F7 Literatura Cearense PDF
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CURSO
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7 O Canto Novo
de uma Raça
Pré-Modernismo e Modernismo
Raymundo Netto
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Realização
Passando a régua no século XIX, no
Brasil, Canções românticas (1878), de Al-
1.
berto de Oliveira – apesar do título –,
marca o início do Parnasianismo, que
recebeu adesões, como Olavo Bilac, Rai-
mundo Correia, Alberto de Oliveira e Vi-
DO RIGOR cente de Carvalho, embora, numa atitude
irreverente, diz Bilac, que viria a ser o seu
DA DISCIPLINA expoente maior no país: “No Brasil nunca
houve Parnasianismo. O que há entre nós
ÀS VAIAS atualmente é a febre da Perfeição, a bata-
ualquer aluno do en- lha sagrada da Forma, em serviço da Ideia
sino médio em Litera- e da Concepção. [...] Nenhum dos poetas
tura já ouviu falar em da nova geração quer fazer do verso um
Parnasianismo. Possí- instrumento sem vida; nenhum deles quer
vel saber também que transformar a Musa num belo cadáver. O
dois autores franceses, que eles não querem é que a Vênus grega
Théophile Gautier e seja coxa e desajeitada e faça caretas em
Leconte de Lisle, lan- vez de sorrir” (CASTELLO, 1999, v.1, p. 299)
çaram O Parnaso con- O certo é que a estética parnasiana, mes-
temporâneo (1866), uma mo sem adotar a objetividade da escola fran-
antologia de poemas na cesa – o “amordaçamento das emoções”,
qual predominava uma como se refere Ivan Junqueira –, abraçou o
reação antirromântica, ou seja, que procura- cuidado com a criação dos versos perfeitos
va resgatar a visão de arte como sinônimo (gramática e métrica), a manutenção do rit-
de beleza formal alcançada por meio de mo, a escolha intransigente das rimas e o
trabalho cuidadoso e detalhista – comba- olhar voltado para a antiguidade clássica.
tiam o sentimentalismo excessivo dos poe- O Simbolismo, levando em considera-
tas românticos que, criam, haviam abando- ção as obras de Cruz e Sousa de 1893 como
nado os rigores formais na sua composição, marco da escola no país, chegaria apenas
comprometendo a sua qualidade artística. quinze anos depois, com fria recepção do
Alguns desses poetas do “Parnaso” europeu público, ao contrário de sua antecessora.
se destacariam, mais tarde, no Simbolismo. É nesse ponto que Sânzio de Azevedo
nos chama a atenção para uma singula-
Parnaso ridade na historiografia da Literatura Cea-
SABATINA
Montanha grega, rense. No Ceará, o Simbolismo nos chega
morada de Apolo
antes do Parnasianismo, pois como vi-
e das musas
inspiradoras mos no módulo anterior, ele viria no vapor,
dos artistas. Théophile Gautier, além de poeta diretamente de Portugal, com influência de
era um excelente contista, seguidor Antônio Nobre, e não de Cruz e Sousa ou de
de E.T.A Hoffmann. Sua profana “A outros anteriores a ele no Brasil.
morte amorosa” é um dos contos Aqui, ainda no século XIX, quando o
fantásticos mais encontrados em Simbolismo já figurava em, pelo menos, Lí-
antologias do gênero. Gautier vio Barreto (Dolentes) e Lopes Filho (Phan-
afirmava que “a arte não existe para tos), Álvaro Martins publica, em 1903, o
a humanidade, para a sociedade ou soneto “A aranha”, “manifestação verdadei-
para a moral, mas para si mesma”. ramente inaugural da arte marmórea entre
3.
iconoclasta. Ser vanguarda seria antecipar
novos caminhos, prenunciar bases e crité-
rios estéticos para este mundo “em transfor-
mação”. Daí, é nesse contexto que surgiriam
os europeus Futurismo, Dadaísmo, Cubismo,
AVANT-GARDE Expressionismo, Surrealismo e seus respecti-
vos e chocantes manifestos.
MODERNISTA Para resumir o que nos interessa: “A prin-
assagem de séculos. Os no- cipal herança das vanguardas europeias
vos tempos assistiam ao sur- para a Literatura Brasileira [...] é o impulso
gimento de um cenário artísti- de (1) destruir os modelos arcaicos, (2)
co dinâmico, criativo e diverso desafiar o gosto estabelecido e (3) propor
– para alguns, assustador e de um olhar inovador ao mundo” (ABAURRE;
extremo mau-gosto. O avanço PONTARA, 2005, p.504), ou seja, ruptura e
tecnológico (a “Era da Eletrici- transformação seriam as palavras de or-
dade”, o cinema, o telefone, o dem para a fase heroica – como dizia Mário
telégrafo sem fio, o automó- de Andrade – da primeira geração moder-
vel, o avião...), a revolução na nista, que é o objeto deste módulo.
5.
para escritores e artistas irem se buscando,
aos poucos, com uma nova compreensão
do momento. Embora não tivesse exercido
uma influência imediata, o Movimento for-
mou, gradualmente, e com um alcance cole-
E O MODERNISMO tivo, um conjunto de ideias básicas, coeren-
tes com a realidade brasileira” (BOPP, 2012).
FOI? NÃO FOI? Observamos que esse movimento inspi-
ão nos deteremos no que rado pelas ideias europeias e que queria, 100
vastamente encontra- anos depois, proclamar a sua “independên-
mos nos compêndios de cia” dos valores estrangeiros – aparente con-
Literatura Brasileira, que tradição – faria uma forte campanha, espe-
afirmam ser esta primei- cialmente por meio de artigos em jornais
ra geração, a do “espírito (tinham bastante acesso a eles), lançamen-
destruidor” do Modernis- to de revistas e manifestos – entre eles,
mo, a eclodir nos salões em 1928, o “Manifesto da Antropofagia”, que
do Teatro Municipal de mais impactaria no Ceará –, além de excur-
São Paulo, apoiada con- sões de militantes, como Raul Bopp e Gui-
fortável, econômica e so- lherme de Almeida, aos demais estados.
cialmente pela elite paulista: a Semana de Guilherme de Almeida (1890-1969), um
Arte Moderna de 1922. dos “semanistas” e maiores divulgadores do
Mas, vá lá, onde é que nós entramos nis- Modernismo, e que viria a ser, anos depois, o
so? Pois bem, o escritor gaúcho Raul Bopp primeiro modernista a ingressar na Aca-
(1898-1984), que jovem já havia fundado demia Brasileira de letras, em 1925, percor-
periódicos no Rio Grande do Sul, não esta- reu algumas capitais brasileiras, como Porto
va em São Paulo durante a Semana – que Alegre, Recife e Fortaleza, em conferência,
ele denominava “reação modernista” ou a princípio, a convite do jornalista, escritor
“insurreição literária de 22” –, mas no Rio e advogado pernambucano Joaquim Ino-
de Janeiro, o que fez com que acompa- josa, principal divulgador do Modernismo
nhasse os seus acontecimentos a distância, – dizia-se “Futurismo” – nas terras nordes-
assim como também nos seus reflexos em tinas. Inojosa conta que após o seu primei-
outros estados brasileiros. Conta-nos: ro encontro com os “semanistas”, recebeu
SABATINA
A revista baiana Arco & Flexa teve
rápida duração (1928-1929). Seu
diretor era Pinto de Aguiar e a
redação era na casa do diretor.
As edições variavam entre 66 a 77
páginas. A escolha do título, claro,
afirmava um caráter de nacionalismo
brasileiro: o índio, sempre ele. Um
de seus maiores e mais articulados
colaboradores foi Carlos Chiacchio.
Não temos dúvida de que o espírito da Um dos periódicos nos quais mais per-
BOLACHINHAS turma da Maracajá seria o mesmo prati- cebemos esse movimento é o A Manhã (RJ).
cado pela Padaria Espiritual e, mais tarde, Inclusive é nele que encontramos a carta que
Raul Bopp seria o responsável pela pelo grupo CLÃ: apresentar a produção li- Antônio Sales – reconhecido articulador e
sugestão do título “Abaporu” (antropó- terária do Ceará para todo o Brasil e até “mestre-sala” da literatura cearense – envia
fago) à obra de Tarsila do Amaral e pelo ao exterior. Por vezes, até com os mesmos a Raul Bopp, pedindo para não ser mais in-
apelido “Pagu”, pelo qual se tornaria exageros ou utilizando o tom gracejador termediador dos recados entre os “antropo-
conhecida a jornalista Patrícia Galvão, dos “tempos heroicos”, como esse texto de fagistas paulistas” e os “canibais cearenses”,
a “musa dos modernistas”. Carlos “Garrido” em Maracajá nº 2: e que se entendessem diretamente com eles,
Drummond de Andrade dizia ser Cobra “cuja fera simbólica, o Maracajá, tem sua
O primeiro número de Maracajá foi espalha-
Norato (1931) “possivelmente o mais do por todo o globo e até por fora do referi-
toca na redação d’O POVO, à rua Barão do
brasileiro de todos os poemas brasilei- do asteroide. A esta hora, qualquer habitan- Rio Branco, 239. E abro os braços com o de-
ros, escritos em qualquer tempo.” te de Marte já estará fazendo antropofagia. sejo de abraçá-los, mas realmente para não
Vocês lá do Sul que escreveram sobre o ser engolido”. Esse mesmo texto seria publi-
gato selvagem do Nordeste, toquem nos cado no Diário de S. Paulo, quando acolhia a
ossos. Isso!
2ª dentição da Revista da Antropofagia.
Nós estamos ligados por um sentimento
único – o da voracidade. Sim, Raul Bopp, autor de Cobra Norato,
Juntemo-nos para comer tudo o que deva seria uma espécie de “embaixador do Mo-
ser comido no Brasil. dernismo de lá” por aqui, assim como em
Demócrito Rocha (assinando “Antônio Gar- outros estados. Ele mesmo explica a sua
rido”) Maracajá nº 2, em 20 de maio de 1929. atuação na época:
ILUSTRADOR
ISBN: 978-65-86094-18-3 (Fascículo 7)
Carlus Campos
Artista gráfico, pintor e gravador, começou a carreira
em 1987 como ilustrador no jornal O POVO. Na
construção do seu trabalho, aborda várias técnicas
como: xilogravura, pintura, infogravura, aquarelas
Todos os direitos desta edição reservados à:
e desenho. Ilustrou revistas nacionais importantes Fundação Demócrito Rocha
como a Caros Amigos e a Bravo. Dentro da produção Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
gráfica ganhou prêmios em salões de Recife, CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
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