Ofiólitos

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Capítulo 3 – SÍNTESE SOBRE COMPLEXOS OFIOLÍTICOS:

CONCEITOS E EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOLÓGICO

Ofiolitos, e as discussões sobre suas origens e significado na história da


Terra, têm sido fundamentais na formulação e estabelecimento de hipóteses
e teorias no ramo das ciências naturais. Este assunto se mostra dinâmico
desde a sua introdução na literatura geológica...
(Yildirim Dilek)
Dilek)

3.1 – Definição e sumário da evolução dos conceitos

Ofiolitos são fragmentos de crosta oceânica e manto formados em centros de espalhamento e


preservados no continente (Moores 2003).

O termo ofiolito (do grego: ophios = serpente, e lithos = rocha ou pedra) foi utilizado pela
primeira vez em 1813, pelo mineralogista francês Alexandre Brongniart, em referência aos
serpentinitos de mélanges. O termo foi redefinido em 1821 e passou a designar uma suíte
magmática, composta por rochas ultramáficas, gabro, diabásio e rochas vulcânicas, descritas na
região dos Apeninos (Dilek 2003a). Estudos iniciais, desenvolvidos previamente aos conceitos de
Tectônica de Placas, correlacionavam os complexos ofiolíticos a intrusões in situ dentro de
geossinclinais (e.g. Benson 1926; Steinmann 1905, 1927). A síntese de Steinmann (1927), por
exemplo, destacou a ocorrência, nas cadeias montanhosas do Mediterrâneo, de peridotito
(serpentinito), gabro e diabásio/espilito em associação com rochas sedimentares de fundo oceânico
(e.g. chert, argilito e calcário), interpretando a seqüência como derivada de processos ígneos co-
sanguíneos – ou produto de diferenciação magmática – durante a evolução de eugeossinclinais. Esta
interpretação levou à formulação do conceito amplamente divulgado e denominado “Trindade de
Steinmann”, referente a uma seqüência composta por serpentinito – diabásio/espilito – chert. O
geólogo australiano W.N. Benson (1926) interpretava as ocorrências de peridotito e serpentinito nas
cadeias montanhosas como intrusões plutônicas em rochas sedimentares dobradas de um sistema
geossinclinal e utilizou o termo “Peridotitos do tipo-alpino” para identificar a seqüência
ultramáfica. Esta interpretação, no entanto, diferia daquela apresentada por Steinmann e propunha
que peridotitos do tipo-alpino não tivessem uma conexão espacial, temporal e genética com as
rochas gabróicas, diabásicas e vulcânicas (espilíticas) comumente encontradas em uma associação
ofiolítica. O termo peridotito do tipo-alpino, também conhecido como termo de Benson, se
propagou na literatura geológica, na época, em referência aos corpos ultramáficos irregulares a
elípticos que ocorriam em cinturões montanhosos, submetidos a processos de diferenciação in situ.

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Em seu artigo publicado no periódico Geological Society of America – Special Paper 62,
resultante do simpósio “The Crust of the Earth” (Departamento de Geologia da Universidade de
Columbia, Estados Unidos), Hess (1955) criticou o conceito de ofiolito utilizado por Steinmann
enfatizando “é confusa a relação entre os diversos membros de uma seqüência ofiolítica frente ao
ciclo tectônico”. Fazendo uma correlação entre serpentinitos e peridotitos do tipo-alpino (termo de
Benson) aos processos orogênicos e de formação de montanhas, Hess (1955) argumentou que os
serpentinitos e as rochas da “Trindade de Steinmann” eram comuns em arcos-de-ilha e que estes
representavam um estágio inicial no desenvolvimento de um sistema montanhoso do tipo-alpino.
Segundo Dilek (2003a), Hess advogava uma origem em um sistema de arco-de-ilha para a
associação máfico-ultramáfica e peridotitos serpentinizados encontrados em sistemas orogênicos.
Além disso, Hess sugeriu que a Cadeia Meso-Oceânica do Atlântico representasse uma “orla de
serpentina” desenvolvida como resultado de serpentinização e deserpentinização de grandes
volumes de peridotito. Este modelo, conhecido como “Crosta do tipo-Hess”, sugeria que a maior
parte da crosta oceânica fosse composta por serpentinitos e que a interface entre a crosta
serpentinizada e o peridotito subjacente representasse a Descontinuidade Moho.
Em meados da década de 1960, o reconhecimento de enxames de dique em lençol (sheeted
dikes) extensionais, da existência de uma unidade mantélica refratária representada por peridotitos
com texturas de deformação de alta temperatura, da câmara magmática fóssil (fossil magma
chamber) em seqüências plutônicas e da natureza alóctona dos ofiolitos, foi essencial para a
formulação do modelo de seqüência ofiolítica e da análoga “crosta oceânica-ofiolítica” no contexto
da teoria emergente da Tectônica de Placas. Esta analogia foi confirmada na Primeira Conferência
Penrose sobre ofiolitos, em 1972, com a definição da seqüência pseudo-estratigráfica ideal de um
complexo ofiolítico, utilizando-se o enxame de diques em lençol como marcador do processo de
espalhamento de fundo oceânico. Nesta época, o desenvolvimento de ofiolitos ao longo das cadeias
meso-oceânicas (MOR) antigas era o modelo mais aceito pela comunidade geológica (Dilek 2003a).
Estudos geoquímicos de detalhe mudaram esta visão no início da década de 1970 e sugeriam a
associação de magmas com zonas de subducção (ZSS). Miyashiro (1973), por exemplo, relacionou
a gênese do ofiolito de Troodos (Chipre) com processos de supra-subducção em um sistema de
arco-de-ilha. O paradigma envolvendo a conceituação de complexos ofiolíticos, entretanto, somente
permitiu a definição de ofiolitos de zona de supra-subducção no início da década de 1980. Estudos
petrológicos e geoquímicos sistemáticos de ofiolitos mundiais ao longo das décadas de 1980 e 1990
(eg. Serri 1981, Leterrier et al. 1982, Nicolas 1989; Tabela 3.1) demonstraram a importância dos
fluidos derivados de zonas de supra-subducção no desenvolvimento dos magmas ofiolíticos; ante-
arco, arco embrionário e retro-arco se tornaram os ambientes tectônicos mais amplamente aceitos
em uma zona de supra-subducção (Dilek 2003a, Moores 2003, Pearce 2003). Diversas conferências
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técnicas, ao longo das três últimas décadas, também foram fundamentais para o entendimento das
seqüências ofiolíticas, incluindo os Simpósios de Troodos em 1979 e 1987 (Panayiotou 1980,
Malpas et al. 1990), a Conferência de Oman em 1990 (Peters et al. 1991) e a segunda Conferência
Penrose sobre ofiolitos e crosta oceânica– em conjunto com os resultados do Programa Ocean
Drilling – em 1998 (Dilek et al. 2000) (Tabela 3.1).

Tabela 3.1- Sumário histórico da evolução dos conceitos acerca do tema ofiolito à luz da revolução da teoria
da Tectônica de Placas. Cronologia engloba o século XX (modificado de Moores 2003).

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3.2 – Pseudo-estratigrafia de complexos ofiolíticos

A seqüência pseudo-estratigráfica ideal de um complexo ofiolítico foi definida durante a


primeira Conferência Penrose sobre ofiolitos, em setembro de 1972. Participantes desta conferência,
através de observações de campo em diversas seqüências ofiolíticas no oeste americano e
discussões acerca dos modelos europeus, produziram uma publicação contendo a definição e
respectiva estratigrafia de um ofiolito (Anônimos 1972), como mostrado a seguir:

“Ofiolito se refere a uma associação distinta de rochas ultramáficas, máficas e sedimentares. O


termo não deve ser utilizado para nomear rochas ou como uma unidade litológica em
mapeamentos. Em um complexo ofiolítico completamente desenvolvido, as rochas ocorrem na
seguinte seqüência, do topo para a base (Figura 3.1):

- Associação Sedimentar, composta por rochas sedimentares químicas de mar


profundo (e.g. chert, sedimentos manganesíferos ou umber e formações ferríferas) e/ou
sedimentos detríticos pelágicos e, em determinados casos, turbiditos vulcanoclásticos.
Pode ocorrer interestratificado com as rochas vulcânicas – derrames ou lavas
almofadadas;
- Complexo Vulcânico Máfico, representado por basalto em forma de almofada
(pillow lava), de composição toleítica. Pode apresentar espessura muito variada e
diversas vezes é cortado por diques de diabásio;
- Sheeted Dike ou Enxame de Diques em Lençol, encontra-se em contato nítido com
as rochas vulcânicas sobrejacentes, com espessuras métricas a decamétricas. Os
diques apresentam composição toleítica e zonas de resfriamento assimétricas. É
possível identificar, dentro da unidade, várias gerações de diques de diabásio que se
cortam mutuamente;
- Complexo Máfico Plutônico, dominantemente composto por rochas gabróicas. A
transição deste complexo com os sheeted dikes é marcada pelo aumento das fatias de
gabro associadas aos diques. A unidade contém gabros isotrópicos, correlacionáveis a
intrusões tardias, e gabros acamadados, muito comumente associados aos cumulados
máfico-ultramáficos (cromita + plagioclásio + clinopiroxênio) presentes na base da
unidade. É importante ressaltar a presença de corpos intrusivos de composição
plagiogranítica (diorito a tonalito) associados às rochas gabróicas;
- Complexo Ultramáfico, caracteristicamente remanescente de manto suboceânico,
composto por proporções variáveis de harzburgito, lherzolito e dunito, usualmente com
textura tectônica metamórfica (mais ou menos serpentinizada).

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Contatos falhados entre unidades mapeáveis são comuns. Admitindo-se que ofiolito seja
representante da litosfera oceânica, ou seja, crosta oceânica e parte do manto superior, o uso
deste termo deveria ser independente da sua suposta origem (Anônimos 1972)”.

Figura 3.1. Seções esquemáticas representando a crosta oceânica e os tipos ofiolíticos correspondentes,
segundo Moores (2002). (A) Seqüência ofiolítica completa de acordo com a definição da Conferência
Penrose (Anônimos 1972), típica de centros de espalhamento rápido. (B) Seqüência falhada, incompleta,
característica de centros de espalhamento lento. Este tipo, também denominado “tipo-Hess”, associa a crosta
oceânica a um peridotito serpentinizado. (C) Seção composta por seqüências de arco-de-ilha oceânico
desenvolvido em crosta oceânica. Este tipo também é designado como “tipo-Smartville” devido ao complexo
homônimo presente na Sierra Nevada (Califórnia, Estados Unidos). (D) Possível seção hotspot (platô
oceânico) da crosta oceânica.
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A definição obtida pela Conferência Penrose não aborda, em nenhum momento, nada sobre os
mecanismos de posicionamento dos ofiolitos no continente. Caracteristicamente, a publicação não
define um complexo ofiolítico com base em ambientes tectônicos ou em sua origem ígnea. A
conferência termina com soluções para mapeamentos de detalhe e com sofisticados estudos
petrológicos, mineralógicos e geoquímicos das subunidades ofiolíticas (Dilek 2003a). Moores
(2002), em uma síntese sobre os ofiolitos Pré-Rodínia, aponta alguns problemas associados com a
seqüência ofiolítica do tipo-Penrose; o principal deles é que a maioria dos complexos não apresenta
a seqüência completa, como prediz a definição de 1972. O recente reconhecimento de seqüências
magmáticas incompletas na crosta oceânica pelo Programa Ocean Drilling resolveu parcialmente
este dilema. Centros de espalhamento rápido, também conhecidos como centros ricos em magmas,
exibem uma seqüência completa do tipo-Penrose (e.g. Cadeia do Pacífico Leste e ofiolito de
Semail– Oman, Figura 3.1 A e Tabela 3.2). Centros de espalhamento lento, com provisão variável
de magma, podem ser incompletas, com a seção magmática ausente em extensas áreas (e.g. Cadeia
Meso-Atlântica e ofiolitos de Troodos – Chipre, Kizildag – Turquia e Apeninos – Itália, Figura 3.1
B e Tabela 3.2). Complexos ofiolíticos representantes de seqüências associadas a falhas
transformantes comumente possuem seções máficas delgadas ou praticamente ausentes, com
cumulados e diques apresentando dobramentos internos. Muitos ofiolitos cordilheranos apresentam,
caracteristicamente, um arranjo interno mais complexo, com rochas hipoabissais e extrusivas
depositadas dentro ou sobre uma seqüência mais velha e deformada da crosta oceânica, sugerindo
uma história evolucionária poligenética para estes depósitos associados a ambientes de arco-de-ilha
(Figura 3.1 C). Seções do tipo hotspot (platô oceânico) mostram uma espessa seqüência de rochas
extrusivas – possivelmente contendo sills intrusivos diferenciados – que foi posicionada em uma
crosta oceânica pré-existente (Figura 3.1 D) (Moores 2002).

Tabela 3.2- Caracterização da litosfera oceânica com base nos dados de Nicolas & Boudier (2003).
Espalhamento rápido Espalhamento lento

CADEIAS OCEÂNICAS Cadeia do Pacífico Leste Cadeia Meso-Atlântica

Taxa de Espalhamento 10 cm/ano 3 cm/ano

SEÇÃO CRUSTAL

Sheeted dikes ~ 1,5 km de espessura; mergulho íngreme a moderado Incomum; espessura: 0-1 km

Olivina gabro, Fe-gabro, gabronorito, subordinadamente Olivina gabro, gabronorito. Presença de textura
Gabros wehrlito. Deformação magmática comum. do tipo flaser gabro.

SEÇÃO MANTÉLICA

Litologia Harzburgito, plagioclásio dunito Cpx-harzburgito, dunito, plagioclásio lherzolito

Foliação plástica de alta temperatura com mergulho Foliação plástica de temperatura moderada com
Estruturas internas moderado a íngreme mergulho suave

Serpentinização Lizardita Lizardita e antigorita

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3.3 – Ambientes de geração de ofiolitos: Cadeia meso-oceânica versus Zona de Supra-
Subducção

Complexos ofiolíticos mostram uma grande variedade de estrutura interna, pseudo-estratigrafia


e padrões geoquímicos, sugerindo distintos ambientes de geração. Normalmente, ofiolitos se
formam durante diferentes estágios do “Ciclo de Wilson”, com subseqüente incorporação nas
margens continentais por meio de eventos orogênicos colisionais e/ou acrescionários (obducção). É
consenso entre os autores que os principais ambientes produtores de crosta oceânica incluem
dorsais meso-oceânicas, bacias de arcos-de-ilha juvenis, bacias de ante-arco e retro-arco.
Conforme brevemente abordado no item 3.1 e aqui enfatizado, cadeias meso-oceânicas eram
tidas como o centro de geração de ofiolitos até a década de 1970. O conceito de formação de
seqüências ofiolíticas em bacias marginais foi primeiramente proposto por Dewey & Bird (1971 in
Pearce 2003), por meio de critérios geológicos que faziam a distinção entre os ambientes de dorsal e
de bacia marginal. Miyashiro (1973), com base em análises químicas de elementos maiores e traços
de basaltos, argumentava que o mundialmente conhecido Ofiolito de Troodos (Chipre) teria sua
origem associada a um ambiente de arco-de-ilha. Nesta mesma época, Pearce & Cann (1973)
definiram diagramas de discriminação entre ofiolitos gerados em dorsais meso-oceânicas e em
zonas de supra-subducção, utilizando elementos menores e traços (e.g. gráfico ternário Ti/100 vs.
Zr vs. Yx3). Segundo Nicolas & Boudier (2003), estes diagramas foram amplamente aplicados para
a maioria dos ofiolitos mundiais e, o resultado imediato foi a conclusão de que, pelo menos
aparentemente, a maioria dos remanescentes oceânicos tinham origem em bacias marginais. O
termo “ofiolitos de supra-subducção” foi formalmente definido por Pearce et al. (1984), como
mostrado a seguir:

“Ofiolitos de zonas de supra-subducção (ZSS) apresentam características geoquímicas de arcos-


de-ilha mas a estrutura da crosta oceânica evidencia que foram formados pelo espalhamento do
assoalho diretamente acima da litosfera oceânica subductada. Este tipo ofiolítico difere do MORB
nas seqüências mantélicas, na presença mais comum de depósitos de cromita podiforme e na
cristalização de clinopiroxênio anterior ao plagioclásio, refletindo a abundância de wehrlito
relativamente ao troctolito na seqüência cumulática. A maioria dos mais bem preservados ofiolitos
nos cinturões orogênicos é do tipo ZSS”.

Pearce (2003) aponta três ambientes geradores de ofiolitos exclusivamente do tipo ZSS:
subducção sob uma dorsal, subducção de uma dorsal com formação de ofiolitos em zonas de ante-
arco e subducção de uma dorsal com formação de ofiolitos na placa descendente. No primeiro e
segundo casos, o espalhamento oceânico ocorre no ante-arco; no terceiro exemplo, o espalhamento
ocorre na placa subductada (Figura 3.2). Ainda segundo o autor, bacias de retro-arco apresentam
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composições altamente variáveis, gradando de MORB a ZSS, com todos os termos intermediários
entre os dois extremos.
Uma síntese apresentada por Shervais (2000) mostra o “ciclo de vida” de ofiolitos do tipo ZSS,
considerando a evolução e o posicionamento destes corpos. De acordo com o autor, os principais
eventos podem ser resumidos da seguinte maneira:

- nascimento: formação em uma zona de subducção nascente ou reconfigurada;


- juventude: continuada fusão da cunha mantélica e acresção crustal;
- maturidade: início do vulcanismo do arco semi-estável, freqüentemente de caráter cálcio-
alcalino, quando a subducção está matura e estável;
- morte: repentino término da subducção, geralmente devido à colisão continental;
- ressurreição: posicionamento da seqüência ofiolítica em uma margem continental passiva.

Shervais (2000) ressalta que estes eventos geralmente progridem em ordem cronológica, mas
que nem todos os ofiolitos de ZSS mostram os cinco estágios evolutivos. Os estágios do
“nascimento” e da “juventude” são comuns a todos os complexos, refletindo sua formação original
na placa superior de uma zona de subducção.

Figura 3.2. Sumário das principais


características e ambientes tectônicos
associados à ofiolitos do tipo MORB e ZSS
(modificado de Pearce 2003).
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3.4 – Classificação de complexos ofiolíticos

Diversos esquemas de classificação de ofiolitos com base, principalmente, em características


petrológicas e geoquímicas, ambientes tectônicos e padrão de posicionamento das seqüências no
continente, foram desenvolvidos ao longo dos últimos trinta e cinco anos. Na década de 1970, os
principais trabalhos levavam em consideração, especialmente, a afinidade geoquímica das rochas
ultramáficas e vulcânicas máficas. A década de 1980 constitui um marco na história de classificação
dos ofiolitos, sendo introduzido o conceito de “ambiente tectônico” aos trabalhos publicados. Uma
síntese cronológica dos principais modelos classificatórios é apresentada a seguir. Mesorian (1973)
subdividiu os ofiolitos Alpinos em três grupos – tipo-Troodos, tipo-Pindos e tipo-Antalya – de
acordo com a distribuição dos diques e considerando que as lavas possuíam afinidades toleítica,
cálcio-alcalina e alcalina, respectivamente. Nicolas & Jackson (1972) e Menzies & Allen (1974)
reconheceram um padrão bimodal para os peridotitos da região do Mediterrâneo, dividindo os
complexos ofiolíticos nos subtipos lherzolito-harzburgito e harzburgito. Estes autores propuseram
que o primeiro subtipo – lherzolito-harzburgito – se formasse em bacias oceânicas estreitas, do tipo
Mar Vermelho, enquanto que o segundo subtipo – harzburgito – fosse originado em oceanos mais
largos. Rocci et al. (1975) também reconheceu dois grupos de ofiolitos:

- Tipo I: lherzolito tectonizado, plagioclásio peridotitos, troctolitos, gabros e Fe-gabros;


- Tipo II: harzburgito tectonizado, dunito, cromitito, piroxenitos, noritos e olivina gabros.

Miyashiro (1975) classificou os ofiolitos em três classes distintas, utilizando as séries das rochas
vulcânicas como parâmetro de separação. Os ofiolitos da Classe I incluem rochas vulcânicas
toleíticas e/ou cálcio-alcalinas, originadas em ambientes de arco-de-ilha. A Classe II engloba rochas
vulcânicas da série toleítica associadas a cadeias meso-oceânicas e/ou arco-de-ilha. Ofiolitos da
Classe III possuem rochas vulcânicas das séries toleítica e alcalina, geradas em zonas de rift ao
longo da margem continental ou nas proximidades de ilhas intra-oceânicas.
Uma classificação das seqüências ofiolíticas, com base no ambiente geológico, foi proposta por
Moores (1982). De acordo com este autor, ofiolitos podem ser subdivididos em dois tipos –
Tethyano e Cordilherano – baseado na presença ou ausência de substrato continental, edifícios
vulcânicos e/ou mélanges acrescionárias. Nesta classificação, ofiolitos do tipo-Tethyano são
comumente observados como remanescentes oceânicos em margens passivas continentais ao longo
de contatos tectônicos e possuem gênese associada a cadeias meso-oceânicas. Por outro lado,
ofiolitos do tipo-Cordilherano estão espacial e temporalmente associados com arcos-de-ilhas e
edifícios vulcânicos, rochas vulcanoclásticas e mélanges acrescionárias, sendo formados em
regimes de margens convergentes (e.g. ante-arco, arco ou intra-arco).

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Boudier & Nicolas (1985) levaram em consideração o grau de fusão parcial do manto original e
a relação "depleção mantélica vs. taxa de espalhamento” para classificarem os complexos
ofiolíticos. No trabalho original, os autores subdividiram os ofiolitos em dois tipos – LOT e HOT –
mas acrescentaram um novo subtipo intermediário – LHOT – anos mais tarde (Nicolas & Boudier
2003):

- LOT ou ofiolito do tipo-lherzolito: caracterizado por manto lherzolítico e menos depletado.


Exemplos mundiais: Liguria – Itália e Trinity – Estados Unidos;
- HOT ou ofiolito do tipo-harzburgito: composto por manto harzburgítico e mais depletado. Exemplos
mundiais: Oman, Papua – Nova Guiné e Nova Caledônia, maciço sudeste – Pacífico Sul;
- LHOT ou ofiolito do tipo-harzburgito-lherzolito: seção mantélica composta por peridotitos
hipoabissais, correspondentes a situações de espalhamento lento. Exemplos mundiais: Bay of Islands
– Newfoundland, Canadá; Yakuno – Japão, Josephine – Estados Unidos.

Ishiwatari (1985), utilizando os mesmos princípios de Boudier & Nicolas (1985), propôs a
seguinte classificação para os complexos ofiolíticos: tipo-Liguria, coincidente com o LOT de
Boudier & Nicolas (1985); tipo-Papua, coincidente com o HOT e tipo-Yakuno, intermediário entre
os dois anteriores, anos depois denominado LHOT.
Nicolas (1989) baseou-se nos ambientes tectônicos de posicionamento dos remanescentes
oceânicos para desenvolver sua classificação. Ofiolitos tectonicamente encaixados em margens
passivas continentais, ofiolitos incorporados em margens ativas continentais do Cinturão do Pacífico
e ofiolitos de zonas de sutura que ocorrem em regiões de colisão continente-continente e arco-
continente constituem os três tipos principais na classificação proposta pelo autor. Neste contexto, o
Tipo 1 descrito por Nicolas (1989), exemplificado pelos ofiolitos de Semail – Oman e Papua – Nova
Guiné, corresponde aos ofiolitos do tipo-Tethyano na classificação de Moores (1982), enquanto que
o Tipo 2, tipicamente ocorrências ofiolíticas no Complexo Franciscano da Califórnia, associa-se ao
tipo-Cordilherano. O terceiro tipo de Nicolas (1989), exemplificado pelos remanescentes oceânicos
do sistema orogênico Alpino-Himalaio e por ofiolitos Caledonianos e Uralianos, pode ser
correlacionado ao tipo-Tethyano, levando-se em consideração os critérios de classificação de
Moores (1982).
Coleman (2000), interpretando os ofiolitos da Califórnia à luz de novos conceitos, reconheceu
cinco grupos distintos com base na história evolucionária, relações estratigráficas, características
petrológicas e químicas, parâmetros geofísicos e idades de cristalização magmática:

- Tipo I: relaciona-se aos ofiolitos de zona de supra-subducção intra-oceânica. Exemplo: ofiolito


Coast Range;
- Tipo II: exemplificado por escamas de rochas máfico-ultramáficas associadas a um ambiente de rift
continental. Exemplo: ofiolito “Great Valley”;
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- Tipo III: representado por peridotitos abissais, possivelmente originados em zonas de fratura, que
foram alojados dentro de mélanges acrescionárias. Exemplo: cunha peridotítica na mélange de
subducção Franciscana;
- Tipo IV: relacionado com ofiolitos desagregados e rochas ofiolíticas de cadeias meso-oceânicas que
foram incorporados na cunha acrescionária Franciscana;
- Tipo V: associado a escamas da crosta oceânica que foram tectonicamente alojadas na base da
margem continental em zonas de subducção.

Um novo e moderno esquema classificatório, proposto por Dilek (2003a), considera sete tipos
específicos de ofiolitos, levando-se em consideração os ambientes tectônicos de geração e os
mecanismos de posicionamento dos mesmos em diferentes tipos de cinturões orogênicos (e.g.
colisional versus acrescionário):

I. Ofiolito do Tipo Liguriano: é caracterizado pela existência de peridotitos altamente serpentinizados,


intrudidos e/ou cobertos por pequeno a moderado volume de gabros, diques locais e pillow lavas. Este
tipo não inclui os enxames de diques em lençol (sheeted dikes) e o contato entre as unidades
mantélica e crustal pode ser intrusivo, tectônico e/ou estratigráfico. Os ofiolitos do Tipo Liguriano
apresentam estrutura interna do tipo-Hess – contrário à seqüência completa proposta pela Conferência
Penrose. Este tipo ofiolítico provavelmente se forma durante os estágios iniciais de abertura de uma
bacia oceânica, com posterior rift continental, e está originalmente situado em posição pericontinental
adjacente às margens continentais rifteadas. A seqüência ofiolítica Liguriana representa a Classe III
de Miyashiro (1975), o tipo-lherzolito (LOT) de Boudier & Nicolas (1985) e o Tipo II – escamas de
rochas máfico-ultramáficas associadas a um ambiente de rift continental – identificado por Coleman
(2000). Os exemplos característicos deste tipo ocorrem nos Apeninos Setentrionais (região da
Ligúria) e nos Alpes Ocidentais.

II. Ofiolito do Tipo Mediterrâneo: caracteriza-se pela presença da seqüência pseudo-estratigráfica,


praticamente completa, de um ofiolito idealizado segundo a definição da Conferência Penrose. Este
tipo ofiolítico apresenta uma seqüência mantélica composta tanto por peridotitos de composição
harzburgítica-lherzolítica quanto dominantemente harzburgítica. As rochas plutônicas, gabróicas,
apresentam contatos intrusivos e/ou falhados com a unidade de enxame de diques em lençol. Estes
diques são, comumente, os alimentadores das rochas vulcânicas sobrejacentes que incluem lavas
almofadadas ou derrames. A cobertura sedimentar é geralmente composta por rochas pelágicas
(calcário e/ou chert). A evolução deste tipo de ofiolito inclui espalhamento do assoalho oceânico,
magmatismo e tectonismo na placa sobrejacente (upper plate) em zonas de subducção intra-oceânica,
sendo os complexos ofiolíticos formados em ambientes de ante-arco, arco juvenil e/ou retro-arco. A
seqüência ofiolítica Mediterrânea corresponde a Classe I de Miyashiro (1975) e ao tipo-harzburgito
(HOT) e/ou harzburgito-lherzolito (LHOT) de Nicolas & Boudier (2003). Os melhores exemplos
incluem os ofiolitos de Troodos – Chipre, Kizildag – Turquia, Semail – Oman, Xigaze – Tibet e Bay
of Islands – Newfoundland, Canadá.
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III. Ofiolito do Tipo Serrano: apresenta uma trajetória evolucionária complexa e poligenética. O
exemplo mais representativo deste tipo é o “ofiolito de arco” (arc ophiolite), de idade Jurássica,
exposto na porção ocidental da Serra Nevada, Califórnia. Este ofiolito contém rochas vulcânicas,
plutônicas e hipoabissais, com enxame de diques em lençol bem desenvolvido localmente. As rochas
vulcânicas variam de basalto e basalto andesítico a dacito e riolito; rochas vulcanoclásticas, incluindo
deposição subaérea, estão distribuídas ao longo de todo o terreno, indicando a construção de um
edifício vulcânico durante a evolução deste ofiolito. A construção do arco parece ter ocorrido sobre
um embasamento oceânico (ofiolítico) pré-existente e deformado, como indicam as relações de
campo e geocronológicas. O embasamento ofiolítico mais antigo juntamente com o arco vulcânico
mais jovem representam um terreno de arco-de-ilha enzimático, que foi acrescido à margem
continental Norte-Americana durante o Jurássico. Ofiolitos do Tipo Serrano representam a Classe II
de Miyashiro (1975) e podem corresponder, em parte, ao tipo-Cordilherano de Moores (1982).
Alguns ofiolitos do Japão, Filipinas e Cuba, que apresentam evolução poligenética similar à descrita
anteriormente, podem pertencer a este grupo.

IV. Ofiolito do Tipo Chileno: é mais bem caracterizado pelo conjunto de ofiolitos “Rocas Verdes”,
localizado no Chile, e que representa uma crosta oceânica fóssil, relativamente autóctona, circundada
por rochas cristalinas dos Andes. Os ofiolitos Rocas Verdes apresentam, do topo para a base, a
seguinte seqüência de rochas: vulcânicas máficas (2-3 km de espessura), representadas por lavas
almofadadas e brechas vulcânicas; enxame de diques em lençol (300-500 m de espessura), composto
por diabásio maciço; e gabros de granulação grossa. Peridotitos mantélicos não estão expostos. Os
ofiolitos Chilenos se formam em bacias de retro-arco extensionais, em um ambiente “ensiálico”
dentro de um arco magmático. Este tipo ofiolítico pode ser comum nos Pontides (Turquia), Cáucaso
Inferior e nos cinturões orogênicos Paleozóicos da Ásia Central.

V. Ofiolito do Tipo Macquarie: é representado por uma única ocorrência na Ilha Oceânica de
Macquarie – sudeste da Tasmânia. Este tipo ofiolítico representa um fragmento de cadeia meso-
oceânica praticamente in siu e inclui, do topo para a base: rochas basálticas extrusivas intercaladas
com rochas sedimentares vulcanoclásticas; doleritos (~ 1,5 km de espessura); zona transicional
composta por microgabro (transição entre sheeted dikes e seção plutônica máfica); gabro de
granulação grossa, maciço e/ou bandado com rochas ultramáficas associadas; e sucessões
peridotíticas. Apesar dos contatos entre as unidades litológicas serem falhados, o ofiolito da Ilha de
Macquarie apresenta uma estratigrafia similar àquela definida pela Conferência Penrose.

VI. Ofiolito do Tipo Caribenho: representa crosta oceânica gerada em Grandes Províncias Ígneas
(Large Igneous Province – LIP) e associada a platôs oceânicos. A estrutura interna e a estratigrafia
dos fragmentos destes platôs, alojados tectonicamente, são bastante heterogêneos mas contêm muitas
das subunidades ofiolíticas, incluindo derrames e lavas almofadadas, gabros isotrópicos a bandados,
dunitos com bandas de lherzolito, olivina websterito, e olivina gabronorito nos níveis inferiores. Os
enxames de diques em lençol geralmente estão ausentes. É muito provável que parte das rochas
62
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
máfico-ultramáficas desmembradas que ocorrem em cinturões orogênicos sejam, de fato, relictos de
ofiolitos derivados de platô oceânico. Exemplos deste tipo são os ofiolitos de idade Cretácea do
Caribe (e.g. Costa Rica e Venezuela) e os ofiolitos do Japão (Platô Sorachi) e do Equador (Formação
Piñon).

VII. Ofiolito do Tipo Franciscano: está espacialmente associado com complexos acrescionários de
margens ativas e, via de regra, encontra-se tectonicamente intercalado com mélanges e rochas
metamórficas de alto grau, típicas de zonas de subducção. Os ofiolitos Franciscanos incluem
fragmentos de peridotitos abissais, gabros e basaltos, possivelmente originados em zonas de fratura;
escamas de crosta oceânica com origem em cadeias meso-oceânicas (pillow lavas e gabros) e/ou
fragmentos desmantelados de arcos-de-ilha. Estas rochas oceânicas estão localmente associadas com
rochas sedimentares pelágicas – hemipelágicas (chert, calcário) e terrígenas. Blocos de xisto azul
também ocorrem dentro deste complexo acrescionário. O ofiolito do Tipo Franciscano corresponde,
em parte, ao tipo-Cordilherano de Moores (1982). Os melhores exemplos ocorrem na Califórnia
(Complexo Franciscano), nas Ilhas Japonesas (ofiolitos de Oeyama e Yakuno) e no complexo
acrescionário Ordoviciano – Devoniano da Pré-Cordilheira ocidental na Argentina.

3.5 – Depósitos minerais em ofiolitos

Complexos ofiolíticos são importantes fontes de Zn e Cu (sulfetos maciços), Co e Ni (lateritas),


cromita e de rochas e minerais industriais (serpentinito e amianto). São também fontes potenciais
para prospecção de ouro e elementos do grupo da platina ou EGP – ósmio, irídio, platina, rutênio,
ródio e paládio (Castroviejo 2004, Prichard 2004) (Figura 3.3). De acordo com Castroviejo (2004),
o potencial metalífero de uma seqüência ofiolítica é determinado levando-se em consideração as
seguintes características: (a) concentração metalífera original, qualquer que seja a litologia que
integra a seqüência e, (b) transformações ou adições que estas concentrações irão sofrer ao longo da
história orogênica do ofiolito, incluindo metamorfismo, deformação, hidrotermalismo,
intemperismo e erosão.
Uma síntese das principais mineralizações encontradas em uma seqüência ofiolítica completa e
ideal, de acordo com a definição da Conferência Penrose, é apresentada a seguir. Na seção
ultramáfica, os depósitos de cromita geralmente localizam-se na base da seqüência de cumulados,
sob a forma de camadas, ou como pods (cromita podiforme), na seqüência harzburgítica – que pode
estar tectonizada ou não (Paixão 2001) (Figura 3.3). Depósitos de asbestos estão associados a
fraturas preenchidas por crisotila nos peridotitos mantélicos serpentinizados e podem alcançar
espessuras de dezenas de metros. Níquel e cobalto ocorrem como resultado de enriquecimento
supergênico nas rochas ultramáficas, formando grandes depósitos econômicos – Ni laterítico em
Cuba e Nova Caledônia, e Co laterítico em Bou Azzer-Marrocos, por exemplo.

63
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.3. Coluna esquemática de uma seção ofiolítica evidenciando a distribuição dos principais depósitos
minerais (Castroviejo 2004, Espí 2004, Prichard 2004, Suita et al. 2004).

Os elementos do grupo da platina (EGP) se concentram nas rochas ígneas máficas e


ultramáficas (Figura 3.3). Todos os elementos são marcantemente calcófilos e siderófilos; Os, Ir e
Ru estão associados, preferencialmente, à cromititos enquanto que Pt, Pd e Rh se concentram fora
deles, especialmente nos sulfetos. Os complexos ofiolíticos ricos em EGPs são aqueles formados a
partir de altas taxas de fusão mantélica, que dão lugares a magmas boniníticos (e.g. zonas de supra-
subducção). Neste caso, os platinóides se concentram durante a cristalização por processos
magmáticos. Os ofiolitos formados por uma taxa de fusão mantélica insuficiente para liberar os
EGPs são aqueles do tipo MORB, como por exemplo, Lizard – Cornwall, Reino Unido. Minerais
do grupo da platina (MGP) também são encontrados nos ofiolitos e compreendem fases
magmáticas, como laurita (RuS2), sulfetos de Pt e Pd e liga Os-Ir (Prichard 2004).
Complexos ofiolíticos exibem características propícias para a formação de depósitos do tipo
sulfeto maciço vulcanogênico (VMS), fontes de Cu, Zn ± Au (Figura 3.3). Estes depósitos mostram
acumulações estratiformes de sulfetos formados pela precipitação de fluidos hidrotermais em um
ambiente submarino e ocorrem em terrenos caracterizados pela presença de rochas vulcânicas e
sedimentos associados (Sangster 1998). Cerca de 20% dos depósitos mundiais do tipo VMS estão
encaixados em seqüência ofiolíticas, com origem em cadeias meso-oceânicas e, subordinadamente,
em zonas de subducção intra-oceânicas e bacias de retro-arco. Guias de exploração de depósitos
VMS em ofiolitos incluem: (a) identificação de um estrato vulcânico submarino; a presença de
pillow lavas e de sedimentos químicos deve ser confirmada na área de prospecção e, (b) alguma
evidência de atividade exalativa deve ser observada. Camadas ou lentes de chert devem ser

64
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
estudadas com base em elementos com assinatura geoquímica exalativa, tais como Mn, Fe, Ba, Zn e
Pb (Sangster 1998).

3.6 – Distribuição dos cinturões ofiolíticos no tempo e no espaço

Ofiolitos nos cinturões orogênicos ocorrem como zonas curvilíneas compostas por rochas
máfico-ultramáficas (com rochas metamórficas e sedimentares associadas) e representam relictos de
diferentes estágios do “Ciclo de Wilson” – abertura e fechamento de bacias oceânicas. A
distribuição das seqüências ofiolíticas nos diferentes cinturões orogênicos, com determinadas faixas
de idade, define pulsos ofiolíticos distintos (Figura 3.4). Estes pulsos são coincidentes com a época
dos maiores eventos colisionais para a formação dos supercontinentes (e.g. Rodínia, Gondwana e
Pangea), com o desmantelamento dos mesmos e com o aumento das atividades das plumas
mantélicas que formam as Grandes Províncias Ígneas (Large Igneous Province – LIPs) (Dilek
2003b, Dilek & Robinson 2003).
No Pré-Cambriano, especialmente durante o Arqueano, Paleoproterozóico e Mesoproterozóico,
o registro de seqüências ofiolíticas ainda é pouco documentado devido, em parte, à deformação
intensa e ao retrabalhamento da crosta continental em múltiplos episódios orogênicos ao longo do
tempo (Moores 2002, Dilek 2003b). Um estudo dos mais bem preservados complexos ofiolíticos
pré-1,0 Ga – também denominados “Pré-Rodínia” – evidencia quatro intervalos de tempo principais
para geração das seqüências: 1,0-1,5 Ga (e.g. Pie de Palo-Argentina), 1,8-2,3 Ga (e.g. Jormua-
Finlândia), ca. 2,5-2,7 Ga (e.g. Yellowknife-Estados Unidos) e ca. 3,4 Ga (e.g. Jamestown-África
do Sul). Segundo Dilek (2003b), a realização de uma correlação entre o pulso ofiolítico pré-Rodínia
com algum evento tectônico global é extremamente difícil devido ao limitado conhecimento sobre a
história da Terra no referido período.
O Proterozóico Superior é representado por três grandes pulsos de geração de ofiolitos – ca. 700
Ma, 740-780 Ma e 820-860 Ma (Figura 3.4). Os complexos associados a este período concentram-
se, especialmente, na América do Sul, África e Arábia, com menores ocorrências na Europa Central
e Oriental, no Cáucaso Inferior, na Ásia Central e no noroeste Indiano (Figura 3.5). Nos cinturões
Afro-Arábico e na América do Sul, a existência de complexos ofiolíticos neoproterozóicos está
diretamente relacionada com a evolução de diversas bacias oceânicas Pan-Africanas-Brasilides (e.g.
oceano Moçambicano), como resultado da quebra do supercontinente Rodínia e durante a
configuração do Gondwana Ocidental (Dilek 2003a,b; Stern 2008) (Figura 3.4).
No Fanerozóico, o pulso ofiolítico mais importante situa-se no período entre 180-140 Ma,
quando foram formados os ofiolitos Tethyanos, Caribenhos e alguns associados ao Círculo do
Pacífico; um segundo pico importante na geração de ofiolitos diz respeito ao Cretáceo Superior (ca.

65
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
90 Ma, dominantemente ofiolitos Tethyanos). Pulsos ofiolíticos de segunda ordem são observados
nos períodos Permiano Superior-Triássico Inferior (ca. 230-250 Ma), Devoniano Inferior-Siluriano
(ca. 400-440 Ma) e Cambriano Superior-Ordoviciano Inferior (460-500 Ma) (Figura 3.4) (Dilek
2003b).

Sem
extensão
magmática

Figura 3.4. Histograma mostrando a relação entre grandes complexos ofiolíticos e os respectivos períodos de
geração. Abreviações utilizadas para os eventos orogênicos, do mais novo para o mais velho: Ar-Eu: colisão
Arábia-Eurásia; In-Eu: colisão Índia-Eurásia; Al-Ur: orogenia Altaidiana-Uraliana na Ásia Central; AP-Hy:
orogenia Apalacheana-Herciniana; Cld: orogenia Caledoniana; Fmt: orogenia Famatiniana; P-Af-Br:
orogenia Pan-Africana-Brasiliana; Grn: orogenias Greenviliana e associadas (Dilek 2003b).

Os complexos ofiolíticos fanerozóicos podem ser exemplificados por quatro grupos distintos:
(a) ofiolitos do leste Australiano, de idade Cambriana e origem associada aos Tasmanides; (b)
ofiolitos Apalacheanos, Caledonianos, Hercinianos e Uralianos, de idade Paleozóica e origem
associada às orogenias homônimas que ocorreram entre ca. 500-270 Ma; (c) ofiolitos Tethyanos e
Caribenhos, de idade Jurássica-Cretácica, associados aos oceanos Paleo- e Neo-Tethyano que se
desenvolveram entre Gondwana e Eurásia, para os Tethyanos, e à abertura do Oceano Atlântico
Central e Sul, para os exemplos do Caribe e, (d) ofiolitos do Pacífico oeste e Cordilheranos,
paleozóicos a cenozóicos e comumente associados com subducção e complexos acrescionários
(Figura 3.5).

66
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.5. Distribuição global de cinturões ofiolíticos do Proterozóico e Fanerozóico. Visão do mapa a
partir do Pólo Norte (Dilek 2003b).

3.7 – Ofiolitos no Brasil

Os remanescentes oceânicos brasileiros, em sua grande maioria, ocorrem nas faixas orogênicas
brasilianas, registrando o consumo dos oceanos no Neoproterozóico, e estão associados a ambientes
colisionais do tipo continente – arco-de-ilha e continente – continente. Ofiolitos mais antigos, de
idades mesoproterozóica e paleoproterozóica, ocorrem na Faixa Sunsás-Aguapeí, a sul do Cráton
Amazônico, e no Terreno Alto Moxotó, na Província Borborema, respectivamente (Figura 3.3;
Suita et al. 2004).
Os ofiolitos brasileiros são predominantemente representados por rochas meta-ultramáficas e/ou
metamáficas, plutônicas, acamadadas ou maciças, eventualmente com corpos de cromita podiforme,
nodular ou disseminada. Trata-se de corpos alóctones, desmembrados, pequenos a muito pequenos,
tectonicamente intercalados com seqüências metavulcano-sedimentares ou metassedimentares.
Geralmente, estes corpos exibem metamorfismo de fácies xisto verde a anfibolito, sendo raros os de
grau metamórfico mais alto (e.g. eclogitos e retro-eclogitos localizados nas regiões de São
Sebastião do Paraíso e Pouso Alegre, sul de Minas Gerais; Suita et al. 2004).
67
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Ribeirão
da Folha

Figura 3.6. Localização das associações ofiolíticas nas faixas móveis brasileiras (Suita et al. 2004).

As seqüências ofiolíticas mais conhecidas do Brasil ocorrem nas faixas Araçuaí, Brasília,
Araguaia e Ribeira (Figura 3.6). Na Faixa Araçuaí, remanescentes de rochas de assoalho oceânico
têm sido descritas na literatura geológica desde 1990. O mais completo destes registros é o ofiolito
de Ribeirão da Folha – São José da Safira, situado na região central deste sistema orogênico, onde
ocorrem rochas meta-ultramáficas com cromita disseminada, orto-anfibolitos (metagabro,
metadolerito, metabasalto) e seqüência metavulcano-sedimentar com sulfetos maciços portadores de
minerais de prata e indícios de ouro (Pedrosa-Soares 1995, Suita et al. 2004, Queiroga 2006). Os

68
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
atributos geoquímicos das rochas metamáficas e meta-ultramáficas revelam assinatura de assoalho
oceânico e afinidade com outros complexos ofiolíticos neoproterozóicos. Os dados isotópicos Sm-
Nd, tais como εNd variável entre +3 e +7, e idades modelo e isocrônica, corroboram a assinatura
geoquímica das rochas metamáficas e meta-ultramáficas e indicam formação de litosfera oceânica
no Neoproterozóico (Pedrosa-Soares et al. 2007 e capítulo 4 desta tese). No setor central da Faixa
Brasília ocorrem corpos meta-ultramáficos com cromititos podiformes (e.g. Abadiânia, Morro do
Feio e Cromínia), que mostram anomalias de platina e/ou ouro em zonas de cisalhamento (Suita et
al. 2004). Na porção sul da Faixa Araguaia ocorre um dos mais importantes e mais bem estudados
ofiolitos brasileiros, o Complexo Quatipuru. Trata-se de um ofiolito com extensão de 40 km e
largura variável entre 600 metros a 2,4 km, com orientação preferencial a N-S e algumas inflexões
nas direções NE-SW e NW-SE, que originam um aspecto sigmoidal em mapa. É constituído
predominantemente por serpentinitos com um envelope de listwanito – associação de finas camadas
de talco-clorita xisto e espessas camadas de rocha sílico-hematítica que predominam,
freqüentemente, sobre as primeiras (Paixão 2009). No ofiolito do Quatipuru, pods de cromitito
métricos estão hospedados nas rochas ultramáficas e associam-se espacialmente com diques
mantélicos. Ocorrências menores de lateritas enriquecidas em elementos do grupo da platina (EGP)
também são relatadas por alguns autores (e.g. Suita et al. 2004). Na Faixa Ribeira, setor central da
Província Mantiqueira, os restos ofiolíticos estão representados por rochas metamáficas dos grupos
São Roque e Açungui, com assinaturas desde assoalho oceânico a toleítos de arco-de-ilha e idades
U-Pb entre 628 e 608 Ma (Suita et al. 2004). Maiores detalhes sobre os complexos ofiolíticos do
Brasil e respectivos potenciais metalogenéticos podem ser encontrados na síntese apresentada por
Suita et al. (2004) e nos trabalhos de Pedrosa-Soares et al. (1998) e Queiroga et al. (2007), para os
ofiolitos da Faixa Araçuaí; Paixão et al. (2008) e Paixão (2009), para o Complexo Quatipuru –
Faixa Araguaia; Strieder & Nilson (1992), Navarro & Zanardo (2005) e Pinheiro & Suita (2008),
para os complexos da Faixa Brasília e Tassinari et al. (2001) para o ofiolito da Faixa Ribeira.

3.8 – Maciço de Voykar (Montes Urais Polares, Rússia): um exemplo de ofiolito


Paleozóico

Como parte do projeto de Doutorado, foi realizada uma excursão temática ao Maciço de Voykar-
Rússia, durante os meses de julho e agosto de 2009. O trabalho de campo, inserido no projeto russo
“Caracterização da região de Timan – Urais Polares”, objetivou o reconhecimento de uma
seqüência ofiolítica mais recente (idade Paleozóica), pouco deformada e metamorfisada – se
comparada aos ofiolitos pré-cambrianos da Faixa Araçuaí. O ofiolito Voykar situa-se nos Montes
Urais Polares, extremo nordeste da Rússia, ao redor do paralelo 66º N (Figura 3.7).
69
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.7. Localização do ofiolito
Voykar – Montes Urais Polares, Rússia
(ofiolito em destaque na figura;
modificado de Pertsev et al. 2003).

A situação geotectônica da área pesquisada foi descrita detalhadamente por Kuznetsov &
Udoratina (2009). De acordo com os autores, os principais eventos geodinâmicos na região dos
Urais, que resultaram na construção do Supercontinente Pangea, englobam três etapas principais
(Figura 3.8):

- Limite Neoproterozóico – Cambriano: colisão de dois continentes neoproterozóicos – Báltica e


Arctida – formando o continente Arct-Europeu. Orógeno Pré-Uralides-Timanides na zona colisional;
- Início do Médio Paleozóico: colisão entre Arct-Europeu e Laurentia, formando o continente
Arct-Laurussia. Orógenos Caledonianos na zona colisional;
- Paleozóico Superior: margem uraliana do continente Arct-Laurussia colide com os continentes
Sibéria e Kazaquistão, formando o continente Arct-Laurásia (parte norte da Pangea). Orógeno
Uralides-Variscides na zona colisional.

Na área do Rio Lagortaju, onde se estabeleceu a base da pesquisa durante o campo (Figura 3.9),
ocorre a seção-tipo do ofiolito Voykar – semelhante ao ofiolito de Ribeirão da Folha, Brasil. Um
perfil de detalhe ao longo deste rio foi realizado para o reconhecimento das principais unidades desta
seqüência ofiolítica. De acordo com dados da bibliografia e com aqueles obtidos em campo, pode-se
admitir que o ofiolito Voykar inclui, da base para o topo, os seguintes litotipos (Figura 3.10):
70
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.8. Reconstruções paleotectônicas para o Neoproterozóico e Paleozóico na região dos Urais
(Kuznetsov & Udoratina 2009).

- Harzburgito: rocha residual mantélica dominante, formando a maior parte da seção ofiolítica.
Dunito, e mais raramente wherlito, ocorrem associados. Na maioria das vezes, as rochas ultramáficas
encontram-se serpentinizadas;
- Piroxenito e Gabro: representam cumulados ultramáficos e a seção plutônica de um edifício
ofiolítico, respectivamente;
- Dolerito/diabásio: correlacionável à seção subvulcânica de uma seqüência ofiolítica. Uma
característica interessante é a presença de fenocristais de plagioclásio orientados segundo uma
direção preferencial, provavelmente por fluxo ígneo. Enfatiza-se a presença de bolsões e vênulas de
plagiogranito encaixados em rochas doleríticas isotrópicas.

É importante ressaltar que a unidade composta por pillow lavas está ausente em toda a área de
ocorrência – aproximadamente 60 km – do ofiolito Voykar.
71
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.9. Mapa geológico do ofiolito Voykar – Urais Polares, Rússia – na área-tipo ao longo do Rio
Lagortaju.

72
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Figura 3.10. Perfil geológico ao longo do Rio Lagortaju, na seção-tipo do ofiolito Voykar. A) Peridotito
serpentinizado. B) Piroxenito. C) Gabro. D) Dolerito/diabásio com fenocristais de plagioclásio orientados por
fluxo magmático. E) Plagiogranito.

As rochas máficas do ofiolito Voykar possuem afinidade geoquímica com rochas do tipo MORB
(Saveliev et al. 1999, Pertsev et al. 2003). Dados isotópicos Sm-Nd – rocha total na seqüência
máfico- ultramáfica – disponíveis para o Maciço indicam um período de cristalização em cerca de
387 ± 34 Ma (Saveliev et al. 1999). Devido à falta de precisão desta datação e com intuito de se
obter dados mais confiáveis, a doutoranda coletou cinco amostras de plagiogranito para datação pelo
método U-Pb LA-ICP-MS (vide metodologia no capítulo 1). Os resultados geocronológicos –
primeira datação U-Pb para o Maciço de Voykar - encontram-se a seguir e, como resultado da
cooperação científica entre a doutoranda e os russos, foi publicado um trabalho no VII SSAGI –
South American Symposium on Isotope Geology (Brasília, 25 a 28 de julho de 2010), disposto no
final deste capítulo (Apêndice 3.1), e está sendo produzido um artigo intitulado “LA-ICPMS U-Pb
73
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
data for the Voykar Ophiolite Massif: constraints for the age of oceanic crust generation in Polar
Urals region”, a ser submetido ao periódico Geology.
O estudo geocronológico realizado sobre cinco amostras de plagiogranito, coletados na calha do
Rio Lagortaju (Figura 3.9), foram realizados no Laboratório de Geocronologia da Universidade de
Brasília. Foram analisados 16 spots em 16 cristais, sendo a distribuição das análises disposta no
diagrama concórdia da Figura 3.11. Trata-se de zircões com tamanho médio de 100 µm, límpidos e
poucas inclusões. Os zircões analisados possuem conteúdos de U e Th no intervalo entre 11-356
ppm e 4-390 ppm, respectivamente, indicando razões 232Th/238U relativamente altas, variando entre
0,24 e 1,09, típicas de grãos derivados de rochas magmáticas. Levando-se em consideração os
206
zircões mais concordantes (< 10% de discordância), conclui-se que a idade Pb/238U de 427 ± 7
Ma é a melhor aproximação para o evento de cristalização magmática das amostras de
plagiogranito, e conseqüentemente, para a geração de crosta oceânica no setor Polar dos Montes
Urais - Rússia.

Figura 3.11. Diagrama concórdia das amostras de plagiogranito (P-42).

74
Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
APÊNDICE 3.1 – Trabalho completo publicado no VII SSAGI (Brasília, Julho de
2010)

First U-Pb dating of a plagiogranite from Voykar massif, Polar Urals,


Russia
Gláucia Queiroga1, Maximiliano Martins2, Ksenia Kulikova3, Sergey Sychev4, Nikolay
Kusnetsov5, Farid Chemale Jr.6, Ivo Dussin7, Elton Dantas8
1
DEGEO/EM-UFOP, Morro do Cruzeiro, CEP 35400-000, Ouro Preto-MG,
[email protected], 2CGE/CPMTC/IGC-UFMG, 3RAS-Syktvykar, Rússia, 4Geol.
Inst., Saint Petesburg, Rússia, 5Geol. Inst., Moscow, Rússia, 6NUGEO-UFS, 7CPGEO/USP, 8UnB

INTRODUCTION

The Uralides Orogen is one of the main orogenic belts of the Paleozoic age in the world and
was formed during the assembly of Pangaea. Since the Uralides has not extensive overprinted by
post-orogenic processes and younger orogenies and plate break-up and dispersal, (Alvarez-Marron
2002), it preserves very well many petrotectonic assemblage. The Voykar massif, located at Polar
Urals, Russia (Figure 3.12), is an ophiolite assemblage of mantle tectonite, gabbro-ultramafic
plutonic complex and sheeted dike complex, with a MORB-type source. Pillow lava units are
missing from all ophiolite massifs of the Voykar zone. The available geochronological data in this
region is scarce, based on Rb-Sr mineral isochron and Sm-Nd dating (e.g. Buyakayte et al. 1983 and
Sharma et al. 1995), respectively. U-Pb in situ zircon analyses (LA-MC-ICPMS) were carried out in
a plagiogranite vein associated with dolerite to constrain the magmatic age of the Voykar massif.

GEOLOGICAL SETTING

The Voykar ophiolite occurs within large allocthonous complexes of oceanic and island-arc
lithosphere (up to 200 km long, about 20-30 km wide, and more than 4 km thick). These complexes
overthrust deformed units of the East-European paleo-continent. Most of the Voykar massif is
composed of tectonized mantle harzburgites and dunites. In the central part of the Voykar massif, the
plutonic units are exposed at the north-western (Lagorta area) and south-eastern region (Trubaju
area) (Figure 3.13). In both regions, the base of the allochthon is marked by exposures of garnet-
zoisite amphibole and locally blueschists. The ophiolite sequence includes the following units
(Pertsev et al. 2003) (Figure 3.13):
Harzburgite is the dominant mantle residual rock, forming the most part (6-7 km in thick) of
the ophiolite section. Dunites and, more rarely, wehrlites occur within harzburgites as veins, dikes

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Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
and lens-like bodies, with gabbro-ultramafic section. Interlayered dunito, wehrlite and
clinopyroxene (100 to 700 m thick) crop out along the eastern boundary of the harzburgite body and
locally along its western boundary, near the base of the allochthon. Rare interstitial diopside and/or
anorthite irregularly impregnate dunite; a stronger clinopyroxene enrichment occurs as lens-shaped
werhlite layers with foliated diopside aggregates. Gabbronorite, layered and banded gabbro,
partially metamorphosed under greenschist-facies conditions, occur eastwards of wehrlite and
pyroxenite, upward in the section. These rocks are intruded by hornblende pegmatoid gabbro or
compose blocks 0.5 to 1.5 km in size within massive isotropic gabbro. Diabase dikes (sheeted dikes
of both pyroxene and plagiophyric rocks and later plagiophyric dike swarms) crop out east of the
gabbro units and are closely akin to isotropic amphibole gabbro, texture of which varies from fine-
grained to pegmatite. Abundant screens and xenoliths of dunite, metamorphosed harzburgite,
wehrlite and gabbronorite 1 to 10 m sized occur within dikes. The diabases and isotropic amphibole
gabbros are intruded by tonalite to the south-east of the massif.

Figure 3.12.
Geological map of
Polar Urals showing
the distribution of
the Voykar massif.

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Caracterização de restos de litosfera oceânica do Orógeno Araçuaí entre os paralelos 17º e 21ºS
Sharma et al. (1995) postulated that the Voykar crustal and mantle rocks are complementary
in terms of Nd and Sr isotopic compositions. Their 387±34 Ma Sm-Nd age (whole-rock isochron for
a serie of ultramafic and mafic rocks) is constrained by dating of tonalites which cross-cut the
eastern margin of the Voykar ophiolite (400±10 Ma; Buyakayte et al. 1983).

METHOD AND RESULTS

Plagiogranite samples of the Voykar massif, in its northeast portion, were collected for
geochronological dating (Figures 3.13 and 3.14). After heavy mineral separation, all zircons were
mounted in epoxy in 2.5-cm-diameter circular grain mounts and polished until the zircons were just
revealed. Handpicked zircons were micro photographed in transmitted and reflected light. Zircon
grains are dated with laser ablation microprobe (New Wave UP213) coupled to a MC-ICP-MS
(Neptune) at the Isotope Laboratory of Brasília University (UnB).

Figure 3.13. Geological sketch map showing the sampled plagiogranite associated to dolerites.

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Figure 3.14. Concordia diagram for the plagiogranite samples.

The zircon crystals recovered are colorless, prismatic and very clean. U-Pb analyses yielded
concordant results, indicating a magmatic crystallization age of 427 ± 7 Ma (Figure 3.14).

CONCLUSIONS

The U-Pb age from magmatic zircon grains of a plagiogranite sample introduce a different
view on the age of the Voykar ophiolite. The new zircons age obtained for the Voykar ophiolite (427
± 7 Ma; Wenlock Period or Middle Silurian) constrains the timing of oceanic crust generation in the
precursor basin of the northern Uralides region. The reported island-arc sequences were dated at 400
± 10 Ma, whereas the first subduction related magmatism of Andean-I-type granites of Urals
Mountains were dated to about 370 to 350 Ma (Upper Devonian to Lower Carboniferous) (Bea et al.
2002), suggesting a relative time between the Voykar ophiolite and the beginning of subduction
process in the Urals mountains. .
The 387 ± 34 Ma age for the massif, obtained by Sharma et al. (1995), is thus not precise and
too discordant with the starting time of the rifting stage in the development of the northern Uralides
(Late Cambrian – Early Ordovician).

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