O Suicídio Na Adolescência

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O Suicídio na Adolescência: um Olhar Psicanalítico na Contemporaneidade

Resumo: O presente artigo tem como objetivo evidenciar as características distintas ao suicídio
na adolescência, seus princípios, abordar reflexões teóricas, e pensar sobre as mudanças que o
passar dos anos trouxe no contexto real, a partir dos estudos realizados por Freud e as
atualizações de teóricos pós-freudianos. Salientando que mais de um milhão de pessoas tiram
a própria vida todos os anos no mundo, esse fato torna-se um desafio para a área clínica.
Apesar de termos variáveis fatores que contribuem para o suicídio, os mais expostos são os
jovens, que serão o foco deste artigo, os idosos e os socialmente isolados. Vale dizer que a
prevenção ao suicídio é possível, sendo os comportamentos de ordem suicida, sempre dão
indícios comunicativos, podendo ser estes sinais de ordem verbal, planejamento do ato, e na
própria tentativa da retirada da vida. Cabe dizer que o suicídio não é qualquer morte, mas sim
uma morte específica, em um momento específico. 

Palavras-chave: Suicídio na Adolescência, Psicanálise Contemporânea, Freud,


Melancolia, Angústia.

1. Introdução 

Ao se trabalhar este tema, partindo de um ponto de vista psicanalítico, percebe-se que a


conceituação freudiana não se dá por encerrada, e assim, os motivos suicidas permanecem
sendo estudados. O crescimento da demanda de jovens que chegam por motivos de
automutilações, tentativas de suicídio, fugas, impulsividades e agressividade, faz com que se
aumentem a discussão em torno da temática.

Essa manifestação insondável desses jovens ocasiona reflexões como, o conceito da


adolescência para a psicanálise e qual o entendimento dos atos cometidos pelos adolescentes
acerca do seu sofrimento. O desafio é grande, meditar sobre as ações realizadas pelos
adolescentes requer pensar nos obstáculos vivenciados por cada um deles.

 A adolescência é um tempo precioso, onde, questões rudimentares do processo de


estruturação psíquica serão retomadas. Talvez a adolescência seja um tempo de concluir, no
BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
Em: Rev. Ágora, Rio de Janeiro, v.15, n.1. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S151614982012000100010&lng=en&nrm=iso. Acessado em 22 de maio
2019.
Conselho Federal de Psicologia. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia /Conselho. Federal
de Psicologia. - Brasília: CFP, 1° edição – 2013. www.cfp.org.br.
MAGNANI, Rafaela Mazoroski Magnani, Ana Cristina Pontello Staudt. Suicídio na Adolescência.
Vol. 22. N°1. Porto Alegre. Jan/Junh 2018. www.scielo.br. Acessado em 25 de maio de 2019.
MALUCELLI, D. Suicídio na Adolescência. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso
Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
NAZAR, M. Tempos Modernos. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso Internacional
de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, p. 37-60.
SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
- USP I www.scielo.br/pusp. Acessado em 21 de maio de 2019. 
entanto, tratando-se de um nó que se emaranha em outras junções, sendo possíveis rupturas
de uma composição, na qual se equilibrava um sujeito. Assim, torna interessante refletir sobre
a adolescência e temporalidade.

2. A Adolescência e o Suicídio

A adolescência, historicamente falando, se inicia entre o século XVIII e XIX, mas o uso do termo
para notabilizar a passagem da vida se vigora a partir do século XIX. Ainda assim, não existe
uma distinção claramente estabelecida na colocação dos termos puberdade e adolescência.
Define-se então adolescência o estágio da vida, que começa com a puberdade e vai se
caracterizando pelas mudanças corporais e também psicológicas, que vai dos 12 até os 20
anos. No período da puberdade é onde mais ocorrem mudanças físicas, o amadurecimento
sexual, onde pode acontecer a reprodução humana. Na obra freudiana, predomina-se, o termo
puberdade (Vieira, 2014).

Para Freud (1905), a pulsão, que na adolescência conhecida por puberdade, alcança uma nova
meta sexual, pois antes o predomínio era auto-erótico, agora a descarga é através de um
objeto sexual. Adolescência que marca a passagem da infância para a vida adulta.

A adolescência trata-se de um período de transformação intensa, no qual há uma ruptura do


equilíbrio pulsional obtido na latência. Com isso, uma nova ordem impõe uma mudança
corporal irreversível, gerando, com isso, uma intensificação das fantasias e das buscas
identificáveis através dos grupos. Instalada a da primazia do falo. Para Freud (1905, p. 196), a
puberdade “(...) é como a travessia de um túnel perfurado desde ambas as extremidades”, o
que nos faz pensar na força do despertar da sexualidade. Esse redespertar pulsional vem logo
após a latência.

A inclusão numa família fornece um importante amparo ao jovem. Porém, o adolescente deve
justamente matar simbolicamente seus pais para que possa responder por si só a demanda
que lhe é feita. Sendo assim, com o afastamento dos pais, a sensação de desamparo é
intensificada nos adolescentes.

BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
Em: Rev. Ágora, Rio de Janeiro, v.15, n.1. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?
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de Psicologia. - Brasília: CFP, 1° edição – 2013. www.cfp.org.br.
MAGNANI, Rafaela Mazoroski Magnani, Ana Cristina Pontello Staudt. Suicídio na Adolescência.
Vol. 22. N°1. Porto Alegre. Jan/Junh 2018. www.scielo.br. Acessado em 25 de maio de 2019.
MALUCELLI, D. Suicídio na Adolescência. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso
Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
NAZAR, M. Tempos Modernos. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso Internacional
de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, p. 37-60.
SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
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Segundo Dolto (1988), o adolescente é, para os adultos que o cercam, objeto de
questionamento carregado de angústia. Os pais temem a adolescência de seus filhos
justamente porque vão reviver a sua própria, e a ansiedade sentida pelos pais é o que mais
pode comprometer a autonomia do adolescente.

Para Calligaris (2010, p. 27), a dificuldade dos adultos de lidarem com o adolescente se deve ao
fato deste ser um intérprete do desejo inconsciente do adulto:

O adolescente é ótimo intérprete do desejo do adulto. (...) O adolescente acaba atuando,


realizando um ideal que é mesmo algum desejo reprimido do adulto. Mas acontece que esse
desejo não era reprimido pelo adulto por acaso. Se reprimiu, foi porque queria esquecê-lo. Por
consequência, o adulto só pode negar a paternidade desse desejo e se aproveitar da situação
para reprimi-lo ainda mais no adolescente.

Na adolescência, a imagem na qual o sujeito se encontrava alienado é alterada, ocorrendo


uma desorganização imaginária. Com isso, a imagem especular deve ser modificada de tal
forma que o Outro e o objeto em questão adquiram outro valor psíquico. É apenas
convocando os elementos da identificação simbólica que o adolescente poderá ultrapassar
esse período crítico.

A identificação imaginária diz respeito a uma imagem que nos faz merecedores do amor do
outro, e se constitui para  um olhar do Outro - o Eu Ideal. O que está em jogo aqui é a
semelhança, a aparência, tendo como base a noção de complementaridade. Já a identificação
simbólica se constitui a partir  do olhar do Outro; diz respeito ao ponto de onde somos
observados para a avaliação se somos dignos de amor - o Ideal do Eu. Nesse caso, temos um
traço do Outro que escapa à imitação, e é esse traço que possibilitará a articulação de todo o
universo de identificações. Nesse sentido, elas não estão situadas num mesmo nível (Saggese,
2001).

Ao se comparar a um ideal - Ideal do Eu -, o adolescente ordena o emaranhado de


identificações imaginárias, como se houvesse uma âncora, que seria um registro simbólico
internalizado, e que lhe indica o lugar de onde pode ver-se como indivíduo no mundo.
BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
Em: Rev. Ágora, Rio de Janeiro, v.15, n.1. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?
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Vol. 22. N°1. Porto Alegre. Jan/Junh 2018. www.scielo.br. Acessado em 25 de maio de 2019.
MALUCELLI, D. Suicídio na Adolescência. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso
Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
NAZAR, M. Tempos Modernos. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso Internacional
de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, p. 37-60.
SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
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VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
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Segundo Saggese (2001), é o conceito psicanalítico de Ideal do eu que pode dar conta da crise
da adolescência. Isso porque as vicissitudes do Ideal evidenciam a integração ou a
desintegração do sujeito nesse momento em que é convocado a resgatar suas identificações
mais primitivas, para que possa, depois de remanejá-las, responder por si só à demanda sexual
que lhe é imposta. Se há dificuldades de conciliação entre as exigências sociais e as do ideal
que já carrega, o adolescente responderá de forma sintomática.

Para  Melman, é comum que hoje as famílias se sintam impotentes e acabam por se tornar
impotentes diante da liberdade que a sociedade dá aos adolescentes, que naturalmente agem
de acordo com esses parâmetros. Este fato leva o adolescente a uma situação difícil, já que,
segundo o autor, o momento da adolescência é, sobretudo, estar contra o pai e crer-se além
do pai.

 O único outro aceitável para o Eu é o seu outro especular encarnado pelo Eu Ideal. No
entanto, o luto desencadeado pelo abandono das figuras parentais como objeto de desejo
contribui para o enfraquecimento narcísico do sujeito adolescente. Para lidar com o
desamparo que emerge quando o sujeito não pode mais se sustentar como antes, nesse Eu
Ideal garantido pelo investimento dos pais, o Ideal do Eu deverá buscar novas ancoragens para
que possa fazer a sua função de guiar a relação do sujeito com o outro. Se neste momento não
conseguir constituir novas referências que o ajude a transpor as identificações e idealizações
da infância, um adolescente pode se precipitar numa descarga pulsional imediata no real
através das passagens ao ato (Savietto, 2006).

Segundo Dolto (1988), é comum que os adolescentes cheguem com sintomas somáticos, como
acne, escoliose, astenia, entre outros; ou que se defronte com uma espécie de prostração, sem
motivação para nada, completamente desamparados, sem saber o que fazer ou o que dizer. Já
em análise, oscilam entre a indiferença e uma forte queixa que eles não formulam.

O psicanalista teria a tarefa de dar lugar à palavra ali onde só há ato, os atos adolescentes vêm
sem a mediação da palavra, e se fundamentam numa grande dificuldade com o laço social. A
dificuldade que o adolescente tem com o recurso da simbolização leva a problemas como as

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injunções da linguagem que se assemelham aos da psicose. Não é à toa que os surtos
psicóticos se dão, na maioria dos casos, no período da adolescência (Manfroni, 2011).

2.1 A visão Contemporânea

A mudança significativa das sociedades contemporâneas ocidentais e individualistas para as


mais tradicionais demarcam uma diferença contextual. Nas sociedades nomeadas como
tradicionais, os ritos de passagem envolviam atos que, ora marcavam o corpo, ora extraiam
algo desse corpo, por exemplo, a incisão ou extração de dentes. Já nas sociedades tradicionais,
era a partir de cirurgia do sentido que o sujeito saia da infância e entrava na vida adulta. Nas
sociedades individualistas, os ritos coletivos que demarcavam a passagem para a vida adulta se
perderam, e não sendo mais ritualizado, acaba se efetuando por um caminho pessoal (Le
Breton, 2011).

A adolescência então, com o seu tempo de permanência ampliado, é marcada por


acontecimentos importantes, onde, as fronteiras do eu se fragilizam, o Édipo é revivido e o
funcionamento psíquico juntamente com o laço com o outro são definidos. Desta forma,
torna-se um tempo de intenso trabalho psíquico. A passagem entre o discurso infantil
direcionado ao Pai é transferida para os discursos sociais direcionado ao Outro social. Este
remanejamento implica em outro remanejamento da organização psíquica e da relação do
sujeito com o mundo (Lesourd, 2004).  

Os adolescentes estão emaranhados na transição implicada no adolescer. Revelam questões


como à imagem do corpo que cresceu e se encontra submetido aos excessos pulsionais. O
maior desafio se modela em orientar o adolescente nessa sua travessia, sendo necessária
delicadeza, reconhecendo que a adolescência é diferente para cada sujeito, mas, sempre
visando às hipóteses de demandas em comum. Sendo assim, se temos uma repetição que não
é apenas de um, mas igualitária, pertencente a vários de uma mesma geração, é preciso
atentar para o que está sendo denunciado acerca do campo social no qual os adolescentes
estão inseridos (Lesourd, 2004).

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A relação com o objeto adquire novas margens, mas é necessário ter conhecimento das
marcas já existentes. As operações psíquicas são reativadas por uma nova potência, o emergir
da sexualidade, a descarga pela maturação genital, a possibilidade de procriar, e a força física
que antes não existia. Estes, normalmente apresentam dificuldades presentes desde a
infância. Aos atos da adolescência, temos que ter a consciência de que esses não podem ser
naturalizados porque nesta fase é esperada a “tendência a agir” (Alberti, 2009).

Nesta tendência de agir, percebemos certo capricho onde o sujeito se precipita, revelando
determinadas alterações em sua conduta. Entre adolescentes, vemos com frequência nessa
tendência de agir no apelo dirigido ao Outro, não sendo possível generalização, mas sim,
apresentar observações realizadas na posição ao quais os adolescentes se situam na relação
com o Outro (Alberti, 2009).           

Na relação do adolescente posicionado como objeto, ele se manifesta em resposta a uma


angústia destruidora através da agressividade dirigida a si mesmo ou a outro. Relações
marcadas por um embaraço diante de duas questões: “o que sou para o Outro?” e “o que o
Outro quer de mim?”. Uma hipótese é que, diante desse embaraço, o adolescente responda
com atos que (1) provocam a extração de um objeto de seu próprio corpo (sangue e/ou um
pedaço da própria carne, ofertando esse sacrifício ao olhar do outro); (2) configuram-se como
fugas que se apresentam como tendência a agir; (3) afrontam a lei (furtos e assaltos) e (4)
agridam a si mesmos (escarificações, mordidas, batem a cabeça) (Alberti, 2009).

A passagem ao ato é, portanto, uma resposta rudimentar, que nos remete ao traumático,
àquilo que é irrepresentável. Como vimos, a adolescência por si só pressupõe vivências
traumáticas e violentas a partir do excesso pulsional, da fragilidade narcísica e egóica. A
passagem ao ato como uma defesa, portanto, diz respeito a uma tentativa do sujeito de passar
de uma posição passiva, do ponto de vista psíquico, onde o ego não consegue ligar a energia
pulsional que irrompe no psiquismo, para uma posição ativa, onde há uma exteriorização de
algo que é interno (Gaspar et al., 2011).

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Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
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SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
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A passagem ao ato substitui o trabalho de elaboração psíquica, “por não possuir recursos para
a elaboração de seu drama interior, o adolescente pode acabar recorrendo a uma atuação
dramática” (Savietto, 2006).

Segundo Lacan (1963), o que está em jogo no suicídio é a passagem ao ato. Por trás da


passagem ao ato temos um dar as costas ao Outro, fugindo da cena, da angústia e da divisão
do sujeito, o que só poderá ter êxito no suicídio. Nesse sentido, para ele o suicídio seria o
único ato que não é falho, o único ato bem-sucedido, no qual nada mais dirá ao sujeito o
caminho a seguir. No suicídio, o sujeito foge do conflito sem medir as consequências de seu
ato.

Em se tratando de uma intensificação de pedidos de ajuda pela via do ato, fala de uma
sociedade na qual o sofrimento psíquico encontra pouco espaço para se manifestar por vias
que não sejam as da medicalização, o corte distingue e separa o tempo antes da adolescência
e um depois da infância. É possível observar traços melancólicos em determinados
comportamentos, mas essas “patologias do ato” nos dizem de um algo a mais (Bauman, 2000).

Freud nos mostra que não há representação psíquica da morte no inconsciente, embora o
sujeito não canse de tentar representá-la. Por trás dos casos de suicídio analisados ocorreram
traumas decorrentes de rompimentos afetivos mal elaborados, dificuldades de processos de
diferenciação no interior da família, bem como casos de assédio, o que podemos relacionar
com o bullying  na adolescência.

Sobre o adolescente e o suicídio, Alberti (2009) afirma que no jovem a fronteira entre a vida e
a morte é muito frágil, pois fica difícil viver quando há uma nova tensão a todo instante. Para a
autora, seguindo a visão freudiana, o Eu e a cultura estão em constante oposição na
adolescência. A cada nova renúncia pulsional, aumenta-se a culpa, que pode voltar contra a
própria pessoa.

Perda, solidão e imobilidade estão intimamente ligadas ao sentimento de desamparo,


característica comum da adolescência contemporânea, o que nos remete também à
problemática melancólica. Em 1917, com “Luto e Melancolia”, Freud caracteriza a melancolia
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como uma identificação ao objeto perdido, onde o sujeito sabe quem perdeu, mas não sabe o
que perdeu nesse alguém, o que se pode relacionar a perda de referências que ocorre na
adolescência.

Segundo Freud (1917), diferentemente do que ocorre no luto, a melancolia se caracteriza por
um investimento objetal que é substituído por uma identificação, o Eu se identifica ao objeto
perdido e o incorpora. O que ocorre é que, ao invés da libido, que ficou livre depois da perda
do objeto, se ligar a novos objetos e fazer novas escolhas objetais, ela se volta para o próprio
Eu.

Podemos então destacar que a subjetivação na adolescência identifica possíveis relações entre
o aumento da incidência de patologias psíquicas nessa fase, que utilizam o recurso da
passagem ao ato, e uma sociedade que nem sempre funciona como receptor para as angústias
dos jovens (Bauman, 2000).

Freud nos mostra que a felicidade deriva da satisfação repentina da necessidade, de modo que
sentimos prazer quando estamos num contraste: “Nada é mais difícil de suportar do que uma
sucessão de dias belos” (1930, p. 84). Nesse dilema do sujeito ter o direito de satisfazer
plenamente seus desejos, pode ocorrer um sentimento de insatisfação constante, de
desinteresse para com o mundo externo, adquirindo uma necessidade de voltar-se para
dentro. Hoje, temos um conflito caracterizado, sobretudo, pelo vazio. Sendo possível que os
sintomas variem em questões de normas sociais. Se antes os sintomas suicidas eram
caracterizados pelos êxtases numa cultura ainda religiosa, atualmente, os sintomas se
caracterizam por um caráter depressivo ou compulsivo. Podendo acontecer de o sintoma
como apelo ao Outro não ser atendido, sendo assim, não tem espaço social, sendo comum o
conflito psíquico de forma direta como a passagem ao ato (Ehrenberg, 1998).

Atualmente, é comum nos depararmos com sentimentos de fracasso e desilusão por estarmos
o tempo todo em busca de objetivos inalcançáveis, e assim, com a frustração. Desta forma,
acredita-se que o fracasso seja o mal-estar contemporâneo. As mudanças normativas se
referem ao modelo disciplinar de gestão de condutas, e a partir do momento que essa

BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
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de Psicologia. - Brasília: CFP, 1° edição – 2013. www.cfp.org.br.
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Vol. 22. N°1. Porto Alegre. Jan/Junh 2018. www.scielo.br. Acessado em 25 de maio de 2019.
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Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
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de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, p. 37-60.
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em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
- USP I www.scielo.br/pusp. Acessado em 21 de maio de 2019. 
normatividade se afrouxa, ocorre um desmoronamento de valores. A norma que passa a guiar
as subjetividades é a da iniciativa individual, levando o sujeito a tornar-se sujeito de si mesmo.
Se ontem as regras sociais comandavam os conformismos de pensamento, hoje, elas exigem
iniciativas e aptidões mentais; o indivíduo passa a ser confrontado com a patologia da
insuficiência (Ehrenberg, 1998).

Sendo assim, os sujeitos passam a medir seus ideais pela aptidão, o que gera muita ansiedade,
já que a vitória nunca é definitiva, e se as referências mudam, o mesmo acontece com a auto-
estima, pois se submete a essas referências. O sujeito pertence ao que ela chama de
“totalidade orgânica”. Quanto mais eficaz é essa homogeneização, mais difícil torna-se aceitar
as diferenças e mais intensa é a ansiedade que esta pode causar (Melman, 2003)

Numa sociedade onde as exigências sociais são enormes, a necessidade de responder a um


ideal de perfeição pode acarretar dificuldades em assumir seu sofrimento, gerando o
pensamento de que é mais fácil elaborar do que passar por um momento de dor, desta forma,
o luto passa a ser visto como um momento em que tudo se encontra “aparentemente”
resolvido. Neste processo, não perderia tempo com o sofrimento (Ehrenberg, 1998).

Assim, muitos optam ainda, pelo medicamento. O medicamento, não é o problema, mas sim, a
expectativa que esse gera no sujeito, levando a um bem estar artificial, que decepciona o
sujeito na medida em que ele acredita que terá seu sofrimento resolvido, fazendo com que ele
esteja sempre em busca de tratamentos mágicos, entrando em um ciclo vicioso onde a
plenitude nunca é alcançada. Onde com o excesso de medicamento, o sujeito é levado a
condições cada vez mais passivas, no entanto, cada vez mais depressiva, pois nesses casos, o
medicamento cura o próprio sentimento de existir (Ehrenberg, 1998).

É interessante observamos que mesmo em outra época, nesta modernidade toda, em


comparação a épocas passadas, nossa sociedade não está mais satisfeita e nem mais feliz. Com
a falta de ideais, o sujeito contemporâneo se caracteriza como individualista e narcisista.
Portanto, diante de uma sociedade com múltiplas referências, o que podemos dizer dos
adolescentes? Em “Psicologia  de grupo e análise do ego” (1921), Freud articula a “pobreza

BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
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em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
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psicológica dos grupos”- fenômeno produzido pela falta da figura de autoridade, a algumas
características frequentemente encontradas nos adolescentes da atualidade como: o excesso
emocional, a impulsividade, a violência, a inconstância, o extremismo nas ações, a presença de
contradições, a ausência de auto-respeito e de senso de responsabilidade, entre outros. Estas
características são frequentemente encontradas nos adolescentes da atualidade (Calligaris,
2010).

A psicanálise propõe um olhar livre de preconceitos em relação à alma e suas dores, e se


diferencia de outros tratamentos, pois ela responsabiliza o sujeito de se guiar a vida através do
que ele sente em seu corpo e pensamento. Para Freud, o desligamento da autoridade dos pais
é uma das realizações psíquicas mais importantes da fase da puberdade, mas pode ser a mais
dolorosa também. Este é um processo de idas e (voltas), porque em certos momentos o sujeito
vai precisar retornar a relação anterior que tinha com os pais para poder superar a separação,
e os pais precisam desse movimento do filho que acompanham eles em sua trajetória, pois se
os pais desistirem deixarão o filho desesperado, assim, procurando soluções trágicas, no caso,
a tentativa ao suicídio (Alberti, 2004).

O suicídio se enquadra dentro de um contexto atual de sociedade que vivemos a globalização,


que fornece acessos e informações, fazendo com que se torne imediata as necessidades do
sujeito, e quando esse sujeito passa a ter contato ativo nessa sociedade, que vai impor direito
e deveres, vai causar marcas psíquicas e externas. Apesar de sempre ser discutido por
profissionais psicólogos e outros, ainda se tem receio para tratar desse assunto, pois configura
como algo ameaçador para cada indivíduo, podendo ocorrer com pessoas próximas ou até
mesmo familiares. O suicídio não é fadado aos hospícios, e sim dentro dos lares, podendo
ocorrer na vida de qualquer sujeito (Hellman, 1964/1993)

O suicídio ainda é um assunto pouco comentado, considerado tabu, ainda mais se tratando da
adolescência. O jovem age para demonstrar as emoções que sente, e por vezes se torna difícil
lidar com fatores que causam estresse, pois, pode colocar a vida em risco mesmo sem ter a
intenção de morrer, pois se vale de conduta para suicida (Hooven, 2013).

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VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
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Segundo Freud (1917-1974), os homens não matam uns aos outros por temerem castigo divino
ou das leis da civilização, sendo assim, se o homem acreditar que pode fugir das leis terrenas e
que Deus não existe e que também não existe um juízo final, quase certo que quando for
ameaçado, mataria para se defender.

Mas quando a morte não acontece por motivos naturais e sim pela interferência do próprio
sujeito, o caso fica mais intrigante. Freud (1923; 1976) afirma que quanto mais a pessoa tenta
controlar sua agressividade em relação ao outro, mais aumentam a agressividade do seu ego
ideal para um caminho externo, podendo se voltar contra ele mesmo. Porque essa
agressividade também aparece na melancolia, sofrimento que vem acompanhado e
caracterizado por camuflado, mas forte sadismo. Quando um sujeito neurótico tenta suicídio
na adolescência, significa que está fazendo um apelo.

O tratamento psicanalítico vai trabalhar a escuta, fazendo acontecer a subjetivação do ato.


Quando o sujeito procura sua morte, ele está solicitando o escutar muito mais que o desejo
que se encontra no recalque da neurose. Deve ser escutado urgentemente, pois se o sujeito
tentou uma vez e não conseguiu, vai tentar novamente, só que desta pode obter sucesso
(Gerez, 2000).

A psicanálise é solução para quem já tentou suicídio e também ajuda o adolescente a se livrar
da questão da angústia, achando uma saída menos radical que se suicidar (Burman, 2007).

Pensar em suicídio na adolescência é normal, pois isso faz parte do seu desenvolvimento
(Moreira e Bastos, 2015), mas não pode ser frequente:

“Conforme Ministério da Saúde (MS) do Brasil, as taxas de 2014 de suicídio entre jovens e
crianças na faixa etária de 10 a 19 anos alcançaram 814 notificações. O suicídio é a terceira
maior causa de morte, ficando atrás apenas para acidentes de trânsitos e homicídios (MS,
2014), mas a principal causa de internação psiquiátrica de adolescentes é a tentativa de
suicídio (Kuazynski, 2014).”

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Miller (2005) diz que existe nesta época uma tendência de isolamentos dos adolescentes,
distanciando-os dos adultos, numa cultura própria a eles que ficam sujeitos a moda entusiasta,
as tendências. Com esses impasses, o adolescente acaba se sentindo confuso e ansioso.
Conforme Amaral (2007), o mundo adulto é que não entende as identidades passageiras dos
adolescentes, querendo exigir deles algo do qual ainda não estão preparados, que é uma
atitude de adulto. Dessa forma, não existe muitas alternativas para eles, e por causa da
subjetividade individual, muitos ficaram atrelados aos conflitos, as angústias e também
sintomas sintomáticos e juntamente a depressão, podendo assim tentar o suicídio.

Para aliviar a dimensão dos sintomas do sujeito, o psicanalista entra em cena com uma escuta.
O adolescente e a família poderão contar como acontece o mal-estar que gera incômodo. A
análise tenta ajudar o adolescente a encontrar diante desses deslizes, uma estabilidade maior
para que consiga alcançar o respeito tão desejado, sem precisar cometer atos mortíferos
(Lacadú, 2011).

O Conselho Federal de Psicologia (2013) direciona para os diversos fatores que influenciam os
indivíduos a ir à procura da morte para tentar acabar com a dor e o sofrimento, como:
emoções, fatores psíquicos, fatores religiosos e os socioculturais. O adolescente sofre
transformações que podem acarretar em uma fragilidade maior relacionada à vida. Não sabem
explicar o que sentem, ou nem sabem o que sentem.

A psicanálise vê o suicídio como uma alternativa para escapar de uma crise que nem sempre se
consegue explicar sobre a mesma. Podendo ter uma comparação com uma tomada de decisão
para muitos adolescentes. Tentar suicídio seria uma maneira de se fazer existir. Quem sofre
com a vida, procura buscar a morte, pois a morte pode aparentar uma solução para a vida
(Ansermet, 2003).

Freud descobriu a pulsão de morte, e percebeu que o sujeito também trabalha algo que leva a
sua destruição e não somente ao seu bem-estar. Lacan (1959) também fala que algumas vezes
o sujeito agiria de maneira prejudicial e não somente em favor do bem-estar.

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Entre o pensamento e o ato acontece uma interrupção, o pensamento é tomado de dúvidas, e
a base do ato é a certeza, e o suicídio se encontra neste ato. Quando a dúvida cessa, o ato
acontece, nesse caso não existe solução que seja possível, não tem escolha, então o sujeito
age (Ansesmet, 2003).

Alguns adolescentes se deparam com o abandono por falta de referências e são


responsabilizados pela sua existência para se certificar se vale ou não a pena estar existindo,
mesmo com toda a dúvida, de todos os conflitos e das angústias, alguns conseguem superar
essa fase, chegando à vida adulta. Mas, existem alguns, em números cada vez mais altos, que
sem hesitar, se lançam em condutas arriscadas. Condutas como: álcool, dirigir perigosamente,
tentar suicídio, distúrbios alimentares, etc.

Os fatores que ajudam os adolescentes a terem essas condutas são inúmeras; como o
abandono da família, a própria indiferença familiar, os pais querendo se identificar com os
filhos, procurando se manter jovens, não aceitando a condição de serem mais velhos que eles.
Também tem peso nisso a violência e abusos de ordem sexual, desavenças entre casal
parental, a atitude hostil por parte da madrasta e padrasto; o que faz com que adolescentes
queiram se afastar da família (Lacadée, 2011).

Com uma terminologia pobre em relação à palavra suicídio, desqualifica-se o ato de quem
tenta ou tira a própria vida, e assim o acusam de poder ter o controle de suas próprias
atitudes, e amordaçam e impedem que a pessoa traga a tona o que a morte representa sobre
a sociedade em que o contexto acontece. Portanto, procura-se evitar o suicídio, pois a morte
traz manifestações da vida e de uma sociedade opressora desigual, preconceituosa,
competitiva e individualista que influencia no cometimento do mesmo, cabendo ao
profissional da saúde saber conscientizar o sujeito de que ele não é responsável sozinho pelo
seu fracasso ou sucesso.

É estimado que metade das pessoas que cometeram suicídio já tenham tentado
anteriormente, fazendo com que a tentativa seja um fator de risco, tornando essencial o
tratamento dessas pessoas.

BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
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VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
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Coloca-se para o sujeito que ele tem que permanecer vivo, mas não o ajudam a compreender
os motivos pelo qual ele busca a morte, e ele continua aguentando a vida que é insuportável,
por pensar que é pecado, e também não causar danos à família sem muitas vezes entender ou
saber que ela poderia ser mudada. E na intenção de manter os indivíduos vivos, receitam-se
medicamentos para suportarem as condições degradantes que se encontram e que não
modificam a real condição adoecedora que vivemos, mas que dá uma nova percepção da
realidade, aquela mesma que o faz querer a morte.

Do ponto de vista psicanalítico, o sujeito está sempre em busca de algo que possa preencher
seu vazio existencial, que é marcada por uma falta. Falta essa que nunca vai ser sanada, que o
leva a procura de uma causa, alguma coisa que faça sentido em sua vida. no entanto, as
tentativas de suicídio não são apenas atos para chamar a atenção, mas sim um ato para
implorar a atenção. 

O comportamento suicida deve começar ser prevenido na família, que precisa saber lidar com
a morte, onde esse assunto fica escondido, pelo fato de pensar que os filhos pequenos não
terão condições psíquicas para enfrentar essa situação. O papel da escola também é de grande
importância, onde a mesma deve começar desde a pré-escola, trabalhando a importância da
valorização da vida, de resgatar valores.

O psicólogo precisa estar ciente que necessita ter informações sobre o fenômeno, saber que os
fatores de risco são vários, que existe sempre uma sensível área psíquica a ser compreendida.
Na clínica existe uma diferença entre o ato suicida, em que a intenção é realmente menor
daquela que no inconsciente o sujeito quer que não dê certo.

É possível a prevenção do comportamento suicida com excelente planejamento e criação de


programas que envolvam vários profissionais que tenham qualificação necessária para a
psicologia. O maior desafio do psicólogo é fazer que ao invés de atuar, o sujeito possa falar,
possibilitar um tratamento, possibilitando a ele novas formas para expressar a dor que sente,
dar um novo sentido à vida, abandonando a vontade de morrer.

3. Conclusão
BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
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SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
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Ao entrar nesse assunto, percebe-se que a mudança nos rituais de passagens da infância para
a vida adulta, onde se encontra a fase da puberdade e onde há um apoio psíquico social, fez
com que o adolescente se sinta envolvido em um emaranhado de condições conflituosas, e
que com a contemporaneidade, deixa de ter esse acompanhamento e passa a ter que se
estruturar psiquicamente sozinho.

As mudanças corporais, os conflitos familiares, bullying, violências e etc. são probabilidades


que levam o adolescente a se direcionar para a passagem do ato. Onde, a angústia e a
melancolia o fazem se voltar para si num sentimento de complexo narcísico da pulsão de
morte.

O suicídio revela-se sendo uma fonte de fuga, onde o adolescente já não terá mais que lidar
com seus conflitos psíquicos, que por vezes não são coerentes na conduta social, onde o ego
não consegue mais controlar os desejos do id e nem as exigências do supereu, acaba por
sucumbir-se a eles, não conseguindo manter em equilíbrio a estrutura que se reformularia na
passagem da puberdade, levando o ao ato. No entanto, se o sujeito consegue passar por essa
fase sem grandes turbulências, seu aparelho psíquico se reestruturará.

Percebe-se então com a psicanálise, em visão de mudança, vê que, o que impulsiona o sujeito
a se render a pulsão de morte, levando-o ao ato, é a individualização. Não tem um olhar para o
outro, não tem um apoio paternal, e não tem um apoio social.

Cabe ao profissional olhar além, neste momento de extrema fragilidade, que com uma boa
escuta consiga mudar a visão que o adolescente nesse processo conflituoso tem do mundo e
de suas complexidades, e através da fala perceba que há novos rumos a serem seguidos além
dos atos suicidas.

Referências:

BAUMAN, Z. (2000) Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.


CAPANEMA, C.; VORCARO, A. (2012) Modalidades do ato na particularidade da adolescência.
Em: Rev. Ágora, Rio de Janeiro, v.15, n.1. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S151614982012000100010&lng=en&nrm=iso. Acessado em 22 de maio
2019.
Conselho Federal de Psicologia. O Suicídio e os Desafios para a Psicologia /Conselho. Federal
de Psicologia. - Brasília: CFP, 1° edição – 2013. www.cfp.org.br.
MAGNANI, Rafaela Mazoroski Magnani, Ana Cristina Pontello Staudt. Suicídio na Adolescência.
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MALUCELLI, D. Suicídio na Adolescência. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso
Internacional de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
1999, p. 214- 221. 
NAZAR, M. Tempos Modernos. Em: O Adolescente e a Modernidade.  Congresso Internacional
de Psicanálise e suas Conexões. Tomo I. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999, p. 37-60.
SIMONSEN, Maria Eduarda Santos Pereira Simonsen; Adolescência e suicídio: uma travessia
em ato orientadora: Lídia Levy de Alvarenga. – Departamento de Psicologia, 2015.
VORCARO, Angela Maria Resende Vorcaro & Vládia dos Santos Jucá, Adolescência em atos e
adolescentes em ato na clínica psicanalítica, Psicologia, 2018 I volume 29 I número 2 I 246-252
- USP I www.scielo.br/pusp. Acessado em 21 de maio de 2019. 

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