TCC - A Prescrição Intercorrente (Antes Do CPC 2015)
TCC - A Prescrição Intercorrente (Antes Do CPC 2015)
TCC - A Prescrição Intercorrente (Antes Do CPC 2015)
BANCA EXAMINADORA
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PROF. Orientadora –Especialista, Andrea Francisco de Mello Chiesa.
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Membro da Banca
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Membro da Banca
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Em abordagem fundamentada dos novos preceitos constitucionais da garantia da celeridade
processual, este trabalho teve a intenção inicial de investigar e, finalmente, afirmar a
possibilidade de fluência do prazo prescricional intercorrente nos casos de suspensão do
processo de execução por falta de bens penhoráveis do devedor. As fontes de pesquisa,
baseadas nas referências bibliográficas listadas e jurisprudências, são bastante divergentes,
não havendo posicionamento pacífico acerca do assunto. Dessa forma, realizou-se uma
análise das possibilidades e escolha da solução mais acertada, frente à reforma judiciária
trazida com a Emenda Constitucional n.º 45/2004 e as legislações infraconstitucionais
editadas para dar rápida solução aos processos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
1. PRESCRIÇÃO........................................................................................................ 11
1.1 ANÁLISE HISTÓRICA........................................................................................... 11
1.2 CONCEITO.............................................................................................................. 12
1.3 CAUSAS IMPEDITIVAS E SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO......................... 13
1.4 CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO.................................................. 15
1.5 ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO................................................................................. 15
1.6 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE........................................................................ 16
2. DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO............................................. 19
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS SUSPENSIVAS............................................ 20
2.2 O PRAZO DE DURAÇÃO DA SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO.... 21
2.3 SUSPENSÃO SINE DIE DO PROCESSO.............................................................. 25
3. A SUSPENSÃO DO PROCESSO EXECUTIVO POR AUSÊNCIA DE BENS
PENHORÁVEIS E A PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.................. 29
3.1 A POSSIBILIDADE DE FLUÊNCIA DO PRAZO PRESCRICIONAL
DURANTE A SUSPENSÃO PROCESSUAL......................................................... 30
3.2 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 475-J, §5º, DO CPC................................. 33
3.3 APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 40, DA LEI N. 6.830/80.......................... 36
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 41
INTRODUÇÃO
diariamente com essa situação, em virtude de sua atividade de estágio e por se tratar se um
assunto com muitas controvérsias, tanto doutrinárias como jurisprudenciais.
Em razão desta omissão, há diversas vertentes sobre o assunto. Muitos entendem que
há possibilidade de ocorrer prescrição intercorrente nos processos suspensos por ausência de
bens penhoráveis, pois do contrário causaria muita desordem e insegurança pela possibilidade
de eternização do processo.
Tal alteração será de grande importância, pois poderá colocar fim as centenas de
processos que se encontram paralisados há muitos anos e que prejudicam o andamento do
judiciário.
1. A PRESCRIÇÃO
Assim, vê-se que a prescrição tem relação direta com o tempo e a pretensão desejada
pelo titular de um direito, mas não com o próprio direito material em si porque este se
relaciona com a decadência.
A prescrição aquisitiva, que está prevista na Parte Especial (Direito das Coisas)
doCódigo Civil brasileiro (CC), incide na aquisição de um direito real pelo decurso
do tempo, em favor do possuidor com ânimo de dono, o qual exerce faculdades
referentes aos direitos reais sobre coisas moveis e imóveis, dentro do interregno de
tempo constante na lei. Contudo, tal prescrição não será objeto deste estudo, na
medida em que ela confere um direito ao possuidor, ao passo que a prescrição
extintiva, conduz perda de um direito ao seu titular.
Prevista no art. 189 e seguintes do CC, a prescrição extintiva, aplicada a todo o
direito e constante na parte geral do CC, leva à perda de um direito de ação pelo seu
titular, em virtude da sua inércia em não exerce-lo dentro do interregno previsto em
lei.2
Tal instituto é um ponto muito importante a ser citado quando nos referimos aos
processos executivos suspensos por ausência de bens penhoráveis, pois o nosso ordenamento
jurídico deixou uma lacuna no que se refere ao prazo prescricional nessa situação, por isso
impossível falar neste tema sem mencionar a prescrição.
1
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2005 (v. 1), p. 355.
2
GARBINI, Aphonso Vinicius. A prescrição e a decadência no Brasil. Disponível em
<http://aphonso.jusbrasil.com.br/artigos/146491223/a-prescricao-e-a-decadencia-no-brasil?ref=topic_feed>,
acesso em 23 de outubro de 2014.
11
A prescrição teve sua origem no Direito Romano, pois naquele tempo as ações eram
dotadas de perpetuidade, o que causava muita insegurança jurídica à sociedade, então se fez
necessário a criação de um instituto que limitasse o lapso temporal de pretensão dos autores.3
Antonio Luíz Câmara leal (1978:3) descreve a história desse conceito etimológico.
Quando o pretor foi investido pela lei Aebutia, no ao de 520 de Roma, do poder de
criar ações não previstas no direito honorário, introduziu o uso de fixar prazo para
sua duração, dando origem, assim, às chamadas ações temporárias, em
contraposição com as ações de direito quiritario que eram perpétuas. Ao estabelecer
que a ação era temporária, fazia o pretor precedê-la de parte introdutória chamada
praescriptio, porque era escrita antes ou no começo da fórmula. Por uma evolução
conceitual, o termo passou a significar extensivamente a matéria contida nessa parte
preliminar da fórmula, surgindo então a acepção tradicional de extinção da ação pela
expiração do prazo de sua duração. 4
Observando o acima exposto, vê-se que “a palavra prescrição vem do vocábulo latino
praescriptio, derivado do verbo praescribere, formado por prae e scribere; significa escrever
antes ou no começo”.5
Enfim, a prescrição surgiu como uma forma de trazer mais segurança à sociedade,
pois se o exercício de um direito ficar pendente indefinidamente gera instabilidade social e
insegurança nas relações, violando a paz social e a ordem jurídica. Por este motivo, deve o
direito ser exercido dentro de certo lapso temporal determinado pela lei.
3
WAMBIER, Pedro e CAMARGO, João Ricardo. Noção de prescrição e decadência. Disponível em
<http://blogdireitoufpr.com/2013/04/29/nocao-de-prescricao-e-decadencia/>, acesso em 24 de março de 2014.
4
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.632
5
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.632
6
ISHIKAWA, Liliane Kiomi Ito, Prescrição Intercorrente. Disponível em
<http://www.portalamericas.edu.br/revista/pdf/ed1/art6.pdf>, acesso em 24 de março de 2014.
12
1.2 CONCEITO
Para trazer o conceito desse instituto, é importante mencionar sua natureza jurídica.
Quanto a isso, Adilson Fernandes Braga Junior publicou:
Câmara Leal a define como “a extinção de uma ação ajuizável, em virtude da inércia
de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu
curso” 8.
Pode-se perceber que a prescrição tem ligação direta com o tempo e a pretensão
desejada pelo titular de um direito, mas não com o próprio direito material em si porque este
se relaciona com a decadência.
7
BRAGA JUNIOR, Adilson Fernandes, O fenômeno da prescrição intercorrente sob as diversas
perspectivas do processo de execução. Disponível em http://jus.com.br/artigos/26041/o-fenomeno-da-
prescricao-intercorrente-sob-as-diversas-perspectivas-do-processo-de-execucao/1>, acesso em 22 de outubro de
2014.
8
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 512.
9
MIRANDA, Marcone Alves, A prescrição intercorrente no processo de execução. Disponível em
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=1055.31485 >, acesso em 24 de março de 2014
13
Existem diversas causas que podem impedir ou suspender a prescrição. Todas elas
estão elencadas no Código Civil, e são taxativas, ou seja, não admitem outras interpretações,
só é válido o que está na lei, isto porque a prescrição é de ordem pública e sua benesse é
restrita as hipóteses legais.11
São elas:
10
PANINI, Fabiana. Prescrição Intercorrente no Processo Civil - Estudo de Viabilidade. Disponível em <
http://www.paniniadvocacia.com.br/artigo/prescricao-intercorrente-no-processo-civil--estudo-de-
viabilidade.html>, acesso em 02 de abril de 2014.
11
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 522
12
LEITE, Ravênia Márcia de Oliveira, Causas impeditivas e suspensivas da prescrição. Disponível em
<http://oab-ba.jusbrasil.com.br/noticias/1583061/causas-impeditivas-e-suspensivas-da-prescricao>, acesso em
24 de março de 2014
14
Observa-se que as causas acima expostas referem-se a situações que ocorrem fora do
juízo, ou seja, extrajudiciais.
No mais, ficou claro que apesar de terem o mesmo tratamento jurídico, suspenção e
impedimento são diferentes. Na primeira o prazo, já se iniciou, é suspenso em razão de
alguma situação, e depois volta a fluir de onde parou, já no segundo o prazo prescricional nem
sequer começou a ser contado, pois o fato impeditivo impossibilitou sua fluência, no entanto,
nas duas causas o prazo voltará a ser correr pelo tempo restante, diferentemente do que ocorre
na interrupção, como veremos adiante.
13
Código Civil de 2002, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>, acesso
em 24 de março de 2014.
14
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.647
15
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-
á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de
credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. 15
O artigo 203 do Código Civil, diz que a prescrição poderá ser interrompida por
qualquer interessado.
A prescrição pode ser subdividida em várias espécies. Neste capítulo traremos breves
considerações de cada uma.
15
Código Civil de 2002, disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>, acesso em
28 de outubro de 2014.
16
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.658
16
Prescrição Ordinária: É a prescrição comum, que tem um prazo genérico (10 anos),
previsto no artigo 205 do Código Civil.
A prescrição intercorrente foi uma criação doutrinária que mais se aproxima dos
institutos da perempção e preclusão, mas que faz extinguir o processo por inércia da parte.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves:
Configura-se a prescrição intercorrente quando o autor de processo já iniciado
permanece inerte, de forma continuada e ininterrupta, durante lapso temporal
suficiente para a perda da pretensão. Interrompida a prescrição, o prazo voltará a
fluir do último ato do processo ou do próprio ato que a interrompeu (a citação
válida, v.g), devendo o processo ser impulsionado pelo autor. Não pode este
17
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora Atlas S.A, 2004,
p.631
17
É importante salientar que para que haja prescrição intercorrente, é indispensável que
a paralisação do feito se dê por culpa exclusiva do autor, do contrário não se pode alegá-la.
18
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São Paulo, Editora
Saraiva, 2010, p. 513
19
VERUSA, Joyce Goes e FERNANDES, Rogério Mendes. A Aplicabilidade da Prescrição Intercorrente no
Processo Civil Brasileiro. Disponível em
<http://www.atenas.edu.br/faculdade/arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAJURI2013/1%20A
%20APLICABILIDADE%20DA%20PRESCRI%C3%87%C3%83O%20INTERCORRENTE%20NO
%20PROCESSO%20CIVIL%20BRASILEIRO.PDF>, acesso em 02 de abril de 2014.
20
PANINI, Fabiana. Prescrição Intercorrente no Processo Civil - Estudo de Viabilidade. Disponível em <
http://www.paniniadvocacia.com.br/artigo/prescricao-intercorrente-no-processo-civil--estudo-de-
viabilidade.html>, acesso em 02 de abril de 2014.
18
Durante o curso do processo pode haver alguns empecilhos, e estes podem fazer com
que o mesmo seja suspenso.
É importante lembrar que nenhum dos atos praticados antes da suspensão sofre
prejuízo e nem mesmo os prazos iniciados antes dela, pois voltam a fluir de onde pararam
depois que a mesma transcorra, no entanto, durante a referida, não é defeso praticar qualquer
21
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume I. 52ª ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2011, p. 315
19
ato processual, salvo, atos urgentes, que sejam realizados com o intuito de evitar dano
irreparável, conforme reza o artigo 266 e 793do Código de Processo Civil.
É de bom alvitre esclarecer que este rol não é taxativo, pois existem outros casos que
podem proporcionar a suspensão do feito executivo, como por exemplo, o motivo de força
maior, que está disposto no artigo 265, V, e 598 do Código de Processo Civil.
22
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume I. 52ª ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2011, p. 315
23
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
24
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
20
A suspensão dos processos executivos pode ser convencional ou determinada por lei.
A convencional ocorre por convenção das partes e está regulamentada nos artigos 791, II, c/c
265, II e 792 do Código de Processo Civil, porém, para ter efeito, depende da decretação do
juiz.
Com relação aos dois últimos casos de suspensão, André Pontarolli publicou o
seguinte:
25
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 134
21
incidente de falsidade (art. 394); i) a penhora do crédito no rosto dos autos (arts. 673
e 674) . No mais, o autor Araken de Assis fala em dois tipos de suspensão
voluntária: a suspensão convencional genérica e a suspensão convencional dilatória.
A convencional genérica é a do art. 265, a qual não depende do estabelecimento de
um prazo para a suspensão ou de uma causa específica que a justifique. Tal
convenção fica restrita ao prazo legal estabelecido pelo § 3o do art. 265, que é de 06
meses. A suspensão convencional dilatória é a prevista pelo art. 792 do CPC, ou
seja, convindo as partes, o juiz declarará suspensa a execução durante o prazo
concedido pelo credor, para que o devedor cumpra voluntariamente a obrigação 26
Portanto, verificando o que foi exposto, conclui-se que nos casos em que a suspensão
for obrigatória, há vinculação do juiz e sua atividade é meramente declaratória, já nos casos
de suspensão voluntária, é necessária a atividade judicial, tendo em vista que a suspensão só
será iniciada a partir da homologação do juiz.
Quanto às hipóteses de suspensão do art. 265, do CPC, tem-se que o inc. II trata da
suspensão por convenção entre as partes pelo prazo máximo de seis meses. Todavia, o art. 792
26
PONTAROLLI, André. Suspensão da Execução do Processo. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1543/Suspensao-da-execucao-do-processo>, acesso em 25 de maio
de 2014.
22
não define prazo máximo, deixando que as partes convencionem um período determinado
para cumprimento da obrigação.
Já as hipóteses de suspensão do inc. IV, do art. 265, tem prazo de duração fixada em
até um ano, nos termos do seu parágrafo 5º.
O inciso V, do mesmo artigo acima, trata da força maior como causa suspensiva, sem
também fixar um prazo determinado. Mas nem poderia, porque trata de um fato da natureza
imprevisível ou difícil de prever que gera um ou mais efeitos e consequências inevitáveis.
Portanto, como prever prazo para fatos imprevisíveis e efeitos incertos? Por outro lado,
normalizada a situação, voltará o curso da ação.
O diploma processual deixa em aberto em seu inc. VI a suspensão para outras causas
suspensivas previstas em lei. Como exemplo de algumas dessas situações previstas nos
Código Processual Civil, podemos citar:
a) art. 745-A, §1º, que trata da suspensão do processo durante o prazo para
pagamento parcelado do crédito da execução. Dispõe o referido artigo que se no prazo para
embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o depósito de 30% (trinta por
cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado
27
Código de Processo Civil de 1973 (Lei 5.869, de 11 de Janeiro de 1973)
23
requerer seja admitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de
correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês. Portanto, se o executado reconhece
o débito, ele renuncia ao direito de oferecer embargos, até porque já haverá transcorrido o
prazo para sua oposição, tratando-se de uma preclusão lógica. Assim, se descumprir com o
pagamento de qualquer parcela ou se indeferido o parcelamento pelo Juiz, a execução
prosseguirá sem a possibilidade de embargar.
Por causa disto, existe uma grande discussão acerca ao prazo de duração da
suspensão do processo executivo por ausência de bens penhoráveis.
Uma é sustentada tanto pela doutrina, quanto pela jurisprudência, que estando
suspensa a execução a requerimento do credor, pela inexistência em nome do
devedor, de bens penhoráveis, não tem curso o prazo de prescrição, restando o
processo executivo suspenso por tempo indeterminado. A outra é sustentada por
alguns doutrinadores que acreditam que esta suspensão não pode ser eterna já que se
esbarra num preceito de direito material, qual seja: a Prescrição intercorrente. 28
28
CARDOSO, Paulo Leonardo Vilela. A prescrição intercorrente no processo de execução. Disponível em
http://jus.com.br/artigos/2550/a-prescricao-intercorrente-no-processo-de-execucao, acesso em 24 de março de
2014
24
O objeto da execução forçada são os bens do devedor, dos quais se procura extrair os
meios de resgatar a dívida exequenda. Não há no processo de execução, provas a
examinar, nem sentença a proferir. E sem penhora, nem mesmo os embargos à
execução podem ser opostos. Daí porque a falta de bens penhoráveis do devedor
importa em suspensão sine die da execução. (art. 791, III)29
Fredie Didier também defende que a execução não deve ficar suspensa por tempo
indefinido. Vejamos:
Não se deve, todavia, sujeitar o executado a urna execução indefinida, com uma
litispendência sem fim. Por isso, há quem sustente que a execução somente pode
ficar suspensa, em caso de falta ou insuficiência de bens penhoráveis, por até 6 (seis)
meses aplicando-se, no particular, o disposto no § 3° do art. 265 do CPC, que se
refere à suspensão do processo pela convenção das partes, com pertinência à
execução. 31
Como pode-se observar, existe uma lacuna no nosso ordenamento jurídico a esse
respeito, que gera muita discussão e, que leva muitos a acreditarem que nestes casos a
suspensão será sine die como mostraremos a seguir.
29
THEDORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 13ª Edição. São Paulo: Editora LEUD, 1989, p. 436
30
ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 6ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 1.026.
31
DIDIER JR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Execução. Volume 5, 5ª Edição: Editora Juspodivm,
2013, p. 344-345.
25
porque os bens futuros do devedor também respondem pela execução (CPC, art.
591)”.32
Tanto é que se o executado não arguir a matéria de defesa que lhe incumbia e esta for
declarada de ofício pelo Juiz em seu benefício, será condenado no pagamento de custas e
perde o direito aos honorários de sucumbência, nos termos do art. 22, do CPC.
32
DIDIER Jr., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso
de Direito Processual Civil: Execução, 2009, p. 332
33
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 474.
26
Não obstante, esse entendimento tende a ser revisto e alterado, tendo em vista a nova
ordem jurídica a partir da Reforma do Judiciário. Ademais, o executado não pode sofrer
limitação indeterminada de sua liberdade individual.
Tudo indica que deve haver modificação do posicionamento pelos tribunais, uma vez
que a Reforma Judiciária é nova e ainda não houve tempo de enfrentamento de questões
concretas pelos tribunais.
Pelo princípio da celeridade processual, deve o Juiz dar rápida solução ao conflito
submetido à apreciação judicial, pois o processo é instrumento do direito material e não um
fim em si mesmo. O Estado deve assegurar aos litigantes os meios eficazes para realização do
direito material e tutela de interesses.
Assim, não se justifica a paralisação do feito por longos anos, uma vez que o credor
pode evitar a ocorrência da prescrição intercorrente com qualquer impulso na busca de bens,
mesmo que inexitosa.
Assim, o Judiciário não pode privilegiar a inércia da parte que tem à sua disposição
toda a atividade jurisdicional coercitiva do Estado.
Por mais que nossa doutrina majoritária, nos ensina que se torna uma grande
injustiça falarmos em prescrição quando for suspenso o ato executivo por falta de
bens penhoráveis, temos que ter relevância pois nosso sistema jurídico é vago e
moroso, pois bem, como fica então, a nossa Segurança Jurídica em meio a esta
situação, o Poder Judiciário viveria abarrotado de demandas em arquivos provisórios
a “espera de um milagre”, acho que como fundamento jurídico é necessária que
provoque o Ente Jurídico, e não cumule na inércia no vazio, por mais que o
exequente não tenha o que fazer nesta situação fática não se pode proporcionar que
uma demanda judicial fique eterna visando sempre a pacificação nos conflitos
sociais.34
Portanto, não deve privilegiar tão somente o direito de recebimento do crédito pelo
exequente para prevalecer essa tese de suspensão da execução por tempo indeterminado sem a
fluência do prazo prescricional, por infringir os direitos do devedor e à própria Constituição.
34
CORÁ, Suelen Viana. A prescrição intercorrente no processo de execução fiscal à luz do artigo 791, III do
Código de Processo Civil. Disponível em <http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=10433>, acesso em
28 de outubro de 2014.
28
Este tema será, portanto, o objeto deste capítulo, para demonstramos qual o corrente
mais aceitável e que traz mais segurança jurídica à sociedade.
Como já foi dito anteriormente, existe uma lacuna jurídica no que tange ao prazo
prescricional do processo de execução suspenso por ausência de bens penhoráveis, o que
35
JUNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil, Volume II. 44º ed. Rio de Janeiro, Editora
Forense, 2009, p. 474.
36
VERUSA, Joyce Goes e FERNANDES, Rogério Mendes. A Aplicabilidade da Prescrição Intercorrente no
Processo Civil Brasileiro. Disponível em
<http://www.atenas.edu.br/faculdade/arquivos/NucleoIniciacaoCiencia/REVISTAJURI2013/1%20A
%20APLICABILIDADE%20DA%20PRESCRI%C3%87%C3%83O%20INTERCORRENTE%20NO
%20PROCESSO%20CIVIL%20BRASILEIRO.PDF>, acesso em 28 de outubro de 2014
30
durante muito tempo, levou a acreditar que esta suspensão seria “eterna”, porém isto não deve
acontecer, visto que há possibilidade de fluência do prazo prescricional durante a suspensão
processual, pois do contrário, isto causaria insegurança jurídica e prejudicaria a ordem
pública.
37
ASSIS, Araken de. Manual do Processo de Execução. 23ª ed. Revista Atual. São Paulo: Leud, 2002 p. 480-
481
31
Mas essa paralisação é uma suspensão imprópria porque não há a proibição para
prática de atos do processo nem a sanção de nulidade dos que forem praticados. O exequente
tem o dever de continuar na busca de bens a penhorar, o que normalmente não ocorre.
A posição do professor Fredie Didier sobre o assunto é a seguinte:
decretação da prescrição de ofício pelo Juiz e a lei n.º 11.232/05, que afirmou a existência da
prescrição intercorrente no processo de execução. Também o Código Civil de 2002 reduziu
sensivelmente os prazos prescricionais, com a finalidade de dar mais estabilidade e segurança
nas relações, estabelecendo prazos mais reduzidos e razoáveis para exercício da pretensão.
Além do mais, a suspensão indeterminada do feito também fere o principio da
razoável duração do processo, pois a inércia do credor pode criar uma eternização do
processo, o que não se pode permitir.
Ora, a parte demandada não pode se tornar refém do procedimento na hipótese de
inércia do demandante, tanto na fase de conhecimento quanto na execução. Aliás,
talvez seria o caso até de se configurar abuso do direito de ação, na hipótese de a
demandante iniciar um processo, interrompendo-se a prescrição, e não se mostrar
interessada em diligenciar no feito de modo que o mesmo cesse com a maior
brevidade possível.40
Nesta mesma esteira, deve ser admitida a limitação do prazo de suspensão do feito e
permitir a fluência do prazo prescricional para não permitir a perpetuação do processo.
Isso seria de grande utilidade para prática forense, uma vez que existem milhões de
processos suspensos há anos sem andamento e sem solução. Com a possibilidade de fluência
do prazo prescricional grande parte desses feitos seria resolvida, desafogando, em parte, o
Judiciário.
Inclusive, atualmente esse entendimento vem sendo adotado por algumas
jurisprudências, como se pode observar a seguir:
“EXECUÇÃO FISCAL - Extinção - Prescrição intercorrente ADMISSIBILIDADE:
Processo arquivado por mais de cinco anos e não verificada qualquer diligência
para a satisfação da execução, de modo a caracterizar a prescrição intercorrente.
RECURSO DESPROVIDO.” (TJSP - Apelação: APL 990100229036, Des. Israel
Góes dos Anjos, 6ª Câmara de Direito Público, j. 22/03/2010)
40
SILVA, Diogo Henrique Dias. Da necessidade de revisitação da prescrição intercorrente no processo civil.
Disponível em <http://jus.com.br/artigos/23725/da-necessidade-de-revisitacao-da-prescricao-intercorrente-no-
processo-civil/2#ixzz3GzXAO4eP>, acesso em 23 de outubro de 2014
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O saudoso jurista Araken de Assis defende que o prazo da suspensão do processo por
ausência de bens penhoráveis é de seis meses, por aplicação analógica do art. 475-J, §5º, do
CPC, que trata do prazo para o vencedor da ação requerer o cumprimento de sentença:
Uma outra questão, ocultada no art. 791, III, reside no prazo da suspensão. Em
geral, sustenta-se que, inexistindo estipulação explícita quanto ao prazo, a suspensão
é sine die. Contra essa conclusão se invocam argumento de índole sistemática e a
analogia. Em primeiro lugar, a suspensão indefinida se afigura ilegal e gravosa,
porque expõe o executado, cuja responsabilidade se cifra ao patrimônio (art. 591),
aos efeitos permanentes da litispendência. Mesmo que a responsabilidade respeite a
bens futuros, eles servirão ao processo futuro, e não, necessariamente, ao atual.
Ademais, o art. 40, caput, da Lei 6.830/1980 prevê a suspensão automática da
demanda executória pelo prazo de um ano, não se localizando bens penhoráveis,
após vista ao procurador da Fazenda (§§ 1.° e 2.°). Findo esse interstício, “o juiz
ordenará o arquivamento dos autos" (art. 40, § 2.°, in fine). Após tal prazo, de resto,
fluirá o prazo da prescrição intercorrente (Súmula 314 do STJ). Trata-se de solução
expressiva, infelizmente inaplicável aos demais procedimentos, haja vista sua
especialidade. Porém, o art. 475-J, § 5º, sugere o prazo de seis meses no caso de
execução de título judicial, por analogia com o prazo assinado no dispositivo na
hipótese de o vitorioso não requerê-la. Por identidade de motivos, aplica-se tal prazo
a suspensão decorrente da falta de bens penhoráveis. 41
O art. 475-J, em seu § 5o, dispõe que não sendo requerida a execução no prazo de
seis meses, o juiz mandará arquivar os autos, sem prejuízo de seu desarquivamento a pedido
da parte.
41
Assis, Araken de. Manual da Execução, 2007, p. 462.
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Com essa nova regra introduzida com a lei 11.232/05 pode-se afirmar que há
prescrição intercorrente para a fase de cumprimento de sentença do processo.
Isso porque o art. 475-L, que trata das matérias objeto de impugnação ao
cumprimento de sentença, dispõe em seu inc. IV, que o executado poderá alegar: qualquer
causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,
compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença.
Essa mesma regra poderia ser aplicada, por analogia, à suspensão da execução por
falta de bens penhoráveis.
42
AC 0000104-16.2007.8.19.0204, DES. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO - Julgamento: 17/04/2013, 5ª
CC. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-processo-de-execucao-como-justificativa-
para-sua-extincao#ixzz3GzfcAc7J>, acesso em 23 de outubro de 2014.
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tentativa de penhora on line, assim como da busca de bens através das declarações
de renda à Receita Federal, sem sucesso. Em razão da ausência de garantia, o curso
do processo foi suspenso por duas vezes, como possibilita o artigo 791, III do CPC.
Primeiramente, a suspensão foi deferida por 90 dias e na segunda oportunidade o
Juízo não fixou prazo, porém, de acordo com a informação extraída do sítio do TJRJ
o feito ficou paralisado por anos. Agora, novamente, o credor pretende sobrestar o
feito, o que é irrazoável. Ainda que a norma não estipule explicitamente o prazo
máximo da suspensão filio-se ao entendimento do professor Araken de Assis,
segundo o qual a suspensão indefinida se afigura ilegal e gravosa. Assim, por
analogia, deve incidir o mesmo prazo do artigo 475-J, §5º do CPC, que fixa 06
meses para o início da execução de título judicial. Nas palavras de Araken de Assis,
por identidade de motivos, aplica-se tal prazo à suspensão decorrente da falta de
bens penhoráveis. E na contagem devem ser computados todos os períodos de
suspensão. Desse modo, considerando que o tempo de paralisação já superou 06
meses, correta a decisão agravada que indeferiu pedido de novo sobrestamento. Isso
posto, nego seguimento ao recurso, monocraticamente, com aplicação do artigo 557,
§1º - A do CPC.43
Portanto, com essa disposição expressa no diploma processual não há mais dúvida
acerca da possibilidade de fluência da prescrição intercorrente no processo.
Como foi dito, inexiste no ordenamento jurídico norma expressa quanto ao prazo da
suspensão do processo e a possibilidade de fluência da prescrição intercorrente no processo
civil como é regulado no direito processual penal.
As lacunas jurídicas existem porque a lei não pode prever todas as situações
presentes e futuras.
Para essas situações, o art. 4° da Lei de Introdução ao Código Civil, determina que
quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os
43
Agravo de Instrumento 0043337-54.2011.8.19.0000 relatado pelo DES. AGOSTINHO TEIXEIRA DE
ALMEIDA FILHO, j. 20/10/2011, 13ª CC. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/26241/a-inutilidade-do-
processo-de-execucao-como-justificativa-para-sua-extincao#ixzz3GzgFFYk3>, acesso em 23 de outubro de
2014.
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princípios gerais do direito. Também o art. 126, do CPC dispõe que o juiz não se exime de
sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento caber-lhe-á
aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos
princípios gerais de direito.
A analogia é um recurso por meio do qual se aplica a uma hipótese não prevista na
legislação, uma solução apresentada por uma norma a um caso semelhante.
A lei especial que regula a execução fiscal é a n.º 6.830/80, que prevê em seu art. 40,
o prazo de um ano de suspensão e ao seu término, inicia-se a contagem da prescrição
intercorrente de 05 anos para cobrança do crédito tributário:
A Súmula 314 do STJ foi editada para dirimir qualquer controvérsia acerca da
questão do prazo da suspensão do processo e a ocorrência da prescrição intercorrente na
execução fiscal: Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o
processo por um ano, findo o qual inicia-se o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.
É certo que a lei especial somente se aplica a caso específico para o qual foi criada.
Porém, nada impede que em caso de omissão da norma geral para uma situação genérica, haja
aplicação analógica da lei específica.
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O professor Marcus Vinicius Rios Gonçalves também concorda com esta posição,
fazendo referência expressa em sua obra da posição do doutrinador Dinamarco:
Com a remessa dos autos ao arquivo devido a não localização de bens, não corre
prescrição intercorrente, que pressupõe inércia do credor. Mas correrá quando o
credor, depois de certo tempo, não mais realizar diligências no sentido de localizá-
los. Cândido Rangel Dinamarco sugere que se aplique à execução comum o prazo de
um ano das execuções fiscais.45
Neste último caso, a suspensão da execução não pode se dar por tempo indefinido.
Na falta de localização de bens penhoráveis, os tribunais entendem que a suspensão
da execução, por período superior ao prazo de prescrição da dívida, importa na
incidência da prescrição intercorrente. O certo é que os tribunais reconhecem que se
aplica, na avaliação da prescrição intercorrente, o mesmo prazo prescricional que
regula a dedução da pretensão à tutela jurisdicional do direito material. 46
44
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil: Execução forçada Cumprimento
de sentença, 2009, p. 924.
45
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: Execução e processo cautelar,
2009, p. 237.
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Esse entendimento de parte da doutrina é o mais correto, pois o processo não pode
perdurar por tempo indeterminado, por ferir o princípio da duração razoável do processo, a
segurança jurídica, e a própria Constituição Federal, devendo ser permitida a ocorrência de
prescrição no caso de suspensão do processo por falta de bens penhoráveis.
Portanto, como não há previsão na lei sobre o prazo de duração da suspensão por
ausência de bens penhoráveis, perfeitamente cabível que o julgador aplique por analogia o
artigo 40 da lei 6830/80.
46
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, 2008 p. 343
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto no presente trabalho, por muito tempo e até hoje prevalece na
doutrina e jurisprudência tradicional, o entendimento no sentido de que o processo de
execução deve ficar suspenso por tempo indeterminado e não há fluência do prazo
prescricional intercorrente.
Todavia, ficou demonstrado que com a Emenda Constitucional n.º 45/2004, que
introduziu a garantia da celeridade processual e rápida solução do processo, no inciso
LXXVIII, do art. 5º da Constituição da República e as novas leis editadas no campo do direito
civil e processual civil, como as leis n.º 11.280/06 e n.º 11.232/05, essa posição não é a mais
acertada por ir de encontro a essa nova ordem jurídica.
O entendimento mais correto e de acordo com o sistema jurídico no caso dessa
lacuna existente quanto ao prazo de duração da suspensão do processo de execução em caso
de ausência de bens penhoráveis do devedor é a aplicação analógica do art. 40, da lei de
execuções fiscais.
A possibilidade de ocorrência da prescrição intercorrente declarada de ofício pelo
Juiz será de grande importância para prática forense, uma vez que há uma grande quantidade
40
de ações paralisadas há anos sem andamento e já prescritas nos fóruns do país, contribuindo
para morosidade do Judiciário.
Ademais, a declaração da prescrição intercorrente nos processos executivos
evitará que os mesmos se perpetuem, trazendo estabilidade jurídica e garantindo a efetividade
do judiciário.
Além disso, o credor não será prejudicado com o reconhecimento da prescrição,
pois o seu título apenas perderá a condição de executivo, podendo ainda ter seu crédito
pleiteado por meio de ação monitória.
Portanto, a adoção desse entendimento contribuirá para o desafogamento do
Judiciário e será um mecanismo da garantia da segurança jurídica e a celeridade processual.
REFERÊNCIAS
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2005 (v. 1).
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil, Parte Geral, Volume I. 4ª ed. São Paulo, Editora
Atlas S.A, 2004.
41
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Volume I, Parte Geral. 8ª ed. São
Paulo, Editora Saraiva, 2010, p. 512.
ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 6ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1995.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: Execução e
processo cautelar, 2009.