005 Embriaguez Volante Lei Seca PDF
005 Embriaguez Volante Lei Seca PDF
005 Embriaguez Volante Lei Seca PDF
Por Marcelo Aparecido Carvalho Leite: aluno do 10º período do curso de Direito na
Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR/MG). Endereço eletrônico:
[email protected], orientado por Edson Camara de Drummond Alves
Junior, bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas Vianna Junior (FIVJ/MG) e
Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade Candido Mendes
(UCAM/RJ). Advogado (OAB/MG 109.987) e professor de Direito Civil da Universidade
Vale do Rio Verde (UNINCOR/MG).
Resumo: O presente artigo tem por objetivo a análise da embriaguez ao volante, tema que
retrata um grande problema no trânsito brasileiro, causador de grande parte dos acidentes em
nossas estradas. De início, foi apresentado um breve histórico sobre o tema, seguido de estudo
voltado para as modificações trazidas pela “Nova Lei Seca”, analisando os dispositivos que
tratam da infração administrativa e criminal, dos métodos de avaliação para constatação da
embriaguez e do enquadramento da infração, sendo a pesquisa desenvolvida através de análise
de artigos científicos disponíveis na internet, livros e as leis específicas, com ênfase na lei
12.760/2.012. Ao final, concluímos que as mudanças ocorridas não tiveram o objetivo de
transgredir nenhum princípio constitucional, mas sim estabelecer tolerância zero no combate
daqueles que utilizam de seu direito à liberdade em detrimento do direito à vida de outrem.
Abstract: This article has it target the analysis of drunk driving, theme is a major problem in
the Brazilian traffic, which causes most of the accidents on our roads. At first, a brief history
was presented on the topic, followed by study related to the changes brought by the "New Dry
Law" by analyzing the provisions addressing the administrative and criminal offense, the
evaluation methods for finding the drunkenness and the framework of offense, and the
research developed through analysis of scientific articles available on the internet, books and
specific laws, with emphasis in law 12.760/2.012. At the end, we concluded that the changes
taking place did not have the objective to transgress any constitutional principle, but to
establish zero tolerance in the fight of those who use their right of freedom at the expense of
the right to life of others.
Keywords: New Dry Law. Drunk driving. Observation means. Administrative violation.
Drunken crime.
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1. Introdução
O presente artigo tem como propósito fazer uma análise da infração de embriaguez ao
volante, tanto no plano administrativo quanto no âmbito criminal, com ênfase na lei
12.760/2.012 (Nova Lei Seca), que alterou consideravelmente a redação dos artigos 165 e 306
do Código de Trânsito Brasileiro, trazendo, ainda, ampliação das formas de provas para
constatação da embriaguez e o enrijecendo na punição aos condutores de veículos
automotores que desrespeitam o diploma legal.
O objetivo deste artigo é demonstrar as diferenças no enquadramento da infração
administrativa e do crime de embriaguez do condutor que dirige veículo automotor após ter
ingerido bebida alcoólica ou feito uso de substância entorpecente, demonstrando os tipos de
provas previstas no Código de Trânsito brasileiro e esclarecer sobre a avaliação da capacidade
psicomotora para a constatação daquele tipo penal. Para chegarmos ao ponto pretendido foi
utilizado o método dedutivo, com base na metodologia de pesquisa bibliográfica em artigos
científicos disponíveis na internet, doutrinadores e as leis que tratam sobre o assunto, com
ênfase na lei 12.760 de 2.012.
Na primeira parte do trabalho se dará um breve histórico do surgimento do mecanismo
de combate aos condutores que fazem uso de bebida alcoólica e depois colocam em risco a
própria vida e a de terceiros, na condução de veículo automotor. Partiremos do ano de 1.926,
na Noruega, onde surgiram as primeiras punições as pessoas que conduziam veículos sob
efeito de bebida alcoólica, e que logo teve aceitação e adoção em outros países. Veremos a
implantação desse dispositivo no ordenamento brasileiro a partir do ano de 1.997, através da
promulgação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), sendo apresentados em seu corpo
normativo dois dispositivos sobre o assunto, o primeiro (artigo 165) tratando da infração
administrativa e o segundo (artigo 306) acerca da infração criminal.
Em seguida, será feita uma confrontação entre a infração administrativa e a penal,
verificando os pontos que as diferenciam e as comuns. Observaremos, ainda, as mudanças que
ocorreram nos dispositivos (artigo 165 e artigo 306) no decorrer dos anos, desde a
implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), até a mais recente mudança trazida pela
lei 12.760, em 2.012. Notaremos que as mudanças impuseram medidas cada vez mais rígidas,
implementadas de forma gradativa, para tentar combater os motoristas irresponsáveis e
insensíveis, que embriagados, ceifavam a vida de muitas pessoas, até então, sem terem a
devida punição. Também será tratado, ao fim desta parte, a aplicação, concomitante, dos dois
dispositivos para um único condutor infrator.
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Após a confrontação dos dispositivos, realizaremos uma análise mais detalhada dos
artigos 165 e 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que tratam da infração administrativa e do
crime de embriaguez, respectivamente, verificando suas peculiaridades, forma de constatação
de cada infração e qual o enquadramento correto do condutor de veículo, que dirige sob efeito
de álcool ou outra substância entorpecente (se caracteriza como infração administrativa ou
crime de embriaguez) e suas respectivas consequências.
Terminado o estudo de cada dispositivo detalhado anteriormente, faremos a análise da
Resolução 432/2.013, implementada pela lei 12.760/2.012, que alterou o artigo 277, §2° do
Código de Trânsito Brasileiro e que foi expedida no mês de janeiro de 2.013 pelo Conselho
Nacional de Trânsito (CONTRAN), que trata das formas de avaliação admitidas para a
constatação da embriaguez ao volante, entre elas, a inovação da avaliação da capacidade
psicomotora do condutor de veículo, realizado pelo agente de trânsito, quando o condutor se
recusar a se submeter ao teste do etilômetro ou ao exame clínico quando solicitado.
Em seguida, serão apresentadas as correntes doutrinárias que discutem sobre o
enquadramento do crime de trânsito previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro,
com as devidas alterações dada pela lei 12.760/2.012, crime de perigo concreto, crime de
perigo abstrato ou crime de perigo abstrato de periculosidade real, analisando-se suas
características e as justificativas de cada doutrinador.
Ao final poderemos entender melhor a dinâmica entre os dispositivos legais (artigo
165 e 306), distinguindo a definição de cada um deles, conhecendo os meios de provas
previstos no diploma legal, definindo como e quando é realizada a avaliação da capacidade
psicomotora para a constatação da embriaguez, bem como saber qual o correto
enquadramento em cada caso concreto, para, ao final, responder ao seguinte questionamento:
“A pessoa que ingere bebida alcoólica, comete infração administrativa ou crime de trânsito?”
2. Breve histórico
Os países escandinavos foram os primeiros a sentirem a necessidade de reprimir a
embriaguez ao volante, sendo que, em 1.926, a Noruega decidiu erigir em ilícito penal a ação
de conduzir veículo automotor sob a influência de bebida alcoólica, punindo com multa ou
prisão de até um ano, apreensão da habilitação por, no mínimo, um ano e a cassação no caso
de reincidência na conduta. Desde então, o exemplo foi seguido pela Finlândia, ainda no
mesmo ano, depois pela Suécia, Dinamarca e daí por inúmeros países.
No Brasil, como em outros países, onde havia a necessidade da imposição de medidas
para conter os motoristas irresponsáveis e insensíveis, que, embriagados e sob a égide da
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impunidade, ceifavam a vida de muitas pessoas, quando não as deixam com graves sequelas,
até o ano de 1.997, a embriaguez ao volante era tratada como contravenção penal de direção
perigosa (artigo 34 da Lei Delegada 3.688/1.941), sendo que, em setembro deste mesmo ano,
foi implantado o Código de Trânsito Brasileiro - CTB, (Lei 9.503/97), passando a tratar, em
seu arcabouço, a embriaguez ao volante, tanto na esfera administrativa, quanto na esfera
criminal, nos artigo 165 e 306, respectivamente.
Após a promulgação do Código de Trânsito Brasileiro no ano de 1.997, algumas
mudanças foram feitas nos artigos que tratam da embriaguez ao volante, com o intuito de
propiciar um trânsito mais seguro para todos, objetivo central do Código, podendo ser visto
em seu artigo 01º, § 2º, in verbis:
Em 2.008, o legislador verificando que a redação dos artigos 165 e 306 não estavam
sendo suficientes para reprimir, de maneira satisfatória, a condução de veículo por pessoa
embriagada, editou a lei 11.705/2.008, denominada “Lei Seca”, que instituiu regras com mais
rigor aos condutores que dirigissem sob efeito de álcool. A Lei auxiliou na diminuição de
acidentes causados por condutores embriagados, todavia, ainda não estava sendo o suficiente
para alcançar os resultados pretendidos pelas autoridades, passando a sofrer algumas
alterações. Em dezembro de 2.012 foi editada e promulgada a Lei 12.760, denominada “Nova
Lei Seca”, com status de ser a mais rígida desde a previsão da infração no Código de Trânsito
Brasileiro, com o objetivo de aumentar a conscientização de não se misturar a bebida com
direção. Além de mudar os hábitos dos brasileiros, a lei impôs punição pesada no bolso de
quem a desobedece. Essas modificações trazidas pela lei 12.760 atualmente são as que
vigoram no ordenamento brasileiro, que serão esmiuçadas no presente artigo com mais
detalhes.
Os núcleos dos respectivos artigos 165 e 306 apresentam a mesma ideia, com a
proibição de condução de veículo automotor, após o consumo de bebida alcoólica ou de
substância entorpecente. Nesse sentido, De Bem (2.013), assevera que o consumo prévio do
álcool ou de drogas deve influenciar na condução do veículo automotor pelo agente em ambos
dispositivos, contudo, na infração administrativa não há necessidade da conduta do motorista
expor a perigo algum bem jurídico, pois o perigo já é presumido, ao passo que na infração
penal haverá necessidade de uma direção anormal pelo condutor em razão da influência do
álcool ou das drogas e que exponha os bens jurídicos tutelados a um potencial perigo.
Acrescenta, ainda, Gomes (2.013) que a infração administrativa é comprovada através da
condução de veículo sob o presumido efeito do álcool ou outra substância psicoativa, devendo
a ingestão do álcool ou da substância ser comprovada e seus efeitos que poderão ser
presumidos.
Para encerrarmos, trazemos o dispositivo do artigo 7º, §1º da Resolução
432/2.013, expedida pelo Conselho Nacional de Trânsito, que assevera que a constatação do
crime capitulado no artigo 306 não elimina a aplicação do disposto no artigo 165 do Código
de Trânsito, ou seja, uma pessoa que for flagrada cometendo o crime de embriaguez, também
sofrerá a punição administrativa. Para o doutrinador Gomes (2.013), a aplicação concomitante
da infração penal e administrativa, viola o princípio do bis in idem, porque as sanções
ofendem o mesmo bem jurídico, assim como os mesmos interesses instrumentais, que são o
princípio da condução segura e segurança viária. Ambas as infrações existem para cumprir o
mesmo papel: preservação da segurança viária.
Em resumo, uma pessoa que dirige após ter ingerido bebida alcoólica poderá não
cometer um crime de trânsito, mas estará cometendo uma infração administrativa, que poderá
ser aplicada isoladamente ou concomitantemente com a infração criminal.
até dez vezes o valor base) e a suspensão do direito de dirigir por doze meses, além das
medidas administrativas de recolhimento da carteira de habilitação, retenção do veículo até a
apresentação de condutor hábil para dirigir, e no caso da não apresentação deste condutor,
remoção do veículo. Válido citar a análise de Cabette (2.013, p. 02), em relação ao artigo 165,
redigido pela lei 11.705/2.008 e mantido pela lei 12.760/2.012:
Em geral, pode-se dizer que o condutor que bebeu, normalmente, não avalia os efeitos que o
álcool produz sobre sua capacidade de rendimento. Se produz nele euforia, uma falsa
segurança de si mesmo e um sentimento subjetivo de acreditar que tem uma melhor
capacidade para dirigir, aumentando a tolerância ao risco, levando-o a tomar decisões mais
perigosas do que a habitual. O álcool diminui, também, o sentido de responsabilidade e a
prudência, enquanto que aumenta as ações impulsivas, agressivas e pouco educadas. Por sua
vez, o álcool retarda as funções cerebrais, necessitando assim mais tempo a nível mental para
processar as informações e reagir mediante os fatos. De todas estas alterações
comportamentais, a notável diminuição da percepção do risco que produz o álcool parece,
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segundo as pesquisas, a chave que maior explicação proporciona ao alto nível de risco que
parece assumir o condutor alcoolizado.
aquela pessoa que tem direito de conduzir veículo em via pública, está condicionada a
demonstrar sua aptidão para dirigir. Entretanto, caso o sujeito esteja conduzindo veículo sob
efeito de álcool, cabe ao Estado o dever de fiscalizá-lo, e ao condutor, quando submetido à
fiscalização, a obrigação de demonstrar que está apto para conduzir o veículo naquela
condição, e na sua recusa, não estará demonstrando para o Estado essa aptidão, invertendo
assim o ônus da prova. E finaliza, afirmando que, como a infração administrativa não exige a
capacidade psicomotora alterada e sim mera influência de álcool, estará suscetível a responder
administrativamente. Dentro dessa linha de raciocínio, Felix (2.013), autora do artigo
“Embriaguez e direção perigosa”, preconiza que por se tratar de penalidade administrativa, o
Estado através de seu poder de polícia possui legitimidade para fiscalizar e aplicar tal
penalidade, pois não recai sobre a liberdade de pessoas e sim sobre atividades e bens, nesse
caso, da suspensão do direito de dirigir e aplicação de multa. Portanto, assim como o Estado
concede a uma pessoa interessada a habilitação para dirigir veículo, através de um ato
administrativo com natureza jurídica de licença, também compete a ele fiscalizar e punir
condutores que violam as regras de trânsito, em prol do interesse coletivo. Portanto, cabe ao
Estado, órgão legitimado, através de seu poder de polícia aplicar as penalidades previstas
àquele condutor que desrespeita o ordenamento legal, e não cabe à Administração Pública,
provar que o condutor não está em condições de guiar um veículo automotor, ao contrário, em
razão da concessão da licença para dirigir ter como provocação o ato do particular, é ele quem
deve comprovar estar apto ou habilitado na conformidade da lei.
Além da alteração citada no artigo 277 e seus parágrafos, a lei 12.760/2.012,
também alterou a redação do artigo 276 do Código de Trânsito Brasileiro, passando a vigorar
a expressa referência à concentração de álcool aferida tanto por exame de sangue como por
aparelho alveolar. Também, o legislador, no parágrafo único do dispositivo em comento,
determinou que o Conselho Nacional de Trânsito estabelecesse as margens de tolerância
quando a infração administrativa for apurada por aparelho de medição, sendo deliberado pelo
CONTRAN, por meio da Resolução 432/2.013, que a margem de tolerância para a
configuração da infração administrativa não poderá ultrapassar 0,05 miligrama de álcool por
litro de ar alveolar expelido (artigo 6º, II), quando a medição for realizada por teste do
etilômetro e que a apresentação de qualquer concentração de álcool por litro de sangue,
configurará a infração administrativa (artigo 6º, I).
Nesse sentido o doutrinador Luiz Flávio Gomes (2.013, p. 124-125) assevera:
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A tolerância zero passou a ser absoluta em relação ao exame de sangue e relativa no que diz
respeito ao teste do etilômetro, visto que ele exige o mínimo de 0,05 mg/l de ar alveolar
expirado. Nada, praticamente nada, escapa do novo regramento jurídico.
Por conta dessa “falha” legislativa, foi promulgada, em dezembro de 2.012, a Lei
12.760, denominada “Nova Lei Seca”, com o status de ser a mais rígida, desde a previsão do
delito no arcabouço brasileiro; com a nova lei, foi inserida, na redação do artigo 306 do
Código de Trânsito Brasileiro, a expressão “capacidade psicomotora alterada” e retirada a
concentração taxativa de álcool por litro de sangue. A nova lei seca, além de alterar a redação
do artigo 306, dobrou o valor da multa administrativa, agravando os casos de reincidência e
facilitou a forma de comprovação da embriaguez, através da edição da Resolução 432/2.013,
expedida pelo Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), que será tratada mais adiante.
Com as mudanças trazidas pela “Nova Lei Seca”, o delito do artigo 306,
continuou sendo alvo de discussões doutrinárias, principalmente em relação a sua
aplicabilidade. Para o doutrinador De Bem (2.013), o novo preceito, em uma leitura
preliminar, parece apresentar mais problemas do que soluções, principalmente em relação a
sua aplicação. Assim surgem alguns questionamentos sobre a atual redação do artigo 306:
Qual o bem jurídico tutelado frente à nova proibição? O que se trata “capacidade psicomotora
alterada” do condutor? Como o álcool e as drogas devem influenciar o motorista na condução
do veículo automotor?
Para o primeiro questionamento, o magistrado, interpretando o tipo penal tem a
tarefa de analisar sobre qual bem jurídico é estendida a proteção penal definida pelo
legislador, individual ou a coletiva. Nesse sentido vejamos a lição de Moreno Alcázar (2.003,
p. 51):
Em outra linha, Fernando Capez (2.000) aduz que o objeto jurídico protegido no
crime de trânsito é a segurança viária, construindo o que acredita ser um bem jurídico
coletivo, pois qualquer ação de risco no trânsito configuraria uma lesão à segurança viária.
Para De Bem (2.013), a incolumidade pública não passa de um bem jurídico fictício, devendo
a tutela penal recair sobre o sujeito individual ou seu patrimônio, contudo sobre um número
indeterminado, assim, o bem jurídico protegido deve ser uma realidade distinta da finalidade
legislativa, com intenção de alcançar o trânsito em condições seguras. Gomes (2.013)
assevera, ainda, que o bem jurídico protegido pela norma penal, decorrente do artigo 306, é a
vida, a integridade física e o patrimônio e devido à relevância indiscutível a vida humana
dever ser priorizada frente à lesão e ao patrimônio.
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de medida política social, menos evasiva do que a punição penal poderia acrescentar melhores
resultados na proteção de bens jurídicos tutelados.
devem ser realizados por médico oficial, surge o questionamento: Em que contexto seria
admitido o exame? Caberia a condução coercitiva do condutor? Para o doutrinador Oliveira
(2.012) a realização dos exames deveria ser restringida aos casos em que o condutor se
envolver em acidente de trânsito. Para De Bem (2.013), a condução coercitiva para a
realização do exame deveria ser regulamentada pelo Conselho Nacional de Trânsito, e como
nada foi disposto na resolução que disciplina o assunto, tal meio de prova será pouco utilizado
para fins de constatação da influência do álcool ou de outra substância psicoativa nos
condutores de veículo automotor. Na visão de Gomes (2.013), os meios de análise (clínico e
pericial) vêm fundados em critérios estatísticos, derivados de presunções genéricas que
desconsideram a individualidade das pessoas, e, portanto, trata-se de uma avaliação
inconstitucional, pois fundamenta em uma presunção automática da alteração da capacidade
psicomotora, a partir de determinada quantidade de álcool no sangue, violando,
flagrantemente, o princípio constitucional da presunção da inocência.
Outro método de avaliação prevista pelo Código de Trânsito e regulamentado pelo
Conselho Nacional de Trânsito se trata do aparelho destinado à medição do teor alcoólico no
ar alveolar (etilômetro), conhecido popularmente por “bafômetro”, devendo as suas
especificações estarem de acordo com a legislação metrológica. O método constitui meio
idôneo para aferição da concentração etílica no condutor de veículo automotor e como
previsto no artigo 3º, §1º da Resolução 432/2.013, é o procedimento que dever ser priorizado
na fiscalização, contudo, somente será submetido ao teste o condutor que aceitar realizá-lo.
Nesse sentido, De Bem (2.013) menciona que apesar da prova constituída a partir da aferição
dos níveis de alcoolemia pelo aparelho etilômetro ser um meio idôneo, é notório que a
maioria dos condutores não se submeterá ao referido exame, invocando a aplicação do direito
de não produzir prova contra si mesmo. No entanto, caso o condutor consentir na realização
do teste, o crime será configurado com a aferição de 0,34 miligramas ou mais de álcool por
litro de ar alveolar expelido pelos pulmões (0,34dg/l), conforme previsto na Resolução
432/2.013. A esse propósito, se faz necessário trazer a colocação do doutrinador Gomes
(2.013), de que a interpretação veiculada na resolução 432/2.013 é totalmente equivocada,
devido ao critério quantitativo incorreto nela fixado, pois, para ele, um sujeito com quantidade
de álcool menor do que a prevista poderia cometer todos os absurdos no trânsito e não se
enquadraria no crime previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro.
Com a promulgação da Nova Lei Seca (Lei 12.760/2.012), o legislador
estabeleceu como meio da constatação da embriaguez ao volante, a avaliação da capacidade
psicomotora do condutor, tratando-se de uma inovação e de mais uma forma de avaliar os
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condutores que se recusarem a realizar os testes previstos no diploma legal. Assim, a prova
técnica de alcoolemia tornou-se dispensável. Neste sentido, a lei disciplinou evidências
externas capazes de atestar a influência do álcool na condução de veículo automotor. Dessa
forma, se, por exemplo, o condutor apresentar alteração em relação à aparência (sonolência,
odor de álcool); em relação à atitude (exaltação, agressividade); quanto à orientação (local
onde esteja, data e hora); quanto à memória (não se lembra do seu endereço, sobre os atos
cometidos); e quanto à capacidade psicomotora e verbal (dificuldade de equilíbrio, fala
alterada), poderá a autoridade atestar a alteração da capacidade psicomotora e por óbvio a
embriaguez (artigo 04º, parágrafo único da Resolução 432/2.013).
Importante destacar que, para a confirmação da alteração da capacidade
psicomotora, não basta o condutor apresentar apenas uma evidência, mas sim um conjunto de
sinais alterados, conforme preconiza o § 1º do artigo 5º da resolução 432/2.013. Sobre tal
aspecto, merece ser trazido à baila o entendimento do doutrinador Leonardo Schmitt de Bem
(2.013, p. 70), o qual assevera:
Mais importante é que estes sinais próprios de quem ingeriu álcool ou fez uso de drogas
deverão influenciar a condução do veículo automotor caracterizando conduta com potencial
perigo aos bens jurídicos tutelados. Logo, a presença destes sintomas não caracteriza
automaticamente a ocorrência do delito como pretende o Poder Executivo, pois se faz
necessária uma condução anormal em razão da influência do álcool ou em outras substâncias
psicoativas.
depoimentos das testemunhas. Vale ressaltar que além das possibilidades aqui elencadas, a lei
ainda previu a possibilidade de utilização de outros meios de provas, podendo citar a
confissão do condutor de veículo, a coleta de amostras de saliva ou urina para realização do
exame pericial.
Por fim, com a reforma legislativa, foi assegurado ao condutor submetido a algum
dos procedimentos de constatação de embriaguez, o direito de realização de contraprova, com
a finalidade de contraditar a prova que atestou sua incapacidade psíquica para dirigir.
Também poderá se valer de prova testemunhal para se defender da alegação policial, ou até
mesmo para certificar a condução normal do veículo.
São delitos nos quais não se exige um resultado de risco para um concreto objeto de proteção,
porém é exigida uma conduta ex ante perigosa para o bem jurídico, de forma que sua
aplicação requer a constatação da periculosidade real da conduta no caso concreto.
O doutrinador Gomes (2.013) ressalta que com o advento da “Nova Lei Seca”, em
uma primeira manifestação interpretava o crime do artigo 306 do Código de Trânsito
Brasileiro como crime de perigo concreto indeterminado, porém, atualmente, defende a tese
de que o crime, em discussão, é de perigo abstrato de periculosidade real e justifica que com a
mudança no dispositivo, o legislador passou a exigir que, além da ingestão do álcool, o
condutor deverá apresentar capacidade psicomotora alterada, ou seja, é necessário que
coloque, indeterminadamente, em risco a vida, a integridade física ou o patrimônio alheio,
devido a uma condução anormal do veículo automotor, prejudicado pela ingestão de bebida
alcoólica ou outra substância entorpecente que cause dependência.
Por fim, Cunha (2.013) assevera que com a nova redação do artigo 306 do Código
de Trânsito Brasileiro, o crime será classificado em perigo abstrato de periculosidade real,
pois não haveria a necessidade de comprovar o perigo para uma pessoa ou grupo determinado,
mas, apenas, um perigo genérico.
4. CONCLUSÕES
No decorrer deste artigo, desenvolveu-se uma análise das principais alterações
promovidas pela “Nova Lei Seca” que trouxeram mudanças significativas nos dispositivos
que tratam do assunto da embriaguez ao volante, especialmente, na seara administrativa e
penal, sendo que as mesmas foram feitas com o louvável propósito de diminuir o número de
acidentes no trânsito, ocasionadas após o consumo de bebida alcoólica, um dos principais
fatores que favorece o alto índice de acidentes automobilísticos no país.
A compreensão do estudo somente foi possível mediante a análise do tema desde
o seu surgimento nos países escandinavos e a aceitação da ideia por outros países, inclusive o
Brasil, que verificaram a necessidade de implantação de um dispositivo que tratasse sobre a
embriaguez na condução de veículo automotor, e também mediante o estudo da evolução do
tratamento do tema, perpassando pelo original Código de Trânsito Brasileiro, e suas
respectivas mudanças, até a implementação da “Nova Lei Seca”, que instituiu uma política
mais rígida e concedendo maior poder às autoridades para a constatação da embriaguez.
Após uma análise cronológica, entramos na esfera dos dispositivos da infração
administrativa e criminal, estudando suas peculiaridades, pontos positivos e negativos e a
confrontação entre esses dispositivos, com posterior estudo da Resolução 432/2.013, expedida
pelo Conselho Nacional de Trânsito, que trata dos meios de constatação da embriaguez e, por
fim, a análise das correntes com os possíveis enquadramentos da infração penal, prevista no
artigo 306 do Código de Trânsito.
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1.941. Código de Processo Penal.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-014/2.012/Lei/L12760.htm>. Acesso em 08
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periculosidade real”? Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/
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<https://jus.com.br/artigos/36577/embriaguez-e-direcao-perigosa-a-aplicacao-da-lei-seca-e-o-
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GOMES, Luiz Flávio; BEM, Leonardo Schimitt de. Nova Lei Seca: Comentários à Lei n.
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