Introdução Ao Livro de Juízes

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Introdução ao Livro de Juízes

 por Anderson Moura

CENÁRIO DE JUÍZES

O desdobramento histórico descrito no livro de Juízes é, sob vários


aspectos, muito parecido com a história da igreja. À Semelhança do
cenário delineado neste livro, a igreja do Senhor Jesus sempre existiu
em meio a uma grande variedade de deuses e ídolos. Esse paralelo se
torna ainda mais evidente, sobretudo com a igreja de nossos dias pós-
modernos, pois a sentença chave do livro de Juízes: “cada um fazia o que
parecia certo aos seus próprios olhos”, tem sido a máxima do nosso
tempo, o qual é marcado pelo relativismo e pluralismo de crenças, ideias
e conceitos.

O CONTEÚDO DE JUÍZES
Juízes trata de um período extremamente complicado da história
do povo hebreu. Alguns comentaristas o chamam de a idade das trevas
de Israel. Sua história se concentra dentro de um espaço de tempo de
aproximadamente 300 anos, se estendendo de Josué até o surgimento
dos primeiros reis da nação. Período no qual Israel esteve ocupado em
se estabelecer na terra que o Senhor os havia prometido quando da
saída do Egito, e para onde caminharam durante 40 anos sob a liderança
de Moisés.
Dentro desse espaço de tempo, Israel foi dirigida por juízes. Os
juízes eram, primordialmente, pessoas levantadas por Deus como
libertadores do seu povo, contra seus inimigos. Estes homens
levantados para serem libertadores de seu povo, caracterizavam-se por
qualidades peculiares que eram a manifestação de um dom especial do
Senhor.
O fracasso da ocupação
O conteúdo de Juízes se ocupa, especialmente, em relatar as
consequências desastrosas do fracasso de Israel em ocupar a terra que
o Senhor os tinha data como herança, Canaã. E por que fracassaram?
Podemos citar, pelo menos, 5 razões principais:
1. Devido a superioridade dos canaanitas em armas e fortificações
(1.19)
2. Devido ao fato de Israel ter feito aliança com o povo da terra (2.1-
5)
3. Devido ao pecado de Israel (2.20-21)
4. Devido ao fato de Deus os estar testando (2.22,23; 3.4)
5. Para que Israel pudesse se fortalecer na arte da guerra (3.1-3)
O fato de eles terem sido parciais em sua campanha de ocupação –
não expulsando totalmente da terra os cananeus; acabou empurrando
eles para uma situação bastante delicada, na qual se viram obrigados a
conviver lado a lado com seus inimigos. Desta forma Canaã passou se
configurar de maneira mesclada, estando ocupada por pessoas que
temiam a Deus e por pessoas que adoravam várias outras divindades,
como Baal, Azerá, Astarote e tantos outros.
A condição de Israel é a de um povo pressionado pela oposição
interna, - por parte daqueles que não foram expulsos da terra – e
ocasionalmente por seus vizinhos dos países ao redor, que as vezes se
lançavam contra eles com bastante força e violência.
Israel foi moldada a partir desses fatores, sendo o futuro
desenvolvimento de sua história determinado, em parte, pelos eventos
descritos neste livro.
Num contexto assim, o povo de Deus se via forçado a reafirmar
diariamente sua Aliança com Deus, enquanto era tentado a adequar-se
à cultura pagã de seus vizinhos, os canaanitas. O livro de Juízes trata,
basicamente, do fracasso de Israel em se manter fiel a essa Aliança. De
como deixou de lado seu amor e submissão ao Senhor para viver da
maneira “que parecia certo aos próprios olhos”.
Os versículos de 2. 6 a 3. 6 pode ser considerado como introdução
às histórias dos juízes, estabelecendo os princípios gerais que vigoraram
durante todo o período. Nesse texto o leitor vê um padrão de
acontecimentos que forma um ciclo repetitivo. Nesse ciclo podemos
observar 4 elementos:
1. Os filhos de Israel fazem o que é mau aos olhos do Senhor;
2. O Senhor os entrega nas mãos de um inimigo que os oprime;
3. Em sua angustia, Israel clama ao Senhor;
4. O Senhor levanta um juiz libertador.
Assim temos um ciclo que gira em torno de apostasia, súplica e
salvação.
O relato de Juízes é o relato da decadência do povo de Deus. A
medida que a história avança, a nação de Israel vai se tornando cada vez
mais obstinada e corrupta, e as consequências dessa corrupção vão
despejando sobre ela dozes cada vez mais forte do juízo divino, que agia
sobre o povo de Deus como um banho de água fria com o propósito de
desperta-los para o arrependimento (5. 5-8).
Quando Israel se apercebia da sua apostasia e clamava ao Senhor,
Ele levantava juízes capazes de livra-los da opressão dos inimigos,
iniciando dessa maneira um novo período de reavivamento da fé, da paz
e da prosperidade que só era interrompido quando a nação voltava a se
esquecer do Senhor e a se revolver na lama da apostasia.
Com o passar dos anos esses ciclos de reavivamento ficaram cada
vez mais fracos. Pois, como disse anteriormente, à medida que a história
ia avançando, o pecado de Israel foi assumindo contornos cada vez mais
sombrios, e seu coração foi se tornando cada vez mais insensível à voz
de Deus. Até mesmo os juízes, heróis da nação, tornaram-se
progressivamente mais corruptos e malsucedidos. O quadro que se
pinta diante de nós é a de um povo em queda acentuada e vertiginosa.
Essa decadência que podemos observar no livro de Juízes foi a
consequência direta de dois fracassos:
1. A natureza incompleta da conquista da Terra Prometida;
2. E o fracasso de Israel em se manter fiel à Aliança com Deus.
Quanto ao primeiro fator – a natureza incompleta da conquista da
Terra Prometida. Podemos dizer que a presença de reinos entre as
tribos de Israel contribuiu de maneira decisiva para dificultar a unidade
política, militar e religiosa do povo de Deus. Essa unidade era muito
importante para se preservar a identidade moral de Israel.
Já no que diz respeito ao segundo fator – o fracasso em manter-se
fiel a Deus em meio a um povo ímpio. Podemos afirmar que esse foi o
grande laço em que Israel tropeçou e pelo qual veio a cair.
A religião cananeia era marcada pelo culto à natureza. Segundo
pensavam, o deus Baal e seus companheiros eram os responsáveis por
assegurar a fertilidade da terra. Por conta disso, muito do culto a esses
deuses envolvia prostituições de homens e mulheres, pois pensavam
que dessa maneira poderiam motivar tais deuses a promoverem a
produção de suas lavouras e criações.
O caráter desprezível da religiosidade de Canaã foi um dos
principais motivos pelos quais Deus ordenou que ao entrar na Terra,
Israel deveria exterminar todos os seus moradores. Essa ordem tinha
também um caráter profilático, ou seja, proteger o povo de Deus contra
as influencias corrosivas da cultura cananeia. Israel deveria ser um
agente da redenção de Deus, por isso tinha que se manter consagrado
ao Senhor.
Conclusão
A ruína de Israel foi a conquista incompleta, o fracasso em
exterminar os habitantes da terra e o fracasso em se manter fiel ao Deus
Verdadeiro. Josué, no final de sua vida, havia exortado a nação “para que
não vos mistureis com estas nações que restaram entre vós. Não façais
menção dos nomes de seus deuses, nem por eles façais jurar, nem os
sirvais, nem os adoreis” (Js 23. 7).
A medida do fracasso de Israel em obedecer a Seus mandamentos
foi a mesma medida do fracasso em não obter tudo quanto Deus lhe
havia prometido. Ficaram contentes com estabelecer-se entre os
canaanitas, e perderam o incentivo de possuir a terra toda.
No caso de Israel, parece que haveria uma razão muito especial pela
qual esta nação daria atenção aos deuses da terra conquistada. O Deus
de Israel, para a maioria dos israelitas, estava associado com o deserto
em que haviam passado a juventude. A superioridade de Javé sobre Baal
havia ficado demonstrada nas vitórias sobre os habitantes de Canaã.
Contudo, os deuses da terra controlavam a chuva, as fontes e a
vegetação, de que os recém-chegados dependeriam em seu futuro
estabelecimento na terra.
Os casamentos mistos, a necessidade de prestar deferência às
forças controladoras da fertilidade e o poderoso apelo do culto
canaanita à natureza mais sensual tornaram-se fatores que conduziram,
inevitavelmente, a um fácil sincretismo. Baal era identificado com Javé,
e Javé passou a ser adorado, gradualmente, de acordo com as formas do
culto a Baal. Esta seria, de fato, a característica da nação até após a
destruição de Jerusalém em 587 a.C.
Apesar disso tudo, Deus jamais abandonou seu povo. Ele é o Senhor
de Israel e o Senhor de toda a Terra, e sua soberania pode facilmente ser
vista pelo fato de Ele ter conduzindo a história dos seus escolhidos,
apesar das suas fraquezas e falhas. Os propósitos de Deus jamais podem
ser frustrados.
Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos
teus planos pode ser frustrado. Jó 42.2

Aplicações Práticas
1. A misericórdia de Deus para com seu povo, apesar das fraquezas
e falhas dos juízes e a inconstância do povo em se manter fiel a Ele,
nos ensinam que a Graça de Deus triunfa sobre os pecados e
fraquezas dos homens.
2. Obediência parcial é o mesmo que desobediência completa.
3. Nossa vida neste mundo precisa ser vivida de maneira cautelosa,
caso contrário correremos o risco de cair no mesmo erro de Israel.
4. Deus está no controle, seja qual for a situação.

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