Literatura Africana-II
Literatura Africana-II
Literatura Africana-II
Exercícios Práticos
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Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
Capa
Índice
Aspectos Introdução
Estrutura
organizacionais Discussão
Conclusão
Bibliografia
Contextualização
(Indicação clara do
problema)
Introdução
Descrição dos objectivos
Metodologia adequada ao
objecto do trabalho
Articulação e domínio do
Conteúdo discurso académico
(expressão escrita cuidada,
coerência / coesão textual)
Análise e
Revisão bibliográfica
discussão
nacional e internacionais
relevantes na área de
estudo
Exploração dos dados
Contributos teóricos
Conclusão
práticos
Paginação, tipo e tamanho
Aspectos
Formatação de letra, paragrafo,
gerais
espaçamento entre linhas
Normas APA 6ª
Rigor e coerência das
Referências edição em
citações/referências
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia
Recomendações de melhoria:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
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Índice
Introdução...................................................................................................................................4
1. Com Mia Couto, a Literatura moçambicana ganhou um novo ímpeto e novos modelos.......5
1.1. Descreva as características principais da escrita de Mia Couto desde a publicação do seu
primeiro livro até a actualidade...................................................................................................5
Primeiro livro..............................................................................................................................5
Terra Sonâmbula.........................................................................................................................5
1.2. A partir da obra Vozes Anoitecidas, como é que se manifesta a multiplicidade etno-
cultural nesta obra.......................................................................................................................6
7. Faça uma discussão do lema “ Vamos Descobrir Angola” apresentado pelos defensores da
Revista Cultura II......................................................................................................................10
8. Fale da Revolução da Literatura angolana operada a partir do escritor Luandino Vieira.. . .13
9. Em que sentido a obra de Luandino Vieira, escritor angolano pode se confundir com a de
Mia Couto, escritor moçambicano............................................................................................18
10. Em que medida se espelha a história de Angola e a Guerra de Libertação, a partir da obra
Mayombe de Pepetela?.............................................................................................................18
Foco narrativo...........................................................................................................................19
Tempo.......................................................................................................................................19
Enredo.......................................................................................................................................19
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Análise......................................................................................................................................20
Conexões...................................................................................................................................21
Conclusão..................................................................................................................................22
Referências bibliográficas.........................................................................................................23
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Introdução
Este trabalho debruça sobre a literatura moçambicana e a literatura angolana onde procuramos
abordar de forma clara curta e objectiva a questão dos pontos comuns da literatura africana
sobre tudo a literatura angolana, falamos também da dos principais momentos da literatura
angolana assim como moçambicana, as características principais da escrita de Mia Couto
desde a publicação do seu primeiro livro até a actualidade, A partir da obra Vozes Anoitecidas,
como é que se manifesta a multiplicidade etno-cultural nesta obra, nascimento da Literatura
Angolana, características estético-estilísticas podemos retirar em UALALAPI de Ungulani Ba
Ka Khosa, periodização da Literatura Angolana, principais momentos e acontecimentos da
Literatura Angolana, da Revolução da Literatura angolana operada a partir do escritor
Luandino Vieira, Em que sentido a obra de Luandino Vieira, escritor angolano pode se
confundir com a de Mia Couto, escritor moçambicano, e por fim temos a conclusão e as
referencias bibliográficas.
5
1. Com Mia Couto, a Literatura moçambicana ganhou um novo ímpeto e novos modelos.
Com 14 anos, Mia Couto publicou seus primeiros poemas no jornal Notícias da Beira. Em
1971 deixou sua cidade e foi para a capital Lourenço Marques, hoje Maputo. Ingressou no
curso de Medicina, mas depois de três anos abandonou a faculdade. A partir de 1974 dedicou-
se ao jornalismo. Trabalhou na Tribuna, foi diretor da revista semanal Tempo, entre 1979 e
1981, e trabalhou no jornal Notícias, até 1985.
Primeiro livro
Em 1983, Mia Couto publicou seu primeiro livro de poesias “Raízes de Orvalho”. Em 1985,
abandonou a carreira de jornalista e ingressou no curso de Biologia, da Universidade de
Eduardo Mondlane, com especialidade em Ecologia.
Terra Sonâmbula
Em 1992, Mia Couto publicou “Terra Sonâmbula”, seu primeiro romance, escrito em prosa
poética, onde compõe uma bela fábula passada no Moçambique pós-independência, uma vez
que esteve mergulhado na devastadora guerra civil que se estendeu por dez anos. Em 1995, a
obra ganhou o Prêmio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos. O
livro foi considerado, por um júri especial da Feira do Livro de Zimbabwe, um dos dez
melhores livros africanos do século XX.
A expressão literária de Mia Couto é originalíssima. O seu estilo e o modo de escrever é
surpreedente. O autor nos seus livros exibe numerosas situações que se referem aos mitos, às
lendas e ao folclore nacional. Assim, as obras contrastam com a vida ordinária e mostram-nos
o fantástico e o irreal. Além disso, mostram o conflito entre o mundo moderno e o mundo
6
tradicional. Os valores tradicionais mantêm-se por meio de situações raras que os portugueses
não podem compreender. De modo que essas situações que aparecem nos livros de Couto são
uma forma de resistência cultural. Mas também representam a conservação da identidade
nacional moçambicana. Pelo seu estilo de escrita foi comparado a autores tais como Gabriel
García Márquez, Jorge Amado e Guimarães Rosa. Couto utiliza as invenções linguísticas e os
neologismos mas sempre retratando a realidade do povo moçambicano. A oralidade usada
reflete as marcas da identidade cultural. Em vista disso, conserva a identidade moçambicana
combinando a oralidade que representa a tradição e a escrita que representa a modernidade.1
1.2. A partir da obra Vozes Anoitecidas, como é que se manifesta a multiplicidade etno-
cultural nesta obra.
Vozes anoutecidas é uma colectânea de contos de Mia Couto. A obra foi publicada pela
primeira vez em 1986 e é o seu primeiro livro em prosa. Vozes anoitecidas projectou o
escritor para o mundo. Até então era conhecido só como jornalista e poeta. Nesta obra o
escritor forma o vínculo entre o registo oral e escrito o que é uma das principais
características da sua escrita. Em 2013 o livro foi vencedor do Prémio Camões. Couto relata
histórias de um Moçambique devastado no pós-guerra. Mais que isso, vemos o retrato de
gente que luta todos os dias pela sobrevivência.
Assim, a maioria dos contos da colectânea mostra as dificuldades e os problemas sociais das
personagens. Trata-se dos assuntos que incomodavam o autor porque o livro foi escrito na
época em que o país estava na guerra civil. A obra mostra uma nação que sofre pela guerra,
pela fome e por medo das minas. Muitas vezes não podemos determinar o género literário da
obra (prosa, poesia) ou se estamos no sonho ou na realidade.
Este é um livro interessante porque nos leva a reflectir sobre a existência humana, o passado e
o futuro e sobre os seres humanos que somos. O contacto com uma cultura tão distinta muda
as convicções e as atitudes dos leitores sobre as próprias vidas. Conforme Leite (2014, p. 41),
a guerra civil em Moçambique é o cenário da maioria dos contos de Vozes anoitecidas.
Também, esses contos têm um sentido trágico que se resolve com a precipitação dos enredos
7
para a morte. Isso particulariza-se nas histórias pessoais de cada uma das personagens e suas
desventuras.
2
Disponível [online] em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ualalapi Arquivo acesso no dia 12 de Junho de 2020
8
1901 marca o ano da publicação do primeiro órgão indígena de carácter inteiramente literário,
o Almanach - Ensaios Literários. O almanaque era impresso em Luanda na 'Tipografia do
Povo'. Da primeira edição fez parte o volume Voz de Angola Clamando no Deserto —
Oferecida aos Amigos da Verdade pelos Naturais, obra fruto da colaboração de vários
jornalistas indígenas e Africanos que influenciaram a imprensa de Luanda no século 19.
Há a realçar que esta foi a primeira manifestação colectiva de protesto da sociedade indígena
contra a colonização Portuguesa. Em 1934 foi publicado o livro O segredo da Morta de
António de Assis Júnior. Anos mais tarde, este livro haveria de considerado a obra iniciadora
da prosa de ficção Angolana.
A década de 1950 define a clara existência de uma elite literária indígena composta de
ensaístas, poetas e escritores. Estes contornaram a repressão exercida sobre a imprensa e
definiram a futura literatura nacional. Com algumas excepções, este período marca também o
cultivo da poesia em detrimento da prosa e da narração e ainda a expansão da indústria
editorial.
Em 1951 começam a ser publicados revistas e jornais de liceu nos quais se podem ler os
primeiros ensaios de escritores e poetas Angolanos. Sobre os autores nacionais se denotam
fortes influências de correntes neo-realistas da literatura, cinema e pintura em voga a seguir a
2a guerra mundial.
Clássicos da Literatura Angolana:
A Geração da Utopia - romance de Pepetela.
Havemos de Voltar - poema de A. Agostinho Neto.
9
Jaime Bunda, agente secreto - policial de Pepetela.
Mayombe - romance de Pepetela.
O Ano do Cão - romance de Roderick Nehone.
Quem Me Dera Ser Onda - prosa de Manuel Rui Monteiro.
Sobreviver em Tarrafal de Santiago - poesia de António Jacinto.
Terra Morta - romance de Castro Soromenho.
A publicação em 1952 da obra Ecos da minha terra do narrador Óscar Ribas,
estabelece-o como o fundador da ficção literária moderna Angolana.
Em 1953 é compilado o Caderno de Poesia Negra de Expressão Portuguesa, a primeira
antologia do género na qual são incluídos três poetas angolanos: A. Agostinho Neto, António
Jacinto e Viriato da Cruz. Em 1956 foi publicado o volume Poesia do ensaísta Mário António.
Nos anos 1960, talvez como consequência do anseio pela independência, volta a reaparecer na
cena literária a preferência pela narração. Esta tendência continuou até meados dos anos 1970.
Em resumo, as obras do período de afirmação literária tiveram na sua maioria carácter de
denuncia e forte apelo nacionalista e/ou conotação política3
3
Disponível [online] em: https://www.facebook.com/HistoriaDeAngola/posts/634353826651858/ .Arquivo
acesso no dia 12 de Junho de 2020.
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7. Faça uma discussão do lema “ Vamos Descobrir Angola” apresentado pelos
defensores da Revista Cultura II.
Em 1948 aqueles jovens negros, brancos e mestiços que eram filhos da terra, filhos do país,
iniciavam em Luanda o movimento cultural "Vamos Descobrir Angola!", com o intuito de
estudar a terra que lhes fora berço, aquela terra que eles tanto amavam e mal conheciam.
Este movimento teve como nomes cimeiros os de Agostinho Neto (1922-1979), Viriato da
Cruz (1928-1973), António Jacinto (1924- ) e Mário António (1934-1989), entre outros.
A real finalidade deste movimento era a de redescobrir Angola ou, como proclamavam,
"Angolanizar Angola". Este grupo de intelectuais sentia uma forte necessidade de destruir a
reinante literatura colonial que falseava a realidade vivencial em Angola e que não entrava no
âmago das realidades e sentimentos do africano.
Este movimento "Vamos Descobrir Angola!" incitava os jovens a redescobrir o país em todos
os seus aspetos, através de um trabalho coletivo e organizado; apelava à produção literária
dirigida ao povo; exigia a expressão dos sentimentos populares e da autêntica natureza
africana, mas sem que se fizesse qualquer concessão à sede de exotismo colonial. Tudo
deveria basear-se no senso estético, na inteligência, na vontade e na razão africanas. Enquanto
estudam o mundo que os rodeia, o mundo angolano de que eles faziam parte, mas que tão mal
lhes havia sido ensinado, começa a germinar uma literatura que seria a expressão da sua
maneira de sentir, o veículo das suas aspirações - uma literatura de combate pelo seu povo.
Começam, então, a aparecer as primeiras composições literárias marcadas pelas condições
ambientais resultantes de um conhecimento perfeito do homem e da terra.
Visto deste ponto, compreender-se como o grito "Vamos Descobrir Angola!" correspondeu ao
mais forte desejo e à mais premente necessidade do homem angolano se reencontrar consigo
mesmo.
11
1951.
Desenvolvia-se um fenómeno literário original, no âmbito das Literaturas Africanas de
Expressão Portuguesa, activado por um conjunto de jovens intelectuais talentosos e cultos
espalhados por Luanda e pelos centros universitários de Lisboa e Coimbra.
Nesta época impunha-se uma nova afirmação para o caso angolano: a luta pela libertação
nacional nascida da recusa permanente e secular do povo inteiro de Angola face à presença
colonial portuguesa.
A Angola a descobrir não seria propriamente a do passado, mas sim a do futuro. Ter-se-ia,
certamente, que estudar o passado, local onde se iriam buscar as verdadeiras raízes angolanas
- há muito abafadas e esquecidas pelo sistema colonial português - e aportá-las para o
presente, lê-las à luz das realidades presentes, procurando, assim, a fusão, o equilíbrio dessas
duas realidades para, sobre elas, se poder construir a Angola do futuro.
12
O "Vamos Descobrir Angola!" deveria, pois, procurar esse encontro, que seria, antes de mais,
um reencontro do angolano com a sua terra.
Estes jovens intelectuais, através dos seus textos, faziam passar o forte desejo e a iminente
necessidade de parar definitivamente com a alienação a todos os níveis - que o sistema
colonial provocava no povo africano: ensinava-se o português, a cultura e a história de
Portugal, mas os angolanos desconheciam, quase completamente, as suas raízes, a sua cultura
ancestral, as figuras mais marcantes da vida angolana e "esqueciam" cada vez mais as suas
línguas próprias.
Havia que parar com essas negações à cultura angolana; mas só a literatura, só o texto
expressivamente dissimulado poderia fazer passar a mensagem, pois se se voltassem para o
plano activo da intervenção e denúncia política, logo seriam barrados e calados pela censura e
a estrutura repressiva do mundo colonial.
Assim, "Vamos Descobrir Angola!" encontra, pois, motivos internos mais que suficientes
para lançar em pleno o parto da literatura angolana. A altura era propícia e o terreno estava já
mais trabalhado para que, ao lançar à luz do dia esta jovem literatura, ela encontrasse de
imediato quem a cultivasse e lhe desse suporte e andamento, em quantidade e em qualidade.4
4
Disponível [online] em https://www.infopedia.pt/$vamos-descobrir-angola Arquivo acesso no dia 17 de Junho
de 2020.
13
8. Fale da Revolução da Literatura angolana operada a partir do escritor Luandino
Vieira.
"Luandino - actor ("actor", regulador da narrativa), que concebe o texto, não se identifica
como tal. O pano da estória fecha-se, entretanto, numa escrita que já não apresenta forma
"neutra" ao objecto da "práxis", que já não se dispõe pragmaticamente à informação.
Confunde-se o sujeito "real" do texto (actor), e o sujeito "fictício" da estória (herói), na
empatia em que se embala o primeiro, pelo segundo, denunciada no significado emotivo
sobressalente à camada informadora dos signos" (1980, p.267)
Esse tipo de envolvimento do autor com a narrativa e as personagens poderia ser interpretado
como uma manifestação do comprometimento político de Luandino com a causa da
independência. O conto, com sua riqueza metafórica, representaria uma inequívoca alegoria
da fé do escritor em uma Angola livre, assim como o posicionamento do narrador em relação
à narrativa seria uma representação do envolvimento directo do intelectual Luandino no
processo político de independência.
Como símbolo deste optimismo e desta fé do autor na luta pela liberdade política do país,
temos a figura "embrionária" do ovo, elemento central da estória, além da gravidez de Bina,
representando uma nação livre que está prestes a nascer.
Além de funcionar em sua essência como uma fábula, uma alegoria da situação política da
Angola e da experiência colonial, o texto não deixa de contextualizar a estória, mostrando, em
algumas sutilezas narrativas, traços típicos do momento vivido pelo país na década de 70,
período marcado pela luta pela independência. Como milhares de angolanos, o marido de
Bina está preso. É provável que a causa seja política. "Na polícia, hein? Se calhar é
terrorista..." (2006, p. 149)
Diz o sargento ao saber da situação da mulher. Outra fala do mesmo policial passa uma boa
idéia do clima de tensão e autoritarismo político da época: "Estavam reunidas mais de duas
pessoas e isso é proibido." (2006, p.150) Com poucos, porém, relevantes detalhes o autor
consegue fazer um fiel retrato do momento do país. A presença desse elemento e a sutileza
com que foram inseridos na narrativa mostram a excelência de Luandino na técnica definida
14
pelo professor da Universidade de Susquehanna, na Pennsylvania, Tom Bailey, em sua teoria
do "significant detail".
Seus admiradores, James Joyce e Ernest Hemingway levaram este tipo de técnica a um novo
patamar de excelência (2001, p. 147) Luandino é um autor que mostra pleno domínio no uso
dos "detalhes significantes" tanto na construção de alegorias e metáforas, quando na
contextualização histórica e construção de cenário.
Pelas suas qualidades literárias e pela sua importância no contexto político de uma época, a
"Estória da Galinha e do Ovo", publicada, em 1972, no livro de contos "Luaanda," representa
um marco na literatura de língua portuguesa. Através da criação de uma nova linguagem,
integrando o português aos dialectos indígenas, e da crítica às estruturas sociais coloniais,
Luandino se torna o oráculo de uma nação livre que está prestes a nascer. Com sua literatura,
o autor quer contribuir com os elementos fundamentais para a construção da unidade cultural
necessária a essa nova Angola livre.
Na condição de escritor angolano, Luandino se vê impelido a usar sua arte como instrumento
de mobilização e coesão na luta pela independência. O leitor só seria sensibilizado se sentisse
no projecto libertário a possibilidade do sucesso. Não apenas êxito na emancipação política,
mas também na construção de uma verdadeira nação. Com sua obra, Luandino estava disposto
a propagar esse sonho libertário.
Em 1992, foi lançado o romance "A Geração da Utopia", de Pepetela. Cerca de 30 anos o
separam da primeira edição de "Luanda". O que se passou em Angola durante esse período
influenciou fortemente a literatura do país, levando-a da utopia pró-independência à desilusão
e cinismo dos anos 90. As duas obras são especialmente elucidativas no entendimento dessa
trajectória.
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O que era fé no futuro em Luandino se transforma em desilusão, no trabalho de Pepetela. O
projecto acalentado por uma geração havia fracassado. Angola alcançara sua independência
em 1975, mas o processo de construção do país fugiria, por completo, dos planos de
idealistas, como Luandino. É o que aponta Rita Chaves:
"O projecto de uma nação livre se vai estilhaçando na condução de um processo inicialmente
banhado pela generosidade de um sonho colectivo. A utopia tem como adversário os próprios
homens que investiam em sua construção. As diferenças deixam de ser diversidade para se
transformarem em capital de negociação, em património para obtenção de vantagens na
sociedade ainda em formação." (1999 p.229)
Deparando-se com o fracasso de um projecto de nação e imerso na realidade dura dos anos
90, Pepetela busca respostas. Diante dele, um cenário de total falta de perspectivas. Como
acreditar, novamente, no futuro de uma nação onde o sonho de uma geração dera lugar a um
quadro de corrupção, miséria e violência? Nem a experiência socialista, nem as
transformações neoliberais foram capazes de apontar soluções mínimas para os problemas do
país. No entanto, Pepetela não se arrisca a indicar caminhos. Para o escritor, o momento é de
avaliação. Antes de embarcar em um novo projecto para o futuro, é necessário detectar e
analisar os erros cometidos no passado.
Contudo, nesse momento, a abordagem do passado deveria ser outra, bem diferente da
encontrada em "Luuanda", conclui Rita Chaves: "Agora identificado com o período de
gestação da liberdade, o passado não é nem glorificado, nem rejeitado. Transforma-se em
objecto de reflexão mesmo para quem tão vivamente participou desse itinerário" (1999 p.157)
Conquistada a independência desde 1975, a literatura não mais precisa ser usada como
elemento de mobilização. Desiludido com o fracasso da utopia libertária e se deparando com a
situação precária do país, Pepetela é impelido a adoptar uma postura crítica e realista. A
intenção agora é desnudar a evolução histórica da Angola moderna de forma honesta e
impiedosa. Com "A Geração da Utopia", o autor busca fazer um balanço fiel desta trajectória.
16
período, o idealismo de uma geração vai se dissolvendo em apenas dois caminhos possíveis: a
corrupção moral, melhor representada pela figura de Vítor, em seu trajecto de jovem
estudante em Portugal até a figura do ministro Mundial; ou a desilusão, presente na
personagem de Aníbal, o guerrilheiro sábio que deixa as utopias seiscentistas de lado, diante
do caminho torto para onde a jovem nação caminhava.
Com sua opção pela reclusão e uma vida espartana, representada no capítulo "O Polvo",
Anibal é tomado pelas pessoas como louco. No entanto, seu isolamento e a escolha de uma
vida simples fazem de sua personagem uma ilha de lucidez circundada por um grande mar de
insanidade.
Anibal tem uma visão clara da dissolução política, económica e, principalmente, moral que
assola esse novo país livre, com que tanto havia sonhado quando jovem, e, por isso, se
desilude. No entanto, sua desilusão não resulta em uma postura amargurada diante da vida e
do futuro. Agora, mais do que nunca, Anibal personifica a figura do sábio. Ao contrário de
muitos, ele não fecha os olhos para a podridão do sistema, mas adopta diante dele uma
postura de altivez e resignação.
Assim como suas principais personagens, o autor nasceu em Angola; estudou em Portugal nos
anos 60, frequentando a Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa; foi guerrilheiro do
MPLA, na luta pela independência; e se envolveu com o governo, sendo vice-ministro da
Educação no governo de Agostinho Neto.
Unindo esta biografia ao estilo objectivo de sua prosa, - o autor é hoje o único escritor
angolano quase que exclusivamente identificado com o romance como forma de expressão
(Chaves 1999) - Pepetela consegue dar um valor quase documental à narrativa de uma obra
ficcional. Esse realismo é uma das principais virtudes do livro, sendo desencadeado de
profundos debates e reflexões políticas nos diálogos de personagens divergentes,
representando os diferentes campos de ideias que permearam esse processo de evolução
histórica.
Estão presentes diversos elementos da marcha política de Angola. No capítulo "A Casa",
vemos, com grande clareza, como o elemento racial vai gradativamente dividindo a nação,
com o aprofundamento da luta pela independência.5
5
Disponível [online] em: https://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/340-literatura-
angolana-utopias-pr%C3%A9-e-p%C3%B3s-liberta%C3%A7%C3%A3o arquivo acesso no
dia 14 de Junho de 2020
18
9. Em que sentido a obra de Luandino Vieira, escritor angolano pode se confundir com a
de Mia Couto, escritor moçambicano.
JOSÉ LUANDINO VIEIRA (1935), nome literário de José Mateus Vieira da Graça, radicado
em Angola desde a infância, activista político (preso 9 anos no Tarrafal). Um inovador e
experimentador como João Guimarães Rosa, não se limita a descrever o povo de Luanda e sua
linguagem, mas subverte os códigos para criar uma nova, originalíssima linguagem literária,
cheia de neologismos e rupturas sintácticas.
Bem depois de percebermos a questão histórica do escritor angolano podemos concluir que
que estes tem algo em comum que é a questão de revolucionarismo estes praticamente o que
viviam na Angola Mia Couto podia também observar isso em Moçambique, estes estavam
com mesmos objectivos que era de um dia alcançar a independência, este e um dos factores
que considero ser fundamental de se ter encontra para se confundir as suas obras com as de
Mia Couto.
6
Disponível [online] em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Luandino_Vieira. Arquivo acesso no dia
12 de Junho de 2020.
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permeavam as relações daqueles que buscavam construir uma nova Angola, livre da
colonização.
Foco narrativo
A obra é organizada em seis capítulos nos quais há variação do foco narrativo – um narrador
omnisciente e omnipresente se intercala com as personagens, guerrilheiros do MPLA, no
papel de narrador da história. Com isso, Pepetala demonstra que nem mesmo a revolução se
organiza como um conjunto, sendo enxergada de forma diferente e conflituante pelos seus
próprios membros. Cada um desses observadores-participantes, com origem, ideologia, visão
e propostas próprias, possuem também ideais distintos que os impedem de lutar pela mesma
unidade libertadora.
Tempo
“O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e… o
comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de
guerra para mim, assim nasceu o livro”, escreve o autor numa obra híbrida entre o romance e
a reportagem.
Mayombe, nome de uma região da África, é uma narrativa em tempo cronológico que analisa
profundamente a organização dos combatentes do MPLA, lançando luz às dúvidas, que
também eram as do autor, sobre as contradições, medos e convicções que impulsionavam os
guerrilheiros em busca de liberdade no interior da densa floresta tropical. Eles confrontam-se
não só com as tropas colonizadoras portuguesas, mas também com as diferenças culturais e
sociais que procuram superar em direção a uma Angola unificada e livre.
Enredo
O livro é dividido em seis capítulos: A Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; a Amoreira e o
Epílogo. Os personagens são nomeados como alegoria de guerra conforme os objetivos do
MPLA. Assim, temos o personagem Sem Medo (o comandante), Teoria (o professor),
Verdade e Lutamos (destribalizados) e Mundo Novo, representante da elite africana que vai
estudar fora de seu país, entre outros.
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Ondina, a personagem feminina, é a mulher que instaura as transformações em alguns
guerrilheiros do Mayombe. Por exemplo, o Comissário Político, seu noivo, é obrigado a
amadurecer diante da traição e do rompimento da relação com ela. Sem Medo é impelido a
refletir sobre o amor e a sacrificar seu desejo por ela.
Interessante notar que Ondina é a personagem que não tem voz na narrativa de Pepetela, o que
reflete a crítica para a desigualdade de gênero na luta instaurada em Angola por libertação e
justiça.
Por fim, a floresta – personagem – gesta um novo homem para um novo momento histórico
em Angola. Pepetela, por meio da apropriação do espaço do Mayombe, procura,
simbolicamente, percorrer a história angolana por meio do território invadido e ocupado pelos
colonos, seja no que diz respeito à terra ou à identidade do povo de Angola.
Análise
A obra é uma reflexão, envolta pelos ideais socialistas, sobre a dura realidade da sociedade
angolana, sobre as perspectivas do movimento de libertação e da população local em relação
aos princípios conflituantes do MPLA.
Cada personagens luta a seu modo por seus ideais de libertação. Em meio a isso, vimos uma
Angola despedaçada e sem unidade. O livro procura retratar esse esfacelamento e critica as
lutas de grupos que não se unem por um ideal comum.
A estrutura narrativa polifónica (várias vozes), que retrata os acontecimentos sob o ponto de
vista de várias personagens em primeira pessoa, revela o profundo respeito a cada homem na
sua individualidade e o desejo do autor de transformar os agentes da revolução em sujeitos da
luta.
Durante toda a narrativa, ocorre um mesmo Registro linguístico, apesar do abismo existente
entre as classes sociais das personagens e as suas origens culturais, o que reforça a ideia de
propor a igualdade entre as pessoas. Além disso, há a tentativa de criar um ideal nacionalista
que una os diferentes povos da região e o MPLA em oposição ao colonialismo.
21
Conexões
Ao retratar a luta de tribos em busca da libertação de seu país, Mayombe pode ser comparado
ao romance indianista Iracema, de José de Alencar. Ambas apresentam conflitos entre tribos e
a tentativa de se isolar do colonialismo português.
22
Conclusão
Depois da realização do presente chega se a conclusão de que o estudo da literatura africana e
muito importante para nos como futuros professores de língua portuguesa e sobre tudo
africano pois é extremamente conhecermos como que a literatura contribui bastante para o
alcance da independência nos países africanos na luta contra o colonialismo. E também
conclui-se que Assim como as demais formas de manifestação artística, a literatura produzida
em um país está sempre inserida em um determinado contexto histórico em que as
conjunturas política, económica e social influenciam a forma e o conteúdo das obras de uma
geração de escritores.
23
Referências bibliográficas
LEITE, Ana Mafalda: Oralidades & escritas nas literaturas africanas, Lisboa, Edições Colibri,
2014.
24