História Da Formação de Professores
História Da Formação de Professores
História Da Formação de Professores
RESUMO
ABSTRACT
This paper deals with the history of the Brazilian training college for elementary
school teachers from the viewpoint of State educational policy and having as
sources historiographical works on elementary school teacher's training colleges of
several States. Founded in 19th. century those institutions initially showed a rather
modest feature of elementary schools themselves with emphasis on the content to
be taught. With time, however, they progressively incorporated a didatic-
pedagogical content. New School movement ideas influenced them decisively
changing the emphasis of their curricula to the "sciences of education". The article
examines questions related to: consolidation and expansion of that College,
evolution of its general and curricular organization which has reached the
secondary level from the 1930's onwards until the National Education Law 9.394/96
when a higher education level was required to elementary teachers.
docente (Catani et al. 1997; Assunção, 1996; Catani & Bastos, 1997; Conti, 1995;
Lelis, 1997) - certamente possibilitará novas sínteses futuras. Ressalte-se ainda que
a estadualização dos sistemas de formação de docentes desde a sua origem
dificultou sobremaneira o presente resgate e a reconstrução minuciosa da
trajetória da escola normal. Não foi possível ter acesso a muitos dos trabalhos e
sobretudo das teses e dissertações levantadas em bases de dados, devido às
dificuldades dos serviços de empréstimos interbibliotecas e, sobretudo, ao tempo
reduzido disponível para a redação do presente artigo.
As primeiras iniciativas
I. Ordeno: que os exames dos mestres que forem feitos em Lisboa; quando não
assistir o presidente se façam na presença de um deputado, com dois
examinadores nomeados pelo dito presidente, dando os seus votos por escrito que
o mesmo deputado assistente entregará com a informação do tribunal. Em
Coimbra, Porto e Évora (onde só poderá haver exames) serão feitos na mesma
conformidade por um comissário e dois examinadores, também nomeados pelo
presidente da mesa; os quais remeterão a ela os seus pareceres, na sobredita
forma; nas Capitanias do Ultramar se farão exames na mesma conformidade.
Sempre de tudo será livre aos opositores virem examinar-se em Lisboa, quando
declararem que assim lhes convém. II. Ordeno: que o sobredito provimento de
mestres se mandem afixar editais nos reinos e seus domínios para a convocação
dos opositores aos magistérios. E que assim se fique praticando no futuro em todos
os casos de cadeiras. (Moacyr, 1936, p. 24)2
A primeira escola normal brasileira foi criada na Província do Rio de Janeiro, pela
Lei n° 10, de 1835, que determinava: "Haverá na capital da Província uma escola
normal para nela se habilitarem as pessoas que se destinarem ao magistério da
instrução primária e os professores atualmente existentes que não tiverem
adquirido necessária instrução nas escolas de ensino mútuo, na conformidade da
Lei de 15/10/1827." A escola seria regida por um diretor, que exerceria também a
função de professor, e contemplaria o seguinte currículo: ler e escrever pelo
método lancasteriano; as quatro operações e proporções; a língua nacional;
elementos de geografia; princípios de moral cristã. Os pré-requisitos para ingresso
limitavam-se a: "ser cidadão brasileiro, ter 18 anos de idade, boa morigeração e
saber ler e escrever" (apud Moacyr, 1939b, p. 191). Devido à consagração do
método do ensino mútuo na Lei de 1827 e à sua conseqüente divulgação, as
primeiras escolas normais brasileiras reduziam o preparo didático e profissional do
mestre à compreensão do referido método. (Bastos, 1998)
Depreende-se do currículo, bem como das exigências para ingresso, que em nível
primário realizou-se o primeiro ensaio de uma instituição destinada
especificamente à formação do pessoal docente para as escolas primárias no Brasil.
Essa característica de um ensino apoucado, estreitamente limitado em conteúdo
ao plano de estudos das escolas primárias, não foi exclusiva da Província do Rio de
Janeiro, mas marcou o início do desenvolvimento das escolas normais em outros
países e estava presente na organização imprimida às primeiras instituições
congêneres aqui instaladas.
1876 com a criação de uma escola normal pública (instalada apenas em 1880); no
Paraná, em 1876; em Santa catarina, em 1880; no Ceará, em 1880 (instalada em
1884) (Moacyr, 1939a, 1939b, 1940); no Mato Grosso, em 1874 (Siqueira, 1999,
p.210); em Goiás, em 1882 (instalada em 1884) (Canezin & Loureiro, 1994, p. 28-
35; Brzezinski, l987, p. 39); na Paraíba, em 1884 (instalada em 1885) (Mello, 1956,
p. 61).
Pode-se pois dizer que nos primeiros 50 anos do Império, as poucas escolas
normais do Brasil, pautadas nos moldes de medíocres escolas primárias, não foram
além de ensaios rudimentares e mal sucedidos. Em 1867, Liberato Barroso,
registrando a existência de apenas quatro instituições desse gênero no país - no
Piauí, em Pernambuco, na Bahia e no Rio -, lamentava o fato de que, em virtude de
suas deficiências, "nenhum aproveitamento notável tinham elas produzido até
então", de forma que a escola normal era ainda uma instituição "quase
completamente desconhecida" (apud Tanuri, 1979, p. 22)
No final do Império, a maioria das províncias não tinha mais do que uma escola
normal pública, ou quando muito duas, uma para o sexo feminino e uma para o
masculino, organizadas com dois a quatro anos de estudos, geralmente três. Em
algumas províncias, como é o caso de Goiás (Canezin & Loureiro, 1994, p. 33),
apenas a Cadeira de Pedagogia, junto às disciplinas do liceu, fazia as vezes de curso
de preparação de professores. Via de regra, as escolas normais não alcançavam
ainda o nível do curso secundário, sendo inferiores a este quer no conteúdo, quer
na duração dos estudos. Já então com um currículo mais amplo do que o inicial,
composto sobretudo pelas matérias do ensino primário, elas se assemelhavam às
escolas primárias superiores, constantes da legislação de muitas províncias. A
formação pedagógica era reduzida, limitando-se a uma ou duas disciplinas:
pedagogia (e/ou metodologia), acrescida às vezes de legislação e administração
16
Expansão e consolidação
Digna de nota nesses primeiros anos foi, de um lado, a influência das filosofias
cientificistas, consubstanciada sobretudo no papel disciplinar, metodológico
atribuído às ciências e na importância que elas passaram a ganhar nos currículos.
De outro, a introdução dos primeiros ensaios de renovação pedagógica no ensino
público, ressaltando-se o valor da observação, da experiência sensorial, da
19
modelos europeus, foi somente a partir da segunda década do presente século que
os estados brasileiros começaram a instalar cursos complementares em
continuação ao primário, destinados a funcionar como curso geral básico, de
preparação para a escola normal, justapondo-se paralelamente ao secundário.
Nestas condições, introduzia-se em nosso sistema de ensino uma bifurcação nos
estudos gerais imediatamente após a escola primária: o curso complementar,
espécie de primário superior, propedêutico à escola normal, de duração, conteúdo
e regime de ensino interiores ao secundário, e este último, de caráter elitizante,
objeto de procura dos que se destinavam ao ensino superior. A criação do curso
complementar estabelecia um elo de ligação entre a escola primária e a normal e
o ingresso na última passava a exigir maiores requisitos de formação.
A fase que se segue à Primeira Guerra e se prolonga por toda a década de 1920 é
de preocupação e entusiasmo pela problemática educacional em âmbito
internacional e nacional, sendo caracterizada por esforços da iniciativa estadual
pela difusão e remodelação do ensino. A divulgação dos princípios e fundamentos
22
lado de duas municipais e apenas uma estadual (Tanuri, 1979, p. 201). Em Goiás, a
equiparação de escolas normais particulares teve início em 1907, de modo que em
1929 o estado mantinha, ao lado de uma única escola normal oficial - que fazia as
vezes de estabelecimento modelar -, sete equiparadas (Canezim & Loureiro, 1994,
p. 61). Diferentemente dessa situação, no estado de São Paulo a equiparação de
escolas de iniciativa municipal e particular somente ocorreria a partir da Lei 2.269,
de 31/12/1927. Preocupados em preservar a organização do ensino normal traçada
nos primórdios do novo regime e temerosos de que a regalia da equiparação viesse
deteriorar essa organização, os legisladores paulistas resistiram em franquear o
ensino normal à iniciativa privada, só vindo a fazê-lo em 1927, quando tal solução
foi defendida como necessária à expansão do ensino primário na zona rural. A
medida tardia certamente veio atender a solicitações represadas de inúmeros
municípios que pressionavam o poder público pelo direito de terem uma escola
normal, de modo que já em 1928 funcionaram 26 escolas normais livres no estado
de São Paulo, as quais atingiram 49 unidades em 1930, com 4.017 matrículas, ao
lado das dez oficiais já existentes (Tanuri, 1979, p. 209). Já estava claro que a
iniciativa privada constituiria, cada vez mais, a principal mantenedora de escolas
normais e que o controle do crescimento e da qualidade dessa rede privada
demandaria preocupação.
Por volta do final dos anos 20, as escolas normais já haviam ampliado bastante a
duração e o nível de seus estudos, possibilitando, via de regra, articulação com o
curso secundário e alargando a formação profissional propriamente dita, graças à
introdução de disciplinas, princípios e práticas inspirados no escolanovismo, e a
atenção dada às escolas-modelo ou escolas de aplicação anexas. A pedagogia que
as embasava fundamentava-se principalmente numa psicologia experimental - esta
já então libertada dos estritos limites da psicofísica e das medições cefalométricas
- preocupada com a aferição da inteligência e das aptidões, ou seja, com os
26
A definição do modelo
inicialmente pelo Distrito Federal e por São Paulo, no sentido de excluir o conteúdo
de formação geral das escolas normais, substituindo-o pela exigência do curso
secundário fundamental como condição para ingresso, já estava instituída, por
volta de 1940, nos estados de: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão,
Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Sergipe, conforme levantamento feito
por Iris Barbieri (1973, p. 93). Com isso, a preocupação central do currículo da
escola normal deslocava-se dos "conteúdos" a serem ensinados - o que
caracterizou os primórdios da instituição - para os métodos e processos de ensino,
valorizando-se as chamadas "Ciências da Educação", especialmente as
contribuições da Psicologia e da Biologia. Encontra-se nos documentos legais
dessas reformas a presença de dispositivos indicadores de idéias da escola
renovada, relativas ao atendimento às possibilidades biopsicológicas da criança, à
adequação do currículo às características do meio social, ao tratamento das
matérias escolares como instrumentos de ação e não como fins em si mesmas, à
importância dos processos intuitivos, da observação direta, da atividade do aluno,
do método analítico para o ensino da leitura. Entretanto, parece questionável a
penetração intensiva dessas idéias na prática pedagógica cotidiana, o que só
poderia ser evidenciado por pesquisas específicas, como a realizada por Vidal
(l995). É possível que a presença atuante de importantes representantes do
movimento renovador em alguns sistemas tenha sido responsável pelo sucesso na
implementação das novas idéias, como ocorreu, por exemplo, com Lourenço Filho,
quando diretor do Instituto de Educação do Distrito Federal, de 1932 a l937 (Vidal,
1995). Observações de alguns pesquisadores sugerem discrepância entre a
prescrição legal e aquilo que foi realmente implementado (Brzezinski, 1987, p. 114-
117; Canezin & Loureiro, 1994, p. 90).
31
primário e era ministrado nas Escolas Normais e nos Institutos de Educação. Além
dos referidos cursos, os Institutos de Educação deveriam ministrar os cursos de
especialização de professores - para a educação especial, curso complementar
primário, ensino supletivo, desenho e artes aplicadas, música e canto - bem como
cursos de administradores escolares, para habilitar diretores, orientadores e
inspetores.
O currículo do curso de primeiro ciclo incorria nas velhas falhas que motivaram
críticas às escolas normais, ou seja, contemplava predominantemente disciplinas
de cultura geral, restringindo a formação profissional tão-somente à presença de
duas disciplinas na série final: psicologia e pedagogia, bem como didática e prática
de ensino. Já a escola normal de segundo ciclo, de par com algumas disciplinas de
formação geral, introduzidas na série inicial, contemplava todos os "fundamentos
da educação" que já haviam conquistado um lugar no currículo, acrescidos da
metodologia e da prática de ensino.10
Uma iniciativa original e pioneira deve ser registrada com a reforma goiana de l959,
quando se cria, ao lado dos cursos normais primários e secundários, um curso
normal superior no Instituto de Educação da capital do estado, com duas séries,
para formar professores primários. Tal curso - com o currículo praticamente
idêntico ao dos cursos de Pedagogia da época - chegou a funcionar por dois anos,
quando a lei que o criou foi declarada inconstitucional, com base no argumento de
que era exclusiva competência das Faculdades de Filosofia a formação de
professores em nível superior (Brzezinski, 1987; Canezin & Loureiro, 1994).
Nos estados onde o crescimento das escolas normais foi mais acentuado
apareceram críticas contundentes ao seu funcionamento. Em São Paulo, por
exemplo, Mascaro aponta o despreparo dos ingressantes, oriundos de quaisquer
dos cursos técnicos ou secundário de primeiro ciclo; o regime didático pouco
exigente com relação à avaliação do aproveitamento e à promoção; a falta de
articulação entre as "cadeiras"; a facilidade na concessão de equiparações e o
controle ineficiente da rede privada; a criação de cursos normais noturnos, com o
mesmo modelo pedagógico dos diurnos; o desvirtuamento das finalidades
profissionais das escolas normais, resultante em parte das medidas recentes
relativas à equivalência dos cursos médios e do "excesso de escolas", que levava o
autor a criticar a "maior rede mundial de escolas normais" e o "chômage" de
professores (Mascaro, 1956). Aliás, o desvirtuamento das finalidades profissionais
das escolas normais, ao lado do reconhecimento das funções "paradomésticas" -
na expressão de Luiz Pereira - e da ampliação da função preparatória, foi objeto
não apenas de críticas de estudiosos e políticos da educação, como também de
diversas pesquisas na época.11
As reformas estaduais das escolas normais, com vistas a ajustá-las à nova Lei,
limitaram-se principalmente a alterações curriculares. A maioria dos estados
conservou o sistema dual, com escolas normais de nível ginasial, com quatro séries
no mínimo, e as de nível colegial, com três séries no mínimo, certamente em face
da insuficiente quantidade de candidatos qualificados para a docência no ensino
40
primário. Apenas Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Guanabara e
Distrito Federal utilizaram-se somente de escolas de segundo ciclo de grau médio
para preparação de seus professores primários (Tanuri, 1970).
Como a Lei de Diretrizes e Bases fixou apenas padrões mínimos de duração para os
dois tipos de cursos, aos Conselhos Estaduais caberia a iniciativa de estender esse
mínimo, nas proporções desejadas. Com referência ao curso ginasial, a grande
maioria dos estados manteve-se nos estritos limites da duração mínima, com
exceção apenas dos estados de Pernambuco, Minas e Paraíba, que ampliaram a
duração de seus cursos para cinco anos, dedicando o quinto à preparação
pedagógica mais específica. Quanto ao curso normal de nível colegial, apesar de
iniciativas de algumas unidades da Federação no sentido de estendê-lo para quatro
séries, apenas o estado de São Paulo logrou fazê-lo ainda antes da Lei 5.692/71,
como será especificado mais adiante.
A descaracterização do modelo
A nova Lei adotava, pela primeira vez, um esquema integrado, flexível e progressivo
de formação de professores. Assim, o artigo 29 estabelecia: "a formação de
professores e especialistas para o ensino de 1º e 2º graus será feita em níveis que
se elevem progressivamente, ajustando-se às diferenças culturais de cada região
do país e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às
45
Trabalho publicado pelo antigo CENAFOR em 1986 sintetiza bem o teor das críticas
que a HEM recebia no período:
Parte significativa dessas críticas resultava numa produção acadêmica que, a partir
dos anos 80, já se baseia cada vez mais numa análise de cunho sociológico,
principalmente no quadro das teorias do conflito e teorias críticas em geral, de
modo que o fracasso dos modelos escolares não é analisado mais em função de
abordagens psicológicas ou tecnicistas, ou de aspectos exclusivamente legislativos
ou técnicos. Muitos dos trabalhos já buscam situar a formação do professor no
contexto sócio-histórico onde ela se insere, no intento de destacar os
determinantes dessa formação e de adequá-la à função da escola, de formação de
cidadãos críticos e competentes (Silva, 1991).
Entre as ações desencadeadas pelo MEC, por meio de sua Coordenadoria de Ensino
de Segundo Grau, também merece menção o convênio firmado com o CENAFOR
para desenvolvimento do Projeto "Habilitação ao Magistério: implementação de
nova organização curricular", que previa:
51
Apesar de todas as iniciativas registradas nas duas últimas décadas, o esforço ainda
se configurava bastante pequeno no sentido de investir de modo consistente e
efetivo na qualidade da formação docente. O mais grave é que as falhas na política
de formação se faziam acompanhar de ausência de ações governamentais
adequadas pertinentes à carreira e à remuneração do professor, o que acabava por
se refletir na desvalorização social da profissão docente, com conseqüências
drásticas para a qualidade do ensino em todos os níveis.
A nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/96) veio encontrar o quadro acima
delineado no âmbito da formação de professores para os anos iniciais da
escolaridade: diversidade de instituições formadoras, seja em nível médio, seja em
nível superior, com predominância das de nível médio, sobretudo as de iniciativa
pública. Assim, em 1996, havia 5.276 Habilitações Magistério em estabelecimentos
de ensino médio, das quais 3.420 em escolas estaduais, 1.152 em escolas
particulares, 761 em municipais e 3 federais. Quanto aos cursos de Pedagogia,
dados de 1994 indicavam a existência de apenas 337 em todo o país, 239 dos quais
de iniciativa particular, 35 federais, 35 estaduais e 28 municipais. Além da
vinculação predominante desses cursos à iniciativa privada, observa-se também a
sua grande concentração na região sudeste, onde se localizavam 197 cursos, 165
deles pertencentes à iniciativa particular (Brasil, 1997). Assim, tais dados não
reforçavam a idéia de adoção do modelo único de formação em nível superior.
Nesse quadro referencial, a nova Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/96) estabelece
que "a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação [...]" (art. 62). Assim, o legislador optava por
inserir uma nova instituição no panorama educacional, provavelmente por
inspiração dos Institutos Universitários de Formação de Mestres (IUFM) franceses,
que forneceram referencial para a experiência realizada no país. Ao mesmo tempo,
55
Tudo indica que, apesar da conquista legal, a formação em nível superior continua
a ser um desafio para os educadores, até porque a recente regulamentação dos
Institutos Superiores de Educação (Res. CNE 1/99) tem trazido incertezas acerca de
suas conseqüências para a qualificação de docentes. Por parte de educadores, de
instituições de ensino superior e de associações de docentes, embora se reconheça
que eles podem ser um avanço nos locais onde inexistem cursos superiores de
formação, teme-se um nivelamento por baixo em face da ênfase numa formação
eminentemente prática, desvinculada da possibilidade de pesquisa, e devido aos
56
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3 Cite-se, por exemplo, que a 29/4/1823 uma Decisão do Governo exige que cada
Província envie à Corte “um ou dois indivíduos tirados da Tropa de Linha, sejam da
classe dos Oficiais Inferiores, sejam dos soldados, que tenham a necessária e
conveniente aptidão para aprenderem o mencionado método, e poderem,
voltando à sua Província, dar lições não só aos seus irmãos d’armas, mas ainda às
outras classes de cidadãos” (Decisão no 69 – Guerra), E, a 22/8/1823, outra Decisão
“manda abonar aos oficiais inferiores e cadetes que vierem das Províncias aprender
o método de ensino mútuo uma gratificação mensal, enquanto freqüentarem a dita
aula” (Decisão no 129 – Guerra).
4 Apenas depois dos pareceres de Rui Barbosa, a bibliografia pedagógica brasileira
entra numa fase mais fértil. Assim, em 1882 surgem os pareceres sobre as diversas
questões do temário do não-realizado Congresso de Instrução do Rio de Janeiro.
Em 1884, edita-se o volume Lições de Coisas, de Saffray, e, em 1886, Primeiras
Lições de Coisas, de Calkins, traduzido por Rui Barbosa, difundindo no Brasil as
idéias de Pestalozzi e Froebel acerca do ensino intuitivo e da educação pelos
sentidos, em oposição aos processos verbalistas da escola tradicional. Em 1887, é
lançada a obra Pedagogia e Metodologia, do professor da Escola Normal de São
Paulo Camilo Passalacqua e, no ano seguinte, o Tratado de Metodologia
Coordenada, de Felisberto Rodrigues Pereira de Carvalho.
5 A partir de 1910, comissões de diferentes estados vieram estudar a organização
do serviço de instrução pública de São Paulo e “missões” de professores paulistas
partiram para reorganizar o ensino em diversos estados do Brasil: Mato Grosso,
Espírito Santo, Santa Catarina,Sergipe, Alagoas, Ceará e outros. Veja-se, a respeito:
Fleury, 1946.
6 Para uma síntese da literatura da época, veja-se: Nagle, 1974.
7 Veja-se, a propósito, o art. 788 do Código de Educação do Estado de São Paulo:
67
“O ensino, que será intensivo no curso de formação profissional, além das aulas
teóricas deverá constar de aulas práticas de laboratório ou de investigações, de
seminários (círculos de debate) e excursões, com o fim de estimular e desenvolver
a iniciativa individual dos alunos, o espírito e o gosto de observação pessoal e o
hábito de leitura.”
8 Em tais circunstâncias, nas antigas escolas normais, depois Institutos de
Educação, tiveram origem os estudos pedagógicos de nível superior no Brasil.
Alguns autores (Antunha, 1974, p. 105) relacionam a essa origem o desprestígio
dos estudos superiores de educação, ou seja, o fato de que seus primeiros docentes
eram antigos professores do curso normal, elevados, com as respectivas cadeiras,
ao nível superior.
9 Os anteprojetos de organização do ensino primário e normal foram elaborados
pela Comissão Nacional de Ensino Primário – instituída em 1938, com o objetivo de
assessorar o governo em sua ação centralizadora – e submetidos à I Conferência
Nacional de Educação, convocada pelo governo federal em 1941.
10 Conforme o art. 8o do Dec.-Lei 8.530, de 2/1/1946, era o seguinte o currículo do
curso normal de 2o ciclo: Português (1a), Matemática (1a), Física e Química (1a),
Anatomia e Fisiologia Humanas (1a), Música e Canto Orfeônico (1a, 2a, 3a),
Desenho e Artes Aplicadas (1a, 2a, 3a), Educação Física, Recreação e Jogos (1a, 2a,
3a), Biologia Educacional (2a), Psicologia Educacional (2a, 3a), Higiene e Educação
Sanitária (2a), Higiene e Puericultura (3a), Metodologia do Ensino Primário (2a, 3a),
Sociologia Educacional (3a), História e Filosofia da Educação (3a), Prática de Ensino
(3a).
11 Pesquisa realizada em 1960 por Aparecida Joly Gouveia, nos estados de São
Paulo e Minas, indicava as seguintes expectativas das normalistas para o ano
seguinte ao da formatura: 38% pretendiam lecionar; 29%, continuar os estudos;
12%, lecionar e continuar os estudos; 7%, dedicar-se exclusivamente ao lar; 6%,
68
FONTE:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
24782000000200005