SOCIEDADES COMERCIAIS - Elementos
SOCIEDADES COMERCIAIS - Elementos
SOCIEDADES COMERCIAIS - Elementos
Daqui resulta que a lei não nos dá a noção de sociedade, mas apenas indica os
requisitos para que uma sociedade se considere comercial: objecto e tipo comercial.
Para tanto é necessário recorrer ao direito civil - subsidiário, nos termos do art. 3º
do C. Comercial; e do art. 980º CC se vê que são quatro os elementos do conceito
geral de sociedade:
- elemento pessoal - pluralidade1 de sócios;
- elemento patrimonial - obrigação de contribuir com bens ou serviços;
- elemento finalístico (fim imediato ou objecto): exercício em comum de certa
actividade económica que não seja de mera fruição e
- elemento teleológico (fim mediato ou stricto sensu) - repartição dos lucros
resultantes dessa actividade.
1
- A sociedade unipessoal por quota foi acrescentada pelo Dec-lei nº 257/96, de 31 de Dezembro.
1
A entrada com serviços só é permitida nas sociedades em nome colectivo (176º
e ss) e em comandita para os comanditados (468º), sendo proibida nas SPQ - 202º - e
nas SA - 277º.
Com as entradas dos sócios forma-se o fundo comum, define-se a
proporção da participação de cada sócio na sociedade e fixa-se o capital social.
VI - Forma comercial
a) - tipo comercial - numerus clausus - 1º, nº 2 - segurança do comércio
jurídico e celeridade das transacções comerciais; mas com temperada
autonomia da vontade no pacto social, em tudo que não esteja contra
lei imperativa.
1 - Sociedades em nome colectivo - 175º a 196º
- responsabilidade pela entrada - 175º, nº 1;
- responsabilidade solidária com os outros sócios pelas obrigações sociais mas
subsidiária em relação à sociedade - 175º, nº 1 - mesmo pelas anteriores ao
seu ingresso mas não pelas posteriores à sua saída - 175º, nº 2. Os credores
2
- Sobre tipos de sociedades de direito especial, veja-se Pinto Furtado, Curso de Direito das Sociedades, 4ª ed., 40.
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- O sócio e não o seu cônjuge - Col. 97-II-86.
2
sociais, por dívidas da sociedade em nome colectivo, podem demandar
sócios e sociedade, em litisconsórcio passivo, ou só os sócios. A falência da
sociedade implica a falência dos respectivos sócios - 126º, nº 1, do CPEREF.
- Partes sociais - 176º, 25º, nº 1, 182º e 183º
Regime especial dos sócios de indústria - 178º: salvo cláusula em contrário, não
respondem, nas relações internas, pelas perdas sociais.
4 - Sociedades em comandita
O traço distintivo fundamental e comum das sociedades em comandita reside na
circunstância de terem duas espécies de sócios, com regimes de responsabilidade
diferentes (art. 465º, nº 1, do CSC):
Mas dentro deste tipo de sociedades, e pelo que toca às participações sociais,
surgem-nos dois sub-tipos (art. 465º, nº 3, do CSC):
a) - Nas sociedades em comandita simples - as participações de ambas as
espécies de sócios, comanditados e comanditários, denominam-se partes sociais; e, tal
como as participações homólogas das sociedades em como colectivo, não são
representadas por quaisquer títulos;
b) - Nas sociedades em comandita por acções, as participações dos sócios
comanditados são igualmente partes sociais; mas as participações dos sócios
comanditários são acções tituladas e regidas pelos preceitos próprios do regime das
sociedades anónimas, tal como é decalcada no das SA o seu regime organizacional -
art. 478º.
Nas sociedades em comandita um capitalista provê um empresário
comercial dos meios de que este carece para impulsionar o seu negócio.
Realmente, tal fenómeno ocorre tanto no mútuo, como na associação ou conta em
3
participação e na sociedade em comandita, apenas com diversificação do grau de
envolvimento do capitalista no empreendimento comercial.
O Contrato de Sociedade
Da conjugação dos arts. 260º, 409º e 431º com o art. 6°, nº 4, do CSC, resulta,
para as sociedades por quotas e anónimas, que estas ficam obrigadas para com
terceiros pelos actos que em seu nome pratiquem os respectivos gerentes,
4
administradores ou directores; a menos que a sociedade faça prova de que tais
terceiros sabiam ou tinham obrigação de saber que o acto ultrapassava os limites do
objecto social; isto se os sócios não tiverem deliberado assumir o acto para a
sociedade.
Assim, não é nula a hipoteca constituída por uma sociedade comercial sobre
um seu prédio urbano para garantir dívida contraída por outra sociedade.
Demais se a sociedade que constitui a hipoteca declara, na respectiva escritura,
que tem interesse directo na concessão do empréstimo e se o seu sócio maioritário era
sócio-gerente da mutuária, que necessitava com urgência do empréstimo para
pagamento de divida que já fora objecto de execução - Col. Jur. 99-II-193.
5
sobre a outra, nem vem provado que houvesse acordo entre os sócios de ambas para o
domínio unitário pela direcção de ambas as sociedades, sem embargo de os sócios
terem agido como sócios de ambas – Ac. do STJ, 21.9.2000, no BMJ 499-354.
6
da sociedade), as acções ou, nas sociedades em nome colectivo, o direito
aos lucros e à quota de liquidação do sócio devedor, a qual poderá ser
obstada se o sócio tiver comprovadamente outros bens para pagar a dívida
exequenda - 183º CSC.
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Quanto às sociedades comerciais e às sociedades civis sob forma comercial,
este diploma vai permitir executar os princípios contidos no novo Código das
Sociedades Comerciais. Entre as principais inovações salienta-se o carácter
constitutivo do registo e a possibilidade do registo prévio do contrato de
sociedade.
O nº 1 do artigo 1º do Código do Registo Comercial, ao indicar os fins do
registo, diz que «o registo comercial destina-se a dar publicidade à situação jurídica dos
comerciantes individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma
comercial e dos estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada tendo em
vista a segurança do comércio jurídico».
Mas, na concretização do propósito enunciado no preâmbulo, no artigo 3º afirma
que estão sujeitos a registo os seguintes factos relativos às sociedades comerciais e
sociedades civis sob forma comercial: «a) o contrato de sociedade.»
Adita o artigo 13º:
1 - Os factos sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados
entre as próprias partes ou seus herdeiros.
2 - Exceptuam-se os actos constitutivos das sociedades e respectivas alterações,
a que se aplica o disposto no Código das Sociedades Comerciais.
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- Como os invocados contratos de arrendamento são anteriores ao registo,
deviam ser assumidos mediante decisão da administração, comunicada à outra
parte, nos 90 dias posteriores ao registo.
- Como este procedimento não teve lugar, deverá concluir-se pela nulidade
dos contratos de arrendamento invocados pelos recorrentes.
c)- Falta de registo - 37º a 41º: a sociedade irregular, devido à falta de registo,
tem uma autonomia patrimonial imperfeita (ou até inexistente, no caso das sociedades
em nome colectivo) no tocante à responsabilidade dos sócios pelas dívidas da
sociedade, mas perfeita no que se refere à responsabilidade pelas dívidas dos sócios.
d) - Cumulação da falta de registo com outros vícios do contrato - 41º
e) Vícios de forma do contrato registado - 42º e 43º.
f) Falta de registo ou publicação - 168º, n.os 1 e 2 - Col. STJ 99-II-92 e BMJ
487-324, também comentado na RLJ 133-318:
I - A assunção de dívida é o acto pelo qual uma pessoa substitui outra na posição
de devedora de uma determinada quantia, fazendo sua a posição passiva até então
ocupada pelo transmitente na relação de crédito, contanto que, para o efeito, obtenha o
acordo do credo,; sendo este assentimento que torna fixo e irrevogável o contrato de
assunção.
II - Tendo a ré sociedade por quotas - celebrado com outra sociedade um
contrato de co-assunção de dívida (artigo 595º, nº 2, do Código Civil) em momento
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compreendido entre a data da escritura de renúncia à gerência de um sócio gerente e
de alteração do pacto social, e a data em que estes factos foram registados bastam as
assinaturas de dois dos três restantes sócios para a vincular, face ao disposto no artigo
261º, nº 1, do Código das Sociedades Comerciais.
III - Um terceiro pode prevalecer-se do facto de um sócio gerente de uma
sociedade por quotas ter renunciado ao seu cargo sem que tenha sido efectuado o
registo de tal facto, tendo em conta o disposto no artigo 168º, nº 1, do mesmo Código
das Sociedades Comerciais.
IV - Por ausência de registo da alteração do contrato social, é irrelevante para
um terceiro a falta de assinatura de um determinado sócio gerente, pois que lhe é
inoponível, nos termos dos artigos 168º, n.os 2 e 4, do Código das Sociedades
Comerciais e 14º, nº 1, do Código do Registo Comercial, a alteração do pacto social
onde se inseriu a exigência daquela assinatura para a vinculação da sociedade -
Acórdão do STJ de 18 de Maio de 1999, na Col. Jur. (STJ) 99-II-92.
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Acordos parassociais - 17º CSC
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1 - Extracorporativos ou extra-sociais: são os direitos - não do sócio como tal
-mas como se ele fosse um terceiro ou que, por deliberação da sociedade, se
radicaram na pessoa do sócio-terceiro.
Estão no primeiro caso os direitos emergentes de contrato de trabalho, de
compra e venda entre o credor - que por acaso também é sócio - e a sociedade; do
segundo caso é exemplo o direito a dividendos cuja distribuição foi já deliberada.
2.2 - direitos especiais - 24º - cabem apenas a algum ou alguns sócios ou, nas
Anónimas, aos titulares de certa categoria de acções.
São exemplos destes últimos o direito de exercer determinado cargo num órgão
da sociedade, sem dele ser afastado; o direito de voto privilegiado; o direito a uma parte
mais que proporcional nos lucros (periódicos e ou de liquidação) ou menos que
proporcional nas perdas; etc..
Estes direitos, precisamente porque constituem regalias especificamente
atribuídas aos seus titulares, «não podem ser suprimidos ou coarctados, sem o
consentimento do respectivo titular, salvo regra legal ou estipulação contratual
expressa em contrário», como dispõe o nº 5 do art. 24° do CSC.
Órgãos sociais
4
- P. Furtado, 238.
12
Nas sociedades por quotas: assembleia geral - 248º - e gerência - 252º e ss;
facultativamente, conselho fiscal e, no caso do art. 262º, nº 2, obrigatório revisor oficial
de contas.
Nas sociedades anónimas: uma das duas soluções do art. 278º, podendo em
qualquer momento passar de um sistema para outro - e assembleia geral, órgão
deliberativo por excelência.
A relação entre a sociedade e cada um dos titulares dos seus órgãos tem
natureza contratual - um contrato inominado e atípico, que se rege pelas regras do
mandato, e que é formado: por parte da sociedade através da manifestação de vontade
constante do acto de eleição ou outra forma de designação do titular do órgão; e, por
parte deste, através da declaração de vontade, expressa ou tácita, de aceitação dessa
designação para o cargo social - 987º, nº 1 e 1156º do CC.
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Assim, os administradores destituídos sem justa causa terão direito a receber,
como indemnização, a quantia correspondente às remunerações que deixam de
receber desde a data em que foram destituídos até ao fim do seu mandato, tendo em
conta o art. 391º, nº 3, do CSC. Tais remunerações parece deverem ser consideradas
como incluindo todas as prestações remuneratórias e vantagens do mesmo tipo que os
ex-administradores tivessem direito a auferir com carácter de regularidade.
O cálculo da indemnização deverá, porém, basear-se na comparação entre a
situação remuneratória que o administrador tinha na vigência das suas funções e a
situação que passou a ter após a sua destituição daquelas funções. Deste modo, caso
ele passe a exercer outro cargo remunerado, a indemnização deverá ser deduzida
do montante das remunerações que ele passar a auferir, durante o mesmo prazo.
Para além disso, caso o administrador destituído sem justa causa invoque e faça
prova (cujo ónus sobre ele recai: art. 342º do Cód. Civil) de outros prejuízos de
natureza e valor específicos, terá igualmente direito a ser por eles indemnizado.
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No mesmo sentido mas acrescentando a matéria do direito especial à
gerência decidira o mesmo Supremo, por Ac. de 12.6.96, na Col. STJ 1996-II-130:
I - A mera nomeação, nos estatutos, de sócios como gerentes não basta para
que se possa falar em direitos especiais à gerência.
II - Também a cláusula estatutária de que conste ser necessária a intervenção
conjunta de dois gerentes para obrigar a sociedade, não contém um direito especial à
gerência; ainda que, nesses mesmos estatutos, noutra cláusula se nomeiem sócios
como gerentes.
III - Diferentemente será quando o clausulado indica nominativamente as
pessoas (também sócios e gerentes) que obrigam a sociedade, hipótese em que se tem
entendido que há direito especial à gerência de tais pessoas/sócios.
IV - É ao gerente, destituído sem justa causa, que cabe provar os concretos
prejuízos a cuja indemnização terá direito de acordo com o art. 257, nº 7 do CSC.
I - Os órgãos da sociedade não têm autonomia jurídica, sendo antes sua parte
integrante.
II - As deliberações dos sócios só podem ser provadas pelas actas da
assembleia geral ou, quando sejam admitidas deliberações por escrito, pelos
documentos donde elas constem, conforme preceitua o artigo 63º, nº 1, do
Código das Sociedades Comerciais.
III - Os sócios podem deliberar a todo o tempo a destituição de gerentes, que, no
caso de se fundar em justa causa, pode ser deliberada por maioria simples.
IV - Constitui justa causa de destituição, nomeadamente, a violação grave dos
deveres de gerente e a sua incapacidade para o exercício normal das respectivas
funções.
V - A prova dos factos constitutivos da justa causa da destituição cabe ao
destituído do cargo de gerente.
VI - À sociedade, como contestante, cumpre alegar a existência dos factos que
excluam a indemnização que o destituído pede.
VII - Se a acção é proposta pela sociedade que destituiu o gerente, com justa
causa, e pretende ser ressarcida pelos prejuízos que este lhe causou, a ela compete
alegar e provar os factos ilícitos e culposos praticados pelo destituído, constitutivos do
seu direito a indemnização, e ao destituído compete contrapor factos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito por aquela invocado - S.T.J. Ac. de 9 de Julho de
1998, no Bol. M. J. 479-634
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I - Na acção de indemnização proposta pelo administrador destituído ad nutum,
ao autor cabe provar a sua qualidade de administrador, a destituição e os
prejuízos e à ré sociedade incumbe alegar e provar a justa causa, os fundamentos
de destituição.
II - Estes fundamentos de destituição devem constar da acta, como base que
são da própria deliberação.
III - A justa causa de destituição é, pois, matéria de excepção - nº 2 do art. 342º
do C.C. -, cumprindo à ré sociedade demonstrar em juízo que os fundamentos que
levaram à destituição e que foram aceites pela assembleia geral integram,
efectivamente, justa causa de destituição.
IV - Se a assembleia geral se limitou a votar a destituição, sem consideração dos
motivos a dar-lhe causa, pode questionar-se, mesmo, se a prova da justa causa está ao
alcance da sociedade.
V - À falta de prova da justa causa, a sociedade fica constituída na obrigação de
indemnizar o administrador destituído pelos prejuízos que a este resultaram da
resolução unilateral da relação contratual de administração.
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I - É entendimento pacífico que numa sociedade com dois sócios pode qualquer
deles e como preliminar da acção de destituição, requerer contra o outro providência
cautelar inominada para obtenção da suspensão do exercício da gerência.
II - Estando provado que o requerido não só vem impedindo que a requerente
exerça quaisquer actos de gerência, como nem sequer a autoriza a permanecer nas
instalações da sociedade, que falsificou a acta da assembleia geral, dando como
presente e tendo participação activa a requerente, o que não aconteceu e que falsificou
a escrita da sociedade, tal conduta é, sem dúvida, lesiva dos interesses da requerente e
da própria sociedade justificando o decretamento da providência.
A amortização da quota
está regulada nos arts. 232º a 238º do CSC, podendo ser deliberada quando
permitida pela lei ou pelo contrato de sociedade (art. 232º, nº 1.
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3. O contrato de sociedade pode fixar, para o caso de exclusão, um valor ou
um critério para a determinação do valor da quota diferente do preceituado para os
casos de amortização de quotas".
Art. 242º:
1. Pode ser excluído por decisão judicial o sócio que, com o seu comporta-
mento desleal ou gravemente perturbador do funcionamento da sociedade, lhe tenha
causado ou possa vir a causar-lhe prejuízos relevantes.
2. A proposição da acção de exclusão deve ser deliberada pelos sócios...
3. Dentro dos 30 dias posteriores ao trânsito em julgado da sentença de exclusão
deve a sociedade amortizar a quota do sócio, adquiri-la ou fazê-la adquirir, sob pena de
a exclusão ficar sem efeito.
4. Na falta de cláusula do contrato de sociedade em sentido diverso, o
sócio excluído por sentença tem direito ao valor da sua quota calculado com
referência à data da proposição da acção e pago nos termos prescritos para a
amortização de quotas.
5...
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da quota, diferente dos previstos, respectivamente, nos arts. 241º, nº 3, e 242º, nº 4 –
Ac. do STJ, de 11.4.2000, no BMJ 496-289.
5
- Em geral e para as restantes sociedades pode ver-se, além dos Manuais, o estudo em Novas Perspectivas do
Direito Comercial, 205 e ss, Almedina, 1988, Conferências da Fac. Dir. de Lisboa e CEJ.
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As decisões do STJ foram díspares. Assim,
B - Num outro caso - BMJ 481-498 - em que se provou ter sido sacada uma letra
sobre uma sociedade que embargou a execução e se provou que
- A assinatura do embargante-executado está aposta na face anterior da letra
dada à execução, em sentido transversal, no lado esquerdo, por baixo da palavra
impressa «Aceite» ;
- Nenhum outro dizer aí se contém, nomeadamente respeitante à (sua)
qualidade de gerente da sociedade sacada e à especificação, por qualquer
forma, desta sociedade;
- No verso da letra está também aposta a assinatura do embargante, por baixo
da menção «Dou o meu bom aval à subscritora»,
- a sociedade não ficava vinculada ao aceite por não ter sido indicada a
qualidade de gerente do subscritor do aceite; Trata-se de nulidade por vício
de forma;
- Também não havia aceite em nome individual porque é necessária a
identidade efectiva entre o sacado indicado no saque e quem aceita a letra,
para que esta tenha sido aceite. Assim, ao sacar-se uma letra sobre uma
sociedade, se vier a ser somente assinada por um representante
daquela com a sua assinatura pessoal, nem a sociedade nem o seu
representante ficam obrigados pela letra;
- a nulidade do aceite por vício de forma reflecte-se no aval que tenha sido
dado ao aceitante ou avalizado, e tem como consequência necessária
nulidade desse aval - 32º, § 2º da LULL;
- tratando-se de negócio formal, celebrado com desrespeito da forma legal
exigida, são absolutamente despiciendas as considerações do recorrente
sobre a existência de uma vontade real do subscritor (das livranças) em
obrigar a sociedade executada (mesmo no domínio das relações imediatas).
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C - Em 14 de Janeiro de 1998 - BMJ 473-514, decidiu-se que a referida
invalidade da obrigação cambiária não constitui vício de forma, não prejudica a
validade do aval dado à subscritora (que não ficara obrigada), pois o que fundamenta
a ressalva ao «vício de forma» é a possibilidade de o portador ou adquirente de letra,
pela simples inspecção do título, se aperceber da irregularidade formal das assinaturas
nele vazadas.
«O facto de ser falsa a assinatura do avalizado, ou ela ser, por qualquer motivo,
insusceptível de criar uma obrigação para a pessoa a quem pertence, ou pareça
pertencer, não impede a validade da obrigação do avalista.»
1) - Uma sociedade por quotas só ficará vinculada, nos termos do art. 260º, n° 4,
do CSC, quando os gerentes, em actos escritos, apõem a sua assinatura com a
indicação dessa qualidade;
2) - A obrigação do avalista mantém-se no caso de a obrigação do avalizado
ser nula por qualquer razão que não seja um vício de forma;
3) - A inexistência da obrigação do avalizado não é um vício de forma para
os efeitos do artigo 32º, § 2º, da Lei Uniforme sobre Letras e Livranças.
21
representavam, é de considerar admitida, por confissão, tal qualidade, se a socie-
dade ré em parte alguma da sua contestação a nega especificadamente.
II - As sociedades por quotas e anónimas (409º, nº 4, CSC) ficam vinculadas
pelas assinaturas dos gerentes e administradores, mesmo que não tenham mencionado
tal qualidade, desde que resulte inequivocamente do próprio acto ou das
circunstâncias em que ocorre que aqueles agem em nome da sociedade e não em
seu próprio nome.
III - A exigência de reconhecimento notarial das assinaturas dos contratantes
constitui uma formalidade ad probationem (pelo que pode ser suprida por confissão
expressa - 364º, nº 2, CC.
6
- Op. cit., 397
22
se o contrato social não dispuser diversamente...regulando o art. 248º a convocação e
funcionamento da assembleia.
Para além de não valer voto condicional - Col. 93-V-247 - o art. 251º regula os
impedimentos de voto, com a regra geral do nº 1 - conflito de interesses - e
enumeração meramente exemplificativa, mas impreterível, mesmo no pacto - nº 2.
Um dos exemplos é a exclusão de sócio - al. d): se o sócio a excluir votar, não
se está perante deliberação viciada, mas perante mera declaração pessoal que não
ganha a qualidade de voto formativo da deliberação, de nada vale esse voto que é nulo,
um nada jurídico - Col. STJ 95-I-72
Conforme o vício que as afecta e para além da inexistente - acto a que falta o
mínimo dos requisitos essenciais para que possa ter a eficácia jurídica própria de
uma deliberação ou que não seja adequado, nem sequer na sua aparência
material, a vincular a sociedade (Ac. STJ de 5.12.2000, na Col. Jur. 2000-III-155)
considera a lei deliberações
a) - Ineficazes - deliberações tomadas sobre assunto para o qual a lei (ou o
contrato social) exija o consentimento de determinado sócio.
1. As que atingem direitos extracorporativos dos sócios: no que toca a estes
direitos os sócios são como estranhos à sociedade;
2. As que visam direitos corporativos especiais - os do art. 24º - como resulta
dos n.os 5 e 6 deste artigo.
23
«A deliberação tomada em assembleia geral de sociedade comercial, face a
proposta, nesse sentido, do seu sócio maioritário e gerente, de trespasse do
estabelecimento comercial e de venda do imóvel, sede da sociedade, pelo preço global
de 210.000 contos, visando prejudicar a sociedade e um sócio minoritário que, estando
presente, se propôs pagar 518.000 contos, que era o valor real do trespasse e do
imóvel, além de abusiva e, como tal, anulável, é, ainda, ofensiva dos bons costumes e,
por isso, nula».
A nulidade das deliberações pode ser arguida a todo o tempo, por qualquer
interessado, e oficiosamente conhecida pelo tribunal, nos termos do art. 286º do C.
Civ.. Mas, ao contrário das nulidades em direito civil, podem ser sanadas as nulidades
previstas nas alíneas a) e b) do nº 1 do art. 56º do CSC, nos termos do seu art. 62º,
n.os 1 e 3.
Entretanto, poderá o órgão de fiscalização ou qualquer gerente (se não existir
aquele órgão) alertar os sócios, em assembleia geral, para a nulidade, a fim de eles
renovarem a deliberação, se for possível ou, se não o for, proporem a acção declarativa
de nulidade; esta deverá ser proposta pelo órgão ou pelos gerentes, se os sócios não o
fizerem (art. 57º)
24
I - «Os prazos da acção de anulação de deliberação social previstos nos artigos
59º, nº 2, do Código das Sociedades Comerciais e 389º, nº 1, alínea a), do CPC, são
autónomos ou independentes, designadamente quanto aos seus efeitos; só o decurso
do primeiro implica caducidade do direito substantivo de propositura da acção,
limitando-se o do segundo à caducidade da providência cautelar de suspensão da
deliberação.»
II - «A pendência do procedimento cautelar não impede o decurso do prazo do
citado artigo 59º, nº 2» - BMJ 487-249.
Além disso, pode o sócio, comprovando essa qualidade e mostrando que uma
deliberação social contrária à lei ou ao contrato lhe pode causar dano apreciável,
requerer a providência cautelar de suspensão de deliberações sociais, no prazo
máximo de dez dias a contar da data da deliberação, ou, se o requerente não tiver
sido regularmente convocado para a assembleia, desde a data em que teve
conhecimento da deliberação (arts. 396º, maxime nº 3, a 398º do CPC).
A suspensão, se decretada, só subsiste se for tempestivamente intentada a
acção anulatória ou declaratória de nulidade da deliberação visada, atendendo-se aos
prazos dos art. 389º, nº 1, a), do CPC e 59º, nº 2 do CSC, como agora visto.
25
6 - Deliberações obtidas através de simulação, erro ou dolo - anulabilidade - 240
e ss CC;
7 - Abuso do direito - anulabilidade - 58º, a) e b);
8 - Destituição de gerentes e administradores - anulabilidade - 58º, nº 1, a), se ao
caso não couber nulidade;
9 - Assembleias realizadas fora da sede social - anulabilidade se ao caso não
couber nulidade - 58º, a) e b), por violação dos art. 377º, nº 6 ou 344º;
10 - Exclusão de sócio 186º (em nome colectivo e comandita simples, por força
do 474º); 241º, 242º e 246º, c), para as s.p. quotas - anulabilidade se ao caso
não couber nulidade - 58º, nº 1, a); nas SA e comandita por acções só é admitida
a exclusão se o pacto o permitir
11 - Morte de um sócio - 184º (em nome colectivo), 225º (quotas); 339º para as
anónimas;
Um caso em que nos parece poder entender-se adequado este vício será o de
uma invocada deliberação, supostamente tomada unanimemente por escrito, ou em
assembleia universal (nos termos do art. 54º do CSC), mas em que se constate não
terem tomado parte todos os sócios, ou por ter ocorrido falsificação de escrito (letra
e/ou assinatura) imputado a algum sócio, ou por alguém se ter arrogado poderes de
representação sem autorização expressa do sócio (art. 54º, n.º 3). O carácter
absolutamente excepcional destas deliberações e o melindre que rodeia a exigência de
unanimidade parecem-nos exigir a sanção máxima, da inexistência.
Tem sido também entendido que é inexistente uma deliberação que não tenha
sido aprovada com o número mínimo de votos, exigidos por lei ou pelo contrato, ou
tenha sido aprovada com votos de pessoas sem direito a voto, desde que o vício seja
por tal forma ostensivo e patente a toda a gente, que nem sequer externamente se
possa configurar uma deliberação.
26
SOCIEDADES COOPERATIVAS
Exclusão de associado
Reserva absoluta de competência da assembleia geral
Deliberação inexistente - Deliberação nula
Colmatando uma lacuna que se fazia sentir na legislação anterior, o CSC veio
traçar expressamente o regime da invalidade das deliberações dos órgãos de
administração e do conselho geral.
O Código adoptou o delineamento geral do regime da invalidade das
deliberações da assembleia geral, ao distinguir deliberações nulas e anuláveis,
consoante os casos, do conselho de administração (arts. 411º e 412º), da direcção (art.
433º, nº 1), e do conselho geral (art. 445º, nº 2).
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seja, que apenas incide sobre os actos praticados pelos administradores no e por causa
do exercício das suas funções.
Estão previstas na lei três tipos de acções de indemnização como garantia da
responsabilidade dos administradores para com a sociedade:
a) - a acção social da sociedade - art. 75º;
b) - a acção social proposta pelos sócios - art. 77º;
c) - a acção sub-rogatória dos credores sociais - art. 78º
A primeira, também dita acção social, uti universi, é proposta pela sociedade;
depende de deliberação prévia dos sócios, tomada por simples maioria em assembleia
geral; e tem de ser proposta no prazo de seis meses a contar da deliberação - nº 1 do
art. 75º.
Esta acção social uti universi pode ser proposta por representantes especiais
designados:
a) - pela assembleia geral - parte final do n.º 1 do art. 73º;
b) - pelo tribunal, a requerimento de um ou mais sócios que possuam, pelo
menos, 5% do capital social, quando os sócios não tenham procedido à
nomeação de representante especial ou se justifique a substituição do
representante nomeado pelos sócios – n.º 1 do art. 76º.
Em ambos os casos, a pessoa designada pode ser diferente daquelas a quem
cabe normalmente a representação da sociedade.
A acção social uti singuli é subsidiária da antes considerada, uma vez que só
pode ser proposta, nos termos do art. 77º, nº 1, quando a acção não tenha sido
proposta pela sociedade, ou por a respectiva assembleia geral não ter deliberado nesse
sentido, ou por ter deixado decorrer o prazo de seis meses sobre a deliberação sem
propor a acção.
Trata-se de acção social e não de acção pessoal porque os sócios vão pedir a
condenação dos administradores na indemnização dos prejuízos causados à sociedade
e não directamente a eles próprios.
Portanto, é uma acção social da iniciativa de algum ou alguns dos sócios
que aproveita, directamente, à sociedade e, por via disso, aproveita, indirectamente, a
todos os sócios e não apenas àqueles que a propuseram.
A doutrina aceita que se trata de uma acção de natureza sub-rogatória indirecta
ou oblíqua.
Como se trata de uma acção social de algum ou alguns dos sócios, naturalmente
que proposta no interesse da sociedade, e de uma acção sub-rogatória, natural é que a
lei exija a intervenção desta na acção à semelhança do que se passa com qualquer
acção sub-rogatória.
Por isso é que o nº 4 do art. 77º impõe - "deve" - o chamamento da
sociedade à causa.
Trata-se de um caso de litisconsórcio necessário activo imposto por lei, cuja
violação determina ilegitimidade activa nos termos do nº 1 do art. 28º do Cód. de
Processo Civil (CPC).
Isto é, na acção social uti singuli, o sócio ou sócios que propõem a acção fazem-
-no como substitutos processuais. Mas, trata-se de substituição imprópria "em que se
exige a presença simultânea do substituto processual e da parte substituída".
Os sócios podem cumular a acção social uti singuli com a acção pessoal,
deduzindo os pedidos correspondentes a favor da sociedade e em beneficio próprio,
individual - Col. Jur. STJ 2.000-II-41
28
B) - Responsabilidade dos gerentes perante os credores sociais - art. 78º
EMPRESA COMERCIAL
- Responsabilidade do gerente para com os credores sociais
- Insolvência da empresa
I - A responsabilidade do gerente prevista no art. 78º, nº 1 do CSC é de natureza
delitual ou extracontratual.
II - O aludido nº 1 do art. 78º consagra uma acção pessoal e directa para o
exercício de um direito próprio do credor, uma responsabilidade independente da
existente para com a sociedade.
III - Para que possa exercer-se o direito à indemnização ali prevista torna-se
necessário a verificação cumulativa dos seguintes requisitos:
- que o facto do gerente constitua uma inobservância culposa de disposições
legais destinadas à protecção dos interesses dos credores sociais;
- que o património social se tenha tornado insuficiente para a satisfação dos
respectivos créditos;
- que o acto do gerente possa considerar-se causa adequada do dano.
IV - Em caso de Insolvência da empresa, bem como nas situações previstas nos
art. 6º e 68º, nº 1, al. a) ambos do CPEREF, o gerente tem o dever jurídico de
apresentar aquela à falência (ou a providência de recuperação, consoante o caso), no
prazo ali previsto, sujeitando-se a responsabilidade civil se incumprir esse comando
legal - Rão Porto, 1.6.2000, Col. 00-III-204.
29
Fusão - 97º a 117º; Cisão - 118º 129º; Transformação - 130º a 140º;
Dissolução - 14º a 145º e liquidação - 146º a 165º.
Empresas Comerciais
30
Daí a quantidade de legislação visando especialmente as empresas: em
autogestão, em situação económica difícil, agrupamentos complementares de
empresas e contrato de consórcio; IAPMEI, e Recomendação da CE sobre definição de
empresas de média dimensão, pequenas empresas e microempresas.
1 - As Empresas no direito comunitário da concorrência - são os sujeitos
jurídicos que exercem uma actividade económica (ou que estão em condições de
exercê-la, e têm a possibilidade de, em cooperação, restringir a concorrência e afectar
as trocas comerciais entre os Estados-membros (cfr. art. 85° do TCE), ou a
possibilidade de, individual ou colectivamente, explorar de forma abusiva uma posição
dominante, com afectação do comércio intracomunitário (cfr. art. 86°).
Podem ser pessoas singulares ou colectivas, bem como sociedades, associa-
ções ou outras entidades sem personalidade jurídica, incluindo inventores que
comercializam as suas invenções, artistas, profissionais liberais.
FIRMA
31
A firma-nome, firma-denominação ou firma mista é de uso obrigatório tanto
para o comerciante em nome individual - 18º, nº 1, C. C.al como para as sociedades
comerciais - 9º, 1, c) do CSC.
7
- Pinto Furtado, op. cit., 287 e ss.
32
semelhança entre as marcas ou firmas Seculum e Seculorum, de duas empresas
distintas que se dedicam, ambas, ao comércio e ou fabrico de mobiliário clássico.
Estava provado que:
1 - Por despacho de 6 de Novembro de 1992, do Presidente do então Instituto
Nacional da Propriedade Industrial, foi concedido à apelada Seculorum - Mobiliário e
Decorações, L.da, com sede e estabelecimento comercial em Valongo, o registo da
marca nacional nº 266203, classe 20ª, para móveis e peças de mobiliário, marca
reproduzida no título de registo de fs. 21 e de que constam, além do mais, as palavras
Seculorum Mobiliário E Decorações, Lda.
2 - Por escritura de 5 de Janeiro de 1998, a sociedade que antes girava sob a
firma Silva, Gomes & Ferreiras, L.da, alterou o art. 1º do Pacto Social, adoptando a
firma Seculum - Mobiliário Clássico, Lda., com sede em Vila Nova de Gaia - fs. 70 a
73 - sendo que em 10 de Abril de 1996 fora levada ao registo alteração do Pacto pela
qual, além do mais, ficou a constar como objecto da sociedade a Indústria de mobiliário
e decorações - fs. 96.
3 - Nesta escritura foi exibido certificado de admissibilidade da firma adoptada,
emitido em 5 de Agosto de 1997 - fs. 72. Com efeito,
4 - A apelante requerera em 11 de Julho e foi-lhe deferido, por Despacho de 4 de
Agosto de 1997, certificado de admissibilidade de Seculum - Mobiliário Clássico, Lda.
5 - A ora apelada interpôs oportuno recurso hierárquico deste Despacho mas, em
7 de Setembro de 1998, o Ex.mo Director Geral dos Registos e Notariado, concordando
com o despacho de sustentação dos Serviços do Registo Nacional de Pessoas
Colectivas, manteve o despacho recorrido, desatendendo aquele recurso.
8
- Com as rectificações publicadas no DR, IA, 2º suplemento, de 29 de Abril de 1995.
33
produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta e tenham tal semelhança
gráfica, figurativa ou fonética que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão,
ou que compreenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de
forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame
atento ou confronto.
O nº 2 desta norma caracteriza como imitação ou usurpação parcial de marca o
uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente
registada.
As expressões produtos «similares», «semelhantes», «afinidade manifesta» e
«idênticos» representam a mesma realidade jurídica.
A lei não define o conteúdo de afinidade.
Entre nós é jurisprudência assente que ela é aferida quando os produtos
concorrentes no mercado têm a mesma utilidade e finalidade 9.
Regulando os requisitos da firma e na sequência dos dizeres do Código
Comercial (art. 27º), dispõe o Código das Sociedades Comercias - art. 10º - que a
firma da sociedade constituída por denominação particular ... não pode ser idêntica à
firma registada de outra sociedade, ou por tal forma semelhante que possa induzir em
erro...
Coerentemente com este regime legal, na medida em que manda que as firmas
da sociedades comerciais seja composta nos termos do CSC, sem prejuízo da sua
aplicação no que se não revele incompatível com aquela legislação (art. 37º), o Regime
do RNPC aprovado pelo Dec-lei nº 129/98, de 13 de Maio 10, dispõe no art. 33º e sob a
epígrafe Princípio da novidade:
Entrando na apreciação deste art. 33º, não é difícil concluir da leitura destes
normativos que as firmas e denominações se destinam a identificar os seus titulares e
a precisar a natureza ou as actividades destes. Os elementos que as compõem têm,
por isso, de ser verdadeiros. Mas não basta que os seus elementos componentes
sejam verdadeiros para, sem mais, se poder constituir validamente uma firma ou uma
denominação. É ainda necessário que da conjugação dos seus diversos elementos não
resulte uma firma ou uma denominação susceptível de confusão ou erro com outra já
existente.
9
- BMJ 449-370.
10
- Estabelece o regime jurídico do Registo Nacional de Pessoas Colectivas e revogou, além doutros, o Dec-lei nº
42/89, de 3 de Fevereiro, regulador da matéria.
34
São os princípios da verdade e do exclusivismo a que a lei, por razões bem
conhecidas, manda atender na composição das empresas e do público em geral: das
primeiras na medida em que, se assim não fosse, operada a concorrência entre elas,
facilmente se locupletariam umas à custa das outras e do público em geral por também
este ter todo o interesse em saber com quem negoceia ou se propõe negociar.
A denominação da nova empresa tem, pois, de ser distinta e insusceptível de
confusão ou erro com a primeiramente registada.
E evidente que no exame a fazer sobre quaisquer denominações com vista a
apurar se são distintas e insusceptíveis de confusão ou erro se não pode olhar apenas
ao que nelas é igual ou parecido. Há que olhar também ao que efectivamente as
distingue, isto é, a todo um resultado final, tanto mais quanto é certo ser este um
campo em que, tanto ou mais que a expressão gráfica ou fonética dos termos, releva a
«aparência» das coisas.
De resto, prescrevendo a lei que as firmas e as denominações devem ser
insusceptíveis de confusão ou erro com as registadas no mesmo âmbito de
exclusividade e sendo de considerar nesta apreciação o homem médio que não o de
nível superior, o que se impõe fazer é evitar todos os riscos de confusão que não
apenas diminuí-los11.
A marca pode ser definida em termos gerais, como o sinal distintivo que serve
para identificar o produto proposto ao consumidor (ver Dr. Carlos Olavo, «Propriedade
industrial. Noções fundamentais», Colectânea de jurisprudência, ano XII, 1987, tomo II,
pág. 20).
A firma é o nome ou designação que identifica o comerciante na sua actividade
mercantil.
Mas isso não impede que sejam susceptíveis de confusão, quando não
pertençam ao mesmo interessado, como se salienta no acórdão da Relação de
Coimbra de 4 de Janeiro de 1983 (Colectânea de Jurisprudência, ano VIII, tomo I, pág.
21)12.
Pelo que as disposições do Código da Propriedade Industrial são
aplicáveis ao confronto entre marcas e denominações sociais.
E quanto a firmas ou denominações a lei exige que entre elas e a marca exista
tal semelhança que possa induzir o público em erro sobre a titularidade dos sinais
distintivos, o que significa que a lei não permite que os elementos caracterizadores da
firma ou denominação sejam semelhantes aos de uma marca de outrem, quando entre
a actividade a que aquela se destina e os produtos ou serviços a que esta se reporta
haja alguma afinidade13.
De sorte que tanto na marca como na firma ou denominação social e no
confronto entre uma e outra faz a lei respeitar o princípio da novidade, com a
diferença de que a garantia representada por esse princípio é, em relação às marcas,
mais extensa: não tem limites territoriais que não sejam os próprios limites territoriais do
Estado14.
Daí que sejam de observar, nas marcas e nas firmas, as mesmas regras na
aplicação concreta do referido princípio da novidade ou do exclusivismo, como resulta
do nº 5 do art. 33º do Regime do RNPC.
Assim, haverá imitação quando, postas em confronto, as marcas (ou a marca e
a denominação) se confundam. Mas a confusão subsistirá quando, tendo-se à vista
11
- BMJ 417-652 e ss.
12
- BMJ 454, 746.
13
- Ib., 747.
14
- Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, 1973, II, 328.
35
apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por
outra de que se tenha conhecimento.
Com efeito, o consumidor, quando compra determinado produto marcado com
um sinal semelhante a outro que já conhecia, não tem à vista (em regra) as duas
marcas, para fazer delas um exame comparativo. Compra o produto por se ter
convencido de que a marca que o assinala é aquela que retinha na memória.
E tal como para a firma, no exame comparativo das marcas, feito nestes termos,
deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consumidor médio do produto ou
produtos em questão15.
Concretamente quanto às marcas mistas e complexas, deverão ser consideradas
globalmente, como sinais distintivos de natureza unitária, mas incidindo a averiguação
da novidade sobre os elementos prevalentes - sobre os elementos que se afigurem
mais idóneos a perdurar na memória do público. Uma marca mista ou complexa não
será nova quando o seu núcleo se confunda com marca mais antiga.
...“o que interessa é o núcleo da firma, o Firmenkern da doutrina alemã”,
negando carácter distintivo individual às indicações genéricas sobre o tipo de actividade
exercido e o tipo societário escolhido que são comuns às demais do mesmo tipo 16.
Não é outra a doutrina de Ascarelli, citado pelo Ac. do Supremo Tribunal de
10.12.96, quando ensina: Confundibilidade que deverá valorar-se «tendo em conta um
consumidor de tipo médio e em relação à representação completa de produtos,
empresas, actividades, de modo que o exame analítico de forma deve acompanhar-se
um exame sintético, com atenção especial à impressão geral que o aspecto pode
provocar na média do público»17.
E há muito ensinou o Prof. J. G. Pinto Coelho que deve afastar-se a falsa ideia
de que só há imitação quando as semelhanças sejam tão marcadas ou antes, as
dissemelhanças sejam tão ténues que se torne necessário o confronto para as
distinguir. Devem considerar-se imitadas, também, as marcas que contêm
dissemelhanças mas que escapam facilmente ao olhar distraído do consumidor
desculpavelmente desatento18.
Resta dizer que, tal como sucede com a marca (art. 5º, nº 5, do CPI), também o
princípio da novidade e ou exclusivismo tem âmbito nacional, pois as sociedades
comerciais têm direito ao uso exclusivo da sua firma em todo o território nacional - 37º,
nº 5, do Regime do RNPC aprovado pelo Dec-lei nº 129/98.
Pelo que têm pouco interesse, neste particular, o âmbito territorial e o tipo de
pessoa em presença e o seu domicílio ou sede, pois tanto a marca como a firma de
sociedades conferem direito ao uso exclusivo em todo o território nacional; estes
índices de apreciação referidos no nº 2 do Regime aprovado pelo Dec-lei nº 129/98
apenas ganham relevo quando se trate de comerciantes cuja firma apenas confere
direito ao uso exclusivo no âmbito da competência territorial da conservatória onde foi
definitivamente registada - 38º, nº 4 - dependendo de autorização do director-geral dos
Registos e Notariado a extensão do exclusivo a todo o território nacional - nº 5.
De resto, este nº 2 manda ter em conta o tipo de pessoa e não o tipo
societário....
Mais relevante é o comando do nº 5 do mesmo art. 33º quando manda ter em
conta a existência de nomes de estabelecimentos, insígnias ou marcas de tal forma
semelhantes que possam induzir em erro sobre a titularidade desses sinais distintivos.
15
- Idem, a pág. 280 para a firma e 330 para a marca.
16
- Col. Jur. 1998-V-75.
17
- BMJ 462-451.
18
- RLJ 89º-26, na Col. Jur. 1990-V-47.
36
Sobre marcas internacionais e a Convenção de Paris, de 20.3.1883, pode
ver-se o excelente Ac. do STJ, de 26.4.2001, com imensa informação, na Col. Jur.
(STJ) 01-II-37 a 40. Dezº 2003
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