Os Casamentos Prematuros-1
Os Casamentos Prematuros-1
Os Casamentos Prematuros-1
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Tabela: Casamentos infantis realizados por província antes dos 15 anos
Província
Norte Niassa 24,2%
Cabo delgado 29,6%
Nampula 20,6%
Centr Zambézia 23,3%
o Tete 19%
Manica 20,8%
Sofala 18,6%
Sul Inhambane 9,4%
Gaza 8,8%
Maputo 5,8%
província
Maputo cidade 3,9%
De acordo com o IDS (2011), 56% de raparigas com a idade entre 20-24 anos casaram-se antes da
idade de 18 anos nas zonas ruais, comparado com 36% nas zonas urbanas (UNICEF 2013: 4) nas
regiões centro e norte do país.
Osório e Macuácua (2013) por sua vez, apontam os ritos de iniciação como o factor que,
fundamentalmente, confere o “mandato para o início da vida sexual, não apenas por aquilo que
aprendem, mas pela pedagogia utilizada na transmissão do conhecimento e pelos sentidos que são
conferidos na construção da adules feminina” (Osório e Macuácua 2013: 371). Para estes autores,
o início precoce da vida sexual decorre, sobretudo, do facto de o estatuto de adulto, conferido
pelo rito de iniciação ser actualizado com a gravidez e o casamento. Neste contexto, muitas
“raparigas não apenas consideram legítimo ter relações sexuais muito cedo (12, 13 anos), como a
essa legitimidade é acrescido o apoio das comunidades, desde que o exercício da sexualidade seja
controlado pela família” (id.), conforme se constata da seguinte citação:
“As raparigas têm que engravidar muito cedo, porque, se passar aquela idade jovem, ela vai ter
outros problemas e não vai poder ter mais filhos. É por isso que as raparigas engravidam muito
cedo, entre os 11 e 12 anos, a partir da primeira menstruação. Aos 18 já têm cinco, seis filhos.
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(...) Depois dos ritos a prioridade é o casamento ou arranjar um homem e fazer filho de
qualquer maneira, principalmente filhas.”
Dados referentes à situação da criança indiciam a existência, em Moçambique, de uma estreita
correlação entre o casamento prematuro e a gravidez na adolescência ou gravidez precoce. De
acordo com o IDS (2011), em 2003, 41% das raparigas com idades compreendidas entre os 15 e
os 19 anos estava grávida ou já tinha tido um ou mais filhos, percentagem essa que em 2011,
havia descido para 38%. De acordo com este indicador, as jovens com educação secundária ou de
nível superior tendiam a engravidar aos 17,5 e aos 20.7 anos de idade, respectivamente ao passo
que as jovens com a educação primária ou sem nenhuma educação formal estavam grávidas ou
tinham tido um filho aos 16.5 e aos 16.1 anos de idade, respectivamente.
Entretanto, e embora não tenha sido até então possível, do ponto de vista da investigação
científica, estabelecer a relação entre os ritos de iniciação e outros fenómenos sociais tal como o
casamento prematuro, a gravidez precoce e o abandono escolar, estudos levados a cabo por
diversas instituições sobre a situação da rapariga e da criança “sugerem haver alguma
convergência sobre o que se chama de tradições e práticas culturais brutas de frequência escolar”
(Osório e Macuácua 2013: 26).
Na opinião destes autores, existe um certo consenso de que as práticas tradicionais aparentam
influenciar de forma negativa as taxas de frequência do ensino primário, prejudicando “não só o
acesso à escola, mas também a retenção e a conclusão dos níveis de ensino, principalmente por
parte da rapariga”. De entre as práticas tradicionais que, aparentemente, deslocam “o interesse da
escola para o casamento prematuro ou para o trabalho, estes autores destacam:
Práticas como o lobolo ou casamentos prematuros, associados ou não aos ritos de
iniciação;
A instrução alternativa, em que se destacam os estudos do Alcorão;
A prioridade dada pelas famílias à educação de rapazes, em detrimento da educação das
raparigas com base no pressuposto de que os conhecimentos por estes adquiridos nos ritos
de iniciação femininos são suficientes para as preparar para a vida conjugal;
E o facto de, tradicionalmente, as questões domésticas tais como a limpeza da casa, acarretar
água e cuidar dos mais novos, ficarem a cargo das raparigas, o que as deixa com pouco tempo
livre para frequentarem a escola ou estudar.
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Actualmente, ocorreram na sociedade moçambicana transformações que afectaram a vida dos
grupos em causa (agravamento dos índices de pobreza, contactos interculturais, telenovelas
brasileiras, descentralização do estado, reconhecimento legal das práticas tradicionais tais como o
casamento prematuro).
A mediatização de vários casos envolvendo crianças e raparigas forçadas a casar fez com que
largos segmentos da população moçambicana, académicos, sociólogos, organizações dos direitos
humanos e da criança, bem como da sociedade civil, tomassem consciência - uma consciência
pré-científica, é certo, mas ainda assim, capaz de identificar a situação- da existência de um
problema, neste caso, a de que o casamento prematuro é uma prática enraizada e de
consequências indesejáveis. Os vários estudos subsequentemente levados a cabo por diversos
sociólogos identificaram o casamento prematuro como «problema social» e, em resposta, o
governo moçambicano adoptou uma série de medidas com vista a combater os aspectos mais
negativos associados aos ritos de iniciação e, em particular, aos casamentos prematuros.
LISTA DE ABREVIATURAS
Declaração de Honra
Declaramos, por nossa honra, que o presente trabalho foi elaborado por nos próprios. Não se
recorreu a quaisquer outras fontes, para além das indicadas, e todas as formulações e conceitos
usados, quer adoptados literalmente ou adaptados a partir das suas ocorrências originais (em
fontes impressas, não impressas ou na internet), se encontram adequadamente identificados e
citados, com observância das convenções do trabalho em vigor.
Mais declaramos que esta tese não foi apresentada, para efeitos de avaliação, a qualquer outra
entidade ou instituição, para além da directamente envolvida na sua elaboração, e que os
conteúdos das versões impressas e electrónica são inteiramente coincidentes.
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Declaramos, finalmente, encontrar-nos ciente de que a inclusão, neste texto, de qualquer falsa
declaração terá consequências legais.
AGRADECIMENTOS
Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam
um pouco de nós.
Resumo
Este trabalho pretende evidenciar os determinantes da persistência dos casamentos prematuros
em Moçambique e seu impacto nas crianças do ensino primário. Trata-se de uma pesquisa
documental, com embasamento bibliográfico e análise de documentos oficiais relacionados a
casamentos prematuros, em especial considerando as meninas e sua interface com a educação
formal. No país, há um diferencial relevante: mais da metade da população vive na região rural,
local que é o berço das culturas, hábitos e crenças que propiciam as situações de casamento
precoce. Este estudo sugere que cada escola reverta essa prática comprometedora, disseminando
e esclarecendo a legislação para maior conscientização de meninas que ainda estudam, de outras
que já estão casadas e daquelas que se encontram em situação em risco, junto com seus pais ou
responsáveis, autoridades comunitárias e tradicionais.
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Introdução
Este artigo deriva da dissertação de ensino médio intitulada, casamentos prematuros: o desafio
do conselho de escola em Moçambique, defendida em Julho de 2018.
Moçambique é um dos países mais pobres do mundo. Situa-se na região austral do continente
africano, onde diversos hábitos e costumes podem proporcionar a perpetuação de várias formas
de violência contra crianças e adolescentes. Variados factores socioculturais encobrem os
fenómenos da violência, para que sejam menos percebidos como a causa e a consequência do
ciclo intergeracional da pobreza no país, aumentando cada vez mais o número de mulheres e
meninas que vivem em situação extrema de pobreza.
O casamento prematuro é uma das piores formas de violência contra meninas moçambicanas.
Mais da metade das meninas se casa antes da idade legal, ou seja, antes de 18 anos. Embora essa
forma de casamentos seja ilegal, os seus autores dificilmente são levados à justiça. O governo
moçambicano tem- se preocupado com a situação nas últimas décadas.
O presente estudo pretende explicar a relevância do envolvimento activo dos membros dos
conselhos de escola nas acções relacionadas à protecção de meninas contra o casamento
prematuro. Evidência, como melhor estratégia para a maior abrangência na sensibilização das
pessoas, o oferecimento de informações sistematizadas e actualizadas sobre a situação de
meninas inseridas nessa problemática, as condições económicas das suas famílias e os principais
motivos que levam os pais ou responsáveis a preferirem o casamento precoce, não valorizando a
escolarização.