Fotografia de Rua - Tuca Vieira

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Atlas fotográfico
Templo de Salomão }{image 9
Cumbica
Estrada de Ferro Carajás
Berlim
Minsk
Quadrado Negro
Cracolândia
Valle de la Muerte
V. se encontra da posição da seta
São Paulo
Fotografia de Rua
bio/contato
Salto no escuro

Cidades são lugares que não existem. Uma cidade é a proposição efêmera de um território fragmentado pela acumulação
desigual de tempos. Perceber o todo desse espaço é uma impossibilidade. Ao reunir os fragmentos que formam a urbe, seja
na memória, seja na imagem, múltiplas cidades até então invisíveis tomam forma.

Andar à deriva numa metrópole significa reconstruí-la, dotá-la de novos significados. A cada novo trajeto uma nova cidade se
desenha. Cidade e homem são dois vetores em movimento contínuo constituídos de histórias do passado num presente
fugaz em direção à inevitabili- dade e à fatalidade do futuro. Mutante no tempo e no espaço, a cidade desafia quem tenta
apreendê-la e entendê-la como um corpo único.

Toda cidade é composta em parte pela sua concretude e parte pelo imaginário que desperta em cada habitante. Logo, as
cidades só podem existir enquanto narrativa. Pautada necessariamente pela subjetividade, a narrativa é a negação da
existência de uma cidade única. Cada pessoa, portanto, é uma cidade fechada em si. Quanto mais o fotógrafo encapsula a
cidade, conge- lando no tempo monumentos e movimentos, mais ele está revelando sua própria arquitetura interior.

O fotógrafo andarilho percorre a cidade, esse entreposto de desejos, ânsias, amores furtivos, memórias indeléveis e fluxos
interrompidos na vã tentativa de harmonizar a golpes de luz e sombra o caos que o espreita a cada esquina dobrada. Os
labirintos da cidade são uma metáfora dos desencontros do próprio fotógrafo que, na precisão de seu caminho errático,
busca obsessivamente a compreensão e a expansão de si entre calçadas remendadas e sombras que prenunciam a noite
matizada de luzes artificiais.

Tuca Vieira é um primoroso fotógrafo andarilho em busca de uma cidade imaginária. Os jogos de sombras, ângulos e
geometrias abstraídas no preto-e-branco se harmonizam em seu visor causando um desloca- mento de percepção. Ao fim de
tudo resta uma cidade particular, quase totalmente descolada da cidade que lhe serviu de ponto de partida.

Fotografia de Rua é um dos avessos possíveis da cidade de São Paulo. Insólito, misterioso, permeado por uma atmosfera
lúgubre que denota a solidão do andarilho, este ensaio mescla influências da tradição da fotografia de rua francesa, com a
estética sedutora dos filmes noir sem, no entanto, abrir mão de questões contemporâneas que falam da relação do homem
com a paisagem urbana. Um golpe de vista. Um golpe de mestre.

Eder Chiodetto

(texto de parede da exposição no Centro Mariantonia)

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Centro Cultural Mariantonia, 2008

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