John Cage - O Futuro Da Música PDF
John Cage - O Futuro Da Música PDF
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O futuro da música
tipo. Hoje elas são incontáveis. Praticamen- Cage publicou, entre outros, A
year from Monday (Middletown,
te qualquer um que ouça algum som agora
Wesleyan University Press, 1969.
ouve com facilidade quaisquer que sejam as [Ed. bras. De segunda a um ano,
estruturas de sobretons que os sons tenham. São Paulo, Hucitec, 1985]); M:
Não discriminamos mais os barulhos. Writings ’67 – ’72 (Middletown,
Wesleyan University Press, 1969);
Também podemos ouvir qualquer altura Silence: Lectures and Writings by John
de nota, seja ela ou não parte de uma escala de Cage (Middletown, Wesleyan
um temperamento ou de outro, ocidental ou University Press, 1961); e Mirage
Verbal: Writings through Marcel
oriental. Os sons formalmente considerados
Duchamp, Notes (Dijon, Centre
fora de tom agora são chamados microtons. National de Lettres, 1990).
Eles são parte e parcela da música moderna. Destacamos o artigo que ele
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dedica a Johns, “Jasper Johns, Algumas pessoas ainda fazem objeções a
histórias e idéias” (1964), sons altos. Elas têm medo de machucar seus
reeditado no Brasil em Gregory
Battcock (org.), A nova arte (São ouvidos. Uma vez tive a oportunidade de ou-
Paulo, Perspectiva, 1975). vir um som muito alto (a finalização de uma
Sobre Cage, ver: Francis Bayer, performance de Zaj). Eu estivera na platéia
De Schönberg à Cage: essai sur la na noite anterior. Sabia quando o som viria.
notion d’espace sonore dans la musique Cheguei para perto do alto-falante do qual se
contemporaine (Paris, Klincksieck,
1987); Dominique Bosseur, esperava que o som saísse, e fiquei lá sentado
“L’Expérience du temps chez por uma hora, voltando para ele ora um ou-
Cage”, Musique en jeu 1 (Paris, vido, ora o outro. Quando acabou, meus ou-
Seuil); Jean-Yves Bosseur, Le sonore
vidos estavam zunindo. O zunido continuou
et le visuel (Paris, Dis Voir, 1993);
Pierre Boulez, “Alea”, Relevés durante a noite, durante o dia seguinte, e du-
d’apprenti (Paris, Seuil, 1966); rante a noite seguinte. Na manhã do segundo
Richard Kostelanetz, Conversing with
dia marquei uma consulta com um especia-
Cage (Nova York, Limelight, 1988)
e John Cage, An Anthology (Nova lista em ouvidos. No caminho para o consul-
York, Da Capo, 1991); Marjorie tório, o apito parecia ter mais ou menos di-
Perloff, The Poetics of Indeterminacy: minuído. O médico fez um exame completo e
Rimbaud to Cage (Princeton,
Princeton University Press, 1981);
disse que os meus ouvidos estavam normais.
e Vera Terra, Acaso e aleatório O distúrbio tinha sido temporário. A minha
na música (São Paulo, Educ/ atitude com relação a sons altos não mudou.
Fapesp, 2000).
Vou ouvi-los sempre que tiver a oportunida-
“O futuro da música” trata de, talvez mantendo a distância apropriada.
da não-intencionalidade,
termo central da poética da
A nossa experiência do tempo mudou.
indeterminação que se desdobra, Percebemos eventos breves que antes pode-
em Cage, a partir das noções riam escapar à nossa percepção e apreciamos
de acaso e aleatório.
os muito longos, cujas durações seriam consi-
deradas, digamos há 15 anos, intoleráveis.
“The Future of Music” Agora prestamos atenção em como um
Conferência pronunciada na
som começa, continua e desaparece. Duran-
YMHA, Nova York, e publicada
em Numus West 5, em 1974. te uma mesa-redonda sobre a música para
piano da República Popular da China, Chou
Wen Chung disse que os músicos ocidentais
antigamente insistiam que um som afinado
deveria permanecer na mesma afinação, sem
variar desde o momento em que começa até
quando termina. Os músicos chineses, disse
*
Festa indígena.