antimoniato de meglumina. Leishmania. Miltefosina.

INTRODUÇÃO
As leishmanioses são doenças parasitárias, ocasionadas por protozoários
pertencentes ao gênero Leishmania (ROSS, 1903). Nas américas, elas estão
presentes em 18 países e a forma clínica mais comum em humanos é a leishmaniose
tegumentar (LT), enquanto a leishmaniose visceral (LV) sendo a forma mais severa e
quase sempre fatal, se não tratada. Além disso, a leishmaniose mucosa/mucocutânea
(LMC) possui uma evolução crônica podendo causar deformidades e sequelas
(OPAS, 2020). Em cães foi descrita pela primeira vez em 1908, na Tunísia, mas devido
ao seu destaque epidemiológico atualmente se tornou alvo de estudos nas Américas
(BRASIL, 2017).
A principal forma de transmissão do parasito para o homem e outros
hospedeiros mamíferos é pela picada de fêmeas infectadas de dípteros hematófagos
da família Psychodidade pertencentes aos gêneros Phlebotomus e Lutzomyia
(BRASIL, 2017).
A realização dos tratamentos diminui a carga parasitaria e a capacidade
infectiva de cães ao vetor. Em colaboração é importante a vacinação contra outras

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zoonoses, assim como controlar o ambiente em que vive evitando a propagação do


mesmo (MIRÓ et al., 2011; RIBEIRO et al., 2013).
A presente revisão, objetivou citar os principais protocolos preconizados para
o tratamento da leishmaniose canina.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em todo continente americano, as diferentes formas da doença são
conhecidas como Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) e Leishmaniose
Visceral Americana (LVA) (BRASIL, 2017).
A LTA, é uma doença com diversidades de agentes e apresenta um quadro
de sintomas como: hiporexia, lesões cutâneas, alopecia, hiperqueratose, aumento de
linfonodos, baço, onicogrifose, lesões oftálmicas, como blefaroconjuntivite e
ceratoconjuntivite (BRITO et al, 2007; NOGUEIRA, 2007). Na LVA, os animais
apresentam normalmente: linfadenopatia, sinais de insuficiência renal, poliúria,
polidipsia, vômito, neuralgia, poliartrite e poliomiosite (TILLEY; SMITH JR., 2008).
Atualmente há uma gama de animais assintomáticos que se tornam desafio
para diagnóstico, juntamente com uma variabilidade de sinais inespecíficos em
relação a essa doença (NOGUEIRA, 2019).
Por isso ao ocorrer lesões sugestivas para a doença, a análise não pode ser
só baseado na clínica, tornando importante a utilização de testes diagnósticos, sendo
eles parasitológicos, moleculares ou sorológicos (BRASIL, 2017). O diagnóstico
parasitológico é o método de certeza e se baseia na demonstração do parasito obtido
de material biológico de punções hepática, linfonodos, esplênica, de medula óssea e
biópsia ou escarificação de pele. Outros diagnósticos laboratoriais são a realização
de provas sorológicas como a reação de imunofluorescência indireta (RIFI), ensaio
imunoenzimático (ELISA), fixação do complemento e aglutinação direta, sendo
recomendado o soro sanguíneo o material para realização desses exames (BRASIL,
2014).
Os métodos moleculares têm sido amplamente desenvolvidos na última
década e apesar de diferentes métodos moleculares apresentarem bons resultados
para o diagnóstico das leishmanioses, a PCR é mais apropriada (REITHINGER et al.,
2007). Este método apresenta especificidade e sensibilidade altas, além de rapidez
quando comparadas às técnicas convencionais baseadas em microscopias e culturas

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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de células, vindo a suprir algumas lacunas importantes presentes nos métodos


tradicionais de diagnóstico (REITHINGER; DUJARDIN, 2007).

Atualmente, para diagnóstico de cães, o Ministério da Saúde recomenda para


triagem o teste sorodiagnóstico imunocromatográfico DPP (“Dual Path Platform”), que
é um teste rápido, utilizando antígenos recombinantes de proteínas antigênicas de
Leishmania rK 39 e rK26 e o ELISA como teste confirmatório (BRASIL, 2016).
Assim que diagnosticada é introduzido protocolos que atingem uma boa gama
de sucesso reduzindo sinais clínico, mas poucos estão associados à cura do animal
(SALZO, 2008).
Na tabela a seguir estão selecionados os mais diversos protocolos para o
tratamento de animais:

Tabela 1. Protocolos de Tratamento


REFERÊNCIA PROTOCOLO RESULTADOS
Gomez-ochoa et al. Domperidona (1 mg/kg, duas vezes ao Reduziu sinais clínicos e título de
(2009) dia por 30 dias. VO) anticorpos.
Miltefosina (2 mg / kg, uma vez ao dia Reduziu significativamente o escore
Miró et al. (2009) por 28 dias, VO) + Alopurinol (10 mg / clínico total e na carga parasitária nos
dois grupos durante o período de
kg, duas vezes ao dia por 7 meses, VO)
estudo de 7 meses.
A segurança da terapia combinada
Antimoniato de Meglumina (50 mg / kg, miltefosina e alopurinol foi confirmada
duas vezes ao dia por 28 dias, SC) + pela falta de efeito a nível renal e
Miró et. al (2009) hepático e reações adversas. A
Alopurinol (10 mg / kg, duas vezes ao
miltefosina, em combinação com o
dia por 7 meses, VO). alopurinol, oferece uma opção
alternativa de tratamento seguro.
Alguns cães apresentaram recaídas
Miltefosina (2 mg / kg / dia de PO), recebendo segundo ciclo depois desse
tratamento. Animais apresentaram
administrados concomitantemente com
insuficiência renal, eles acabaram
alopurinol (10 mg / kg / dia de PO) por morrendo. Outros dois apresentaram
Manna et. al (2009)
30 dias e depois com alopurinol náusea, vômito e redução da contagem
sozinho, na mesma dosagem, por 1 de glóbulos brancos e vermelhos e
foram excluídos do tratamento.
ano.
Diminuíram a carga parasitária, mas
não extinguiram ela.
A terapia combinada com antimoniado
Antimoniato de meglumina (100 mg / kg
de meglumina e alopurinol levou a uma
Manna et al. (2008) / dia, SC) + alopurinol (10 mg / kg / melhora clínica, ocorrendo uma
dia,VO) por 30 dias. Após a terapia redução da carga parasitária no
sangue, pele e linfonodos, mas, mesmo

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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combinada o alopurinol continuou após um longo período de


sendo administrado por 2 anos. administração de alopurinol sozinho,
mas o parasita pode persistir em cães.
Ikeda-Garcia et al Antimoniato de meglumina (75 mg / kg, O tratamento promoveu a cura clínica,
mas não eliminou completamente os
(2007) SC) a cada 12 h por 21 dias.
parasitas.
Antimoniato de meglumina (35 mg / kg
/ duas vezes ao dia por 28 dias, SC) +
Miró et al (2011) Reduziram a infectividade dos cães em
Alopurinol (10 mg / kg / duas vezes ao
relação aos flebotomíneos, diminuindo
dia por 6 meses, VO) assim os riscos epidemiológicos dos
Antimoniato de meglumina (35 mg / kg cães tratados tanto para seres
Miró et al (2011) humanos quanto para outros cães
/ duas vezes ao dia por 28 dias, SC)
saudáveis.
Alopurinol (10 mg / kg / duas vezes ao
Miró et al (2011)
dia por 6 meses, VO)
Melhoria na condição corporal,
conjuntivite, linfadenopatia periférica,
Alopurinol (10 mg / kg de peso corporal, esplenomegalia, atrofia muscular
Koutinas et al mastigatória, estomatite ulcerativa,
VO, duas vezes ao dia) por 4 meses
(2001) epistaxe, dermatite esfoliativa,
consecutivos. ulcerações cutâneas, blefarite e
hiperqueratose nasodigital. A mesma
observação foi feita para anemia, etc.
Miltefosina (2 mg / kg, VO a cada 24 Leva a uma remissão de sinais clínicos
Nogueira (2019) e carga parasitária. Sendo um dos
horas por 28 dias).
tratamentos mais recentes.
Antimoniato de meglumina (35 a 50 mg
/ kg, duas vezes ao dia, por 4 a 6
semanas, SC).
Travi et al (2018) Depois desse tratamento foi feito a Remissão clínica a longo prazo.
administração de alopurinol (10 mg /
kg, VO, duas vezes ao dia por 6 a 12
meses).
Pentamidina (4 mg kg (-1) duas vezes Nesse caso devido aos efeitos
por semana) e aminosidina (5 mg kg (- colaterais a dose de aminosidina não
Noli (2005) fora elevada, por isso cuidado ao
1) duas vezes por dia) por 3-4
administrar doses maiores.
semanas.

SC: Subcutâneo
VO: Via Oral

De acordo com o apresentado na tabela, o protocolo mais atual é a utilização


da Miltefosina conforme proposto por Miró et al., 2009; Manna et al., 2009; Nogueira,
2019, porém o uso de antimoniato de meglumina e a anfotericina ainda são utilizados
e possuem bons resultados. Todos medicamentos apresentam efeitos adversos, vale

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ressaltar que cada profissional deve utilizar com base na avaliação de seu paciente
(PELISSARI, 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado em uma boa análise clínica e na abordagem de cada protocolo cabe
ao médico veterinário responsável optar pelo melhor tratamento ao seu paciente,
sempre levando em consideração as recomendações do Ministério da Saúde.

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AGENTES INFECCIOSOS DO COMPLEXO RESPIRATÓRIO


FELINO
INFECTIOUS AGENTS OFF THE FELINE RESPIRATORY DISEASE
COMPLEX

Patrícia Salvador Baptista*¹; Sháyder Guimarães Ribeiro Bento¹; Christiano


Pavan²
¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA).
*[email protected]

RESUMO: O complexo de doença respiratória felina (CDRF) é uma patologia


infectocontagiosa de alta morbidade que pode ser ocasionada por agentes
patogênicos variados, acometendo principalmente o trato respiratório superior e o
oftálmico, e em estágios mais avançados, pode causar complicações no trato
respiratório inferior. Estudos epidemiológicos identificaram pelo menos quatro
patógenos que estão associados ao complexo respiratório felino, os quais são o
herpesvírus felino tipo 1 (FeHV-1), o calicivírus felino (CVF), o Chlamydophila felis e
o Bordetella bronchiseptica. A identificação desses agentes é de grande importância
para se determinar as medidas de controle e de prevenção para a escolha do
tratamento clínico.
Palavras-chave: Gatos. Infecção. Vírus. Bactéria.

INTRODUÇÃO
A população de felinos domésticos no Brasil é de 22 milhões de animais. O
aumento dessa população favoreceu a disseminação de importantes agentes
etiológicos e, consequentemente, a um acréscimo no número de atendimentos
clínicos, com diagnósticos de enfermidades infecciosas, tal como o complexo
respiratório felino (ABINPET, 2012).
O Complexo respiratório felino (CRF) é o termo utilizado para descrever um
conjunto de sinais e sintomas clínicos causados pelo herpesvírus felino tipo 1 (FeHV-
1), pelo vírus da calicivirose felina (CVF), pela infecção da Chlamydophila felis e pela
Bordetella bronchiseptica. Existem alguns fatores considerados predisponentes para
a ocorrência do CRF, quando estão relacionados ao hospedeiro, tendo destaque ao
estresse provocado por aglomeração de animais em gatis e em abrigos, ao transporte
e ao estado fisiológico do gato. (BURNS et al., 2011).
A doença conta com sintomas oculares e nasais, deixando o animal com
quadros de inapetência, de apatia, e de descargas mucopurulenta nasal e/ou ocular,
que variam de ulcerações orais, de estomatite crônica, de perda de peso progressiva

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e de conjuntivites a pneumonia intersticial por infecção secundária, podendo o animal


se tornar disseminador dos agentes patogênicos mesmo que assintomático (BERGER
et al., 2015).

REVISÃO DE LITERATURA
O complexo respiratório felino (CRF) é uma patologia de caráter infeccioso e
contagioso, que acomete as vias respiratórias superiores, e apresenta alterações
conjuntivais, podendo ter inúmeros agentes virais e bacterianos envolvidos (CONH,
2011; BERGER et al., 2015). Dentre os principais patógenos do complexo estão os
virais como o Calicivírus felino (FCV) e o Herpesvírus felino-1 (FeHV-1), e os
bacterianos como a Chlamydophila felis e a Bordetella bronchiseptica. No entanto,
tudo depende da interação entre esses patógenos infecciosos e a suscetibilidade do
hospedeiro, considerando a condição nutricional e a imunológica do animal (DOWERS
et al., 2010).
Herpesvírus Felino-1 (FeHV-1)
O herpesvírus felino tipo 1 (FeHV-1) é um alfaherpesvírus, que acomete o
trato respiratório superior de felinos domésticos e de selvagens, ocasionando uma
doença conhecida como Rinotraqueíte Viral Felina (GERALDO JR., 2010; PADILLA,
2015).
Segundo Gaskell et al. (2007) a transmissão do FeHV-1 ocorre principalmente
pelos contatos direto ou indireto com as secreções nasais, as oculares e as orais.
Após o animal ter sido infectado, o vírus se replica na mucosa do septo nasal, na
nasofaringe, nas tonsilas, na conjuntiva e na córnea. A infecção viral pode ser
detectada na mucosa nasal e na orofaringe 24 horas após a infecção, e geralmente
fica por até três semanas. Ainda assim, o DNA viral pode ser identificado pela reação
em cadeia pela polimerase (PCR) por um longo período (VOGTLIN et al., 2002).
O sinal clínico inicialmente observado é uma descarga nasal serosa, que pode
evoluir para mucopurulenta devido a uma colonização bacteriana secundária. Além
disso, os gatos podem apresentar depressão, inapetência, espirros, sialorreia com ou
sem ulcerações orais, e em casos severos, dispneia e tosse (GASKELL et al., 2007).
Ainda pode ocorrer doenças sistêmicas como a pneumonia intersticial, a
necrose hepática, o aborto, os edemas generalizados e as dermatites severas,
principalmente em animais imunossuprimidos e em filhotes. O felino mesmo que

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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assintomático se torna portador permanente do vírus, e a manifestação clínica ocorre


após serem afetados por fatores de estresse ou de imunossupressão (SILVA, 2017).
De acordo com Gaskell et al. (2007) os quadros mais graves de infecção pelo
FeHV-1 são comumente observados em filhotes menores de seis meses de vida ou
em animais com a imunidade deficiente.
Calicivírus felino (FCV)
O calicivírus felino (FCV) é um vírus que possui altas taxas de mutação no
seu genoma e alta infectividade, que induz a doença oral e respiratória aguda, sendo
muito disseminado na população de gatos (GERALDO JR., 2010).
O contato direto entre os gatos é a principal forma de infecção. Os animais
infectados ou portadores assintomáticos eliminam o FCV nas suas secreções nasais
e conjuntivais. Os sinais clínicos são diversos, o animal pode apresentar úlceras orais,
alterações respiratórias superiores e pirexia. Os sinais clínicos mais comuns
encontrados em gatos com a doença sistêmica virulenta do FCV são o edema
cutâneo, as lesões ulcerativas na cabeça e nos membros, e a icterícia. Nos adultos a
mortalidade é alta e a doença é ainda mais preocupante devido a vasculite grave, a
necrose hepatocelular, a coagulação intravascular generalizada ou a outras
complicações que podem acontecer. É possível fazer o isolamento do patógeno
através de swabs nasais e orais de gatos com estomatite crônica ou gengivite
(RADFORD et al., 2009).
No contexto geral, a infecção pelo CVF não é fatal, porém, alguns animais
podem vir a óbito em decorrência de pneumonia ou de complicações severas da
infecção no trato respiratório superior (RADFORD et al., 2009).
Bordetella bronchiseptica (B. bronchiseptica)
A Bordetella bronchiseptica é uma bactéria gram-negativa que coloniza o trato
respiratório dos mamíferos. No início existiam evidências que ela acometia apenas os
cães, no entanto, foi observado que os gatos também podiam desenvolver a patologia
com o envolvimento do aparelho respiratório superior, e podendo infectar diversas
espécies de animais, incluindo os humanos, principalmente as pessoas
imunocomprometidas (ABCD, 2016).
Alguns sinais clínicos apresentados por gatos acometidos por B.
bronchiseptica são espirros, secreção oculonasal, tosse, pirexia, letargia e
linfoadenomegalia submandibular. A importância clínica do isolamento positivo da B.

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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bronchiseptica não é conhecida, uma vez que a bactéria é isolada de muitos gatos
sadios. Esse patógeno pode ocasionar a doença clínica relacionada a fatores de
infecções concomitantes e pode induzir a doença respiratória de forma isolada. A
manifestação mais comum causada por bordetelose em comparação com os outros
patógenos é a tosse (CONH, 2011).
Chlamydophila felis (C. felis)
Chlamydophila felis é uma bactéria gram-negativa intracelular obrigatória, que
não sobrevive fora do hospedeiro, se multiplica no citoplasma de células epiteliais,
produz corpos reticulares não-infecciosos e corpos elementares infecciosos
(HALANOVA et al., 2011).
Os sinais clínicos mais comumente encontrados na infecção pela C. felis são
espirros, febre intermitente, inapetência, perda de peso, descargas nasal e vaginal,
claudicação e letargia (HALANOVA et al., 2011). Geralmente, as complicações da
clamidiose são decorrentes de infecções concomitantes com outros microrganismos
(GERRIETS et al., 2012). Gatos com infecção recente podem apresentar sinais
unilaterais, podendo evoluir posteriormente para bilateral. A conjuntivite pode ser
severa com hiperemia, com secreção ocular, com blefarospasmo e com quemose,
sendo considerada a principal causa de ceratite em filhotes (BAUMWORCEL et al.,
2017). O potencial zoonótico da C. felis é considerado baixo, mas a infecção pode ser
possível através da manipulação de gatos infectados, pelos aerossóis e por fômites
(BUSH et al., 2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O animal portador da doença, mesmo que assintomático, continua sendo
fonte de infecção e prolongando o ciclo do processo infeccioso, por isso, a
identificação e o estudo dos patógenos associados ao complexo respiratório felino são
muito importantes para auxiliar nas medidas de controle e de prevenção da doença,
além da escolha no tratamento clínico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


62

PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES OFTÁLMICAS DO


HERPESVÍRUS FELINO
MAIN OPHTHALMIC MANIFESTATIONS OF FELINE HESPISVIRUS

Sháyder Guimarães Ribeiro Bento*¹; Aline Cardoso Pereira²


¹Discente do curso de Medicina Veterinária da Fundação Educacional de Andradina
(FEA); ² Docente da Fundação Educacional de Andradina (FEA);
*[email protected]

RESUMO: As afecções oculares associadas ao Herpesvírus Felino tipo 1 (HVF-1) são


geralmente encontradas na clínica de felinos. O HVF-1 é uma doença infecciosa que
infecta o trato respiratório superior dos gatos domésticos, provocando uma doença
conhecida como Rinotraqueíte Viral Felina. A eminente forma de transmissão do vírus
é a partir das secreções nasais, oculares e orais dos felinos infectados. O diagnóstico
geralmente pode ser feito a partir dos sinais clínicos na infecção primária do HVF-1
em filhotes felinos. Ademais, o isolamento viral a partir de swab da ofaringe e da
conjuntiva é o mais recomendado.
Palavras-chave: Felinos. Ceratoconjuntivite. Ceratite.

INTRODUÇÃO
Atualmente, as afecções oculares causadas pela presença do Herpesvírus
Felino tipo 1 (HVF-1) consistem um dos principais problemas oftálmicos encontrados
na clínica de felinos. O HVF-1 é o agente mais constante nas conjuntivas e nas
ceratites em gatos domésticos, tornando-se a causa infecciosa mais estudada na
espécie (HERRERA, 2008).
Geralmente, a faixa etária dos gatos acometidos pelo HVF-1 varia de 4 meses
a 16 anos, e não há predisposição sexual (HARGIS; GINN, 1999). Uma característica
importante é a capacidade do vírus de promover uma infecção latente que pode ser
reativada em situações mais tardias da vida (STILES, 2000).
Os sinais clínicos do HVF-1 se manifestam de três a cinco dias após a
infecção (FRANCO, 2007) e podem suspender por um tempo de 10 a 14 dias
(DAVIDSON, 2009). Comumente, os felinos se recuperam em 10 a 21 dias, posto que
possa ocorrer uma infecção crônica, latência ou até mesmo óbito (STILES, 2003).
Ademais, esse vírus pode ocasionar uma série de alterações oculares, com
ou sem presença de doença clínicas sistêmicas. Variadas lesões oculares têm sido
descritas em decorrência da infecção. O complexo respiratório anterior pode produzir
divergentes formas de distúrbios oculares, que parecem referentes a idade. Observa-

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


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se ceratites, conjuntivite, ceratoconjuntivite seca, ceratoconjuntivite proliferativa,


sequestro corneal, oftalmia neonatal e simbléfaro (MARQUES; GALERA; RIBEIRO,
2008).

REVISÃO DE LITERATURA
Conhecida desde 1958, a Rinotraqueite Viral Felina foi descrita pela primeira
vez por Crandell e Maurer; é também chamada de Infecção do Trato Respiratório
Superior Felina e popularmente conhecida como “Gripe do Gato” (MARQUES;
GALERA; RIBEIRO, 2008).
O Alphaherpesvirus felino 1 (hvf-1) é um membro da família Herpesviridae,
subfamía Alphaherpersvirinae e gênero Varicellovirus (ICTV, 2018). O mesmo possui
um genoma DNA de dupla-fita e é envelopado. Apresenta um ciclo replicativo in vitro,
uma rápida disseminação e persistência nos glânglios sensoriais de seus
hospedeiros, denominada como latência (GOULD, 2011).
O HVF-1 no ambiente é relativamente instável, podendo sobreviver por
aproximadamente 18 horas em condições úmidas (GOULD, 2011), sendo
extremamente suscetível a qualquer desinfetante (LIM; MAGGS, 2018). Em soluções
usadas na rotina da clínica de oftalmologia veterinária esse agente permanece viável
por menos de uma hora, como os colírios de fluoresceína e de anestésico (MAGGS,
2005).
Segundo Gaskell et al. (2007), a principal forma de transmissão do HVF-1
ocorre a partir das secreções nasais, oculares e orais de felinos. Entretanto, em
algumas situações como os gatis, a transmissão indireta pode ocorrer pela
contaminação de fômites, do recinto e contato humano. Porém, como o HVF-1 possui
a característica de viabilidade fora do hospedeiro relativamente curta, o ambiente não
é habitualmente uma fonte de infecção a longo prazo.
Os sítios primários da replicação viral são os tecidos epiteliais, contendo a
conjuntiva, epitélio nasal, corneal e faringeano (STILES, 2013). Essa infecção primária
ocorre principalmente em gatos filhotes e jovens, já que os seus anticorpos maternos
diminuem por volta da oitava semana de vida. Contudo, mesmo os gatos vacinados
continuam com algum risco, logo que as vacinas de HVF-1, tanto parenterais quanto
as intranasais, certificam apenas imunidade parcial contra os sinais clínicos e
nenhuma proteção contra reativação e eliminação (STILLES, 2007).

Jornal MedVet Science FCAA, vol. 2, n.1, 2020.


64

Após o período de incubação do vírus que vai de 2 a 5 dias (MOHANTY;


DUTTA, 1981), a infecção primária em filhotes é caracterizada por produzir doença do
trato respiratório superior, febre, letargia, lesões oculares, secreção nasal e ocular; a
severidade dos sinais clínicos depende de como é a exposição e a susceptibilidade
individual (STILES, 2000; ANDREW, 2001).
O HVF-1 é o único agente etiológico viral verídico capaz de causar ceratite
ulcerativa (ANDREW, 2001; MARQUES; GALERA; RIBEIRO, 2008). O mesmo atinge
as células epiteliais da córnea e, no processo de replicação, destrói as infectadas,
levando a lise celular (MARQUES; GALERA; RIBEIRO, 2008). De caráter bifásico, as
lesões corneais surgem aos 3 e 12 dias da infecção primária (STILES, 2000).
Outro sinal clínico é a conjuntivite, a doença oftálmica mais comum em gatos.
Acredita-se que o HVF-1 é o principal agente etiológico. Os animas exposto ao HVF-
1 quando jovens podem apresentar ocorrências recorrentes de conjuntivite durante
toda a vida (MARQUES; GALERA; RIBEIRO, 2008).
A ceratoconjuntivite proliferativa é mais uma afecção decorrente do HVF-1, a
qual apresenta uma lesão rosa, com manchas esbranquiçadas vascularizadas, que
se desenvolvem desde o limbo temporal ou nasal, afetando a conjuntiva adjacente
(HERRERA, 2008).
O diagnóstico nos gatos filhotes pode ser realizado a partir dos dados clínicos
da infecção primária. Mas, também pode ser feito o diagnóstico laboratorial, sendo
swab da orofaringe e da conjuntiva o mais recomendado. Por conta da quantidade
exacerbada de partículas virais encontrada na infecção primária, é indicado fazer a
imunofluorescência a partir de raspado nasal, faringeal e conjuntival. Determina-se
pela citologia as inclusões intranucleares herpesvirais (MARQUES; GALERA;
RIBEIRO, 2008).
A vacinação do HVF-1 tende a ser eficaz na contenção de surtos da doença
ocular. O uso da vacina intranasal viva modificada induz o começo da proteção em 2
a 4 dias, diferente da vacina injetável, que se corre o risco de produzir doença
respiratória contagiosa. É sabido que instilação da vacina no saco conjuntival
desenvolve uma grande chance de ocasionar doença ocular (STILES, 2000). Ainda,
no Brasil o único meio de prevenção são as vacinas de vírus atenuados, que conferem
imunidade adequada diante dos protocolos de imunização determinado. Preconiza a
primovacinação contra HVF-1 com nove a dez dias de vida, com repetição da dose

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entre doze a quatorze semanas de vida com reforço a cada três anos (BIRCHARD;
SCHERING, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Herpervirus Felino tipo 1 é um dos vírus que mais acomete gatos não
vacinados, principalmente os que vivem em gatis. Os sinais clínicos oculares mais
evidentes são conjuntivite e ceratite. O diagnóstico pode ser firmado através do
histórico e dos achados clínicos, e também por diagnóstico laboratorial, apesar de
suas limitações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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