Educação e Capitalismo
Educação e Capitalismo
Educação e Capitalismo
RESUMO:
O presente artigo tem por objetivo discutir o processo de ensino a partir da perspectiva
da formação do aluno, a fim de compreender a relação existente entre a educação e o
paradigma de acumulação flexível, o capitalismo, que é o principal instrumento de força
das políticas neoliberais. Realizou-se um contraponto entre a teoria estudada,
enfatizando legislação e organização do ensino, e a prática da educação, na qual a escola
"assume" o papel de "indústria" que tem como resultado de seu processo um "produto"
denominado aluno, ou seja, mão-de-obra que será vendida ao capitalista. Toma como
ponto de partida um breve histórico acerca da organização econômica e os modos de
produção da sociedade. Em seguida, faz-se uma explanação dos documentos legais que
regem a educação e, ao final, indica-se uma proposta de mudança, sob as premissas de
Paulo Freire, para romper a relação entre a educação e o capitalismo, possibilitando uma
transformação social, na qual o principal objetivo da educação seja a formação para
cidadania, que o aluno seja visto não como "produto" do processo, mas como sujeito
sócio-histórico do mesmo.
ABSTRACT
This article aims to discuss the process of teaching from the perspective of the student
in order to understand the relationship between education and the paradigm of flexible
accumulation, capitalism that is the main instrument of force of neoliberal policies. We
performed a comparison between the theory studied, emphasizing law and education
1
Pós-graduanda em Gestão Educacional, turma 2010, pelo Instituto Metodista Granbery,
licenciada em Pedagogia pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO/JF), Pedagoga da
Fundação João Theodósio Araújo - Associação dos Cegos e membro da mesa diretora do
Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência de Juiz de Fora (CMPD). E-mail:
[email protected].
organization, practice and education, in which the school "assumes" the role of
"industry" which has the result of their process a "product" called student or That is,
labor-work that will be sold to the capitalist. It takes as its starting point a brief history
about the organization and economic modes of production of society. Then, it is an
explanation of the legal documents governing the education and in the end it states a
proposed change under the assumptions of Paulo Freire, to break the link between
education and capitalism enabling social transformation in which the main aim of
education is the training for citizenship and that the student is not viewed as "products"
of the process, but as subjects of the same socio-historical.
INTRODUÇÃO
2
paradigma de acumulação de capital, instrumento de força das políticas neoliberais.
3
totalmente a propriedade de todos os meios de produção que poderiam garantir sua
subsistência. Dessa forma, só poderá alcançar sua sobrevivência se vender sua força de
trabalho para os proprietários dos meios de produção, e isto ocorrerá apenas se ele
perder todas as possibilidades de sobreviver de forma autônoma; 2o) passa a ser
fundamental que o trabalhador seja livre de todo tipo de relação jurídica que o prenda a
qualquer modo de servidão, ou seja, não existem mais servos e senhores, e agora todos
podem dispor de sua força de trabalho como quiserem. O trabalhador agora é livre e tem
direitos para vender sua capacidade de trabalhar; 3o) agora o principal objetivo do
trabalho (produção) não se constitui mais na satisfação das necessidades humanas.
Consequentemente, passa-se a produzir para o mercado, visando o incremento da
unidade de capital empregado, o lucro, característica fundamental desse modo de
produção. O trabalhador da economia de subsistência também tinha pouca escolha, dada
sua escassa tecnologia, mas não podia ver isto como uma falta de opções, pois a escolha
entre trabalhar ou não era tão simples quanto a entre comer ou não, vestir-se ou não etc.
O trabalhador atual, em troca, vê diante de si várias opções teóricas, porém há poucas
possibilidades práticas.
Os camponeses da época feudal tinham que entregar parte de seu produto ou
de seu trabalho a seus senhores, mas continuavam vivendo fundamentalmente em uma
economia de subsistência, regida pela lógica da produção doméstica. Primeiramente, em
direção à transição desse modo de produção para o capitalismo, está a divisão do
trabalho, tendo em vista que os artesãos se especializam em um tipo de produção frente
aos trabalhos artesanais complementares da família camponesa, que passam da
agricultura de subsistência à agricultura comercial, logicamente especializada nos
produtos mais demandados pelo mercado. Ao mesmo passo, rompe-se a relação direta
entre a produção e as necessidades, pois não se produz mais para o uso e consumo, mas
para troca.
Posteriormente, acontece a conversão do trabalhador independente em
trabalhador assalariado, no qual o capitalista traz os meios de produção e entrega para o
trabalhador, em troca de sua força de trabalho, apropriando-se do produto final.
Por fim, segundo Enguita (1989), o marco na degradação do trabalho foi a
sua divisão técnica, que teve lugar quando o capitalista, em vez de limitar-se a aceitar os
processos de trabalho estabelecidos, reorganizou o próprio processo de produção. O
trabalhador, que já havia perdido a capacidade de determinar o produto, perde agora o
controle de seu processo de trabalho, entrando em uma relação alienada com sua própria
4
atividade. A divisão técnica do trabalho pode desenvolver-se simplesmente como
decomposição de um processo em suas tarefas integrantes, mas seus grandes progressos
vieram da introdução da maquinaria, do taylorismo2 e do fordismo3. A maquinaria
estabelece um ritmo mecânico ao qual o trabalhador tem que se subordinar.
Bastos (2005) defende que, para que esse modo de produção desse certo, foi
preciso assegurar os mecanismos institucionais para que cada novo indivíduo pudesse
inserir-se nas novas relações de produção, sem provocar conflitos. Por isso, inventou-se
e reinventou-se a escola. A instituição e os processos escolares foram reorganizados de
forma tal que as salas de aula transformaram-se no lugar apropriado para acostumar-se
às relações sociais do processo de produção capitalista, no espaço institucional
adequado para preparar as crianças e os jovens para o mercado de trabalho, que é,
claramente, sinônimo de uma indústria.
Nesse sentido, metaforicamente, a escola “assume” a política neoliberal,
tornando-se uma “indústria” que possui, como linha de produção, os níveis e
modalidades de ensino; como trabalhadores assalariados e "alienados", os professores,
e, como matéria-prima para o produto final destinado ao mercado capitalista, o aluno4.
2
O Taylorismo se constitui em métodos e técnicas formuladas por Taylor e cujo objetivo é a
decomposição do processo de trabalho nas tarefas mais simples, mediante a análise dos tempos e dos
movimentos. O propósito da "organização científica do trabalho", OCT, é converter a capacidade de
trabalho do assalariado, que o capitalista comprou, no máximo de trabalho efetivo, ou seja, regulação
dos processos de trabalho individuais com vistas à maximização do lucro.
3
O Fordismo, criado por Henry Ford, é a incorporação do sistema taylorista ao desenho da
maquinaria, mais a organização do fluxo contínuo do material sobre o qual se trabalha: simplificando, a
linha de montagem. Com ele, o trabalho alcança o grau máximo de submetimento ao controle da
direção, desqualificando os trabalhadores, o que resulta no mínimo de controle sobre seu próprio
processo produtivo.
4
Cabe ressaltar que, as crianças estão tomando assento nas escolas ou nas "linhas de produção" da
"indústria-escola" cada vez mais cedo, tendo em vista que em 2005, com a lei n° 11.114, retificou-se a
idade de inserção no ensino fundamental para 6 anos, e não mais 7.
5
se modificado ao longo do tempo, seu objetivo sempre foi o de adequar as tecnologias,
as formas de organização do trabalho e os requerimentos de qualificação do trabalhador
ao processo de valorização do capital (BASTOS, 2005).
Para que os modos de produção obtivessem sucesso, era preciso "produzir"
o perfil do trabalhador adequado às atividades. Dessa forma, a escola se adequava às
exigências do mundo do trabalho organizando, o trabalho pedagógico de forma
rigidamente hierarquizada e centralizada, a fim de assegurar a disciplina necessária à
vida social e produtiva.
A globalização econômica mudou as regras de competitividade, forçando
uma transformação nos padrões de produção e comercialização. Isso obrigou as
empresas a buscarem uma produção qualitativamente eficaz e flexível, com menor custo
trabalhista e de capital, o que tornou imprescindível readaptar os sistemas de gestão e
organização do trabalho. Esse novo paradigma técnico-econômico se caracteriza pela
produção flexível e diversificada (BASTOS, 2005).
Então, visto que cada modelo de produção demanda determinadas
capacidades e habilidades por parte dos trabalhadores, o capital espera que, através da
educação, sejam moldados os novos perfis de trabalhadores para se adaptarem às novas
exigências dos mesmos.
No atual paradigma, passa-se a exigir um novo perfil de trabalhador, que
tenha mais conhecimentos, saiba comunicar-se adequadamente, trabalhe em equipe,
adapte-se a novas situações, crie soluções originais e seja capaz de educar-se
permanentemente.
Nesse sentido, para fortalecer a política neoliberal e suprir as novas
exigências impostas pelo capitalismo, a legislação educacional adapta-se, buscando
proporcionar ao aluno uma formação que atenda às exigências de qualificação
colocadas pelo mercado de trabalho, alijando sua função social, que é o
desenvolvimento de potencialidades com vistas à necessária emancipação humana.
Sob essa premissa, Gadotti (1997, p. 50) argumenta:
Como mercadoria o homem não possui valor em si. Seu valor deriva
da relação de troca, enquanto está na origem do lucro, da mais valia e
da acumulação do capital. O trabalhador, diz Marx em O Capital, sai
sempre do processo como nele entrou, fonte pessoal da riqueza, mas
desprovido de todos os meios para realizá-la em seu proveito. Uma
vez que, antes de entrar no processo, aliena seu próprio trabalho, que
se torna propriedade do capitalista e se incorpora ao capital, seu
6
trabalho durante o processo se materializa sempre em produtos
alheios.
7
no mercado. A perspectiva de preparação para o trabalho trouxe avanços qualitativos,
visto que, no contexto atual, se torna extremamente importante que os educandos sejam
preparados para ingressar nesse novo mundo do trabalho.
Todavia, apesar desse avanço, pode-se perceber que esses documentos, de
certa forma, também estão comprometidos com a conservação das relações sociais
excludentes, tendo em vista que a preparação básica para o trabalho visa mais adaptar os
indivíduos às novas exigências do mercado de trabalho, do que propor uma reflexão
crítica a respeito dos fatores condicionantes da inserção produtiva dos indivíduos. Não
se deve objetivar a educação como forma de propiciar aos alunos, principalmente das
escolas públicas, melhores condições de adaptação ao meio. Embora a educação
contribua para uma certa conformação do homem à realidade material e social, ela deve
possibilitar a compreensão dessa mesma realidade com a intenção de transformá-la.
Embasando a reflexão deste trabalho ─ em que objetiva-se uma discussão
com vistas ao rompimento da prioritária relação entre educação e capitalismo, pautado
nas políticas neoliberais e não na função social de formação do aluno ─ toma-se, como
requisito fundamental à verdadeira mudança necessária ao contexto social e
educacional, a fala de Freire (1996, p. 53-54):
8
Enfim, para solidificar essa mudança é preciso dar voz aos educadores que
assumem a frente dessa luta cotidiana e não marginalizá-los como meros trabalhadores
assalariados: é preciso formar futuros cidadãos, e não "produtos" que servirão de mão-
de-obra para o mercado e, sobretudo, é preciso fazer da educação uma ação política e
transformadora, e não uma "indústria" que restringe, respectivamente, a sala de aula e o
aluno a uma linha de produção e a um produto, pois alunos não são objetos, mas sujeitos
da História.
CONCLUSÃO
9
REFERÊNCIAS
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