TCC - A Prescrição Intercorrente (Antes Do CPC 2015)

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0

UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP


Curso de Direito
NATHIELLY DA SILVA COSTA

A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NOS PROCESSOS DE


EXECUÇÃO SUSPENSOS POR AUSÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS.

CAMPO GRANDE/MS – 2014


1

NATHIIELLY DA SILVA COSTA

A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE NOS PROCESSOS DE


EXECUÇÃO SUSPENSOS POR AUSÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS.

Monografia apresentada à Comissão julgadora da


Universidade ANHANGUERA-UNIDERP, como
exigência para obtenção do grau de Bacharel em
Direito, sob a orientação da Professora – Andrea
Francisco de Mello Chiesa.

CAMPO GRANDE/MS – 2014


2

A Monografia intitulada A Prescrição Intercorrente nos Processos de Execução Suspensos por


Ausência de Bens Penhoráveis, apresentada pela acadêmica NATHIELLY DA SILVA
COSTA, como exigência parcial para obtenção de grau de Bacharel em Direito à banca
examinadora da Universidade ANHANGUERA – UNIDERP, Campo Grande, MS, obteve a
nota ________, para aprovação.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________
PROF. Orientadora –Especialista, Andrea Francisco de Mello Chiesa.

___________________________________________
Membro da Banca

___________________________________________
Membro da Banca

Campo Grande MS, de _________ 2014.


3

Dedico a Deus, pois ele quem me direcionou a todas


minhas conquistas e a minha família, a qual sempre
me apoiou e nunca mediu esforços para que eu
pudesse concretizar todos os meus sonhos.
4

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos, primeiramente a Deus por ter me permitido realizar


meu sonhos e por ter ouvido todas minhas preces nos momentos de dificuldade.
À minha orientadora, a ilustre Prof.ª. Andrea Chiesa, que não mediu esforços para
ajudar todos seus orientados na realização deste trabalho, bem como, pela sua paciência,
dedicação e por despender seu tempo para nos auxiliar a fim de que tivéssemos o melhor
trabalho possível.
Aos meus pais, avós e irmão que apesar de todas as nossas diferenças são meus
maiores amores, que sempre me apoiaram em tudo e contribuíram de uma forma imensurável
para que, diante das dificuldades eu não desistisse nunca e que me deram a possibilidade de
chegar até aqui.
A todos meus amigos e amigas pela paciência dedicada a mim, por terem sido minha
segunda família, por terem feito com que todos os dias se tornassem melhores, por me
proporcionarem tantas alegrias e me motivarem sempre a seguir em frente.
Aos meus chefes e colegas de estágio pelo incentivo de sempre, pela possibilidade de
ampliar meus conhecimentos e pelos conselhos, fossem eles pessoais ou profissionais e por
terem me dado as melhores tardes possíveis em dois anos, me arrancando milhares de risos
mesmo quando meu mau humor estava presente.
Enfim, a todos que de maneira direta ou indireta colaboraram para que eu concluísse
mais esta etapa da minha vida. Espero que estejam sempre presentes para que possam me ver
colher os frutos que vocês me ajudaram a plantar.
5

Tudo que um sonho precisa para ser realizado é


que alguém acredite que ele possa ser realizado.
(Roberto Shinyashiki)
6

RESUMO
Em abordagem fundamentada dos novos preceitos constitucionais da garantia da celeridade
processual, este trabalho teve a intenção inicial de investigar e, finalmente, afirmar a
possibilidade de fluência do prazo prescricional intercorrente nos casos de suspensão do
processo de execução por falta de bens penhoráveis do devedor. As fontes de pesquisa,
baseadas nas referências bibliográficas listadas e jurisprudências, são bastante divergentes,
não havendo posicionamento pacífico acerca do assunto. Dessa forma, realizou-se uma
análise das possibilidades e escolha da solução mais acertada, frente à reforma judiciária
trazida com a Emenda Constitucional n.º 45/2004 e as legislações infraconstitucionais
editadas para dar rápida solução aos processos.

PALAVRAS-CHAVE: prescrição, intercorrente, suspensão, execução, bens, penhoráveis.


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9

1. PRESCRIÇÃO........................................................................................................ 11
1.1 ANÁLISE HISTÓRICA........................................................................................... 11
1.2 CONCEITO.............................................................................................................. 12
1.3 CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO......................... 13
1.4 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO.................................................. 15
1.5 ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO................................................................................. 15
1.6 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE........................................................................ 16
2. DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO............................................. 19
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS SUSPENSIVAS............................................ 20
2.2 O PRAZO DE DURAÇÃO DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO.... 21
2.3 SUSPENSÃO SINE DIE DO PROCESSO.............................................................. 25
3. A SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO POR AUSÊNCIA DE BENS
PENHORÁVEIS E A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.................. 29
3.1 A POSSIBILIDADE DE FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL
DURANTE A SUSPENSÃO PROCESSUAL......................................................... 30
3.2 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 475-J, §5º, DO CPC................................. 33
3.3 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 40, DA LEI N. 6.830/80.......................... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 40

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 41

INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso refere-se à possibilidade de ocorrer


prescrição intercorrente nos processos executivos suspensos por ausência de bens
penhoráveis, tema que despertou o interesse dessa signatária pelo fato da mesma lidar
8

diariamente com essa situação, em virtude de sua atividade de estágio e por se tratar se um
assunto com muitas controvérsias, tanto doutrinárias como jurisprudenciais.

É importante salientar que no nosso ordenamento jurídico existem lacunas de


situações da qual o legislador não disciplinou por absoluta impossibilidade de previsão de
todos os fatos presentes e futuros. Uma das omissões existente no Código de Processo Civil é
o prazo de duração da suspensão do processo de execução por falta de bens penhoráveis e a
possibilidade de fluência do prazo da prescrição intercorrente nesse caso.

Em razão desta omissão, há diversas vertentes sobre o assunto. Muitos entendem que
há possibilidade de ocorrer prescrição intercorrente nos processos suspensos por ausência de
bens penhoráveis, pois do contrário causaria muita desordem e insegurança pela possibilidade
de eternização do processo.

Vê-se, que o assunto aqui tratado é extremamente polêmico e também bastante


divergente, pois durante muito tempo e até hoje, a maioria da doutrina e jurisprudência
entendem que a suspensão deve perdurar até que se encontrem bens à penhora do devedor e
que não há possibilidade de ocorrência da prescrição. Todavia, entramos numa nova onda
reformadora e jurídica, a partir da Emenda Constitucional n.º 45/2004, que introduziu a
garantia da celeridade processual e rápida solução do processo no inciso LXXVIII, do art. 5º
da Constituição Federal e novas leis foram editadas com o fim de assegurar essa garantia.

Por isso, a tendência é alteração da posição tradicional tendente a limitar o tempo de


suspensão do feito e permitir a fluência do prazo prescricional a fim de não permitir a
perpetuação do processo.

Tal alteração será de grande importância, pois poderá colocar fim as centenas de
processos que se encontram paralisados há muitos anos e que prejudicam o andamento do
judiciário.

Porém, como a alteração foi recente e ainda não há posição pacificada, há um


conflito de direitos e opiniões acerca do assunto, exatamente por não haver regulamentação
sobre o tema. Diante dessa problemática existente, o presente trabalho se propõe a buscar os
meios possíveis encontrados pela doutrina e jurisprudência para aplicação ao caso e dentre
eles, indicar qual seria a melhor solução.
9

1. A PRESCRIÇÃO

A prescrição é a perda de uma proteção jurídica em virtude da inércia da parte.

Humberto Theodoro Júnior define tal instituto da seguinte forma:


A prescrição é sanção que se aplica ao titular do direito que permaneceu inerte
diante de tal violação por outrem. Perde ele, após o lapso previsto em lei, aquilo que
os romanos chamavam de actio, e que, em sentido material, é a possibilidade de
10

fazer valer o seu direito subjetivo. Em linguagem moderna, extingue-se a pretensão.


Não há, contudo, perda da ação no sentido processual, pois, diante dela haverá
julgamento de mérito, de improcedência do pedido, conforme a sistemática do
código. 1

Assim, vê-se que a prescrição tem relação direta com o tempo e a pretensão desejada
pelo titular de um direito, mas não com o próprio direito material em si porque este se
relaciona com a decadência.

É certo, todavia, que existem ações imprescritíveis como as relacionadas a direitos


potestativos, de personalidade e de estado da pessoa. Todavia, os direitos patrimoniais
disponíveis, cuja pretensão se dá por via de ações condenatórias, devem sempre estar sujeitos
à prescrição.
Ela pode ser subdividida espécies, sendo que as principais são prescrição aquisitiva e
prescrição extintiva.

A prescrição aquisitiva, que está prevista na Parte Especial (Direito das Coisas)
doCódigo Civil brasileiro (CC), incide na aquisição de um direito real pelo decurso
do tempo, em favor do possuidor com ânimo de dono, o qual exerce faculdades
referentes aos direitos reais sobre coisas moveis e imóveis, dentro do interregno de
tempo constante na lei. Contudo, tal prescrição não será objeto deste estudo, na
medida em que ela confere um direito ao possuidor, ao passo que a prescrição
extintiva, conduz perda de um direito ao seu titular.
Prevista no art. 189 e seguintes do CC, a prescrição extintiva, aplicada a todo o
direito e constante na parte geral do CC, leva à perda de um direito de ação pelo seu
titular, em virtude da sua inércia em não exerce-lo dentro do interregno previsto em
lei.2

Tal instituto é um ponto muito importante a ser citado quando nos referimos aos
processos executivos suspensos por ausência de bens penhoráveis, pois o nosso ordenamento
jurídico deixou uma lacuna no que se refere ao prazo prescricional nessa situação, por isso
impossível falar neste tema sem mencionar a prescrição.

Neste capítulo traremos algumas considerações importantes acerca da prescrição,


como seu histórico, conceito, hipóteses de sua suspensão e impedimento e ainda, sobre a
prescrição intercorrente.

1
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2005 (v. 1), p. 355.
2
GARBINI, Aphonso Vinicius. A prescrição e a decadência no Brasil. Disponível em
<http://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/146491223/a-prescricao-e-a-decadencia-no-brasil?ref=topic_feed>,
acesso em 23 de outubro de 2014.
11

1.1 ANÁLISE HISTÓRICA

A prescrição teve sua origem no Direito Romano, pois naquele tempo as ações eram
dotadas de perpetuidade, o que causava muita insegurança jurídica à sociedade, então se fez
necessário a criação de um instituto que limitasse o lapso temporal de pretensão dos autores.3

Sobre a prescrição, Silvio de Salvo Venosa diz em sua obra:

Antonio Luíz Câmara leal (1978:3) descreve a história desse conceito etimológico.
Quando o pretor foi investido pela lei Aebutia, no ao de 520 de Roma, do poder de
criar ações não previstas no direito honorário, introduziu o uso de fixar prazo para
sua duração, dando origem, assim, às chamadas ações temporárias, em
contraposição com as ações de direito quiritario que eram perpétuas. Ao estabelecer
que a ação era temporária, fazia o pretor precedê-la de parte introdutória chamada
praescriptio, porque era escrita antes ou no começo da fórmula. Por uma evolução
conceitual, o termo passou a significar extensivamente a matéria contida nessa parte
preliminar da fórmula, surgindo então a acepção tradicional de extinção da ação pela
expiração do prazo de sua duração. 4

Observando o acima exposto, vê-se que “a palavra prescrição vem do vocábulo latino
praescriptio, derivado do verbo praescribere, formado por prae e scribere; significa escrever
antes ou no começo”.5

Como expressão jurídica, originariamente significava exceção, de forma que para os


romanos exceptio e praescriptio possuíam sentidos equivalentes. Todas as exceções
ou alegações pronunciadas ou trazidas preliminarmente como medidas ou
justificativas dos direitos em demanda denominavam-se praescriptiones, pois
produziam da intentio, mas precedendo à fórmula, de forma que o julgador não
poderia se ocupar do processo sem antes solucionar a matéria objeto de
praescriptio.6

Enfim, a prescrição surgiu como uma forma de trazer mais segurança à sociedade,
pois se o exercício de um direito ficar pendente indefinidamente gera instabilidade social e
insegurança nas relações, violando a paz social e a ordem jurídica. Por este motivo, deve o
direito ser exercido dentro de certo lapso temporal determinado pela lei.

3
WAMBIER, Pedro e CAMARGO, João Ricardo. Noção de prescrição e decadência. Disponível em
<http://blogdireitoufpr.com/2013/04/29/nocao-de-prescricao-e-decadencia/>, acesso em 24 de março de 2014.
4
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.632
5
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.632
6
ISHIKAWA, Liliane Kiomi Ito, Prescrição Intercorrente. Disponível em
<http://www.portalamericas.edu.br/revista/pdf/ed1/art6.pdf>, acesso em 24 de março de 2014.
12

1.2 CONCEITO

A prescrição é um instituto do Código Civil que extingue a pretensão de agir de


alguém que teve seu direito violado.

Para trazer o conceito desse instituto, é importante mencionar sua natureza jurídica.
Quanto a isso, Adilson Fernandes Braga Junior publicou:

A prescrição é um fato jurídico stricto sensu, sendo um acontecimento independente


da vontade humana que produz efeitos jurídicos, criando, modificando ou
extinguindo direitos. Numa classificação mais estrita, trata-se de fato jurídico stricto
sensu ordinário, uma vez que o decurso do tempo entre intervalos (dies a quo e dies
ad quem) é um fato normal, de ocorrência diuturna e comum.7

Câmara Leal a define como “a extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia
de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu
curso” 8.

Em seu artigo científico, Marcone Alves Miranda diz que:

Podemos conceituar o instituto da prescrição como sendo a extinção de uma


pretensão ajuizável, em virtude da inércia de seu titular durante um cero lapso de
tempo, na ausência das causas preclusivas do seu curso. A prescrição, assim, seria
uma causa de extinção de uma pretensão para a qual não concorre o titular com sua
ação, mas apenas sua omissão e inação. Se o titular do direito nada faz para protege-
lo, tutelá-lo ou reivindicá-lo, depreende-se daí uma conclusão indicativa de seu
desinteresse, e, se inexiste causa justificadora de sua inércia, ele responde por sua
própria incúria, mediante óbice objetivo decorrente da própria lei, que lhe cria
obstáculo instransponível, para veicular pretensão já atingida pelo transcurso
temporal, sem qualquer manifestação de contrariedade.9

Pode-se perceber que a prescrição tem ligação direta com o tempo e a pretensão
desejada pelo titular de um direito, mas não com o próprio direito material em si porque este
se relaciona com a decadência.

Fabiana Panini, escreveu um artigo, no qual cita que:

7
BRAGA JUNIOR, Adilson Fernandes, O fenômeno da prescrição intercorrente sob as diversas
perspectivas do processo de execução. Disponível em http://jus.com.br/artigos/26041/o-fenomeno-da-
prescricao-intercorrente-sob-as-diversas-perspectivas-do-processo-de-execucao/1>, acesso em 22 de outubro de
2014.
8
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 512.
9
MIRANDA, Marcone Alves, A prescrição intercorrente no processo de execução. Disponível em
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=1055.31485 >, acesso em 24 de março de 2014
13

O principal fundamento da prescrição é o interesse jurídico-social, considerando que


esse instituto é também medida de ordem pública, tendo por finalidade extinguir as
ações, a fim de que a lide não se perpetue no tempo, afogando o judiciário,
causando, portanto sacrifício social, já que estando o judiciário com lides
eternizadoras, causa deficiência na celeridade processual e consequente prejuízo
para a sociedade.10

Portanto, a prescrição, como já dito, exclui somente a pretensão de agir, se em um


determinado período de tempo seu titular permanecer inerte, não excluindo o direito
propriamente dito, sua finalidade é evitar instabilidades nas relações sociais, atendendo o
interesse social, pondo fim a litígios, pelo decurso do tempo em que a parte permanece
silente.

1.3 CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO

Causas impeditivas e suspensivas da prescrição são situações que paralisam


temporariamente o prazo prescricional de uma ação, e que após o fato ter sido superado, o
prazo volta a correr pelo tempo remanescente.

Existem diversas causas que podem impedir ou suspender a prescrição. Todas elas
estão elencadas no Código Civil, e são taxativas, ou seja, não admitem outras interpretações,
só é válido o que está na lei, isto porque a prescrição é de ordem pública e sua benesse é
restrita as hipóteses legais.11

As causas impeditivas e suspensivas da prescrição são as mesmas, dependendo,


todavia do momento em que ocorrem. A causa impeditiva obsta o transcurso do
prazo, desde o seu início. Por outro lado, a causa suspensiva ocorre quando o prazo
já iniciou o seu decurso, paralisando o, reiniciando após o desaparecimento das
hipóteses legais, pelo prazo restante.12

São elas:

Art. 197. Não corre a prescrição:

10
PANINI, Fabiana. Prescrição Intercorrente no Processo Civil - Estudo de Viabilidade. Disponível em <
http://www.paniniadvocacia.com.br/artigo/prescricao-intercorrente-no-processo-civil--estudo-de-
viabilidade.html>, acesso em 02 de abril de 2014.
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 522
12
LEITE, Ravênia Márcia de Oliveira, Causas impeditivas e suspensivas da prescrição. Disponível em
<http://oab-ba.jusbrasil.com.br/noticias/1583061/causas-impeditivas-e-suspensivas-da-prescricao>, acesso em
24 de março de 2014
14

I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;


II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal,
não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só
aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.13

Observa-se que as causas acima expostas referem-se a situações que ocorrem fora do
juízo, ou seja, extrajudiciais.

No mais, ficou claro que apesar de terem o mesmo tratamento jurídico, suspenção e
impedimento são diferentes. Na primeira o prazo, já se iniciou, é suspenso em razão de
alguma situação, e depois volta a fluir de onde parou, já no segundo o prazo prescricional nem
sequer começou a ser contado, pois o fato impeditivo impossibilitou sua fluência, no entanto,
nas duas causas o prazo voltará a ser correr pelo tempo restante, diferentemente do que ocorre
na interrupção, como veremos adiante.

1.4 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

Diferentemente das causas impeditivas e suspensivas, que suspendem a prescrição e


depois tem o prazo contado de onde parou, as causas interruptivas interrompem a prescrição,
fazendo com que após superado o fato interruptivo, o prazo prescricional volta a correr do
inicio.

A diferença essencial é que na suspensão o termo anteriormente decorrido é


computado, enquanto na interrupção o termo precedente é perdido. Se a interrupção
decorreu de processo judicial, somente recomeça o prazo a ser contado do último ato
nele praticado (art. 202).14

13
Código Civil de 2002, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>, acesso
em 24 de março de 2014.
14
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.647
15

A interrupção da prescrição, de acordo com o Código Civil, só poderá ocorrer uma


única vez. Suas causas estão elencadas no artigo 202 do referido código.

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de
credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. 15

O artigo 203 do Código Civil, diz que a prescrição poderá ser interrompida por
qualquer interessado.

Assim, qualquer um que tenha interesse pode interromper a prescrição, utilizando-se


de qualquer uma das causas do artigo 202, e a “interrupção efetivada por quem não tenha interesse
ou legitimação será ineficaz.”16

1.5 ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO

A prescrição pode ser subdividida em várias espécies. Neste capítulo traremos breves
considerações de cada uma.

Prescrição Extintiva: É aquela que extingue direitos.

Abrange todo o ordenamento jurídico, e está regulada do artigo 186 ao 206 do


Código Civil, podendo ser renunciada de forma expressa ou tácita.

Prescrição Aquisitiva: É a usucapião. Está previsto no Código Civil do artigo 1238


ao 1244 e 1260 à 1262 e também na Constituição Federal nos artigos 183 e 191, sendo
exclusiva aos direitos reais.

Sílvio de Salvo Venosa a define da forma seguinte:

15
Código Civil de 2002, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>, acesso em
28 de outubro de 2014.
16
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.658
16

A prescrição aquisitiva consiste na aquisição do direito real pelo decurso de tempo.


Tal direito é conferido em favor daquele que possuir, com ânimo de dono, o
exercício de fato das faculdades inerentes ao domínio ou a outro direito real, no
tocante a coisas móveis e imóveis, pelo período de tempo que é fixado pelo
legislador. São dois os fatores essenciais para a aquisição de direito real pelo
usucapião: o tempo e a posse. O decurso de tempo é essencial, porque cria uma
situação jurídica. A posse cria estado de fato em relação a um direito. 17

Prescrição Ordinária: É a prescrição comum, que tem um prazo genérico (10 anos),
previsto no artigo 205 do Código Civil.

Prescrição Especial: São aquelas em que os prazos prescricionais estão elencados no


artigo 206 do Código Civil.

Prescrição Intercorrente: É a prescrição que ocorre no curso do processo, quando o


processo fica paralisado sem justa causa e por culpa do autor.

A seguir trataremos mais detalhadamente acerca do instituto da prescrição


intercorrente.

1.6 A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Ocorre prescrição intercorrente quando, depois de citada, a parte autora deixar de


realizar determinados atos, paralisando, assim, o processo. Então, a partir dessa paralisação
volta a fluir o prazo prescricional desde o início, período em que se aguarda uma providência
do autor para andamento do feito, observando os prazos previstos em lei.

Em outras palavras, tal prescrição, é aquela que se verifica no curso do processo já


em andamento e não antes da propositura da ação, como ocorre com a prescrição clássica. Em
tese, não configura exatamente uma prescrição, já que a sua ocorrência no curso do processo
descaracteriza a extinção de uma nova pretensão.

A prescrição intercorrente foi uma criação doutrinária que mais se aproxima dos
institutos da perempção e preclusão, mas que faz extinguir o processo por inércia da parte.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves:
Configura-se a prescrição intercorrente quando o autor de processo já iniciado
permanece inerte, de forma continuada e ininterrupta, durante lapso temporal
suficiente para a perda da pretensão. Interrompida a prescrição, o prazo voltará a
fluir do último ato do processo ou do próprio ato que a interrompeu (a citação
válida, v.g), devendo o processo ser impulsionado pelo autor. Não pode este
17
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.631
17

permanecer inerte, abandonando o andamento da causa durante prazo superior


àquele fixado em lei para a prescrição da pretensão. A prescrição intercorrente foi
implicitamente admitida no art. 202, parágrafo único, do Código Civil, que assim
dispõe: “A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper”.18

A prescrição se difere da prescrição intercorrente, pois, na primeira, o prazo


prescricional começa a fluir no instante em que a parte autora teve a violação do seu direito e
então nasceu sua pretensão, já na segunda, o prazo é contado a partir da inércia da parte no
feito, desde que já tenha havido citação válida.19

É um instituto muito utilizado nos processos executivos fiscais, tributários e


processos do trabalho, tendo por base legislação e jurisprudência pacificada, porém seu uso
nos processos executivos civis é pouco frequente, pois existem muitas divergências acerca do
assunto, o que será tratado no decorrer dos próximos capítulos.

É importante salientar que para que haja prescrição intercorrente, é indispensável que
a paralisação do feito se dê por culpa exclusiva do autor, do contrário não se pode alegá-la.

Diante do exposto, pode-se concluir que a prescrição intercorrente, assim como a


prescrição, é um meio do Estado não permitir que ocorra a inércia da parte, “pondo fim ao
direito de ação do titular do direito pleiteado, em virtude de sua inércia prolongada,
privilegiando, assim, a segurança jurídica e a ordem social”.20

18
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 513
19
VERUSA, Joyce Goes e FERNANDES, Rogério Mendes. A Aplicabilidade da Prescrição Intercorrente no
Processo Civil Brasileiro. Disponível em
<http://www.atenas.edu.br/faculdade/arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAJURI2013/1%20A
%20APLICABILIDADE%20DA%20PRESCRI%C3%87%C3%83O%20INTERCORRENTE%20NO
%20PROCESSO%20CIVIL%20BRASILEIRO.PDF>, acesso em 02 de abril de 2014.
20
PANINI, Fabiana. Prescrição Intercorrente no Processo Civil - Estudo de Viabilidade. Disponível em <
http://www.paniniadvocacia.com.br/artigo/prescricao-intercorrente-no-processo-civil--estudo-de-
viabilidade.html>, acesso em 02 de abril de 2014.
18

2. DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO

Durante o curso do processo pode haver alguns empecilhos, e estes podem fazer com
que o mesmo seja suspenso.

De acordo com Humberto Theodoro Júnior “ocorre a suspensão do processo quando


um acontecimento voluntário ou não provoca, temporariamente, a paralisação da marcha dos
atos processuais.”21

A partir disso, depreende-se que a suspensão do processo é temporária, e não


extingue o vínculo jurídico, pois após sua cessação, aquele retoma seu curso normalmente.

É importante lembrar que nenhum dos atos praticados antes da suspensão sofre
prejuízo e nem mesmo os prazos iniciados antes dela, pois voltam a fluir de onde pararam
depois que a mesma transcorra, no entanto, durante a referida, não é defeso praticar qualquer

21
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume I. 52ª ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2011, p. 315
19

ato processual, salvo, atos urgentes, que sejam realizados com o intuito de evitar dano
irreparável, conforme reza o artigo 266 e 793do Código de Processo Civil.

A esse respeito Humberto Theodoro Júnior aduz o seguinte:

Durante a suspensão, em regra, nenhum ato processual é permitido e o desrespeito a


essa proibição legal leva à inexistência jurídica do ato praticado. Permite o Código,
no entanto, que o juiz excepcionalmente possa, ainda no prazo da suspensão,
determinar a realização de atos urgentes, a fim de evitar dano irreparável, como a
citação na iminência da prescrição ou decadência, ou a apresentação de prova em
risco de se perder..22

Neste capitulo, trataremos especialmente da suspensão dos processos executivos, o


qual suas causas estão dispostas no artigo 791 do Código de Processo Civil, quais sejam:

Art. 791. Suspende-se a execução:


I - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à
execução (art. 739-A); (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).
II - nas hipóteses previstas no art. 265, I a III;
III - quando o devedor não possuir bens penhoráveis.23

É de bom alvitre esclarecer que este rol não é taxativo, pois existem outros casos que
podem proporcionar a suspensão do feito executivo, como por exemplo, o motivo de força
maior, que está disposto no artigo 265, V, e 598 do Código de Processo Civil.

2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS SUSPENSIVAS

Como já fora mencionado, a causas de suspensão contidas no artigo 791 do Código


de Processo Civil não são taxativas, ou seja, admitem outras causas não elencadas no referido
artigo, até mesmo porque, conforme determina o artigo 598 do código supracitado, “aplicam-
se subsidiariamente à execução as disposições que regem o processo de conhecimento”24.

Neste sentido, Humberto Theodoro Júnior disse:

Processo de conhecimento e processo de execução não são figuras antagônicas e


inconciliáveis. Ao contrário, são instrumentos que se completam no exercício da

22
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume I. 52ª ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2011, p. 315
23
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
24
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
20

função pública de jurisdição. Subordinam-se a princípios comuns e se destinam a


um mesmo fim: manutenção efetiva da ordem jurídica25.

A suspensão dos processos executivos pode ser convencional ou determinada por lei.
A convencional ocorre por convenção das partes e está regulamentada nos artigos 791, II, c/c
265, II e 792 do Código de Processo Civil, porém, para ter efeito, depende da decretação do
juiz.

As demais causas são as previstas em lei, como a morte ou perda da capacidade de


uma das partes ou de seu procurador, embargos do executado, oposição de exceção, ausência
de bens penhoráveis, dentre outras.

Além disso, a suspensão, ainda, pode ser classificada em:

 Própria: Não se pode realizar nenhum ato processual durante o curso da


suspensão. Ex.: Embargos de terceiro.

 Imprópria: que não se trata propriamente de uma suspensão do processo, mas


o feito não tem seu curso normal em virtude de uma pendência perante outro
juízo ou questão incidente. Ex: exceções rituais do art. 742, do CPC, que trata
da exceção de incompetência, suspeição ou de impedimento do juiz oferecida
juntamente com os embargos; falta de bens penhoráveis, penhora no rosto dos
autos, execução provisória, concurso de preferências.
O sobrestamento do processo para realização de algum ato ou solução de questão
incidente não implica em suspensão, pois não impede a prática de quaisquer atos processuais,
somente um ou alguns atos ficam paralisados, por isso a denominação de “imprópria”.
 Obrigatória: Quando a suspensão for estabelecida pela lei.
 Voluntária: Ocorre por convenção das partes.

Com relação aos dois últimos casos de suspensão, André Pontarolli publicou o
seguinte:

As principais hipóteses de suspensão obrigatória são as seguintes: a) os embargos do


executado (art. 791, I); b) a morte ou perda da capacidade processual da parte, do
representante ou do seu procurador (art. 265,I); c) as exceções de incompetência, de
suspeição ou de impedimento (art. 265, III); d) a inexistência de bens penhoráveis
(art. 791, III); e) a força maior (art. 265, V); f) os embargos de terceiro (art. 1.052);
g) os óbices legais à exaustão da execução provisória ou a concessão de efeito
suspensivo ao recurso depois de instaurada aquela (arts. 588, II e 558); h) o

25
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 134
21

incidente de falsidade (art. 394); i) a penhora do crédito no rosto dos autos (arts. 673
e 674) . No mais, o autor Araken de Assis fala em dois tipos de suspensão
voluntária: a suspensão convencional genérica e a suspensão convencional dilatória.
A convencional genérica é a do art. 265, a qual não depende do estabelecimento de
um prazo para a suspensão ou de uma causa específica que a justifique. Tal
convenção fica restrita ao prazo legal estabelecido pelo § 3o do art. 265, que é de 06
meses. A suspensão convencional dilatória é a prevista pelo art. 792 do CPC, ou
seja, convindo as partes, o juiz declarará suspensa a execução durante o prazo
concedido pelo credor, para que o devedor cumpra voluntariamente a obrigação 26

Portanto, verificando o que foi exposto, conclui-se que nos casos em que a suspensão
for obrigatória, há vinculação do juiz e sua atividade é meramente declaratória, já nos casos
de suspensão voluntária, é necessária a atividade judicial, tendo em vista que a suspensão só
será iniciada a partir da homologação do juiz.

2.2 O PRAZO DE DURAÇÃO DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO

Na maioria dos casos a suspensão tem prazo determinado ou estimado, confirmando


a provisoriedade da condição. Somente os incisos III, do art. 791 e I, do art. 265, ambos do
CPC, podem às vezes gerar insegurança jurídica por indeterminação temporária da suspensão.

A suspensão do processo provocada pelos embargos à execução ou impugnação ao


cumprimento de sentença, nos termos do art. 791, inc. I, do CPC, só será provocada se
preenchidos os requisitos do parágrafo 1º, do art. 739 ou art. 475-M, podendo ser revogada ou
modifica a qualquer tempo, cessadas as circunstâncias que a motivaram.

O efeito suspensivo dos embargos pode ser parcial, dependendo da matéria


embargada e dos executados que os opuseram, podendo a execução prosseguir na parte não
controvertida ou contra os demais devedores não embargantes.

Portanto, o processo executivo retomará o seu curso quando forem julgados


definitivamente os embargos ou tornar-se-á provisório no caso de recurso com efeito
suspensivo.

Quanto às hipóteses de suspensão do art. 265, do CPC, tem-se que o inc. II trata da
suspensão por convenção entre as partes pelo prazo máximo de seis meses. Todavia, o art. 792

26
PONTAROLLI, André. Suspensão da Execução do Processo. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1543/Suspensao-da-execucao-do-processo>, acesso em 25 de maio
de 2014.
22

não define prazo máximo, deixando que as partes convencionem um período determinado
para cumprimento da obrigação.

Isso não retira o caráter temporário da suspensão e a segurança jurídica da relação,


pois as partes já, previamente, delimitam o prazo e em caso de descumprimento, o processo
retomará o seu curso, ou, cumprida a obrigação, a execução se extinguirá.

O inc. III, do art. 265 prevê a hipótese de suspensão decorrente da oposição de


exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do tribunal, bem como de suspeição ou
impedimento do Juiz. Aqui a suspensão também é certa e provisória, pois durará até o
julgamento do incidente.

Já as hipóteses de suspensão do inc. IV, do art. 265, tem prazo de duração fixada em
até um ano, nos termos do seu parágrafo 5º.

IV - quando a sentença de mérito:


a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou
inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo
pendente;
b) não puder ser proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de
produzida certa prova, requisitada a outro juízo;
c) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado, requerido como
declaração incidente;27

O inciso V, do mesmo artigo acima, trata da força maior como causa suspensiva, sem
também fixar um prazo determinado. Mas nem poderia, porque trata de um fato da natureza
imprevisível ou difícil de prever que gera um ou mais efeitos e consequências inevitáveis.
Portanto, como prever prazo para fatos imprevisíveis e efeitos incertos? Por outro lado,
normalizada a situação, voltará o curso da ação.

O diploma processual deixa em aberto em seu inc. VI a suspensão para outras causas
suspensivas previstas em lei. Como exemplo de algumas dessas situações previstas nos
Código Processual Civil, podemos citar:

a) art. 745-A, §1º, que trata da suspensão do processo durante o prazo para
pagamento parcelado do crédito da execução. Dispõe o referido artigo que se no prazo para
embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de 30% (trinta por
cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado

27
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
23

requerer seja admitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês. Portanto, se o executado reconhece
o débito, ele renuncia ao direito de oferecer embargos, até porque já haverá transcorrido o
prazo para sua oposição, tratando-se de uma preclusão lógica. Assim, se descumprir com o
pagamento de qualquer parcela ou se indeferido o parcelamento pelo Juiz, a execução
prosseguirá sem a possibilidade de embargar.

b) embargos de terceiro: prevê o art. 1.052 que a execução é suspensa totalmente se


os embargos versarem sobre todos os bens penhorados, mas será parcial se recair só sobre
alguns bens. O processo ficará suspenso até o julgamento do recurso de apelação, diante do
seu efeito suspensivo.

c) embargos à arrematação e adjudicação: dispõe o art. 746 que poderá o executado,


no prazo de 5 (cinco) dias, contados da adjudicação, alienação ou arrematação, oferecer
embargos fundados em nulidade da execução ou em causa extintiva da obrigação, desde que
superveniente à penhora. Suspende-se o processo a partir dos atos faltantes da execução, a
partir de sua oposição, a fim de impedir a transferência do domínio.

d) concurso de preferências dos arts. 711 a 713;

e) recuperação judicial e declaração de falência ou insolvência civil, art. 461,


parágrafo 1º, do CPC e art. 6º, da lei 11.101/05.

Portanto, restaram indefinidos e sine die a duração da suspensão do processo nos


casos de ausência de bens penhoráveis do executado (art. 791, III) e morte/incapacidade de
qualquer das partes (art. 265, I).

Por causa disto, existe uma grande discussão acerca ao prazo de duração da
suspensão do processo executivo por ausência de bens penhoráveis.

Com relação ao assunto, existem duas vertentes:

Uma é sustentada tanto pela doutrina, quanto pela jurisprudência, que estando
suspensa a execução a requerimento do credor, pela inexistência em nome do
devedor, de bens penhoráveis, não tem curso o prazo de prescrição, restando o
processo executivo suspenso por tempo indeterminado. A outra é sustentada por
alguns doutrinadores que acreditam que esta suspensão não pode ser eterna já que se
esbarra num preceito de direito material, qual seja: a Prescrição intercorrente. 28

28
CARDOSO, Paulo Leonardo Vilela. A prescrição intercorrente no processo de execução. Disponível em
http://jus.com.br/artigos/2550/a-prescricao-intercorrente-no-processo-de-execucao, acesso em 24 de março de
2014
24

Além disso, Humberto Teodoro Júnior diz que:

O objeto da execução forçada são os bens do devedor, dos quais se procura extrair os
meios de resgatar a dívida exequenda. Não há no processo de execução, provas a
examinar, nem sentença a proferir. E sem penhora, nem mesmo os embargos à
execução podem ser opostos. Daí porque a falta de bens penhoráveis do devedor
importa em suspensão sine die da execução. (art. 791, III)29

No entanto, Araken de Assis, tem uma posição completamente contrária, dizendo


que:

A suspensão indefinida se afigura ilegal e gravosa, porque expõe o executado, cuja


responsabilidade se cifra ao patrimônio (art. 591), aos efeitos permanentes da
litispendência. Mesmo que a responsabilidade respeite a bens futuros, eles servirão
ao processo futuro, e não, necessariamente, ao atual.30

Fredie Didier também defende que a execução não deve ficar suspensa por tempo
indefinido. Vejamos:

Não se deve, todavia, sujeitar o executado a urna execução indefinida, com uma
litispendência sem fim. Por isso, há quem sustente que a execução somente pode
ficar suspensa, em caso de falta ou insuficiência de bens penhoráveis, por até 6 (seis)
meses aplicando-se, no particular, o disposto no § 3° do art. 265 do CPC, que se
refere à suspensão do processo pela convenção das partes, com pertinência à
execução. 31

Como pode-se observar, existe uma lacuna no nosso ordenamento jurídico a esse
respeito, que gera muita discussão e, que leva muitos a acreditarem que nestes casos a
suspensão será sine die como mostraremos a seguir.

2.3 SUSPENSÃO SINE DIE DO PROCESSO

Há autores que entendem que a ausência de bens penhoráveis do devedor no


processo de execução ocasiona a suspensão sine die do feito, sem que se possa praticar
qualquer ato, nem correr o prazo da prescrição intercorrente.

Neste sentido o professor Fredie Didie defende que:

”durante o período de suspensão da execução, não corre o prazo prescricional, visto


que a prescrição pressupõe a inércia do exequente, o que, no caso, não existe... a
execução deve ficar suspensa até que apareçam bens penhoráveis, exatamente

29
THEDORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 13ª Edição. São Paulo: Editora LEUD, 1989, p. 436
30
ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 6ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 1.026.
31
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Execução. Volume 5, 5ª Edição: Editora Juspodivm,
2013, p. 344-345.
25

porque os bens futuros do devedor também respondem pela execução (CPC, art.
591)”.32

Também o ilustre doutrinador Humberto Theodoro Junior defende a suspensão sine


die do feito sem a fluência do prazo prescricional intercorrente, uma vez que o Juiz não pode
decretar a prescrição de ofício, por ser tema de direito material disponível, ligado à defesa do
executado, tanto que poderá pagar a dívida prescrita, conforme se extrai do trecho de sua
obra: “Com efeito, como figura do direito substancial, a prescrição se apresenta como uma
defesa (exceção) de que o devedor pode livremente dispor, a qualquer tempo e até mesmo de
forma tácita (CC, arts. 191 e 193).” 33

Não obstante a respeitável posição, o art. 219, §5º, do CPC, autoriza o


reconhecimento da prescrição de ofício pelo Juiz, sendo mais um mecanismo de celeridade
processual trazida pela lei n.º 11.280/06.

Tanto é que se o executado não arguir a matéria de defesa que lhe incumbia e esta for
declarada de ofício pelo Juiz em seu benefício, será condenado no pagamento de custas e
perde o direito aos honorários de sucumbência, nos termos do art. 22, do CPC.

Esse entendimento de suspensão sine die do feito sem fluência do prazo


prescricional, ainda é dominante também na jurisprudência, conforme se extrai dos julgados
abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. SUSPENSÃO DO FEITO. PRESCRIÇÃO


INTERCORRENTE APLICADA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
INCABIMENTO. CPC, ARTS. 791, III E 793. EXEGESE. I. A suspensão da
execução a pedido do exeqüente e autorizada judicialmente, constitui fator
impeditivo à fluição da prescrição intercorrente, que pressupõe inércia da parte, o
que não ocorre se o andamento do feito não está tendo curso sob respaldo judicial.
II. Precedentes do STJ. III. Recurso especial conhecido e provido. Prescrição
afastada. (STJ - REsp 63474 - PR - 4ª T. - Rel. Min. Aldir Passarinho Junior - DJU
15.08.2005 p. 316)

EXECUÇÃO. AUSÊNCIA. BENS PENHORÁVEIS. PRESCRIÇÃO


INTERCORRENTE. Trata-se, na espécie, de execução de título extrajudicial que foi
suspensa por não haver bens penhoráveis. Assim, havendo autorização judicial para
a suspensão, não flui o prazo prescricional, mesmo que verse sobre prescrição
intercorrente, pois defesa a prática de quaisquer atos processuais, e aquela pressupõe
diligência que o credor, pessoalmente intimado, deve cumprir, mas não cumpre no
referido prazo. Precedentes citados: REsp 33.373-PR, DJ 21/2/1994, e REsp

32
DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso
de Direito Processual Civil: Execução, 2009, p. 332
33
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 474.
26

280.873-PR, DJ 28/5/2001. (STJ - REsp 63474 - PR - 4ª T. - Rel. Min. Aldir


Passarinho Junior - julgado em 16.06.2005)

Processual civil. Recurso especial. Execução. Suspensão. Prescrição intercorrente.


Inocorrência. - O STJ já definiu que, suspensa a execução por inexistência de bens
para garanti-la, não tem curso a prescrição intercorrente. Recurso especial conhecido
e provido. (STJ - REsp 782363 - MG (200501548479) - 3ª T. - Rel. Min. Nancy
Andrighi - DJU 30.05.2006)

EXECUÇÃO. EMBARGOS DE DEVEDOR. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.


SUSPENSÃO DO PROCESSO ATÉ INDICAÇÃO DE BENS PARA SEREM
PENHORADOS. NÃO OCORRÊNCIA. DUPLICATA ACOMPANHADA DE
PROTESTO E ENTREGA DA MERCADORIA. CARACTERISTICA DE TÍTULO
EXECUTIVO EXTRAJUDUCUAL. I- Durante a suspensão do processo de
execução de título extrajudicial por inexistência de bens penhoráveis, não fere o
prazo prescricional, pois inexiste omissão ou negligência que possa ser atribuída ao
credor. II- A duplicata protestada com a devida comprovação da entrega da
mercadoria constitui título executivo extrajudicial capaz de dar suporte ao processo
executório. III- Apelo improvido. (TJMA - AC 233872005 - 1ª C. Civ. - Rel. Des.
Raymundo Liciano De Carvalho - DJ 16.03.2006)

Não obstante, esse entendimento tende a ser revisto e alterado, tendo em vista a nova
ordem jurídica a partir da Reforma do Judiciário. Ademais, o executado não pode sofrer
limitação indeterminada de sua liberdade individual.

A jurisprudência acima é anterior à EC 45/04 e à lei 11.280/06, contrariando os


princípios da celeridade processual e segurança jurídica.

Tudo indica que deve haver modificação do posicionamento pelos tribunais, uma vez
que a Reforma Judiciária é nova e ainda não houve tempo de enfrentamento de questões
concretas pelos tribunais.

Pelo princípio da celeridade processual, deve o Juiz dar rápida solução ao conflito
submetido à apreciação judicial, pois o processo é instrumento do direito material e não um
fim em si mesmo. O Estado deve assegurar aos litigantes os meios eficazes para realização do
direito material e tutela de interesses.

A execução é um meio coercitivo de expropriação de bens do devedor para


pagamento da dívida em favor do credor, razão pela qual pode o credor requerer diligências,
expedição de ofícios, mandados e outras medidas na busca de patrimônio do executado.
27

Assim, não se justifica a paralisação do feito por longos anos, uma vez que o credor
pode evitar a ocorrência da prescrição intercorrente com qualquer impulso na busca de bens,
mesmo que inexitosa.

Assim, o Judiciário não pode privilegiar a inércia da parte que tem à sua disposição
toda a atividade jurisdicional coercitiva do Estado.

Não só o exequente é sujeito de direitos para recebimento de seu crédito, mas o


devedor também tem em seu favor o princípio do meio menos gravoso da execução, da
impenhorabilidade de bens, da razoável duração do processo e da segurança jurídica, e no
caso da execução se perpetuar, o devedor terá seus direitos feridos.

Sobre o assunto, Suelen Viana Corá publicou:

Por mais que nossa doutrina majoritária, nos ensina que se torna uma grande
injustiça falarmos em prescrição quando for suspenso o ato executivo por falta de
bens penhoráveis, temos que ter relevância pois nosso sistema jurídico é vago e
moroso, pois bem, como fica então, a nossa Segurança Jurídica em meio a esta
situação, o Poder Judiciário viveria abarrotado de demandas em arquivos provisórios
a “espera de um milagre”, acho que como fundamento jurídico é necessária que
provoque o Ente Jurídico, e não cumule na inércia no vazio, por mais que o
exequente não tenha o que fazer nesta situação fática não se pode proporcionar que
uma demanda judicial fique eterna visando sempre a pacificação nos conflitos
sociais.34

Portanto, não deve privilegiar tão somente o direito de recebimento do crédito pelo
exequente para prevalecer essa tese de suspensão da execução por tempo indeterminado sem a
fluência do prazo prescricional, por infringir os direitos do devedor e à própria Constituição.

34
CORÁ, Suelen Viana. A prescrição intercorrente no processo de execução fiscal à luz do artigo 791, III do
Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=10433>, acesso em
28 de outubro de 2014.
28

3. A SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO POR AUSÊNCIA DE BENS


PENHORÁVEIS E A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Há divergência na doutrina sobre o prazo da suspensão do processo de execução por


falta de bens penhoráveis e a possibilidade de ocorrência da prescrição intercorrente, tendo
em vista o conflito de direitos e interesses envolvidos.

Em oposição à celeridade do processo e segurança jurídica, tem-se o direito do


credor em ver satisfeita a obrigação de recebimento do seu crédito, sustentando que a
prescrição é matéria de exceção a ser alegada pelo devedor e não de ofício pelo Juiz.

Neste sentido Humberto Theodoro Júnior:

Como figura do direito substancial, a prescrição se apresenta como uma defesa


(exceção) de que o devedor pode livremente dispor, a qualquer tempo e até mesmo
de forma tácita (CC, arts 191 e 193). Isto quer dizer que basta o devedor não
invocar a exceção respectiva para ter-se como renunciado o favor legal da
prescrição. Além do mais, a prescrição – diversamente do que se passa com a
decadência – não opera de forma fatal pela simples consumação do prazo previsto
em lei. Sujeita-se a muitas vicissitudes – impedimentos, interrupções e suspensões -,
29

de modo que o juiz, sem a provocação da parte e o controle da contraparte, quase


nunca terá elementos para apurar e decretar a prescrição. 35

Em contrapartida, apesar de ainda não ser maioria, existem muitos doutrinadores e


até algumas jurisprudências, que entendem ser necessária a aplicação de prescrição
intercorrente nos processos executivos suspensos por ausência de bens penhoráveis, pois
como já dito garantirá a celeridade do processo e segurança jurídica, além de não trazer
prejuízos ao credor, que ainda poderá ter seu crédito satisfeito.

A aplicação de prescrição intercorrente nos processos executivos, apenas fará com


que o título perca sua executividade, de modo que, ainda poderá ser recebido por meio de
Ação Monitória.

Além do mais, a declaração de ofício da prescrição intercorrente nos processos


executivos, garantirá que o devedor tenha seus direitos resguardados, de modo que não acorra
nenhuma injustiça, pois não pode o devedor ficar sujeito a uma execução eterna.

Importante ressaltar que o objetivo da prescrição intercorrente não é punir o credor,


muito menos proteger o executado, pois a prescrição serve para proporcionar à
ordem pública e proteger a toda a coletividade contra a eternização dos dissídios,
colocando, assim um ponto final na insegurança causada pela probabilidade ad
eternum da movimentação de uma ação.36

Como se verifica, existem muitas opiniões sobre o referido assunto, e solucionar a


lacuna jurídica existente se mostra muito importante, pois poderá ser de grande ajuda ao
judiciário e consequentemente ao jurisdicionado.

Este tema será, portanto, o objeto deste capítulo, para demonstramos qual o corrente
mais aceitável e que traz mais segurança jurídica à sociedade.

3.1 A POSSIBILIDADE DE FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL DURANTE A


SUSPENSÃO PROCESSUAL

Como já foi dito anteriormente, existe uma lacuna jurídica no que tange ao prazo
prescricional do processo de execução suspenso por ausência de bens penhoráveis, o que
35
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 474.
36
VERUSA, Joyce Goes e FERNANDES, Rogério Mendes. A Aplicabilidade da Prescrição Intercorrente no
Processo Civil Brasileiro. Disponível em
<http://www.atenas.edu.br/faculdade/arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAJURI2013/1%20A
%20APLICABILIDADE%20DA%20PRESCRI%C3%87%C3%83O%20INTERCORRENTE%20NO
%20PROCESSO%20CIVIL%20BRASILEIRO.PDF>, acesso em 28 de outubro de 2014
30

durante muito tempo, levou a acreditar que esta suspensão seria “eterna”, porém isto não deve
acontecer, visto que há possibilidade de fluência do prazo prescricional durante a suspensão
processual, pois do contrário, isto causaria insegurança jurídica e prejudicaria a ordem
pública.

Muitos defendem que se declarada a prescrição intercorrente nos processos


executivos suspensos isso causaria danos ao credor, pois sua inércia não decorre de sua
vontade e sim de um impedimento, porém há quem entenda que a suspensão sine die também
causará danos, neste caso ao devedor, conforme verifica-se pelo posicionamento de Araken de
Assis:

Em primeiro lugar, a suspensão indefinida se assegura ilegal e gravosa, porque opõe


o executado, cuja responsabilidade se cifra ao patrimônio (art. 591), aos efeitos
permanentes da litispendência. Mesmo que a responsabilidade respeite a bens
futuros, eles servirão ao processo futuro e não necessariamente, ao atual. 37

No presente trabalho, abordaremos a situação de suspensão da execução por falta de


bens penhoráveis de propriedade do devedor, nos termos do art. 791, III, do CPC.
Neste caso, a medida é aplicada não só quando não são encontrados bens, como
também quando estes são insignificantes (art. 659, § 2º, do CPC), ocorrer o perecimento da
coisa depois de constrita, ou de sua exclusão por força de sentença proferida em embargos de
terceiro ou do executado.
Mas suspensão só se restringe aos procedimentos em que haja a técnica expropriativa
forçada (art. 647, do CPC) porque só neles há penhora de bens.
A existência de bens penhoráveis do devedor é tão importante ao feito expropriatório,
que a sua ausência nos processos dos Juizados Especiais implica em extinção do feito, nos
termos do art. 53, § 4°, da Lei 9.099/95.
O art. 591 do diploma processual e 391 do Código Civil, estabelece que todo o
patrimônio do devedor responde pelo adimplemento de suas obrigações, com exceção de
algumas ressalvas da lei.
A responsabilidade patrimonial sujeita os bens do devedor à ação expropriativa do
Estado para satisfação da obrigação perante o credor.
Como a execução depende de bens do devedor, não há como o processo prosseguir
na ausência deles, motivo pelo qual se justifica a suspensão prevista no inciso III, do art. 791,
do CPC, até que sejam localizados bens.

37
ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 23ª ed. Revista Atual. São Paulo: Leud, 2002 p. 480-
481
31

Mas essa paralisação é uma suspensão imprópria porque não há a proibição para
prática de atos do processo nem a sanção de nulidade dos que forem praticados. O exequente
tem o dever de continuar na busca de bens a penhorar, o que normalmente não ocorre.
A posição do professor Fredie Didier sobre o assunto é a seguinte:

A celeridade da execução constitui medida imposta em vários sistemas processuais,


a exemplo do que sucede em Nova York, onde os atos executórios devem ser
concluídos em 60 (sessenta) dias, e em Portugal, onde a paralisação da execução por
mais de 6 (seis) meses acarreta, até mesmo, a desconstituição da penhora8. Daí
parecer um pouco desarrazoado aceitar que a execução se mantenha suspensa por
tempo indefinido, até, algum dia, aparecer ou localizar-se qualquer bem penhorável
do executado. (...) A paralisação da execução pela falta ou insuficiência de bens
penhoráveis constitui uma falsa suspensão, pois, durante esse período, não é vedado
ao juiz nem ao exequente praticar atos no processo. Muito pelo contrário: deve o
exequente prosseguir na busca de bens penhoráveis, requerendo, até mesmo, que o
juiz requisite informações à Receita Federal, ao sistema bancário, à Junta Comercial,
à Secretaria da Fazenda etc.38

Com a suspensão do processo por ausência de bens penhoráveis, na maioria das


vezes, o processo acaba esquecido pelos credor, ficando indeterminadamente em arquivo,
tornando-o eterno, o que não se pode permitir.
Quando a lei dispõe que o executado responde com seus bens “presentes e futuros”
39
, significa que atinge os bens que já existiam quando contraída a obrigação e os que vierem a
ser adquiridos posteriormente até a garantia da dívida, não implicando a duração ad infinitum
da execução.
O sobrestamento do feito por prazo indeterminado com a remessa dos autos ao
arquivo retira o caráter provisório da suspensão e pode acarretar a eternização do processo por
inércia da parte, que tem a obrigação de tomar as providências necessárias para localizar bens
do devedor.
Isso não pode ser admitido em nosso ordenamento jurídico diante dos princípios da
segurança jurídica, efetividade, celeridade do processo e o instituto da prescrição,
principalmente após a Emenda Constitucional n.º 45/2004, que introduziu a garantia da
celeridade processual e rápida solução do processo, no inciso LXXVIII, do art. 5º, da
Constituição da República.
Com essa Reforma do Judiciário, novas leis foram editadas como mecanismo para
assegurar essa garantia de celeridade, dentre elas as leis n.º 11.280/06, que possibilitou a
38
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Execução. Volume 5, 5ª Edição: Editora Juspodivm,
2013, p.345.
39
Art. 591, do CPC: O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens
presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.
32

decretação da prescrição de ofício pelo Juiz e a lei n.º 11.232/05, que afirmou a existência da
prescrição intercorrente no processo de execução. Também o Código Civil de 2002 reduziu
sensivelmente os prazos prescricionais, com a finalidade de dar mais estabilidade e segurança
nas relações, estabelecendo prazos mais reduzidos e razoáveis para exercício da pretensão.
Além do mais, a suspensão indeterminada do feito também fere o principio da
razoável duração do processo, pois a inércia do credor pode criar uma eternização do
processo, o que não se pode permitir.
Ora, a parte demandada não pode se tornar refém do procedimento na hipótese de
inércia do demandante, tanto na fase de conhecimento quanto na execução. Aliás,
talvez seria o caso até de se configurar abuso do direito de ação, na hipótese de a
demandante iniciar um processo, interrompendo-se a prescrição, e não se mostrar
interessada em diligenciar no feito de modo que o mesmo cesse com a maior
brevidade possível.40

Nesta mesma esteira, deve ser admitida a limitação do prazo de suspensão do feito e
permitir a fluência do prazo prescricional para não permitir a perpetuação do processo.
Isso seria de grande utilidade para prática forense, uma vez que existem milhões de
processos suspensos há anos sem andamento e sem solução. Com a possibilidade de fluência
do prazo prescricional grande parte desses feitos seria resolvida, desafogando, em parte, o
Judiciário.
Inclusive, atualmente esse entendimento vem sendo adotado por algumas
jurisprudências, como se pode observar a seguir:
“EXECUÇÃO FISCAL - Extinção - Prescrição intercorrente ADMISSIBILIDADE:
Processo arquivado por mais de cinco anos e não verificada qualquer diligência
para a satisfação da execução, de modo a caracterizar a prescrição intercorrente.
RECURSO DESPROVIDO.” (TJSP - Apelação: APL 990100229036, Des. Israel
Góes dos Anjos, 6ª Câmara de Direito Público, j. 22/03/2010)

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATOS BANCÁRIOS. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. NOTA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. SUSPENSÃO.
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. “É forte o entendimento do STJ no sentido de
que a prescrição para as cédulas de crédito Rural, Industrial e comercial é aquela
prevista pela Lei Uniforme, incidindo, portanto, o artigo 70 da Lei Uniforme de
Genebra. Se a parte exeqüente deu causa à suspensão da execução, corre a
prescrição intercorrente, observando-se o prazo de prescrição do título que
embasou a execução.” (AC nº 2000.70.01.003669-8/PR. TRF 4ª Região, 3ª Turma,
unânime. Rel. Juíza Federal convocada Vânia Hack de Almeida, D.E. 31/10/2007 -
TRF4, AC 2004.70.01.005316-1, Quarta Turma, Relator Valdemar Capeletti, D.E.
09/06/2008)

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO


DE EXECUÇÃO – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE – VERIFICADA –
IMPROVIDO. O instituto da prescrição visa proporcionar segurança jurídica às
relações sociais, determinando a produção de efeitos jurídicos em decorrência do

40
SILVA, Diogo Henrique Dias. Da necessidade de revisitação da prescrição intercorrente no processo civil.
Disponível em <http://jus.com.br/artigos/23725/da-necessidade-de-revisitacao-da-prescricao-intercorrente-no-
processo-civil/2#ixzz3GzXAO4eP>, acesso em 23 de outubro de 2014
33

transcurso do tempo. O Código Civil fulmina direitos e pretensões, caso não


exercidos ou postulados em determinado espaço de tempo. É a própria lei, em
caráter excepcional, quem coloca a salvo alguns direitos, conferindo-lhes
imunidade contra a prescrição, a exemplo dos direitos da personalidade. Regra
geral, portanto, é a prescritibilidade das pretensões. Transcorrido o prazo de
suspensão do processo, tem início a contagem da prescrição intercorrente, impondo-
se a extinção do processo, depois de verificada a prescrição, considerando a inércia
do credor. (TJMS - Apelação Cível - Execução - N. 2010.003808-6, Dourados.
Relator - Exmo. Sr. Des. Sideni Soncini Pimentel, 5ª Turma Cível).

Por fim, o objetivo do presente trabalho é demonstrar que é possível ocorrer a


prescrição intercorrente nos processos suspensos por ausência de bens penhoráveis e que tal
acontecimento trará diversas vantagens, e no decorrer deste capítulo trará os motivos que
autorizam este posicionamento.

3.2 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 475-J, §5º, DO CPC

O saudoso jurista Araken de Assis defende que o prazo da suspensão do processo por
ausência de bens penhoráveis é de seis meses, por aplicação analógica do art. 475-J, §5º, do
CPC, que trata do prazo para o vencedor da ação requerer o cumprimento de sentença:

Uma outra questão, ocultada no art. 791, III, reside no prazo da suspensão. Em
geral, sustenta-se que, inexistindo estipulação explícita quanto ao prazo, a suspensão
é sine die. Contra essa conclusão se invocam argumento de índole sistemática e a
analogia. Em primeiro lugar, a suspensão indefinida se afigura ilegal e gravosa,
porque expõe o executado, cuja responsabilidade se cifra ao patrimônio (art. 591),
aos efeitos permanentes da litispendência. Mesmo que a responsabilidade respeite a
bens futuros, eles servirão ao processo futuro, e não, necessariamente, ao atual.
Ademais, o art. 40, caput, da Lei 6.830/1980 prevê a suspensão automática da
demanda executória pelo prazo de um ano, não se localizando bens penhoráveis,
após vista ao procurador da Fazenda (§§ 1.° e 2.°). Findo esse interstício, “o juiz
ordenará o arquivamento dos autos" (art. 40, § 2.°, in fine). Após tal prazo, de resto,
fluirá o prazo da prescrição intercorrente (Súmula 314 do STJ). Trata-se de solução
expressiva, infelizmente inaplicável aos demais procedimentos, haja vista sua
especialidade. Porém, o art. 475-J, § 5º, sugere o prazo de seis meses no caso de
execução de título judicial, por analogia com o prazo assinado no dispositivo na
hipótese de o vitorioso não requerê-la. Por identidade de motivos, aplica-se tal prazo
a suspensão decorrente da falta de bens penhoráveis. 41

O art. 475-J, em seu § 5o, dispõe que não sendo requerida a execução no prazo de
seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido
da parte.

41
Assis, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 462.
34

Com essa nova regra introduzida com a lei 11.232/05 pode-se afirmar que há
prescrição intercorrente para a fase de cumprimento de sentença do processo.

Isso porque o art. 475-L, que trata das matérias objeto de impugnação ao
cumprimento de sentença, dispõe em seu inc. IV, que o executado poderá alegar: qualquer
causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

Portanto, a única prescrição superveniente à sentença possível ao processo sincrético


é a intercorrente, que começa a contar a partir do decurso do prazo de seis meses do trânsito
em julgado da decisão.

Essa mesma regra poderia ser aplicada, por analogia, à suspensão da execução por
falta de bens penhoráveis.

Inclusive, alguns tribunais já vêm utilizando este argumento, como se verifica a


seguir:

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL AJUIZADA EM 2007.


INEXISTÊNCIA DE BENS. SENTENÇA DE EXTINÇÃO, COM
FUNDAMENTO NO ART. 267, VI DO CPC E, POR ANALOGIA, O ART. 53, 4º
DA LEI 9.099/95. OFENSA AO ART. 791, III, DO CPC. DIANTE DA REGRA
ESPECÍFICA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, NÃO SE APLICA, POR
ANALOGIA, REGRA DESTINADA AO MICROSSISTEMA DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS, PORQUANTO SOMENTE É POSSÍVEL A UTILIZAÇÃO
DE REGRA DE INTEGRAÇÃO NAS HIPÓTESES DE LACUNA, CONFORME
PREVÊ O ARTIGO 4º, DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO BRASILEIRO.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO QUANTO AO PRAZO DA
SUSPENSÃO. APLICAÇÃO POR ANALOGIA DO PRAZO DE SEIS MESES
PREVISTO NO ARTIGO 475-J, §5º, DO CPC, A FIM DE EVITAR A
PERPETUAÇÃO DO LITÍGIO, MANTENDO A INSTABILIDADE
JURÍDICA E ASSOBERBANDO O JUDICIÁRIO COM FEITO QUE, PELA
INAÇÃO DO EXEQUENTE, NÃO CAMINHA PARA A SUA SOLUÇÃO.
PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA. PROVIMENTO DO RECURSO,
NA FORMA DO ART. 557, §1º-A DO CPC.42

Trata-se de agravo de instrumento interposto por BANCO BRADESCO S.A contra


decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível de Barra Mansa, em execução de título
extrajudicial, que indeferiu pedido de sobrestamento do feito, formulado pelo credor
agravante, por entender inviável nova suspensão do processo. Confira-se: "Execução
em curso há mais de quinze anos. Inviável nova suspensão. Indique o exequente
bem passível de penhora em dez dias, sob pena de extinção." O recorrente alega ter
realizado os procedimentos ao seu alcance para localizar bens do executado
passíveis de penhora, no entanto, todas as tentativas foram frustradas. Sustenta que a
suspensão encontra amparo legal no artigo 791, III do CPC. É o relatório. Não
assiste razão ao agravante. O agravante, ao longo dos 15 anos, empreendeu esforços
para localizar bens penhoráveis do devedor. Nesse sentido, verifico que houve

42
AC 0000104-16.2007.8.19.0204, DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento: 17/04/2013, 5ª
CC. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-processo-de-execucao-como-justificativa-
para-sua-extincao#ixzz3GzfcAc7J>, acesso em 23 de outubro de 2014.
35

tentativa de penhora on line, assim como da busca de bens através das declarações
de renda à Receita Federal, sem sucesso. Em razão da ausência de garantia, o curso
do processo foi suspenso por duas vezes, como possibilita o artigo 791, III do CPC.
Primeiramente, a suspensão foi deferida por 90 dias e na segunda oportunidade o
Juízo não fixou prazo, porém, de acordo com a informação extraída do sítio do TJRJ
o feito ficou paralisado por anos. Agora, novamente, o credor pretende sobrestar o
feito, o que é irrazoável. Ainda que a norma não estipule explicitamente o prazo
máximo da suspensão filio-se ao entendimento do professor Araken de Assis,
segundo o qual a suspensão indefinida se afigura ilegal e gravosa. Assim, por
analogia, deve incidir o mesmo prazo do artigo 475-J, §5º do CPC, que fixa 06
meses para o início da execução de título judicial. Nas palavras de Araken de Assis,
por identidade de motivos, aplica-se tal prazo à suspensão decorrente da falta de
bens penhoráveis. E na contagem devem ser computados todos os períodos de
suspensão. Desse modo, considerando que o tempo de paralisação já superou 06
meses, correta a decisão agravada que indeferiu pedido de novo sobrestamento. Isso
posto, nego seguimento ao recurso, monocraticamente, com aplicação do artigo 557,
§1º - A do CPC.43

Portanto, com essa disposição expressa no diploma processual não há mais dúvida
acerca da possibilidade de fluência da prescrição intercorrente no processo.

Todavia, o prazo de seis meses para o credor requerer o cumprimento de sentença


não se aplica à suspensão do processo por ausência de bens por serem questões distintas.
Certo é que em ambos os casos há prescrição intercorrente por já ter início o processo, mas no
caso do §5º, do art. 475-J, o credor ainda não requereu a execução e no inc. III, do art. 791,
esta já se iniciou, havendo apenas um fato impeditivo.

3.3 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 40, DA LEI N. 6.830/80

Como foi dito, inexiste no ordenamento jurídico norma expressa quanto ao prazo da
suspensão do processo e a possibilidade de fluência da prescrição intercorrente no processo
civil como é regulado no direito processual penal.

As lacunas jurídicas existem porque a lei não pode prever todas as situações
presentes e futuras.

Para essas situações, o art. 4° da Lei de Introdução ao Código Civil, determina que
quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
43
Agravo de Instrumento 0043337-54.2011.8.19.0000 relatado pelo DES. AGOSTINHO TEIXEIRA DE
ALMEIDA FILHO, j. 20/10/2011, 13ª CC. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-
processo-de-execucao-como-justificativa-para-sua-extincao#ixzz3GzgFFYk3>, acesso em 23 de outubro de
2014.
36

princípios gerais do direito. Também o art. 126, do CPC dispõe que o juiz não se exime de
sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento caber-lhe-á
aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos
princípios gerais de direito.

Portanto, cabe ao aplicador do direito diante de uma lacuna jurídica, proceder à


integração da norma para solução do caso concreto, socorrer-se da analogia e princípios gerais
de direito.

A analogia é um recurso por meio do qual se aplica a uma hipótese não prevista na
legislação, uma solução apresentada por uma norma a um caso semelhante.

Para essa problemática da lacuna jurídica acerca do prazo de suspensão e fluência do


prazo da prescrição intercorrente no processo de execução comum por falta de bens
penhoráveis, deve-se aplicar analogicamente a previsão legal para o caso semelhante do
processo de execução fiscal.

A lei especial que regula a execução fiscal é a n.º 6.830/80, que prevê em seu art. 40,
o prazo de um ano de suspensão e ao seu término, inicia-se a contagem da prescrição
intercorrente de 05 anos para cobrança do crédito tributário:

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado o


devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos,
não correrá o prazo de prescrição.
§ 2º - Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor
ou encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos autos.
§ 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional,
o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

A Súmula 314 do STJ foi editada para dirimir qualquer controvérsia acerca da
questão do prazo da suspensão do processo e a ocorrência da prescrição intercorrente na
execução fiscal: Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o
processo por um ano, findo o qual inicia-se o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Portanto, trata-se de caso análogo da suspensão da execução por falta de bens


penhoráveis do executado, mas disciplinado em lei especial de dívida tributária.

É certo que a lei especial somente se aplica a caso específico para o qual foi criada.
Porém, nada impede que em caso de omissão da norma geral para uma situação genérica, haja
aplicação analógica da lei específica.
37

Assim, defendem acertadamente alguns autores a aplicação analógica da lei de


execução fiscal à execução comum, qual seja, transcorrido o prazo de suspensão de um ano,
começa a fluir o prazo da prescrição intercorrente da pretensão demandada e se após o
transcurso deste, se o exequente não tiver dado andamento ao feito, será declarada a
prescrição e extinto o processo nos moldes do art. 269, IV, do CPC.

O professor Cândido Rangel Dinamarco defende esta aplicação analógica:

Não há no Código de Processo Civil um limite temporal de duração desse estado de


estagnação, donde a possibilidade, pelo ponto-de-vista exclusivamente processual,
de a execução ficar paralisada ad eternum sempre que não se encontrem bens. "É
incabível a extinção do processo de execução fiscal por falta de localização do
devedor ou inexistência de bens penhoráveis" (Súmula n. 48 TRF-4ª Região). É por
isso muito razoável o entendimento de que, perdurando mais de um ano a
paralisação por falta de bens, a partir de então comece a fluir o prazo para uma
prescrição intercorrente se o exequente nada diligenciar com o objetivo de localizar
o que penhorar. Essa é a solução adotada nos executivos fiscais, onde, por imposição
do art. 174 do Código Tributário Nacional, depois de passado um ano sem se
encontrarem bens começa a fluir o prazo para a prescrição intercorrente. O Superior
Tribunal de Justiça vem dando atenção a esse dispositivo mesmo quando trata de
outras execuções, afirmando a possibilidade da prescrição. 44

O professor Marcus Vinicius Rios Gonçalves também concorda com esta posição,
fazendo referência expressa em sua obra da posição do doutrinador Dinamarco:

Com a remessa dos autos ao arquivo devido a não localização de bens, não corre
prescrição intercorrente, que pressupõe inércia do credor. Mas correrá quando o
credor, depois de certo tempo, não mais realizar diligências no sentido de localizá-
los. Cândido Rangel Dinamarco sugere que se aplique à execução comum o prazo de
um ano das execuções fiscais.45

O jurista Luiz Guilherme Marinoni não fala em aplicação analógica da regra do


processo de execução fiscal, mas defende a fluência da prescrição intercorrente pelo prazo da
suspensão do processo por falta de bens penhoráveis.

Neste último caso, a suspensão da execução não pode se dar por tempo indefinido.
Na falta de localização de bens penhoráveis, os tribunais entendem que a suspensão
da execução, por período superior ao prazo de prescrição da dívida, importa na
incidência da prescrição intercorrente. O certo é que os tribunais reconhecem que se
aplica, na avaliação da prescrição intercorrente, o mesmo prazo prescricional que
regula a dedução da pretensão à tutela jurisdicional do direito material. 46

44
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução forçada Cumprimento
de sentença, 2009, p. 924.
45
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: Execução e processo cautelar,
2009, p. 237.
38

Esse entendimento de parte da doutrina é o mais correto, pois o processo não pode
perdurar por tempo indeterminado, por ferir o princípio da duração razoável do processo, a
segurança jurídica, e a própria Constituição Federal, devendo ser permitida a ocorrência de
prescrição no caso de suspensão do processo por falta de bens penhoráveis.

Conforme se extrai do próprio conceito de prescrição, trata de uma punição à inércia


da pessoa lesada e não de proteção à pessoa que ocasionou a lesão. Se o exequente não
efetivou diligências para localização de bens do devedor dentro de certo período, o processo
deve ser extinto com julgamento de mérito, nos termos do art. 269, IV, do CPC, até mesmo
porque uma das condições da ação é o interesse de agir, e se o credor permanecer inerte e não
busca meios de receber seu crédito, resta demonstrado seu desinteresse na causa.

Se existe uma lacuna jurídica e o ordenamento obriga o Juiz a decidir o caso


concreto, utilizando-se da analogia e princípios gerais do direito, existindo uma regra de um
caso semelhante, não há que se afastar a sua aplicação.

Portanto, como não há previsão na lei sobre o prazo de duração da suspensão por
ausência de bens penhoráveis, perfeitamente cabível que o julgador aplique por analogia o
artigo 40 da lei 6830/80.

46
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, 2008 p. 343
39

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto no presente trabalho, por muito tempo e até hoje prevalece na
doutrina e jurisprudência tradicional, o entendimento no sentido de que o processo de
execução deve ficar suspenso por tempo indeterminado e não há fluência do prazo
prescricional intercorrente.
Todavia, ficou demonstrado que com a Emenda Constitucional n.º 45/2004, que
introduziu a garantia da celeridade processual e rápida solução do processo, no inciso
LXXVIII, do art. 5º da Constituição da República e as novas leis editadas no campo do direito
civil e processual civil, como as leis n.º 11.280/06 e n.º 11.232/05, essa posição não é a mais
acertada por ir de encontro a essa nova ordem jurídica.
O entendimento mais correto e de acordo com o sistema jurídico no caso dessa
lacuna existente quanto ao prazo de duração da suspensão do processo de execução em caso
de ausência de bens penhoráveis do devedor é a aplicação analógica do art. 40, da lei de
execuções fiscais.
A possibilidade de ocorrência da prescrição intercorrente declarada de ofício pelo
Juiz será de grande importância para prática forense, uma vez que há uma grande quantidade
40

de ações paralisadas há anos sem andamento e já prescritas nos fóruns do país, contribuindo
para morosidade do Judiciário.
Ademais, a declaração da prescrição intercorrente nos processos executivos
evitará que os mesmos se perpetuem, trazendo estabilidade jurídica e garantindo a efetividade
do judiciário.
Além disso, o credor não será prejudicado com o reconhecimento da prescrição,
pois o seu título apenas perderá a condição de executivo, podendo ainda ter seu crédito
pleiteado por meio de ação monitória.
Portanto, a adoção desse entendimento contribuirá para o desafogamento do
Judiciário e será um mecanismo da garantia da segurança jurídica e a celeridade processual.

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de outubro de 2014

AC 0000104-16.2007.8.19.0204, DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento:


17/04/2013, 5ª CC. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-
processo-de-execucao-como-justificativa-para-sua-extincao#ixzz3GzfcAc7J>, acesso em 23
de outubro de 2014.

Agravo de Instrumento 0043337-54.2011.8.19.0000 relatado pelo DES. AGOSTINHO


TEIXEIRA DE ALMEIDA FILHO, j. 20/10/2011, 13ª CC. Disponível em
<http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-processo-de-execucao-como-justificativa-
para-sua-extincao#ixzz3GzgFFYk3>, acesso em 23 de outubro de 2014.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução forçada


Cumprimento de sentença, 2009.

MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, 2008.


43

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: Execução e
processo cautelar, 2009.

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