Metà-Hodós Da Fenomenologia
Metà-Hodós Da Fenomenologia
Metà-Hodós Da Fenomenologia
METÀ-HODÓS: DA FENOMENOLOGIA
HERMENÊUTICA À PSICOLOGIA
Metà-hodós: from the Hermeneutic Phenomenology to the Psychology
Resumo: Com este manuscrito pretendemos esclarecer como a ideia de método – como antecipação do caminho certo
e reto de investigação de um tema, de modo que possamos conquistar certezas absolutas – obscureceu a noção mais
originária de metà-hodós, que traz a ideia de que o caminho se faz ao caminhar. Passamos, então, a mostrar que esta
noção foi primeiramente assumida por Husserl, em sua máxima de que devemos tomar o fenômeno tal como ele se dá
em seu campo de mostração. Heidegger adiciona a esta noção a perspectiva hermenêutica. Por fim, mostraremos como
a Psicologia pode se apropriar da fenomenologia hermenêutica de modo a deixar que o fenômeno de seu interesse
possa aparecer em seu campo de aparição e, também, nos mostrar o caminho que nos conduz ao sentido do fenômeno.
Com esse esclarecimento pretendemos encaminhar mais um modo de proceder nas pesquisas em Psicologia.
Palavras-chave: Método; Fenomenologia; Hermenêutica; Psicologia.
Abstract: In this manuscript we pretend to clarify how the idea of method, as anticipation of the right and straight
way of the research toward absolute trues, obscured the more original notion of metà-hodós, according to which one
finds the way by walking the way. To do so we show the notion that was assumed by Husserl in his maxim about the
phenomenon that we should let it show itself. Heidegger adds to this notion the hermeneutic perspective. Lastly, we
show the way the Psychology incorporates hermeneutical phenomenology so that the phenomenon shows itself, and
thus shows us the way that leads us to the meaning of it. With this clarification we intend to bring another way to carry
out research in Psychology.
Keywords: Method; Phenomenology; Hermeneutic; Psychology.
Resumen: Con este manuscrito queremos aclarar cómo la idea de método como anticipación del camino cierto y recto
de investigación de una temática por lo que podemos obtener certeza absoluta, oscureció la noción de metà-hodós, que
trae la idea de que el camino se hace al caminar. Pasamos, entonces, para mostrar que esa noción fue asumida primero
por Husserl en su máxima que dice para tomarnos el fenómeno como él se muestra en su campo de mostración. Heide-
gger añade a esa noción la perspectiva hermenéutica. Por último, mostraremos cómo la psicología puede apropiarse de
la hermenéutica fenomenológica para permitir que el fenómeno de interés pueda darse a ver en su campo de aparición
y también nos indica el camino que nos lleva al sentido del fenómeno. Con esa aclaración se pretende avanzar de otra
manera para llevar a cabo la investigación en Psicología.
Palabras-clave: Método; Fenomenología; Hermenéutica; Psicología.
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Introdução Podemos – a título de exemplo da presença
do método no modo de fazer de algo – acompanhar
Fogel (1998) esclarece, acerca do método da Fi- como se deu a exposição de cada um dos partici-
losofia: “O ‘metà’ contido em ‘método’ (metà-hodós) pantes de O Banquete, de Platão (2015). Essa ati-
diz ‘de acordo com’ ou ‘junto de’ o caminho” (p.29). vidade discursiva teve como anfitrião Agatão, que
Não há dúvida nenhuma de que, qualquer que seja fez os convites e organizou tudo o que constaria do
a atividade humana, ela sempre se dará junto a, de banquete: alimentos, vinhos, músicas e os diálogos.
acordo com algo a fazer, por meio de. Mas agora Durante o banquete, foram apresentados sete dis-
cabe perguntar o porquê de ter de pensar em mé- cursos, cujo tema era Eros, o deus do amor, profe-
todo, uma vez que desde sempre nos encontramos ridos por Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes,
junto de, de acordo com. Aqueles que se encontram Agatão, Sócrates e Alcebíades. O Banquete, desde
inseridos na vida acadêmica, cada vez mais, vêm a ideia da reunião, passando pela organização e
sendo exigidos no sentido de orientar seu pensa- chegando aos discursos, sem dúvida aconteceu de
mento pelo bom uso da razão. Caso assim não fa- acordo com um caminho em que havia uma anteci-
çam, correm o risco de serem excluídos do seu ofí- pação que se traçava junto ao caminhar.
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cio de ensinar. Assim, se Platão, Machado de Assis, Quanto ao tema, cada orador apresentou as
Tchekhov, dentre outros, estivessem no mundo de suas teses sobre Eros e cada um o fez ao seu modo.
A r t i g o s
hoje, seriam proibidos de lecionar na academia – Ao acompanhar cada um desses oradores em suas
uma vez que não faziam bom uso da razão de acor- performances, podemos ver o modo como ordena-
do com um método rigoroso e, portanto, careciam vam as suas palavras, seus argumentos, suas iro-
de metodologia? nias, seus contra-argumentos, suas discordâncias a
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fim de convencer os ouvintes da verdade daquilo se apresentava na tradição moderna de modo que,
que afirmavam sobre o deus do amor. A apresenta- ao ser posto, se retraía naquilo que foi pensado. Hei-
ção de Sócrates surpreendeu todos os participantes, degger (1927/1998) inicia suas investigações com a
como também surpreende o leitor pelo seu estilo destruição fenomenológica da história da ontologia
totalmente diverso dos demais. Sócrates iniciou sua para que, dessa forma, o que se havia velado pudesse
apresentação sem afirmar nada; ele estranhou, per- se desvelar. Em Ser e tempo, a investigação do sen-
guntou, inquiriu, e, por fim, questionou as verda- tido do ser já se apresenta desse modo com relação à
des que haviam sido anteriormente defendidas. Só- noção de sujeito, como mostraremos a seguir.
crates, de modo sutil e perspicaz, trouxe questões Para falar de metà-hodós tal como apropriado
que desconstruíam as verdades estabelecidas nos por Heidegger em suas obras e, portanto, do modo
discursos anteriores e, assim, pôs por terra tudo o como ele compreende a questão do método, temos
que havia sido estabelecido como verdades últimas que atentar ao fato de que em Ser e tempo (Heide-
a respeito de Eros. E, ainda, afirmou que tudo aqui- gger, 1927/1998) ele se apropria da fenomenologia
lo que havia questionado, bem como o modo como por meio da destruição fenomenológica da ideia de
o fizera, fora aprendido com uma mulher, Diotima, subjetividade. E assim, inicia retomando os funda-
que segundo ele, era uma sábia nos assuntos do mentos da metafísica, em sua analítica existencial.
amor. Assim, Sócrates diz que aprendeu o método Ele aplica o método fenomenológico, fundado em
de questionar por meio da experiência e, portanto, um modelo binário: velamento e desvelamento –
junto ao tema a ser questionado. Ou seja, o tema a em que, ao pensar meditativamente o ser que se en-
ser questionado caminhava junto ao próprio ques- contra velado, conduzimos o pensamento no senti-
tionar, tratava-se do metà-hodós. do do desvelamento do ser. Stein (1983) esclarece
Acompanhando os passos dos pensadores gre- que o modelo binário em Heidegger ocorre pelo fato
gos na conquista de um método, seguiremos toman- dele não lançar mão da dialética, uma vez que esta
do o método como um lugar no qual o caminho da se traduz em um modelo triádico. E, por fim, o fi-
investigação copertence ao tema investigado por lósofo caracteriza o método fenomenológico como
aquele que persegue o tema. Pretendemos conquis- especulativo e totalizador, cujo encaminhamento se
tar, assim, o espaço que denominamos mais originá- dá pela questão do sentido do ser.
rio – ou seja, anterior a qualquer compreensão teóri- Heidegger (1927/1988) nos mostra, da mesma
ca – no qual a existência se dá. Para falar de método forma que Sócrates mostrou aos participantes do
como um caminho possível para as investigações banquete, que antes de proferirmos verdades como
em Psicologia, iremos acompanhar os passos segui- se fossem irredutíveis, é preciso questioná-las. Tan-
dos por Heidegger, que empreende essa mesma ta- to em Heidegger como em Sócrates podemos cons-
refa ao proceder em seu exercício do pensamento tatar que aquele que, eloquentemente – seja pela
acerca da temática existência em sua facticidade. estratégia da oratória ou a loquacidade da ciência
Mas, ao afirmar que seguiremos os passos da filo- – postula verdades, não pensa. Sócrates procedeu
sofia, não poderíamos recair nas sérias críticas que junto aos seus ouvintes pela maiêutica, a fim de
se dirigem à impossibilidade de realizar tal trans- destruir, ironicamente, as verdades que haviam
posição? Para responder à questão proposta, vamos sido postuladas pelos eloquentes oradores. Hei-
acompanhar o que nos diz Stein (1983) acerca da degger segue o mesmo caminho de destruição das
relação da filosofia com as ciências humanas. verdades, tal como postas pela história da ontolo-
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Para Stein (1983), as investigações filosóficas gia, por meio da fenomenologia. A fenomenologia,
se desenvolvem, atualmente, em três direções ine- para o filósofo alemão, é a proposta de um cami-
rentes à filosofia e estas direções permitem com- nho de questionamento do pensamento. Trata-se de
preender a relação da filosofia com as ciências um pensar que deixa aparecer o velado justamente
humanas, no tocante ao método: a) a analítica da quando se retira. A fenomenologia como método de
linguagem em suas múltiplas variantes; b) a escola pensamento opera com o binômio velamento-des-
da teoria crítica e as diversas tendências que visam velamento. Sobre isso afirma Stein (1983): “O ser
dar uma solução dialética ao problema da relação é fenômeno, no sentido fenomenológico, mostra-se,
entre teoria e praxis; c) a hermenêutica filosófica portanto, ocultando-se” (p.24).
que procura mostrar como a compreensão não é, Em Ser e tempo, Heidegger (1927/1998) analisa
primeiramente, um elemento metódico, mas uma a etimologia do termo fenomenologia, para assim
forma de exercício da vida social, vida que, em úl- podermos nos situar naquilo que o fez apropriar-se
tima análise, não é uma comunidade de linguagem. da fenomenologia como caminho de esclarecimen-
Com base nas considerações de Stein, que to. Fenomenologia deriva do grego phainomenon
apontam para a possibilidade da transposição dos e, também, refere-se ao verbo phanestai. Trata-se,
métodos da Filosofia para a Psicologia, continue- portanto, simultaneamente, de um discurso no qual
mos a acompanhar o metà-hodós com que Heideg- algo se revela como tal e de um mostrar das coisas.
ger (1920-1921/2010;1921-1922/2011;1927/1998) Assim, passamos a entender que fenômeno é tudo o
desenvolve seus temas. Primeiramente, podemos que se dá a conhecer, e que é o nosso interesse pelo
-
constatar que, nele, método e objeto são analisados que se mostra que nos conduz à interrogação do fe-
em uma unidade totalizadora. Assim, em suas aná- nômeno. O filósofo da Floresta Negra deixa claro
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lises da história da filosofia, por exemplo, Heidegger que a fenomenologia de Husserl o atraiu pela sua
procura questionar os textos da tradição de modo máxima “às coisas elas mesmas”, que ele esclarece
que o impensado possa se desvelar, já que o tema de seguinte forma:
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Metà-Hodós: da Fenomenologia Hermenêutica À Psicologia
A palavra fenomenologia exprime uma máxima o que acontece que nós – homens da ciência – ao
que se pode formular na expressão as coisas em pensarmos, esquecemo-nos da possibilidade de
si mesmas! – por oposição às construções sol- caminhar de modo a apreender o sentido daquilo
tas no ar, às descobertas acidentais, à admissão que se mostra como fenômeno? Nosso argumento
de conceitos só aparentemente verificados, por a respeito do esquecimento de nossa possibilidade
oposição às pseudo-questões que se apresen- de compreender se dá na direção do obscurecimen-
tam muitas vezes como problemas ao longo de to do pensamento meditativo, que se acentua pelo
muitas gerações (Heidegger, 1998, p.57). projeto de controle inaugurado na modernidade. O
domínio do pensamento que antecipa e calcula fez
Heidegger (1998) diz ainda sobre a fenomeno- com que, cada vez mais, os estudiosos de diferentes
logia que: “A expressão fenomenologia diz, antes áreas do saber se preocupassem com o método e a
de tudo, um conceito de método. Não caracteriza consequente metodologia. Sabemos que os mode-
a quididade dos objetos de investigação filosófica, los da ciência moderna descrevem a natureza como
mas o seu modo, como eles o são” (p.57). No entan- algo que guarda em seu interior uma verdade, que
to, Heidegger não se detém nessa máxima da feno- pode ser alcançada desde que utilizemos o método
menologia; ainda, em Ser e tempo ele aponta para correto e seguro. Assim, desvelaremos todos os seus
a ideia de que o ser-em sempre já compreende. E segredos e mistérios, podendo nos tornar seus amos
toda a compreensão apresenta, previamente, uma e senhores. A ciência desenvolve seus métodos e
visão, uma posição e uma compreensão. Encontra- metodologias de modo a poder conquistar e domi-
mos, nessa expressão, a circularidade hermenêuti- nar todas as intempéries. Passamos, então, a encon-
ca. Todo e qualquer modo de lida com as coisas que trar concepções diferentes de método, que surgem
nos vêm ao encontro já está previamente estabele- com o projeto presente no interior da filosofia da
cido pelo horizonte histórico de determinação de subjetividade.
sentidos e significações.
Ao tomarmos a fenomenologia e a hermenêu-
tica como um caminho possível de investigação das As Diferentes Perspectivas de Método
temáticas em Psicologia, nós consideramos que a
atitude fenomenológica nos permite ir ao fenômeno Nos gregos antigos, tal como mostramos ante-
tal como ele se mostra, e que o elemento herme- riormente em O Banquete de Platão (2015), a ver-
nêutico em si mesmo é a condição do Dasein que dade era tratada como algo que se encontrava na
já sempre se compreende em seu ser. Com isso, ordem do discurso. E este, por sua vez, era facil-
afirmamos o metà-hodós, também, como o cami- mente destituído da verdade que se estabelecera,
nho mais original que em si mesmo já comporta um como nos mostrou o discurso de Sócrates. Na Idade
modo de fazer, investigar, enfim conquistar o sen- Média, a verdade passa a ser ditada por dogmas, tal
tido daquilo que, ao mesmo tempo que se mostra, como podemos acompanhar em Santo Agostinho
se retrai. (2011) ao se referir à vontade, afirmando: a vontade
Em Psicologia, uma perspectiva hermenêutica não deseja nada necessariamente, reside na razão,
para a investigação de um fenômeno pode ser reali- pela qual somos senhores de nossa vontade. Em
zada quando se procura o modo de articulação exis- São Tomás de Aquino (2002) a postura dogmática
tencial, que se constitui em meio ao espírito de sua aparece quando ele se refere, por exemplo, à natu-
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época. Por esse motivo é que podemos caminhar de reza da alma e de suas operações: a alma dá vida
modo a saber como cada época, em sua estrutura ao corpo; produz conhecimento sensível, domina
geral, toma o sentido do fenômeno que pretende- o concreto pela inteligência divina, domina toda a
mos investigar. sua vida pela liberdade. Com a falência da verdade
Com os esclarecimentos acima, poderemos instaurada pela dogmática, aquele que posiciona a
estudar o tema de modo a não tomar a perspecti- verdade deixa de ser de natureza divina, abrindo-se
va moderna como a única e definitiva verdade. E, o caminho da metafísica da subjetividade, na qual
assim, poder investigar de modo a alcançar aquilo o método passa a ser tomado como um modo de se
que está em jogo, deixando que o fenômeno apare- alcançar uma determinação essencial da verdade,
ça em seu caráter fenomenal. Uma atitude feno- fundamentalmente e exclusivamente conquistada
menológica, ante as experiências concretas do fe- pela razão do homem. Ainda sob o prisma da meta-
nômeno que se pretende investigar, diz respeito a física da subjetividade, surge o método dialético-es-
poder acompanhar a experiência e, assim, ver o que peculativo, idealizado por Hegel com a finalidade
ela tem a nos dizer. Ao acompanhar fenomenolo- de alcançar o espírito absoluto por meio da análise
gicamente o sentido que se encontra no âmbito de da história da humanidade.
uma determinada experiência, precisamos, em um O método científico foi inaugurado pela filoso-
primeiro momento, recuar ante as interpretações da fia moderna, sob a idealização de Descartes. O mé-
tradição, subtraindo a conotação moralizante do fe- todo cartesiano é entendido em suas diferentes eta-
nômeno em questão. E, assim, acompanhar os veto- pas por preceitos lógicos e regras; diz Feijoo (2003)
-
res internos mobilizadores da experiência, de modo que as regras são: da evidência, da análise, da sín-
que a dinâmica e a estrutura do próprio fenômeno tese e da classificação exaustiva. A verdade apenas
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natureza possam ser alcançadas; efetua-se a síntese tido mais originário, tal como os gregos antigos fa-
dessas partes para, por fim, alcançar a ordenação do ziam, ou seja, pela aletheia.
pensamento. Pela exaustão, mantém-se a crença de
que toda a natureza estará sob controle. Como nos
diz Stein (1983), trata-se de uma sucessão ordenada O Método Fenomenológico Hermenêutico nas
de diversos passos da reflexão: demonstração, ex- Investigações heideggerianas
posição e sistematização de conhecimentos. O mé-
todo foi compreendido pela modernidade por meio O método, em suas diferentes modulações, é
da equação sujeito-objeto, na qual o sujeito é que uma questão que pode ser encontrada em variados
posiciona o objeto e assim, por meio do pensamento estudos desenvolvidos por Heidegger. Sobre o modo
racional – isto é, da representação, já que pensar é como ele procede ao desenvolver o tema da fenome-
representar –, o sujeito conquista o real verdadeira- nologia da vida religiosa, conta-se que o filósofo ha-
mente. Segundo Fogel (1998), “O real, a ‘coisa’, se via sido convidado pela Universidade de Freiburg a
determina como objeto, ou seja, como o que é posto proferir aulas de Religião. Durante três a quatro me-
em contraposição ao sujeito” (p. 2). ses, no entanto, Heidegger só havia falado em her-
O método tal como sistematizado por Descar- menêutica e os alunos queixaram-se pelo fato de que
tes vai se tornar fundamentalmente importante para no curso não estava sendo discutida a temática pro-
a metodologia própria das ciências modernas. A fí- posta. Por isso Heidegger, na primeira parte de suas
sica moderna se insere nesse projeto na busca pela aulas, faz considerações metodológicas e na segun-
fórmula do mundo. Por meio da física “O ser do ente da parte apresenta questões religiosas por meio da
se dissolveu no método da total calculabilidade” hermenêutica da vida fática da experiência religio-
(Stein, 1983, p.18). E, desse modo, o método torna- sa. Em Fenomenologia da vida religiosa, Heidegger
-se submerso na calculabilidade. O método, como (1920-21/2010) esclarece o modo como ele investiga
caminho metodologicamente estruturado com fins hermeneuticamente a fé do apóstolo Paulo. Para ini-
de antecipação e correção, passa a ser apropriado ciar esse estudo, Heidegger começa mostrando o que
pelas diferentes disciplinas científicas com fins de ele entende por introdução e vida fática.
investigação e pesquisa. O método toma formas es- Heidegger (2010) diz que introduzir uma ques-
pecíficas, dependendo das ciências que o utiliza – e tão não quer dizer que estamos mostrando o meio
todas as disciplinas passam a querer conquistar o para chegar a um fim. Para descrever uma experiên-
ideal de antecipação, certeza e controle com fins de cia existencial não é necessário nenhum instrumen-
transformação da realidade. to mediador – assim, introduzir um estudo dirigido
Na modernidade, inauguram-se novos cami- à vida religiosa, como ele fez no curso sobre Reli-
nhos e a metafísica esmera-se no sentido de alcançar gião, quer dizer se abrir para o lugar onde já se está,
a determinação essencial da verdade. O verdadeiro ou seja, para a vida fática, onde o que se quer inves-
passa a ser apenas o seguro, o certo, o representado. tigar já sempre se encontra. Para Heidegger, tanto
E para que a verdade, a segurança e a certeza sejam a filosofia quanto a ciência surgem da vida fática.
alcançadas é decisivo que o sujeito esteja certo e Heidegger (2010), então, na investigação da vida fá-
seguro de si mesmo. O método próprio da filosofia tica de Paulo, coloca em questão a experiência da
e da metafísica encontra-se na essência da subjeti- fé. Ele afirma que para alcançar essa experiência é
vidade e, portanto, centrado no sujeito, passando imprescindível que aquele que investiga se coloque
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a ser o procedimento desse sujeito que assegura e no horizonte onde o fenômeno mesmo – no caso a
conquista o ente como objeto para o sujeito. fé – acontece, sem que haja nenhuma mediação, ou
Em conclusão, podemos observar que a ques- seja, sem que se diga de antemão o que é a fé.
tão do método ganha contornos totalmente distin- O filósofo (Heidegger, 2010), dando continui-
tos nos diferentes horizontes epocais. Nos gregos dade às suas aulas, mostrando o modo como pro-
antigos, método como metà-hodós dizia respeito a cedia em sua investigação acerca da fé de Paulo,
um modo de fazer sem nenhum distanciamento en- toma as cartas de Paulo aos tessalonicenses. Inicia
tre a atitude teórica e a prática. O modo de fazer e a esclarecer o seu método com a seguinte questão:
o próprio fazer constituíam-se em uma unidade in- Como se realiza a explicação fenomenológica em
dissociável. Nos medievais, o método predominan- seu material? ‘Material’ diz respeito àquilo que pos-
te era a dogmática, que propunha relações deduti- sui um sentido metodológico determinado. A expli-
vas que posicionavam a verdade sobre tudo o que cação do fenômeno a partir do material se realiza
havia na Terra. Na idade moderna, passa a predo- em níveis também determinados. Dado que o pro-
minar a imposição do sujeito, que pelo pensamen- blema fundamental da investigação da fé realizada
to se torna capaz de representar toda a realidade. por Heidegger se encontra na experiência fática,
Cabe ressaltar que tanto o método cartesiano como cabe esclarecer o que ele entende por facticidade.
o especulativo-dialético de Hegel se encontram na Facticidade se refere ao nosso existir em uma situa-
tradição das filosofias da subjetividade. Para Hei- ção determinada. Como a estruturação do espaço
degger (citado por Stein, 1983) é com Hegel que a existencial é temporal, o modo como cada homem
-
filosofia conquista a plenitude do método e, com existe é temporal, isto porque envolve sempre a
isso, também a plenitude do velamento da questão ideia de projeto do campo existencial. O professor
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do ser e o consequente esquecimento da diferença conclui que, a partir de um diálogo com os limi-
ontológica. É por esse motivo que Heidegger quer tes fáticos presentes na temporalidade daquilo que
retomar o modo de tematizar o fenômeno no sen- queremos investigar, poderemos nos comportar no
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presente com esses entes que, mesmo ocorridos no diz ele que, nesse momento, passamos a escrever a
passado, vêm ao nosso encontro. Esclarecido esse epístola com Paulo. Realizamos com ele mesmo a
ponto, Heidegger passa para o seu segundo esclare- escrita, ou seja, nós a ditamos. De que modo faze-
cimento, a seguir. mos isso? Por meio das respostas às seguintes ques-
Já que a vida fática é historicamente constituí- tões: Qual a situação na qual se encontra Paulo ao
da, então o primeiro que se deve determinar pré- escrever a Epístola aos Tessalonicenses? Como ele
-fenomenologicamente é o histórico-objetivamente a experienciava? Como lhe é dado o mundo com-
dado, ou seja, o como da situação histórica, a sua partilhado na situação da escrita da epístola? Isso
conexão fenomenal, sempre já partindo dos moti- está vinculado à questão de como Paulo se encontra
vos fenomenologicamente dados. Diz Heidegger neste mundo compartilhado. “O conteúdo do mun-
(2010): “O histórico-objetivo que se ressalta deve do compartilhado deve ser visto em sua determina-
ser considerado, obtendo assim uma tonalidade bilidade, no contexto junto ao como da referência
própria e, desse modo, deve ser fixada” (p.76). É a com este mundo compartilhado. Portanto, trata-se
vida fática que traz a noção de história – logo, em de expor a determinação fundamental dessa refe-
uma perspectiva fenomenológica cabe descrever a rência” (p. 78).
vida fática na qual nós sempre nos encontramos. Sobre as dificuldades metodológicas a que
Nesse aspecto, Heidegger (2010) esclarece que “fe- Heidegger (2010) se referiu anteriormente, no en-
nomenologia é filosofia e vice-versa” (p.10). caminhamento de seu método de investigação da
Heidegger (1920-21/2010) continua a esclare- escrita de Paulo, ele diz que com elas esbarramos
cer que para investigar fenomenologicamente faz-se quando da virada do complexo histórico-objetivo
necessário uma concretização existencial, que não para a situação histórico-originária. São elas: a lin-
pode se dar por meio de um encadeamento lógico. guagem, a empatia e a transposição.
Assim, ele nos mostra como procedeu em sua in- A exposição mediante a linguagem é uma difi-
vestigação abstendo-se de tal encadeamento. Nas culdade, já que a linguagem da consideração temá-
Epístolas Paulinas, Heidegger procede à explicita- tica não é a linguagem originária. E a terminologia
ção fenomenológica da primeira Epístola aos Tessa- conceitual mais originária na experiência fática da
lonicenses. Esse é o material que possui um sentido vida de Paulo não é aquela com a qual estamos acos-
metodológico determinado. A explicação fenome- tumados. E, além disso, da terminologia originária
nológica desse fenômeno se dará, primeiramente, é que deriva a terminologia conceitual temática.
tendo em conta aquilo a que Heidegger (2010) se Essa derivação traz problemas. Por esses motivos,
refere no parágrafo 23, “As dificuldades metodoló- a virada radical na terminologia conceitual para a
gicas: Qual é a situação histórica objetiva de Paulo originária é imprescindível. Porém, temos que ter
ao escrever esta epístola?” (p.78). A situação é de- em mente a impossibilidade de alcançar a termino-
terminada da seguinte forma: a epístola foi escrita logia originária em sua totalidade. Conclui Heideg-
em Corinto durante sua primeira viagem missio- ger (2010): “toda e qualquer coisa explicada não é
nária, que o levou primeiramente a Filipos e dali, compreensível enquanto seu complexo de sentido
após três semanas, para Tessalônica. A oposição dos anunciado não tiver sido realizado” (p.76).
judeus aos cristãos obrigou Paulo a abandonar a ci- A empatia (Einfühlung) está presente na situa-
dade às escondidas, partindo para Atenas, de onde ção, já que: “A empatia dá-se na experiência fática
Paulo mandou Timóteo retornar a Tessalônica. Pau- da vida – fenômeno histórico originário que não se
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lo volta a se encontrar com Timóteo em Corinto. pode resolver sem o fenômeno da tradição em sen-
Paulo escreve a epístola imediatamente após sua tido originário –, o mundo circundante ganha assim
chegada em Corinto. Diz Heidegger: “Se expuser- seu sentido a partir da compreensão da situação”
mos isso histórico-objetivamente, Paulo aparecerá (p.77). Com isso, Heidegger nos mostra que a empa-
como missionário, que fala como um pregador am- tia se dá na cadência do sentido que se apresenta na
bulante comum, sem maiores alardes” (p.78), por situação, portanto, ao investigar o fenômeno em ou-
isso, teremos que passar para o segundo momento. tro tempo, a empatia não pode se repetir. A empatia
Obtenção da realização da situação histórica não é algo que possamos produzir pela vontade, ela
do fenômeno – para obter a realização histórica do se dá em situação totalmente independente do que-
fenômeno, ou seja, o horizonte histórico de deter- rer empatizar. Acredita Heidegger que ao assumir
minação de sentidos em que a situação aparece em uma atitude fenomenológica abre-se o espaço da
sua pluralidade de tal modo que não nos é dado experiência mesma, no caso a experiência religiosa
interpretar nada sobre a complexidade do que se de Paulo. Nessa situação, Heidegger, para realizar
mostra – logo, o que nos cabe é ir ao encontro da sua investigação, prescindiu de qualquer presença
articulação da pluralidade e complexidade da si- efetiva, como também de qualquer transcendência
tuação para então descrevê-la. Para tanto, devemos, ao próprio fenômeno. Apenas pela atitude fenome-
primeiramente, alcançar ‘a situação a ser enfatiza- nológica podemos nos aproximar do pathos – afinal,
da’ da pluralidade; depois, mostrar o sentido pri- é o pathos que nos liga uns aos outros e que permite
meiro ou ‘arcôntico’ (dominante) da situação que se que nos compreendamos uns aos outros –, mas não
-
pretende expor; e, por fim, alcançar o fenômeno a podemos estar no mesmo pathos.
partir do complexo fenomenal e começar, a partir Por fim, a terceira dificuldade diz respeito à
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impossível, isto é, limitadamente possível transpor meio para chegar a um fim. E com isso a busca do
a situação exata de Paulo. Pois não conhecemos seu sentido das coisas fica totalmente obscurecida pelas
mundo circundante” (Heidegger, 2010, p.78-79). determinações tecnicistas – que no fundo são meras
Toda a significação tem um objeto e a concretiza- abstrações, cálculos, mensurações e antecipações.
ção é o sentido que afinal determina o objeto – a Heidegger (1954/2012b), ainda, refere-se à ex-
situação pioneira envolve muitos elementos, mas o periência essencial que aponta para a limitação das
que dá unidade, sentido a esses elementos? O ser ciências, que é a de não perceber o incontornável
da situação é o seu sentido de ser e é esse sentido como inacessível. É no incontornável que o ser é
que Heidegger está buscando. E esse sentido se abre pensado e dito. O objeto propriamente dito da filo-
pela experiência fenomenológica e não empírica. sofia por seu caráter de incontornabilidade torna-se
Pelo fato da experiência ser fenomenológica é que inacessível ao método das ciências. Em Ciência e
a transposição aponta como possibilidade de rea- pensamento de sentido, Heidegger (2012b) ainda
lização. esclarece que a existência na sua totalidade não se
Por meio da explicitação fenomenológica da pode alcançar por nenhuma norma que transcenda
situação histórico-objetiva e da situação histórica o próprio existir, ou seja, por um critério normativo
do fenômeno, bem como considerando as barreiras prescritivo, positivo e abstratamente posicionado.
encontradas na interpretação da situação de Paulo, Ele desenvolveu seu método de investigação dos
Heidegger – em sua descrição fenomenológica do fenômenos que se apresentam na ordem do incon-
ato de fé, por meio da experiência religiosa de Paulo tornável em sua analítica. Ele pretendia, em seu
– conclui que não se pode pensar a fé sem o elemen- metà-hodós, alcançar o modo de vigência do real,
to transformação. A fé exige uma transformação, a ou seja, o modo de viger, de desvelar das coisas.
partir dela mesma, em sua concretização. O caráter Heidegger (2012b) aponta para o caráter incontor-
religioso depende do ato intencional, no caso, o ato nável do objeto da psiquiatria, concluindo que essa
de fé, que abre a experiência religiosa de Paulo. E é área do saber jamais poderá alcançar o sentido do
essa experiência que pode ser descrita fenomenolo- fenômeno que investiga quando lhe impõe contor-
gicamente. nos, uma vez que a existência, quando retirada de
No entanto, não só em Fenomenologia da vida seu fluxo temporal, se retrai. Por analogia, concluí-
religiosa o filósofo se refere à questão do método. mos que o mesmo ocorre com a Psicologia. Tanto a
Heidegger (1921-22/2011), em uma preleção datada Psiquiatria quanto a Psicologia que se pautam nas
de 1921-1922 na Universidade de Friburgo, desen- ciências naturais tratam da vida mental do homem
volve a questão introdutória a respeito de uma de- em suas manifestações da doença – o que inclui
finição principal, ou seja, o indicativo formal para sempre a saúde –, que se apresentam pela e a par-
explicar as categorias do fenômeno fundamental da tir do que vige na integração corpo, alma, mente e
vida, na perspectiva da determinação da facticidade espírito, constitutivos de todo homem. Naquilo que
da vida. vige como fenômeno da Psiquiatria e Psicologia, o
Em 1927, no parágrafo 7, em uma exposição modo já vigente do homem ser apresenta-se e ex-
provisória, Heidegger (1927/1998) discute ligeira- põe-se a cada vez. Assim, partimos da tese de que
mente o método, explicitando que com fenomeno- a ek-sistencia permanece como o incontornável da
logia pretende denominar um método da filosofia Psiquiatria e da Psicologia – por esse motivo é que
científica em geral. Ainda no parágrafo 7 de Ser e precisamos retomar o metà-hodós na investigação
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s
tempo, ele esclarece como se apropria do método daquilo que nos interessa.
fenomenológico na sua investigação do ser do ente Por fim, concluímos que no desenrolar de suas
ou o sentido do ser em geral. Neste parágrafo, o fi- diferentes modalidades de caminhar junto às coi-
lósofo mostra de forma provisória o caminho que sas, o filósofo apropria-se, em um primeiro momen-
ele tomou para tentar superar o método próprio da to, da fenomenologia de Husserl para proceder às
filosofia moderna. As investigações das filosofias suas investigações. Com isso, podemos constatar
da subjetividade procediam de modo a promover a presença de três momentos constitutivos de sua
o velamento do ser, ou melhor, o esquecimento de análise: a redução fenomenológica, a descrição dos
seu sentido. Heidegger tinha como pretensão alcan- vetores internos ao fenômeno e a explicitação das
çar o fenômeno que ele queria investigar, inician- experiências, que para o filósofo são sempre his-
do pela superação do pensamento que toma como toricamente constituídas (Feijoo & Mattar, 2014).
referência a subjetividade. Nesse mesmo parágrafo, Heidegger apropria-se do modo fenomenológico de
Heidegger assume seu caminho pela fenomenologia investigação, ao mesmo tempo que considera que o
no sentido do desvelamento da história do ser, onde fenômeno se constitui circularmente em um deter-
a pergunta que impera na investigação do conteúdo minado horizonte histórico. Por considerar a feno-
da coisa não é o quê da coisa, mas o como. Heide- menologia e a hermenêutica conjuntamente, passa
gger (2003) refere-se ao método moderno de inves- a denominar seu método de fenomenologia-herme-
tigação, em Ser e tempo, da seguinte forma: “Uma nêutica.
simples técnica para a manipulação dos objetos” Nas suas obras posteriores, Heidegger quase
-
(p.51). Mais adiante, completa: “vazia descrição da não se refere mais à fenomenologia, inclusive pare-
técnica” (p.52). Com isso, Heidegger está se referin- ce que ele prescinde de qualquer discussão metodo-
A r t i g o s
do a técnica que fica reduzida a uma perspectiva lógica. No entanto, no interior do desenvolvimento
antropológica e instrumental, sob a lógica da fun- do seu pensamento, método, objeto e pensamento
cionalidade, ou seja, a ação do homem como um se apresentam de forma unitária, o que podemos
Phenomenological Studies - Revista da Abordagem Gestáltica - XXIV(3): 329-339, set-dez, 2018 334
Metà-Hodós: da Fenomenologia Hermenêutica À Psicologia
constatar em seu texto de 1954, denominado A do objeto da Psicologia, bem como da necessidade
questão da técnica – o filósofo chamará a atenção de uma teoria científica que sustentasse sua prática.
para duas determinações essenciais da constituição No Brasil, dentre os muitos textos a esse respeito,
de mundo moderno: a) Gestell, em que a natureza a publicação de Garcia-Roza (1977) ganhou noto-
se desabriga em um total obscurecimento da mo- riedade. Ele polemiza a pretensão da Psicologia na
rada do ser, ou seja, sua historicidade. O homem conquista de uma unidade como campo de saber
esquecido de seu elemento original corre o perigo científico e conclui seu pensamento defendendo a
de retrair o verdadeiro. Mas onde há esquecimento, manutenção da pluralidade desse campo de saber
há também a possibilidade da lembrança capaz de que se faz presente em seu fazer.
corresponder aos apelos daquilo que lhe é mais ori- De modo diverso, Rauter (1995) compartilha
ginal, Ereignis. b) Ereignis, que é o acontecimento da tese de Garcia-Roza (1977), defendendo que a
apropriativo que evoca o comum pertencimento de Psicologia, para resguardar o espaço paradoxal de
homem e ser, que acontecem e se apropriam mu- sua função, não deve ter pretensões de estabelecer
tuamente. Por isso é que Heidegger afirma que seu uma identidade fixa para essa área de saber. Coim-
caminho de investigação é o questionamento. E que bra (1995) coloca-se radicalmente contra o movi-
questionar aquilo em que estamos imersos é prepa- mento da Psicologia como área de especialização,
rar-se para uma relação mais livre com aquilo que bem como do psicólogo em seu fazer de especia-
se apresenta (Heidegger, 1954/2012 a). lista. Figueiredo (1995; 1996), diante da crise do
Ao acompanhar Heidegger (Stein, 1983), con- modelo epistemológico, questiona se a Psicologia
cluímos que para investigar um fenômeno, temos poderia, sem esse modelo, justificar-se teórica e me-
que ter em mente que não é possível promover uma todologicamente.
diferenciação entre caminho de pensamento (mé- Primeiramente, defendemos que para atuar
todo), o que se pretende pensar (tema) e o próprio no metà-hodós, teríamos que prescindir de um ob-
ato de pensar (pensamento). Cabe ressaltar que essa jeto posicionado e delimitado de estudo. Trata-se
tríade na investigação se constitui em uma unidade de um caminho de investigação condicionado por
indissociável, sem nenhuma mediação. E é tendo um conhecimento que requer prudência, no senti-
em mente essa tríade que iremos percorrer um ca- do de quanto mais experiência, maior a conquista
minho rigoroso de investigação das temáticas de in- desse caminhar. Não há uma medida definida nem
teresse em Psicologia. aquém, nem além desse modo de estar junto às coi-
sas. Tratar-se-ia de um saber específico que se con-
quista no próprio ato de caminhar? Para responder
A Transposição da Fenomenologia a tal questão, precisamos primeiramente esclarecer
Hermenêutica Para a Psicologia como aconteceu o emergir da subjetividade como
objeto da Psicologia, como faremos a seguir.
Para podermos defender a transposição do Os filósofos voltados para a filosofia da ciên-
método fenomenológico hermenêutico da Filosofia cia, como Immanuel Kant (1724-1804) e Auguste
para a Psicologia, primeiramente trataremos de re- Comte (1798-1857), já se referiam à impossibilida-
lembrar e refletir sobre a atmosfera de críticas e de de de constituição da Psicologia como disciplina
ceticismo que envolve as pesquisas e seus respecti- científica. Kant constrói uma epistemologia de base
vos métodos em Psicologia. transcendental, por isso não pergunta pelo objeto,
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s
Em 1956, quando a Psicologia já acreditava mas pela possibilidade de conhecimento do objeto.
que havia estabelecido sua área de saber e as di- Os argumentos de Kant (1781/2001) com relação à
ferentes vertentes haviam se estabelecido com seu insustentabilidade dessa área de saber como disci-
objeto posicionado e seu método, Georges Cangui- plina científica dirigiam-se ao fato de que o objeto
lhem pôs essa disciplina em questão, ao proferir temático dessa disciplina – a saber, a alma – pode-
uma conferência no Collège Philosophique, publi- ria ser postulado no âmbito prático, mas não pode-
cada em 1958 na Revue de Métaphysique et de Mo- ria, objetivamente, ser cognoscível. Desse modo, a
rale, referindo-se à indefinição dessa área de estudo alma não pode ser tomada como objeto científico.
e também pondo em dúvida a eficácia do psicólogo O conceito de alma que sustenta a psicologia racio-
(Canguilhem, 1999). Canguilhem (1958/1999) ava- nal e empírica não possui fenomenalidade. Logo,
lia que a Psicologia, por sua indefinição, mantém não pode ser acessado fenomenicamente, conclui
uma eficácia totalmente infundada: “De fato, de o filósofo, já que o objeto de estudo dessa área de
muitos trabalhos da Psicologia, se tem a impres- saber não é passível de alcance. Comte (1830/1991)
são de que misturam uma filosofia sem rigor, uma constrói uma epistemologia positiva, perguntando
ética sem exigência e uma medicina sem controle” pelo modo como se deve descrever as positividades
(p.104). Portanto, Canguilhem postula que para que do objeto empírico. Com a sua exigência da posi-
a Psicologia pudesse conquistar um espaço de reco- tividade inerente ao objeto de estudo, ele descarta
nhecimento, seria imprescindível que ela se consti- totalmente a possibilidade da construção de uma
tuísse com rigor, no entanto, superando um “certo teoria voltada para o estudo do psiquismo. Defen-
-
empirismo compositório, literalmente codificado dia o positivista que, se o objeto da psicologia tives-
para fins de ensino” (Japiassú, 1995, p.17). se sua base na fisiologia, essa área de estudo seria
A r t i g o s
A partir da problemática levantada por Can- desnecessária, uma vez que a biologia a ela já se
guilhem, proliferaram os posicionamentos contra e dedicava. Se o seu objeto fosse o social, essa área de
a favor da tentativa de posicionamento e definição estudo já estava sendo contemplada pela sociologia.
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Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo
Logo, considerando os argumentos de Kant e um caminho de reflexão que nos permita colocar os
Comte (ambos oriundos da epistemologia) desde a estudos e campo de práticas em psicologia fenome-
fundação das disciplinas científicas, a Psicologia nológico-existencial em um espaço também mais
não poderia se constituir como ciência, uma vez originário, ou seja, a existência.
que ou apresentava o problema do acesso por via É, justamente, o mais originário que a feno-
da dedução do seu objeto específico, ou não pos- menologia de Husserl (1910/2007b) vai privilegiar
suía um objeto para o qual dirigir empiricamente como um tema que merece ser pensado. E, ainda,
os seus estudos. O primeiro elabora uma epistemo- afirma o fenomenólogo que a Psicologia deveria se
logia transcendental, preocupado com a condição ater ao estudo da intencionalidade para, assim, re-
de possibilidade de conhecimento do objeto. O se- tirar toda e qualquer necessidade de se constituir
gundo constrói uma epistemologia positiva voltada como área de saber que estabeleça posicionalmente
para o dado empírico. Assim, de acordo com esses o seu objeto. Heidegger (1927/1998), com a radica-
dois filósofos, a Psicologia como área de saber fica- lização da intencionalidade até o espaço historica-
ria totalmente inviabilizada. mente constituído, é que vai apontar um caminho
Todas as tentativas de circunscrever a subjeti- para poder pensar um saber em Psicologia em que
vidade, seja no âmbito da Filosofia, seja no âmbito se torne totalmente desnecessário encontrar um ob-
da Psicologia, são alvo de críticas dirigidas a essa jeto posicionado, delimitado e substancializado.
forma de propor o problema. No século XIX, as fi- Acompanhando a fenomenologia e a ontologia
losofias da subjetividade entram em crise. A ques- fundamental em Husserl (1900/2007b) e Heidegger
tão passa a ser sobre como, uma vez estabelecida a (1927/1998), respectivamente, iniciaremos a trilhar
cisão sujeito e objeto, poderemos sair do âmbito de um caminho possível para propor um método em
uma interioridade – sujeito, para acessar, verdadei- Psicologia que prescinda totalmente de um objeto
ramente, o objeto que se encontra na exterioridade. posicionado. Cabe ressaltar que não pretendemos
Nesse percurso, pode acabar por acontecer uma fal- dispor dessas filosofias como uma aplicação direta
sificação do objeto. O mesmo equívoco com relação para a Psicologia. Se assim fosse, estaríamos apenas
ao acesso pode estabelecer-se, no caminho contrá- substituindo as bases teóricas. Pretendemos somen-
rio, com o objeto empiricamente dado para dar-se te seguir à margem (Campos, 2014) do caminho to-
a conhecer pelo sujeito. Com esse impasse, urge a mado por essas filosofias, para nos apropriarmos de
necessidade de discernimento do que ocorre com modo autônomo de uma Psicologia que busca suas
relação ao acesso. bases no ato mesmo de existir. Trata-se, portanto,
A tentativa de constituir um objeto posiciona- de seguir os passos argumentativos dessas filosofias
do e limitado é justamente o que coloca sob suspeita para conquistarmos nossos objetivos.
(Mattar, 2011) as psicologias. Husserl (1936/1989) O que estamos tentando defender como outra
nos chama a atenção para a necessidade de ir além possibilidade de investigação em Psicologia ainda
da dicotomia sujeito e objeto, pelo fato de que foi não se esgota com Husserl em sua proposta de fe-
essa cisão o motivo pelo qual a crise da filosofia da nomenologia, que ele mesmo denominou de psi-
subjetividade se instaurou. Seguindo em paralelo cologia fenomenológica. A nossa proposta não só
à trilha do caminho percorrido por Husserl para a suspende as verdades estabelecidas pelas teorias
superação da crise dos universais, é que defende- em Psicologia, que partem de visadas que pressu-
mos que a Psicologia precisa discernir que o que ela põem uma natureza humana, tomada como objeto
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s
vem instituindo como objeto não tem objetualidade assentado em uma substancialidade, como também
nenhuma. Por esse motivo, pensar em uma psico- considera que a não substancialidade torna possí-
logia no caminho da fenomenologia consiste, num vel uma reconfiguração historicamente constituída.
primeiro momento, em colocar em questão os dis- Os campos intencionais aparecem não só tempo-
cursos da Psicologia com relação aos seus objetos. ralmente, mas também como espaços hermeneuti-
Considerando que a exigência de posicionamen- camente condicionados. Para tomar o caminho no
to do objeto é o que coloca em crise os discursos sentido hermenêutico, seguiremos, na constituição
teóricos, bem como as práticas da Psicologia, pre- de nossa psicologia, a trilha para a qual Heidegger
cisamos abandonar a necessidade ilusória de ope- (1929/2006) nos acena em sua fenomenologia her-
rar com objetos posicionados e substancializados. menêutica.
Só assim poderemos pensar em meio aos campos Para investigar um fenômeno no caminho do
intencionais, logo, sem determinação atemporal e metà-hodós, temos que considerar os campos in-
sem substancialidade espacialmente definida. tencionais historicamente constituídos, podendo,
Como vimos, a questão da exigência da deter- dessa forma, subtrair totalmente a necessidade de
minação do objeto pelo sujeito, para que uma espe- operarmos com um objeto próprio à Psicologia - ou
cífica área de estudo seja considerada científica, é melhor - tomar seu objeto como totalmente desti-
motivo de debate entre os estudiosos da Filosofia tuído de realidade, aquilo que aparece no campo
e da Psicologia. Após ter acompanhado em parte hermenêutico: a existência. Consideramos que é
esse debate, iremos – junto a uma certa filosofia preciso, para articular uma proposta em Psicologia
-
que pretende encontrar algo da ordem do mais ori- nessas bases, descrever as concreções existenciais
ginário do que a relação sujeito e objeto – buscar condicionadas pelos envios historiais. Neste sen-
A r t i g o s
a originalidade a partir da qual aparece aquilo que tido, a Psicologia que queremos pensar não parte
denominamos psiquismo. Assim, acompanhando de objetividades categoriais, mas sim, como propõe
ao largo esses argumentos, pretendemos encontrar Heidegger (1920-1921/2010), de indicativos formais:
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Metà-Hodós: da Fenomenologia Hermenêutica À Psicologia
“Na metodologia chamamos de indício formal (For- Ciências Humanas, em geral, têm pensado o
male Anzeige) o emprego de um sentido que guia fenômeno que pretendemos investigar. Para
a explicação fenomenológica. Aquilo que o sentido tanto, realizamos uma consulta às bases de
formalmente indicado traz constitui o horizonte no dados e bibliotecas virtuais, tais como Google
qual os fenômenos que se pretende distinguir serão Scholar, Lilacs, Scielo, Mendeley, utilizando
vistos” (p.52). Isso, no entanto, sem emitir opiniões, as palavras-chave de nosso interesse. Locali-
nem nada que traga pressuposições ou preconceitos zamos os artigos publicados sobre o tema, in-
acerca daquilo que se pretende analisar. dicando um intervalo de tempo em que dis-
Seguir os indicativos formais quer dizer partir cutiam, ainda que de forma indireta, a mesma
de indícios, forma, que só ganham materialidade na problemática de nossa investigação. E, tam-
existência ou na história. O acontecimento-apropria- bém, por meio da pesquisa bibliográfica elege-
tivo constitui a identidade-forma que vai conquis- mos as fontes primárias que iremos utilizar na
tar a diferença com a materialidade historicamente investigação em questão.
constituída, para assim preencher o sentido, que será
sempre epocal, ou seja, conquistado na existência. 2 - Investigação hermenêutica: em uma perspecti-
Para pensar o mundo que é o nosso, ao qual Heideg- va fenomenológica e hermenêutica, considera-
ger denomina Era da técnica, entendemos que é por mos que o modo de ser dos homens se consti-
meio da materialidade, ou seja, das determinações tui em meio ao espírito de sua época. Por esse
desse mundo, que acontece a cadência daquilo que motivo é que precisamos saber como cada épo-
conduz nosso modo de ser. Logo, são as determina- ca tomou o fenômeno que pretendemos inves-
ções da técnica, tais como: efetivação, funcionali- tigar, para podermos compreender aquilo que
dade, correção, que preenchem existencialmente o estava em jogo nessa decisão. Com esse escla-
acontecimento-apropriativo que é o nosso. recimento, poderemos estudar o tema de modo
Em síntese, indo ao encontro do que nos diz a não tomar a perspectiva moderna que afirma
Stein (1983), concluímos que o método fenomenoló- veemente uma única e definitiva verdade. E,
gico se situa nos antípodas da subjetividade. Junto à assim, poder abrir um espaço de investigação
fenomenologia e à hermenêutica é que encontramos para alcançar o que está em jogo naquilo que
outro caminho de investigação de nossas temáticas investigamos, podendo o fenômeno aparecer
em Psicologia Existencial. Partimos da consideração em seu caráter fenomenal.
inicial de que o hermenêutico em si mesmo é a con-
dição do Dasein, que já sempre se compreende em 3 - Acompanhamento fenomenológico da expe-
seu ser. Por isso, sempre já estamos em uma com- riência concreta do que se quer investigar:
preensão daquilo que nos vem ao encontro. para podermos acompanhar o fenômeno que
Para investigar um tema em Psicologia, cada nos interessa, procedemos à nossa investiga-
vez mais nos é exigida uma metodologia, totalmen- ção acompanhando a experiência, para deixar
te definida em seus limites e em sua efetividade. que ela, a própria experiência, fale o que tem
Podemos, para alcançar a tal objetividade, proceder a nos dizer. Ao acompanhar fenomenologica-
ao planejamento de nossas investigações por meio mente o sentido que se encontra no âmbito do
de três procedimentos que não contradizem em ab- fenômeno, precisamos, em um primeiro mo-
soluto a ideia de objetividade e rigor. Para alcan- mento, recuar diante das interpretações cor-
E s t u d o s Te ó r i c o s o u H i s t ó r i c o s
çarmos os nossos objetivos, utilizaremos o método rentes sobre o tema, subtraindo as diferentes
fenomenológico-hermenêutico, tal como utilizado conotações que circunscrevem o fenômeno.
por Heidegger, ou seja, reconstruindo, destruindo Após essa postura metodológica, precisamos
fenomenologicamente as verdades estabelecidas e acompanhar os vetores internos mobilizadores
construindo outras possibilidades de pensar o fe- do movimento do fenômeno – para, afinal, al-
nômeno em questão. Para tanto, teremos que pri- cançarmos a dinâmica e a estrutura do próprio
meiramente suspender toda e qualquer perspectiva fenômeno.
em Psicologia que tome para seus estudos um obje-
to definido em suas propriedades e limitado espa- 4 - Por fim, para a obtenção da realização da situa-
cialmente. Após tal procedimento, deixaremos que ção histórica do fenômeno, tal como fez Heide-
aquilo que constitui o tema de estudo em Psicologia gger (1920-21/2010) em Fenomenologia da vida
apareça em seu campo de aparição e nos mostre o religiosa, temos que caracterizar a pluralidade
caminho que conduz ao sentido do fenômeno. do que se encontra na situação, de tal modo
Para finalizar, mostraremos a seguir um modo que não se interprete nada sobre seu complexo
de pesquisar que segue as determinações fenomeno- próprio. Com isso, podemos alcançar a articu-
lógicas e hermenêuticas por meio de procedimentos lação da pluralidade situacional. Retornamos
metodológicos dos quais podemos nos apropriar à vida fática, ou seja, ao elemento pelo qual o
para proceder às investigações em Psicologia: fenômeno se manifesta em diferentes momen-
tos históricos, assim como se apresenta na voz
-
1 - Revisão narrativa da literatura: com base em daqueles que experienciam a situação feno-
uma revisão narrativa da literatura, procede- menal. Dessa forma, as vozes historicamente
A r t i g o s
mos a uma localização, análise, síntese e in- constituídas apresentam-se como condição de
terpretação das investigações críticas sobre o possibilidade para que os discursos plurais e
modo como a Psicologia, em específico, e as singulares acerca do ato possam aparecer.
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Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo
possível e mais originário de investigar os fenôme- canti, Trad.). Petropólis, Vozes. (Original publi-
nos existenciais. Isso porque consideramos que a cado em 1927)
existência se apresenta sempre em sua incontorna-
bilidade. E, ao querer aprisionar qualquer elemento Heidegger, M. (2006). Os conceitos fundamentais da metafí-
existencial dando-lhe contornos ou retirando-o do sica: mundo, finitude e solidão. Rio de Janeiro: Forense
seu caráter temporal, aquilo que se mostra imedia- Universitária. (Original publicado em 1929)
tamente retrai-se.
Pelos motivos elencados acima é que conti- Heidegger, M. (2010). Fenomenologia da vida religiosa.
nuamos a insistir em propor o metà-hodós como Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Uni-
nosso caminho de investigação. Sabemos que ao versitária São Francisco (Original publicado em
1920-1921).
investigar desse modo corremos o risco de sermos
banidos da academia e de qualquer possibilidade Heidegger, M. (2011). Interpretações fenomenológicas
de conquistar o status de cientista. Por outro lado, sobre Aristóteles: introdução à pesquisa fenome-
se agimos cegamente, do modo como propõem as nológica. Petrópolis: Vozes (Original publicado em
ciências naturais, além de perdermos a oportuni- 1921-1922).
dade de resistir ao imposto, abrindo espaço para
outras possibilidades de pensamento, estaremos Heidegger, M. (2012a). A questão da técnica. Ensaios e
totalmente divorciados daquilo que é o nosso in- conferências (p. 11-38). Petrópolis: Vozes e Bragan-
teresse, ou seja, a existência em seu mistério e in- ça Paulista: Editora Universitária. (Original publi-
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Metà-Hodós: da Fenomenologia Hermenêutica À Psicologia
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Fenomenologia e Estudos em psicologia Existencial
(LAFEPE). Vice-diretorado Instituto de Psicologia. É
bolsista produtividade- PQ2/CNPQ e Procientista da UERJ.
Participa do GT Psicologia & Fenomenologia da ANPEPP
(Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
psicologia). Sócia fundadora do Instituto de Psicologia
Fenomenológico-Existencial do Rio de Janeiro (IFEN),
Presidente da Asociación Latino-americana de Psicoterapia
Existencial (ALPE). Endereço Institucional: Rua São
Francisco Xavier - 524 - Maracanã - Rio de Janeiro, CEP
20550-013. Email: [email protected]
Recebido em 23.11.2016
Primeira Decisão Editorial em 22.03.017
Aceito em 02.08.2017
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