A Arte Da Paternidade Espiritua - Douglas W. de Andrade
A Arte Da Paternidade Espiritua - Douglas W. de Andrade
A Arte Da Paternidade Espiritua - Douglas W. de Andrade
fazendas que construíram e deixaram como herança para seus filhos. Serão
lembrados pelos filhos que eles deixaram de herança para Deus usar neste
mundo.”
PREFÁCIO
Olá, graça e paz!
Assim que fui convidada a prefaciar este livro da série: “Discipulado Ativo
– A arte da Paternidade Espiritual, Amor e Cuidado”, fiquei muito feliz. Mal
pude acreditar que um dia eu poderia fazer parte de uma obra tão imensa e
intensa como essa, e justo para falar deste tema, que eu considero tão
importante para a igreja, principalmente às de visão celular. Senti-me
extremamente honrada quando ouvi que sou referência nesse assunto, uma
vez que eu apenas cumpro com as minhas obrigações de pastora.
O tempo passou. Fomos designados por Deus para lugares diferentes, mas
sempre carrego-os comigo, pois os seus ensinamentos ecoam dentro de mim,
mesmo depois de tanto tempo. Como eu disse, e neste livro também será
mencionado, Apolo é um exemplo do que passei. Ele foi discipulado por um
casal muito abençoado, Priscila e Áquila, que exerceram a arte da paternidade
espiritual sobre a sua vida, ajudando-o a se tornar aquele exímio pregador de
Éfeso. Eu também fui muito amada e cuidada por este casal de pastores, que
exerceram esse ministério de amor e cuidado sobre a minha vida há mais de
25 anos. Por conta disso que eu continuo, mesmo em meio às lutas e
adversidades; pois me lembro de todo os seus esforços em me discipular,
sempre cheia de esperança de que um dia eu me tornaria o que sou hoje.
Devo isso aos meu pais espirituais, que me deixaram um grande exemplo
de amor e cuidado. Este é um verdadeiro legado que levo comigo e transmito
aos meus discípulos, transferindo a unção deste legado tão sublime de amor e
cuidado, pois essas são as essências principais do ministério de paternidade
espiritual.
Douglas W. de Andrade
A ÂNSIA PELA MANIFESTAÇÃO
DOS FILHOS ESPIRITUAIS
“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de
Deus” (Romanos 8:19)
O mundo atual espera ardentemente as manifestações dos filhos de Deus.
Se isso não acontecer, corações e almas irão se perder. Se os filhos de Deus
não se manifestarem e assumirem suas posições como filhos, toda a criação
sofrerá o impacto negativo desse fato decisivo.
Devemos começar por amar uns aos outros, expressando amor e cuidado,
consagrando, jejuando, orando e intercedendo por toda a criação de Deus,
desde o homem, a terra e tudo o que nela há, à vastidão do universo. O poder
da intercessão está nas mãos dos filhos de Deus. Como eu sei se eu me
encaixo no perfil de filho de Deus?
Jesus veio para todos nós, mas muitos não o recebem. Só é filho de Deus
quem o reconhece como único Senhor e salvador. Os filhos do Pai são
aqueles que conhecem e reconhecem o seu filho como Senhor. A criação
espera, ansiosamente, a manifestação dos filhos de Deus, e é uma ansiedade
que só pode ser saciada através da nossa manifestação através da Palavra.
Jesus Cristo veio, mas não foi acolhido pelos Seus. Com isso, a nossa
filiação divina não foi nada fácil de ser aceita pelos opositores, ainda mais
depois que o nosso mestre morreu como um mau elemento na cruz. Para
alguns, isso foi algo terrível para a sua reputação, e até hoje continuam
pensando dessa mesma forma. Somos filhos do Pai por termos aceitado Jesus
como nosso Senhor e salvador, por isso a criação está aguardando nossa
manifestação. Cristo tinha muitos seguidores, e hoje não é diferente. Ele
também espera ansiosamente pela manifestação dos seus filhos, mas nem
sempre seus seguidores têm a coragem de manifestar o amor que receberam
do Pai das luzes a outras pessoas que possam precisar dele.
Não devemos nos enganar com esse mundo, que nos faz acreditar que
aqueles que não nutrem um relacionamento com Jesus e com a Palavra de
Deus devem permanecer em trevas. Precisamos nos manifestar como filhos
do Senhor para aqueles que ainda não o conhecem, a fim de que também
tenham a chance de conhecê-lo em Espírito e em verdade, e para que passem
a amá-lo, assim como nós o conhecemos e o amamos.
Devemos ter cautela com este mundo, pois o Senhor diz que o diabo é o
príncipe dele, e que este mundo está nas suas mãos. O diabo tem o poder de
seduzir aqueles que não se submetem à potente mão de Deus. Ou seja,
Satanás controla aqueles que não se encontram debaixo da cobertura da
Palavra que liberta. Enquanto os filhos do Senhor não se manifestam, os
filhos das trevas já o fazem e deixam todos muito confusos, e sem dizer que a
própria Palavra nos adverte: “Os filhos das trevas são mais astutos que os
filhos da luz” (Lucas 16:8b).
Precisamos ter uma referência para que não nos percamos, alguém que nos
estenda as mãos e caminhe lado a lado conosco. Essa referência são os pais
espirituais, aqueles que entenderam e assumiram as suas posições em Cristo e
receberam um legado do próprio Deus, através de seu filho Jesus Cristo,
cumprindo a Palavra: “Este é o meu mandamento; Amai-vos uns aos outros,
como eu vos amo, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida
por seus amigos” (João 15:12-13).
Temos que nos tornar a igreja que acolhe e dá apoio aos seus membros,
pois muitos filhos querem apenas milagres, mas se esquecem de que o diabo
também tem poder. Se não tomarmos cuidado, nós nos perderemos.
Queremos somente coisas boas, sem sofrimento, mas, para seguirmos Jesus,
temos de carregar nossa cruz. Somente por meio dela podemos ver nossas
graças: “Não tenho ninguém que, como ele, tenha interesse sincero pelo bem-
estar de vocês, pois todos buscam os seus próprios interesses e não os de
Jesus Cristo. Mas vocês sabem que Timóteo foi aprovado porque serviu
comigo no trabalho do evangelho como um filho ao lado de seu pai”
(Filipenses 2:20-22).
É nesse contexto que somos chamados a amar uns aos outros. A igreja, que
é um lugar de comunhão por excelência, também tem sido contaminada por
essa insegurança, tornando-se um lugar hostil. Há o medo de se expor, de não
ser compreendido, de ser agredido emocionalmente, há até mesmo o medo de
ser extorquido ou lesado por conta da sua boa vontade.
Por causa disso, muitos participam dos cultos com reservas. Não nos
entregamos por inteiro no relacionamento social ou fraternal cristão. No
entanto, o chamado para a vida cristã é um chamado para a comunhão, para a
hospitalidade, para exercer a boa vontade, o amor e o cuidado mútuo. Essa é
a essência da conversão. A conversão é o movimento que nos leva da
hostilidade à hospitalidade, criando o espaço necessário para a manifestação
do amor de Deus entre as pessoas. Ter comunhão significa, primeiramente,
criar um ambiente no qual as pessoas possam entrar para se tornarem amigas,
em vez de estranhas.
Na conversão nós somos vocacionados para amar uns aos outros como
Cristo nos ama. Infelizmente, para muitos é praticamente impossível exercer
um amor como o de Cristo sobre as pessoas. Parece que ninguém pode
realmente amar o próximo sem esperar algo em troca, ou seja, sem interesse,
principalmente diante do pedido de Jesus para amarmos não somente aos
nossos amigos, aqueles que nos são queridos, mas principalmente os nossos
inimigos.
Para ele, o ser humano é agressivo por natureza, e está pronto para atacar
para garantir sua sobrevivência. Concordamos com Freud quanto à
agressividade natural do ser humano, pois ela decorre da nossa natureza
pecaminosa, mas discordamos quanto à capacidade de amar do ser humano,
pois, em Cristo, somos transformados na nossa mente e coração, e tornamo-
nos prontos para amar e sermos amados. A essência da espiritualidade está
justamente nisso: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39).
Isso, sim, é comunhão, e ela só é possível em Cristo. Dietrich Bonhoeffer,
em seu livro “Vida em Comunhão”, descreve a comunhão da igreja:
“Comunhão cristã é comunhão por meio de Jesus Cristo e em Jesus Cristo.
Não há comunhão cristã que seja mais ou menos do que isso. Quer seja um
único e breve encontro ou uma comunhão diária, que perdure há anos, a
comunhão cristã é somente isso. Pertencemos uns aos outros tão somente por
meio de Jesus Cristo”.
A Igreja primitiva era uma comunidade que vivia de mãos dadas, e o amor
era vivenciado de forma concreta. Era uma comunhão abençoadora, que não
permitia que um irmão ou uma irmã passasse por necessidades. Era uma
comunidade que se olhava, que se enxergava, que olhava para dentro de si e
se ajudava mutuamente. Viviam assim porque haviam aprendido com Jesus.
Lemos em 1 João 1:1:“O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o
que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as
nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida”.
Zygmunt Bauman, em seu livro “O amor líquido”, faz uma constatação que
dificilmente podemos contestar. Ele afirma que vivemos numa sociedade em
que os relacionamentos são frágeis e volúveis, em todas as instâncias. Por
causa disso, o amor não tem sido vivenciado em sua plenitude, ou, quando é
vivenciado, não se sustenta e escorre pelo ralo, por falta de crédito.
Como discipular numa sociedade assim? Como anunciar e ensinar sobre
Jesus numa sociedade líquida, onde os relacionamentos seguem a lógica
utilitarista, do interesse e do egoísmo? Jesus responde: “O meu mandamento
é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (João 15:12).
Essa é a essência dessa série de livros voltados para o Discipulado Ativo, a
Arte da Paternidade Espiritual. Para Erich Fromm, em seu livro “A arte de
amar”, “o amor é a única resposta sadia e satisfatória para o problema da
existência humana”.
Amemo-nos uns aos outros, para que as pessoas creiam no amor de Jesus.
Isso é discipulado ativo, isso é exercer igreja!
Capitulo O PROPÓSITO DESSE
AMOR
“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Não há outro mandamento maior do que estes.”
(Marcos 12:31)
Esse versículo traz uma das grandes razões pelas quais todo cristão deveria
viver. Este verso bíblico precisa ser prioridade em nosso cotidiano, seja no
trabalho ou nas rodas de conversas: “Amar a Deus sob todas as coisas e ao
próximo como a nós mesmos”.
O propósito de amar desse mandamento é entender como o nosso Deus é e
como Ele pensa. É compreender que o segundo mandamento é tão
indispensável quanto o primeiro, e amar de verdade e demonstrar esse amor
no cuidado de uns com os outros é a forma como exercemos o legado
atribuído por Deus a nós, exercendo a arte da paternidade espiritual, que
consiste em amar e cuidar bem!
Quando procuramos externar essa graça recebida pelo Espírito Santo que
habita dentro de nós, estamos transbordando o amor dos nossos corações
sobre os nossos irmãos, expressado em cuidados especiais incondicionais por
aqueles que nos cercam no dia a dia.
O amor é pouco definido para a maioria das pessoas, pois a maioria delas
ainda não sabem o que querem dizer quando falam sobre o amor. O amor é
uma preferência exclusiva por determinada pessoa e, no campo espiritual,
Jesus exige que essa preferência seja exclusivamente NELE (Lucas 14:26).
Quando o “amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito
Santo” (Romanos 5:5), Jesus Cristo toma automaticamente o primeiro lugar
de toda a nossa vida. Só então devemos colocar em prática o
desenvolvimento dessas atitudes mencionadas aqui em relação ao exercício
do legado de Deus atribuído a nós através de Cristo, que chamamos de “Arte
da Paternidade Espiritual”, que consiste em amar e cuidar.
A primeira coisa que Deus faz é exterminar de mim a pretensão e o orgulho
espiritual. O Espírito Santo revela que Deus me amou não porque eu fosse
digno de ser amado, mas porque sua natureza é amar, pois ELE é o próprio
amor. “Agora”, diz ELE, “mostre aos outros esse mesmo amor que tenho.
Manifeste aos outros o amor que recebestes, para que saibam que ele existe, e
EU também”.
“Ameis... assim como eu vos amei” (João 15:12). “Eu vos cercarei de
muitas pessoas, às quais vocês não conseguem respeitar e terão de lhes
demonstrar o mesmo amor e afeto que eu por vós demonstrei” (1
Tessalonicenses 2:8). Esse tipo de amor nunca será um amor protetor, que
aceita a incoerência, e também não será evidenciado por nós da noite para o
dia. Alguns de nós já tentaram consegui-lo pela força, mas sempre saíram
frustrados em seus intentos.
“O Senhor é paciente... longânimo para convosco, não querendo que
ninguém se perca” (2 Pedro 3:9). Basta olharmos para dentro de nós mesmos
e veremos como Ele tem nos tratado até aqui. A posse daquela consciência de
que Deus me ama de forma absoluta e incondicional me fará sair pelo mundo
para amar os outros do mesmo modo. Embora o amor de Deus tenha sido
demonstrado e derramado em nossos corações como está escrito em
Romanos 5:5, provavelmente ainda me irrito com alguém, porque tenho que
conviver com pessoas difíceis de natureza. E eu, como tenho sido para com
Deus? Estarei disposto a identificar-me de tal maneira com o Senhor Jesus
que sua vida e sua brandura fluam de mim para outros continuamente, do
mesmo modo?
Capitulo 5
UM INCONTESTÁVEL AMOR
A cruz se tornou um símbolo incontestável do amor de Deus, pois a
crucificação de Jesus foi o momento no qual Deus falou claramente todas as
cinco linguagens do amor.
Na cruz, Jesus disse: “Pai perdoa-lhes, pois não sabem o que estão
fazendo” (Lucas 23:34). Que palavras de afirmação poderiam falar mais
profundamente do amor?
guia e protetor nos momentos mais difíceis das nossas vidas. Deus, nosso Pai,
por amor a nós enviou Jesus, o Seu Filho amado (João 10:3 e 3:16). Jesus, em
obediência à ordem do Pai, foi obediente até a morte na cruz (Filipenses 2:8).
Cristo, por amor a nós, se ofereceu como o mais perfeito e excelente
sacrifício para satisfazer a vontade do Pai. Nosso Senhor Jesus Cristo é o
amor de Deus em ação. Ele é a prova viva do amor ágape de Deus, o amor
incondicional demonstrado através do seu incontestável cuidado.
“Aquele que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós,
como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?”
(Romanos 8:32). Todas as coisas mesmo! Tudo o que temos e recebemos
veio das mãos e do coração gracioso do nosso Pai Celestial, que por amor e
manifestação do seu cuidado a nós atribuído fez questão de nos presentear
com essa graça, favor não merecido. E agora, como demonstrar a nossa
gratidão, o nosso amor?
A resposta é: pela obediência! Jesus disse: “Se alguém me ama, obedecerá
à minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos até ele e faremos nele
nosso lar” (João 14:23). Ele também diz a mesma coisa na forma negativa:
“Aquele que não me ama, não obedece às minhas palavras” (João 14:24).
Cristo obedeceu ao seu Pai quando se fez homem e humanamente padeceu
por nós, não há outra forma mais sublime de demonstrar amor ao Pai do que
obedecer-lhe em tudo, como filhos que se entregam confiantes aos cuidados
de um pai. Obedecemos a Deus, não por imposição ou medo, mas por
gratidão e confiança na veracidade da sua Palavra, que para os seus filhos
espirituais é a verdade absoluta, e Jesus é essa verdade, pois Nele se cumpre
todo o incontestável amor e cuidado incondicional de Deus pela humanidade,
pois está escrito: “Por que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
único filho para que todo aquele que NELE crê não pereça mas tenha a vida
eterna” (João 3:16).
Capitulo 6
O PRAZER DE CUIDAR BEM
João está escrevendo a Gaio, alguém que ele havia formado no Senhor e
cujo testemunho tornara-se assunto dos que com ele tinham contato. “Não
tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na
verdade” (3 João 1:4).
Na verdade, ao dar seu testemunho, João não fala apenas do prazer que
sentia em ver o resultado do seu trabalho na vida dos verdadeiros discípulos,
mas fala que esse prazer é incomparável, e vemos isso claramente, pois suas
palavras naquele momento foram: “Não tenho mais alegria do que esta”.
De onde vinha tanto senso de realização? Creio que, antes de tudo, isso
brotava de um coração que amava a Deus. Sabendo do valor que as pessoas
têm para o Pai, João fazia do discipulado uma forma de revelar sua devoção
ao Pai, e isso em nome do filho, Jesus.
Havia, porém, uma consciência em João que mantinha sua visão na direção
correta. Ele entendia e via o discipulado ativo, como exercício de paternidade
espiritual. A expressão que ele usa para descrever Gaio e outros discípulos
fiéis é “meus filhos”. Isso tem implicações muito profundas no que diz
respeito à arte da paternidade espiritual, que é amar e cuidar bem de verdade.
Esta verdade é tão relevante que João justifica sua alegria no fato de que
seus filhos “andavam na verdade”. Seu senso de realização não derivava da
ação de mantê-los presos junto a si, mas de vê-los avançando, caminhando,
progredindo na verdade, ainda que distantes dele, como era o caso de Gaio.
O verdadeiro líder, aquele que ama o reino de Deus, não se ocupa em criar
reinos pessoais e nem se realiza em perpetuar-se. Ele vive para multiplicar e
espalhar discípulos pela terra, pessoas que andam na verdade e lutam pela sua
abrangência.
O AMOR NO CUIDAR
Vivemos um tempo em que a paternidade tem sido muito desvalorizada.
Não é difícil nos lembrarmos de alguns casos nos últimos anos de abandonos
de bebês pelos próprios pais. Este mesmo problema tem sido reproduzido na
igreja, porque muitos novos convertidos não têm pais espirituais que os
adotem para serem amados como filhos, recebendo cuidados e sendo
iniciados na sua nova vida cristã. Um pressuposto exigido é o de que, se
desejamos ser uma igreja de verdade, que vive e respira discipulado por meio
de células ou grupos pequenos, devemos seguir as regras do princípio cristão,
que é o de que, se eu ganhar alguém para Jesus, eu devo assumir o
compromisso e a responsabilidade de amar, cuidar e ensinar bem essa pessoa,
até que Cristo seja formado nela.
O CUIDADO
Quando uma criança nasce, ela precisa ser cercada de cuidado especial do
pai, da mãe, dos irmãos e outros parentes nos seus primeiros anos de vida, e
assim também acontece na sua vida espiritual. Os membros da família de
Deus, a igreja, devem ser os responsáveis pelo crescimento espiritual,
cuidado e ajuda na caminhada cristã. Assim como na vida natural, as pessoas
mais indicadas para esse cuidado são os pais, que são direcionados e
aplicados na vida espiritual daquela determinada pessoa: os chamados pais
espirituais.
Mas como faremos isso? Assumindo o legado deixado por Deus para nós
através de Cristo, sendo pais espirituais responsáveis, que aplicam o
discipulado ativo através da arte da paternidade espiritual, que é amar e
cuidar bem daqueles a quem o Senhor nos confiou.
Paulo escreveu sobre uma mulher chamada Febe, que servia na igreja. Ele
pediu aos irmãos que a ajudassem em qualquer coisa que ela necessitasse,
porque havia hospedado a muitos (Romanos 16:1-2). O tipo de serviço
prestado por Febe e outras grandes mulheres do novo testamento continua
ainda hoje.
Temos dito que o discipulado pode ser visto como método de crescimento
de igreja ou como programação, isto é, como a reunião semanal que acontece
regularmente. Não podemos cair na tentação de entender o discipulado dessa
O discipulado nada mais é que o nosso estilo de vida, uma maneira de ser
com a qual as pessoas se relacionam, entram em comunhão, acolhem umas às
outras, compartilham o que são, o que sentem e o que carecem. Oram umas
pelas outras, louvam e adoram ao Senhor juntas, estudam a Palavra à luz da
graça, dão testemunho da comunidade da fé que servem e, nesse sentido,
vivem e cumprem a Palavra, que diz:
Em Atos 18:24-26 a Palavra nos relata que Apolo foi humilde, não teve
medo de conhecer com maior profundidade o caminho de Deus. Posso
imaginar a delicadeza e a ternura com que o casal Priscila e Áquila lhe
dirigiram a palavra, empregando amor e cuidado ao seu discipulado. Só assim
puderam receber sua atenção. O ensino dinâmico e criativo promove quatro
tipos de mudança no ouvinte. Ele muda o conhecimento, o entendimento, a
habilidade e a atitude, pois, quando ensinamos uma verdade bíblica, o maior
valor está na mudança de atitude. O amor é a arma mais poderosa para gerar
confiança. Sem confiança, não há educação. Somos portadores da verdade, e
o nosso propósito é o de que as pessoas possam nos ouvir e conhecer a
verdade que portamos.
Será que conhecemos bem aqueles que servem a Deus conosco? Será que
temos investido um tempo de qualidade para o crescimento espiritual deles?
Ninguém deve deixar de fazer o pouco que pode por não poder realizar o
muito que gostaria, e esse é um pensamento maduro que deve estar na mente
de todo aquele que deseja se estabelecer no ministério de paternidade
espiritual.
Numa família, é comum os filhos darem conselhos aos pais. É sinal de que
aprenderam com os pais e que estão amadurecidos. Na vida espiritual isso é
mais acentuado, posto que o próprio Espírito Santo é o grande Mestre que
nos dá sabedoria, não pelo tempo de casa, mas pela intensidade da busca, que
nos traz maturidade.
Poderíamos ser abençoados por um filho na fé. Por acaso, se você já exerce
o legado da paternidade espiritual sobre alguém, se a sua resposta for sim,
então eu te pergunto: você já viveu essa experiência, de ser aconselhado por
um filho espiritual, sentindo o seu amor e cuidado expressado nesse ato?
Até onde vai o nosso compromisso com Jesus num ambiente de muita
impunidade? Será que realmente morreríamos em Seu nome? O que
significava ser cristão naquele tempo, e o que significa ser cristão hoje? Deus
mudou, e há menos exigências e expectativas com os seus discípulos dos dias
atuais?
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que
tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e
ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna
para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser
queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é
sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com
leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os
seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça,
mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”
(1 Coríntios 13:1-7)
Na semana mais difícil para Jesus dentre as que viveu aqui na terra, quando
o clímax de toda a sua obra estava para acontecer, ele chamou os seus
discípulos, a fim de estar com eles nesse momento de despedida, e ainda lhes
dar as derradeiras orientações e lições de vida e para a vida. Não basta dizer,
é preciso também fazer. O amor de Jesus não era pela metade e nem dependia
das circunstâncias. Ele os amou até o fim, mesmo havendo traidores entre os
discípulos: Judas estava tão envolvido em sua ambição que o traiu. Pedro,
imaturo, mentiu. Tomé, cheio de desconfiança, duvidou Dele!
Assim, da mesma forma que Jesus demonstrou ter perdoado o seu discípulo
Pedro, que o havia negado três vezes, nessa passagem podemos notar a
expressão do amor e cuidado de Jesus para com seus discípulos, e isso é
demonstrado em sua maturidade, na forma como lidou com seu discípulo
Pedro. Na última noite da vida terrestre de Jesus, aquele discípulo lhe disse:
“Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte.”
(Lucas 22:33), Mas, poucas horas depois, por três vezes ele negou até mesmo
conhecer Jesus! A Bíblia nos conta o que aconteceu quando Pedro o negou
pela terceira vez: “O Senhor voltou-se e olhou para Pedro”. Arrasado pela
gravidade do pecado, ele “saiu e chorou amargamente”. Quando Jesus
morreu, mais tarde naquele dia, o apóstolo talvez tenha se perguntado: “Será
que o Senhor me perdoou?” (Lucas 22: 61-62).
Pedro não teve que esperar muito para ter uma resposta. Na manhã do
terceiro dia após sua morte, Jesus foi ressuscitado e, evidentemente naquele
mesmo dia, apareceu para Pedro (Lucas 24:34 e 1 Coríntios 15:4-5). Por que
era necessário que Jesus desse uma atenção especial ao apóstolo que havia o
negado de forma tão enfática? Talvez ele quisesse confirmar ao arrependido
Pedro que seu Senhor ainda o amava, prezava e que ainda acreditava nele,
apesar dos pesares. Jesus fez a visita para reanimar Pedro, pois a essa altura
ele já estava muito desacreditado de si mesmo e se sentindo o mais indigno
de todos os discípulos existentes sobre a terra. Com essa demonstração de
amor e cuidado, Jesus o fez recobrar a sua credibilidade e responsabilidade,
demonstrando a Pedro que o que ele faria a partir daquele ponto era mais
importante do que ele imaturamente já havia feito.
Separei alguns exemplos bíblicos para nos orientar nesse quesito tão
importante.
Judas foi advertido, mas preferiu seguir seu próprio caminho. Mais tarde,
sentiu remorso, mas não se arrependeu. O arrependimento vem em face do
pecado cometido. O remorso é fruto das consequências do pecado. Por
exemplo, alguém rouba sempre e nunca se arrepende. Quando então é preso,
a consequência do roubo o leva ao remorso. Temos que cuidar uns dos outros
e mutuamente nos exortarmos.
Uma traição pode ser prazerosa, mas, depois do fato consumado, vem a
impiedosa sensação de culpa! Será que vale a pena obedecer a Deus? Samuel
disse para Saul que o pecado da rebelião é como o pecado da feitiçaria, e a
obstinação é como a iniquidade da idolatria (1 Samuel 15:23). É uma boa
decisão assumir uma vida de obediência, como discípulos e discipuladores
que se amam e se cuidam como igreja, pois é isso que somos: igreja.
Orar pelo discípulo (João 17). O que Deus pode, a minha oração também
pode! No ponto anterior, falamos do sacerdote. Esta figura bem colocada por
Pedro, em 1 Pedro 2:9, deve nos lembrar do dever de nos colocarmos perante
Deus em favor dos outros. Sacerdote é aquele que faz da dor do outro a sua
dor. Quando vê alguém necessitado, ele também se torna necessitado, e ora
como se o problema fosse seu.
O uso da Bíblia não combina com o diabo, pois ela é a verdade, e o diabo é
o pai da mentira. O diabo usa a Palavra para acusar os discípulos de Jesus até
os dias de hoje. Parece ironia, mas é a pura verdade. Ele conhece a verdade,
mas é incapaz de viver por ela, assim como Jesus mesmo disse, em João 8:44.
Satanás é o pai da mentira e de toda falsidade que deriva da mentira. Ele foi,
é e sempre será incapaz de se firmar na verdade, pois só pode viver a verdade
quem a conhece, e Jesus é a verdade que liberta. A Palavra vai mais além, ao
declarar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, portanto, Ele é a verdade
absoluta (João 14:6).
O homem só é livre pela verdade, e Jesus é essa verdade que liberta (João
8:32-36)! O diabo mentiu para o primeiro casal no Éden. Esse casal pecou
por causa da mentira, e todo pecado tem sempre a ver com mentira. Jesus
usou a Palavra para confrontar e derrotar Satanás, e o seu primeiro golpe foi a
afirmação de que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra
que sai da boca de Deus” (Mateus 4:4).
Devemos andar como ele andou, sermos perfeitos como o Senhor (Mateus
5:48) e santos como ele foi (1 Pedro 1:16). João não deixou por menos (1
João 2:6). Paulo também registrou isso em Colossenses 2:6, e Pedro escreveu
sobre isso em 1 Pedro 2:21. Deve haver coerência entre a nossa crença e a
nossa prática. Se o conhecemos, devemos obedecê-lo, assim como já vimos
neste livro e ao longo da série: Discipulado Ativo – A Arte da Paternidade
Espiritual.
A prova do nosso amor para com Deus Pai e com Jesus é a obediência
(João 14:21-26 e 15:12-17). Somos o referencial de Jesus aqui nesse mundo,
e devemos ter o cuidado de nos resguardarmos do mundo, pois vivemos nele,
mas não pertencemos mais a ele. Somos propriedade exclusiva de Deus;
“Porém, vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, cujo propósito é proclamar as grandezas
daquele que vos convocou das trevas para sua maravilhosa luz” (1 Pedro
2:9).
O mundo não pode ver Jesus, pois não tem os ouvidos abertos para a
Palavra de Deus. Mas o mundo vê a igreja, que somos nós (1 Coríntios 6:19-
20).
Isso pode até parecer uma boa receita para um país de assistência médica
precária, com muita gente pobre e de grande inclinação mística. Entretanto, a
disciplina está para a prática como a receita está para o bolo. Uma receita
errada produz um bolo errado, assim como uma doutrina errada dá origem a
uma prática errada. Um pensador afirmou que “viver é pensar, pois o homem
vive o que pensa, e é preciso pensar certo para viver direito”.
Devemos estar cientes das nossas doutrinas, pois são disciplinas bíblicas e
precisam ser transmitidas para os futuros discipuladores ativos e propensos
pais espirituais.
Imagina se uma mãe pudesse tirar férias do lar logo após o nascimento de
um filho. Será que uma criança poderia viver sem a ajuda de alguém? Já
temos a “Operação André” (estratégia para alcançar os perdidos), e estamos
lançando o “Projeto Barnabé” (estratégia para cuidar dos achados). Paulo foi
bem cuidado por Barnabé e fez o mesmo com Timóteo, Tito e muitos outros.
Se você ainda não é um pai espiritual que gera ou que cuida de filhos
espirituais até que alcancem a maturidade para se reproduzirem, que Deus
desafie o seu coração para assumir um compromisso extremamente bíblico e
demasiadamente necessário! Inspire-se nos exemplos a seguir.
Aquele que aponta para Cristo (João 1:35-37). O grande cuidado dos
discipuladores está exatamente em deixar claro que os discípulos são de
Jesus, e não propriedades deles. João Batista, o grande preparador do
Caminho e discipulador, tomou três decisões fundamentais.
2) “Eis o cordeiro de Deus!” (João 1:36). Mostra que não era ele o alvo
e nem aquele que deveria ser realmente seguido;
3) Disse mais: “Importa que ele cresça, e que eu diminua” (João 3:30).
João trabalhava para enaltecer Jesus e glorificar a Deus com a sua vida e
ministério!
Aquele que tem o cuidado de levar um parente aos pés de Cristo (João
1:40-42). As narrativas bíblicas pouco destacam André, mas registram dois
acontecimentos extraordinários na vida desse homem. João fala que foi
André levou o seu irmão, Pedro, a Jesus, logo depois de tê-lo conhecido. É
também João que menciona o seu nome como aquele que achou um menino
que tinha cinco pães e dois peixes (João 6:8). A maioria dos batistas e grande
parte dos evangélicos sabem quem foi Billy Graham. Entretanto, ele credita o
êxito do seu ministério à sua família, à sua equipe e a milhões de anônimos
que por ele oram no mundo todo.
Pedro foi um dos mais destacados entre os discípulos, mas foi o quase que
anônimo André que Deus usou para trazê-lo a Jesus. Em nossas estatísticas
pelo Brasil, temos descoberto que mais de 95% dos membros de nossas
igrejas foram levados a Jesus por pessoas conhecidas, ou seja, familiares e
amigos bem chegados. A família está em primeiro lugar como salvação nas
estatísticas. Você está orando e trabalhando para que membros de sua família
se convertam? Que tal parar agora e orar por seus familiares que ainda não
são crentes? Depois de mencionar seus nomes, diga em que condições se
encontram na sua vida espiritual.
Devemos ter o cuidado de nos atentarmos para isso: Deus quer e precisa
nos usar, principalmente no meio daqueles que desejam nos afastar por conta
da nossa nova fé. Contudo, nossas atividades esportivas e de lazer são feitas
com o pessoal da igreja. Também não frequentamos mais as festas dos
familiares, e o resultado disso é que matamos em nós mesmos um
missionário que poderia estar junto dos seus amigos e familiares, muito
disposto a ganhar pessoas para Jesus.
“Porque, quando estávamos aí, demos esta regra: “Quem não quer
trabalhar que não coma. Estamos afirmando isso porque ouvimos dizer que
há entre vocês algumas pessoas que vivem como os preguiçosos: não fazem
nada e se metem na vida dos outros. Em nome do Senhor Jesus Cristo,
ordenamos com insistência a essas pessoas que vivam de um modo correto e
trabalhem para se sustentar. Mas vocês irmãos, não se cansem de fazer o
bem.”
(2 Tessalonicenses 3:10-13)
Dorcas era uma mulher com um coração cheio da graça divina, e ela uniu a
sua fé em Jesus com as obras. Se utilizou de seu dom de costurar para fazer
caridade, demonstrando o amor de Deus e, como resultado, as pessoas eram
acolhidas por ela, sendo discipuladas. Através de Dorcas, várias pessoas
receberam e conheceram Jesus. Imagino que era um discipulado com as
viúvas e crianças dentro de um processo natural, cultivado por uma aliança e
compromisso que Dorcas tinha com Deus. Aquelas pessoas eram atraídas
para Cristo.
Por fim, Dorcas ressuscitou depois que Pedro orou por ela. O verso 41 diz
que Pedro chamou os santos e as viúvas, apresentando Dorcas viva.
O Senhor cuida
Muitas pessoas de outros lugares vinham morar com o povo de Deus: eram
os estrangeiros. Por serem estrangeiros, eles não tinham terra para plantar, e
por isto não podiam plantar para comer. Uma das regras que Deus deu, que
era muito importante, era para o povo não maltratar as viúvas, os órfãos e os
estrangeiros, mas alimentá-los, dar comida para eles. Não cuidar de uma
pessoa quando ela está precisando é o mesmo que maltratá-la. Deus é bom,
Deus é muito bom, cuida de todos e quer que todos sejam bem cuidados.
Por fim, todo aquele que se dispõe a exercer os seus dons irá ter frutos a
apresentá-los a Deus. Não qualquer tipo de fruto, mas frutos com qualidade
comprovada. Serão novos discípulos que serão consolidados e discipulados
com a mesma eficiência, e transmitirão a mensagem do evangelho adiante,
através do legado que lhe será transferido para que exerça a paternidade
espiritual sobre os seus filhos espirituais.
Ter sucessores
A preocupação de Paulo em exortar Timóteo era porque ele sabia que o seu
ministério estava chegando ao fim. Alguém deveria substituí-lo, e não
poderia ser qualquer um, o discipulado de Paulo com Timóteo nos deixa claro
que a intenção era que este o substituísse. Um discipulador de excelência não
se preocupa somente com o presente, mas com o futuro. Paulo também
ensinou Timóteo a fazer sucessores (2 Timóteo 2:2). Fazendo sucessores, nós
partiremos, mas a Palavra do evangelho continuará sendo propagada através
dos discípulos que doutrinamos, aqueles filhos espirituais que geramos
mesmo em nossos momentos de atribulações. O próprio Paulo disse: “Meus
filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até Cristo ser formado em
vós” (Gálatas 4:19).
A maior arte é a de acreditar nas pessoas. Se você não acreditar, vai querer
selecionar e discipular só aquele que você acha que é bonzinho ou que te
convém.
A casa de Jesus estava lotada de pessoas, não havia mais espaço para
entrar. As pessoas foram para lá não por causa de conforto ou qualquer
interesse, mas porque sentiam o amor que emanava naquele lugar e de Jesus.
A primeira característica do amor é que ele atrai pessoas. O amor tem uma
química que une corações. A palavra de Deus afirma que “ainda que eu fale
as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze
que soa ou como o címbalo que retine” (1 Coríntios 13:1). Não adianta ter
tudo e fazer muitas coisas, se faltar o amor.
Hoje vemos casas que têm muitos quartos com camas, uma televisão para
cada um, computador individual e até banheiros privativos. O grande
problema é que as pessoas se tornaram individualistas, não querem estar
juntas e muito menos dividir o que tem. Se você tem desejo de assumir uma
paternidade espiritual, você deve primeiro ter certeza de que você quer estar
junto de pessoas e viver cercado de um monte delas. Se você tiver Jesus na
sua vida, essas pessoas serão atraídas até você, pois o verdadeiro amor
aproxima, nunca distância!
Mesmo quem não conseguia entrar na casa de Jesus dava uma espiada pela
janela ou porta para ver ou ouvir alguma coisa. Havia ali um homem
paralítico que não conseguia se aproximar. Quatro pessoas o ajudaram, em
uma demonstração de extremo amor e cuidado. O carregaram, levando este
paralítico até os pés de Jesus. Aqueles homens podiam ir ver Jesus sozinhos e
sem nenhum transtorno, não havia a necessidade de se preocuparem com
nada e nem ninguém, mas foram extremamente misericordiosos em ajudar
aquele homem impossibilitado, que a Bíblia retrata como paralítico.
Misericórdia significa olhar e se compadecer com a miséria alheia com o
coração (MISER = miséria + CORDIA = coração). Ter misericórdia de
alguém é sentir sua dor e se compadecer de seu sofrimento. É agir com
misericórdia, é ajudar até quem não merece, mas que precisa conhecer o
verdadeiro amor.
Não adianta dizer que ama alguém e não fazer nada. Por isso eu digo que
“o amor de fato requer um ato”, pois a Palavra nos adverte: “Ainda que eu
distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu
próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará” (1 Coríntios 13:3). Uma casa cheia de amor tem misericórdia
do próximo, sentindo suas dores. Você tem sentido misericórdia das pessoas?
O verdadeiro amor age através do cuidado ao se manifestar misericórdia.
Aqueles homens não conseguiam ver uma passagem para levar o paralítico
até Jesus. Olhavam para um lado e para outro e não acharam caminho. Então
olharam para cima e tiveram a ideia de descobrir o telhado, e assim fizeram.
Com muito esforço descobriram a casa e subiram o paralítico pelo telhado,
descendo-o até onde estava Jesus.
O amor misericordioso
Aquele ambiente cheio de amor estava sendo sentido somente por pessoas
que já conheciam o verdadeiro amor, que é Jesus. Por isso os escribas não
conseguiam entender o que acontecia, julgando Jesus e o homem paralítico
(Marcos 2:6-8). Mesmo num ambiente cheio de amor, existem pessoas que
estão com seus corações endurecidos e que não sentem nada. Jesus anunciou
o perdão de Deus, que cura e restaura a alma. A maior dor daquele paralítico
não era nas suas pernas, mas sim na sua alma, por seus pecados.
O verdadeiro amor não julga os outros, porque o amor “não se alegra com
a injustiça, mas regozija-se com a verdade” (1 Coríntios 13:6). Ser julgado é
doloroso e machuca. Julgar é uma forma de odiar.
Lembrar-se dos erros só traz culpa e dor. Por isso, quem ama perdoa
quantas vezes forem necessárias (Mateus 18:2122). A mágoa se torna uma
ferida cancerígena, como uma “raiz de amargura que, brotando, vos
perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hebreus 12:15).
Quando nos aborrecemos com alguém, significa que amamos muito essa
pessoa. Se não amássemos, nem nos importaríamos com suas ações. Se você
precisa perdoar alguém que te ofendeu, saiba que o verdadeiro amor perdoa!
Jesus percebeu que estava perdendo tempo com discussões, e que precisava
manifestar seu amor na prática, levantando o homem caído. Nesta hora, Jesus
converteu toda sua ira pela dureza dos escribas, transformando-a em amor
que cura para restaurar aquela vida. Mas a ordem de Jesus parecia incômoda
para um homem que não andava há tanto tempo. Mesmo assim ele se
esforçou, e enfim conseguiu levantar.
Mais uma vez o clima do amor tomou conta da atmosfera na casa de Jesus.
Todos presenciaram a cura do paralítico. As pessoas começaram a dar glória
a Deus, exaltando o poder do amor. Naquele momento, toda discussão
acabou e começou o louvor ao Senhor. Não exaltaram os amigos que
carregaram o paralítico nem qualquer outra pessoa, mas somente deram
glória a Deus.
O verdadeiro amor sempre glorifica a Deus. As obras do amor trazem os
frutos do Espírito Santo (Gálatas 5:22). Quando alguém faz algo por amor,
não é para mostrar a si mesmo, porque o amor “não se conduz
inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se
ressente do mal” (I Coríntios 13:5).
Hoje vemos pessoas que dizem fazer caridade, mas que estão interessadas
apenas em mostrar sua bondade e até mesmo em receber descontos no
imposto de renda. Este não é o verdadeiro amor, pois o amor que vem de
Deus glorifica somente o Senhor, e não o homem. Se as pessoas não
reconhecerem o que você faz, não se importe, porque Deus reconhece o amor
que não se vangloria ou elogia a si mesmo. “Nada façais por partidarismo ou
vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a
si mesmo” (Filipenses 2:3).
O Senhor Jesus quer estar em sua casa, para que ela seja cheia de amor. A
igreja também precisa estar cheia da presença de Jesus, e não do homem
apenas, para que o clima de amor predomine no meio dos irmãos. O amor foi
encarnado numa pessoa, que é o Senhor Jesus, portanto, uma casa ou igreja
só pode estar cheia de amor se estiver na presença de Cristo.
Eu desejo que a sua vida e o seu lar sejam cheios de amor, pois Jesus é o
amor que preenche corações!
COM O AMOR
Capitulo 18
O mundo cria ao nosso redor uma estrutura funcional tão intensa que
acabamos por ignorar aquilo que é realmente importante. Fazemos isso em
prol de uma busca por satisfação pessoal e crescimento financeiro. As nossas
mensagens, que deveriam vir simplesmente repletas de amor, apontando para
o cuidado pelo Senhor e pelas pessoas, estão carregadas de uma enfatização
sobre prosperidade terrena, mundana e carnal. Aquilo que você pode
conquistar é muito mais importante do que aquilo que Cristo já conquistou.
As pregações dos dias de hoje não falam mais do Amor de Jesus, já não
fazem menção ao amor e cuidado ou à salvação. Os apelos depois do culto já
não existem mais dentro das igrejas, pelo menos não com a frequência que
deveriam existir.
Creia que somos os escolhidos do Senhor para fazer a diferença nesta terra.
Somos chamados de luz do mundo e sal da terra, embaixadores do Reino,
filhos de Deus, mais que vencedores e tantos outros adjetivos, que cabem
para aqueles que receberam Jesus Cristo em suas vidas como único Senhor e
suficiente Salvador. Vamos tomar posse das nossas responsabilidades no
Senhor e fazer discípulos, amando e cuidando bem um do outro, tratando uns
aos outros bem e fazendo com que o amor de Deus seja visto e sentido por
todos aqueles que nos cercam. Devemos fazer isso começando por nós
mesmos, nos disciplinando sob a luz da Palavra, mudando o nosso interior
para que possamos estar aptos para toda a boa obra.
Tudo o que vemos fora é resultado do que há dentro de nós. Por isso é
tolice realizar muitas obras externas na tentativa de melhorar as pessoas e
situações se não cuidarmos de nós primeiro. Devemos entender que Deus é
amor, mas, se somos filhos, também temos esse amor para dar! Somente
Deus é capaz de destruir a maldade, mas, se somos filhos legítimos, também
seremos capazes de destruir o que é mal. Somente Deus transforma o coração
do homem, mas, se somos verdadeiros discípulos ativados pelo amor e
cuidado pelo próximo, também temos essa condição de promover
transformação através do nosso testemunho de amor e cuidado. Devemos
cooperar com Ele, dizendo “eis-me aqui!”.
Capitulo 19
DEMONSTRANDO UM AMOR
PERSISTENTE
A persistência pode ser tanto uma virtude (quando se fala de alguém que é
perseverante, firme, constante) quanto um defeito (quando se refere a alguém
teimoso, que persiste no erro). Quando falamos que Deus ama de modo
persistente, queremos dizer que, apesar dos nossos pecados, o Senhor Deus
nos ama incondicionalmente. Ele persiste em nos amar, pois Ele é fiel e, para
comprovar isto, gostaria de mencionar um exemplo.
JESUS AMOU SEUS DISCÍPULOS ATÉ O FIM
Jesus amar seus discípulos até o fim significa que Jesus os amou enquanto
esteve com eles, até a etapa final do seu ministério terreno, antes de sua
ascensão. Pois é isto que João enfatiza no primeiro verso. Sabendo Jesus que
era chegada a sua hora de passar deste mundo para viver com o Pai, tendo
amado seus discípulos que estavam no mundo, amou-os até o fim.
Amar até o fim também significa que Jesus os amou com um propósito
aperfeiçoador. Em João 17:23, Jesus ora para que seus discípulos fossem
aperfeiçoados em unidade, pois Jesus esperava que eles atingissem o alvo,
que chegassem até o fim, permanecendo em unidade, não apenas consigo
mesmos, mas principalmente Nele.
Amar até o fim, em João 13, significa que Jesus queria que eles fossem
aperfeiçoados em humildade, pois é isto que os versos seguintes indicam.
Jesus vai lavar os pés dos seus discípulos, dando-lhes um grande exemplo de
humildade. A humildade está ligada a servir aos outros, e era uma virtude
ainda difícil de ser cultivada na mente dos discípulos. Nos outros evangelhos
há relatos de brigas entre eles para saber quem era o maior. Jesus, mais uma
vez, tenta corrigir essa falha no caráter dos seus discípulos, como prova do
seu amor persistente por eles.
“Qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu
discípulo.”
(Lucas 14:33)
Não tenho escondido isso de ninguém. Ao contrário, tenho deixado bem
claro que o discipulado não é para qualquer um. Ele custa um preço muito
alto, e o seu preço é alto porque você está mergulhado em pecado, porque a
cultura que o rodeia e exerce pressão sobre você é maligna, e também porque
as potestades do ar têm certo poder e encobrem a verdade. Deixe-me falar
com toda franqueza: se você ama os seus familiares e a si mesmo mais do que
ao Senhor, não poderá ser Seu discípulo. Se você não estiver pronto para
morrer como eu morri, não pode ser discípulo do Senhor. Se você não quiser
deixar tudo o que tem, não pode ser discípulo.
Se Jesus deixou tudo por amor a mim, o que me resta se não deixar tudo
por amor a Ele?
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar
boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos
presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e
proclamar o ano da graça do Senhor.”
(Lucas 4:18-19)
O Espírito do Senhor estava sobre Jesus para que se cumprisse a profecia
descrita no livro de Isaías. Toda a autoridade foi dada a Ele para que três
pontos importantes fossem executados:
É claro que Jesus também curou muitos cegos físicos, libertou cativos e
alimentou pobres, mas essa Palavra se refere a algo mais profundo. Refere-se
a uma cegueira espiritual, a uma prisão exercida pelo reino das trevas na vida
daqueles que não conhecem a Cristo, e fala de uma pobreza de espírito que
faz separação entre o homem e o Pai celestial.
Essa grande comissão que nos foi dada foi uma palavra de ordem, dita no
imperativo, e é a missão de todo verdadeiro cristão, pois todos nós somos
frutos desta palavra. Alguém, um dia, cumpriu essa ordem em nossas vidas,
pregando, orando, jejuando e exercendo essa autoridade deixada por Jesus,
para que fôssemos amados, bem cuidados e salvos.
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