Hibridismo Cultural No Cinema
Hibridismo Cultural No Cinema
Hibridismo Cultural No Cinema
XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luís - MA – 30/05 a 01/06/2019
Resumo: No trabalho a seguir trazemos o filme Boi Neon (2015), dirigido por Gabriel
Mascaro, para o campo da observação por meio dos processos híbridos empregados.
Investigando a construção dos corpos a partir da inversão dos papéis binários de gênero,
masculino e feminino, identificamos onde o olhar de fora do contexto, do estrangeiro,
que traz o autor Nelson Brissac, alcança as divergências e afinidades do posto com o
lugar. A partir de uma metodologia de cunho analitíco ressaltamos dentro da obra
cinematográfica como o novo Nordeste se apresenta diante de suas posturas desviantes
do singular, que lhes é socialmente atribuído, reconhecendo as re-construções em cima
da região.
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Trabalho apresentado na IJ 04 – Comunicação Audiovisual do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Nordeste, realizado de 30 de maio a 1 de junho de 2019.
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Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), [email protected];
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Graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA), [email protected];
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Professor do curso de jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA),
[email protected].
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Introdução
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inevitabilidade de um novo cenário, que não será nunca mais único, não é mais o da
representação, mas o do processo visualizado.
O cinema voltado a abordar o nordeste brasileiro, se consagra copiosamente
como um espaço a ser representado por paisagens áridas e personagens voltados a expor
o conservadorismo patriarcal do lugar. Contudo, também se caracteriza como um lugar
propício para encontros e significações, sendo uma das suas diversas funções: a prática
social, a qual amplia possibilidades e produz efeitos que convidam a reavaliar conceitos,
provocando reflexões. É o caso de Boi Neon (2015), longa-metragem dirigido e
roteirizado pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro, que pode ser definido como
um retrato do cotidiano no agreste pernambucano, enfatizando transversalidades na
caracterização das personalidades.
Hibridizando-se
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dentro da discussão sobre culturas híbridas, onde sua conceituação não se distancia do
pensamento do autor, quando aponta que:
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Em contraste a isso Mascaro dá espaço para uma narrativa que promove uma
ideia de um sertão em desenvolvimento, que está passando por uma constante evolução
e lida com um processo de formação de identidade e relações humanas. Dessa forma, o
diretor promove uma abordagem desconstrutiva do entendimento sobre resistência e
tradição, pluralizando o universo da representação do nordeste rural, tipicamente
machista, cruzando uma linha do gado à moda. Assim, quebra-se paradigmas e como
Albuquerque (2007) traz:
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Trazer o cotidiano em sua essência para a cena pode proporcionar duas reações,
uma completamente efêmera e naturalizada e a outra de completo estranhamento. Na
primeira situação, a informação das ideias presentes no nosso cotidiano já se tornou tão
familiar que não percebemos quão híbrida é a nossa casa, ruas, lojas, vestimentas e etc.
Tudo isso foge à vista por vivermos de maneira intrínseca a essa realidade. Na segunda,
é como trazer um Chinês ao centro do Juazeiro do Norte (CE). Vai gerar a sensação de
novidade, mas também encontrará nos detalhes influências do seu lugar. Os corpos
constituem-se de partes. Cabelo, roupa, acessórios e até expressões, não há fronteiras
para interpretações quando compreendemos o que nos coloca a aderir determinado
estilo ou função.
Considerações finais
O filme Boi Neon, nos traz a reflexão diante de um olhar estrangeiro pois,
faze-se enxergar práticas do nosso cenário cotidiano que, ao mesmo tempo consideradas
absurdas, estão naturalizadas ao ponto de serem ignoradas, reconhecendo a imagem do
sertão nordestino unicamente pelo patriarcado intrínseco já institucionalizado por
construções sociais. O longa metragem desafia o espectador a construir uma
interpretação livre de rótulos e definições.
Peter Burke (2003) afirma que a hibridização, quando considerada uma via de
mão dupla, pode se transformar num instrumento de inovação e resistência, pois por
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mais que alguns compreendam como uma transformação que resulte em perdas
culturais, pode analisar como uma mistura heterogênea que termina se transformando na
criação de algo novo e diferente. Se houvesse o exercício de olhar como uma novidade
seria um processo de conhecer para criar-se abordagens do que é visto.
Destarte, os personagens e suas respectivas histórias, nos permitem analisar
transversalidades que desconstroem narrativas a quais se desprendem do modelo
clássico, obtendo a desmistificação de estereótipos de gênero, especialmente acerca de
questões como a representação da masculinidade sertaneja, da maternidade e do
feminino.
Sendo assim, o presente trabalho nos proporciona compreender identidades, que
transpassam o caixa do masculino e feminino, onde percebemos que a forma de
compreendermos o que é instituído ao mundo não parte de algo natural pertencente ao
corpo, mentes e práticas, mas sim, de um efeito de construções culturais. Enxergarmos
um ser fora de pensamentos pré-estabelecidos é como conseguir desprender-se de
tradições, pois passamos a ver a pluralidade de pertencimentos, não anulando um por ter
menor “impacto” que outro, mas sim buscando compreender que corpos híbridos não se
tem uma só raíz, mas sim raízes que lhe fazem próprios de universos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 5. ed.
São Paulo: Cortez, 2011.
BOI Neon. Direção de Gabriel Mascaro. Produzido por: Desvia, Malbicho Cine e Viking Films.
Imovision. Brasil, 2015.
COELHO, Teixeira. Culturas híbridas. In: Dicionário crítico de política cultural: cultura e
imaginário. São Paulo: Fapesp; Iluminuras, 1997.
PEIXOTO, N. B. O olhar do estrangeiro. In: NOVAES, A.(Org.). O olhar. São Paulo: Cia. das
Letras, 1988. p. 361-365.