USP - Revista - FD - Vol87 - 1992 PDF
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REWSTA
DA
FACULDADE DE DIREITO
VOLUME 87
1992
F A C U L D A D E D E DIREITO
HISTORIA DO DIREITO
Universidade, Cultura e Direito Romano 39
Josi Carlos MoreiraAlves
A exegese de D. 33,2,15,1 (Marcelo, I.XIII dig.) em
tema de constituicao tacita da servidao predial por
'destinacao do proprietario" 65
Eduardo Cisar Silveira Vita Marchi
DIREITO PRIVADO
- A boa-fe na formacao dos contratos no direito
brasileiro 79
- La bonne foi dans la formation du contrat en Droit
Bresilien .....91
Antonio Junqueira deAzevedo
- Las copias de obras protegidas por el Derecho de
Autor realizadas en Brasil para la docencia o la
investigation 101
Antonio Chaves
A questao da legitimidade da clausula de indexacao
de contrato pela variacao de moeda estrangeira 113
Carlos Alberto Bittar
- Retrocessao 131
Carlos Alberto Dabus Maluf
DIREITO PROCESSUAL
- Aspectos juridicos da chamada "pichacao" e sobre a
utilizagao da acao civil publica para tutela do
interesse difuso a protecao da est6tica urbana 155
Rodolfo de Camargo Mancuso
DIREITO ADMINISTRATIVO
- Principio da descentralizacao administrativa
atravds da criacao de empresas estatais 185
Marcos Juruena Villela Souto
DIREITO INTERNACIONAL
Lex mercatoria Horizonte e fronteira do comercio
international 213
Hermes Marcelo Huck
MEDICINA FORENSE
- Tanatologia Forense 239
Jose Maria Marlet Pareta
- A importancia da fotografia judiciaria na pericia 253
Jose" Lopes Zarzuela
LEGAL HISTORY
University, Culture and Roman Law 39
Jose Carlos Moreira Alves
Exegesis of D. 33,2,15,1 (Marcelo, I.XIII dig.) in
the theme of the tacit constitution of real servitude
by "destination of the proprietor'' 65
Eduardo Cesar Silveira Vita Marchi
PRIVATE LAW
- The good faith in the formation of contracts 79
- La bonne foi dans la formation du contrat en Droit
Bresilien 91
Antonio Junqueira deAzevedo
- The copies of works protected by copyright made
in Brazil for the teaching or the investigation 101
Antonio Chaves
Clause of indexation: provision based on the change
of value of the U.S. courrency. Lawfulness 113
Carlos Alberto Bittar
- Retrocession 131
Carlos Alberto Dabus Maluf
PROCESSUALLAW
- About the phenomenon "graffiting" and about the
using of public civil action in order to protest the
diffuse interest to urban aesthetics 155
Rodolfo de Camargo Mancuso
ADMINISTRATIVE LAW
The principle of administrative decentralization
through the creation of state companies 185
Marcos Juruena Villela Souto
INTERNATIONAL LAW
Lex mercatoria Horizon and border to the
international trade 213
Hermes Marcelo Huck
FORENSIC MEDICINE
- Forensic Thanatology 239
Jose" Maria Marlet Pareta
The importance of the judiciary photography in
expert examinations 253
Jose Lopes Zarzuela
Resumo:
Ihering e com razao considerado urn dos maiores juristas do
seculo XIX. Sua interpretacao da posse e m Direito R o m a n o ultrapassou a
de Savigny e foi consagrada pelo Codigo Civil alemao de 1900 b e m como
pelos que o sucederam, como o nosso. C o m sua obra-prima sobre O
espirito do Direito Romano ele aparece como precursor da Sociologia
Juridica; e seu livro DerZweck im Recht (A ideia definalidadeno Direito)
mostra-o filosofo do Direito, com ideias profundas e sempre atuais sobre
as relacoes entre o Direito e Sociedade.
Abstract:
Ihering figures rightly among the greatest jurists of the XlXth.
century: he is outstanding as a R o m a n and Civil law lawyer, as a forerunner
of legal sociology and as a legal philosopher. His interpretation of the
R o m a n law concept of "possession" was consecrated by the German Civil
Code of 1900 and by those who followed it. Ihering's master work The spirit
of Roman Law in the different phases of its development and The idea of
purpose in Law give evidence of his farsighted ideas about the relations
between L a w and Society.
Sumario:
I - Ihering, Romanista e Civilista.
II - Ihering, Sociologo do Direito.
Ill - Ihering, Filosofo do Direito.
I V - Bibliografia.
no Direito e a c61ebre>4 lutapelo Direito, Ihering foi alem disso escritor de pulso,
dono de estilo claro e expressivo.
Pretendemos abord£-lo aqui principalmente enquanto romanista,
deixando para o fim deste pequeno estudo a breve consideracao dos outros
aspectos de sua personalidade c o m o jurista.
2. E m seu El Derecho Privado Romano (3a ed., Mexico, 1968, v. 1), Margadant resume
excelentemente: "... Savigny da a posse base estreita, permitindo que o legislador a amplie em casos
determinados, como no da 'possessio sine animo', enquanto Ihering coloca a posse sobre a base
ampla da detenqao, permitindo que alguns detentores sejam excluidos das vantagens da posse, como
no caso dum detentor mero representante do possuidor ou do proprietdrio" (trad, nossa). E
acrescenta: "Nos dois primeiros cddigos mexicanos predominou a teoria de Savigny; no codigo atual
encontramos, pelo contrario, a influencia de Ihering (arts. 790-793 do Codigo Civil mexicano).
Alias, o codigo distingue a posse origindria ('animo domini') da derivada ('possessio sine animo')
(art. 791)". A s observacpes citadas e por n6s traduzidas acham-se a p. 236 da obra mencionada.
/
20
todo o meu livro se as houvesse conhecido; pois, as ideias fundamentals que nele
ia exporjd se encontram, comperfeita clareza e notdvel fecundidade de concepqdo,
expostas nas obras desse vigoroso pensador" ?
Eis as breves reflexoes que nos vem a mente quando evocamos a
grande figura de Ihering, cujo centenario da morte e lembrado este ano.
IV BIBLIOGRAFIA
3. Para apanhado geral sobre a Escola Historica, veja-se de Alexandre Correia, A concepcao
hist6rica do Direito e do Estado in Ensaios Politicos e Filosdficos, Sao Paulo, Convivio-EDUSP
1984, p. 45-140.
ESPIRITO D O PROCESSO CIVIL M O D E R N O
NA OBRA DE RUDOLF V O N IHERING
Resumo:
Comemora-se, neste mes, o centenario da morte do celebre
professor de direito romano, Rudolf von Ihering, ocorrida e m Gotting, no
dia 20 de setembro de 1892. A producao cientifica de Ihering e
caracterizada por dois momentos b e m nitidos: o primeiro, pela influencia
da Escola Historica (Ihering foi aluno de Savigny); o segundo, pela
narracao de cunho logico-estrutural, decorrente da influencia do
positivismo filosofico. O direito processual, no seculo XIX, era estudado
como mero apendice do direito civil. Todavia, Ihering, nos escritos de
epoca madura, fundado no lema 'pelo direito romano, mas alem do direito
romano", anteviu e intuiu que, tambem na esfera do direito processual, a
dogmatica alema nao poderia ficar eternamente atrelada as fontes romanas
classicas.
Abstract:
The centenary of death of the notable professor of R o m a n law,
Rudolf von Ihering, wich took place, in Gottingen, on September, 20 tn ,
1892, is n o w celebrated. His scientific production is characterized by the
existence of two very distinguished moments: the first, under the influence
of the so called Historical School (Ihering had been a pupil of Savigny); the
second, filled by logically-structured texts of philosophical-positivism.
During the X I X century civil procedure was studied as a mere appendix to
civil law. Yet, Ihering, on his writtings of a more mature period, moved by
the idea of "for the Roman law, but beyond Roman law", has foreseen that
even inside the sphere of civil procedure, the german dogmatism could not
remain attached to the classical roman sources.
Sumario:
1. Introducao.
2. Tendencias do processo civil no seculo X J X .
3. D i m e n s a o social do processo civil.
3.1. Administracao da justica.
3.2. Atributos e garantias do juiz.
24
1. INTRODUgAO.
1. Franz Wieacker, Storia del diritto privato moderno (trad. ital. Sandro A. Fusco) Milano,
Giuffre, 1980, v. 2, p. 150-1 (= Histdria do direito privado moderno (trad. port. A. M.' Botelho
Hespanha), Lisboa, Fund. Calouste Gulbenkian, 1980, p. 514).
2. V., a respeito, Mario G. Losano, Introduqao a trad. ital. da obra Der Zweck im Recht,
Torino, Einaudi, 1972, passim.
3. Cf. John MacDonell e Edward Manson, Rudolf von Ihering, in Great Jurists of the World
J v
London, J. Murray, 1913, p. 590. ™'
25
6. Destacam-se sobre esse assunto a obra de Savigny (Geschichte des romischen Rectus im
Mittelalter, Heidelberg, 1815-1831, vs. 1-7) e, especificamente sobre processo, a de seu aluno
Bethmann-Hollweg (Grundriss zu Vorlesungen iiber den Gemeinen Civilprocess, Berlin, 1821), b e m
como, de epoca posterior, as de Wilhelm E n d e m a n n (Das deutsche Zivilprozessrecht, Heidelberg,
1868) e de Georg W . Wetzell (System des ordentlichen Zivilprozesses, Leipzig, 1878).
7. V . Knut Wolfgang Norr, La scuola storica, il processo civile e il diritto delle azioni, Rivista
di diritto processuale, n.l, p. 23-4,1981, explicitando que tais assercoes ja haviam sido exaradas e m
sua obra Naturrecht und Zivilprozess, Tubingen, 1976).
8. V., a proposito, a rica exposigao de Giovanni Tarello, Dottrine del processo civile: studi
storici sulla formazione del diritto processuale civile (Aspetti della dottrina processualistic
germanica nel secolo XIX), Bologna, Mulino, 1989, p. 23 e ss..
9. Ueber Litis Contestation und Urtheil nach classischem Romischem Recht, Zurich,
Gerner'sche, 1827.
27
14. Die Reflexwirkungen Oder die Rukwirkung rechtlicher Thatsachen auf dritte Personen,
Jahrbucher fur die Dogmatik des heuting romischen und deutschen Privatrechts, v. 10, p. 245-275,
1871. Recorde-se que o exemplo que se tornou famoso acerca do aludido fenomeno da vida fisica
e aquele representado pela pedra atirada n u m lago. A o redor do ponto e m que cai o objeto
formam-se vagas concentricas. "Houve ai um efeito querido e previsto - acertar a pedra em dado
lugar do lago; as vagas que se formaram foram efeitos reflexos" (cf. Moacyr Amaral Santos,
Primeiras linhas de direito processual civil, 3a. ed., Sao Paulo, Saraiva, 1979, v. 3, p. 67).
15. V., a prop6sito, Pasquale Landi, La tutela processuale dell'ambiente, Padova, Cedam, 1991,
p. 165, que invoca, dentre outros, o importante ensaio de Carnelutti, Efficacia diretta ed efficacia
riflessa della cosa giudicata, in Studi di diritto processuale civile, Padova, Cedam, 1925, v. 1, p. 429
ess..
16. L'esprit...ob.cit., t. 4, p. 15 e ss. (= Geist des...ob cit, v. 3, p. 17 e ss.).
29
17. Johann Julius Wilhelm von Planck, Die Mehrheit der Rechtsstreigkeiten im Prozessrecht,
Gottingen, 1844, p. 121, que, embora utilizando-se do metodo historico-sistematico, analisa
detidamente varios institutos processuais, como, e. g., o litisconsorcio, c o m a distincao entre
legitimacao processual e legitimacao de direito substantial.
18. Bernhard Windscheid, Die actio des romischen Civilrecht vom Standpunkte des heutingen
Rechts, Dusseldorf, 1856, cuja obra iria dar origem a difundida polemica travada c o m T. Muther,
ensejando que, da distingao do direito subjetivo material passivel de tutela do denominado
direito de acao, de natureza publica, o tema da acao fosse definitivamente inserido no contexto
do direito processual.
19. Oskar von Billow, Die Lehre von den Prozesseinreden und die Prozessvoraussetzungen,
Giessen, 1868.
20. V., acerca da Interessenjurisprudenz, Enrico Paresce, Ihering Rudolf (von), (verbete), in
Novissimo Digesto Italiano, Torino, Utet, 1962, v. 8, p. 152; Bernardo Gesche, Los fines del
derecho y las investigaciones juridicas, in Ihering y la lucha por el derecho, Revista de Ciencias
Sociales, Universidad de Valparaiso, vs. 10-11, p. 519 e ss., 1976-1977.
30
4. A GUISA DE CONCLUSAO.
BIBLIOGRAF1A
32. Cf. Lodovico Mortara, Commentario del Codice e delle leggi di procedura civile 2a ed
Milano, Vallardi, 1923, v.2, p. 538 (a la. ed. 6 de 1900). V., sobre a importancia da contribuicao de
Mortara para a ciencia do processo, Salvatore Satta, Dalla procedura civile al diritto processuale
civile, Rivista trimestrale di diritto eprocedura civile, 1964, p. 28 e ss..
35
Resumo:
O artigo examina a universidade, suas origens, faz u m breve
relato historico e a seguir trata do ius ubique docendi que significava a
autonomia, vigorante na Idade Media. Aborda mudancas advindas do
Iluminismo e da Reforma Protestante, o abandono da universitas
scientiarum e a passagem da universidade para u m conjunto de escolas
superiores reunidas.
Discute a seguir os fins da universidade e as diferentes visoes
acerca deles, os problemas relativos a transmissao da cultura, da
investigacao cientifica, transmissao do saber e do ensino dos professores.
Analisa o estudo do Direito R o m a n o , as pesquisas acerca do
corpus iuris civilis, desde a Idade Media ate os dias atuais, as glossas, o mos
italicus e o mos gallicus. A s visoes medieval e moderna do estudo do
Direito R o m a n o e seus reflexos na Europa e no Brasil. Finaliza
salientando a importancia do estudo do Direito R o m a n o e do latim para a
manutencao da cultura de base greco-romana.
Abstract:
The article examines the university, its origins; it makes a brief
historic report and after that deals with the ius ubique docendi that meant
autonomy, in force during the middle ages. It shows changes resulting from
Illuminism and from the Protestant Reform, the abandonment of the
universitas scientiarium and the transformation of the university into a
group of colleges together.
It discusses after that the goals of the university and the
different views about them, the problems connected to the transmission of
culture, scientific investigation, transmission of knowledge and of the
teaching of the professors.
It analyses the study of R o m a n Law, the research about the
corpus iuris civilis, from the middle ages up to the present days, the glossas,
the mos italicus and the mos gallicus. The medieval and modern views of
the study of the R o m a n L a w and its reflexes in Europe and in Brazil. It
ends by highlighting the importance of the study of R o m a n L a w and Latin
for the preservation a culture based in R o m e and Greece.
40
Sumario:
1. A universidade das origens a atualidade.
2. O sfinsa que visa a universidade.
3. A universidade e o estudo do direito romano.
4. Universidade, direito romano e formacao cultural.
8. Ob.tit.,p. 102.
9. Ibid., p. 83.
12. Europa und das Romische Recht, Miichen und Berlin, 1953, p. 67.
48
direito romano, e que, e m pouco, adquiriu fama de tal ordem que atraiu grande
numero de estudantes de outros paises, para os quais, e m sua volta, traziam os
conhecimentos ah adquiridos. Esse estudo cujo resultado teve u m carater
cientifico, datando dai, c o m o observou Engelmann, 13 o initio da ciencia juridica
do m u n d o otidental nao teve finalidade meramente especulativa, mas visou,
c o m a aplicacao pratica do direito romano que defluia do Corpus Iuris Ciuilis, a
atender a exigencias sociais, economicas e especialmente politicas existentes na
Baixa Idade Media. N o s meados do seculo XIII, Acursio compoe a Magna
Glossa, t a m b e m denominada Glossa Ordinaria ou simplesmente Glossa,
compilacao das glosas feitas ao Corpus Iuris Ciuilis pelos seus antecessors. Essa
obra, que 6 o sintoma da decadencia da Escola dos Glosadores, teve larga
aceitacao, e adquiriu enorme autoridade na pratica juridica e no ensino do
direito, o que estreitou as relacoes entre a teoria e a pratica, dando ensejo ao
surgimento de novo metodo para o estudo do direito romano.
A o s glosadores sucedem os pos-glosadores ou comentaristas, que
abandonam o metodo da interpretacao Uteral do Corpus Iuris Ciuilis adotado
pelos glosadores e criam a doutrina juridica sistematizada, utilizando-se, para
essa sistematizacao, da escolastica. O estudo do Corpus Iuris Ciuilis pelos
glosadores tinha, tambem, sentido pratico, porque consideravam eles que o
direito romano justinianeu era direito aplicavel, m a s nao levaram e m conta a
dificuldade da sua aplicacao pela vigencia de outras fontes juridicas c o m o o
costume, o direito estatutario fundado no direito germanico e o direito canonico.
Para veneer essa dificuldade, os pos-glosadores adotam outra orientacao de
estudo o mos italicus, por ter sido a Italia onde surgiu e mais se desenvolveu,
para dai propagar-se por outros paises. E m forma principalmente de
comentarios, e m que atentavam tambem para as fontes juridicas locais e
examinavam a casuistica, esforcaram-se os pos-glosadores e m dar organicamente
a exegese dos diversos titulos do Corpus Iuris Ciuilis - examinados nao
diretamente m a s por intermedio das glosas -, procurando extrair deles principios
e teorias que se ajustassem as necessidades pralicas de sua epoca. C o m isso, o
direito romano a aplicar-se na pratica nao 6 o que decorre do estudo direto do
13. Die Wiedergeburt der Rechtskultur in Italien durch die wissenschaftliche Lehre, Leipzig,
1939, p. 16 e ss.
49
Iuris Ciuilis, e m virtude das criticas que Ihe fez com o descobrimento das
interpolates justinian6ias. N o seculo XVII, declina a influencia desse
raovimento, exceto na Holanda, onde mant6m seu prestigio, e onde os
humanistas nao se limitam ao estudo historico do direito romano, mas tem e m
vista sua utilizacao pratica, sem os excessos dos comentaristas, c o m o se ve na
obra de Voetius. O mos italicus, por6m, persiste. N a Alemanha, no initio dessa
centuria, comeca a expandir-se o brocardo quidquid non agnoscit glossa nee
agnoscit curia, a significar que as partes do Corpus Iuris Ciuilis que nao
houvessem sido glosadas nao eram aplicadas pelos tribunals; e, na segunda
metade do seculo, comeca a ser usada a expressao usus modemus Pandectarum
c o m o denominacao do direito c o m u m utilizado pelos alemaes.14 Para a
decadencia da Escola Culta varios fatores conspiraram: o exagero das sutilezas e
das minucias especialmente de naturezafilologica,e m que incidiram muitos de
seus adeptos, fez avolumar-se a critica de que eram eles antes antiquarios do que
juristas; o proposito dessa Escola de libertar a pratica forense da autoridade da
communis opinio doctorum c o m o estabelecimento, pelo estudo das fontes
romanas, de doutrinas juridicas mais justas e racionais esbarrou com a
resistencia da propria praxis, que se adaptava melhor ao mos italicus; e a reacao
que comecou a surgir contra a demasiada preferencia que se dava ao direito
romano, nas universidades e no foro, e m detrimento dos direitos nationals.
N o seculo XVIII, a Escola do Direito Natural passa a encarar o
direito romano sob nova otica. C o m o , para os jusnaturalistas, o que importava
era o direito que resultava diretamente da razao direito uno, imutavel e eterno,
que, portanto,- nao se formava historicamente , o direito romano so nao sofre
golpe mais profundo, porque serve ele, para os seguidores dessa corrente, que
17. II significato dell'insegnamento del diritto romano oggi. In: Romanitas, 1970, v. 9, p. 441.
54
optar entre o direito romano e a historia dos direitos antigos, havendo manifesta
preferencia pela ultima dessas disciplinas. Foi nesse ambiente que Koschaker,
e m 1938, se levantou para alertar os romanistas da crise que se avolumara na
Alemanha, e que, c o m intensidade maior ou menor, se verificava tambem e m
outros paises, e m que o estudo universitario do direito romano se voltara para o
seu aspecto historico, c o m enfase, inclusive para a investigacao das interpolates.
N o opusculo que entao escreveu, Koschaker manifestou a opiniao de que, para
veneer esse movimento de impopularidade, seria necessaria a atualizacao do
direito romano, simbolizada na expressao ziiruck zu Savigny (de volta a Savigny),
e isso para dar algum interesse pratico a esse estudo, certo c o m o Ihe parecia que,
por ter passado o direito romano a ser estudado como estrito fenomeno
historico, se tornara antipatico aos juristas modernos, e tido, de certa forma,
c o m o intruso nas Faculdades de Direito.18 N a Italia, pouco depois de ser
publicado o opusculo de Koschaker, Odoardo Carrelli,19 procurou demonstrar
que a crise nao era cientifica, m a s de interesse dos juristas contemporaneos pelo
direito de R o m a . Entendia, porem, Carrelli que nao deveria adotar a proposta de
Koschaker no sentido da atualizaqdo que decorria da expressao ziiruck zu
Savigny, porquanto, se se limitassem os romanistas a simples elaboracao de
introduces historicas as monografias de direito moderno, e m breve essa
atividade se tornaria estereotipada, para desaparecer e m seguida. Dessa crise se
ocuparam varios outros romanistas italianos, destacando-se, dentre eles,
Giuseppe Grosso, pela analise que fez dos elementos que, a seu ver, seriam
adversos ao estudo universitario do direito romano: movimentos nacionalistas,
c o m o o nacional-socialismo alemao; a crise de valores de que padecem os
tempos modernos, c o m o anti-historicismo inerente ao abstrato dogmatismo
juridico; ideologias, c o m o a marxista; e a estreita visao da falta de utihdade
pratica imediata desse estudo. N a Franca, c o m a reforma dos estudos juridicos
realizada e m 27 de marco de 1954, nos dois anos initials passou-se a estudar
Historia das Instituiqoes e dos Fatos Sociais, e, nos terceiro e quarto, para os
optantes da especializacao e m direito privado, direito romano e antigo direito
18. Die Krise des romischen Rechts und die romanistische Rechtswissenschaft, Miinchen und
Berlin, s.d., p. 83-4.
19. Apud Guarino, L'ordinamento giuridico romano, 3a ed., Napoles, 1959, p. 13.
55
22. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceard, Fortaleza, v.30, n.2, p.
47,jul-dez.l989.
isso porque,
27. Lo studio del diritto romano nelle universita jugoslave. In: CONGRESSO
INTERNATIONALE DI DIRITTO ROMANO E DI STORIA DEL DIRITTO, 27-28-29-IX-1948,
Verona. Atti... Milano, 1951, v.2, p. 486.
60
33. Studio e insegnamento del diritto romano (inchiesta: prima puntata). Labeo, 1956, p. 62.
62
BIBLIOGRAFIA
A L V A R E Z S U A R E Z , Ursicino. Horizonte actual del derecho romano. Madrid,
1944.
ALVES, Jose Carlos Moreira. A s vicissitudes do ensino do direito romano.
Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceard,
Fortaleza, v.30, n.2, jul/dez. 1989.
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1944.
C A R N E L U T n , Francesco. Studio e insegnamento del diritto romano (inchiesta:
prima puntata). Rivista Labeo, 1956.
C R U Z , Guilherme Braga da. Origem e evolucao da universidade. In: Obras
Esparsas: estudos doutrindrios e sociais. Coimbra, 1985. v.4.
. O problema da universidade. In: Obras Esparsas: estudos doutrindrios e
sociais. Coimbra, 1985. v.4.
. Relacao do latim com o direito. In: Obras Esparsas: estudos doutrindrios e
sociais. Coimbra, 1985. v.4.
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Madrid, 1900.
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wissenschaftliche Lehre. Leipzig, 1939.
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H O R V A T . Lo studio del diritto romano nelle universita jugoslave. In:
CONGRESSO INTERNAZIONALE DI DIRITTO ROMANO E DI STORIA DEL
DIRITTO, 27-28-29-LX-1948, Verona. Atti... Milano, 1951. v.2.
K O S C H A K E R , Paul. Europa und das Romische Recht. Munchen und Berlin,
1953.
O R T E G A Y GASSET. El libro de las misiones. 5 s ed. Buenos Aires : Mexico,
1950.
P E R R E T , Jacques. Latin et culture. Bruges, s.c.p., s.d.
63
Resumo:
E m tema de constituigao tacita de servidao predial por
"destinacao do proprietario'' preponderam ainda na doutrina romanistica
os resultados obtidos por Riccobono, que sustentou, com base na
demonstragao de uma serie de interpolacoes, tratar-se tal instituto de u m a
inovagao do direito justinianeu.
Mediante a revisao e releitura dos passos do Digesto
concernentes a materia, e, e m particular, com a prova da substantial
genuinidade do fragmento clavis huius materiae (D. 33,2,15,1), procura o
autor propugnar a refutacao definitiva da tesericcoboniana,mostrando
que o direito romano, e m toda a sua evolugao, nao teria jamais admitido a
constituigao tacita de servidao predial.
Abstract:
Regarding the implied creation of praedial servitudes by "act of
the owner", the prevailing Roman law doctrine is that of Riccobono, stating
(with support of the evidence of a series of interpolations) that such an
institute is an improvement of Justinian's law.
Thanks to the revision and rereading of the Digest's texts
concerning the matter and particularly through the evidence demonstrating
the authenticity of D. 33,2,15,1 (clavis huius materiae), the author tries to
refute Riccobono's doctrine showing that throughout it's long evolution
Roman law never knew the notion of the implied establishment of praedial
servitudes.
I. INTRODUgAO
1. L a destinazione del padre di famiglia, Rivista italiana per le scienze giuridiche, n. 21, p. 380-
421,1896.
67
III.l. A "fattispecie"
2. Cf. D . 8,2,26 (Paulus, 1. X V ad Sab.) = art. 1.027 do C.C. italiano = art. 695 do C.C.
brasileiro.
3. Bartolus a Saxoferrato in secundam infortiati partem, Venetiis, 1575, ad legem riqui duas
tabernas", p. 69.
68
7. Julgam interpolado o fecho "ut haec forma...redierit": Ferrini, contranota V in Gluck &
Salkowski, Ausfuhrliche Erlauterung der Pandecten nach Hellfeld ein Commentar, Erlangen, 1889
(trad. ital. de Ferrini, Commentario alle Pandette, serie dos livros X X X - X X X I I , segunda parte,
Milano, Societa Editrice Libraria, 1901, p. 78); Manuale di Pandette, 2 a ed., Milano, Societa
Editrice Libraria, 1900, p. 496, n.2; Bonfante, Istituzioni di diritto romano, 8 a ed., Milano, Vallardi,
1925, p. 345; Corso di diritto romano HI - Diritti reali, R o m a , 1933 (reedicao da la ed. organizada
por Giuliano Bonfante e Giuliano Crifo, Milano, Giuffre, 1972), p. 147; Grosso, In tema di
costituzione tacita di servitu, BIDR, n. 42, p. 327-328,1934; Le servitu prediali nel diritto romano,
Torino, Giappichelli, 1969, p. 223; Usufrutto e figure affini nel diritto romano, 2 a ed., Torino,
Giappichelli, 1958, p. 199; Frezza, Appunti esegetici in tema di modi pretorii di costituzione
dell'usufrutto e delle servitu prediali, Rivista dell' Universita di Cagliari, n. 30, p. 21, 1933-1934;
Biondi (com excecao das palavras "donee usus fructus permanet"), La categoria romana delle
"servitutes", Milano, Societa Editrice Vita e Pensiero, 1938, p. 225-227; Le servitu prediali nel diritto
romano - Corso di lezioni, 2 a ed., Milano, Giuffre, 1954, p.. 289-291; Ciapessoni (com excecao das
palavras "donee usus fructus permanet"), "Servitus personae" e "usus personae", in Per il XW
centenario della codificazione di Giustiniano, Pavia, 1934, p. 920 ss.; Solazzi (modificado ja a partir
de "nisi prius"), Requisiti e modi di costituzione delle servitu prediali, Napoli, Jovene, 1947, p. 186
ss.; "Servitutem debere", IURA, n. 2, p. 13, 1951; Bonet, Correa & Calderdn (com excecao das
palavras finais "sive donec.redierit"), Sobre la supuestarestitutiontacita de las servidumbres en
las fuentes juridicas romanas, AHDE, n. 19, p. 326-328,1948-49; Crifo (com excecao das palavras
finais "sive donec...redierit"), Destinazione del padre di famiglia (Diritto R o m a n o e intermedio) in
Enciclopedia del diritto, Milano, Giuffre, 1963, v. XII, p. 309-310 e n. 13; e Reggi, Note anonime ai
"digesta" di Marcello, Studi Parmensi, n. 4, p. 60-61,1954.
71
8. Ob.tit.,p. 80 ss.
9. Ob.tit.,p. 83.
72
se obter a passagem. Nao nos parece que esta legitimidade, como sustenta
Astolfi, possa ser citada como prova da classicidade do passo e m exame. D o
exame e m conjunto da "fattispetie" resulta, alem da necessidade futura para o
herdeiro daquela servidao necessaria, tambem a necessidade imediata do
usufrutuario de obter o aditus. E m u m a tal situacao a prestagao do acesso e
exatamente, como declaram as fontes D. 30,44,9 e D. 7,6,1,1-4 - onus do
herdeiro. E m D. 33,2,15,1, como dissemos, concede-se a possibilidade ao
herdeiro de opor a exceptio doli contra o legatario do im6vel encravante a fim de
que este preste o acesso ao usufrutuario; e lfcito, porem, pensar-se que, caso o
herdeiro nao procedesse de tal maneira, o usufrutuario teria a sua disposigao
u m a vindicatio ususfructus contra aquele a fim de obter a passagem. Assim, a
legitimidade do herdeiro para a exceptio doli e perfeitamente logica, ainda que se
admitisse, contrariamente as nossas ideias e aquelas de Astolfi, que a solugao
classica se referisse unicamente a passagem temporanea e m favor do
usufrutuario. Tal raciocinio nao pode, portanto, constituir-se e m u m elemento
probatorio da tese segundo a qual a decisao genuina contemplaria u m a
verdadeira constituigao de servidao.
D e outro lado, do exame de D. 33,2,15,1 observa-se que, ao
contrario do que afirma Astolfi, n e m m e s m o no direito justinianeu viria
reconhecida u m a verdadeira constituigao tacita de servidao. Oposta pelo
herdeiro a exceptio doli, o legatario teria exito na reivindicatio somente se
prestasse o ius transeundi, ou, e m outros termos, se constituisse a servidao de
passagem. A constituigao da servidao, deste modo, nao se da jamais tacitamente,
u m a vez que o legatario tem unicamente a obrigagao de constitui-la a fim de
obter exito na reivindicatio.
O passo, portanto, e substancialmente genuino, m e s m o tratando-se
de u m resumo compilatorio.
IV. CONCLUSOES
Entendemos, portanto, que ja a jurisprudencia classica, nos casos
e m que de u m a heranga resultasse u m imovel encravado, julgasse, com base na
vontade presumida do de cuius, que haveria u m a obrigagao do destinatario do
74
actio ex testamento e da exceptio doli. Deve-se dizer, porem, que nos escassos
textos que se referem diretamente ao nosso problema, o unico caso contemplado
e aquele no qual o imovel encravado e destinado ao herdeiro, sendo legado per
vindicationem ou per damnationem, ou cedido por fideicomisso, o imovel
encravante: nestas hipoteses, concede-se expressamente ao herdeiro, a fim de
obter a constituigao da servidao necessaria, a exceptio doli contra a reivindicatio
do legatario (D. 33,2,15,1 ou D. 8,5,20 pr.) ou m e s m o contra a petitio
fideicommissi (D. 8,5,20 pr.) proposta pelofideicomissariodo imovel encravante.
A obrigagao de constituigao da servidao necessaria resulta
claramente tanto dos textos que se referem diretamente ao nosso tenia* como,
por exemplo, D. 30,81,3 e D. 8,5,20 pr., quanto indiretamente de outros passos
como D. 8,2,10 (no qual deve-se observar a forma na qual v e m formulada a
segunda pergunta "et de illo...debet").
Atraves destes mecanismos, a jurisprudencia classica, m e s m o sendo
praticamente revogado, e m certo sentido, o rigido principio da constituigao
nominatim, conseguia, de maneira arguta, evitar ferir mortalmente tal regra:
formalmente a servidao continuava a ser constituida expressamente (nominatim),
como exigido pelo ius civile, se b e m que a imposigao da obrigagao de constituir a
servidao necessaria derivasse tacitamente da vontade do testador.
DIREITO PRIVADO
A BOA-FE NA FORMACAO DOS CONTRATOS*
Resumo:
O presente trabalho foi elaborado para as jornadas de
Luisiana, da Associagao Henri Capitant, e m 1992, respondendo a
questionario previamente distribuido.
A utilizagao da nogao de boa-fe no direito brasileiro se da
printipalmente atraves da chamada boa-fe subjetiva. O principio da boa-fe
nao esta formulado como regra geral no direito brasileiro. A boa-fe
subjetiva aparece, porem, e m muitos artigos especificos do Codigo Civil. A
mudanca de mentalidade surge no recente Codigo de Protegao ao
Consumidor (Lei n. 8.078, de 1990) c o m a clara introdugao da boa-fe
objetiva como regra de conduta.
A s consequencias da falta de boa-fe na formagao do contrato,
quando este nao e concluido e m consequencia da ruptura das tratativas,
somente existem, no direito brasileiro, quando se pode falar e m dolo ou
culpa. E x a m e das situagoes e m que o contrato e concluido m a s anulavel
por vicio e dos casos e m que o dolo ou a coagao nao sao determinantes do
negocio.
O conteudo concreto da chamada obrigagao de boa-fe na fase
de formagao contratual. Ha, no direito brasileiro, regras especificas sobre o
dever de informar, mas nao, sobre o dever de confidencialidade e sobre
como agir durante a negotiagao.
A s sangoes no caso de o contrato nao ser concluido, no de ser
concluido mas e m seguida anulado por forga de vicio de formagao, e no de
ser concluido e mantido, apesar de haver vicio.
A questao da oferta, que e vinculante, no direito brasileiro e a
modificagao ocorrida c o m o Codigo de Protegao ao Consumidor. O pre-
contrato no Direito brasileiro e sua grande freqiientia nos casos de venda
de imoveis.
* Este trabalho constitui o relat6rio brasileiro sobre boa-fe na formacao dos contratos para
as "Journees Louisianaises" de 1992, da Association Henri Capitant, e foi feito pelo autor apos
receber consideracpes escritas sobre o mesmo tema, do prof. Alcides Tomasetti Jr.
80
Abstract:
T h e present work was m a d e for the Louisiana Journeys of the
Henri Capitant Association in 1992, in answer to a questionnaire previously
distributed.
T h e use of the notion of good faith in Brazilian L a w is done
mainly through he so called subjective good faith. T h e principle of good
faith is not formulated as a general rule in Brazilian law. Subjective good
faith, though, appears in many specific sections of the Civil Code. T h e
change in m o d e of thought appears in the recent Consumer Protection
C o d e (Law n. 8.078, of 1990) with the clear introduction of the objective
good faith as a rule of behavior.
T h e consequences of the lack of good faith in the formation of
the contract w h e n it is not concluded as a consequence of a rupture in the
dealings, only exist in the Brazilian law w h e n it is possible to speak in
deceitfulness or fault. Examination of the situations in wich the contract is
concluded but voidable by defect and of the cases in which the
deceitfulness or the coercion are not determinants of the business.
T h e tangible content of the so called liability of good faith in
the contractual formation phase. There are, in Brazilian Law, specific rules
about the duty to inform, but not, about the duty of confidentiality and
about h o w to act during negotiations.
T h e sanctions in the event of the contract not being concluded,
in the event of being concluded but soon after m a d e void due to defect of
formation and in the event of being concluded and maintained, in spite of
the existence of defect.
T h e question of the offer that is binding in Brazilian law and
the modification introduced with the Consumer Protection Code. T h e pre-
contract in Brazilian law and its great recurrence in situations of sale of
real estate.
T h e superior courts and the question of good faith. Final
considerations about the principle of objective good faith and h o w it
should be considered by the judge in the contract formation phase.
Suggestion of a principle of equitative distribution of losses for cases of
damage that do not fit in adequately in contractual responsability, in the
extra contractual or Aquilian.
81
partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui
omissdo dolosa, provando-se que sem ela se nao teria celebrado o contrato".
O dever de informar existe, expressamente, tambem no
contrato de seguro (arts. 1.443 a 1.446, do Codigo Civil). Essa regra existe desde
1916, m a s observamos que, neste caso, c o m o na regra expressa sobre o carater
vinculante da oferta, a existencia da norma torna praticamente inutil o apelo a
u m a possivel regra generica de comportamento de boa-fe.
Atualmente, no Cddigo de Proteqdo do Consumidor, ha
varias regras impondo o dever de informar, assim, o art. 6Q, entre os "direitos
basicos" do consumidor, inclui o direito "a informaqdo adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviqos, com especificaqdo correta de quantidade,
caracteristicas, composiqdo, qualidade e preqo; bem como sobre os riscos que
apresentam". H a , ainda, todo u m capitulo (Capitulo V ) Das prdticas comerciais,
c o m exigencia de veracidade na oferta (Segao II) e na publicidade (Segao III).
4. Sangoes
"Se ambas as partes procederam com dolo, nenhumapode alegd-lo, para anular o
ato, ou reclamar indenizaqdo").
5. A questao da oferta
6. O pre-contrato
9. Consideragoes finais
i
94
4. Sanctions
4.2. Si le contrat est conclu et, par la suite, annule en raison d'un
vice de formation, il faut que Pon rende tout ce qu'on a regu et, si cela n'est pas
possible, Pequivalent. D'ailleurs, s'il y a des prejudices inconverts pour le simple
retour au statu quo ante, e'est bien possible, etant caracterise Pacte illicite, de
demander ce qui manque avec fondement a Particle 159 du C.C.
5. La question de l'offre
6. Le pre-contract
9. Dernieres considerations
.1
100
Antonio Chaves
Professor Catedratico aposentado da Faculdade de Direito
da Universidade de Sao Paulo
Consejero de la A T R I P y de la Inter American Bar Association.
Resumo:
Temas abordados no presente artigo:
A s reprodugoes para usos de bibliotecas e arquivos publicos; o
SIR, Servigo de Informagao e Reprografia da Divisao de Biblioteca e
Documentagao da Universidade de Sao Paulo, a microfilmagem, sua
legislagao e relagao c o m os direitos do autor e a U M I , University
Microfilms International.
A reprodugao de fotografias para fins de computagao de dados
e sua relagao com o art. 49 da Lei 5.988 e a Lei 7.646, de 18.12.1987. O fax
simile.
O "Comut", programa de computagao bibliografica, o servigo
de disseminagao seletiva de informagoes (SDI), seu sistema e maneiras de
utiliza-lo. Problemas relationados aos direitos do autor e o referido
programa.
Finaliza c o m u m a proposta de base para estudo da questao da
reprodugao de obras protegidas.
Abstract:
Themes of the present article:
Reproductions for use by libraires and pubhc archives; the
SIR, Information and Reprography service from the Library and
Documentation Division of the University of Sao Paulo, microfilming, its
legislation and relationship with the rights of the author and U M I ,
University Microfilms International.
T h e reproduction of photographs with the objective of data
processing and its connection with the section 49 from the L a w 5.988 and
the L a w 7.646 of December 12,1987. T h e fax simile.
The "Comut", a bibliographical computer program, the service
of selective dissemination of information (SDI), its system and ways to use
it. Problems related to the rights of the author and the mentioned program.
Micropeliculas
Facsimile
Los mismos principios se aplican en lo referente a la reproduction
de partes de obras por medio del fax, cuyo uso se disemina cada dia mas. Hasta
la fecha, de la falta de reglamentacion no resultaron problemas legates ni
surgieron controversias ante los tribunates, aunque, c o m o el xerox y la fotografia,
pueda alterarse y modificarse su original, posibilitando el surgimiento de
problemas hasta de naturaleza penal.
108
Resumo:
Discute-se, entre nos, a respeito da validade de clausula de
indexagao de contrato do dolar turismo, e m razao da proibigao legal de
estipulagao e m moeda estrangeira. Entende-se, no entanto, valida a
previsao, salvo explicita vedagao legal, pois constitui mero mecanismo de
atualizagao de valor, que a inflagao justifica no equilibrio contratual.
Abstract:
In Brazil, payments in foreign courrency can not be stablished
by contrats. However, provisions based on the change of value of dolar
turismo have to be considered valid, unless expressly prohibitted by law, for
they are just money - correcting.
Sumario:
Contrato: clausula de indexagao pela variagao d o denominado dolar turismo -
Ajuste expresso feito pelas partes Inexistencia de obice legal, que se restringe a
estipulagao de pagamento e m m o e d a estrangeira (Dec-lei 857, de 11.9.69)
Contrato de trato sucessivo, e m que a clausula se funda na autonomia da vontade
e realizado de boa-fe Impossibilidade superveniente de alegagao de
ilegitimidade, que feriria o principio da boa-fe, subordinando o devedor aos
sancionamentos proprios.
98/71; JTA 82/430, 88/111, 92/13, 93/62, 94/49, 108/108, 112/64; R T 571/105,
579/35, 614/49 e 637/115).
Realce-se, a proposito, que os tribunals enfrentaram, com
firmeza, sob as diretrizes tragadas pela doutrina, tanto questoes referentes a
corregao e m si, quanto relativas a indexagao com base e m variagao de moeda
estrangeira, declarando a sua plena adequagao ao sistema legal vigente (v. e m
especial as decisoes inseridas e m RJTJESP 81/42 e 98/71; JTA 92/13 e 112/64;
R T 571/105 e 614/49; e JSTF 93/130), inclusive e m questoes que envolviam
titulos de crddito (v. JTA 112/64 e R T 637/115) e interpretacao do alcance da
proibigao da clausula-ouro (RT 460/160).
23. Essa d, alias, a doutrina universal (v. Rend Ddmogue, Trait4 des
obligations, Paris, Arthur Rousseau, t. 2, p. 129 e ss.), que encontra plena
aplicagao na pratica, sempre que as partes, espontaneamente, elegem
determinado indexador para suas relagoes economicas, frisando, no contrato,
esse carater.
Diversa d a solugao, quando e m m o e d a estrangeira se perfaz o
contrato, que entao incide na norma vedatoria de estipulagao e m valores
monetarios alienigenos.
125
Resumo:
Para alguns seria direito pessoal e eventual direito resolver-se-
ia e m indenizagao por perdas e danos.
Para outros, cuida-se de direito real, havendo possibilidade de
reivindicagao.
H a m e s m o q u e m considere a retrocessao u m direito de
natureza mista (pessoal e real), cabendo ao expropriado a agao de
preempgao ou preferencia (de natureza real ou se preferir perdas e danos).
Para os adeptos da primeira corrente o direito do ex-
proprietario perante o poder desapropriante que nao deu a coisa
desapropriada o destino de utihdade publica permanece, portanto, no
Direito Positivo brasileiro como direito nitido e irretorquivelmente
pessoal, direito que nao se manifesta e m face de terceiros, eventuais
adquirentes da coisa, n e m ela adere, senao exclusivamente, a pessoa do
expropriante.
Para os defensores da segunda corrente, a retrocessao e direito
real. E direito que incide sobre o bem, no sentido de que o expropriado,
ex-proprietario, pode exigir a reincorporagao do referido b e m ao seu
patrimonio, se nao houver sido utilizado na finalidade para a qual a
desapropriagao se realizara.
Abstract:
For some it maybe a personalrightand an eventualrightwhich
must be solved with indemnizations for loss and damages.
For others, it is a real right which demand possibility in
juridical cases.
There are those w h o consider retrocession as a mixed right
(personal and real) given to the person w h o has been expropriated the
action of pre-emption or a legal preference action. (With a legal nature or
if preference for loss and damages).
For those followers of the first current, right of the
expropriator before the power of the expropriator which did not give them
thing the destiny of pubhc usage continues, therefore in the positive
brazilian right as a clear and irrefutable personal right which doesn't
manifest itsees, before a third party, w h o may eventually acquire the some
132
RDA 109/157); "em mat4ria de desapropriaqdo, nao existe prazo na lei para a
utilizaqdo da coisa, cujo decurso fosse suscetivel de gerar presunqdo de violaqdo do
destino da coisa expropriado," ( R E n. 82.366, julgado e m 1975, RDA 128/395).
Exige-se, entao, prova de que o b e m nao sera aproveitado conforme a destinagao
prevista inicialmente. (Destinaqdo dos bens expropriados, M a x Limonad, 1986, p.
124).
Conclui Odete Medauar seu magisterio esclarecendo, que no caso
de nao utilizagao do b e m (inertia do expropriante) outra deveria ser a orientagao
adotada. Aceitar a nao utilizagao do bem, sem que haja conseqiiencia alguma,
sem que se de ao expropriado possibilidade alguma de agir perante o Judiciario,
d o m e s m o que admitir a desapropriagao sem necessidade publica, utihdade
publica ou interesse social, o que seria inconstitucional. Para nos, nao utilizar o
b e m significa nao dar-lhe o destino previsto na declaragao. A inertia da
Administragao corresponde a desistencia tacita de aproveitar o b e m ou revela a
desnecessidade da expropriagao realizada. A orientagao jurisprudential que
predomina atualmente propiciaria ocasiao para desapropriar por razoes pessoais,
por motivos de vinganga, c o m desvio da finalidade atribuida ao instituto.
Por isso, na ausencia de preceito expresso, o Judiciario poderia,
considerando caso por caso, admitir prazo razoavel; ou entao, para todos os
casos de utihdade publica adotar, por analogia ao prazo de caducidade para a
declaragao expropriatoria e por analogia ao disposto para os casos de interesse
social, o prazo de cinco anos para utilizagao do b e m (ob. cit., p. 125).
Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro ha divergencia sobre existencia
desse direito quando o Poder Publico nao se utiliza do imovel para qualquer fim;
segundo alguns, o direito a retrocessao ocorre no prazo de cinco anos, por
analogia c o m o prazo de caducidade previsto no art. 10 do Dec-lei n. 3.365; para
outros, nao existe possibihdade de retrocessao, nesse caso, porque a lei nao
estabelece prazo para a utilizagao do imovel. E, na verdade, assim d. Para que se
entenda infringido o direito de preferencia do expropriado, e preciso que se
revele, por alguma forma concreta, a intengao do Poder Publico de nao utilizar o
b e m para qualquer finalidade de interesse coletivo; deve, no entanto, o
expropriado, estar atento ao prazo de prescrigao porque, u m a vez caracterizada a
desistencia pelo Poder Publico, comega a correr o prazo para pleitear a
retrocessao ou perdas e danos.
151
BIBLIOGRAFIA
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administrativa. Sao Paulo : Atlas, 1987.
A Z E V E D O , Nod. Desapropriagao. Parecer. Revista dos Tribunals, Sao Paulo,
v. 193, p. 34, set. 1951.
C H A M O U N , Ebert. A retrocessao no direito brasileiro. Rio de Janeiro : Forense,
1959.
C R E T E L L A JUNIOR, Josd. Comentdrios as leis de desapropriaqdo. 2- ed. Sao
Paulo : Bushatsky, 1976.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 3 a ed. Sao Paulo :
Atlas, 1992.
F A G U N D E S , M . Seabra. Da desapropriaqdo no direito brasileiro. Rio de
Janeiro; Sao Paulo : Freitas Bastos, 1942.
152
Resumo:
O trabalho foi motivado pelo crescimento do lamentavel
fenomeno da pichaqao nos grandes centros urbanos, sujando e por vezes
danificando bens particulares e publicos. O enfoque recaiu nas pichaqoes
de bens e monumentos publicos, compreendendo, inicialmente, o exame
do aspecto terminologico. E m seguida, e examinada a reagao da sociedade
civil e da comunidade juridica diante desse fato. O topico seguinte consiste
na caracterizagao juridica da pichaqao, a saber: se se trata de conduta civil
ou penalmente ilitita, e, neste ultimo caso, se se trataria de crime, de
contravengao penal ou de conduta penalmente atipica. N a sequentia se
analisa a possibilidade da utilizagao da agao civil publica para proteger o
interesse difuso a estetica urbana, ameagado-lesado pela pichaqao,
inclusive no que concerne a dificuldade para composigao do polo passivo
da agao. O trabalho se encerra com u m capitulo de consideragoes
conclu sivas.
* mar?o de 1992.
156
Abstract:
The main motivation for this paper was the ever growing
deplorable phenomenon of "pichagao" (*) in the big urban centers, which
not only pollute but also damage private and pubhc properties. The focus
of the analysis was on the "pichagoes" (*) of monuments and others pubhc
properties (buildings, churchs, squares). First, the aspect related to the
terminology was discussed. Second, the reaction of the civil community and
the "juridica intelligentzia" to this phenomenon was examined. Third,
"pichagao"' (*) was characterized in his juridic interest, i.e., if it is a civil
conduct or a ilicit penalty, being the latter a crime. Fourth, it was examined
if it shall be a procedure irrelevant for the brasilian law. Following, it is
examined the possibility of using the pubhc civil action in order to protect
the diffuse interest to urban aesthetics, threatened-damaged by "pichagao"
(*) Also, difficulties to identify the possible defendants are discussed.
Concluding remarks are presented in the last section.
(*) Graffits making dirty a monument or other pubhc property.
Sumario:
I. Introdugao.
1.1. O aspecto terminologico.
1.2. O agravamento atual do problema e algumas de suas causas.
1.3. A reagao da sociedade civil e a recepgao do tema no meio juridico nacional:
a. a pichagao seria conduta penalmente atipica?
b. configuraria contravengao penal?
c sendo m e n o r o infrator, caberia apenas medida socio-educativa de pres-
tagao de servigos a comunidade?
d. tratar-se-ia apenas de ilicito civil?
II. Consideragoes acerca das colocagoes juridicas precedentes.
III. D a possivel utilizagao da agao civil publica e m n o m e do interesse difuso a
protegao da estdtica urbana.
III.l. A composigao do polo passivo dessa agao no caso e m exame.
IV. Consideragoes conclusivas.
157
I. Introdugao.
2. A transgressao pela transgressao, Jomal da Tarde, Sao Paulo, 30 nov. 1991, Caderno de
Sabado, p. 2.
3. Ibidem.
159
geral", ou, c o m o diz o resignado h o m e m das ruas: "4 inutil; aqui, nada da em
nada...".
Cremos caber aos professionals do Direito dar cada qual sua
contribuigao para o correto equacionamento do problema, oferecendo as
sugestoes que se afigurem mais idoneas para soluciona-lo ou ao menos ameniza-
lo. N a verdade, a inteligencia juridica nacional, e m artigos publicados e m jornais
e e m revistas especializadas, e b e m assim e m pareceres, sentengas e acordaos,
tem mostrado preocupagao e u m a crescente apreensao com o vulto que o
fenomeno da pichaqao esta tomando. Essa recepgao do tema no cenario juridico
nacional tem resultado na formulagao de varias tentativas de tipificagao ou de
enquadramento da conduta e m analise, nos quadrantes do direito positivo:
a) A pichagao seria penalmente atipica: os arts. 163, seu paragrafo
unico e 165 do Codigo Penal preveem condutas que nao se acomodam
confortavelmente a pichagao, a saber, os verbos destruir, inutilizar, deteriorar
configuradores do crime de dano. Diz o magistrado paulista Argemiro Joao
Razera: "No caso da pichaqao, pode ocorrer a deterioraqdo da coisa alheia, mas,
na verdade, ocorre a conspurcaqdo, que nao se confunde com deterioraqdo'' E cita
o saudoso Nelson Hungria: "Com a deterioraqdo, nao se confunde a simples
conspurcaqdo desde que, bem entendido, nao of ete a individualidade ou substdncia
da coisa. Quem bona a fachada de uma casa, atirando-lhe 'estercora', ou piche,
nao comete dano (sendo, conforme o caso, injuria real, infraqdo de postura
municipal ou simples ilicito civil); jd o mesmo, porem, nao acontece se, por
exemplo, 4 enodoada uma tela artistica, ou poluido o vinho de uma pipa. Desde
que indenes a substdncia e utilidade, nao constituiu dano, como entidade criminal,
a simples ofensa a estetica da coisa" (Comentdrios ao Cddigo Penal, 4a. ed.,
Forense, 1967, v. 7, p. 106) .4 N o sentido dessa tese decidiu, e m 2 de agosto de
4. Falta lei mais severa contra pichadores, O Estado de S. Paulo, Sao Paulo, 23 nov. 1991,
Caderno Justica, p. 6.
A pichacao para fins de propaganda eleitoral pode configurar o crime previsto no art. 328
do Codigo Eleitoral (Lei 4.737/65): "Escrever, assinalar ou fazer pinturas em muros, fachadas ou
qualquer logradouro publico, para fins de propaganda eleitoral, empregando qualquer tipo de tinta,
piche, cal ou produto semelhante: Pena - detenqao ate 6 (seis) meses e pagamento de 40 (quarenta)
a 90 (noventa) dias-multa". § unico - "Se a inscriqao for realizada em qualquer monumento, ou em
coisa tombada pela autoridade competente em virtude de seu valor artistico, arqueologico ou
163
5. Natureza juridica de infragao divide estudiosos da pena, O Estado de S. Paulo, Sao Paulo,
11 jan. 1992, Caderno Justiga, p. 5.
165
6. Crime de dano deve ser reparado com servigos para a comunidade, O Estado de S. Paulo,
Sao Paulo, 11 jan. 1992, Caderno Justiga, p. 4.
166
estaria sujeito a uma aqdo civil para reparar o dano causado a propriedade alheia
e ao patrimdnio publico e, no caso, ainda sujeito a uma penalidade administrativa,
existindo lei municipal disciplinando a mat4ria" N o exclusivo ilicito civil,
pensamos, recairiam os casos e m que a pichagao nao se tenha revelado
particularmente agressiva, nao implicando e m deterioragao, destruigao ou
inutilizagao da coisa. Naturalmente, e m sendo menor o causador do dano,
responderao os responsaveis por ele (pais, tutores, curadores), exclusiva ou
solidariamente, conforme as regras dos arts. 1.521,1, II e 156 do Codigo Civil.
10. Ob. cit., p. 410-411. Alias, o dano 6 conduta penal tipica, e se a pichagao e resultado da
agao das chamadas gangues, isto, por si s6 configura outro crime: a formagao de quadrilha ou
bando "para ofim de cometer crimes" (art. 288 do Codigo Penal).
169
Quem destrdi, inutiliza ou deteriora coisa alheia sabe, tem consciincia de que ta
atos causam prejuizo" (J. 20.12.90, R T 667/301. N o m e s m o senso: R T 546/376;
Julgados do TACrim, 71/389).
Revisando a seqiiencia logica da exposigao, temos entao ate agora
nos pronunciado no sentido de que: a) tratando-se de pichador maior de idade, e
tal seja a intensidade e gravidade da pichagao, podera configurar-se o crime de
dano, na rubrica da deterioraqdo da coisa ou, e m casos mais raros, ate m e s m o da
sua inutilizaqdo; b) nao se ha de exigir o dolo especifico a demonstragao de que
o agente quis o prejuizo do dono ou do possuidor porque esse evento d imanente
a conduta da pichagao: quem esta pichando sabe que esta prejudicando; ou, ao
menos, assume o risco de faze-lo.
11. V. o nosso Aqdo citil publica, 2 a ed., Sao Paulo, R T , 1992, p. 26.
170
12. V. o nosso Interesses difusos, conceito e legitimaqdo para agir, 2 a ed., Sao Paulo, R T , 1991,
p. 109.
ser protegida, em muitos casos, pelo seu prdprio conteudo ou pela sua beleza
cenica".14
N a o infirma a possibilidade de propositura da agao civil publica
para defesa da estdtica urbana o fato de, porventura, inexistir no municipio u m a
legislagao especifica a respeito. Primeiro, o art. 129, III, da C F , ao atribuir ao
M P a fungao institutional de defender, mediante inqudrito civil e agao civil
publica, o patrimdnio publico, social e meio ambiente, ressalvou ainda os "outros
interesses difusos e coletivos''; segundo, conquanto haja certa polemica quanto a
saber se os interesses assim tutelaveis sao apenas os ja recepcionados
nominalmente n u m a norma juridica ou t a m b e m os demais, desde que
socialmente relevantes,15 parece-nos que razao assiste aos que, c o m o Antonio
Augusto Mello de Camargo Ferraz veem naquele dispositivo constitucional u m a
"norma aberta ou de extensao", explicando que ela "existe precisamente para que
nao seja necessaria a ediqdo de nova lei para colocar sob a proteqdo do Direito
uma determinada situaqdo juridica. Fosse intenqdo do legislador constitucional
restringir a atuaqdo do MP, te-lo-ia feito expressamente, dizendo 'outros interesse
difusos e coletivos previstos em lei'"16 T a m b e m para Josd Raul Gaviao de
Almeida essa parece a senda mais correta: "O problema da identificaqdo da
natureza do interesse defiui da realidade social. Dela, ante o emergente conflito,
nasce o direito de aqdo. Nao pode, consequentemente, esse direito ficar
condicionado so ao crit4rio do legislador processual em reconhece-lo, quando
confere legitimidade ao Minist4rio Publico para agir, como que a 'autorizar' o
direito de aqdo. Se assim fosse, esse direito perderia afonte constitucional e restari
reduzido ao crit4rio do legislador"^1 E m resumo: prevendo a norma processual
extravagante inciso III do art. l e da Lei n. 7.347/85 os "bens e direitos de valor
(...) estetico'' dentre os que podem ser objeto da agao civil publica; sendo certo
que a estdtica urbana e u m valor juridico relevante, e c o m o tal tutelavel
16. Constituiqdo e defesa dos interesses difusos, O Estado de S. Paulo, Sao Paulo, 31 jul. 1991.
17. Da legitimaqdo na aqdo civil publica, Sao Paulo, J.RG. de Almeida, 1985 (dissertagao de
mestrado, Faculdade de Direito da USP, 1985).
172
21. Notas sobre o problema da efetividade do processo, AJURJS, Porto Alegre, v. 29,1983.
22. Reportando-se a esse v. acordao, Moniz de Aragao diz que nele estava "em jogo a
efetividade do exercicio do direito de aqdo, assegurado pelo preceito constitucional." (Comentdri
ao cddigo de processo civil, Sao Paulo, Forense, v. 2, p. 285).
23. l a Vara Civel do Forum Regional do Jabaquara, Sao Paulo, petigao inicial firmada por
Edis Milare, procurador de Justiga e coordenador das Curadorias Especializadas de Protegao ao
Meio Ambiente.
175
24. Class action e mandado de seguranqa coletivo, Sao Paulo, R T , 1990, p. 25 e ss.
efetiva tutela judicial dos interesses difusos e coletivos e dos direitos subjetivos
publicos recepcionados na Constituigao Federal e na legislagao
infraconstitucional. Por certo, nao ficara desprovido de protegao judicial o
relevantissimo interesse difuso a protegao da estdtica urbana, pelo so fato de
haver u m a dificuldade no que concerne a identificagao nominal dos causadores
da pichagao no prddio ou monumento publicos. O momento d de coragem e
criatividade, ou, c o m o lembra Vincenzo Vigoriti: inventiveness, "e cioe coraggio e
fantasia".26
A dificuldade representada pelo fato de que os autores da pichagao
geralmente sao desconhecidos - o que poderia trazer entraves ao cumprimento
do julgado d, no caso da agao civil publica, amenizado pela circunstancia b e m
lembrada por Kazuo Watanabe, de que o conteudo cominatorio das sentengas ai
proferidas reveste-se de marcante forga mandamental. Disso resulta, exphca o
autor, que o cumprimento do julgado nessas agoes "nao reclama uma aqdo de
execuqdo 'ex intervallo', pois 4 o prdprio juiz que, atrav4s de expediqdo de ordens,
que se descumpridas fordo configurar o crime de desobediencia, e de realizaqdo
pelo juiz de atos materials como (...) a retirada do mercado, com uso de forqa
policial, se necessdrio, de produtos e serviqos danosos a vida, saude e seguranqa
dos consumidores -, faz com que o comando da sentenqa seja cumprido de modo
especifico" Afirma o autor que a agao civil publica pode assumir a natureza de
agao mandamental, "conforme o tipo de provimento nela reclamado cf. art. 11 da
Lei n. 7.347/85"21 Quer dizer: sob esse enfoque, a sentenga na agao civil publica
seria das que se cumprem e m atendimento a u m a ordem judicial - lembrando a
injunction e o contempt of Court do sistema anglo-saxao - o que deixaria o autor-
exequente e m posigao mais confortavel e segura do que se tivesse ele que dar
initio a u m a actio iudicati propriamente dita, com citagao para cumprimento do
julgado, sob pena de (...) penhora, alienagao da coisa depositada, realizagao da
obra por terceiro, etc., c o m o se da, de ordinario, nas execugoes. D e todo modo,
sao iddias, perspectivas novas que se abrem, merecendo funda reflexao dos
processualistas.
E m remate, pois, a presente proposta de utilizagao da agao civil
publica e m n o m e do interesse difuso a protegao da estdtica urbana nao nos
parece infirmada pelo fato de, usualmente, serem desconhecidos os agentes da
pichagao. O interesse, no caso, d de ser visto e m sua dimensao coletiva, e,
conquanto a regra geral no C P C seja a citagao pessoal, essa m e s m a regra, c o m o
d sabido, sofre alguns temperamentos no proprio C P C (cf. incisos do art. 231).
Moniz de Aragao, forte e m Tornaghi ('a incerteza pode deconer do numero
indeterminado - 'propter multitudinem citandorum'") e ainda e m Pontes, ('serem
muitos, sem individuaqdo possivel ou extremamente dlficil"), lembra que para tais
juristas 'podera o autor promover a citaqdo por editais".28 D e tudo resulta que,
com coraggio e fantasia, como quer Vigoriti, se havera de suplantar na pratica a
dificuldade processual e m causa, a fim de que a agao civil publica, na hipotese
objeto deste estudo, chegue a b o m termo e cumpra sua elevada finalidade
juridico-social. Exemplo disso ocorre no Canada, onde o interesse na propositura
de u m a agao coletiva d aferido a partir dafinalidadeque se quer alcangar, c o m o
explica Cruz e Tucci, invocando o caso Duke of Bedford v. Ellis: "Dado um
interesse e um gravame comuns, uma aqdo coletiva estard adequada se a pretensdo
deduzida for em sua natureza benefica para todos aqueles que o demandante se
propde a representor"29 Estariamos, ai, diante de u m interesse processual in
utillbus, vindo a pelo lembrar que o nosso Codigo de Protegao e Defesa do
Consumidor (Lei n. 8.078/90), albergou u m a coisa julgada in utilibus ('apenas no
caso de procedendo do pedido, para beneficiar todas as vitimas e seus sucessores"
art. 103, III), o que da b e m u m a ideia da modernidade desse texto legal.
Por fim, cabe lembrar que, e m se resolvendo a hde n u m a reparagao
pecuniaria (embora nao seja a finalidade precipua da agao civil publica), a
solugao sera a prevista no art. 13 da Lei n. 7.347/85, ou seja: a reversao do
dinheiro a u m Fundo, cujos recursos destinam-se "a reconstituiqdo dos bens
lesados" N o Estado de Sao Paulo, rege a materia a Lei n. 6.536/89, onde se le
que esse Fundo d gerido por u m Conselho, a quem compete, dentre outras
atribuigoes, 'zelar pela utilizaqdo prioritdria dos recursos do Fundo no prdprio
local onde o dano oconer ou possa vir a oconer" (arts. 5 Q e 69,1).
Essas as consideragoes que pretendiamos expender, como u m
subsidio para outros e mais densos aprofundamentos que se estejam fazendo
sobre esse momentoso tema. Excusado dizer que, a par das medidas de ordem
juridica lembradas neste trabalho, d absolutamente necessario que o Poder
Publico, atravds de programas de esclarecimento e conscientizagao da populagao,
promova a difusao de iddias elevadas de civismo, de amor a cidade, traduzindo
e m palavras simples a diferenga existente entre res nullius (coisa de ningudm) e
res communes omnium (coisa de todos), que d fundamental para a compreensao
de que u m b e m publico integra esta ultima categoria, e por isso a todos incumbe
sua preservagao.
por qualquer dos legitimados indicados no art. 5 Q dessa Lei, para protegao da
estdtica urbana: o intiso II do art. I s dessa Lei preve o ajuizamento dessa agao
e m caso de danos "a bens e direitos de valor artistico, estetico, historico, turist
paisagistico'' A agao visara, conforme o caso, a cominagao de u m facere (por
exemplo, restituigao da coisa ao statu quo ante), a u m non facere (eximir-se de
tentar a pichagao), ou ao ressarcimento pecuniario do dano (arts. 11 e 13 da Lei
n. 7.347/85). H a possibilidade de tutela cautelar, e m havendo o justo temor da
pichagao, para salvaguardar, por exemplo, a integridade do b e m publico
ameagado (art. 4 s dessa Lei). Podera haver a cominagao de multa diaria (art. 11
da Lei supra), como u m a astreinte (CPC, art. 287), visando obter-se o
cumprimento especifico do julgado. O Poder Publico d legitimado ativo para a
agao, mas, eventualmente, pode ser legitimado passivo, quando, por omissao ou
ineficiencia, esteja dando ensejo a ocorrencia da pichagao (por exemplo, nao
toma providencia eficaz e tempestiva para proteger o b e m ameagado) ou ainda,
se o dano ja aconteceu, e m virtude da omissao ou da faute du service.
Resumo:
O artigo examina o principio da descentralizagao atraves da
criagao de empresas estatais e a possibilidade de os estados e municipios
virem a institui-las.
Trata a seguir das principals teorias acerca da origem e das
fungoes do Estado, especialmente n o que toca a fungao de administrar.
Aborda a estrutura da administragao, direta e indireta, as definigoes do D L
n. 200/67, no seu artigo 5°, o principio da descentralizagao e suas formas, a
descentralizagao por desconcentragao ou por colaboragao, a descentrali-
zagao atraves das empresas estatais.
Analisa os tipos de empresas estatais, a vatilagao da doutrina
no que concerne a existentia de dois tipos de empresa estatal, exploradora
de atividade economica e prestadora de servigos publicos e os pareceres
dos juristas acerca do tema. Finaliza c o m as empresas estatais de estados e
municipios e a privatizagao como corregao dos abusos da descentralizagao.
Abstract:
T h e article examines the principle of decentralization through
the creation of state companies and the possibility of they being instituted
by states and municipalities.
After that it goes into the main theories about the origin and
functions of the state, specially the aspect of its administrative function. It
looks into the structure of administration, direct and indirect, the
definitions of the Executive L a w n. 200/67, in the 5th. section, the principle
of decentralization and its forms, decentralization through cooperation,
decentralization through state companies.
It analyses the types of state companies, the hesitation of
doctrine concerning the existence of two types of state companies, exploiter
of the economic activity and renderer of pubhc services and the opinion of
jurists on the theme. It ends with the state companies of states and
Sumario:
1. Objetivo e metodo.
2. Origem do poder e do Estado.
3. A fungao de administrar.
4. Estrutura da Administragao.
5. O principio da descentralizagao e suas formas.
6. A descentralizagao atravds de empresas estatais.
7. Tipos de empresas estatais.
8. Empresas estatais de Estados e Municipios.
9. A privatizagao c o m o corregao dos abusos na descentralizagao.
1. Objetivo e metodo.
1. Dalmo de Abreu Dallari, Elementos de Teoria Geral do Estado, 14a ed., Sao Paulo, Saraiva,
1989.
187
3. A fungao de administrar.
4. Estrutura da Administragao.
2. Diogo de Figueiredo Moreira Neto, e m seu Curso de direito administrativo, 10 a ed., Rio,
Forense, 1992, p. 66, observa que tal descentralizagao tambem ocorre no Poder Legislativo, com a
divisao do Congresso Nacional e m duas Camaras, e no Poder Judiciario, atraves das leis de
organizagao judiciaria que criam Juizes de Direito Especializados e Camaras nos Tribunais.
194
A privatizagao:
- nao pode abranger apenas as sociedades de economia mista,
quando ha empresas publicas, fundagoes e ate autarquias desempenhando papdis
que nao mais competem ao Poder Publico, segundo o principio da livre iniciativa
(quiga jamais competiram!);
- nao pode ter por motivagao apenas o prejuizo, a paralisagao ou o
atendimento satisfatorio, pela iniciativa privada, das atividades desenvolvidas
pelas "estatais"; ao contrario, o objetivo d mais amplo, qual seja, o de fazer o
Poder Publico retornar aos limites constitucionalmente aceitos,
independentemente dos fatores acima;
nao pode ser instrumento atravds do qual o Poder Publico se
demite do seu dever de prestar servigos publicos, atender aos relevantes
interesses coletivos e zelar pela seguranga nacional, haja ou nao lucro nessas
atividades;
nao e atendida, apenas, atravds da simples venda de agoes,
podendo ocorrer atravds do aumento de capital, alienagao ou locagao de bens,
etc.;
deve ser precedida de u m saneamento das empresas envolvidas,
de forma a tornar-se atrativa ao setor privado.
Enfirn, a privatizagao, alem de u m imperativo constitucional, d
tambem u m dever de eficiencia tecnico-administrativa, passando-se para q u e m
pode fazer melhor aquilo que o Estado nao mais tem condigdes de tocar. O
conceito de terciarizagao nao envolve apenas a iniciativa privada.
DIREITO INTERNACIONAL
LEX MERCATORIA - HORIZONTE E FRONTEIRA D O C O M E R C I O
INTERNACIONAL
Resumo:
N a o ha comertiantes no espago sideral. O comertio
international tem suas bases nos territorios de Estados nationals
soberanos. Este o grande desafio e a maior dificuldade de se construir u m a
nova lex mercatoria: u m direito, ou u m conjunto de regras uniformes, para
reger todo o comertio international. Esse direito sem fronteiras, nastido
da pratica constante do comertio, inspira-se no jus mercatorum do seculo
XI, fonte do direito comercial. O papel importante exercido pelo Estado
no comertio international e o grande obstaculo a aceitagao da nova lex
mercatoria. A ilimitada adogao da lex mercatoria podera conduzir a
ditadura das frias regras de mercado, sem qualquer consideragao com as
regras politicas e juridicas de cada Estado national. O risco parece
extremamente alto.
Abstract:
There are not traders in the cosmic space. T h e international
commerce is grounded on the national territories of every sovereign
national State. This is the major challenge and difficulty to the building
process of a new lex mercatoria: a new law, or a set of uniform rules,
conceived to govern all the international commerce agreements. This law
without borders has brought its inspiration from the jus mercatorum of the
11th. century, source of the modern Commercial Law. The important role
of the State within the international commerce scene is the main obstacle
to the acceptance of the new lex mercatoria. The unlimited adoption of the
lex mercatoria may lead to the dictatorship of the always cold market rules,
without any due regard to the political and juridical reasons of every
national State. Theriskinvolved is deemed to high.
desse territorio nacional, sujeito as leis nele vigentes, que o comerciante abre sua
atividade para o exterior, iniciando seu comertio international, m a s sempre
vinculado ao Estado de seu estabelecimento de origem. E admissivel, entretanto,
que tal comerciante, aldm dos vinculos que mantenha c o m o Estado de onde
parte sua atividade, possa assumir c o m seus parceiros estrangeiros, estabelecidos
e m outros Estados soberanos, u m a relagao de natureza corporativa
supranational.
Tal relagao supranational, estabelecida no seio da grande
sociedade dos comertiantes internacionais, busca uniformizar as regras juridicas
e contratuais de sua propria e especifica atividade, harmonizando suas praticas
de comertio, simplificando e agilizando o sistema mercantil transfronteiras.
Inumeros e notaveis sao os esforgos no sentido de u m a padronizagao dos
costumes comerciais internacionais. A o lado das Convengoes Internacionais
buscando adotar regras uniformes para a pratica do comertio international de
mercadorias,1 diversas entidades privadas dedicam-se a uniformizagao dessas
regras, tais c o m o a U N I D R O I T ou a Camara de Comertio International de Paris
(CCI).
Varios sao os autores que chegam a proclamar e defender o
surgimento de u m direito especifico para essas relagoes comerciais
internacionais, desvinculado dos direitos nationals. O respeitado professor
Schmittoff nao hesita e m noticiar a existencia de u m direito do comercio
transnacional? U m a sociedade de comertiantes desvinculada do poder soberano
de seus respectivos Estados, liberta de qualquer fronteira estatal, d o que chega a
afirmar Berthold Goldman, o grande inovador nessa area do Direito
International. Tavares Guerreiro conclui que a comunidade international dos
2. Clive M . Schmittoff, Commercial law in a changing economic climate, Sweet & Maxwell,
London, 1981, p. 13.
215
3. "O Estado, enquanto titular do poder normativo e fonte de regras jurisdicionais, configura
uma realidade, mas essa comunidade de comerciantes ou agentes do comercio internacional
configura outra realidade, nao confidante com a primeira, por se referir a interesses diferentes, ma
igualmente podendo ser capaz de ser dotada de poder normativo distinto, epodendo se convener por
igual forma, em fonte de regras juridicas.", Jose Alexandre Tavares Guerreiro, Fundamentos da
arbitragem comercial internacional, tese de doutorado, s.c.p., Sao Paulo, 1989, p. 166.
10. "D'une part, {'experience concrete du commerce international parait bien etablir qu'en fait
"lespetits sont obliges de suivre les regies etabliespar lesgros" - en d'autres termes, que laplupart des
entreprises devront bien si elles veulent participer au commerce international, adopter les contrats-
type elaborespar les organisations proftssionelles ou les entreprises les plus puissantes de leur branche
d'activite". O b . cit., nota 5, p. 188.
220
11. "77 reste que dans quelques hypotheses statistiquement rares ['execution de la sentence
arbitrate appliquant les normes propres au commerce international ne pourra etre obtenue que par
{'intervention de la force publique. Mais nous ne pensons pas que cela laisse les normes elles-memes
en dehors du droit; car precisement, cette ultime sanction leur est bien accordee, sauf si elles
apparaissent, a trovers la sentence, commes contraires a I'ordre publique du pays oil I'execution est
requise. Elles ne restent par consequent pas depourvues de sanction et Von peut seulement dire
qu'elles doivent quelquefois, pour I 'obtenir, faire appel a un ordre juridique etatique par rapport
auquel elles se voulaient autonomes". O b . cit., nota 5, p. 192.
221
das mesmas dentro dos limites territorials do Estado, e tal construgao de normas
tornar-se-a absolutamente ineficaz, simples jogo ou brinquedo nas maos de u m a
poderosa classe internacional, esta sim sem fronteiras.
Essa vinculagao de reconhecimento da lex mercatoria pelos
tribunals estatais operar-se-a fundamentalmente atravds da aceitagao e execugao
de laudos arbitrais prolatados c o m base na referida lex. U m tribunal nacional
pode aceitar c o m o valido, e m determinadas (e raras) circunstancias, u m contrato
fundado na lex mercatoria, tal c o m o e m casos julgados pela Suprema Corte da
Austria, a Corte de Cassagao Francesa ou m e s m o a London Court of Appeals}2
mas tal tribunal recusara sua aplicagao se ela for contraria ou incompativel c o m
o disposto na lei nacional interna.
A lex mercatoria 6 lei substantiva, nao existindo c o m o lei de conflito
ou lei processual, m e s m o para aqueles que a defendem intransigentemente. N a
hipotese de sua aplicagao por tribunals nationals, ainda que parcialmente, ela se
incorpora ao direito nacional, sujeita a interpretagao dos legisladores e juizes
nationals. A aceitagao da lei dos mercadores, na Idade Media, nao esbarrava nas
barreiras de judiciarios nationals, pois sua aplicagao ocorria e m tribunals
proprios dos comerciantes, e destes tribunals jamais extravasava.
A ampla e irrestrita aceitagao de u m a lex mercatoria por parte de
tribunals estatais caracterizaria u m forte impacto nos conceitos vigentes, na
medida que implicaria, como lembrou Stoecker, a concessao de parte da
soberania do Estado e m favor das maos invisiveis de u m a inconstante
comunidade de comerciantes, que faz a lei de acordo c o m suas conveniencias e
necessidades.13
Tal qual a sentenga estrangeira, fruto legitimo de u m a soberania
nacional, necessitando de reconhecimento de outra soberania nacional para vir a
12. N a decada de 80, a Suprema Corte da Austria reconheceu a viabilidade da lex mercatoria
no caso Palback Ticaret Limited Sirkety (Turquia) v. Norslov SA. (Franga), tendo o m e s m o caso
sido apresentado a Corte de Cassagao da Franga que, igualmente, reconheceu a m e s m a lex como
aplicavel. A London Court of Appeals julgou no m e s m o sentido, e m 1987, o caso Deutsche
Schachtbau und Tiefbohrgesellschaft m.b.h. (D.S.T.) v. RasAlKhaimah National Oil Co. (Rakoil).
13. Christoph W . O . Stoecker, The lex mercatoria: to what extent does it exists?, in Journal of
International Arbitration, vol. 7, n. 1,1990, p. 108.
222
15. "A Historia ensina que, sempre que se enfraquecem conceitos como o de soberania,
contrariam-se os interesses dos paises com menor poder no cenario internacional. A preocupaqdo
brasileira e tanto mais procedente quando se recorda que, tambem no piano econdmico e comercial,
as extraordindrias mudancas no mundo nao atingiram uniformemente a comunidade das naqoes e
seus beneficios de maneira alguma se deverdo estender automaticamente a todos"., Francisco
Rezek, palestra proferida na Escola Superior de Guerra no Rio de Janeiro, O Estado de S.Paulo,
29 de julho de 1990.
223
17. v. Hermes Marcelo Huck, Contratos com o Estado: aspectos de direito internacional, Sao
Paulo, Aquarela, 1989.
224
18. "These rules are far more adapted to the circumstances than the lex mercatoria, which
remains, both in scope and in practical significance, an elusive system and a mythical view of a
transnational law of state contracts whose sources are elsewhere". Georges R. Delaume,
Comparative analysis as a basis of law in state contracts: the myth of the lex mercatoria, in Tulane
Law Review, v. 63, n. 3, Feb. 1989, p. 611.
225
7. Tentativas e dificuldades.
Ante as divergencias na definigao da lex mercatoria e a inconteste
permanencia dos direitos nationals soberanos, algumas tentativas curiosas tem
sido levadas a efeito, objetivando consagrar, ou ao menos disseminar, essa nova
lei do comdrcio internacional.
Estranha simbiose entre direito nacional e lex mercatoria apatrida
resultou de lei promulgada no Estado de Nova York, no ano de 1984, atravds da
qual ficou consignado que quando u m contrato envolva soma superior a US$
250,000.00, fleam as partes autorizadas a adotar a lei de Nova York para reger tal
contrato, ainda que o objeto do m e s m o nao guarde qualquer relagao com aquele
Estado norte-americano. A m e s m a lei preceitua que, se o valor do contrato for
superior a u m milhao de dolares (o que nao d incomum nas relagoes financeiras
e comerciais internacionais), aldm do direito de Nova York, podem as partes
eleger o foro nova-iorquino, m e s m o quando a relagao contratual nenhuma
vinculagao tenha c o m aquele Estado.20
Tal proposta revela a dificuldade do estabelecimento de uma lex
mercatoria amplamente conhetida e reconhecida, abrindo a possibilidade de se
buscar no direito positivo soberano de Nova York a estrutura para u m direito
transnational. A dificuldade de se dar amplo conhecimento, ou mesmo u m
conteudo inquestionavel a lex mercatoria, fez com que o legislador nova-iorquino
transformasse seu direito positivo estadual, conhecido e facilmente acessivel a
todos, e m lex mercatoria, apta a ser escolhida para reger as mais importantes e
valiosas relagoes comerciais internacionais.
Assim c o m o a moeda norte-americana, o dolar, acabou por se
transform ar no padrao monetario internacional, a tentativa do legislador de
Nova York parece ser a de transformar aquela legislagao estadual e m lei padrao
para o comdrcio efinangasinternacionais.
A extensao e diversificagao do mercado mundial, onde a
multiplitidade de costumes e culturas atingem diretamente as formas de fazer
comdrcio, constituem-se e m barreiras adicionais a uniformizagao e aceitagao da
20. Act of July 19, 1984, ch. 421, 1984, N.Y. Laws 1406, N.Y. Gen. Oblig. Law, 5-1402, 5-1404
(McKinney Supp. 1988), cit. por Georges Delaume, ob. cit., nota 18, p. 581.
227
22. Berthold Goldman, T h e applicable law: general principles of law - the lex mercatoria, in
Contemporary problems in international arbitration, Julian D. M . Lew, Ed., p. 116.
23. "The parties to an international contract sometimes agree not to have their dispute governed
by national law. Instead they submit it to the customs and usages of international trade, to the rules
of law which are common to all or most of the States engaged in international trade or to those
States which are connected with the dispute. Where such common rules are not ascertainable, the
arbitrator applies the rule or chooses the soluction which appears to him to be the most appropriate
and equitable. In doing so he considers the laws of several legal systems. This judicial process, which
is partly an application of legal rules and partly a selective and creative process, is here called
228
application of the lex mercatoria." O. Lando, The lex mercatoria in international commercial
arbitration, in The International and Comparative Law Quarterly, n. 34,1985, p. 747.
24. Para u m a analise das criticas ao "contrato sem lei", v. Hermes Marcelo Huck, ob. cit., nota
17, p. 49.
229
26. Paul Lagarde, Approche critique de la lex mercatoria, in Etudes ojfertes a Berthold
Goldman. Le droit des relations economiques internationales, p. 125.
27. "Bref, au milieu lequel se developpe le commerce international est lui-meme si etendu, si
diversifie et si cloisone qu'on vient a douter qu'ilpuisse servir de cadre d une communautepourvu
d'un minimum d'organisation, a I'instar des autres exemples d'ordres juridiques deja rencontres".
Paul Lagarde, ob. cit., nota 26, p. 138.
231
29. Antoine Kassis, Problemes de base de ['arbitrage en droit compare et en droit international
Paris, L.G.D.J, 1987, p. 578.
30. Miguel Reale, Liqoes preliminares de direito, 8a ed., Sao Paulo, Saraiva, 1981, p. 158.
232
quelconque ne peut pas exister in vacuo, mais doit reposer sur un droit". Decisao publicada in Rev
Critique de Droit International Prive, 1950, p. 609.
33. "O euromercado transformou o carater da atividade bancdria. Ao unir mercados financeiros
nacionais, ele criou um unico mercado mundial de dinheiro, transnacional e virtualmente livre de
235
qualquer aqdo de govemos. Como coloca o Business Week: 'No lugar de bancos locais
transacionando numa unica moeda, em um mercado nacional como a atividade bancdria
tradicionalmente fazia - existe agora um vasto e integrado sistema mundial de capitals e moedas, o
qual pode movimentar milhoes de eurodolares, euromarcos e outras moedas 'sem pdtria' 24 horas
por dia, por todos os cantos do mundo. Grandes montantes dessas euromoedas transpuseram
fronteiras nacionais e se livraram das maos dos govemos apesar dos crescentes e vigorosos
controles cambiais com o intuito de diminuir ofiuxode capital de pais para pais. Por conseguinte, o
dinheiro se instalou nos euromercados, onde nao existem controles e onde qualquer um pode operar
ou apenas investir'" Michael Moffit, O dinheiro do mundo: de Bretton Woods a beira da
insolvencia, Sao Paulo, Paz e Terra, 1984, p. 65.
34. Keith Highet, The enigma of the lex mercatoria, in Tulane Law Review, v. 63, n. 3, Feb.
1989, p. 615.
MEDICINA FORENSE
TANATOLOGIA FORENSE
Resumo:
O Autor apresenta os conceitos biologico (processo temporal)
e juridico (instantaneo) de morte, mostrando e m que momento os dois
coincidem. Mostra, tambem, a importancia de se fazer o diagnostico da
morte o mais precocemente possivel, dada a necessidade de se retirar as
partes cadavericas e m perfeitas condigoes para serem devidamente
transplantadas. Discute, ainda, os sinais que permitem o diagnostico
precoce da morte, mostrando que nenhum deles e isento de perigos e
erros, o que os torna juridicamente muito perigosos.
Abstract:
The author presents the biologic (temporal process) and the
juridical (instantaneous) concepts of death, showing the moment in which
the two coincide. It shows, also, the importance of making the diagnosis of
the death as early as possible, in view of the need to remove the corpse
parts in perfect condition in order to be transplanted
It discusses, also, the sings that allow for an early diagnosis of
the death, showing that none of them is exempt of dangers and mistakes,
something that makes them juridically very dangerous.
camara anterior do olho e eu, que a estudei na camara posterior, por ser menos
infJuenciada pelas condigdes ambientais.
Ponsold, por sua vez, sugere o estudo da evolugao das diferengas de
hemoconcentragdes entre o coragao direito e o esquerdo.
Todos estes estudos mostraram-se, infehzmente, de pouco valor na
estimativa do tempo transcorrido desde a ocorrencia do exito letal.
Devido, provavelmente, as dificuldades encontradas, os
pesquisadores tem se desinteressado pelos estudos cronotanatodiagndsticos,
dando razao a Orfila, quando o m e s m o as considera tarefas acima das forgas
h u m anas.
Contudo, observa-se u m initio de reagao a este desinteresse,
provavelmente estimulado pela necessidade de partes cadavdricas para
transplante. Por exemplo, R o m e r o Palanco publicou no ultimo numero da
Revista Espanhola de Medicina Legal interessante estudo mostrando ser possivel
a aplicagao da ultra-sonografia aos estudos cronotanatodiagndsticos.
Fehzmente, quanto mais recentes sao as observagdes e as
medigdes, tanto maisfidedignasse tornam as estimativas cronodiagndsticas, cuja
margem de erro aumenta a medida que o cadaver envelhece e para a retirada de
partes cadavdricas para transplante as estimativas devem ser muito precoces.
Resumindo, a Tanatologia Forense ocupa-se dos problemas
relacionados com a morte naquilo que possa interessar ao Direito, c o m o nos
ensinou o professor Arbenz; e os dois principals temas que interessam neste
campo sao o conceito de morte e o da avaliagao do tempo transcorrido desde a
ocorrencia do dbito.
E m relagao ao primeiro, vimos que o conceito biologico de morte d
o de u m processo que se prolonga no tempo, no qual d possivel diferenciar
algumas etapas: a primeira d a de morte relativa, ainda passivel de
reversibilidade, cujas caracteristicas desconhecemos, inclusive ignoramos sua
duragao; a segunda d a de morte intermedia, caracterizada pela irreversibilidade
do processo letal e a permanencia de formas residuais de vida e m nivel
meramente histoldgico; a terceira d representada pela morte absoluta na qual,
tendo-se esgotado os potenciais energdticos responsaveis pelos fendmenos
supravitais, desaparece qualquer forma de vida.
252
Resumo:
A fotografia judiciaria constitui u m a importante modalidade
de levantamento do local do fato e nao menos importante processo
acessorio para ilustrar as diversas especies de pericias criminalisticas e
medico-legais. A multiphcidade de tecnicas fotograficas modernas dao u m
colorido especial aos laudos periciais evidenciando angulos dificilmente
descritos ou inadequadamente compreendidos por pessoas leigas e m areas
tecnicas. C o m suas rigidas caracteristicas, a fotografia judiciaria revela as
coisas exatamente como o perito as ve, dentro de u m realismo, nao raro,
chocante.
Abstract:
Judiciary photography is an important way to survey the place
of the fact, and a no less important accessory to illustrate the several types
of criminal and medico-legal expert examinations. T h e variety of modern
photograpic techniques give a special color to expert examination reports,
showing angles that are hard to describe or that would be misunderstood
by lay people in technical areas. With its strict characteristics, judiciary
photography shows things exactly as the expert sees them, so realistically as
to become, not infrequently, shocking.
Sumario:
1. Conceito
2. Aspectos medico-legais criminalisticos da fotografia
3. Aspectos processuais penais da fotografia judiciaria
4. Aphcagdes da fotografia judiciaria
5. Tecnicas fotograficas
6. Caracteres da fotografia judiciaria
7. Tipos de fotografias judiciarias de interesse pericial
8. Bibliografia
254
1. Conceito
5. Tecnicas fotograficas
qual deverao tais vestigios serem apontados, atravds de setas e explicados pela
legenda;
d deve ser nitida e reproduzir exatamente o que o perito apreciou.
A fotografia judiciaria constitui a retina do cientista. Para a objetivagao e
demonstragao dos fatos, a fotografia judiciaria representa u m dos mais
engenhosos processos tecnico-cientificos, u m a verdadeira "testemunha muda'
que necessita ser executada sob determinadas condigdes: honestidade
profissional e obediencia de requisitos tdcnicos;
e - deve apresentar dimensdes compativeis c o m o conteudo que
exibe. A fotografia forense nao apresenta dimensdes padronizadas, pois, destina-
se afixardesde u m microvestigio ate a fotografia de u m local de dilatada area
geografica. Obviamente nao se deveria esperar que u m a m e s m a superficie se
prestasse tanto para reproduzir u m microvestigio c o m o para representar u m a
colisao e m cadeia envolvendo muitos veiculos e m u m a rodovia;
f deve mostrar u m a rigorosa correspondencia entre copia,
negativo e objeto fotografado. C o m o o objeto da fotografia n e m sempre podera
existir, como d o caso de u m cadaver, d necessario no minimo que seja mantido
arquivo dos negativos, a fim de poder reproduzir-se a copia ou positivo, quando
preciso, dentro do prazo de prescrigao, previsto e m lei.
8. Bibliografia
Waldirio Bulgarelll
Professor Titular do Departamento de Direito Comercial
da Faculdade de Direito da Universidade de Sao Paulo
Resumo:
O artigo analisa preliminarmente a importancia do tema no
contexto brasileiro atual. O problema da excessiva regulamentagao entre
nos, tambem chamada furia legisferante ou como dizem os franceses,
decretomania. A importancia da visao empresarial e m razao da combalida
vida economica e social do pais.
Trata a seguir da empresa e do empresario, faz u m breve
historico do ciclo que se inicia com os marchans e os fabricans, passando
ao comerciante e chegando ao empresario. A s conceituagoes de empresa e
empresario no Brasil e na Italia, teorias acerca da empresa, c o m o
instituigao ou unidade de produgao e as normas correlatas. Analisa a
questao do enquadramento juridico da empresa nas categorias basicas
sujeito, bens, atos e fatos do Codigo Civil italiano e o conceito juridico
baseado na atividade e a explicagao dos seus correlatos, sujeito (o
empresario) e bens (o estabelecimento). A importancia da adogao de u m
estatuto geral do empresario.
Aborda o surgimento espontaneo do Direito Comercial no seio
dos mercadores e os seus primeiros tratados, da relacao do Direito
Comercial e os outros ramos do direito, as disputas entre eles, o problema
da falta de integragao e sistematizagao do Direito Comercial e sua
evolugao. Faz u m breve relato sobre o Direito Comercial entre nos e o
Codigo Comercial brasileiro. Finaliza com o quadro normativo empresarial
no Brasil hoje.
Abstract:
The article analyses preliminarily the importance of the theme
in the present Brazilian context. T h e problem of excessive regulation
among us, also called legislative fury, or as the French say, decret manie.
The importance of the entrepreneurial view because of the weakened
social and economic life of the country.
After, it deals with the entrepreneur and the enterprise, makes
a brief historical of the cycle beginning with the marchans and the
3. p. 230 e ss.
4. Cf. R e m o Franceschelli, Imprese e imprenditori, Milao, Giuffre, 1970, p. 8 e ss
273
5. G. Lumia, Principios de teoria e ideologia del derecho, Madri, Debate, 1978, p. 15.
6. Cf. Funqdo social da dogmdtica juridica, Sao Paulo, R T , 1978, p. 115.
7. Este aspecto e, alias, destacado pela doutrina, inclusive por Tercio Sampaio Ferraz Jr que
afirma: "Por exemplo, nas sociedades industrials, burocratizadas, hd uma especializaqao em funqd
de papeis e programas ideologicos mais do que pessoas e valores que continuum presentes mas
mediatizadospelos anteriores". Ibid., p. 116. '
275
8. Essas normas todas, na maioria amplas e complexas, como, por exemplo, a Lei das
Sociedades por Acoes, o Codigo da Propriedade Industrial, etc, ja foram consideradas
verdadeiros microssistemas juridicos, assim c o m o os procedimentos complexos, c o m o mecanismo
juridico.
9. Cf. o rol dessas leis, e m nosso livroy4 teoria juridica ...ob. cit.
10. Cf. Tercio Sampaio Ferraz Jr., Teoria da norma juridica: u m modelo pragmatico, na obra
coletiva A norma juridica, Sergio Ferraz (coord.), Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1980.
11. Confundido ora com a firma, ora com a sociedade comercial, ora com o patrimonio, ora
com o local onde a empresa exerce a sua atividade, e assim por diante.
276
12. No Brasil, uma das poucas aberturas politicas, durante o periodo da repressao, tanto q
o Governo tentou monopolizar o movimento atraves de varios projetos, como o do Ministerio da
Industria e Comercio, o que nao ocorreu, apos a redemocratizacao do pais, com a promuleacao
da Lei 8.078, de 11.09.1990, conhecida como Codigo de Defesa do Consumidor *"
277
15. Nesse sentido cf. Waldemar Ferreira que alias comparava a empresa a Rebeca,
personagem volatil, de que todos falavam e que nunca aparecia; tambem, Silvio Marcondes, e
tantos outros; cf., a proposito, o nosso A teoria juridica... ob. cit.
280
/16. Asquini apresenta quatro perfis; Ferrara Jr., tres; Geraldo Vidigal acrescenta mais u m
perfil aos de Asquini, que eram: subjetivo, objetivo, operacional e institucional.
281
17. Cf. Lineamenti del diritto dell'impresa, Milano, Giuffre, 1978, p. 77 e ss.
282
18. E altamente revelador dos costumes mercantis da epoca a formula utilizada nas feiras,
para efetivar u m a especie de compensacao entre os titulos de credito. Cf. P. Huvelin, Essai
historique sur le droit des marches & desfoires, Paris, Rousseau, 1897.
283
19. Cf. Panorama do direito comercial, Sao Paulo, Saraiva, 1947, p. 22-3.
20. Cf. o meu Manual de direito comercial, 7 a ed., Sao Paulo, Atlas, p. 28 e ss.
21. Cf. Principes de droit commercial, Paris, Sirey, 1934, p. 63 e ss.
22. Cf. Empresarios y sociedades, Revista de Derecho Privado, edicao especial n 8 e
v
4, Madrid, s.d.. ' v'
284
entre o empirismo da prdtica e a severidade dos estudos do Direito Civil. Isto era
facilitado pelo fato de se considerar o Direito Mercantil como um sistema
independente de carater excepcional em relaqdo ao Direito Civil, e por isso os
autores se limitavam, quando muito, a descrever suas instituiqdes, sem tratar de
enquadrd-las nos principios, ou se tentavam fazi-lo, tdo logo tropeqavam em
alguma dificuldade a atribuiam a peculiaridade do Direito Mercantil, terminando
por dizer que se tratava de uma instituiqdo sui generis. Iniciou-se uma nova fase
com Vivante, o qual com o seu 'Tratatto di Diritto Commerciale) realizou a
primeira sistematizaqdo cientifica desta materia"
Veio assim o Direito Comercial observando u m a postura propria,
desvinculado da maior parte das preocupagdes da Teoria Geral do Direito,
alardeando a sua condigao ora de direito excepcional ora de direito especial,2^
com as suas fontes normativas voltadas diretamente para a evolugao dos
fendmenos economicos. Contudo, a partir de Vivante, como vimos, foi se
encaminhando para u m ajustamento que poderiamos denominar de tdcnico-
cientifico. N o s ultimos tempos, d notdrio que os comercialistas vem procurando
se precatar dessa orientagao a b e m dizer empirica, voltando a sua atengao para
os principios e diretrizes da Teoria Geral do Direito.
S e m duvida que a necessidade da integragao do Direito
Empresarial a Teoria Geral do Direito se acentuou com a reconhecida ruptura
das novas formulagdes do Direito Empresarial com as categorias tradicionais e
portanto c o m a busca de caminhos prdprios, no ambito da ciencia do Direito.
N o campo normativo atual, brasileiro, e m que predomina o regime
tripartido a que fizemos referenda, pode-se tragar u m quadro das principals
normas referentes a atividade empresarial a elas destinadas diretamente ou que
a elas fazem referenda.
Assim, tem-se n u m campo mais geral, a antigamente chamada de
materia do comdrcio, c o m o u m a disciplina legal voltada para o comerciante
(conceituado no art. 4 Q do Cddigo Comercial) e para as relagoes juridicas
derivadas do exercicio profissional da mercancia (que era confundida com a dos
atos de comercio).
23. Sobre a questao do Direito Comercial como especial e excepcional cf. Alfredo Rocco,
Principios de direito comercial (parte geral), Sao Paulo, Saraiva, 1931, p. 52 e ss.
285
desenvolvimento profissional. Posso assim dizer, com convicgao, que fago o que
gosto e que gosto do que fago.
Q u e a vida m e seja generosa e complacente, para poder continuar
nesta linha tragada para o m e u destino profissional, dentro desta Faculdade de
tao venerandas tradigdes, algumas das mais caras assentadas sobre o exemplo
impar de u m Julio Frank.
Q u e o tempo e o futuro colaborem comigo ate para, mais u m a vez,
comprovar o que disse, ha tempos, a eminente professora doutora A d a Pellegrini
Grinover, a quem tanto deve o Departamento de Medicina Forense. N u m a sua
colocagao, pejada de sabedoria, disse ela que 'uma instituiqdo somente sobrevive,
quando os que a integram se identificam com os principios de sua existincia e com
as suasfinalidadesultimas"
Este tem sido o segredo destas Arcadas; esta tem sido a base de
sustentagao do seu prestigio e de sua importancia. Qual seja, a identificagao de
todos os componentes dos seus corpos docente e discente com os principios de
sua existencia e com as suas finalidades ultimas.
D e minha parte, posso assegurar que tambem m e identifico com
estes principios e com estasfinalidades.Por isso, sinto-me prazerosamente a
vontade e perfeitamente solidario quando m e integro, e m definitivo, a esta
egrdgia e veneravel Congregagao.
Minhas senhoras,
M e u s senhores,
Estas Arcadas tem u m a particularidade muito especial que a
diferencia de tudo o mais: elas abrigam u m a tradigao que se renova a cada
instante, que se inova permanentemente, sem perder o seu principio e sem se
desviar do seu futuro.
N u m refazendo, como se diz da praxis podtica, c o m o se fora a flor
utdpica a gerar dentro de si u m a nova flor, n u m reproduzir incessante e
ininterrupto de novas flores.
A o abrigo destas Arcadas, ha u m a emanagao permanente de ideias
inovadoras que se desabrocham e m infinitas outras ideias, permitindo assim
manter todo u m principio inovador, modernizante e precursor de renovagdes.
Por isso, esta Faculdade nao precisa jamais apagar o seu passado
de tradigdes para ingressar nas alvoradas inovadoras do futuro. Esta Faculdade
294
Branddo Machado
Advogado
1990
DIREITO CIVIL
DIREITO C O M E R C I A L
DIREITO D O E S T A D O
DIREITO P E N A L
Candidato : Mozar Costa de Oliveira
Titulo : "Paixao, razao e natureza (investigagao sobre o discurso
normativo)
Orientador : Miguel Reale Junior
Defesa e m : 24.10.1990
DIREITO P R O C E S S U A L
DIREITO E C O N O M I C O - F I N A N C E I R O
DIREITO I N T E R N A C I O N A L
FILOSOFIA E T E O R I A G E R A L D O D I R E I T O
1991
D I R E I T O CIVIL
DIREITO C O M E R C I A L
DIREITO D O T R A B A L H O
DIREITO D O E S T A D O
DIREITO P E N A L
DIREITO P R O C E S S U A L
DIREITO E C O N O M I C O - F I N A N C E I R O
DIREITO I N T E R N A C I O N A L
Candidato H e e M o o n Jo
Titulo "O investimento estrangeiro e o novo papel do direito
internacional: com referenda especial a experiencia da
Coreia"
Orientador Guido Fernando Silva Soares
Defesa e m le.10.1991
316
FILOSOFIA E T E O R I A G E R A L D O DIREITO
1992
DIREITO CIVIL
DIREITO D O T R A B A L H O
DIREITO D O E S T A D O
DIREITO E C O N O M I C O - F I N A N C E I R O
DIREITO I N T E R N A C I O N A L
FILOSOFIA E T E O R I A G E R A L D O D I R E I T O
1990
DIREITO C O M E R C I A L
1991
D I R E I T O CIVIL
DIREITO COMERCIAL
DIREITO D O E S T A D O
DIREITO PROCESSUAL
DIREITO ECONOMICO-FINANCEIRO
DIREITO INTERNACIONAL
Resumo:
A tese parte do principio de que entre direito e condutas humanas existe relagao
igual a existente entre a lingua e discursos. E m seguida refere-se a instrumentos
juridicos de adaptagao a situagoes sociais novas, seja produzindo normas gerais,
seja interpretando as existentes. Tal analise deve contar que o direito pode ser
anahsado e m tres dimensdes: normas, aparelhos e cultura. C o m as mudangas
sociais, a adaptagao torna-se mais dificil e a promogao de mudangas menos
controlavel. A legitimidade do sistema juridico torna-se problema permanente.
Karl Renner e Eugen Ehrlich reelaboram a teoria juridica a partir da sociologia.
Enfrentam dois limites: o determinismo e o instrumentalismo juridico. A solugao
atual do impasse busca a sintese entre estruturas e agao. E possivel recuperar
t a m b e m u m a tradigao revolucionaria e transformadora da historia do
pensamento juridico.
1992
D I R E I T O CIVIL
DIREITO DO TRABALHO
DIREITO D O E S T A D O
DIREITO ECONOMICO-FINANCEIRO
DIREITO INTERNACIONAL
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