Intolerancia A Lactose 2019 PDF
Intolerancia A Lactose 2019 PDF
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Revisão Sistemática
Resumo Objetivo: realizar uma revisão sistemática sobre intolerância a lactose. Método: Foram utilizadas como base de dados
PUB-MED, LILLACS, Scielo, Google Acadêmico, foram analisados e utilizados na pesquisa 20 artigos, os quais foram selecionados
de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Resultados: Ocorrem em 65% a 75% da população mundial, 45% dos estudos
descreveram a população asiática e africana como as de maiores prevalências. Os testes diagnósticos mais citados foram: teste
respiratório de hidrogênio expirado (45%), teste de tolerância a glicose (40%), biópsia jejunal/ duodenal (20%), o manejo da
intolerância à lactose tem como principal conduta a suplementação com lactase exógena, citadas em 30% dos artigos estudados.
Conclusão: A Intolerância a lactose é uma patologia em crescimento no âmbito mundial. Sendo a causa mais comum em adultos
a hipolactasia primária. A dor abdominal, diarreia e distensão abdominal foram os sintomas mais prevalentes. O teste diagnóstico
mais utilizado é o teste de hidrogênio expirado, considerado padrão ouro por alguns autores. O tratamento mais utilizado é a
redução do consumo de lactose.
Descritores: lactose; intolerância à lactose; lactase; deficiência de lactase; lactose intolerance.
Summary Purpose: A systematic review on lactose intolerance. Methods: The study used 20 articles published in PUBMED,
LILLACS, SciELO and Google Scholar databases, which were selected according to the inclusion and exclusion criteria. Results:
65% to 75% of the world population has IL, 45% of the studies described the Asian and African populations as having the highest
prevalence. The most cited diagnostic tests were: expired hydrogen breath test (45%), glucose tolerance test (40%), jejunal /
duodenal biopsy (20%), lactose intolerance management with exogenous lactase, cited in 30% of the articles studied. Conclusion:
Lactose Intolerance is a growing pathology worldwide. The most common cause in adults is primary hypolactasia. Abdominal
pain, diarrhea, and abdominal distension were the most prevalent symptoms. The most commonly used diagnostic test is the
expired hydrogen test, considered a gold standard by some authors. The most commonly used treatment is the reduction of
lactose consumption
Keywords: lactose; intolerância à lactose; lactase; deficiência de lactase; lactose intolerance.
1
Centro Universitário Metropolitano da Amazônia – UNIFAMAZ, Belém, PA, Brasil
Fonte de financiamento: Nenhuma
Conflito de interesses: Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Received: Outubro 31, 2019
Accepted: Março 11, 2020
Trabalho realizado no Centro Universitário Metropolitano da Amazônia – UNIFAMAZ, Belém, PA, Brasil.
Copyright Barbosa et al. Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução
em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Barbosa et al. Para Res Med J. 2020;4:e33. DOI: 10.4322/prmj.2019.033 ISSN 2594-4371 1/10
Intolerância a Lactose: revisão sistemática CLINICA MÉDICA
Introdução
A intolerância a lactose está presente em 65% da população mundial1. A IL é uma síndrome a qual a
pessoa apresenta sintomas gastrointestinais após o consumo de alimentos que contenham lactose. Lactose
é um açúcar presente em grande quantidade no leite, quando quebrada por uma enzima a lactose gera a
galactose e glicose. Em algumas pessoas há uma deficiência na produção da lactase, enzima que degrada
a lactose2,3.
Na intolerância alimentar a presença da lactose em nível intestinal causa um aumento de líquido na
luz intestinal em consequência de efeito osmótico do dissacarídeo, o que pode causar diarreia. Quando
o dissacarídeo se move para o colón as bactérias da flora intestinal digerem a lactose o que pode causar
flatulência, dor abdominal e moléstias na evacuação4.
Esta revisão tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da bibliografia sobre Intolerância a Lactose.
Método
Foram utilizados artigos selecionados no banco de dados LILLACS, SCIELO, PUBMED, GOOGLE
ACADÊMICO no período de fevereiro a abril de 2019.
Como critérios de inclusão foram utilizados artigos nos idiomas português, espanhol e inglês dos
últimos 5 anos (2014-2019), dentre esses aqueles que abordavam aspectos da doença como quadro clínico,
diagnóstico e tratamento.
Foram excluídos artigos de revisão, estudos com animais, aqueles com análises para grupos específicos como
crianças, idosos ou etnias e artigos repetidos. Os artigos foram selecionados por 3 autores individualmente
mediante estratégia de buscas dos critérios citados (Tabela 1).
O total de artigos encontrados, foram 833 e foram utilizados na revisão 20 (Figura 1).
Na base de dados SCIELO foram utilizadas as palavras chaves Lactose e Intolerância à Lactose e Lactase,
foram encontradas 6 referências das quais foram utilizados 2 artigos, selecionados de acordo com os critérios
de inclusão e exclusão preconizados.
Na base de dados LILACS usando-se como palavras chaves: intolerância a lactose e deficiência de lactase.
Ao todo, foram encontrados 175 artigos, 9 foram selecionados dentro o período de 2019 a 2014 dos quais
apenas 4 foram usados mediante aos critérios de relação com o tema.
Figura 1. Fluxograma do número de artigos encontrados e selecionados após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão baseado
no Manual Cochrane para Revisões Sistemáticas de Intervenções versão 6.0. Cochrane, 2019.
Na base de dados PUBMED foram utilizadas as palavras chaves: lactose intolerance, lactase. Foram
filtradas publicações dos últimos 5 anos, estudos com humanos, nos idiomas inglês, espanhol e português.
Foram encontrados 86 artigos, dos quais foram selecionados 4 para serem utilizados na pesquisa.
No Google Acadêmico foram pesquisados os artigos em inglês, espanhol e português, de 2014 a 2019,
excluindo patentes e citações. Foram encontrados 566 resultados e utilizados na pesquisa 10 artigos.
Resultados
Dos 20 artigos analisados, a maioria relacionou a ocorrência da intolerância a lactose com a etnia, genética
e região geográfica, onde a criação de gado leiteiro foi citada por aproximadamente 5% dos artigos como
fator de predisposição a doença. Ocorrem em 65% a 75% da população mundial de acordo com 15% dos
estudos. Em relação a etnia ou raça, 45% dos estudos descreveram a população asiática e africana como as
de maiores prevalência, entre 90 a 95%, seguidos pelos americanos com 50% em 35% dos artigos e europeus
com 5 a 15% de prevalência em 15% dos artigos. Na população europeia, 15% dos artigos descreveram a
população do norte da Europa com ocorrência da doença em 95% da população (Tabela 2).
Acerca da idade, foi descrito maior ocorrência nas faixas etárias de 12-14 anos e 13-17 anos, na Indonésia
e México respectivamente em 2 artigos.
No brasil, foi descrito por 1 artigo a seguinte ocorrência: 44,1% no sul, 60,8% no sudeste (Tabela 3), 53,2%
em brancos, 91,3% em não brancos (Tabela 4).
De acordo com a classificação, a hipolactasia primária ocorre predominantemente em adultos, com início
dos sintomas na adolescência em 25% dos artigos. Além disso, foi relacionada com a idade, etnia e genética
em 15% deles. 20% descreveram sobre a secundária como desencadeada por outro distúrbio gastrointestinal
que afetam indiretamente a borda em escova da mucosa e a forma congênita como uma herança autossômica
recessiva rara, potencialmente fatal se não diagnosticada precocemente (Tabela 5).
O quadro clínico dos pacientes intolerantes pode ter diversos sintomas, dentre os mais prevalentes estão a dor
abdominal, citada em 66,6% dos artigos, seguida de diarreia, presente em aproximadamente 62% dos artigos,
distensão abdominal, elencada em 52,3% dos artigos e flatulência, que está em 47,3% dos artigos (Tabela 6).
Os testes diagnósticos mais citados foram: teste respiratório de hidrogênio expirado (42,8%), teste de
tolerância a glicose (38%), biópsia jejunal/ duodenal (19%), testes genéticos (19%), ph fecal (19%), exames
de sangue (19%), substâncias redutoras nas fezes (14,2%) e análise sangue / urina (9,5%), Outros testes
ainda foram comentados com menor relevância como teste de tolerância ao etanol, teste de CO2 expirado,
teste de lactase marcada por C isótopo, método direto de intubação intestinal e um mais recente o teste de
gaxilose, sendo novo e promissor. Além disso, 2 artigos citaram a anamnese dos sintomas após ingesta de
alimentos com lactose e a redução dela na dieta como diagnóstico terapêutico.
O teste de hidrogênio expirado foi considerado como padrão-ouro por aproximadamente 42,8% dos
artigos, possuindo como limitantes os resultados falso negativos devido supercrescimento bacteriano,
elencado em 19% dos estudos, presença de bactérias não produtoras de hidrogênio em 9,5% dos estudos
e uso de antibióticos.
Por outro lado a biópsia foi considerada padrão-ouro em 23,8% dos estudos por ser bastante exata, no
entanto, seu uso não é tão comum por ser muito invasiva principalmente em crianças e pela possibilidade
de falso negativos, pois depende do tamanho da amostra de acordo com 9,5% dos estudos (Tabela 7).
Barbosa et al. Para Res Med J. 2020;4:e33. DOI: 10.4322/prmj.2019.033 3/10
Intolerância a Lactose: revisão sistemática CLINICA MÉDICA
O manejo da intolerância à lactose tem como principal conduta a suplementação com lactase exógena,
citadas em 30% dos artigos estudados. Dentre as medidas dietéticas são citadas a redução do consumo de
lactose, em 25% dos artigos, a redução do consumo de hidratos de carbono de cadeia curta fermentáveis
(FODMAPS), presente em 15% dos artigos e a introdução de alimentos lacfree, citados em 10% dos artigos
(Tabela 8).
Artigos
Etnia/Raça Prevalência
Nº %
Ásia/África 90 a 95% 9 45
Americanos 50% 7 35
Europeus 5 a 15% 4 20
Fonte: Protocolo de pesquisa.
Regiões Prevalência %
Sul 44,1
Sudeste 60,8
Fonte: Protocolo de pesquisa.
Brancos 53,2
Não-Brancos 91,3
Fonte: Protocolo de pesquisa.
Artigos
Classificação Aspecto Relacionados
Nº %
Artigos
Sinais/Sintomas
N° %
Dor Abdominal 14 70
Diarreia 13 65
Distensão Abdominal 11 55
Flatulência 10 50
Borborigmo 6 30
Náuseas 4 20
Vômito 3 15
Cólica Abdominal 2 10
Fezes Amolecidas 2 10
Cefaleia 2 10
Constipação 1 5
Plenitude Gástrica 1 5
Dispepsia 1 5
Fonte: Protocolo de pesquisa.
Artigos
Testes Diagnósticos
Nº %
Artigos
Tratamento
N° %
Discussão
Epidemiologia
A intolerância a lactose está presente em 65% da população mundial apresentando uma prevalência
diferenciada entre as populações: 80 a 100% dos índios americanos e asiáticos, 60 a 80% dos negros e latinos
e 2 a 15% dos descentes de norte europeus1.
Dados da Indonésia de uma população infantil mostra uma prevalência de má absorção de lactose de
21,3% de 3-5 anos, 57,8% entre 6 e 11 anos e 73% em idade de 12 a 14 anos. Nesse mesmo viés um estudo
do México mostra 41,7% em 3 a 5 anos, 46,4% entre 6 a 12 anos e 40,5% em 13 a 17 anos, evidenciando que
existem variações geográficas5.
Já um estudo realizado no Brasil com uma amostra de 567 indivíduos, acerca da prevalência da intolerância
a lactose no adulto demonstrou 57% em brancos e mulatos, 80% em negros e 100% em japoneses. Outros
estudos ratificam ainda a elevada prevalência na população brasileira, os quais apontam um maior número
nas regiões sudeste e sul do pais respectivamente. A persistência da lactase ou tolerância nas diferentes
populações pode estar associada com a domesticação de gado leiteiro e com o hábito do consumo de leite
após o desmame e, nesse contexto a prevalência da intolerância à lactose parece varia de acordo com a
região geográfica e os hábitos a população1.
Fisiopatologia
Lactose é um dissacarídeo encontrado no leite composto por galactose ligada a glicose pela via β-1→4
glucosídica. A absorção da lactose requer a hidrólise do dissacarídeo em componentes monossacarídeos
pela enzima intestinal beta-galactosidase (lactase). Existem três grandes tipos de deficiência em lactase:
Primária, secundária/adquirida e congênita2.
A deficiência em lactase primária é o tipo mais comum em adultos, as concentrações de lactase no
corpo são normais no nascimento e declinam com o decorrer do tempo, principalmente após alcançarem a
maioridade, esse declínio ocorre por causa genética e é determinada individualmente e entre grupos étnicos1.
A deficiência em lactase secundária/adquirida é causada por desordens gastrointestinais que causam danos
a borda de escova, o que aumenta significantemente o tempo do transito intestinal no jejuno. Comumente
após o dano o quadro de gastroenterite severa se instala6.
A deficiência em lactase congênita é uma desordem rara que possui apresentação clinica severa,
principalmente em neonatos. Essa condição é resultado de mutações no gene da Lactase-Florizina Hidrolase
o que causa deficiência na atividade da lactase no intestino3.
Quadro clínico
Os sintomas relativos à intolerância a lactose podem surgir a partir da ingestão de 12 gramas de lactose, o
equivalente a cerca de 240 ml de leite7. No entanto, fatores como o tempo de transito intestinal e a quantidade
de flora bacteriana intestinal podem aumentar a quantidade tolerável; Doses entre 18g e 50g podem ser
bem toleradas, principalmente se houver consumo de outros nutrientes concomitantemente8.
O início do aparecimento dos sintomas decorre do mecanismo envolvido: ao nascimento, a intolerância
congênita é rara e restrita a certas populações; na infância, após os dois anos de idade, os sintomas surgem
devido à redução natural na produção da enzima lactase- intolerância primária- principalmente em países
com menor consumo de laticínios, como nos continentes africano e asiático. Entretanto, crianças com sintomas
gastrointestinais após o consumo de leite, tem maior chance de possuírem alergia à proteína ao leite de
vaca. A intolerância a lactose secundária, que envolve diversos mecanismos, desde a diminuição da enzima
lactase, mas também danos à mucosa gástrica e alterações na flora intestinal, é comum aos adultos jovens6.
Dor e distensão abdominal, flatulência, diarreia e vômito após o consumo de leite e laticínios são os
sintomas mais comuns, autolimitados e restritos a repercussões intestinais9. Maiores repercussões são
observadas em crianças, com intolerância a lactose congênita: desidratação, hipernatremia, com repercussões
renais como litíase e nefrocalcinose10.
Barbosa et al. Para Res Med J. 2020;4:e33. DOI: 10.4322/prmj.2019.033 6/10
Intolerância a Lactose: revisão sistemática CLINICA MÉDICA
Diagnóstico
No geral, o diagnóstico envolve a avaliação da história clinica do paciente, o exame físico e a busca
completa da história do paciente como análise do seu histórico gestacional, alimentar bem como fatores
desencadeantes, podendo ser sugerida a restrição de lactose da dieta para avaliação dos sintomas, servindo
como diagnóstico terapêutico. Por este ser um teste subjetivo é necessário um teste confirmatório mais
especifico11.
Existem muitos métodos diagnóstico específicos e muito sensíveis, entretanto a maioria é invasivo e caro,
sendo pouco acessível para a população geral. Vários métodos diretos e indiretos são utilizados, dentre os
principais métodos estão: teste do pH fecal; pesquisa de substâncias redutoras nas fezes; teste de tolerância
à lactose; teste de tolerância à lactose com etanol; teste respiratório com 14C-lactose; teste respiratório com
13C-lactose; teste de hidrogênio expirado e a Biópsia intestinal12.
Os métodos diretos envolvem a medida dos dissacarídeos utilizando a intubação intestinal e é tido como
referência, pois consegue uma medida exata da digestão da glicose devido ser uma técnica de perfusão
intestinal. Os métodos indiretos são: o hidrogênio expirado e o teste de Co2 expirado, após a ingestão de
lactose marcada 13C-lactose, mede-se o 13C CO2 expirado12.
No teste de sangue está o teste com etanol no qual se usa o etanol para inibir o metabolismo hepático da
galactase, o teste de tolerância ao leite e o tradicional teste de curva glicêmica para a tolerância a lactose12.
Biópsia jejunal
Tal teste baseia-se numa reação colorimétrica, gerada quando uma amostra obtida de uma biópsia
endoscópica do duodeno postular é incubada com lactose em uma placa de testes, sendo um diagnóstico
de fácil interpretação visual. Oferece uma sensibilidade de 95% e especificidade de 90%. Após 20 minutos
de incubação o teste mostra se existe ou não a presença de lactose pela coloração na amostra da biópsia.
Caso não haja reação, ou seja, não apresentar coloração, o teste confirma a intolerância a lactose assim como
a intensidade da coloração informa o grau de produção da enzima lactase11.
Genotipagem
Os testes genéticos estão sendo utilizados mediante técnicas de biologia molecular, embora o alto custo,
apresentam uma sensibilidade de 68,5% e especificidade de 92,5% principalmente pelas descobertas de
polimorfismos relacionados à intolerância á lactose como LCT-13910C>TA. No Brasil, é empregada a técnica
de PCR convencional e tratamento do produto do PCR por enzima de restrição. Um estudo realizado no Ceará,
comparando o polimorfismo entre pacientes com intolerância e aqueles que não apresentam demonstrou
resultados que corroboram a associação desses polimorfismos de nucleotídeo único (C> T -13910 e G> A -22018)
com tolerância à lactose nessa população e sugerem manejo clínico para pacientes com intolerância à lactose
que considera a detecção de polimorfismos de nucleotídeo único e uma alteração na bioquímica do teste
de sangue de corte <25 mg / dL a <15 mg / dL11,13.
Grande parte do CO2 se mantem na luz do intestino e é responsável pela sensação de flatulência, inchaço
e dor abdominal, por isso, em pacientes com intolerância à lactose, um aumento na circunferência da cintura
(CC) secundária à ingesta de lactose pode ser medida com uma fita métrica5,12.
A distensão da circunferência abdominal é relatada na literatura como uma manifestação da intolerância
a lactose em até 79% dos pacientes. Um estudo demonstrou um aumento de 0,85 cm na CC desde o início até
120 min no teste de respiração de hidrogênio, tal resultado foi considerado um acessível sinal não invasivo
que pode ser implementado como preditor clínico em crianças com suspeita de intolerância a latose, cujo
estado nutricional e circunferência da cintura não modifique a utilidade do aumento de CC e cuja idade
afeta apenas o tempo de início5,12.
Outros métodos
Com o material fecal pode-se realizar a pesquisa de substâncias redutoras e avaliação do pH, pois
a presença destas substâncias indica má absorção de açucares nos resultados maiores ou iguais a 0,5%.
Geralmente a glicose não está presente nas fezes, portanto em caso de pesquisa semi-quantitativa positiva
de glicose nas fezes é importante que se faça o diagnóstico indireto de má absorção de carboidratos. O pH
fecal menor ou igual a cinco após ingestão de lactose, é indicativo de má absorção de lactose, visto que o
pH fecal normal gira em torno de sete. A avaliação do ph fecal é mais sensível na indicação de má absorção
em crianças, porém também e válido em adultos12.
Também podem ser utilizados os testes que avaliam a glicose presente no sangue e a galactose presente
na urina. No teste de glicose, para valores com um aumento igual ou inferior a 1,1 mmol/L pode ser indicio
de um possível quadro de intolerância. Na avaliação da galactose na urina, a avaliação consiste na análise de
excreção na qual se a galactose excretada for menor que 20mg, isto pode indicar má digestão da galactose12.
Diagnóstico diferencial
Muitas doenças podem ser confudidas com a intolerância a lactose como a alergia a proteina do leite de
vaca e doenças inflamatórias intestinais14.
A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma doença inflamatória, mediada imunologicamente
que acomete preferencialmente o trato gastrointestinal e pele. Ocorre uma reação imunológica contra
algumas proteínas presentes no leite de vaca, principalmente a beta-lactoglobulina, alfalactoalbumina e a
caseína – alérgenos alimentares mais frequentes no grupo etário até os dois anos de idade. Devido a isso,
as manifestações clínicas da APLV iniciam geralmente nos primeiros seis meses de vida, afetando cerca de
2 a 5% das crianças com até um ano de idade, diferentemente da intolerância a lactose que pode acometer
qualquer faixa etária, além que não manifestar reações alérgicas severas como na APLV e sim desencadear
alterações metabólicas na absorção da lactose15.
As doenças inflamatórias intestinais (DII) são caracterizadas como afecções do intestino diretamente
associadas à inflamação crônica. Clinicamente, são divididas em Retocolite Ulcerativa Idiopática (RCUI)
e Doença de Crohn (DC). A RCUI acomete o cólon e o reto e a DC afeta um ou mais segmentos do tubo
digestivo. As manifestações clínicas mais encontradas são diarréia, sangue nas fezes, vômito, dor abdominal
e náuseas. Como consequência da atividade inflamatória pode ocorrer sensibilidade a lactose, quando há
uma deficiência na hidrólise de lactose tendo a enzima lactaseflorizinahidrolase (LPH) como responsável16.
Tratamento
O manejo da intolerância a lactose tem como principal recomendação uma dieta livre de laticínios, bem
como outros alimentos que possam conter lactose, a qual em geral é seguida pelos intolerantes, sobretudo
para evitar o desconforto gástrico que ocorre com à ingestão dos alimentos17. Nos últimos anos, o advento
de leites sem lactose reduziu as restrições da dieta dos intolerantes; o processo de deslactosação do leite
UHT consiste na adição de lactase e repouso do leite já embalado, para hidrolise do dissacarídeo, dessa
forma não há perdas nutricionais ou calóricas no alimento; porém, algumas vezes o processo pode deixar
traços de lactose, os quais, segundo a ANVISA, são toleráveis até 10 mg a cada 100 ml de produto17.
Outra abordagem dietética é a redução consumo de hidratos de carbono de cadeia curta fermentáveis,
chamados de FODMAPs (Oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis), que
pode trazer alívio satisfatório das manifestações gastrointestinais, em pacientes intolerantes a lactose e
também na vigência de distúrbios gastrointestinais funcionais18.
A suplementação enzimática de lactase, em cápsulas, feita de forma diária, é uma alternativa que permite
aos intolerantes o consumo de laticínios normalmente, sem sintomas gastrointestinais. No Brasil, a lactase
sintética é de origem microbiana, a partir da Kluyveromyces lactis, levedura não patogênica19. A partir de outra
cultura fúngica, da levedura Aspergillus oryz, também há produção satisfatória da enzima Beta-galactosidase,
a qual quando usada como suplemento aos intolerantes e se mostrou efetiva na melhora dos sintomas20.
Não há consenso em relação à dosagem da enzima, sendo encontrada nas doses de 300 mg/1500 UI,
500 mg/2500 UI, 750 mg/3700 UI e 1000 mg/5000 UI. Dentre elas, a mais utilizada é a de 500 mg/2500 UI,
diariamente20.
O uso de probióticos para redução dos sintomas gastrointestinais fundamenta-se na produção de
beta‑galatosidase pelos microrganismos que os compõem, no entanto, ainda não há evidências suficientes
para recomendar o uso como tratamento12,5.
Conclusão
A Intolerância a lactose é uma patologia em crescimento no âmbito mundial. A causa mais comum em
adultos é a hipolactasia primária. A dor abdominal, diarreia e distensão abdominal foram os sintomas mais
prevalentes na IL. O teste diagnóstico mais utilizado é o teste de hidrogênio expirado, considerado padrão
ouro por alguns autores. O tratamento mais utilizado é a redução do consumo de lactose.
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Autor correspondente
Nathalia Emanuelle de Almeida Barbosa
Centro Universitário Metropolitano da Amazônia – UNIFAMAZ
Tv 14 de Abril, n1186, apartamento 211
CEP 66060-460, Belém, PA, Brasil
Tel.: (94) 9221-7953
E-mail: [email protected]
Informação sobre os autores
NEAB; NCJF; TLEV são discentes do curso de Medicina pelo Centro Universitário Metropolitano da Amazônia.
APSOB; HCRG são professores orientadores do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia.
Contribuição dos autores
NEAB foi responsável pela revisão de literatura e os dados apresentados nos resultados e discussão acerca da epidemiologia e diagnóstico sobre o tema. Além
disso, contribuiu para a construção do método e conclusão; NCJF foi responsável pela revisão de literatura e os dados apresentados nos resultados e discussão
acerca da fisiopatologia. Além disso, desenvolveu a introdução e resumo do artigo; TLEV foi responsável pela revisão de literatura e os dados apresentados nos
resultados e discussão acerca do quadro clínico e tratamento. Além disso, contribuiu para a construção do método e conclusão; APSOB foi responsável pela
revisão textual e correção do artigo, além do direcionamento do tema e método; HCRG foi responsável pela revisão textual e correção do artigo, assim como o
direcionamento do tema.
Todos os autores leram e aprovaram a versão final submetida ao Pará Research Medical Journal.