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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades

RELATÓRIO DE QUALIFICAÇÃO

Título do Projeto:

Os jogos como instrumento de ocupação criativa do território

Nome da Aluna: Ana Cândida de Arruda Becker

Nome do Orientador: Gilson Schwartz

São Paulo, outubro de 2018

1
1 Histórico

1.1 disciplinas cursadas

Disciplina HDL5017
Estado, Ética e Politica II - Política, Psicanálise e Cultura

Conceito: B

Docentes Responsáveis: Sérgio Bairon Blanco Sant'Anna, Paulo


César Endo, Andre Oliveira Costa

No semestre imediatamente após ter sido aceita no doutorado, eu


desejava frequentar uma disciplina dentro do núcleo e fiz a matrícula
sem ter alguma premissa que a ligasse a meu objeto de estudo.
Psicanálise, porém, vinha sendo um estudo recorrente desde a
graduação, passando pela influência de Décio Pignatari no mestrado e
recentemente com Elza Ajzenberg.

A disciplina HDL5017 propunha refletir sobre a imbricação entre os


processos psíquicos e sociais, ou sobre a relação entre indivíduo e
sociedade, a partir das obras de Sigmund Freud e Norbert Elias. A
subjetividade, vista sob a ótica de Freud, tem dimensão universal e
temporal, já para Elias as estruturas dependem da formação social e
da formação dos Estados.

Compreender a ação do Estado para controlar a dimensão da


violência pelo estabelecimento de conformações simbólicas nas quais
os privilégios são estabelecidos e mantidos pela relação de
submissão. Norbert Elias teria sido o primeiro a se debruçar sobre o
significado das regras de etiqueta que surgem nas sociedades de
corte, na França, na Alemanha e trás à luz um indivíduo tributário da
opinião do outro.

2
A descoberta da obra de Norbert Elias no início do curso definiu a
investigação teórica do projeto de tese. Li com interesse as obras
listadas na ementa, buscando o que o autor produziu sobre máscara
(termo que faz parte da proposição teórica) e sobre jogos (objeto da
tese).

A principal tese defendida em “A Sociedade de Corte” é que o


processo civilizador que acontece na passagem de uma sociedade
guerreira feudal para a sociedade de corte ocorreu com o
estabelecimento de todo um conjunto simbólico de valores, leis, usos
e costumes, rigorosamente exigidos dentro de uma monarquia
absolutista, que condicionava a vida em sociedade à coerção das
pulsões.

“Tais mudanças dos homens que se trata quando falamos de uma


individualização mais intensa, de uma couraça em torno das
emoções, de um distanciamento maior em relação à natureza, ao
indivíduo e ao eu (...) A couraça das auto coerções, as máscaras que
os homens singulares das elites de corte desenvolvem estão, como
parte deles mesmos, de sua própria pessoa, a um ponto que nunca
fora alcançado antes, são coisas que também aumentam a distância
entre os indivíduos.” (ELIAS, 2001, p.246)

Ou ainda,

“Os aristocratas de corte costumam ter consciência de que usam uma


máscara em seu convívio com outros cortesãos, e talvez também
cheguem a ter consciência de que o uso da màscara, o jogo de
máscara, tornou-se para eles uma segunda natureza.” (ELIAS, 201,
p.143)

Descobri em uma obra do autor que estava fora do programa da


disciplina um vasto e muito bem embasada analogia entre a

3
sociedade e o teatro, noção que perpassa a obra “Desporte y ocyo
em el processo de la civilizacion”. Para Elias, as competições seriam
encenações de batalhas apresentadas, mesmo, no contexto da
imitação.

Ao comparar um confronto físico real entre as pessoas com uma


competição desportiva, infere que certos aspectos da experiência
emocional associados à luta física real entram na experiência
emocional que traz a luta "imitada" um esporte, resultado de um
mecanismo de transmissão diferente, porque permite às pessoas
experimentar com plenitude a emoção de uma luta sem os seus
perigos e riscos. O elemento de medo presente na emoção, não
desaparece por completo, tornando o prazer da luta bastante
reforçado e a capacidade de atletas, permitem aumentar o gozo da
batalha sem que ninguém seja ferido ou morto.

“Da mesma forma, o conceito aristotélico de


"catarse" pode preencher um vazio na nossa
bagagem conceitual. As competições desportivas
permitem que os seres humanos vençam outros
em uma luta física sem embate físico. A resolução
da tensão e do esforço da vitória na batalha pode
produzir um efeito revigorante e purificador. A
pessoa pode sentir-se alegre e sem problema de
consciência, confirmando seu valor e segurança de
autoestima, que foi uma luta justa. Nesse sentido,
o esporte proporciona amor próprio, sem remorso.”
(ELIAS, 1992, p. 63).

O Norbert Elias, que além de sociólogo era médico, chama atenção


para a necessidade de valorizar o conhecimento empírico dos
pensadores da Antiguidade ao explicar que o efeito curativo da
música e do teatro sobre os seres humanos, por meio da catarse, e

4
destaca que, para tal efeito, Aristóteles usou o termo pharmacon.
(ELIAS 1992, p. 101)

Falando do desenvolvimento da organização do Estado, Elias comenta


que uma faceta presente na tragédia Édipo Rei que não chegou a ser
estudada por Freud: a questão do controle da violência física, que
afeta todas as relações humanas, mas que se faz especialmente
patente na mitologia grega, a saber, o conflito entre pais e filhos.
Comenta que Zeus foi criado em segredo de Cronos e posteriormente
Zeus precisou castigar violentamente Prometeu, por ter dado o fogo
(e a ciência) aos mortais. (p. 177).

Elias descreve o fato para afirmar que, na trajetória do processo


civilizador, é necessário compreender o nível de violência socialmente
permitida e a relação com a correspondente formação da consciência
das sociedades.

Na obra, o autor discute a violência, as lutas e competições,


abarcando todo o período clássico greco-romano, com o
estabelecimentos das Olimpíadas, bem como os torneios e jogos
populares da Idade Média, passando pelas e as caças praticadas
inicialmente com finalidade de alimentação, e tornando-se um
esporte praticado pela aristocracia inglesa, que perseguia lobos, por
serem mais ágeis e velozes, o que tornava o divertimento mais
excitante, para questionar o paradigma da violência que acontece no
esporte moderno, particularmente o futebol, e nos comportamentos
das torcidas. (p. 203).

Teatro, dotado e efeito curativo, retomando as teorias da arte na


busca de respostas baseadas no conhecimento empírico da
Antiguidade.

5
A questão colocada pelo autor, e trazida pauta como foco na presente
pesquisa é, nas palavras do próprio Elias:

Na vida social de hoje, somos incessantemente


confrontados pela questão de se e como é possível
criar uma ordem social que permita uma melhor
harmonização entre as necessidades e inclinações
pessoais dos indivíduos, de um lado, e, de outro,
as exigências feitas a cada indivíduo pelo trabalho
cooperativo de muitos, pela manutenção e
eficiência do todo social. Não há dúvida de que isso
— o desenvolvimento da sociedade de maneira a
que não apenas alguns, mas a totalidade de seus
membros tivesse a oportunidade de alcançar essa
harmonia — é o que criaríamos se nossos desejos
tivessem poder suficiente sobre a
realidade. (ELIAS, 1991a, p. 8).

ELIAS, N. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da


natureza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed.,
2001.
________. O processo civilizador, volume 1: uma história dos
costumes. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
________. O processo civilizador, volume 2: formação do Estado
e Civilização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. 2v.
________. Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus
nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 1997
________. The society of individuals. New York : The Continuum
International Publishing Group Inc, 1991a.

________. The Symbol Theory. London : SAGE Publications,


1991b.

6
________. ; DUNNING, E. Desporte y ocio en el processo de la
civilizacion. Madrid: fondo de Cultura Econômica, 1992.

ANEXO 1

Trabalho apresentado para a disciplina

Conceito B

7
Disciplina HDL5019
O Lugar das Memórias: Preservadas, Descartadas,
Compartilhadas

Conceito A

Disciplina HDL5021 - O Lugar das Redes: Preservadas,


Descartadas, Compartilhadas e Expandidas

Conceito A

Docentes Responsáveis: Luis Guilherme Galeão da Silva, Sérgio


Bairon Blanco Sant'Anna, Zilda Marcia Gricoli Iokoi

As disciplinas propunham investigar as condições para o diálogo com


diferentes atores e atrizes sociais atingidos pela opressão nos seus
territórios, ou seja, nos seus termos e lugares sociais.

Visto que o elemento geratriz da minha investigação parte do


princípio de participação ou participatividade com populações
atingidas por intervenções urbanas e que este mesmo elemento de
minha pesquisa propunha há 50 anos o mesmo território como
estudo de caso, a opção pela presença à disciplina mostrou-se vital e
uma incrível convergência de esforços e afetos. Além da comunhão
de objeto de investigação.

Disto é feito, em minha opinião, um núcleo multidisciplinar pesquisa.

Grande parte do jogo que desejo desenvolver como parte da tese


discute organização e recuperação de material da memória dos
espaços e as diferentes variáveis econômicas e tecnológicas de
ambos, espaços e registros destes espaços.

Discutiu-se diferenças e similaridades entre saber científico,


experiência estética, senso comum e saber oral.

8
Buscava-se um olhar desarmado, sem preconceito, buscando pensar
“conforme onde estão os pés”. Foi possível sentir, de forma muito
forte, diferentes temporalidades da relação de poder naquele espaço.
Foi possível compreender que há imperativos formadores da
subjetividade no limite da condição humana, subjugada de forma
inexorável na injustiça do enfrentamento.

Ficou clara a sedução do poder e esforços da mídia para a adesão ao


massacre. À mortalidade do território. Ao controle.

Neste cenário a disciplina propunha trabalhar na dimensão do


encontro, entrar em contato com pessoas que vivem a
territorialidade, em uma busca reparadora e utópica de
transformações das relações.

Um dos focos da bibliografia era referente à história, historiografia,


memória e narrativas. Neste sentido as leituras foram direcionadas à
construção do banco de dados com documentos históricos e foi
organizado um eixo cronológico da região da Luz, com ênfase à
intervenção do Estado nas manifestações culturais vividas pelo ou no
espaço. A pesquisadora esteve em contato com instituições
detentoras de material histórico e em busca da solução tecnológica.

O autor que me parece poder somar de forma definitiva a questão da


analogia teatro-sociedade proposta na parte teórica do projeto de
tese é Sloterdjik, que retoma a noção marxista de falsa consciência,
fenômeno psicológico-cognitivo, fundado na própria realidade social:
em particular, a realidade material da sociedade capitalista, com o
sujeito tratado como objeto de um sistema na qual o que realmente
importa é o resultado e a pressão pelo rendimento. Quando essa
falsa consciência é trazida à luz quando todos sabemos que estamos
mentindo para nós mesmos, ela é iluminada; no entanto,
tragicamente, nossa iluminação não nos dá nenhuma habilidade

9
mágica para fazer algo a respeito

Em sua revisão crítica, o autor fala em oito desmascaramentos

Sloterdijk diagnosticou nossa cultura como sofrendo de falsa


consciência iluminada.

ANEXO 2

Trabalhos apresentados

Conceito A

Conceito A

10
CAC5996 Mascaramentos Contemporâneos: Designs
Atravessados Por Perspectivas Estéticas de um Corpocidade

Conceito A

Docentes Responsáveis: Adriana Vaz Ferreira Ramos, Felisberto


Sabino da Costa, Maria Helena Franco de Araujo Bastos

A disciplina propunha a pesquisas, de natureza teórica e prática,


direcionadas aos processos cênicos a partir da observação das
experiências que despontam no cenário da arte contemporânea, bem
como o compartilhamento das experiências artísticas, estéticas, além
das pesquisas dos participantes.

Os professores propõem

“trabalhar confrontos e confluências


contemporâneos e as possibilidades de
coexistências que nos devolvam percepções d(n)a
realidade com a qual dialogamos. Um pensamento
implicado de contaminações entre dança, teatro e
performance, numa dimensão comprometida entre
o estético e o político. (...) Nesta perspectiva, a
instauração da máscara requer o jogo corporal. Ao
subtrair o sistema de expressão do rosto, a
máscara engendra o corpo, que se torna
dispositivo da escrita gestual no espaço. É disso
que se trata: a máscara é um corpo em
movimento, no qual objeto e atuante plasmam um
outrem cujas faces penetram-se sem, contudo, se
fundirem. A partir deste foco apresentamos uma
conceituação a respeito do design de aparência,
isto é, desvelar as múltiplas interações que a

11
visualidade de um mascaramento produz com os
demais elementos cênicos de um corpocidade.”

Cada professor desenvolveu o enfoque e comentou a bibliografia em


três aulas e foram criados trabalhos a partir de estímulos discutidos
em uma quarta aula daquele professor, intitulada fluxo poético. O
conceito final foi composto pelos três fluxos poéticos e um trabalho
final, também prático.

A experiência foi de interesse para a pesquisa no sentido de


instrumentar a discussão a respeito da máscara tanto no sentido do
diálogo do ator com o adereço, o adereço em si, em várias culturas e
estéticas na história do teatro, com destaque para a questão da
máscara neutra.

Busquei a disciplina porque esta se propunha

“Ao recorrer ao sentido expandido da máscara e


ampliar suas possibilidades para além de um campo
específico, o corpo social urbano se configura como
gerador de atos estéticos, a partir dos afetos e
perceptos”

e cunha dois conceitos que foram foco de minha participação:


“corpocidade” e “design de aparência” que me parecia desbravar
novos horizontes de reflexão.

Em muitos aspectos ambos os termos colaboraram diretamente com


a presente pesquisa, sendo a questão do “design de aparência”
especialmente.

Aqui o denominador comum das quatro disciplinas cursadas para o


doutorado comparece como intersubjetividades, relações
compartilhadas, redes neurais.

12
O foco corpo mídia e imunização na coreografia da cidade (vista com
o encantamento de um bordado)

O ser se constitui na fronteira, presença magnética em nível pré-


expressivo capaz de irradiar presença. Foram conceituados e
propostos exercícios a respeito da máscara neutra.

A experiência estética (coletiva) importava na disciplina, motivo pelo


qual os trabalhos propostos foram de caráter prático.

A dentre as leitura proveitosa do semestre o eterno retorno à


semiótica e Lucrécia D’Aléssio Ferrara, que propõe a deriva como
método, para investigação da ocorrência interativa na cidade,
valorizando aspectos sensíveis e ambientais. Para a autora “a
semiótica da imagem da cidade é construída na metonímia das suas
ocorrências que, registradas visualmente, lhe conferem sentido.
Vê=se a imagem da cidade através dos seus registros.” Propõe que o
método da deriva busca flagrar das cidades seu terreno passional e
nele as variações psicogeográficas.

Explica que o desenho urbano chamado por Berenstein como “grafia


urbana”, capaz de produzir, registrar e inscrever uma “corpografia”. A
deriva como método impõe a pesquisa empírica por excelência.

Postura errante do pesquisador.

Outro retorno importante foi à obra de Milton Santos citado no plano


quando conceituamos cidade e urbano e território, e na discussão o
trabalho de Marília Borges.

ANEXO 5

.ppt da apresentação do texto

CARLRSON, Marvin A cidade como teatro. In: Percevejoon line-0


Periódico do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas UNIRIO.

13
file:///C:/Users/Antonio/Downloads/MARVIN%20CARLSON%20CIDAD
E.pdf

acessado em 27/09/2018

ANEXO 6

.ppt de trabalhos práticos desenvolvidos em aulas

Conceito A

14
1.1 Atividades

X Seminário Internacional N UTAU 2016 - ÁGUAS: PROJE TOS


E TECNOLOGIAS PARA O TERRITÓRIO SUSTENTÁVEL.
Participante do comitê organizador

Festival de filmes no C INUSP ÁGUAS: PROJETOS E


TECNOLOGIAS PARA O TERRITÓRIO SUSTENTÁVEL.
Evento paralelo ao Seminário NUTAU 2016
Organizadora

UNESCO – Information Media Literacy

GAPMIL 2016: SEMANA GLOBAL DA ALFABETIZAÇÃO


MIDIÁTICA E INFORMACIONAL 2016
Participante do comitê organizador

X SIMPÓSIO BRASILEIRO ABCIBER - Associação Brasileira


de Pesquisadores em C ibercultura
Integrante de painel temático

XII SEMINÁRIO INTERNACIONAL NUTAU 2018 – Núcle o de


Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo :
PERSPECTIVAS FUTURAS
Apresentação de trabalho

Representante Discente do Programa de Pós-Graduação


Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades

15
Participante:

Polícias no Brasil e nos EUA: geografias de assassinatos e


raças. FFLCH/USP

Seminário O Golpe de 2016 e a Democracia. FFLCH/USP

Cidades Inteligentes? Socie dade e Tecnologia em Debate.


"POLI/USP

Meios eletrônicos para a solução de conflitos. POLI/USP

Propriedade intelectual e tecnologia. POLI/USP

Centralidades Periféricas – Marcas na Pele da Cidade:


Narrativas Visuais das Periferias. IEA/USP

Novas Fronteiras da Geopolít ica Econômica: Trump, Brasil e


América Latina. IEA/USP

16
Título provisório

Os jogos como instrumento de ocupação criativa do


território

projeto (ideia do trabalho)

Em 1968 meu pai, o Arq. Aloysio Monteiro Becker e o amigo o Eng.


Oswaldo Beirão lutavam por uma ideia que, se levada adiante,
poderia ter impedido a construção da incompreensível excrescência
urbana, carinhosamente apelidada de Minhocão.

O arquiteto formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura, a


mesma Academia Imperial criada em 1808, que em 1826 passa a
chamar Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios e após a
proclamação da república Escola de Belas Artes. Na turma de 1956,
além de Aloysio Becker, formaram-se entre outros, João Filgueira
Lima – Lelé, Paulo de Sá e Michel Arnould. Lúcio Costa dirigia a
faculdade, lá lecionavam Burle Marx e, quando no Brasil, Le
Corbusier. Foi também a alma mater de Niemayer, Sérgio Bernardes
e, pode-se afirmar, do que viria a ser internacionalmente conhecida
como arquitetura brasileira.

A proposição do projeto dos Becker/Beirão era a de separar trânsitos


de pedestre e veículos, trânsitos local e de passagem, assim como já
proposto por Leonardo Da Vinci para Milão IMAGEM, ou o próprio Le
Corbusier para o Rio de Janeiro e para São Paulo (IMAGEM).

A dupla Becker/Beirão propunha buscar no projeto dos edifícios, além


do espaço de passagem vertical, entre os pavimentos, também a
passagem horizontal, ligando edifícios, quadras, bairros...

17
Para que isto pudesse acontecer, sugeriam a demolição de
edificações escolhidas (preferivelmente galpões e imóveis de baixo
padrão e poucos andares) e substituição por edifícios, formando
traçados destinados à mobilidade.

Foi constatado que, na hipótese da pista ser inserida nos edifícios


como via elevada, perfurando um andar, que seria destinado às
pistas, a estrutura dos edifícios, com a tecnologia usada na época,
não teria que sofrer modificação, havendo a necessidade apenas de
destinar o andar pelo qual passaria. Isso significa que se o Minhocão
tivesse sido feito em lugar de densidade populacional menor, poderia
ter saído de graça e criado milhares de habitações, além de escolas,
hospitais...

Na hipótese de ser inserida em subsolo, sua construção se


beneficiaria da possibilidade de movimentar a terra no interior das
quadras, o que faria que as obras interferissem minimamente na vida
da cidade.

Algumas características: com a criação de espaço, os edifícios-pista


evitariam desapropriações, possibilitaria total renovação de
infraestrutura e introdução de todas as benfeitorias (de uma smart
city) projetada, seria concebida, construída e usada
participativamente e, com a venda de novos espaços uteis criados, a
obra toda tende ao autofinanciamento. Equilíbrio econômico e social
(com a real possibilidade de zerar o imenso débito habitacional,
populações em áreas de proteção ambiental e/ou risco com
possibilidade de serem realocas), transparência (com a participação
âmbito local e global).

Odon Pereira da Silva, jornalista e vereador pelo Partido Comunista


Brasileiro (1963-1968) abraçou a ideia e fez um artigo publicado no--
--------- e levou a um programa de televisão (ao vivo), do qual tenho
apenas algumas fotos. Poucos meses depois o AI5 e governo do
18
próprio Maluf, as portas foram fechadas. Ainda assim, Odon sempre
buscava colocar o arquiteto em contato com pesquisadores e
urbanistas que visitavam São Paulo.

Após a comparação com a proposta de Paulo Maluf que resulta no


Minhocão, e com contrato de dedicação exclusiva com a Prefeitura
Municipal de São Paulo, ele foi transferido da Secretaria de
Transportes sendo deslocado para o Departamento de Limpeza
Urbana e terminando sua carreira locado no depósito de lixo de
Itaquera, para onde ia todos os dias até a aposentadoria.

Ainda assim, trabalhou no desenvolvimento da coleta de lixo


hospitalar, nos anos 70, projetou e construiu praças sobre terrenos
usados pelo departamento e alugou galpão e colocou maquinário
próprio e tempo fora do expediente para desenvolver material
reciclado de lixo para substituir madeira de tapumes que na época
eram feitos de madeira que poderiam ter melhores usos. Não teve
sucesso.

Na vida privada, porém, ele era livre para projetar. Dois destes
trabalhos serão também propostos no jogo: Aproveitamento de laje
das casas para cultivo (que pode ser usada para cooperativa de
hortaliças e morangos, por exemplo) que ele projetou para a própria
residência e a casa modular e sem paredes que ele construiu em
Ubatuba e fazia parte de projeto de condomínios sustentáveis e
arquitetura desmontável para casos de emergências, catástrofes ou
habitações temporárias, como o caso das migrações para Meca.

Na minha graduação, a Profa. Dra. Elza Ajzenberg pediu que fosse


escolhido um artista desconhecido do século XX e eu fiz uma
apresentação da proposta. Ela me apresentou para a Profa. Da.
Sheila Lehrner, que era a responsável para arquitetura na 19⁰ Bienal
Internacional de São Paulo – Arte e Utopia, mas o arquiteto pediu

19
para que eu não levasse adiante a ideia de expor, por falta de
condições de produzir as pranchas necessárias.

como se desenvolveu até o momento

Com o apoio da Profa. Elza, passei a frequentar os cursos da FAU


como aluna especial, até que o Prof. Dr. Décio Pignatari pediu que eu
escrevesse o projeto de mestrado com o título “A Cidade como
Espetáculo e a Cidade Espetacular”.

Quando orientanda, fizemos paralelos entre o fazer teatral e o


desenvolvimento urbano em cada período histórico e percebíamos
muito claramente a introdução dos meios de comunicação em massa
definindo o desenvolvimento.

Nessa linha, meu orientador pediu que procurasse em no Núcleo de


Pesquisas em Tecnologia da Informação Aplicadas à Educação “Escola
do Futuro”, baseada na POLI o Prof. Dr. Michael Fredric Litto, que era
professor da ECA e coordenador acadêmico do NAP. Assisti a uma
palestra em que o professor enfatizava que as novas gerações teriam
as simulações como meio para compreensão de eventos científicos
diversos.

Naquele período, Prof. Litto recebeu um prêmio da International


Counsul for Distance Education para a construção do que viria a ser a
primeira biblioteca virtual em Língua Portuguesa, a bibvirt, para o
que ele me convidou a coordenar.

Tempo/Espaço: Memória e Projeto

20
Acima, o projeto de interface humano-computador concebido em
1997 no âmbito da pesquisa e produção da primeira biblioteca virtual
no Brasil, a Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro -
bibvirt.futuro.usp.br, do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Novas
Tecnologias da Educação Aplicadas à Educação “A Escola do Futuro”,
que teve início em 1996, com inauguração em 1998, e
disponibilizava, além de obras que estavam em domínio público, todo
o material do Telecurso 2000.

A concepção da interface é da presente pesquisadora, com a


orientação dos professores visionários Prof. Dr. Décio Pignatari e o
Prof. Dr. Fredric Litto, este último o criador e coordenador científico
do núcleo de pesquisas, e era a ilustração de capa do projeto que foi
premiado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo através
da LInC – Lei de Incentivo à Cultura, além de qualificação para
captação pelo MinC – Ministério da Cultura.

A ilustração tratava da arquitetura de um mecanismo de resgate de


informação, representando a possibilidade de entradas, além da
tradicional entrada “palavras-chave”, uma imagem de satélite e uma
barra de rolamento representando um eixo cronológico, sugerindo a
soma das buscas por “espaço” e por “data” e faz parte da proposta de
trabalho empírico da investigação e conta com o apoio de dois

21
importantes núcleos de pesquisas da Universidade de São Paulo: o
NUTAU – Núcleo de Pesquisas em Tecnologia da Arquitetura e
Urbanismo, coordenação científica do Prof. Dr. Bruno Roberto
Padovano e a Cidade do Conhecimento, coordenação científica do
Prof. Dr. Gilson Schwartz e aspira contribuir com movimentos Games
for Change e Portal da Juventude, além projeto esta em dialogo como
o PES- o Programa Espaço e Sociedade do INPE – Instituto de
Pesquisas Espaciais sob coordenação do Prof. Dr. Antonio Miguel
Monteiro .

Em 2015 fui convidada a participar do grupo de estudos da “Cidade


do Conhecimento”, que tem a coordenação científica do Prof. Dr.
Gilson Schwartz, e passei a fazer parte dos estudos Iconomy and
Memory, em parceria com o Center for Cultural Policy Studies da
Universidade de Warwick, dirigido por Joanne Garde-Hasnsen. A
pesquisa, de cunho multidisciplinar, envolverá fortemente o campo de
estudos da memória e do imaginário, em um leque conceitual que
abarca Antropologia, Sociologia, Educação e parte das leituras estão
baseadas em Aleida e Jan Assmann, Deleuze e Guatarri, Durrand e
Schwartz. No momento faço parte do grupo da “Cidade do
Conhecimento” que coordena a Secretaria Executiva do “UNESCO
Global MIL Week”, a primeira Assembleia Geral da UNESCO para
Alfabetização Midiática e Informacional (Media and Information
Literacy), consolidando as redes “Global Alliance for Partnerships in
Media and Information Literacy – GAPMIL”, “Media and Information
Literacy for Intercultural Dialogue – MILID” e “Observatorio
Latinoamericano y del Caribe de Alfabetización Mediática e
Informacional (OLCAMI)”, Mais informações:
http://en.unesco.org/global-mil-week-2016

22
RAZÃO da escolha do tema

O projeto convida jovens long live learners a brincar com a cidade,


brincar com a memória, criar jogos, questionar, imaginar... Propor,
testar, encontrar soluções. Criar novos valores.

Esta é a justificativa para a discussão teórica, que questiona a função


da máscara e do jogo por intermédio de uma analogia entre
sociedade e ação teatral, e também para a escolha da Semiótica de
C. S. Peirce como estrutura metodológica, que comporta outras
abordagens de cunho qualitativo e quantitativo, multidisciplinar.

PLANO comentário de cada item

Inicialmente dias tríades de verbetes são conceituadas:

Cidade, Urbano, Território

Jogo, Game, Gamificação

E discutidas as tendências de ação do Estado e da Sociedade Civil em


direção às intervenções urbanísticas. Tomamos a região da Estação
da Luz para estudo de caso e propomos a recuperação, organização
da informação histórica do lugar e divulgação por meio de jogos e
adesão em um movimento de construção que conta com treinamento
e monetização. O material fará parte de um portal para o qual uma
interface humano-computador baseada em imagens de satélites e
eixo cronológico está sendo projetada.

Paralelamente à construção da interface, repertório e vivência de


criação de jogos, peças de um jogo de montar estarão sendo
desenvolvidas. O objetivo é o de criar um jogo híbrido, com parte
dele acontecendo com informações de tabelas, gráficos, narrativas e
tudo o que passou a fazer parte do portal. Neste jogo (E Se...), a
cidade será o tabuleiro.

23
Havendo possibilidade financeira, o jogo será desenvolvido pelos
programas BIM (Building Information Modeling) e os demais do
mesmo sistem: CIM, LIM e ArcGis.

O projeto em anexo divide o trabalho prático em três fases. A


pesquisadora se compromete a entregar o eixo da primeira fase.

24
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades

Título do Projeto:

Os jogos como instrumento de ocupação criativa do território

Nome da Aluna: Ana Cândida de Arruda Becker

Nome do Orientador: Gilson Schwartz

São Paulo, agosto de 2018

25
Resumo
Quais as condições necessárias para intervir nos sistemas de assentamentos e
ocupações por intermédio de organizações concebidas de forma participativa
em jogos?

O trabalho propõe 1] reflexão teórica – centrada na questão de ética e da


formação do caráter do usuário das tecnologias da Informação para a
construção colaborativa do ambiente, 2] desenvolvimento de design e
programação de interface aberta voltada à criação de um banco de dados
associado ao acervo criado por meio de atividades pedagógicas 3]
experimentação prática – vivências e atividades de formação para a produção,
tratamento e uso do acervo 4] experimentação e game jams para a criação de
jogos com material do acervo 5] um jogo e um sistema de objetos como
primeira abordagem ao campo da intervenção, com o objetivo de testar as
hipóteses levantadas no decorrer do trabalho, em que serão desenvolvidas as
peças para o jogo de montar novas cidades – jogo hibrido, de tabuleiro com
material de acervo.

Para tanto, mostrou-se necessário discutimos os termos e definições para


conceitos elásticos e de difícil delimitação de fronteiras, tais como cidade,
urbano e território e jogo, game e “gamificação”

A pesquisa teórica identifica como ”paidia” os jogos de montar, de simulação, o


faz de conta e da imaginação.

Propõe a analogia das estruturas apresentadas por Teixeira Coelho analisando


o teatro com a vida nas cidades. Segundo o autor, o fato teatral acontece com
a sobreposição de duas tríades: 1. actante/ espaço/ máscara e 2. personagem/
cenário/ jogo. E questiona a existência uma plateia no contexto da analogia.

A função social da máscara e do jogo é discutida a partir da concepção de


ethos (Aristótele, Elias) ao fetichismo cínico (ZIZEK) e o paradoxo da crítica ao
mascaramento ideológico.

A investigação empírica é formada pelo desenvolvimento de ao menos três


produtos tecnológicos, sendo uma interface humano-computador, a
organização de um banco de dados aberto e colaborativo a ser acessado por
este aplicativo e um jogo com o uso dos dois elementos anteriores e por uma
pesquisa aplicada em que usuários da região escolhida como recorte possam
colaborar na criação do projeto e com que o jogo será testado.

Assim, o projeto convida jovens long live learners a brincar com a cidade,
brincar com a memória, criar jogos, questionar, imaginar... Propor, testar,
encontrar soluções. Criar novos valores.
26
Esta é a justificativa para a discussão teórica, que questiona a função da
máscara e do jogo por intermédio de uma analogia entre sociedade e ação
teatral, e também para a escolha da Semiótica de C. S. Peirce como estrutura
metodológica, que comporta outras abordagens de cunho qualitativo e
quantitativo, multidisciplinar.

Inicialmente duas tríades de verbetes são conceituadas: Cidade, Urbano,


Território e Jogo, Game, Gamificação para discutir as tendências de ação do
Estado e da Sociedade Civil em direção às intervenções urbanísticas.

Tomamos a região da Estação da Luz para estudo de caso e propomos a


recuperação, organização da informação histórica do lugar e divulgação por
meio de jogos e adesão em um movimento de construção que conta com
treinamento e monetização. O material fará parte de um portal para o qual uma
interface humano-computador baseada em imagens de satélites e eixo
cronológico está sendo projetada.

Paralelamente à construção da interface, repertório e vivência de criação de


jogos, peças de um jogo de montar estarão sendo desenvolvidas. O objetivo é
o de criar um jogo híbrido, com parte dele acontecendo com informações de
tabelas, gráficos, narrativas e tudo o que passou a fazer parte do portal. Neste
jogo (E Se...), a cidade será o tabuleiro.

Havendo possibilidade financeira, o jogo será desenvolvido pelos programas


BIM (Building Information Modeling) e os demais do mesmo sistem: CIM, LIM e
ArcGis.

O projeto de pesquisa divide o trabalho prático em três fases. O eixo da


primeira fase é o mínimo que a pesquisadora se compromete a entregar.

27
SUMÁRIO

1 Introdução 30

2 Objeto e Metodologia da Pesquisa 31

2.1 cidade, urbano, território 31

2.2 jogo, game. gamificação (IoT) 34

3 Da Investigação Teórica 37

3.1 Metodologia e fundamentação teórica: 37

3.2 a estrutura da significação no teatro como hipótese teórica para jogos


concernentes à cidade 40

3.2.1 duas tríades 41

3.2.2 plateia 42

3.2 qual a função social da máscara e do jogo? 43

4 Da Investigação Empírica 44

5 da produção da interface 44

6 da organização do repertório na interface 46

6.1 tempo 46

6.1.1 Jogos de modelagem 47

6.2 espaço 50

6.2.1 Narrativas híbridas audiovisuais 50

6.3 jogos 51

7 Resultado esperado da plataforma 51

7.1 do desenvolvimento tecnológico 51

7.2 pesquisa-ação ou do desenvolvimento do capital humano 53

7.3 O território Luz 53

7.4 da aplicação 54

8 E Se... 57

28
8.1 da produção do E Se... 61

9 Conclusão 62

10 Plano de atividades e cronograma de sua execução. 64

10.2 Cronograma de execução: 65

11 Referências 66

O Complexo Cultural Júlio Prestes 100

29
1 Introdução
É possível intervir nos sistemas de assentamentos e ocupações das cidades
por intermédio de organizações concebidas de forma participativa em jogos?
Qual o potencial dos jogos de modelagens e simulações somados a
informações de imagens de georreferenciamento para a solução colaborativa
de problemas? Poderiam esses jogos criar uma estrutura subterrânea,
clandestina, potencializando a formação de redes de compartilhamento de
práticas e elaboração de projetos de forma a se consolidar como resistência
aos poderes hegemônicos?

Propor jogos para que o usuário das cidades possam imaginar novas
transformações, seja no âmbito dos sistemas de objetos, na arquitetura ou na
malha urbana estabelecida, trazer a questão urbana, que lida de forma
complexa com todas as áreas das ciências (humanas e sociais, exatas e
econômicas e todos os aspectos da saúde e acolhimento) impõe requisitos
básicos de acesso e troca de informação.

O trabalho propõe o estudo de caso da cidade de São Paulo e deseja criar


bases para a organização das redes de banco de dados referentes às
características formais e simbólicas do espaço, condição necessária para que a
criação de jogos colaborativos baseados em tecnologias GIS venha a se
estabelecer como mediadores de políticas públicas de ocupação sustentável do
território.

A documentação do processo de transformação da cidade de São Paulo até


situação de inoperância está espalhada em diferentes instituições, nas esferas
pública e privada, sejam suas administrações municipal, estadual, federal ou
internacional. Igualmente diferentes órgãos escondem as informações sobre
topografia, cursos de rios, as mutações sofridas com implantações de
diferentes intervenções, bem como os resultados destas intervenções.

Em São Paulo, todas as relações numéricas revelam as anomalias de usos e


costumes referentes ao parcelamento e compartilhamento do espaço no curso
da história.

Alguns órgãos, entre museus e arquivos públicos, já têm parte deste material
em forma digital e até eventualmente disponibilizado on line, mas, como aponta
Antonio Miguel Vieira Monteiro, com a privatização promovida a partir da
década de 80, os bancos de dados das antigas estatais passaram para o
controle das empresas.

A proposta de investigação teórica trata da análise dos jogos e sua função na


formação do ethos do usuário.
30
A investigação empírica propõe o desenvolvimento de uma interface humano-
computador (HCI) que dê conta de concentrar, atrair e fomentar a troca de
informações.

A primeira parte estará concentrada na formação de banco de dados. Para


tanto, museus e arquivo público serão consultados a fazer um convênio e,
havendo aceite, seus documentos organizados para resgate pela interface
Ação X Tempo X Espaço. Esta primeira parte do trabalho de desenvolvimento
conta com um recorte espacial: O território da Luz, na cidade de São Paulo.

A segunda parte e fazendo parte da mesma interface, será construído um jogo


de montar em que o jogador será desafiado a construir uma casa, um edifício
com materiais convencionais ou (preferencialmente) inovadores. Poderá
também projetar intervenções de maior escala na cidade.

Casa, edifício e cidade serão apresentados pelas suas partes, assim a casa
seria subdividida por estrutura, piso, parede, cobertura, sistemas elétrico,
hidráulico (entrada e saída de águas servidas), etc.

Cada parte terá seu vocabulário de materiais, com seus vários catálogos e
informações.

Os desafios serão relativos à sustentabilidade ecológica, econômica e social.

Programas de modelagem serão criados para dar referência ao jogo.

2 Objeto e Metodologia da Pesquisa


Os conceitos de cidade e de jogo são amplos e elásticos. Soma-se a esta
dificuldade o fato de os verbetes serem derivados de traduções diversas de
vários autores e idiomas no tempo.

Para compreender o processo, trabalharemos os conceitos em tríades:

1. cidade, urbano e território

2. jogo, game e gamificação (IoT) (GfC).

2.1 cidade, urbano, território


Difícil definir o objeto a que o conceito de cidade faz referência.

Aurélio Buarque de Holanda define o verbete como:

31
“1 - Povoação que corresponde a uma categoria administrativa (em
Portugal, superior a vila), geralmente caracterizada por um número
elevado de habitantes, por elevada densidade populacional e por
determinadas infraestruturas, cuja maioria da população trabalha na
indústria ou nos serviços.
2 - Conjunto dos habitantes dessa povoação.
3 - Parte dessa povoação, com alguma característica específica ou
com um conjunto de edifícios e equipamentos destinados a
determinada atividade.
4 - Vida urbana, por oposição à vida no campo.
5 - Território independente cujo governo era exercido por cidadãos
livres, na Antiguidade grega.
6 - Sede de município brasileiro, independentemente do número de
habitantes.
7 - Vasto formigueiro de saúvas dividido em compartimentos a que
chamam panelas.
8 - Parte dessa povoação, com alguma característica específica ou
com um conjunto de edifícios e equipamentos destinados a
determinada atividade.
Trata-se de um substantivo com significados tão amplos que, em geral,
necessita de adjetivação. Assim fala-se em Cidade Global, Cidade Inteligente e
tantas outras traduções de definições, diferentes aspectos deste objeto tão
complexo quanto coletivo.

Povoação, vida urbana, território. As cidades, desde seus primitivos


assentamentos urbanos, constituem-se como produto cultural. Para Argan “a
cidade é um produto artístico ela mesma. Não há, assim, porque surpreender-
se se, havendo mudado o sistema geral de produção, o que era um produto
artístico hoje é um produto industrial. (...) A origem do caráter artístico implícito
da cidade lembra o caráter artístico intrínseco da linguagem, indicado por
Saussure: a cidade é intrinsecamente artística”. (p.73)

Fazendo uma analogia à Lei as Três Unidades: ação, tempo e espaço, que
regeu a teoria do teatro até o século XIX, podemos dizer que a cidade é o
resultado da ação que sofre o espaço no tempo.

No ano de 1968, no livro O Direito à Cidade, Lefebvre aborda a questão de


cidadania e reivindica o direito à fruição e à criação da cidade, como obra
humana coletiva.
Já em A Revolução Urbana, Lefebvre desenvolve a hipótese de uma
urbanização completa da sociedade. Aponta uma falência do
urbanismo de caráter institucional e autoritário, condicionado por
pressões de ideologia neoliberal, privada e capitalista. Para ele, “o
urbano (abreviação de “sociedade urbana”) define-se não como
realidade acabada, situada, em relação à realidade atual, de maneira
recuada no tempo, mas, ao contrário, como horizonte, como
virtualidade iluminadora. O urbano é o possível, definido por uma
direção a ele”. (LEFEBVRE, p. 28)
Para Lefebvre, ideia de urbano aparece como um lugar de enfrentamentos e
confrontações, uma unidade de contradições, na maioria das vezes, vinculada
32
à de capital industrial e à de sociedade capitalista industrial. (Martins, 1999, p.
10).

Para Castells a cidade depende de formas políticas e sociais, que são produto
de determinações sociais. São essas forças que a caracterizam e que lhe dão
individualidade.

Desde Ratzel, um dos mais destacados geógrafos da escola clássica alemã, o


termo território é ligado ao determinismo geográfico e/ou espaço vital
(Lebesraum). Toda a vida do Estado tem suas raízes na terra.
“Como o Estado não é concebível sem um território e sem fronteiras,
constitui-se bastante rapidamente uma geografia política (...)
considera-se como fora de dúvida que o Estado não pode existir sem
um solo.” (RATZEL, p. 93)
O autor analisa o solo e nas relações com a família, com o Estado e com o
progresso.

Na visada clássica, como questão nacional, o território é a expressão legal e


moral do Estado.

Nas últimas décadas, novas interpretações podem ser encontradas para o


conceito de território.

Robert David Sack aponta três estratégias para obter o controle do território: a
classificação, o controle de acesso e o controle sobre modo de comunicação. A
territorialidade pode ser ativada e desativada, o que indica uma mobilidade que
é inerente aos territórios. Ele assim torna-se um campo de forças e conflitos.
“A sociedade que modela tudo que a cerca, construiu uma técnica
especial para agir sobre o que dá sustentação a essas tarefas: o
próprio território. O urbanismo é a tomada de posse do ambiente
natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver sua lógica de
dominação absoluta, pode e deve agora refazer a totalidade do
espaço como seu próprio cenário”. (DEBORD, p. 112)
Essa parece ser a lógica subjacente à atual configuração do mercado
imobiliário, que David Harvey tem denominado como novo empreendedorismo
urbano. Segundo ele, [...] o novo empreendedorismo urbano se apoia na
parceria público-privada, enfocando o investimento e desenvolvimento
econômico, por meio da construção especulativa do lugar em vez da melhoria
das condições num território específico, enquanto seu objetivo econômico
imediato (ainda que não exclusivo) (HARVEY, 2006, p. 172).

O domínio dos territórios, nesse caso, parece estar mais próximo a uma
ausência de ação do Estado e da falta de reconhecimento de sua legitimidade
que, ao invés de gerar bases para um novo sistema de relações entre os
indivíduos, está apenas reforçando os defeitos do sistema democrático e
capitalista.
33
Elemento importante no conceito de território é a percepção do seu movimento.
Movimento contínuo e não fixação rompe os laços de pertencimento ao solo,
gera dinâmicas de competição. Redes e os fluxos tecem conexões entre os
lugares e alteram a percepção. Neste mesmo cenário surgem estudos sobre
novas tendências ao nomadismo, especialmente teorizada por Maffesoli.

Antônio Miguel Vieira Monteiro, professor e pesquisador do INPE – Instituto de


Pesquisas Espaciais, e coordenador do GT População, Espaço e Ambiente da
ABEP - Associação Brasileira de Estudos Populacionais, propõe que a criação
de territórios digitais “podem revelar as diferentes expressões de fenômenos
como, por exemplo, exclusão social, criminalidade, risco ambiental e exposição
a doenças contagiosas.”

O autor propõe o foco na escala do que denominou “território de vivência” para


tratar da escala que diz respeito ao cotidiano dos diferentes atores que
circulam, residem e se relacionam, as expressões manifestadas nas
particularidades e singularidades dos lugares, as produção e reprodução das
relações socioeconômicas, políticas e culturais, presentes na sociedade que
ele abriga e conclui afirmando ser possível usar os territórios digitais para
retomar o controle dos territórios reais. (MONTEIRO, 2015.)

2.2 jogo, game. gamificação (IoT)


Jogos como instrumento, como facilitador, como recurso, como mediador. O
jogo propõe basicamente relações de contiguidade, próprias do pensamento
lógico?

“Já há muitos anos que vem crescendo em mim a convicção de que é no jogo e
pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve.” Huizinga na obra Homo
Ludens - vom Ursprung der Kultur im Spiel, explica que ele faz uso do genitivo
no título em alemão, para enfatizar até que ponto a própria cultura possui um
caráter lúdico.

Huizinga discute longamente a noção de jogo, sua expressão na linguagem e


abstração de um conceito geral de jogo em diversas culturas e verifica
expressões usadas para designar a atividade lúdica no grego, no sânscrito, no
chinês, no japonês, no hebreu e compara às línguas europeias, especialmente
no inglês, alemão e holandês.
“Contrastando fortemente com a heterogeneidade e a instabilidade
das designações da função lúdica em grego, o latim cobre todo o
terreno do jogo com uma única palavra: ludus, de ludere, de onde
deriva diretamente lusus. Convém salientar que jocus, jocari, no
sentido especial de fazer humor, de dizer piadas, não significa
exatamente jogo em latim clássico. Embora ludere possa ser usado
para designar os saltos dos peixes, o esvoaçar dos pássaros e o
34
borbulhar das águas, sua etimologia não parece residir na esfera do
movimento rápido, e sim na da não-seriedade, e particularmente na
da "ilusão" e da "simulação". Ludus abrange os jogos infantis, a
recreação, as competições, as representações litúrgicas e teatrais e
os jogos de azar. Na expressão lares ludentes, significa "dançar".
Parece estar no primeiro plano a ideia de "simular" ou de "tomar o
aspecto de". Os compostos alludo, colludo, illudo apontam todos na
direção do irreal, do ilusório. Esta base semântica está oculta em ludi,
no sentido dos grandes jogos públicos que desempenhavam um
papel tão importante na vida romana, ou então no sentido de
"escolas". No primeiro caso o ponto de partida semântico é a
competição; no segundo, é provavelmente a "prática". Ê interessante
notar que ludus, como termo equivalente a jogo em geral, não apenas
deixa de aparecer nas línguas românicas mas igualmente, tanto
quanto sei, quase não deixou nelas qualquer vestígio. Em todas
essas línguas, desde muito cedo, ludus foi suplantado por um
derivado de jocus, cujo sentido específico (gracejar, troçar) foi
ampliado para o de jogo em geral. É o caso do francês jeu, jouer, do
italiano gioco, giocare, do espanhol juego, jugar, do português jogo,
jogar, e do mesmo joc, juca8 . Deixamos aqui de lado o problema de
saber se o desaparecimento de ludus e ludere se deve a causas
fonéticas ou semânticas.”
Por desenvolver-se como fenômeno cultural a partir de operações intelectuais,
é possível afirmar que os jogos, assim como as cidades, se organizam nos
moldes de uma linguagem. É possível, portanto, determinar neles suas
características formais e semânticas, suas retóricas, tipologias e categorias
fundamentais.

Caillois vê o jogo a partir de conjunções de quatro impulsos primários que


constituem possibilidades de percepção. Para ele os jogos seriam constituídos
a partir de combinações de atitudes fundamentais: alea (sorte, acaso), agon
(competição, mérito, ambição), mimicry (imitação, simulação) e ilinx (vertigem).

Para o autor, os jogos podem ser divididos em paidia e ludus, sendo paidia
passível de tradução para o inglês como “play” (verbo usado para brincar, ou
tocar um instrumento, ou substantivo para peça de teatro) e ludus seria o jogo
competitivo e com regras, em inglês “game”.

No campo da gamificação, “pesquisas sobre dimensões inéditas e inovadoras


no campo da sociabilidade, dos modelos de organização econômica,
planejamento urbano e design arquitetônico e mesmo na definição de
macrodiagnósticos no campo da antropologia urbana, da psicanálise e da
psiquiatria, da economia política e da sociologia do espetáculo, afetando ainda
os horizontes da política, do comportamento individual e coletivo e das cadeias
de valor e costumes que se organizam como “indústrias culturais”, economia
criativa e audiovisual.” (SCHWARTZ, 2018)

35
Deterding, Dixon, Khaled e Nacke (2018) propõem o conceito de gamificação
como “O uso dos elementos do game design fora do contexto do jogo”.

Diversas contribuições têm sido feitas, especialmente com foco nas áreas da
educação, saúde, negócios, especialmente o marketing, em que os jogos vêm
recebendo grande atenção. Neste último caso, é possível encontrar o conceito
de gamificação usado no sentido de instrumento para a fidelização do cliente
por meio de pontuação, selinhos para colar em tabelas e premiação. O termo
"pointsification" tem sido sugerido para sistemas com estas características em
função da falta dos elementos estruturais de jogos, fixando-se apenas nos
objetivos.

Na obra “For the Win: how game thinking can revolutionize your business”, os
autores chamam a atenção ao “tremendo poder psicológico da diversão” e
propõem uma “engenharia reversa” ao tomar os elementos que fazem os
games efetivos e aplicá-los na área de negócios. Desenvolvem a
sistematização de elementos característicos dos jogos em dinâmicas,
mecânicas e componentes. As dinâmicas são emoção, narrativas, progressão,
relacionamento e restrições. As mecânicas: aquisição de recurso, sorte,
competição/cooperação, desafios, recompensas, transações, turnos e vitória e
os componentes são elementos como: avatar, combate, conquista,
premiações, entre outros.

Considerando Jogo (paidia), Game (ludus) e Gamificação como uma tríade, é


possível perceber que o terceiro termo trata de uma tradução do game para
uma outra realidade, Uma transdução, uma interpretação.

A paidia relaciona-se com o prazer encontrado na mímese, sobre a qual


Aristóteles escreve:
“Falemos da tragédia e formulemos a definição de sua essência
própria. 2 A tragédia é a imitação de uma ação importante e
completa, de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo
emprego separado de cada uma de suas formas, segundo as partes;
ação apresentada por atores, e que, suscitando a compaixão e o
terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções”
Aristóteles verifica ser a imitação instintiva no homem, desde a infância, e a
reconhece como geradora de prazer. A concepção aristotélica, portanto,
considera aspectos sensíveis e perceptivos.

Na Retórica o autor refere-se à metáfora para aludir ao conhecimento, bem


como ao prazer advindo da experiência. Propõe estar também presente nas
artes da pintura e da dança. E verificamos a hipótese de estar também na
estrutura básica dos jogos.

Jogar, como paidia, refere-se, portanto, a uma situação em que a mente faz

36
relações formais, como no caso da metáfora. Leonardo Da Vinci, em seu
tratado De Pintura, fala da importância de olhar as nuvens. Ele desenha o vôo
das aves, pinta para manter a mente em constante estado de observação.

Daí também a relação de paidia com a piada, ou com jocus, como quer
Huizinga na citação feita anteriormente. Como na caricatura, piadas
frequentemente exageram, ou acrobatizam, como no caso do histrionismo,
uma característica referente ao corpo.

“Se jogar é julgar, os jogos tendem ao logos.” (SCHWARTZ 2014, p. 47).

Mas a lógica inicia quando o pensamento passa pelo primeiro processo de


contiguidade.

Essa relação acontece ao articular elementos e emergir uma dúvida, em geral


uma questão do tipo “se......., então.......”.

Ethos: o caráter determina a ação (49b 35)

Aristóteles lança sobre a construção da personagem o conceito de ethos


(costume, hábito, de onde deriva a palavra ética, moral).

Em Arte Poética, porém, tradicionalmente o termo ethos é traduzido por


“caráter”, mas Aristóteles chama atenção para a ligação do termo ao verbete
“hábito”.
“Como a imitação se aplica à ação e a ação supõe personagens que
agem, é absolutamente necessário que estas personagens sejam
tais e tais pelo caráter e pensamento (pois é segundo estas
diferenças de caráter e pelo pensamento que falamos da natureza de
seus atos); daí resulta naturalmente que são duas as causas que
decidem dos atos: o pensamento e o caráter; e, de acordo com estas
influências, o fim é alcançado ou falhado.”
Já a concepção platônica de mímese, segundo Sennett, contempla um
afastamento da realidade. Trata-se da natureza da cognição lógica, inteligível,
racional. Todos são atores e de que a sociedade é um palco é a ideia de
Theatrum Mundi.

3 Da Investigação Teórica

3.1 Metodologia e fundamentação


teórica:
Alegoria, disfarces e máscara, o lúdico como estratégia para
37
provocar diferentes inferências são os instrumentos que proponho
para o presente trabalho. Reflexões ancoradas em atividade que
investiga através de , “diversas perspectivas em contraponto,
exacerba dinamicamente os contrastes e nos faz descobrir nova
maneira de ler ou ver o já visto ou lido.” (FERRARA 1977, XII), ou “a
analogia, o trabalho por comparação, permite um alerta criativo
capaz de surpreender, no objeto pesquisado, o imprevisto que
alimenta a pesquisa.” (FERRARA, 1981, XIII)
O trabalho propõe, portanto, uma projeção da reflexão teórica que encontra
níveis do texto teatral e inter-relaciona elementos como propõe a teoria
linguística, uma nova visada em que se recorre ao pacto, ou ao jogo de
reconhecer figurativamente os elementos do teatro na vida, em uma investida
na crença de que a vida imita a arte.

Metodêutica: A Lógica Transuacional ou Retórica especulativa de Charles


Peirce

Ancestral de muitas civilizações. A própria Lógica é filha de Aristóteles. E não


será uma exceção a Semiótica. Sua metodologia científica é conhecida como
a lógica da descoberta. Em suas palavras: “Lógica é a ciência da lei geral dos
signos, especialmente símbolos. Assim há três departamentos: a lógica
obsistente, no sentido puro, ou lógica crítica é a teoria das condições gerais da
verdade. originalian logic ou gramática especulativa é a doutrina das
condições gerais dos símbolos e também signos com caráter significante. A
lógica transuacional, que denomino retórica especulativa é substancialmente
chamada metodologia, ou melhor, metodeutica. É a doutrina das condições
gerais de referência dos símbolos e outros signos aos interpretantes. Em
consequência, todo signo determina um interpretante, que é por sua vez um
signo”. (PEIRCE, 1958, v. II, p. 49 O autor dá orientações na história da
filosofia e oferece uma hipótese que será geradora dos estudos em psicologia,
que serão por sua vez a raiz do pragmatismo. A questão é que a base das
deduções dos lógicos depende das condições psicológicas, pensamento
primeiramente cunhado pelo Henry Mansel, e que oferece a possibilidade a
subjetividade de interpretação característica do signo.

Peirce faz uma vasta reflexão em diversos campos como o pragmatismo,


estudos históricos, análises científicas, matemática, fenomenologia,
metafísica, porém todo o seu trabalho é fundamentado em seus pensamentos
sobre lógica.

O livro VI traça uma ontologia e cosmologia. Fala sobre uma arquitetura


filosófica, trata do hábito como uma lei, faz uma análise do tempo e da
natureza do espaço e religião.

Peirce escreve um artigo intitulado ‘A hipótese de Deus’ e sugere ser um


objeto infinito e incompreensível que, por amor a esse deus hipotético

38
adotado como verdade, o homem ajusta a conduta da vida em conformidade
com tal proposição. (PEIRCE, 1958, v. VI, p. 311)

Peirce afirma Deus como hipótese. Porém sua obra contempla cientificamente
Deus como objeto. E não vê conflito entre as duas esferas. Cria uma religião
da ciência.

Em A fixação das crenças (PEIRCE, 1958, v. V, p. 223) e Como tornar claras


as nossas ideias (PEIRCE, 1958, v. V, p. 248) Charles Sanders Peirce afirma
que o mais elevado grau de distinção dos lógicos, a ação do pensamento, é
exercida pela ação da dúvida, e esta cessa ao se atingir a crença, ou juízo. A
crença, por sua vez, orienta nossos desejos e dá contorno à ação. A
investigação é, portanto, o estímulo da dúvida.

Em A fixação das crenças Peirce investiga os métodos de fixação das


crenças, em especial o método da investigação científica, uma vez que esta
tem por objetivo único que as conclusões de todas as pessoas sejam a
mesma. Outra face dessa importante proposição é o fato de as dúvidas serem
desagradáveis indagações contra a qual o homem luta, e cujo resultado será o
mesmo almejado pela investigação: A Verdade, ou a Crença. Segundo o
autor, a natureza do homem, animal ou coisa, apresenta um comportamento
natural, como acontece com o vinho ou uma substância química cristalizável.
Trata-se de um comportamento original para o qual ele tende. O hábito será
então um comportamento adquirido, uma convicção prática. Assim, para a
formação dos hábitos de ação deliberada deve-se conceber a ocorrência de
estímulos que resultarão nas diferentes ações. Segundo Peirce, (PEIRCE,
1958, v. V, p. 105) o único processo do raciocínio dotado da capacidade de
produzir ideias novas é aquele que se chama abdutivo. Enquanto a indução
mostra que alguma coisa é realmente operativa e a dedução prova que algo
deve ser, a abdução sugere que alguma coisa pode ser; e como tal sugestão é
feita sem sofrer os ditames de uma compulsão qualquer de natureza
normativa, ela está muito mais livre para propor hipóteses e teorias novas.

Tríades: afeto, cognição e volição. A teoria de Peirce tem sua raiz na


linguística. Sua lógica transuacional, ou retórica especulativa, doutrina das
condições gerais da referência dos símbolos e outros signos aos
interpretantes que pretendem determinar, está estruturada em tríades: (1 2 e
3)ª idades:

Primeiridade, ou Originalidade: é uma qualidade independente, uma sensação.


Trata-se de um ícone e etá relacionada à uma relação de comparação, sendo
de natureza das possibilidades, ou formais.

Secundidade ou Obsistência (sugerindo obviar, objeto, obstinado, obstáculo,


insistência, resistência). Faz de uma coisa aquilo que uma outra coisa a obriga
39
a ser, como no caso do índice. Diz respeito ao nível da experiência, ou do
desempenho, e está relacionada à natureza dos fatos reais e à função.

Terceiridade ou Transuação (sugerindo translação, transação, transfusão,


transcendental) é a mediação. Refere-se ao pensamento e trata do campo do
símbolo. e da natureza das leis. Relaciona-se aos usos e costumes.

Termos, Proposições e Argumentos formam uma dessas tríades na qual se


fundamenta o raciocínio. O Argumento, subtraído da conclusão é denominado
uma Premissa, e as Proposições, uma vez removido o Sujeito a que se refere,
denomina-se Predicado, este por sua vez é um rema. Fazendo uma analogia
com os elementos da música, a consciência percebe notas isoladas e a
melodia. A nota sugere a ausência de presente/passado. É apenas uma
sensação. A melodia por sua vez é a ordenação, sucessão, pensamento. “O
pensamento é o fio de melodia correndo ao longo da sucessão de nossas
sensações.
”.Pensamento, ação, relação. A crença gera hábitos, a dúvida a
ciência. “Nossos pensamentos logicamente controlados compõem
uma pequena parte da mente, mera florescência de um vasto
complexo que podemos chamar a mente instintiva, (…) sobre a qual
é edificada, afinal, toda a verdade da lógica.”(PEIRCE, 1958, v. I, p.
121).
A definição, para Peirce em sua lógica transuacional (e transgressora) é que
“signo um primeiro que está em tal genuína relação triádica com um segundo
chamado seu objeto, de forma a ser capaz de determinar que um terceiro
chamado seu interpretante, assuma com o objeto uma relação análoga àquela
que ele mesmo (signo) estabelece com o objeto.”

Essa relação é “ad infinitum”.

3.2 a estrutura da significação no teatro


como hipótese teórica para jogos
concernentes à cidade
Passo a analisar esse afastamento da realidade, que faz parte da estrutura
embrionária do jogo.

Jacques em As you like it de William Shakespeare


O mundo todo é um palco. Todos os homens e mulheres são atores
e nada mais. Cada qual cumpre suas entradas e saídas, e
desempenham diversos papéis durante os sete anos da existência.
40
Primeiro é a criança que berra e baba nos braços da babá. Depois é
o menino chorão que se arrasta como um caracol e faz manha para
não ir à escola. Depois é o amante cheio de suspiros que faz baladas
tristíssimas para cantar as sobrancelhas da amada. Depois é o
soldado com seus estranhos juramentos, barbado feito um bicho,
espada pronta a perseguir a glória, mesmo entre a fala em fogo dos
canhões. Depois é o juiz de pança ilustre, olhos severos,
barba comme il faut, a boca plena de palavras sábias e outras
banalidades de ocasião. No sexto ato troca o figurino pelos chinelos
de Pantaleão, os óculos plantados no nariz [...] as calças do
passado, assim, bufantes, porque já não há carne como dantes, e a
voz tonitruante de outros dias se muda num falsete de criança. E
enfim começa a cena derradeira, como arremate dessa estranha
história, que finda no completo esquecimento, sem olhos, sem
memória, sem mais nada. (Ato II, Cena VI)

Em sua dissertação de mestrado de título “A Estrutura da Significação no


Teatro”, o hoje Professor Emérito José Teixeira Coelho Netto (COELHO,
1976), realizou uma análise linguística do fato teatral.

O procedimento da presente investigação constitui encontrar as semelhanças


estruturais entre as duas instâncias, o palco e o mundo, a ficção e a realidade,
e artificialmente identificar dois corpos de teorias que são, apesar de próximos,
usualmente estranhos entre si.

A abordagem reúne e organiza os componentes que compõe o todo


apresenta os níveis do texto teatral e oferece padrão para a observação de
aspectos sutis, de outra forma imperceptíveis, da vida e da organização
social.

Percebe-se o teatro como forma arquetípica da cidade.

3.2.1 duas tríades


Teixeira explica que, no teatro, de início o observador reconhece o
espaço da cena, formado eventualmente por objetos e pessoas. Esse
espaço foi trabalhado, recebeu uma determinada máscara,
transformando-se assim no cenário. Actantes também se transformam
em personagens ao assumir a mesma máscara. (Coelho 1976, p. 22)

No fato teatral há, portanto, um jogo estabelecido, que impõe uma


máscara tanto ao ator quanto ao espaço, que se transforma em
personagem e cenário. Esse fato constitui duas tríades, representadas
pelos seguintes gráficos:

Actante, Espaço, Máscara

41
Personagem, Cenário, Jogo

A analogia propõe considerar o mundo como um palco.

a] Actante Espaço/Tempo Máscara

a’ Sujeito Espaço/Tempo Máscara


]

b] Personagem Cenário Jogo

b’ Persona Cidade Jogo


]

(a+b ) = Cena. As duas tríades do teatro representam a cena.

(a’ + b’) = Cidade As duas tríades da vida representam a organização e/ou


divisão do espaço-tempo

3.2.2 plateia
Há um terceiro elemento fundamental para a existência do teatro, o
espectador. Mas qual é a posição deste elemento na analogia proposta?

A Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire deverá ser consultada.

Uma hipótese é de que eixo Jogo / Máscara.

Forma-se, entre o Jogo, que institui o valor, e a Máscara, que molda a


condição, uma tensão, que cria um canal entre polos, o latente e o patente, ou
o afetivo e o determinado, que não se fecha, cresce em espiral.

Sujeito Persona Terceiro ou


Espectador

42
3.2 qual a função social da máscara e do
jogo?
O próprio Aristóteles destaca o duplo sentido da palavra ethos Em Ética
Eudemia

“É evidente, pois, que a virtude ética está em relação com o


agradável e o penoso. E, posto que o caráter, como o indica seu
nome, recebe seu crescimento do hábito, graças a numerosos
movimentos de um certo tipo, um hábito não inato em nós resulta,
finalmente, educado para trabalhar em um sentido”.
A noção marxista de falsa consciência foi apropriada pela psicologia social
como um fenômeno psicológico-cognitivo, produto da sociedade capitalista. “A
noção de falsa consciência permanece como um constructo teórico útil, (...)
como um fenômeno fundado na própria realidade social: em particular, a
realidade material. do capitalismo tardio e da cultura pós-moderna”.
(AUGOUSTINOS, p. 295)

O fenômeno da falsa consciência está, portanto, vinculado à realidade social,


particularmente a realidade econômica, que impõe as condições aos actantes e
ao espaço.

Sociedade do Espetáculo 1967 / Guy Debord definiu o espetáculo como o


conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens, sendo impossível a
separação entre essas relações sociais e as relações de produção e consumo
de mercadorias.

O papel desempenhado pelo marketing, sua onipresença, ilustra a questão:


das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações religiosas,
tudo está mercantilizado e envolvido por imagens.

Cidades se constituem em torno da praça do mercado. Fetichismo da


mercadoria no séc. XIV “ a cidade mercantil tem seu lugar no percurso, depois
da cidade política e a troca torna-se a função urbana”... (Lefebvre, H. A
revolução urbana, p. 23.).

A máscara como potência mágica (SCHWARTZ)

43
4 Da Investigação Empírica
O trabalho empírico busca concentrar em um portal as informações de ou
sobre o ambiente, organizados por Assunto X Tempo X Espaço, envolvendo os
usuários do espaço na construção, tanto do repertório histórico e técnico e
organização do banco de dados, como dos jogos e suas aplicações no
ambiente.

Visto desta forma, o portal comporta uma biblioteca, um lugar construído


coletivamente em que as informações de diversos museus e instituições
públicas e privadas serão organizadas de modo que possam ser articuladas
entre si.

Busca, em primeiro momento, incentivar a observação do usuário, a pesquisa,


coleta e análise de dados para a produção de um portal com a organização de
toda informação escrita e audiovisual vinculada a espaço (georreferenciada) e
tempo (barra de rolamento).

A investigação empírica permanece um desafio dada a escassez de fontes de


dados relacionais e multifuncionais adequados. Para superar esta lacuna,
apresentamos uma abordagem de modelagem de rede interdisciplinar que
integra métodos da ciência da informação geográfica com participação do
usuário (potencialmente até por meio de redes sociais, incluindo análises da
web semântica automatizado), com vistas a replicar o nosso quadro de
modelagem globalmente, ao disponibilizar ambos, o banco de dados gerado
pelo usuário e sua estrutura de organização, articulação e de resgate de
informações via internet.

5 da produção da interface

Fase 1 Fase 2 Fase 3

Imagens GIS – definir o GIS - agent


captadas programa a ser based
Still de imagens usado
de satélite
Definição prévia de escalas transição entre
escalas
Image Map ArcGIS

44
As opções de software estão em estudo. Neste sentido espera-se montar um
primeiro protótipo com imagens still (não síncrona) em escalas a serem
definidas, para organizar o repertório.

Em segundo momento o projeto usará os programas integrados ArcGis, que se


integra aos programas Bilding Information Modeling (BIM) City Information
Modelin (CIM), Zoning Information Modeling (ZIM), e Landscape Information
Modeling (LIM).

Em terceiro momento poderão ser somadas as entradas Tempo X Espaço,


produzidas com o uso de modelos agent-based.

A justificativa para tanto é de que há décadas os países da Europa e Asia


adotaram o BIM como condição necessária para apresentação de projetos de
construção das instâncias públicas.
“O desenvolvimento de medidas sobre tecnologias da informação e
comunicação de processos é uma área fundamental para inovação
na União Européia. Isso se dá pela possibilidade de otimizar o setor
construtivo, reduzir perdas e diminuir o consumo de energia. Dessa
forma, a modelagem de informação da construção tem sido cada vez
mais usada pelos membros da UE como um facilitador do processo,
aliado à rapidez, economia e sustentabilidade.” (KASSEM;
AMORIM, 2015).

No Brasil, decreto presidencial de 5 de junho de 2017 instituiu o Comitê


Estratégico de Implementação do Building Information Modelling no Brasil. DE
caráter temporário, reúne I Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, (que o presidirá o comitê); II - Casa Civil da Presidência da
República; III - Ministério da Defesa; IV - Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão; V - Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações; VI - Ministério das Cidades; e VII - Secretaria-Geral da
Presidência da República.

O sistema, uma vez adotado, facilitará o controle sobre as obras dos


governos, e uma vez conhecido do público, facilitará a divulgação e
participação do usuário, com potencial de reverter a situação de protagonismo
na concepção, projeto, construção e gestão do bem público.

O programa ArcGis de informações aeroespaciais pode ser integrado ao


sistema BIM.

45
6 da organização do repertório na
interface
As múltiplas informações colecionadas nas bases de dados, de origens
diversas, serão organizadas através dos eixos ASSUNTO X TEMPO X
ESPAÇO, para usos científicos, políticos, urbanísticos e sociais. O material
estará dividido entre:

6.1 tempo
descrição

ICONOGRAFIA DADOS ESTATÍSTICOS COSTUME


tipos Plantas e mapas, qualidade do ar, da terra Leis
documentos sobre a e das águas, Estatutos
morfologia original, clima,
topografia, movimentos de níveis pluviométricos
terra, retificações, sobre a população,
parcelamentos, solo, subsolo, nascimentos, morte, migração,
crescimento econômico,
emprego, atividades,
consumo,
saúde física e mental,
segurança,
densidade,
e dados obtidos por celulares e
outros mobiles, como fluxos de
pessoas e mercadorias,
recursos e demandas energéticas
de água, de atendimento, de
moradia.
caráter Referências sobre a história Leis que
da ocupação (física) do lugar. regem a
construção/
preservaçã
o do
ambiente.
fontes Arquivos do Estado IBGE
Bibliotecas CENSO
Museus INPE
Prefeituras
Governos

46
A formação deste banco de dados dará apoio para uma série de atividades
didáticas com o jogo de modelagens.

6.1.1 Jogos de modelagem


Na modelagem urbana por computador, a definição do programa (problema a
ser equacionado) e escolha das variáveis e algoritmos, a calibragem em busca
do equilíbrio e apostas em previsões podem ser vistos como um jogo de
montar.

Os métodos para abordagem à complexidade dos agrupamentos humanos são


comparadas por Michael Batty, que afirma que

o planejamento atua por meio de:

1. definição do problema,

2. pesquisa, análise,

3. desenvolvimento do projeto,

4. avaliação e

5. implementação.

Estes cinco momentos do processo do planejamento, argumenta, podem ser


encontrados no processo de modelagem:

1. teoria modelo 2. coleta de dados 3. calibragem 4. teste 5. previsão

e do método científico:

1. hipótese 2; observação, 3. experimentação 4, verificação e 5. generalização.

A modelagem abrange as áreas de construção e de transporte, mas também


as demais áreas referentes à sustentabilidade, tais como clima, fluxos de
energia, conforto, assistência social, dentre tantas. As dinâmicas do uso da
terra, suas mudanças e crescimento têm nas tecnologias de comunicação
móvel e georreferenciada um importante e poderoso instrumento.

Os problemas urbanos se sobrepõem, mas pela abstração matemática, formam


sistemas de equações em que a determinação de uma incógnita auxilia que
outras sejam encontradas, e assim por diante.

Ao definir a hipótese, o acesso a dados abundantes e confiáveis darão


estrutura à modelagem.

47
Em Cities and Complexity: understanding cities with Cellular Automata, Agent-
Based Models and Fractals, Michael Batty descreve como transformar um
problema urbano em uma equação matemática e, uma vez feita, e sendo ela
verdadeira, pode-se inferir outras verdades.

Inicialmente ele trabalha com funções matemáticas do tipo f(x) – (lê-se efe de
x) e refere-se ao estudos dos conjuntos. Parte do princípio que o
desenvolvimento de um espaço seja medido pela mudança de população deste
lugar, então:

População = P

em um local = ι

período de tempo = t

Pι(t)= população em local (ι) no tempo (t)

As relações de casualidades e o que efetivamente direciona mudanças


urbanas é assunto tão complexo quanto emergente. O autor sugere a
observação de outras variáveis:

evento aleatório = ει(t) – evento aleatório em um lugar (ι) em um período (t).

acidente histórico = hι (t)

limitação física = cι(t)

vantagem natural aι(t)

crescimento econômico = λ

pode-se formular que: ∆Pι(t) = λPι(t)

∆Pι(t) = Pι(t+1) – Pι (t)  Pι(t+1) = ∆Pι(t) + Pι (t) = (1+ λ)Pι(t)

Ao derivar consegue-se o componente do crescimento exponencial, bem como


criar gráficos e determinar o que o autor nomina ‘bifurcações e rotas para o
caos’.

Muito se pode tirar de abstrações matemáticas com tabulações observando


equilíbrio e transição, padrões de crescimento e formação de clusters. No livro
o autor desenvolve os três modelos:

Célula Autômata – análise formal da complexidade como fundamento da


computação, encontrada nas anotações de Alan Turin e John von Neumann,
ficou conhecida quando foi usada no épico jogo “Game of Life” de John
Conway.

48
Inicialmente o autor analisou o crescimento por um único núcleo gerador,
depois vários núcleos, com a observação da segregação e da auto-
organização, do crescimento a reorganização espacial. Foram criadas
evoluções urbanas hipotéticas.

. Modelo de Estrutura Agent-Based – sistemas com vários e heterogêneos


componentes. Batty define agente autônomo citando Franklin e Graesser, que
formalizam como “sistema situado dentro de e sendo parte do ambiente, que
percebe e reage e age sobre o ambiente, ao longo do tempo, em busca de sua
própria agenda e assim como efeito de que percebe do futuro”. Agentes podem
ser humanos, animais, não humanos (softwares, celulares). Sua propriedade é
ter controle sobre suas ações, comunicar-se com outros agentes, inclusive
humanos, em processo contínuo, adaptativo e capaz de aprender com a
experiência. O autor escreve aplicações modelo baseado em agente referentes
à mobilidade em ruas e dentro de um shopping center. E também a dinâmica
da aplicação em pequena escala em um evento em Notting Hill com análise de
origem e destino de visitantes e técnicos e em áreas poli nucleadas foram
constatadas evidências empíricas de persistência.

. Fractal derivadas

Modelagem do crescimento das cidades, da escala e distribuição.

49
6.2 espaço
interpretações

Espaço - Todo material relativo à memória, afetos, expectativas, família,


vizinhança, documentadas em textos, imagens e/ou sons.

Banco de dados de narrativas (fictícias ou não).

ICONOGRAFIA PROPOSIÇÕES COSTUMES


tipo Fotos, textos, áudio, Projetos, propostas, Cultura
desenho, animação, desejos
filme
Etnografia
caráter Referências sobre a Ficção Usos dos
história da ocupação Projetos não espaços
(afetiva) do lugar. realizados
Testemunhos Projetos parcialmente
Narrativas realizados
fontes Museu da Pessoa Acervo da FAUUSP

A formação deste banco de dados está ligada ao desenvolvimento de jogos


que contém narrativas com diversidade e personagens.

6.2.1 Narrativas híbridas audiovisuais


O principal objetivo deste projeto é desenvolver uma plataforma de informações
para criação pessoal, personalizada e segura, gestão, partilha e cooperação no
desenvolvimento de narrativas locais audiovisuais híbridas (hLANs) suportados
por uma combinação de tecnologias GIS, gamification e blockchain. A matriz de
"hLans" é definida como uma emergente "maponomics" ou "iconomics": uma
nova camada complexa de existência digital e da vida real, que é governada
pela criação de ícones (função de filtros de espaço, tempo e propósito) como a
principal fonte de conteúdo para um newsfeed aberto, global e participativo,
concebido de forma a agregar valor às cadeias de valor locais e globais,
estendendo-se a uma nova convergência de manufatura, sustentabilidade e
diversidade cultural para além dos territórios físicos. Qualquer “hLAN” será
interconectada até uma metanetwork de projetos locais individuais, de modo
que a plataforma possa contribuir com valores sociais e como um trampolim
para programas de pesquisa-ação. A solução gráfica deve ser projetada como
uma interface GIS lúdica voltada para a compreensão do espaço, tempo e
propósito associados a diferentes ícones de projeto criados (principalmente por
50
alunos e lifelong learners) como parte de transformações locais. Essa
plataforma pretende funcionar como um acelerador da alfabetização midiática e
informacional (AMI) entre crianças e jovens engajados na produção de
informações e memórias sociais nas periferias das grandes cidades como São
Paulo, Medellín, Paris, Barcelona, Londres, Maputo e Jerusalém. aproveitado
pelo grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento da Universidade de São
Paulo.

O cenário da vida comum e espaços da construção e reprodução simbólica.

A proposta também está alinhada com o movimento internacional Playable


Cities em parceria com a Covertry University (UK) a convite do Professor
Sylvester Arnab.

6.3 jogos
imaginação

Proposta de formação de banco de dados de experiências no campo de jogos,


o portal será desenhado para receber colaborações na área de jogos e
soluções para a cidade e oferecer um ambiente para jogos propositivos
direcionados a solucionar colaborativamente problemas ambientais.

O acervo dará suporte para a criação de jogos em vivências práticas cuja


documentação fará parte e ampliará o banco de dados.

7 Resultado esperado da plataforma

7.1 do desenvolvimento tecnológico


A programação da Interface, com a articulação dos elementos Tempo X
Espaço é um desafio inédito, especialmente para que possa haver a replicação
do modelo e integração ao sistema.

Sistemas e cidades inteligentes são agora parte de um ambiente emergente


com câmeras, sensores e interfaces ubíquos entre humanos e não humanos,
alterando nossas percepções de tempo, espaço e propósito.

A interface humano-computador, baseada em geolocalização e eixo-


cronológico, tem a vocação de trazer a discussão e troca de informação para
escala global.

51
Importante destacar que a investigação busca a monetização dos participantes,
inclusive com a possibilidade de testar novas moedas e os novos formatos de
propriedade, de co-working e co-living, trabalho e estudo à distância, entre
outros.

Na segunda parte e organizado pela mesma interface, será construído um jogo


de montar em que o jogador será desafiado a construir inicialmente uma casa e
futuramente um edifício com materiais convencionais ou (preferencialmente)
inovadores. Poderá também projetar intervenções de maior escala na cidade
(descritos no capítulo 5).

Serão usados os programas integrados ArcGis, Bilding Information Modeling


(BIM), City Information Modelin (CIM), Zoning Information Modeling (ZIM), e
Landscape Information Modeling (LIM), adotado nos países da Europa e Asia e
agora pelo Brasil como condição necessária para apresentação de projetos de
construção das instâncias públicas.

52
7.2 pesquisa-ação ou do desenvolvimento
do capital humano
“O Brasil continua sendo uma das sociedades mais desiguais do mundo, com
níveis de concentração, baseados em registros fiscais, invisíveis em qualquer
outro lugar”. (MILÁ, 2015, p. 93), com o percentual de famílias vivendo com
menos de um quarto do salário mínimo per capita aumentando de 8% para
9,2% durante 2015. (IBGE, 2016). A infraestrutura econômica, social e urbana
e o processo de desenvolvimento têm um alto grau de correlação.
Historicamente, o crescimento das cidades brasileiras produziu espaços
urbanos segregados, com concentração perversa de terra e infraestrutura,
formando uma periferia onde se observam ambientes de pobreza, degradação
ambiental e falta de serviços urbanos essenciais, refletindo a difícil integração
social da grande maioria dos a população. De acordo com o Ministério das
Cidades, a demanda demográfica por habitação, em 2023, atingirá um estoque
de 80,2 milhões de domicílios em carteira (OLIVEIRA, 2009, p. 123).

7.3 O território Luz


Após um ano de aproximação ao território, a partir de uma imersão na área da
Luz ( já iniciada com seu espectro alargado, com ramificação na região do
Jardim Ângela, sul do município de São Paulo), a iniciativa que nasceu como
um esforço do Programa de Pós-Graduação em romper os muro da cidade
universitária e oferecer disciplinas junto ao público com quem os professores
propunham construir redes sociais e culturais, na medida em que o objetivo do
Núcleo de Pesquisas é investigar as condições para o diálogo com diferentes
coletividades sociais atingidas pela opressão nos seus territórios, construindo
resistências em rede (digitais ou não) frente ao poder instituído.

O Coletivo Diversitas, durante o ano de atividade na Luz, realizou ao menos


três grandes trabalhos: Narrativas de vida de mulheres trans, na casa de
acolhimento Florescer, liderado pela Prof. Dra. Zilda Iokoi, a instauração do
Instituto Faroeste, facilitando as negociações para manutenção das atividades
da companhia que ocupa o imóvel, coordenado pelo Prof. Sérgio Bairon e está
realizando um trabalho de aproximação da população do entorno imediato ao
Teatro de Conteiner Mungunzá, com a criação de uma bandeira feita
coletivamente com este público alvo, coordenada pelo colega Marcelo Caneval.

Este esforço, do qual a pesquisadora faz parte desde o início, possibilitou a


presente proposta.
53
7.4 da aplicação
Neste contexto, o objetivo específico da investigação em campo é a criação de
projetos (culturais, artísticos e urbanísticos) de caráter emancipatórios, que
visem à participação e inclusão dos habitantes e usuários do território em
propostas de requalificação urbana, quando a realidade demonstra que,
dependendo do projeto político, o governo pode ser um agente poderoso de
exclusão com o objetivo discutir quais são e como grupos de usuários do
espaço solucionam seus problemas, enquanto criam uma ideia de futuro.

A proposta abarca a construção de uma estrutura aberta para receber e


organizar bancos de dados, cujo conteúdo fará parte de uma série de projetos.
Cada projeto terá um cronograma financeiro que possibilitará que jovens em
situação de vulnerabilidade sejam instrumentados para colher informações,
tratá-las e organizá-las na plataforma.

Compromissos individuais e coletivos para a matriz de espaço-tempo-


propósito, virtualmente construída sobre o mapeamento GIS, devem ser
codificados em contratos inteligentes e associados a uma incubadora global e
aberta de projetos de gamification de blockchain. Como resultado, os
blockchains de valor global serão associados a uma plataforma de gamificação
multi-nível, baseada em projetos de diversidade, que é aberta e acessível em
links de narrativa audiovisual local, interfaces e pontos de acesso. A
iconometria resultante servirá como uma ferramenta de mapeamento de
caminhos para mudanças locais, bem como para o redesenho de fluxos
iconômicos vitais entre as periferias de diferentes cidades em escala global. A
produção de notícias sobre os desafios locais como parte de uma plataforma
de colaboração audiovisual permanente será monetizada à medida que os
cidadãos locais adotarem os ícones criados por participantes individuais. Juan
Mansilla, coordenador do OBICAN - Observatório Internacional de Práticas
Culturais Alternativas na Era Digital: Paris, Medellín, São Paulo, um dos grupos
anexados a essa proposta e sob a supervisão de Gilson Schwartz, sugere que
“alternativa / disruptiva” As práticas dos “jovens periféricos”, legais e ilegais,
precisam de espaço para torná-las efetivas, um tipo de arena que não é
apenas física, mas sim um momento específico de encontro de várias ideias
com condições claras de acesso. Definimos essa arena como "o espaço
público híbrido" (Mansilla, 2015). E continua: "Como Pimentel (2009: 191)
afirma, 'as práticas dos jovens periféricos' são percebidas como táticas de
resistência quando são contrárias ao que é estabelecidas de antemão, são
oportunidades para os grupos menos favorecidos inventarem novos modos de
vida ”. A circulação de referentes culturais periféricos requer a interação desses
jovens, mesmo que eles não compartilhem o mesmo espaço físico. Usamos o

54
conceito de "comunidade moral" (Harper in Ragin e Becker, 1992, p.143) para
dar conta da lógica da identidade que estrutura as proporções culturais
alternativas / disruptivas dos jovens dessas três cidades".

Nesse cenário, a presente proposta de pesquisa-ação-programa visa engajar-


se na emancipação digital da "juventude periférica", excluída e construída à
sombra na periferia do sistema capitalista, experimentando metodologias e
design thinking desenvolvidas pelo grupo de pesquisa. O programa de
pesquisa-ação tem defendido pesquisas teóricas, empíricas e aplicadas
relacionadas a moedas complementares, inovação financeira e assimetrias de
conhecimento na sociedade do espetáculo dominado por uma economia da
informação (ou “iconomia”). O objetivo deste projeto é estender a jogabilidade
(ou gamification) para as plataformas de monetização relacionadas à economia
e financiamento de investimentos, organizando a memória e discussão pública
de soluções físicas e jurídicas para o desenvolvimento sustentável do ambiente
no Brasil e no mundo, para estimular iniciativas locais de desenvolvimento
audiovisuais criativos associadas à construção sustentável dos ambientes
urbanos e visando o surgimento de uma cultura participativa liderada pela
inovação digital e pela emancipação social.

A economia e o mapeamento urbanos resultantes podem levar a um ciclo


virtuoso que estimula o surgimento de cadeias de valor globais expressando a
interconectividade de projetos locais. Contratos inteligentes em uma
infraestrutura de blockchain aumentarão os padrões colaborativos. O objetivo
desta plataforma de pesquisa-ação-programa é apoiar projetos criativos com
foco em questões ancoradas projeto / tempo / espaço que serão mapeadas
usando a tecnologia GIS , ferramentas audiovisuais, estrutura de monetização
de blockchain (como Ethereum) em áreas como espaços públicos, e design em
educação, bem-estar social e engajamento cívico e / ou colaboração
audiovisual criativa em memórias sociais usando jogos, visionamento ficcional
e não ficcional e outras narrativas audiovisuais e práticas de aprendizagem,
como transmedia storytelling, performances e uso inovador de GIS junto a
tecnologias financeiras emergentes, como a monetização, o jogo, o
crowdfunding, o crowdsourcing e a economia social. Não se trata apenas do
design de sistemas de informação, mas de reinventar as conexões entre
informação e conhecimento na criação, recuperação e desenvolvimento de
nossas cidades, codificando as cadeias de valor que transformam informação
em conhecimento e emancipação alavancada por plataformas audiovisuais que
substituirão a informação. produção tradicional de “notícias” como uma entrada
estratégica e vital.

Sistemas GIS também são necessários em ambientes educacionais e culturais


contemporâneos, a fim de promover novas visões colaborativas da paisagem
urbana. Atingir seu objetivo, a iniciativa tem o potencial de se tornar uma
55
âncora global para o debate, criação e produção de soluções inovadoras no
campo do design urbano e desenvolvimento social sustentável com base em
evidências e notícias produzidas por cidadãos envolvidos na monetização de
suas narrativas locais .

56
8 E Se...
What If – Und Wenn – E Se

Trata de um jogo de design de objetos que tem como proposta ter um ou mais
elementos de sua estrutura quebrados, invertidos ou seriamente modificados.

No jogo discutiremos os objetos industriais como o resultado das escolhas


formais, funcionais e de uso, assim observa os elementos pelas suas funções,
tipologias e materiais.

Os objetos (cidade, jardim, casa) serão analisados em seus campos lexicais. A


casa, por exemplo, seria subdividida por estrutura, piso, parede, cobertura,
sistemas elétrico, hidráulico (entrada e saída de águas servidas).

Serão criados diferentes desafios aos jogadores, tais como construir módulos
para montagem de residências uni ou multifamiliares, que possa ser facilmente
desmontada e remontada em estruturas verticais de edifícios com áreas
comuns.

A proposta é criar condições de ocupação de lotes dotados de infra-estrutura


dentro da malha urbana com a implantação de residências cuja montagem e
desmontagem seja rápida, fácil, delicada e sustentável

O projeto propõe que seja feita a criação de padrões para o desenvolvimento


de peças de montagem de residências e que viabilizem ocupações diversas de
forma delicada no terreno. A partir do padrão, os jogadores poderão
desenvolver peças e ideias de produtos, que passam a fazer parte da biblioteca
básica do jogo.

Havendo aprovações necessárias pelos órgãos responsáveis, a iniciativa teria


a vocação de deixar o ambiente de maquete (eletrônica ou não) e ocupar um
espaço no mercado, gerando incremento econômico para os jogadores-
desenvolvedores.

A montagem poderia ser eventualmente provisória, possibilitando desde apoio


a eventos e assistência às vítimas de tragédias, até moradias definitivas porém
móveis, criando possibilidades para aluguel de terrenos baldios, que são
dotados de toda infraestrutura da cidade.

As inovações nas áreas da arquitetura e da construção muitas vezes não são


favorecidas pela legislação. Por outro lado, a proposta visa beneficiar a
população vulnerável com a criação de ideias e produtos para solucionar
problemas urgentes nas ocupações de terrenos, edifícios e galpões.

57
Na mesma linha de pensamento, a cidade será apresentada pelas suas partes:
edifícios e ruas, fixos e fluxos, público e privado, com as diferenças de funções
e usos dos edifícios.

Cada parte terá seu vocabulário de materiais, com seus vários catálogos e
informações.

Os desafios serão relativos à sustentabilidade ecológica, econômica e social.

Programas de modelagem (previsões) serão criados para dar referência ao


jogo. Assim, o jogador poderá inserir uma variável, por exemplo, o aumento da
população de um lugar e perceber a saturação do sistema educacional, ou de
disponibilidade energética, por exemplo. Desta forma, o jogo de design de
novas casas, novos edifícios e cidades pode se beneficiar dos dados
organizados pela interface ação-tempo-espaço.

O objetivo do jogo é a criação de espaços úteis dentro de regiões já


densamente edificadas, dada à falta de áreas disponíveis para a instalação de
melhoramentos urbanísticos imprescindíveis.

Casos de notória carência de áreas:

· Para construção de habitação em locais dotados de infraestrutura urbana.

· Para ampliação da malha de transportes.

· Para disseminação espaços públicos como centros de cultura, de lazer, de


esportes, para os agrupamentos de instalação destinados ao serviço público,
hospitais, etc.

Proposta:

A proposta é buscar projetar nos espaços internos das edificações a circulação


horizontal do transporte urbano. Para isso imagina-se a substituição de
construções existentes ao longo das vias atuais, por outras edificações dotadas
de todo o equipamento conveniente para o local e mais as pistas de circulação,
introduzidas na forma de pavimento especial, interligando os sucessivos blocos
de construção e ultrapassando as quadras em subsolo e/ou elevado, de forma
suficiente para não interferir no movimento de superfície.

Assim implantadas, as edificações disporiam de três níveis distintos, integrados


e independentes:

· 1 ° nível correspondente à via existente.

· 2° nível destinado a pistas criadas para modais diversos em subsolo e/ou


elevadas.

58
· 3° nível optativo quanto ao uso: residencial, comercial ou público ocupando
tantos pavimentos quanto indicado no projeto.

Viabilidade Econômica:

No caso da opção por trânsito em subsolo, a obra pode contar com a


construção da(s) pista(s) por vala a céu aberto VCA ou Cut and Cover,
contrapondo a tecnologia tuneladora - Tunnel boring machines - TBM – ou
tatuzão. Estima-se que o quilometro da obra do metrô construído por TBM seja
em média quatro vezes o preço do quilometro das estruturas elevadas e 8 a 10
vezes a VCA.

O saldo positivo de áreas construídas vendáveis propiciaria, no mínimo, o


retorno do capital investido, de forma a criar condições de a obra autofinanciar-
se.

Eventual pagamento de uso dos modais de passagem no plano horizontal inter-


edifícios criariam possibilidades de entrada financeira suficiente para
manutenção das instalações e serviços. Assim, imagina-se edificações com
áreas para crianças, com serviços de educadores, áreas de apartamentos-
ambulatórios para estadia de idosos com equipamentos e serviços
especializados, além dos itens de conforto usuais, tais como piscina, solário,
academia, etc.

Objetivos do Jogo:

O detalhamento do projeto orientará a implantação dos trechos prioritários sob


o ponto de vista social e viário.

A proposta procura superar dificuldades sempre enfrentadas para equacionar


problemas urbanísticos: a solução isolada de uma questão ocasionando efeitos
colaterais indesejáveis em outros setores.

O objetivo de trabalhar na fronteira do campo dos jogos e implantar projetos e


compartilhar vivências no mundo real.

Nos jogos de simulação, o jogador é um criador.

Durante a formação da proposta de montagem de residências móveis, será


proposta a construção de um protótipo de casa para uso coletivo em sistema
de motetização. Serão procuradas as asociações de representação dos ramos
da construção, buscando parcerias para desenvolvimento de
produto..referentes a materiais inovadores.. Assim, contreto industrializado
para desenvolvimento de peças estruturais com fórmulas de concreto e
polímeros. O jogo incentivará a criação de peças e adereços para o sistema.
Sendo criado assim, imagina-se que os jogadores terão espaço para produzir

59
produtos, criando empregos ao mesmo tempo em que são criadas soluções de
moradia e compartilhamento de espaço e experiências.

Baseado no projeto de pesquisa apresentado pelo arquiteto Aloysio Monteiro


Becker e o Engenheiro Oswaldo Beirão em 1968 como opção à
construção do Minhocão, o jogo traz a questão da separação de pedestres do
trânsito de veículos, com ligações inter-edifícios, proposto pela primeira vez por
Leonardo Da Vinci em projeto feito para Milão.

A proposta favorece a criação de novas áreas em regiões densamente


construídas enquanto amplia a malha viária. Evita desapropriações. Cria
condições de manutenção da unidade de vizinhança. Não interferência da obra,
feita no interior dos lotes. Tende ao autofinanciamento ou custo zero.

Criar modelos inferenciais e hipóteses testáveis

60
8.1 da produção do E Se...
A produção do jogo E Se acontecerá paralelamente

Fase 1 Fase 2 Fase 3

Imagens GIS – definir o GIS - agent


captadas programa a ser based
Still de imagens usado
de satélite
Definição prévia de escalas transição entre
escalas
Image Map ArcGIS

E Se... 1ª fase 2ª fase 3ª fse

Desenvolvimento Desenvolvimento
do jogo híbrido do jogo digital
digital / tabuleiro

Produção de Projetos e Projetos e Maquete Play teste


Maquetes e eletrônica
protótipos peçs

Produção Tabuleiro Plataforma jogável


de forma
colaborativa

Definição Desafios e regras

Avatares

Aventuras

Banco de dados do ArqGIS + BIM e INPE


Projeto Memória programas ESRI

61
9 Conclusão
A estrutura da significação no teatro deixa clara a ligação entre as instâncias
Jogo/Máscara na transformação do espaço neutro em cenário e do actante em
personagem.

Aplicando o modelo à cidade, evidencia-se a forte influência das ideologias não


apenas sobre o caráter do indivíduo como também em todo o sistema de
objetos que configiram o ambiente. Assim, pode-se afirmar que as cidades
brasileiras, incluindo São Paulo, são cenário de um capitalismo submisso,
colonial e cruel.

A única forma de “mudar o jogo” é revelar a máscara. Dar condições ao actante


de intervir, de imprimir seus afetos, colorir de desejos o elemento que o insere
no jogo e assim torná-la sua criação e seu reflexo.

Revelar a máscara que se impôs e configurou o ambiente e percebê-la como a


mesma que cria as condições de formação de hábito, pode ser mais potente
que simples relação da lógica. Percebemos lógica que expulsa populações
para as periferias das cidades, consome seu tempo em trabalho e trajetos.
Vidas paralizadas, privadas de convívio, de dignidade e, pelas condições de
periféricas, depois de sair do transporte, para chegar em casa ainda terão que
sobreviver aos criminosos e à prórpia polícia, que tembém lhes é uma ameaça.
Quando chegam, faltam água e esgoto. Ou a residência foi tomada pelas
águas de uma cheia. Ou pelo fogo que logo se alastrou e não havia um
hidrante, nem mesmo como chegar o caminhão de bombeiros pelas vias
estreitas. Porque a polícia, companhias de saneamento e iluminação, cultura,
saúde e educação ficaram concentradas onde paradoxalmente é possível
encontrar grandes números de terrenos baldios e imóveis desocupados, que
dão conta do enorme despreso pela condição humana que existe na máscara
imposta sobre nossos corpos...

O primeiro movimento de resistência deve ser precisamente no sentido de


formar um repertório que possibilite ao jogador, visto como cidadão, observar a
construção histórica do espaço. Assim proposmos a produção do mecanismo
de busca baseado em AÇÃO X TEMPO X ESPAÇO.

O trabalho de aplicação no território da Luz busca responder à demanda de


investimento no capital humano. O projeto deseja atuar no sentido de criar
capacitação de pessoas em estado de vulnerabilidade econômica e/ou social,
para que eventualmente reproduzirem a experiência.

62
A visão da iconomia e das políticas de desenvolvimento humano com
oportunidades em larga escala associadas à economia criativa e
audiovisual torna-se um elemento crítico para a superação da crise
contemporânea num contexto de violência geopolítica, sobretudo
repactuando a participação das populações vulneráveis na sua
dimensão cultural de periferias globais.
Os dois projetos de jogos E-Móvel e UtoPistas são duas experiências de
imaginação de soluções inéditas e busca criar um mercado feito pelos usuários
criadores e produtores. .

63
10 Plano de atividades e cronograma de
sua execução.
10.1 Plano de atividades

Pesquisas de parcerias com detentores de fontes de informação primária –


museus, bibliotecas, órgão de pesquisas.

Desenvolvimento do mecanismo da interface humano-computador em Image


Map.

Modelagem de software e de gerenciamento de banco de dados

Levantamento e coleta de dados.

Oficinas de criação para a geração de dados junto às comunidades


participantes do processo.

definição de opções tecnológicas para BIM e ArcGis

internacionalização

Projeto do jogo E-Móvel

Protótiopo de peças do E-móvel (escala local)

Projeto do jogo UtoPistas

Viagem de pesquisa e produção dos jogos com escalas local e urbana


integradas

programa PAE

Redação final da tese.

64
10.2 Cronograma de execução:
2019 2020
Jan. Abr. Jul. Out. Jan. Abr. Jul. Out.
Fev. Mai. Ago. Nov. Fev. Mai. Ago. Nov.
Mar. Jun. Set. Dez. Mar. Jun. Set. Dez.
1
localização/
parceirias
2
interface
3 organização do
acervo
4
oficinas
organização do
acervo
5
definição de opções
tecnológicas
para BIM e ArcGis

6
internacionalização
7
Projeto do jogo
E-Móvel
8
protótiopo do peças
E Se... (escala local)
9
projeto do jogo
E Se... (Escala da
cidade)
10
Viagem de pesquisa
e produção dos jogos
com escalas local e
urbana integradas
11
programa PAE
12
13

65
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69
ANEXOS

70
Disciplina HDL5017
Estado, Ética e Politica II - Política, Psicanálise e Cultura
Conceito: B
Docentes Responsáveis: Sérgio Bairon Blanco Sant'Anna, Paulo César Endo,
Andre Oliveira Costa

ANEXO 1
Artigo: O teatro das sociedades em Norbert Elias
Conceito B
Não submetido a publicação.

71
O TEATRO DAS SOCIEDADES EM NORBERT ELIAS

Ana Cândida de Arruda Becker 1

RESUMO

Neste artigo são discutidos os significados e utilizações dos conceitos de jogo,


imitação, ethos e catarse em Norbert Elias à luz das teorias do teatro, bem
como a potencial utilização desse corpo teórico na criação de games de
simulação urbana como instrumentos de apoio ao planejamento urbano
participativo.

Palavras-chave: Processo Civilizador, Catarse, Jogo, Imitação, Games

1 INTRODUÇÃO

É possível encontrar nas teses de Norbert Elias abordagens que relacionem o


processo civilizador à estrutura do teatro? A pesquisa busca verificar na obra
do sociólogo a analogia entre sociedade e teatro, contemplando as hipóteses
relativas à formação do caráter ou costume (ethos), tanto da personagem
dramática como da vida na sociedade. O teatro como o micro retrato da ação
enquanto a sociedade o macro. O real e o espectro.

A hipótese a ser verificada é de que as teorias científicas elisianas partem


desta analogia, latente, porém não sempre declarada, entre teatro e sociedade.

A principal tese defendida em seu “A sociedade de corte” é que o processo


civilizador que acontece na passagem de uma sociedade guerreira feudal para
a sociedade de corte ocorreu com o estabelecimento de todo um conjunto
simbólico de valores, leis, usos e costumes, rigorosamente exigidos dentro de
uma monarquia absolutista, que condicionava a vida em sociedade à coerção
das pulsões.
“Tais mudanças dos homens que se trata quando falamos de uma
individualização mais intensa, de uma couraça em torno das
emoções, de um distanciamento maior em relação à natureza, ao
indivíduo e ao eu (...)A couraça das autocoerções, as máscaras que
os homens singulares das elites de corte desenvolvem então, como
parte deles mesmos, de sua própria pessoa, a um ponto que nunca

1
Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo (FAU/USP) e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direito e
Outras Legitimidades. E-mail: [email protected].

72
fora alcançado antes, são coisas que também aumentam a distância
entre os indivíduos.”. (ELIAS, 2001, p.246).
O uso recorrente do termo “couraça” também sugere a imbricação com as
teorias desenvolvidas pelo antigo colaborador e polêmico Wilhelm Reich, que
propõe a formação de um mecanismo de defesa em torno do ego, que precisa
enrijecer, ser cimentado, quando ocorre um recalque dos desejos genitais do
ser humano em virtude do medo da punição. Associado à couraça surge no
corpo, na forma de somatização, hipertonia ou rigidez muscular. “A rigidez
muscular e a rigidez psíquica são uma unidade, sinal de perturbação da
motilidade vegetativa do sistema biológico como um todo.” (REICH, 1998, p.
316).

Nesse sentido, Freud cunhou o vocábulo Reizschutz, termo alemão composto


por Reiz, que significa proteção e schutz, que significa estímulo. Podemos
encontrar a tradução para o Português como escudo protetor ou
frequentemente, traduzindo do Inglês “the protective shield” apenas como
“proteção contra estímulo”. Trata- se de um recurso de proteção que o aparelho
psíquico desenvolve.

O objeto do trabalho é, portanto, uma primeira abordagem ao processo


civilizador de Norbert Elias visto sob a ótica do teatro, este último como
elemento dotado e efeito curativo, retomando as teorias da arte na busca de
respostas baseadas no conhecimento empírico da Antiguidade.

A questão colocada pelo autor, e trazida pauta como foco na presente pesquisa
é, nas palavras do próprio Elias:
Na vida social de hoje, somos incessantemente confrontados pela
questão de se e como é possível criar uma ordem social que permita
uma melhor harmonização entre as necessidades e inclinações
pessoais dos indivíduos, de um lado, e, de outro, as exigências feitas
a cada indivíduo pelo trabalho cooperativo de muitos, pela
manutenção e eficiência do todo social. Não há dúvida de que isso —
o desenvolvimento da sociedade de maneira a que não apenas
alguns, mas a totalidade de seus membros tivesse a oportunidade de
alcançar essa harmonia — é o que criaríamos se nossos desejos
tivessem poder suficiente sobre a realidade. (ELIAS, 1991a, p. 8).
2 O Teatro em Norbert Elias

Norbert Elias foi um erudito e demonstra em vários trabalhos sua preocupação


com a música, literatura e artes dramáticas. A importância da dramaturgia e do
teatro comparecem em primeiro plano em grande parte de sua obra, por
exemplo, no primeiro capítulo do primeiro livro de O Processo Civilizador: uma
história dos costumes”, quando, ao falar da distinção entre Kultur e Zivilization
na Corte na Alemanha, reproduz a publicação do Zeller Universal Lexicon de
1736, onde se lê “As cortes dos grandes senhores são teatros em que todos
querem fazer fortuna.” (ELIAS, 2011, p. 28.).
73
A questão dos símbolos e valores, em especial a questão da unificação
linguística como elemento de unificação de um Estado comparece também em
“Os Alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX”
e “The Symbol Theory”. Os destinos de uma nação, coloca Elias em Os
Alemães, “cristalizam-se em instituições que têm a responsabilidade de
assegurar que as pessoas mais diferentes de uma sociedade adquiram as
mesmas características, possuam o mesmo habitus nacional. A língua comum
é um exemplo imediato.” (ELIAS, 1997, p.30). Elias discute, então, a formação
da cultura alemã a partir do exame dos duelos, uma prática mantida
tardiamente pelos aristocratas.

Na “história dos costumes”, o autor destaca a publicação, em 1781, por parte


Frederico, o Grande, de uma obra intitulada “De la littérature allemande”, na
qual o rei lamenta o escasso e insuficiente desenvolvimento da literatura
alemã, a que Elias comenta que, um ano depois, começam a ser publicadas e
encenadas as obras do Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto).
“Um ano após a publicação de sua obra, em 1781, vêm à luz Die
Räuber (Os Bandidos), de Schiller, e a Critica da razão pura, de Kant,
seguidos em 1787 por Don Carlos, do primeiro autor, e Iphigenie, de
Goethe. Daí se seguiu todo o florescimento da literatura e filosofia
alemã que conhecemos. E tudo isto parecia lhe confirmar a profecia.
Esta nova eflorescência, porém, estivera há muito tempo em
gestação. A língua alemã não adquiriu esse novo poder expressivo
em apenas dois ou três anos. Em 1780, ano de publicação de De la
littérature allemande, esta língua há muito deixara de ser o patois
semibárbaro a que se referia Frederico. Já surgira uma coleção
completa de obras que hoje, em retrospecto, consideramos de grande
importância. O Götz von Berlichingen, de Goethe, chegara às ruas
sete anos antes, Werther já estava em circulação, Lessing já
publicara a maior parte de suas obras dramáticas e teóricas, incluindo
Laokoon (Laocoonte) em 1776 e Die Hamburgische Dramaturgie
(Dramaturgia de Hamburgo) em 1767. Frederico falecera em 1781,
após a publicação de seu trabalho. Os escritos de Klopstock haviam
sido publicados muito antes, como o Messias, que veio a lume em
1748. Tudo isto sem contar o Sturm und Drang, peças de Herder, e
uma série completa de romances muito lidos, tais como Das Fräulein
von Sternheim, de Sophie de la Roche.”(2011, p. 30).
Dos trabalhos acima citados, cinco são obras dramáticas ou sobre teoria do
teatro:

“Die Hamburgische Dramaturgie”, de Lessing, é um trabalho de crítica teatral


onde o autor apresenta uma poética em que descreve as bases do teatro
barroco, baseado na lei das três unidades – ação, tempo e espaço -, que por
sua vez teria sido baseado na “Arte Poética” de Aristóteles. Na verdade essa
seria uma teoria cunhada no barroco por La Talle. Aristóteles fala apenas em
uma unidade: a unidade de ação.

“Die Räuber” – peça que preconiza o que virá a ser o melodrama, contém
descrição de violência física que marcam a peça como um trabalho “Sturm und
74
Drang” por excelência. e “Don Carlos” – tragédia em cinco atos, de Schiller,
onde o embate entre pai e filho denotam dois grupos etários diferentes e
simbolizam a substituição de um sistema social antigo, tradicional por um novo.

Em “Götz von Berlichingen”, Goethe coloca em cena um cavaleiro livre que


sonha com uma monarquia ideal. Nesta peça, Goethe destrói a leis das três
unidades, citada anteriormente. No “Discurso na casa de Goethe em Frankfurt”,
1930, Freud fala sobre a catarse em “Iphigenie”, e destaca que Goethe, que
mantém todas as regras estabelecidas pelo classicismo de Weimar, incluindo a
referida lei das três unidades, com a retomada do tema de Eurípedes, oferece
um comovente exemplo de expiação e de liberação do fardo da culpa por uma
alma sofredora.

O teatro volta a comparecer explicitamente citado na obra de Elias, agora a


teoria do teatro propriamente dita em “Desporte y ócio em el processo de la
civilizacion”, conforme será discutido adiante.

3 As estruturas do teatro

Garrigou explica que o termo “jogo” comparece como uma marca específica,
uma espécie de esquema paradigmático pelo qual sociologia elisiana se
ilumina. Destaca que, falando na sociologia de corte, o autor define como um
"grande jogo". (GARRIGOU, 1997).

Em essência, o ato teatral é um jogo. José Teixeira Coelho Netto (COELHO,


1976), realiza uma análise linguística do fato teatral, em que são propostas
duas tríades representando o jogo teatral, representadas pelos seguintes
gráficos:

• Actante – Espaço – Máscara e


• Personagem – Cenário – Jogo
Supondo que as duas tríades compõem dois planos:

• Plano da Expressão e
• . Plano do Conteúdo,
Na sobreposição dos dois planos, é possível verificar que:

• Personagem é a resultante do investimento de uma Máscara sobre um


Actante e
• Cenário é a resultante do investimento de uma Máscara sobre o Espaço.
Vista por este prisma, a teoria explica a visada de Norbert Elias a respeito da
sociedade de corte, quando, em vários momentos e situações, une as ideias de
jogo e máscara, como no trecho a seguir:

75
“Os aristocratas de corte costumam ter consciência de que usam uma
máscara em seu convívio com outros cortesãos, e talvez também
cheguem a ter consciência de que o uso da máscara, o jogo de
máscaras, tornou-se para eles uma segunda natureza”. (ELIAS, 2001,
p. 143).
Outra característica não menos importante é o fato do autor defender que a luta
pelo monopólio da violência, que obriga o controle da pulsão e assim pacifica o
espaço social, foi condição constitutiva do processo civilizador, presente no
ocidente entre os séculos XII e XVIII e impõe uma progressiva diferenciação de
funções sociais, que caracterizam o homem ocidental da idade moderna.

Lembramos que a principal personagem em um espetáculo teatral é o


protagonista, termo derivado do grego protos, primeiro e agon, levar, conduzir.
Temos assim que o espetáculo é composto por embates, movimentos e ações,
comandadas por um primeiro personagem que conduz a um desfecho.
Segundo Renata Pallottini, o conflito é considerado a estrutura essencial, ou “a
mola básica” da dramaturgia.

Além disso, o equilíbrio de tensões diante do antagonismo existente entre os


grupos sociais dominantes é constantemente manipulado pelo soberano que,
jogando permanentemente um grupo contra o outro, instaura uma situação de
monopólio de dominação.

Na transição entre a sociedade feudal, dominadas as pulsões para o Estado


monárquico absolutista, caracterizado pela coerção e pela imposição de novos
costumes, surgem, além das figuras do rei e da aristocracia, uma burguesia
burocrática e administrativa, e, na consolidação paralela deste Estado, uma
burguesia de toga, para quem são reservados os encargos da justiça e das
finanças para fazer frente as pretensões da nobreza na luta pelos favores
monárquicos.

No trabalho “As duzentas mil situações dramáticas”, Etiène Souriau introduz a


ideia de que toda a constelação de diferentes situações acontece no jogo de
forças entre os elementos que chamou de “funções dramatúrgicas”: a Força
temática orientada; o Representante do bem desejado; o Obtentor do bem; o
Oponente; o Árbitro; o Adjuvante.

É possível afirmar que as obras a partir do período do Renascimento espelham


a estrutura das sociedades nas funções dramatúrgicas personalizadas na
racionalidade das figuras de corte. Elias oferece como exemplo o classicismo
francês, como expressão do cálculo minucioso do valor do efeito e do prestígio
onde não cabem reações fora de controle. O protagonista controla seu destino,
ainda que as paixões sejam intensas. Destaca que a racionalidade é
encontrada, em expressões diferentes, na cultura de Weimar, que tem como

76
traços distintivos a serenidade e a moderação das emoções. (ELIAS, 2001, p.
127).
“Inscrevendo a distinção na proximidade, a realidade na aparência, a
superioridade na dependência, a vida de corte requer daqueles que
dela participam propriedades psicológicas específicas, que não são
comuns a todos os homens: assim, a arte de observar, aos outros e a
si mesmo, a censura dos sentimentos, o domínio das paixões, a
incorporação das disciplinas que regem a civilidade.” (ELIAS, 2001, p.
21).

4 Mímese µετεξιζ

“Falemos da tragédia e formulemos a definição de sua essência


própria. 2 A tragédia é a imitação de uma ação importante e completa,
de certa extensão; num estilo tornado agradável pelo emprego
separado de cada uma de suas formas, segundo as partes; ação
apresentada por atores, e que, suscitando a compaixão e o terror, tem
por efeito obter a purgação dessas emoções.” (ARISTÓTELES, 1449b
24).
Aristóteles verifica ser a imitação instintiva no homem, desde a infância, e a
reconhece como geradora de prazer.

Já a concepção platônica de mímese, segundo Sennett, contempla um


afastamento da realidade. Trata-se da natureza da cognição lógica, inteligível,
racional.

A concepção aristotélica, portanto, considera aspectos sensíveis e perceptivos.


Esta é a linha de pensamento que reconhece na arte o universo da
possibilidade qualitativa.

Na Retórica o autor refere-se à metáfora para aludir ao conhecimento, bem


como ao prazer advindo da experiência. Essa tendência natural do homem em
imitar é ligada, sem dúvida, à raiz da criação teatral. É importante destacar que
o Aristóteles não se restringe a reconhecer a imitação na arte dramática.
Propõe estar também presente nas artes da pintura e da dança.

A arte cortesã de observar é uma capacidade nascida da própria necessidade


vital da corte, de levar em conta a constituição, motivos, habilidades e
limitações das outras pessoas. Pela constante observação dos gestos e
expressões, o cortesão sondava, dissimulado, cuidadosamente todas as
manifestações das pessoas com quem conviviam, considerando seu
significado e intenção (ELIAS 2001, p. 121)

5 Ethos - ἦθος

“Heróis são arquitetos de seus destinos”. (PALLOTTINI, 1983, p. 29).

77
O termo ethos vem do grego antigo ἦθος que, num primeiro sentido, significa a
"residência habitual, lugares familiares, permanece" ou "costume, uso", "modo
de ser ou o comportamento de uma pessoa, caráter","disposição da alma, o
espírito" e, por extensão, “moral". Ethos soletrado (ἔθος grego), tem um
significado semelhante ao do ethos, mas refere-se especificamente a usos e
costumes, como veremos.

Ethos: O caráter determina a ação. (ARISTÓTELES, 49b 35).

Heráclito diz que o caráter de um homem é o seu destino. Usa o termo ethos,
traduzido por caráter, em uma frase que faz lembrar Elias quando diz “os
destinos de uma nação ao longo dos séculos vêm a ficar sedimentados no
habitus de seus membros individuais.” (ELIAS, 1997, p. 30).

Aristóteles lança sobre a construção da personagem o conceito de ethos ἦθος


(costume, hábito, de onde deriva a palavra ética, moral).

Em “Arte Poética”, porém, tradicionalmente o termo ἦθος é traduzido por


caráter e não hábito, tanto nas interpretações portuguesas, brasileiras como
também nas italianas. Caráter, também, pode ser a tradução para o verbete
χαρακτηρ significando sinal ou conjunto de sinais que distingue um objeto, e
ἦθος para definir o modo de ser ou comportar-se habitual e constante de uma
pessoa à medida que individualiza e distingue a própria pessoa.
(ABBAGNANO, 2000, p.115-116).

Podemos verificar também, que a ideia de ethos está intimamente ligada à


estrutura do personagem.

A seguir o texto no original:

E na tradução de Antônio Pinto de Carvalho:


“Como a imitação se aplica à ação e a ação supõe personagens que
agem, é absolutamente necessário que estas personagens sejam tais
e tais pelo caráter e pensamento (pois é segundo estas diferenças de
caráter e pelo pensamento que falamos da natureza de seus atos);
daí resulta naturalmente que são duas as causas que decidem dos
atos: o pensamento e o caráter; e, de acordo com estas influências, o
fim é alcançado ou falhado”. (1449b 24).

78
O próprio Aristóteles destaca o duplo sentido da palavra ἦθος em Ética
Eudemia
“É evidente, pois, que a virtude ética está em relação com o agradável
e o penoso. E, posto que o caráter, como o indica seu nome, recebe
seu crescimento do hábito, graças a numerosos movimentos de um
certo tipo, um hábito não inato em nós resulta, finalmente, educado
para trabalhar em um sentido.” (ARISTÓTELES, 1220 a p. 29).
Temos aqui o princípio de educação agindo e determinando o caráter de um
povo. O autor volta a destacar a importância em Ética a Nicômacos.
“A quanto à excelência moral, ela é produto do hábito, razão pela qual
seu nome é derivado, com uma ligeira variação, da palavra ‘hábito’.
(...) adquirimo-la por havê-las efetivamente praticado, tal como
fazemos com as artes.” (ARISTÓTELES, 1103 a).
Na continuação do mesmo texto Aristóteles completa a sua ideia, na formação
do caráter, não de personagens, mas da própria cidade.
“Esta asserção é confirmada pelo que acontece nas cidades, pois os
legisladores formam os cidadãos habituando-os a fazerem o bem; daí
a importância, assinalada por Platão, de termos sido habituados
adequadamente, desde a infância, a gostar e desgostar das coisas
certas, e esta é a verdadeira educação.” (ARISTÓTELES, 1103 b,
1104 b).
O uso feito por Max Weber do conceito de ethos para refletir sobre a passagem
da "ética protestante no espírito do capitalismo" contribuiu decisivamente para
aproximá-lo do léxico das ciências sociais modernas.

Weber discute como as crenças religiosas determinam uma "mentalidade


econômica", ou seja, o ethos de uma forma de economia e ao fazê-lo,
estabelece ligação conceptual entre o "espírito da vida econômica moderna" e
"ética racional do protestantismo ascético" (WEBER, 1964, p.11).

Em Bourdieu, ethos é um “sistema de valores implícitos e profundamente


interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face ao
capital cultural e à instituição escolar” (BOURDIEU, 1998, p. 42).

Norbert Elias usa o termo em para designar um estamento, isto é, um estilo de


vida passível de ser mudado. Assim, no caso das sociedades de corte, as
regras estabelecidas são rigorosamente seguidas e o medo do rebaixamento,
por um lado, bem como a necessidade de se sobressair nas graças do
soberano, por outro, cristalizaram todo um código de etiqueta que amarrava os
nobres em “couraças” e fizeram com que a coerção das pulsões no domínio da
violência estabelecesse, em última instância, o início do processo civilizador.

Falando da corte francesa, Elias define dois grupos definidos pelo ethos:

Status-consuption ethos da nobreza, que prioriza uma luta incessante por


consumo e prestígio. Os nobres têm a obrigação de considerar seu nível social
79
o critério básico das despesas. O uso diferente do dinheiro por parte da
nobreza pode definir a ascensão social e também a ruína de uma família. As
decisões partem do trono e dependem, constantemente da opinião do outro.
Perder a honra significava perder a condição de membro da “boa sociedade”.
Surge a figura de representantes escolhidos para formar o “tribunal de honra”,
que julgavam segundo o ethos específico da nobreza.

Saving-for-future-profit ethos dos profissionais burgueses, em que as famílias


são obrigadas a submeter as despesas às receitas, para obter uma riqueza
construída ao longo do tempo.

A longo prazo, destaca Elias, nas sociedades industriais, a coerção social para
o consumo em função do prestígio e para representação de status, levou as
cortes ricas e poderosas, que gastavam tudo o que recebiam, à pobreza,
enquanto as classes burguesas, acostumadas a guardar e investir, a ficarem
cada vez mais ricos.

6 Habitus εθοζ

No Dicionário de filosofia, o verbete hábito εθοζ define um acontecimento ou


comportamento que se repete devido a um mecanismo externo, que deve ser
diferenciado de εξιζ, que denota uma disposição constante para ser ou agir de
certo modo, uma disposição deliberada. Abbagnano explica que neste sentido
a palavra foi usada por Aristóteles na Metafísica, como “uma disposição para
estar bem ou maldisposto em relação a alguma coisa, tanto em relação a si
mesmo quanto a outra coisa”. (Met. V.,20, 1022b, 10 apud. ABBAGNANO,
2000).

Bourdieu define como “as disposições adquiridas, as maneiras duráveis de ser


ou de fazer que se encarnam nos corpos (e que eu chamo de ‘habitus’)”.
(BOURDIEU 1983, p. 24).

O habitus é, para esse autor, uma organização sistematizada e inconsciente


que se dá, no indivíduo, a partir da interiorização de estruturas sociais objetivas
e se orienta, por meio de hábitos ou práticas, para o ajuste de tal indivíduo às
estruturas sociais vigentes, orientando o alcance de objetivos em acordo com
tais estruturas e com fins subjetivamente pretendidos pelo indivíduo. É
entendido ainda como um mecanismo social de unificação das práticas e
representações, que reúne no indivíduo uma síntese das sensibilidades e fins
sócio historicamente constituídos.

Bourdieu escreve ser “o recurso à noção de habitus, um velho conceito


aristotélico-tomista que repensei completamente, como uma maneira de

80
escapar dessa alternativa do estruturalismo sem sujeito e da filosofia do
sujeito." (BOURDIEU, 1990, p.22).

Há duas concepções que se pode encontrar em Aristóteles. A primeira, com o


significado de costume, acima explanado, intimamente ligado ao conceito de
ethos. Na segunda o termo comparece pela repetição uniforme de fatos,
humanos ou naturais. Na Retórica ele diz “o hábito é, de certa forma, muito
semelhante à natureza, já que ’frequentemente’ e ‘sempre’ são próximos: a
natureza é daquilo que é sempre; o hábito é daquilo que é frequentemente” (I,
11, 1370 a 7).

Para Bourdieu, o conceito de habitus evidencia a dimensão individual dos


fenômenos sociais e as estruturas mentais subordinadas ao condicionamento
social. Considera o habitus o princípio gerador de nossas práticas, de nossas
ações no mundo, fundamento da regularidade de nossas condutas.

Ao localizar os problemas e definir os conceitos de indivíduo e sociedade,


Norbert Elias inicia Sociedade dos Indivíduos formulando a seguinte questão:
“Que tipo de organização é esse, esta “sociedade” que compomos em
conjunto, que não foi pretendida ou planejada por nenhum de nós,
nem tampouco por nós todos juntos? Ela só existe porque existe um
grande número de pessoas, isoladamente, querem e fazem certas
coisas, e, no entanto, sua estrutura e suas grandes transformações
históricas independem, claramente, das intenções de qualquer
pessoa em particular” (ELIAS, 1991, p. 3).
Em Elias, habitus significa basicamente “segunda natureza” ou “saber social
incorporado” Usado para superar os problemas da antiga noção de “caráter
nacional” como algo fixo e estático. Implica um equilíbrio entre continuidade e
mudança. (ELIAS, 1997, p.9).

Propõe desistir de pensar em termos de substâncias isoladas únicas e começar


a pensar em termos de relações e funções. Para ilustrar a questão do habitus,
usa, como símbolo de uma sociedade, a analogia de uma coreografia de dança
de salão executada por um grupo de pessoas que se movimenta segundo um
padrão pré-determinado para arguir que a forma que o indivíduo se comporta é
determinado por relações, e a adesão a essa linguagem seria uma propensão
natural de sua natureza.

A tradução para a língua inglesa do original escrito em alemão, fala de


“dancers performing court dances, such as fançaise ou quadrille”. Devemos
lembrar que a dança como arte dramática, ou a dança que se materializa no
palco italiano, nasceu nas festividades da corte e se notabilizou com Luís XIV.
Apesar de ser dançado em roda fora do palco, a quadrille era considerada um
entretenimento para o qual era feita uma produção em que se destacavam a
riqueza e originalidade das fantasias, baseada exclusivamente no brilho e

81
elegância dos trajes, harmonia de cores, bons dançarinos e gosto e perfeição
do todo. A importância desse detalhe está no fato de o presente trabalho
buscar analogias feitas por Norbert Elias entre sociedade e espetáculo.
“Uma pequena digressão sobre o problema do habitus ou composição
individual talvez seja recomendável aqui. A concentração da
sociologia dos processos nos seres humanos dá acesso científico,
nesse e em outros casos, a problemas conhecidos desde o estágio
pré-científico do conhecimento, mas que não podem ser
adequadamente explorados por falta de conceitos específicos.
Conceitos como “estrutura social de personalidade” ou “estágio e
padrão de auto- regulação individual” figuram entre os que podem ser
úteis nesse ponto. Em particular, o conceito de composição ou
habitus social, que introduzi anteriormente, tem papel fundamental
nesse contexto.” (ELIAS, 1991, p. 182).
Em combinação com o conceito de individualização crescente ou decrescente,
ele favorece nossas chances de escapar da abordagem “ou isto/ou aquilo” que
amiúde se insinua nos debates sociológicos sobre a relação do indivíduo com a
sociedade.

Quando ele e o conceito muito similar de estrutura social de personalidade são


compreendidos — e adequadamente aplicados —, é mais fácil entender, diz
Elias, por que o velho hábito de usar os termos “indivíduo” e “sociedade”,
como se representassem dois objetos distintos, é enganador.

7 Catarse καθαρσιζ

Purgação, liberação do que é estranho à essência ou à natureza de alguma


coisa que, por isso, perturba ou corrompe. (ABBAGNANO, 200, P. 120).

Termo utilizado por Aristóteles com significado médico e também como


fenômeno estético. As tragédias, no período clássico, eram apresentadas em
festivais em honra ao deus Dioniso, e cumpriam uma função política, de
apaziguamento dos ânimos ao livrar os espectadores das afecções
emocionais, realizando a ablução e de união dos cidadãos para a produção
durante um novo período fértil.

Na palavras de Aristóteles:
“A tragédia é imitação elevada e completa da ação, que tem certa
extensão, pela linguagem e diversas espécies de adornos distribuídos
em suas várias partes; imitação realizada por atores e não em forma
narrativa e que, suscitando o terror e a piedade, chega a purificação
de tais afetos.” (ARISTÓTELES, 1449b).
Em “Introdução à psicanálise de guerra” (1919), Freud usa o termo para
significar sublimação da libido especialmente no tratamento da neurose
traumática, conflitos psíquicos e fuga na doença. Cita que os estudos de E.

82
Simmel demonstram êxito ao tratar neuróticos de guerra com o auxílio da
técnica da catarse, que, “como se sabe, foi estágio preliminar da técnica
psicanalítica”. (FREUD, p. 290).

Em “Psicanálise e Teoria da Libido” (1923), o autor explica a história da


psicanálise, gênese e evolução, desde seus trabalhos com Breuer,
influenciados pelos ensinamentos de Charcot no diagnóstico de
representações patogênicas designadas como “traumas psíquicos”, em que
ocorria a “cartase” mediante a abertura do caminho para a consciência e a
descarga normal de afeto.

Explica a transição para a psicanálise, em função de que o êxito geral dependia


totalmente da relação do paciente com o médico e, se essa relação era
perturbada, todos os sintomas reapareciam. (Autobiografia 1925)

Goethe acreditava que a catarse consistia no equilíbrio das emoções que a arte
trágica induz no espectador. Conforme dito anteriormente, a catarse construída
por Goethe em Ephigenie auf Taurus é citada por Freud em um discurso de
1930 como um exemplo da idealização do homem do classicismo de Weimar.

Falando do pós segunda-guerra, Norbert Elias interpreta a adesão de nova


geração burguesa a ideais marxistas de diferentes matizes como estratégia
para obter absolvição do estigma que sucedeu o Terceiro Reich como catártica,
que aconteceu pela necessidade de “purificação da opressiva maldição do
passado nacional”.

Mas a catarse comparece como uma noção que embasa a obra “Desporte y
ocyo em el processo de la civilizacion”. Para Elias, as competições seriam
encenações de batalhas apresentadas, mesmo, no contexto da imitação.

Ao comparar um confronto físico real entre as pessoas com uma competição


desportiva, infere que certos aspectos da experiência emocional associados à
luta física real entram na experiência emocional que traz a luta "imitada" um
esporte, resultado de um mecanismo de transmissão diferente, porque permite
às pessoas experimentar com plenitude a emoção de uma luta sem os seus
perigos e riscos. O elemento de medo presente na emoção, não desaparece
por completo, tornando o prazer da luta bastante reforçado e a capacidade de
atletas, permitem aumentar o gozo da batalha sem que ninguém seja ferido ou
morto.
“Da mesma forma, o conceito aristotélico de "catarse" pode preencher
um vazio na nossa bagagem conceitual. As competições desportivas
permitem que os seres humanos vençam outros em uma luta física
sem embate físico. A resolução da tensão e do esforço da vitória na
batalha pode produzir um efeito revigorante e purificador. A pessoa
pode sentir-se alegre e sem problema de consciência, confirmando
seu valor e segurança de autoestima, que foi uma luta justa. Nesse

83
sentido, o esporte proporciona amor próprio, sem remorso.” (ELIAS,
1992, p. 63).
O Norbert Elias, que além de sociólogo era médico, chama atenção para a
necessidade de valorizar o conhecimento empírico dos pensadores da
Antiguidade ao explicar que o efeito curativo da música e do teatro sobre os
seres humanos, por meio da catarse, e destaca que, para tal efeito, Aristóteles
usou o termo pharmacon. (ELIAS 1992, p. 101)

Falando do desenvolvimento da organização do Estado, Elias comenta que


uma faceta presente na tragédia Édipo Rei que não chegou a ser estudada por
Freud: a questão do controle da violência física, que afetam todas as relações
humanas, mas que se faz especialmente patente na mitologia grega, a saber, o
conflito entre pais e filhos. Comenta que Zeus foi criado em segredo de Cronos
e posteriormente Zeus precisou castigar violentamente Prometeu, por ter dado
o fogo (e a ciência) aos mortais. (p. 177).

Elias descreve o fato para afirmar que, na trajetória do processo civilizador, é


necessário compreender o nível de violência socialmente permitida e a relação
com a correspondente formação da consciência das sociedades.

Na obra, o autor discute a violência, as lutas e competições, abarcando todo o


período clássico greco-romano, com o estabelecimentos das Olimpíadas, bem
como os torneios e jogos populares da Idade Média, passando pelas e as
caças praticadas inicialmente com finalidade de alimentação, e tornando-se um
esporte praticado pela aristocracia inglesa, que perseguia lobos, por serem
mais ágeis e velozes, o que tornava o divertimento mais excitante, para
questionar o paradigma da violência que acontece no esporte moderno,
particularmente o futebol, e nos comportamentos das torcidas. (p. 203).

8 Conclusão

Um dos principais problemas que enfrentam as sociedades é encontrar um


equilíbrio entre as diversas forças dos diferentes atores. Quais os potenciais
resultados sociais, políticos e urbanísticos decorrentes da popularização do uso
de jogos de simulação baseados em tecnologias GIS (Geographic Information
System), tendo em vista o surgimento de uma classe criativa e de uma
sociedade do conhecimento?

A adoção desta indagação será desenvolvida durante o trabalho de doutorado,


que deseja verificar as relações possíveis entre esses games, bancos de dados
sobre as variáveis que envolvem o crescimento urbano e também sobre
memória, cultura e lazer, e quais as suas possíveis implicações e vocações no
projeto e na construção da cidade.

84
Para a compreensão do objeto, aqui os jogos serão vistos como um constructo,
e, portanto, como sendo passíveis de atribuições de uma linguagem, com
significados e significantes. A análise propõe abordar os conceitos através da
percepção abdutiva e da Metodêutica de Charles Sanders Peirce e estudos da
linguagem.

A análise do trabalho de Norbert Elias contribui no sentido de estabelecer uma


analogia entre o game (especificamente os jogos interativos de simulação em
que o espaço é modificado pela ação de um interator), e o jogo teatral de um
ator que representa um personagem e que tem determinada relação com a
plateia.

Foram contempladas as teorias aristotélicas relativas à formação do caráter ou


costume (ethos), tanto da personagem dramática como da vida na cidade
(polis), para determinar a identidade existente entre espetáculo, educação e
ação política. A análise, então, volta-se para a estrutura proposta em seu
Processo Civilizador.

Ambos, cidade e o teatro, tratam da organização do tempo e do espaço. Para


tanto aceitamos a premissa de que o fazer teatral está intimamente ligado à
concepção original dos games, estes considerados como herdados do cinema
e do audiovisual.

“A arte opera justaposições: uma coisa ao lado da outra, fazendo o


suficiente para que uma coisa conviva com outra sem se fundir uma
na outra. O programa (a política cultural) para a arte é uma poética,
será melhor caso se aproxime do modo da poética; o programa para
o cultural é de natureza técnica, no limite, científica: a tecno-ciência,
como diz Derrida (a possibilidade de um programa tecno-científico
servir-se bem de uma poética para alcançar seus fins é maior que o
contrário, isto é, um programa para a arte assumindo as cores tecno-
científicas). A poética de uma obra (penso na ´Poética de Aristóteles)
transformada em programa de produção (de reprodução) vira cultura:
é o caso do cinema norte-americano que fez das normas descritas na
Poética (as peripécias, a flexão/inflexão, etc.) de Aristóteles um
programa de operação-tipo, (...)”. (COELHO 2008, p. 138).

85
THE THEATER OF SOCIETIES IN NORBERT ELIAS

ABSTRACT

In this article we discuss the meanings and use of the concepts of play,
imitation, ethos and catharsis in Norbert Elias in the light of theater theories, as
well as the potential use of this theoretical body in the creation of games of
urban simulation as tools to support urban planning in a participatory approach.

Keywords: Civilizing Process, Catharsis, Play, Imitation, Games

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87
Disciplina HDL5019
O Lugar das Memórias: Preservadas, Descartadas, Compartilhadas
Conceito A
Disciplina HDL5021 - O Lugar das Redes: Preservadas, Descartadas,
Compartilhadas e Expandidas
Conceito A

Docentes Responsáveis: Luis Guilherme Galeão da Silva, Sérgio Bairon Blanco


Sant'Anna, Zilda Marcia Gricoli Iokoi

ANEXO 2
ppt.
Conceito A

88
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Programa de Pós-Graduação Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades

O território da Luz na gestão neoliberal: Uma proposta de gentrificação


para a cidade.

Nome da Aluna: Ana Cândida de Arruda Becker

Trabalho apresentado para a disciplina

HDL5021 - O Lugar das Redes: Preservadas, Descartadas,


Compartilhadas e Expandidas

São Paulo, agosto de 2018

89
Resumo

O presente trabalho discute os dois primeiros semestres de aproximação ao


território da Luz, Região central do Município de São Paulo, iniciativa que
nasceu como disciplinas que propunham compreender e construir redes sociais
e culturais, a partir de uma imersão na área da Luz, considerando
especialmente o recorte norte e sul da Estação da Luz, já iniciando com seu
espectro alargado até a região do Jardim Ângela, na medida em que o objetivo
é “investigar as condições para o diálogo com diferentes coletividades sociais,
atingidas pela opressão nos seus territórios e construindo resistências em rede
(digitais ou não) frente ao poder instituído”.

O posicionamento do Núcleo de Pesquisa trata de uma crítica ao conhecimento


acadêmico quando este se alia a interesses social-opressores. Três exemplos
de participação de escolas da Universidade de São Paulo na região, a cheia
(ou inundação) de 1929, construção do Minhocão e o projeto Monumenta, do
final dos anos 1990s serão abordados no artigo.

O artigo deseja verificar a hipótese de haver historicamente duas forças: a


cultura usada como instrumento da destruição da unidade de vizinhança, com a
recuperação de edifícios de forte apelo arquitetônico (seguido de demolições
de outros de menor valor e de ocupação multifamiliar na área da
“revitalização”) e uma que imana da sociedade civil e chega subterrânea,
ocupando o território e se insere na vizinhança de forma colaborativa.

Neste contexto, o objetivo específico do artigo é contribuir para a discussão de


como a cultura pode possibilitar uma cidade mais justa e democrática com a
criação de projetos (culturais e urbanísticos) de caráter emancipatórios, que
visem à participação e inclusão dos habitantes e usuários do território em
propostas de requalificação urbana, quando a realidade demonstra que,
dependendo do projeto político, o governo pode ser um agente poderoso de
exclusão.

90
Introdução

Propor jogos para que o usuário das cidades possam imaginar novas
transformações, seja no âmbito dos sistemas de objetos, na arquitetura ou na
malha urbana estabelecida, trazer a questão urbana, que lida de forma
complexa com todas as áreas das ciências (humanas e sociais, exatas e
econômicas e todos os aspectos da saúde e acolhimento) impõe requisitos
básicos de acesso e troca de informação. Jogos para conceber visões
prospectivas sobre o espaço real com conhecimento da história e dos valores
locais. O trabalho propõe o estudo de caso da cidade de São Paulo e deseja
criar bases para a organização das redes de banco de dados referentes às
características formais e simbólicas do espaço, condição necessária para que a
criação de jogos colaborativos baseados em tecnologias GIS venha a se
estabelecer como mediadores de políticas públicas de ocupação sustentável do
território.

A documentação do processo de transformação da cidade de São Paulo até


situação de inoperância está espalhada em diferentes instituições, nas esferas
pública e privada, sejam suas administrações municipal, estadual, federal ou
internacional. Igualmente diferentes órgãos escondem as informações sobre
topografia, cursos de rios, as mutações sofridas com implantações de
diferentes intervenções, bem como os resultados destas intervenções.

Alguns órgãos, entre museus e arquivos públicos, já têm parte deste material
em forma digital e até eventualmente disponibilizado on line, mas, como aponta
Antonio Miguel Vieira Monteiro, com a privatização promovida a partir da
década de 80, os bancos de dados das antigas estatais passaram para o
controle das empresas.

A investigação empírica propõe o desenvolvimento de uma interface humano-


computador (HCI) que dê conta de concentrar, atrair e fomentar a troca de
informações. A primeira parte estará concentrada na formação de banco de
dados. Para tanto, museus e arquivo público serão consultados a fazer um
convênio e, havendo aceite, seus documentos organizados para resgate pela
interface Ação X Tempo X Espaço. Esta primeira parte do trabalho de

91
desenvolvimento conta com um recorte espacial: O território da Luz, na cidade
de São Paulo.

Revisão da literatura

É possível intervir nos sistemas de assentamentos e ocupações das cidades


por intermédio de organizações concebidas de forma participativa em jogos?
Qual o potencial dos jogos de modelagens e simulações somados a
informações de imagens de georreferenciamento para a solução colaborativa
de problemas? Poderiam esses jogos criar uma estrutura subterrânea,
clandestina, potencializando a formação de redes de compartilhamento de
práticas e elaboração de projetos de forma a se consolidar como resistência
aos poderes hegemônicos?

Appadurai vislumbra uma globalização celular em que os indicadores da


sociedade valorizam a menor desigualdade (econômica, de gênero, etc.), justa,
acessível, e fala de experiências de redes que cruzam fronteiras internacionais,
especialmente na Índia, que têm a função de “reforçar o trabalho e a moral das
federações locais”. O que chama de democratização celular em ação teria o
potencial de “dar forma a uma terceira via” em que os interesses sejam
concebidos seguindo princípio universalista de solidariedade, identidade e
colaboração. A índia tem hoje um dos mais avançados sistemas de imagens de
satélites e empresas que oferecem soluções para as cidades.

O autor vê a formação de redes globais de “utópicas células dessas outras


novas formas transnacionais de organização. Aqui se encontra um recurso vital
que poderia contrabalançar a tendência mundial ao etnocídio e ao ideocídio e
aqui também está a resposta, embora incipiente, obscura e provisória, ao0
difícil relacionamento entre a paz e a igualdade no mundo que habitamos. De
qualquer modo, esperemos que essa forma utópica de celularudade seja o
palco de nossas batalhas. Caso contrário, podemos dizer adeus tanto aos
cidadãos quanto à civilidade.” (p. 101)

Cidade, Urbano, Território

Cidade, um substantivo com significados tão amplos que, em geral, necessita


de adjetivação. Assim fala-se em Cidade Global, Cidade Inteligente e tantas

92
outras traduções de definições de diferentes aspectos deste objeto tão
complexo quanto coletivo.

Povoação, vida urbana, território. As cidades, desde seus primitivos


assentamentos urbanos, constituem-se como produto cultural (Argan X,
Mumford X, Benevolo X).

Para Argan “a cidade é um produto artístico ela mesma. Não


há, assim, porque surpreender-se se, havendo mudado o
sistema geral de produção, o que era um produto artístico hoje
é um produto industrial. (...) A origem do caráter artístico
implícito da cidade lembra o caráter artístico intrínseco da
linguagem, indicado por Saussure: a cidade é intrinsecamente
artística”. (p.73)

Fazendo uma analogia à Lei as Três Unidades: ação, tempo e espaço, que
regeu a teoria do teatro até o século XIX, podemos dizer que a cidade é o
resultado da ação que sofre o espaço no tempo.

No ano de 1968, no livro O Direito à Cidade, Lefebvre aborda a questão de


cidadania e reivindica o direito à fruição e à criação da cidade, como obra
humana coletiva.

Já em A Revolução Urbana, Lefebvre desenvolve a hipótese de uma


urbanização completa da sociedade. Aponta uma falência do urbanismo de
caráter institucional e autoritário, condicionado por pressões de ideologia
neoliberal, privada e capitalista. Para ele, “o urbano (abreviação de “sociedade
urbana”) define-se não como realidade acabada, situada, em relação à
realidade atual, de maneira recuada no tempo, mas, ao contrário, como
horizonte, como virtualidade iluminadora. O urbano é o possível, definido por
uma direção a ele”. (Lefebvre, A Revolução Urbana p. 28)

Para Lefebvre, ideia de urbano aparece como um lugar de enfrentamentos e


confrontações, uma unidade de contradições, na maioria das vezes, vinculada
à de capital industrial e à de sociedade capitalista industrial. (Martins, 1999, p.
10).

93
Para Castells a cidade depende de formas políticas e sociais, que são produto
de determinações sociais. São essas forças que a caracterizam e que lhe dão
individualidade.

Desde Ratzel, um dos mais destacados geógrafos da escola clássica alemã, o


termo território é ligado ao determinismo geográfico e/ou espaço vital
(Lebesraum). Toda a vida do Estado tem suas raízes na terra.

“Como o Estado não é concebível sem um território e sem fronteiras, constitui-


se bastante rapidamente uma geografia política (...) considera-se como fora de
dúvida que o Estado não pode existir sem um solo.” (RATZEL, p. 93) O Solo, a
Sociedade e o Estado.
http://www.revistas.usp.br/rdg/article/viewFile/47081/50802

O autor analisa o solo e nas relações com a família, com o Estado e com o
progresso.

Na visada clássica, como questão nacional, o território é a expressão legal e


moral do Estado.

Nas últimas décadas, novas interpretações podem ser encontradas para o


conceito de território.

Robert David Sack aponta três estratégias para obter o controle do território: a
classificação, o controle de acesso e o controle sobre modo de comunicação. A
territorialidade pode ser ativada e desativada, o que indica uma mobilidade que
é inerente aos territórios. Ele assim torna-se um campo de forças e conflitos.

“A sociedade que modela tudo que a cerca, construiu uma técnica especial
para agir sobre o que dá sustentação a essas tarefas: o próprio território. O
urbanismo é a tomada de posse do ambiente natural e humano pelo
capitalismo que, ao desenvolver sua lógica de dominação absoluta, pode e
deve agora refazer a totalidade do espaço como seu próprio cenário”.
(DEBORD, p. 112)

Essa parece ser a lógica subjacente à atual configuração do mercado


imobiliário, que David Harvey tem denominado como novo empreendedorismo
urbano. Segundo ele, [...] o novo empreendedorismo urbano se apoia na

94
parceria público-privada, enfocando o investimento e desenvolvimento
econômico, por meio da construção especulativa do lugar em vez da melhoria
das condições num território específico, enquanto seu objetivo econômico
imediato (ainda que não exclusivo) (HARVEY, 2006, p. 172).

O domínio dos territórios, nesse caso, parece estar mais próximo a uma
ausência de ação do Estado e da falta de reconhecimento de sua legitimidade
que, ao invés de gerar bases para um novo sistema de relações entre os
indivíduos, está apenas reforçando os defeitos do sistema democrático e
capitalista.

Elemento importante no conceito de território é a percepção do seu movimento.


Movimento contínuo e não fixação rompe os laços de pertencimento ao solo,
gera dinâmicas de competição. Redes e os fluxos tecem conexões entre os
lugares e alteram a percepção. Neste mesmo cenário surgem estudos sobre
novas tendências ao nomadismo, especialmente teorizada por Maffesoli.

Antônio Miguel Vieira Monteiro, professor e pesquisador do INPE – Instituto de


Pesquisas Espaciais, e coordenador do GT População, Espaço e Ambiente da
ABEP - Associação Brasileira de Estudos Populacionais, propõe que a criação
de territórios digitais “podem revelar as diferentes expressões de fenômenos
como, por exemplo, exclusão social, criminalidade, risco ambiental e exposição
a doenças contagiosas.”

O autor propõe o foco na escala do que denominou “território de vivência” para


tratar da escala que diz respeito ao cotidiano dos diferentes atores que
circulam, residem e se relacionam, as expressões manifestadas nas
particularidades e singularidades dos lugares, as produção e reprodução das
relações socioeconômicas, políticas e culturais, presentes na sociedade que
ele abriga e conclui afirmando ser possível usar os territórios digitais para
retomar o controle dos territórios reais. (MONTEIRO,2015.)

O território da Luz

“a cidade é o produto de toda uma história que se


cristaliza e manifesta. O que interessa é seu
95
desenvolvimento, ou seja, suas mudanças no tempo. E
essas mudanças não obedecem às leis evolutivas, mas o
efeito de um antagonismo entre vontade inovadora e
tendências conservadoras. Uma das contradições do
nosso tempo está no fato de que as forças políticas
progressistas tendem a conservar e as forças políticas
conservadoras a destruir o tecido histórico das cidades.
“(ARGAN, p.244).

Aroldo Azevedo demonstra que as festas feiras e eleições são os embriões de


cidades brasileiras.

Não foi diferente a estruturação da cidade de São Paulo e as características


das “políticas culturais” dos grupos detentores do poder, nos vários momentos
da história. A criação mesma da ordem dos jesuítas tratou de uma política
cultural encomendada por D. João III. As procissões e obrigatoriedade de
comparecimento em datas festivas nos séculos XVII e XVIII também.

Procissões foram usadas durante séculos, como forma de impor aos


moradores o beneficiamento de seus lotes, pinturas das fachadas dos imóveis
e o comparecimento obrigatório. Na procissão de Corpus Christie de 1808, a
mando do governador Franco da Horta a cidade foi cercada e todos os homens
e meninos presos por semanas, depois alistados e enviados a revelia, levar as
fronteiras à margem setentrional do Prata. Neste período, mapa de Rufino
Costa (1810) mostra o quartel e a casa de detenção da Luz, um traçado que
leva ao Tietê, possível trajeto de despedida dos homens que seriam
encontrados treze anos depois, sem soldos e sem sal para conservar comida.

Em 2017, em um domingo durante o evento “Virada Cultural”, população em


extrema vulnerabilidade é também levada à força para internação, paralisando
uma política de acolhimento.

A Faculdade São Francisco foi importante polo de atração para jovens da


aristocracia e se configurou como um dos maiores celeiros das artes Paulista

96
no século XIX. A forte influência das escolas que hoje fazem parte da USP na
construção e administração do território.

Na primeira república, três dos seis prefeitos eram formados pela Faculdade de
Direito de São Paulo. Na era Vargas (entre 1930 e 45) a prefeitura foi marcada
por engenheiros e engenheiros militares, sendo que ao menos quatro deles
provenientes da POLI. Destaque para Anhaia Melo (1930-1931) que virá a
fundar, com outros professores da POLI, a Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo FAU, e o engenheiro Fábio da Silva Prado (1934-1938) que,
formado na Bélgica, cria o departamento de cultura e convida Mário de
Andrade. Também passou pela prefeitura, por apenas dois meses, Theodoro
Augusto Ramos. Segundo dados do Wikipedia, ele introduziu no Brasil a
Análise Matemática moderna é considerado o mais brilhante e o mais
cientificamente produtivo de sua geração. Formou-se em Engenharia Civil na
Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1917) com a tese de título Sobre as
Funções de Variáveis Reais. Como professor da POLI. realizou pesquisa sobre
a Relatividade Geral e a Teoria Quântica no Brasile chefiou a comitiva
acadêmica que foi à Europa (1934) contratar pesquisadores para a recém-
criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo
(FFLCH), da qual foi o primeiro diretor.

No trabalho Os Meandros dos Rios nos meandros do Poder, Odete Seabra


discute a íntima relação da POLI com a cheia de 1929 e as posteriores obras
de retificação do Rio Pinheiros e da atuação do engenheiro Billings durante a
desapropriação dos terrenos lindouros, reversão do rio e construção da represa
que hoje leva seu nome.

ANEXO 1

Documento divulgado pelo jornalista Luis Carlos Azenha demonstra que o


golpe militar de 1964 se perpetuou devido à influência de Roberto Marinho que
literalmente convenceu os militares e diplomacia estadunidense dos perigos da
esquerda no Brasil daquele momento e necessidade de suspensão das
eleições que haviam sido prometidas.

97
Em 1968 foi divulgado o relatório de Jader Figueiredo Correa, que dava conta
do genocídio dos índios, especialmente no Mato Grosso. Somado aos
protestos estudantis de abril e maio, e da greve de trabalhadores em Osasco
em junho, o governo militar baixou o AI5 e fechou o congresso.

Hoje o jornalismo da Globo apoia abertamente a bancada ruralista, cada vez


maior no Parlamento.

Passamos agora a verificar a ligação da USP (e indícios de ligação destes


pesquisadores à corrente política neoliberal, bem como às empresas de
jornalismo ligadas à família Marinho) no processo de gentrificação no território
da Luz.

1968 / 2018

Após um ano de aproximação à área da Luz, considerando especialmente o


recorte norte e sul da Estação da Luz, é possível confirmar a proposição de
Frúgoli e Skair (2009) que buscam compreender, numa perspectiva
etnográfica, o processo de forte gentrification em curso no bairro da Luz, entre
processos de preservação patrimonial de instituições culturais, intervenções
urbanísticas e o uso histórico.

A expulsão das classes populares é um dos graves problemas que grandes


obras fizeram em todo o tecido urbano durante o século 20.

Minhocão

Durante a ditadura militar, São Paulo teve nove prefeitos biônicos, sendo o
último Mario Covas, entre 1983 e 1985.

Enquanto dois “Plano Nacional de Desenvolvimento” promoviam forte redução


orçamentária às cidades do Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo receberam
forte migração interna de trabalhadores que, fugidos da seca, buscavam a
indústria.

Em 1983 o governador do estado Franco Montoro indica Mario Covas para


prefeito, que lança o Projeto Luz Cultural, liderado por Regina Meyer –-
Diretora do Departamento do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo -

98
DPH, órgão da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo,
1983/1985.

Em 1985 acontece o desmembramento do MEC, consolidando o MinC. No ano


seguinte surge a lei de incentivo fiscal para investimento em cultura.

Em 1985, finda a prefeitura de Covas, Regina Meyer passa para a Secretaria


de Estado da Cultura de São Paulo, com Franco Montoro, governador. Atua
como Coordenadora do Projeto Luz Cultural e do Projeto das Oficinas Culturais
Três Rios e em 1990 passa a trabalhar com Marta Dora Grostein.

Em 1988 foi promulgada nova Constituição incluindo a Função Social da


Propriedade.

Na Prefeitura, (1989-1992) Luíza Erundina, a segunda prefeita eleita, restaura


o Palácio das Indústrias e transfere a prefeitura para o vale do Tamanduateí.
Restaura o Solar da Marquesa, ao lado do Pátio do Colégio e transfere o DPH.
O grupo Teatro da Vertigem, dirigido por António Araújo também ensaia nas
dependências do Solar. Erundina também apoia o Teatro Vocacional e gesta,
com Paulo Freire como secretário da Educação, os Centros Educacionais
Unificados, que virão a ser construídos na gestão de Martha Suplicy e
resultará em um significativo aumento da qualidade devida das periferias.

(1990) constituída a UCL – Unificação das Lutas de Cortiços

(1991) lei Moura (Lei 10,928/91) para reabilitação de edifícios encortiçados.


Criados os MMC Movimento de Moradia do Centro, MSTC Movimento dos Sem
Teto do Centro, o Forum dos Cortiços, entre outros.

(1991) Operação Urbana – exclusivamente para as obras do Anhangabaú.

Em 1991, com Fernando Collor na presidência e Fleury governador, é criada a


Associação Viva o Centro pelo Bank Boston (dirigido por Henrique Meireles)
com as seguintes instituições: Bolsa de Valores, Bolsa de Mercadorias, bancos
nacionais, internacionais e públicos, Federação do Comércio, Assssociação
Comercial, Federação das Indústrias, Rotary Clube, Associação das Empresas
de Crédito, Financiamento e Investimento, Associação das Empresas
Distribuidoras de Valores, Federação Brasileira de Associações de Bancos

99
(FEBRABAN), Associação Brasileira de Bancos Internacionais e Sindicato dos
Bancários.

1995 1999 e 1999-2001 Mario Covas no governo do estado larga segundo


mandato

O Complexo Cultural Júlio Prestes

“Este projeto, que recebeu no ano 2000 o Prêmio ECO de Cultura da


Câmara Americana de Comércio, transformou a antiga Estação Júlio
Prestes num Complexo Cultural de padrão internacional, contemplando a
implantação de uma sala de concertos, que recebeu o nome de Sala São
Paulo, salão para música de câmara, estúdio de gravações, salas de
ensaios, restaurantes e garagem para 600 veículos. As suas dimensões
e um sistema de forro totalmente móvel, único no gênero, criaram na
Sala São Paulo as condições ideais para a execução de qualquer tipo de
música, fazendo dela uma das melhores salas de concerto do mundo.

A Associação Viva o Centro teve participação decisiva na articulação da


parceria montada para a sua realização. Esta parceria envolveu o
Governo do Estado, a Telefônica, da Nossa Caixa e o BankBoston com o
apoio do Ministério da Cultura.

A Associação Viva o Centro promoveu ainda estudos urbanísticos


visando a requalificação do histórico bairro central da Luz, onde se
encontra o empreendimento, e editou o livro "Pólo Luz - Sala São Paulo,
Cultura e Urbanismo", que registra todos os projetos e estudos
realizados, potencializando a vocação cultural do bairro da Luz.

O projeto do Polo Cultural Luz foi recentemente ampliado, com o


acréscimo Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, antiga Universidade
Livre de Música (ULM), funcionará no Largo General Osório no
"Memorial à Liberdade" instalado no recém-recuperado edifício do antigo
DOPS, que, agora, abrigará o Memorial do Cárcere e o Museu do
Imaginário do Povo Brasileiro.”

(ASSOCIAÇÃO VIVA O CENTRO)

O argumento era que São Paulo, como cidade mundial emergente, deveria
atrair o terciário de excelência e o quartenário. Os equipamentos culturais
teriam, nesta visada,

100
(2001 – 2004) Martha Suplicy criou as Prefeituras Regionais e um mecanismo
de participação popular em decisões de priorização de investimentos, o
programa Orçamento Participativo. Uma vez vinculados, incentivaria um
relação de vizinhança na gestão pública. O território de Luz faz parte da Sé.

Em uma curta atuação, o prefeito José Serra manteve a divisão, efetivando


seus sub-prefeitos, mas suspendendo o programa Orçamento Participativo. Ele
nos legou também Gilberto Kassab, responsável por dar continuidade aos
esforços do projeto Monumenta, agora com o título de Nova Luz.

A prefeitura de Fernando Haddad, além do Programa Braços Abertos, com


Fernando Mello Franco na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano
coordenou a proposta Arco Tietê, com a chamada de ideias e soluções em
audiências públicas e em que a estive ligada na condição de pesquisadora no
NUTAU, que reunia esforços com escritório cuja proposta chegou a ficar entre
as 17 selecionadas, não podendo ir adiante no detalhamento pela falta de
destinação de verbas. Tratava-se de um estudo para uma área maior que a ilha
de Manhatan, com a participação da população, que reorganizaria as áreas
norte e sul do rio Tietê.

Imagem da proposta final do grupo vencedor, disponível em


https://www.urbem.org.br/p3-arco-tiete

101
Conclusão

O objetivo do trabalho é discutir a organização de documentos e informações


de forma georreferenciada e em eixo cronológico-histórico: Ação X Tempo X
Espaço. A mesma interface dará suporte para os jogos propostos para
intervenção participativa no espaço.

É possível afirmar que a ação do Estado, ou das instâncias do poder, nas


manifestações culturais especialmente voltadas à melhoria da cidade acontece
de formas diversas desde o momento que as civilizações letradas aqui
aportaram.

A Companhia de Jesus tinha como preceito a total abnegação e obediência em


uma rígida hierarquia. Padre Anchieta cria a primeira gramática da língua tupi e
investiga as características dos cultos e ritos dos povos. A introdução do teatro
como instrumento de catequização usou elementos simbólicos da cultura tupi
na criação das personagens que serão interpretadas pelos próprios indígenas.

Para Viveiro de Castro o xamanismo ameríndio, definido como habilidade de


cruzar deliberadamente as barreiras corporais entre as espécies e adotar a
perspectiva de subjetividades “estrangeiras”, é guiado pelo “ideal de que
conhecer é “personificar”, tomar o ponto de vista daquilo que deve ser
conhecido.” De alguma forma e em determinada proporção, podemos afirmar
que a tradição ocidental greco-europeia da mimese aristotélica encontra na
cultura local uma tendência inata à aceitação, assimilação e adestramento.

Jacques em As you like it de William Shakespeare

O mundo todo é um palco. Todos os homens e mulheres


são atores e nada mais. Cada qual cumpre suas
entradas e saídas, e desempenham diversos papéis
durante os sete anos da existência. Primeiro é a criança
que berra e baba nos braços da babá. Depois é o
menino chorão que se arrasta como um caracol e faz
manha para não ir à escola. Depois é o amante cheio de

102
suspiros que faz baladas tristíssimas para cantar as
sobrancelhas da amada. Depois é o soldado com seus
estranhos juramentos, barbado feito um bicho, espada
pronta a perseguir a glória, mesmo entre a fala em fogo
dos canhões. Depois é o juiz de pança ilustre, olhos
severos, barba comme il faut, a boca plena de palavras
sábias e outras banalidades de ocasião. No sexto ato
troca o figurino pelos chinelos de Pantaleão, os óculos
plantados no nariz [...] as calças do passado, assim,
bufantes, porque já não há carne como dantes, e a voz
tonitruante de outros dias se muda num falsete de
criança. E enfim começa a cena derradeira, como
arremate dessa estranha história, que finda no completo
esquecimento, sem olhos, sem memória, sem mais
nada. (Ato II, Cena VI)

A noção marxista de falsa consciência foi apropriada pela psicologia social


como um fenômeno psicológico-cognitivo, produto da sociedade capitalista. “A
noção de falsa consciência permanece como um constructo teórico útil, (...)
como um fenômeno fundado na própria realidade social: em particular, a
realidade material. do capitalismo tardio e da cultura pós-moderna”.
(AUGOUSTINOS, p. 295)

Sloterdijk diagnosticou nossa cultura como sofrendo de falsa consciência


iluminada.

A "falsa consciência" é um termo marxista que se refere a personagens sociais


impostos pelo capitalismo. Karl Marx que refletiu sobre a importância de
defender os direitos dos trabalhadores frente às consequências do capitalismo,
identificou a falsa consciência como uma contradição que o ser humano adota
em sua atitude de assumir um papel que na realidade não o beneficia. Deste
modo, o homem não é consciente de sua situação no mundo e tem uma visão
distorcida da realidade como se não pudesse ver as coisas como realmente
são.
103
O trabalho de reconstituição histórica por cronologia foi feita para discutir uma
interface gráfica para um jogo, como objeto de investigação da pesquisadora.
(um pequeno rascunho referente á formação do território estudado e as
manifestações culturais em ANEXO 2

104
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105
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https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/123877/120050

106
Anexo 1

107
108
109
Anexo 2

Anexo 2

Eixo Cronológico da Luz

A todos os que aqui viveram desde os primeiros tempos do vilarejo escolhido


pelos jesuítas, a topografia da cidade foi determinante.

A imagem acima ilustra a topografia da região metropolitana nos dias de hoje,


depois grandes obras de retificações, inversões de rio e alagamentos para a
construção de represas que outra vez definiram, pela topografia, o destino da
cidade, como se verá. Porém é possível perceber as áreas mais altas em
vermelho em Santo André e o espigão de São Paulo.

João Ramalho estabeleceu uma povoação Santo André da Borda do Campo e


os jesuítas Manuel da Nobrega e Anchieta avançaram até o aldeamento
conhecido como Piratinin. Estabeleceram-se próximo à várzea de um rio que
corre para o Tietê e este flui em direção ao sertão.

110
Na imagem acima (no recorte a retificação do rio Tamanduateí), apesar de a
região também ter sofrido grandes obras de aterramentos e retificações de rios,
é possível perceber as diferenças de quota e inferir regiões alagáveis.

Em carta a El-Rei D. João em 1554, Manuel da Nóbrega descreve os nativos


de Piratinin: “há muitas gerações que não comem carne humana, as mulheres
andam cobertas e não são cruéis em suas guerras”.

Os jesuítas quando optaram pela tática missionária de doutrinar os piás, filhos


dos índios, a música foi usada como um dos primeiros instrumentos de
catequização. Já “na Bahia o padre Aspicuelta Navarro inaugurara o sistema
i
de aproveitar-lhes as cantigas lascivas, transformando-as em cânticos de fé”.

A Capitania de São Vicente recebe inicialmente o padre Leonardo Nunes, que


vem, segundo Carlos Penteado de Rezende, acompanhado pelo irmão Antonio
Rodrigues, mestre de canto e flauta em 1550. Padre Manuel da Nóbrega
comenta:

“a música e a harmonia das vozes se atreva a trazer a si todos os gentios da


América” ii.

Logo a vila tem charamelas, flautas, trombetas, baixões, cornetas e fagotes. A


vila quinhentista canta. Segundo Menezes “A música era-lhes como que um
pão nosso de cada dia. De manhã cantavam os índios coros religiosos em
louvor de Jesus e da Virgem; nas aulas, entoavam ladainhas; ao cair da tarde,

111
saíam em procissão, cantando pelas ruas em alta voz cantigas santas em sua
língua” iii.

A Companhia de Jesus se utiliza do repertório conhecido pelos índios será a


característica marcante também do teatro jesuítico, que usará não só a língua
como também seus símbolos. Trata-se de estratégia de dominação por meio
do desmonte dos mitos, crenças e rituais indígenas.

Na obra de Anchieta a antropofagia, a poligamia, a embriaguez pelo cauim e a


inspiração do fumo queimado nos maracás são associados à manifestação
demoníaca, encarnado pelo personagem Anhangá. O texto caracteristicamente
maniqueísta usa termos da cosmologia indígena para ilustrar conceitos
cristãos. Seu personagem do bem o karaibebé. karaí era o vocábulo, segundo
Anchieta, que os índios chamavam a tudo o que achavam ser sobrenatural,
até mesmo os portugueses foram chamados caraíbas, e karaí acabou
recebendo, inclusive, em alguns vocabulários o significado de cristão, mas
estudos mostram que os karaí eram índios que circulavam livres pelas tába,
pois eram tidos como curandeiros, e como conhecedores das palavras dos
ancestrais, dos costumes, do passado e daquilo que poderia acontecer no
futuro para os indivíduos, principalmente em se tratando de guerreiros.

Pregação Universal em português e tupi estréia, segundo Serafim Leite,


primeiro em Piratininga, sendo levado depois para São Vicente. A
representação acontece considerando a ordem de Roma, ao ar livre no pátio
da igreja, como na tradição medieval das apresentações dos Mistérios. Consta
que se deu sob ameaça de um temporal. Como, a pedido de Anchieta, a
audiência permaneceu para assistir ao espetáculo, e o dilúvio que se
anunciava caiu apenas após o final da festa, o episódio foi considerado como
uma prova de que os membros da Companhia eram enviados de Deus. Essa
passagem, somada a outra semelhante que viria a acontecer em Niterói
quando da apresentação de A festa de S. Lourenço, constam da lista de
milagres no processo de canonização desse nosso ilustre beato.

112
Em 1560 já havia Câmara Municipal de São Paulo e a Irmandade Santa Casa
de Misericórdia. Na década de 1590 chegam a Venerável Ordem Terceira de
Nossa Senhora do Monte do Carmo e os Beneditinos. A população de São
Vicente captura índios para trabalho escravo, inclusive através de ataques a
missões. A penetração facilitada pelo Rio Tietê viria estabelecer o
bandeirantismo, com intenções e ambições que logo entra em conflito com
jesuítas, que extrapola a colônia e chega ao papa. Urbino VIII publica que
excomunga solenemente aquele que cativasse índios.

A Nobiliarquia Paulistana entra em guerra. Seguem-se 20 anos de, segundo


Amador Bueno, acontecimentos sangrentos, obscuros, irregulares.

A cidade é edificada e mantida com a participação direta de seus moradores.


Assim, destaca Affonso Taunay, vemos que em 1615 a Câmara convocou

“todos os moradores para que acudissem com ferramentas, foices, machados,


enxadas e mantimentos para irem fazer as pontes do Caminho do Mar por
assim ser necessário” iv.

Da mesma forma vemos a produção das procissões passarem a constar das


atas da Câmara. Em 1623, nos preparativos da procissão de Santa Isabel,
“festa d´El Rey”, são convocados todos os moradores sob pena de 2 tostões de
multa, a limpar, carpir as testadas das casas. 1625 ata de 15 de fevereiro
resolve que para a procissão dos Passos cada morador “mandasse seu negro
com sua enxada a carpir o adro da matriz e da praça desta dita villa” v.

Entre 1632 e 49 os ausentes são efetivamente multados e em 51 são os


oficiais mecânicos intimados a comparecer com todas as suas insignias vi.

A cidade se constrói sem padrões urbanísticos propostos pelo poder público,


mas este impõe ao usuário ambos, construção e manutenção das áreas
comuns e acessos da cidade e a produção da festa religiosa tomada como
produção do cenário do espetáculo. Apenas em 1640 será proibido construir
sem arruamento oficial. Em 1636 a vila teria engenheiro.

Em 1653 a volta dos jesuítas é comemorada na Matriz. Em 1655, através da


intervenção jesuíta, a guerra civil tem uma trégua em que é redigido um acordo
que determina a política da vila constituída de um juiz e um vereador de cada
113
uma das partes (das famílias Pires e Camargos), além de um procurador geral
neutro.

O apaziguamento definitivo da guerra civil Pires-Camargos, porém, acontecerá


apenas em 25 de janeiro de 1660. Como comemoração, propõe o Ouvidor
Geral Dr. Pedro de Mustre Portugal que se construa “uma grande obra de
utilidade pública: o restabelecimento do Caminho do Mar. Os principais
caudilhos em luta, a tanto se comprometeram solenemente. (...) Assim, pela
primeira vez, viram-se pelo Caminho do Mar veículos transitar” vii.

No ano seguinte acontece a elevação da vila a capital.

Para as comemorações da vitória na guerra da restauração há documentos de


que a vila ascendeu luminárias e fez demonstrações de alegria, às custas do
povo e por ordem do poder.

O fim do século XVII é marcado pelas descobertas de grandes veios de ouro,


como as minas de Cataguás, nas investidas contra os índios e expedições de
busca de metais e pedras preciosas. Na vila acontece a formação de cabos de
tropas, arrolamentos de homens, fornecimento de víveres, além de motins e
pouca vereança.

Com as entradas há demanda de mão de obra, e os problemas com


abastecimento são agravados pela especulação do metal. Em 1699, em carta
régia de 15 de janeiro, D. Pedro II cria a Casa da Moeda em São Paulo. A
Casa da Real Fundição será em meados do século seguinte a Casa da Ópera,
o primeiro edifício teatral da cidade.

Depoimentos de estrangeiros, como o francês Froeger descreve que a cidade


de São Paulo em 1697 não é súdita, mas apenas tributária dos reis de
Portugal. Uma república cuja lei consiste em não reconhecer autoridade de
governador algum.

No mesmo ano em que o padre jesuíta Bartolomeu Lourenço Gusmão, natural


de Santos, está fazendo suas experiências com a ‘Passaiola’, um balão de ar
quente, investigações que levarão o nosso ‘Padre Voador’ a condenação pelo
Santo Ofício por feitiçaria, D. João V libera a navegação de escravos para
vender para São Paulo e suas minas. Permitia a entrada de mão-de-obra em
114
qualquer número. Dois anos depois, carta régia de 11 de julho de 1711 dá a
São Paulo o título de Cidade, porém o pedido de elevação a diocese é negado.
Os homens do Conselho passam assim a ser Senadores.

Nesse momento o espetáculo é um desfile das hierarquias do poder.

“(...) ordenava-se aos moradores que tivessem as suas testadas, por onde teria
de passar o préstito, limpas e varridas, e as portas e varandas ornadas com
colchas ou sedas, na forma costumeira e tradicional. Caiar-se-iam as paredes e
muros tapando-se as covas e buracos acaso existentes pela vizinhança ou
junto às testadas. Não o fizessem os moradores se tornariam passíveis de seis
mil réis de multa e trinta dias de cárcere.” viii

Estão registradas atas que documentam a coibição de turbas de rapaziadas


nas procissões, em que consta que não se poderia assistir à procissão pelos
lados, mas apenas na frente ou atrás do cortejo; os problemas voltam a ser
registrados nas festas de São Sebastião de 1715 quando são registradas
reclamações pelas ausências e em 1718 há um conflito entre a Câmara e
três das quatro religiões: carmelita, jesuíta e, franciscana, que não
compareceram à mesma procissão de São Sebastião.

Ocorrem novas descobertas de jazidas e em 1720 acontece a criação das


Capitanias de São Paulo e de Minas Gerais, sendo a cidade de São Paulo a
capital. Os ingovernáveis paulistas passam a receber Capitães-Gerais
Governadores.

Estando São Paulo sob o comando do terceiro governador, Caldeira Pimentel,


acontece abstenção em massa à procissão de São Sebastião de 1728.

Começam a aparecer em atas as discussões sobre as hierarquias das


corporações que rodeava o estandarte real no cortejo, bem como o pagamento
de elementos usados na produção dos eventos como a lenha da fogueira de
São João ou por ocasião do parto da Princesa, as luminárias, despesas com a
missa cantada e Tedeum Laudamus, ordenando em edital que o povo fizesse o
mesmo.

115
A procissão do Corpo de Deus é sempre acompanhada pela dança dos oficiais
mecânicos e bailados característicos. Em 15 de fevereiro de 1738 surge a
questão do poder municipal conservar as vias públicas:

“por ser Rua por onde costuma paçar Prosiçoins” ix.

Definiu-se que o próximo governo decidiria. Este, porém, nada fez.

Manifestações populares documentadas na época

Em 1728 o Ouvidor Geral intima os estudantes do colégio (dos jesuítas) a não


realizarem festa religiosa sem sua licença.

Carta de D. João V respondendo a Caldeira Pimentel:

“ (...) com pouco menos antigüidade que a dos descobrimento do Brasil, venera
nele, como Padroeiras, as Onze Mil Virgens, sendo os estudantes dessa
Capitania os que se empenham mais nos seus aplausos e festejos; e com a
modéstia e os Bandos, danças e entremezes, e alardes, em que por muitos
dias antecedem ao da festa das Santíssimas Virgens costumam andar pelas
ruas: e para o poderem fazer pedem licença aos Governadores nas Cidades,
em que os há, e nas Vilas as Capitães-mores delas; o que se observava no
tempo de Vosso Antecessor, sem que neste particular houvesse a menor
oposição dos Ouvidores”. x

A Matriz de São Paulo torna-se Sé em 1745 com a instauração da diocese


paulistana em 6 de dezembro pelo sumo pontífice Bento XIV através da bula
Candor Lucis Aeternae deixando assim de estar subordinada ao Bispado do
Rio de Janeiro.

A cidade, porém, recebe capitis diminutio quando alvará reduz a Capitania de


São Paulo a Comarca da circunscrição fluminense. Dois anos depois a
situação piora com a coroação de D. José I. Tinha assim início a campanha de
Pombal na demarcação inter-ibérica com ataques às missões dos jesuítas
espanhóis e toda a Companhia de Jesus. Trata-se de período de forte
militarização e despovoamento. Os jesuítas são expulsos de Portugal e todas
as Colônias em 1759.

Em 1774 chega de Portugal o mestre de capela André da Silva Gomes, que

116
atuará também nas festas e procissões e como professor de uma geração de
músicos. Estes trabalhos nos chegam através das pesquisas dos maestros
Régis e Rogério Duprat a partir de cópias de Manuel José Gomes, pai de
Antonio Carlos Gomes, o compositor de O Guarani.

Conforme a informação de Aluisio de Almeida, “na segunda metade do século


XVIII, influência do reinado de d. José I, entrou a música de ópera a misturar-se
com o cantochão nas igrejas de São Paulo, cantochão que vinha todo num livro
único, o Theatrum Ecclesiasticum” xi.

Na Europa os experimentos mecânicos com o uso do vapor recebe a


contribuição de James Watt, que cria a válvula que possibilitaria a ampla
disseminação em fábricas, trens, automóveis. Londres rapidamente se
transforma. Nascem duas classes sociais opostas: burguesia e proletariado. A
cidade cresce rápida e desordenadamente.

São Paulo é descrita em 1783 como:

“É (a cidade de São Paulo) cabeça da capitania, onde residem os generais e


bispos e tem duas comarcas – uma da sua ouvidoria e outra da vila de Paranaguá.
Os habitadores da cidade vivem de várias negociações: uns se limitam a negócio
mercantil, indo à cidade do Rio de Janeiro buscar as fazendas para nela
venderem; outros, da extravagância de seus ofícios; outros vão à Viamão buscar
tropas de animais cavalares ou vacuns para venderem, não só aos moradores da
mesma cidade e seu continente como também aos andantes de Minas Gerais e
exercitam o mesmo negócio vindo comprar os animais em São Paulo para os ir
vender a Minas, e outros, finalmente, compram alguns efeitos da mesma capitania,
como são panos de algodão e açúcar, e vão vender às Minas, labutando nesta
forma todos naquilo a que se aplicam.

É a cidade aprazível pelo terreno e saudável pelos ares e não é muito pequena,
pois se conhece a sua grandeza pelo número das ruas, (...), porém, de serem a
maior parte das casas térreas e as ruas mal ordenadas e calçadas.

Tem vários templos, como são: a Sé, os conventos do Carmo e de São Francisco,
São Bento, Santa Teresa, São Pedro, o Colégio que foi dos denominados jesuítas,
em que assiste o bispo, o da Misericórdia, Santo Antônio, Rosário dos Pretos e
São Gonçalo dos Pardos, entre os quais tem alguns bem acabados e magníficos,
e fora da cidade, em distância de trezentas braças mais ou menos, está o
recolhimento da Luz, onde vão os magnatas da cidade e o mais plebeu, por
xii
passeio, divertir-se” .
117
A conclusão da construção da Calçada do Lorena em 1792 e nova ligação
calçada entre o literal e a Capital da Província.

A Casa da Ópera, que é o primeiro edifício de que se tem documentos, foi


inaugurado certamente durante o governo de Bernardo José Lorena, que fez
em São Paulo melhoramentos urbanísticos, tais como a ponte do Anhangabaú,
o chafariz da Misericórdia, o empedramento da Serra do Mar, planta urbana e a
primeira análise química das águas destinadas ao abastecimento da cidade.

Desta época a cartografia dos engenheiros militares atuantes na Capitania de


São Paulo, território comumente visto como economicamente periférico e mais
autônomo face aos desígnios da Coroa portuguesa. Em campo, com bússola e
relógio em punho, os contornos dos rios delineavam-se em
simples "borrões" riscados a lápis num caderno de notas ("o borrador ou
caderno de lembrança") No gabinete, os rascunhos eram passados a limpo.
Uma trama ortogonal balizava as primeiras, as segundas e as terceiras
reduções dos desenhos, em diferentes escalas gráficas.

118
No final do século XIX o limite norte da cidade era advinda da própria
topografia, desenhada pelos vales do Tamanduateí e os campos do Guaré,
locais planos que ligavam a cidade ao rio Tietê. No Campo do Guaré ou
Caminho do Guarepe, (que em linguagem indígena significa “matas em terras
molhadas” dadas as frequentes cheias dos rios Tamanduateí e Tietê). Ali havia
uma pequena capela dedicada à Nossa Senhora da Luz. Em 1774 o
governador da Capitania Morgado de Matheus destinou os terrenos a um grupo
de religiosas, lideradas pelo frei Antonio de Sant’Anna Galvão, para a
construção do convento da Imaculada Conceição da Luz.

119
Chegada da Família Real

A virada do século traz consideráveis mudanças. A 29 de janeiro de 1800


Napoleão e Carlos IV de Espanha assinam o Tratado de Santo Idelfonso. Com
a crise na produção de cana-de-açúcar, São Paulo começa a desenvolver
alguns circuitos urbanos de riqueza, mais que lugar de entroncamento de rotas
e comércio, intercâmbio entre o planalto e o litoral. A cidade ganha mais duas
bicas, de Piques e Açu, tendo sido a condução do líquido às custas dos cofres
da Capitania.

Assume o governo José Franco da Horta em 1802, o pior, mais prepotente e


mesquinho governador até 1811, com uma pequena interrupção em 1808.

1810 carta régia manda fundar A Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema
“para extracção do ferro das minas que existem na Capitania de S. Paulo”.

As comemorações reais neste período começaram em 1802, quando veio


ordem da Metrópole para comemoração do parto de Dona Carlota Joaquina. D.
120
João VI motivará diversos eventos, quando o povo de São Paulo é obrigado a
demostrar fidelidade à Coroa.

Com o agravamento da crise na Europa, através do Bloqueio Continental e da


invasão napoleônica, a família real foge, chegando ao Rio de Janeiro em 1808.
Grande motivo de comemorações.

Os festejos começariam por iluminação geral da cidade, tríduo e atos religiosos


determinados pelo chefe da Igreja Paulista. As festas, passada a quaresma,
constariam de três dias de cavalhadas sérias e um dia de cavalhada burlesca
dadas pelos coronéis e tenentes-coronéis dos corpos milicianos. Três noites de
encamisadas feitas pelos mesmos cavaleiros seguir-se-iam executadas com
iluminação da praça. E simultaneamente um carro do Parnaso oferecido pela
estudiosa mocidade em que cada qual desse à luz as produções poéticas de
sua imaginação alusivas ao mesmo objeto. Haveria também fogos à custa dos
negociantes da cidade, três ou quatro noites de óperas que seriam
proporcionadas pelo corpo da Legião. Foram os juizes dos ofícios de ourives,
entalhadores, ferreiros, sapateiros, alfaiates, pintores, etc. avisados de que
teriam de exibir carros de danças feitos à custas das Artes e Ofícios
Mecânicos xiii.

Terminadas as comemorações o governador vai ao Rio ter com a família real e


se incumbe de constituir uma legião para lutar nas margens setentrionais do
Prata. Escreve Machado Oliveira :

“ainda estremecem os paulistas com a recordação desta


grande calamidade a que se deu o nome de recrutamento
para o completo da legião, e do batalhão de caçadores de
Santos, considerados em sua nova organização. E ao
governador Horta, que regressava do Rio de Janeiro onde
fora render vassalagem à família real, e pois que estava
reconhecido em firme adesão aos interesses dos
pretendentes, e viera assaz iniciado no formulário de
proceder com vigor nesses interesses, a ele cometeu-se,
exclusivamente, a execução desse recrutamento, que o
praticou com inaudito rigorismo desenvolto com clamorosas
121
tropelias e crueldades.

Começou o recrutamento em massa na capital em 1808, e


no dia em que a Igreja consagra festejos do Corpo de Deus,
festividade essa que, como se sabe, há sempre grande
concorrência de povo. Houve formatura de tropa na praça do
palácio, para onde afluiu quase inteira a população da
cidade, e ao terminar-se a solenidade do dia, correram
subitamente de vários pontos do exterior da praça corpos de
tropa armada tomando logo as bocas das ruas que vão ter à
praça, e postas sentinelas nas entradas das casas do seu
recinto para que nenhuma evasão houvesse, foi apreendido
indistintamente o povo que era ali assistente, e levado
tumultuariamente ao quartel dentro de um grande círculo de
soldados; e ali passou o dia e pernoitou amontoado, sem
abrigo e provimento. E o governador, que das janelas do
palácio presenciava esse grave atentado com o desdém de
superioridade brutal, regozijava-se dos bons efeitos daquela
obra traçada pelas mãos da iniquidade” xiv.

Seguem-se o alistamento e incorporação às legiões. Estes paulistas serão


encontrados ainda em campo de batalhado sul 13 anos após o triste evento,
sem soldo, por mais de 2 anos, sem provimentos e comendo carne sem sal.

As procissões oficiais continuam acontecendo nos mesmos moldes, e há


documentos das festas de Corpus Christi, São Sebastião, Santa Isabel, Anjo
Custódio e as recentes procissão de São Paulo, São Francisco da Borja e
Patrocínio de Nossa Senhora.

O casamento da filha de D. João VI com o infante Pedro Carlos Bourbon de


Espanha foi festejado com luminárias impostas ainda por Horta. Quando
nasce o príncipe, a Câmara paulista providencia as funções públicas no
Pátio de São Gonçalo.

“Submetido o programa das ‘funções e brincos’ ao estudo


do Capitão General ao Bispo se oficiou pedindo-lhe a

122
celebração de uma série de atos sacros coincidentes com
a data dos atos profanos a que viriam dar maior relevo.
Rogava além de tudo a S. Ex. Revma. que ele e o Ilustre
Cabido honrassem com a sua presença a todas as
festas, como as de brinco de cavalhadas pois não eram
contrárias às religiosas pastorais e piedosa moral de S. E.
Revma. (..) Como as respostas haviam sido favoráveis e
elas eram animadoras fixou-se o plano de festas.

Quinze dias antes de seu início sairia pelas ruas da


cidade alta carro puxado por bestas e gente encoberta.
Nele iria montada uma figura fingindo de Mercúrio,
publicando o bando oficial e tendo ao lado outro
personagem simbolizando a Fama, a tocar um clarim com
as armas reais na mão direita. Um coro de música iria
sentado em roda no mesmo carro. Partiria este do Paço
Municipal indo pela rua de São Gonçalo ao largo do
palácio e percorrendo todas as ruas da cidade. Deste dia
em diante ficaria o povo autorizado a fazer seus brincos
até o dia do início das funções. (...) À noite ‘ópera franca’
e assim continuaria até o último dia de cavalhadas. Estas
se realizavam em São Gonçalo, com a possível pompa,
entretidos os intervalos com alguns carros apresentados
pelas diversas corporações de ofícios. Assim os
carpinteiros exibiram um carro com um navio, fazendo
danças à maruja, os alfaiates outro com diferentes
danças, os sapateiros apareciam com seus brincos,
contradanças e cavalinhos de cestos. Os celeiros,
ferreiros e mais ofícios combinados dariam três noites de
e camisadas além de um carro de contradanças cujos
brincos seriam distribuídos a arbítrio da Câmara nas
tardes das cavalhadas e touradas. Estas se seguiam às
primeiras, principiadas e encerradas pela entrada de
carros e danças. As noites seriam entretidas com músicas
123
pelas ruas e Largo do Palácio. Se a caixa de subscrição
‘voluntária’ demonstrasse ‘força’, que dessem tanto,
haveria, no dia da última tourada, mais uma função de
ópera franca. Isso se decidiria ou em lugar de tal
espetáculo seria ele suprido com o Parnaso e seu outeiro
a que se prestavam os ofícios combinados”. xv.

Não há documentação sobre a realização dos festejos; sejam eles escritos


ou desenhos.

Novas festas aconteceriam em 1812 pelo nascimento do segundo neto do


Regente, igualmente misturando eventos sacros e profanos, e para a qual foi
baixado edital liberando o uso da máscara e

“fazer todas as farças e brincos que lhe parecesse pelas


ruas até o dia da conclusão da festa” xvi.

Em 1812 acontece a ausência da Câmara à procissão de Patrocínio de Nossa


Senhora. A cidade recebe o primeiro monumento: a Pirâmide do Piques.

O fato de o Brasil ser elevado a Reino é novo motivo para comemorações. O


luto também recebe solenidade com pompas, cenário e adereços cênicos.

Cinco dias depois Te Deum pelo aniversário da rainha Carlota Joaquina, a 25


de abril. 13 de maio o aniversário de El Rei. 22 de junho exéquias de D. Maria I
na Catedral. Em julho acontece o ajuste do casamento de duas filhas de d.
João, outubro o casamento e maioridade do Príncipe D. Pedro.

1817 recebe mais uma data fixa de festejos: 6 de abril para ato solene de
demonstração de vassalagem. Trata-se de formalidades e antigos usos da
Monarquia. Aproveitando, a Câmara institui o habitual programa de festas:
tríduo, sermões, cavalhadas, danças, iluminação, pirotecnia “ à custa do conde
General”. A parte pirotécnica da festa fica a cargo de Daniel Pedro Müller,
coronel intimamente ligado à construção da cidade.

Para as festas religiosas os cofres municipais só concorreriam com a cera. A


praça de touros seria feita à custa de particulares salvo quanto aos três
camarotes do Governador, Câmara e Cabido e as trincheiras. A esta a Câmara

124
pagaria.

13 de maio: ajuste do enlace matrimonial do Príncipe e em 15 de junho o


casamento com D. Leopoldina. A 5 de novembro a Princesa chega ao Brasil e
São Paulo comemora entre os dias 12 e 14 de dezembro.

“A Câmara de 1818 em janeiro, ainda se via às voltas com a liquidação das


despesas das festas reais. Via-se atropelada pelo fornecedor das capas,
vestido e colete de seda branca e do chapéu de plumas que mandara fazer
para a personagem que devia servir de neto as festas reais.” xvii

Ainda que em dívidas, São Paulo foi chamada a produzir mais uma grande
festa pela coroação de D. João VI. São Paulo e todo o Reino devia seu
testemunho de contentamento.

“Foi preciso que o Governo Interino autorizasse o tesoureiro do cofre das


contribuições para a conserva do Caminho do Mar a emprestar-lhe quinhentos
mil réis, dinheiro que seria reposto no último trimestre de 1818, em três
prestações mensais” xviii.

16. Representação da iluminação no quartel para os festejos de recepção


de D. Pedro II em 1846

1825 procissão de Passos na Quaresma:

“ (...) O farricoco (que o povo chamava farrinoco) era um


125
pregoeiro, extravagantemente vestido com uma camisola suja,
tendo na cabeça um capuz do mesmo pano, que lhe cobria o
rosto, inteiramente, deixando apenas os dois buracos dos
olhos. Trazia uma trombeta na qual bufava notas
desconcertantes, e puxando-lhes as vestes, ou atirando-lhes
pedras.
O alarido das investidas dos garotos e o farricoco,
acrescentava à gravidade daquele soleníssimo ato um aspecto
singular de pantomima e de religião. A procissão do enterro
saía à noite, com aparatosa solenidade, da Igreja do Carmo.
Os carregadores do esquife vestiam dalmáticas, tendo a
cabeça coberta com o amito, e assim também iam as três
Marias. De espaço a espaço parava a procissão, a Verônica
vestida de preto erguia o véu, e cantava com estranha
compulção: ‘ O vos omnes, qui transitis per viam, attendite et
vide, si est dolor sicut dolor meus!’ (Oh, vós que passates pelos
caminhos, atende, e vede se há dor como a minha!)

Seguiam-se os anjos, e as irmandades, e ordens terceiras,


entre tochas; depois uma banda militar, tocando marchas
fúnebres” xix.

Começa aqui o mais curioso.

“Atrás do esquife surgia um centurião comandando legionários,


vestidos à romana, com capacetes de papelão e armaduras de
lata. Marchavam solenemente, muito convencidos da
importância do seu papel, o que provocava risotas e
comentários”. xx

Preocupados com a seriedade dos eventos religiosos,


começam Igreja e Câmara na década de 1830 a coibir tais
indisciplina e será proibido o uso da máscara nas procissões,
que ainda assim conservariam o aspecto burlesco. Peças
conhecidas na França como de caráter profano ou licencioso
são tocadas nos templos, durante as cerimônias,
126
responsabilidade dos mestres de capela. Em meados de 1850
Dom Antonio Joaquim de Melo proibiu a execução de música,
danças e peças profanas no interior destes.

A figura do mestre de capela e membros da Igreja em meados


do século XIX está eventualmente ligada ao fazer teatral como
músico ou regente de espetáculos, conforme Ernani da Silva
Bruno.

“Sabe-se que em meados do século a orquestra dirigida pelo


mestre de capela Antonio José de Almeida (Antoninho Almeida)
executava composições variadas quando se realizava qualquer
festa na catedral. Em geral composições do próprio maestro
Antoninho. Outras talvez de Paulo Fortunato Gonçalves Pereira
de Andrade, presbítero secular que compunha músicas sacras
e de salão e que foi também o autor da partitura da ópera
cômica ‘Palavra de Rei’, representada sem sucesso em 1861.
Ou ainda do padre Mamede (Mamede José Gomes da Silva),
que estudou de 1850-54 na Academia de Direito e que
compunha missas, ladainhas, antífonas e te-deuns para o culto
e também – observou Penteado de Rezende – peças de sabor
popular adequadas à comédia e ao ‘vaudeville’, como árias,
modinhas, coplas e danças, tendo sido cantada anos a fio no
xxi
teatro local a sua ‘Aria da Califórnia’.”

Vários estudantes atuavam como músicos e compositores. Deve-se lembrar,


também, que este período é marcado pelas serenatas noturnas.

Francisco de Assis Vieira Bueno (1830 – 40) documenta o caráter espetacular


na procissão de Corpus Christi, que é vista pela população como
entretenimento.

“Na falta de outras diversões, as festividades religiosas eram a


‘great attraction’, sendo que boa parte dos concorrentes não as
assistia por devoção, mas por passatempo, mesmo porque
nelas ordinariamente havia cenas impróprias da gravidade que

127
deve revesti-las. Na procissão de Corpus Christi rompia a
marcha a cavalgada de São Jorge, na seguinte ordem: um
cavaleiro chamado casaca de ferro, envergando uma armadura
de papelão pintado, que hasteava bandeirola vermelha com
cruz branca no centro; dois cavaleiros negros, vestindo calções
amarelos, coletes vermelhos e capas agaloadas da mesma cor,
tendo na cabeça chapéus com plumas. Um deles tirava de um
clarim sons descompassados e o outro tangia dois timbales.
Seguiam-se os chamados cavalos de Estado, mandados pelos
magnatas de terra, que nada tinham de notáveis, nem pela
estampa dos animais, alguns dos quais eram verdadeiros
sendeiros, nem pela riqueza dos jaezes suprida por uma
profusão de fitas baratas de variadas cores. Por fim vinha São
Jorge, montado em um cavalo branco, trazendo de cada lado
um pajem, que o segurava sobre a sela: era a figura de um
guerreiro, de cara redonda e rubicunda, com bigodes retorcidos
e olhos arregalados, vestindo arnês de ferro (pintado sobre a
madeira), capa de veludo carmesim agaloada, chapéu com
pluma branca e trazendo uma lança de riste.

Essa cavalgada dava à procissão a fisionomia de uma exibição


carnavalesca, mas era justamente isso que fazia as delícias do
rapazio da cidade e da gente da roça, que afluía em grande
número, até de bem longe” xxii.

Em meados de 1850 são registrados pelos jornais, novidade na cidade de São


Paulo, eventos de ordem religiosa e profana tais como a procissão de Passos,
que contava com a personagem do farrinoco, ou a morte, trajando camisola e
chapéu pretos chicoteando. A procissão de Corpus com a figura de São Jorge
já está em declínio entra em desuso e já inexiste em 1880. Mas o Correio
Paulistano documenta a procissão do Enterro, com guardas romanos
personificados que precisam fugir dos espectadores, a procissão de Cinzas, a
procissão do Triunfo. Antonio Egídio Martins comenta o cenário para as
procissões: ruas atapetadas de flores e de folhas de laranjeira e as casas

128
tinham suas sacadas cobertas por colchas, chales e tecidos adamascados.
Havia também eventos menores, ou com menor número de adeptos, como a
procissão de São João Batista.

A Irmandade dos Homens Pretos faziam as procissões de São Benedito de


Nossa Senhora do Rosário.

Assim, é possível perceber a importância do caráter espetacular das


procissões como polo de atração da população. E como polo a cidade se
fortalecia.

129
Mapa da Capital da Província de São Paulo, de Francisco de Albuquerque e
Jules Martin, de 1877

As próximas décadas assistem ao impulso progressista de D. Pedro II, com a


implantação de importantes ferrovias, sendo duas no Estado de São Paulo,
uma delas cortando a cidade e imprimindo o que virá a se configurar nos
bairros-estações.

Enquanto a cidade possuía pequenas dimensões essa falta de salubridade não


constituiu problema. A falta de infraestrutura urbana também não era
incômodo, pois era relativamente fácil abastecer-se de água potável e eliminar
os dejetos (até o final do séc. XIX o córrego Anhangabaú forneceu água para
os chafarizes).

Em 1827 D. Pedro promulga a lei que cria os “Cursos de Sciencias Jurídicas


em São Paulo e Olinda”. Mas, com algum receio quanto à assiduidade e ao
trabalho dos estudantes, José Clemente Pereira, em maio de 1829,
recomendava por ofício da parte de Sua Magestade, ao Diretor da Faculdade,
que não permitisse as representações dos teatros dos estudantes em teatro

130
público e mesmo de caráter particular durante o ano letivo.

No ano seguinte (1830), o Bispo Dom Manuel Joaquim, presidente da


Província, em carta endereçada ao Marquês de Caravelas, ministro do Império,
afirmava que em São Paulo não havia teatro, porquanto faltavam cômicos,
“ficara a casa em desuso e fora vendida a um negociante espanhol que a
comprara para outros fins. Constava-lhe, contudo, que vários estudantes do
Curso Jurídico a haviam alugado por cinco anos para a terem como teatro
particular destinado a seus divertimentos” xxiii.

Interessante notar ter sido feita em 1829 uma loteria com destinação para a
Casa da Ópera. Aparecem, também, nas atas da Câmara, referências à
Companhia dos Cômicos e espetáculos de rua, palcos e tablados. (RG20,206).

Em 1831 se dá a abdicação de D. Pedro I. Tedeum, luminárias e espetáculo


gratuito no Teatro da Ópera.

Em 1868 Castro Alves escolhe a cidade de São Paulo para morar e produzir
seus espetáculos, já então aplaudidos em Recife, Bahia e Rio de Janeiro. “O
meu trabalho precisa de uma platéia ilustrada. Precisa talvez mesmo de uma
platéia acadêmica. O lirismo, o patriotismo, a linguagem, creio que serão bem
recebidos por corações de vinte anos, porque o Gonzaga é feito para a
mocidade (...) Em suma, um elenco e uma assistência à altura do texto” xxiv.

O curso jurídico muda o perfil da cidade. As atitudes de irreverência e


desrespeito aos símbolos e leis caracterizam a vida dos estudantes, filhos de
aristocratas de todo o Brasil.

Em 1866 é inaugurada a linha férrea Santos – Jundiaí, passando por São


Paulo e em 1867 é criada a Companhia Paulista de Vias Férreas. Como
consequência, acontece a transferência para a cidade de grandes fazendeiros,
com o incentivo à construção civil, melhorias de produção de bens de consumo
e serviços, bem como urbanísticas, de meios de transportes, iluminação
pública a gás, entre outras.

A província era pontuada por igrejas e cercada por chácaras.

131
Em 1870 o regime de ensino livre abole a frequência obrigatória aos cursos
jurídicos, havendo uma grande evasão dos estudantes da cidade.

A primeira estação da Luz é inaugurada. No mesmo ano acontece a primeira


grande cheia e é feita a concessão de terras para a São Paulo Gas Company.

Entre 1860 e 1890 a população da cidade de São Paulo quadruplicou, forçando


um adensamento do Velho Centro. Até então os paulistas habitavam a região
entre o Tamanduateí e o Anhangabaú. As construções, em taipa e pilão sobre
o alinhamento das ruas, ocupavam os limites laterais do lote, conforme Nestor
Goulart dos Reis Filho xxv.

(1872-1875) João Xavier presidente da província cria linha de bondes puxados


a burros, as ruas são calçadas com paralelepípedos e iluminadas a gás. O
Jardim da Luz é transformado em parque à europeia com quiosques e
estátuas. Em 78 a cidade ganha a primeira caixa d’água e em 1879 Nottman e
Glete e a construção do viaduto sobre Anhangabaú.

As mulheres voltam a tomar assento na plateia em 1873, no chamado Teatro


Provisório, que será reformado em 1879 e seu nome mudado para Ginásio
Dramático. As temáticas teatrais no final de século são: teatro de tese, ligado ‘a
temática abolicionista, o teatro lírico, tido como ‘sério’, o teatro popular, o
tradicional, de fundo lusitano, e o ligeiro, no qual se inserem as operetas,
zarzuelas, ópera bufa, paródias, trololós e a revista.

Em final do século XIX e início do XX multiplicam-se as casas de espetáculos.

São construídos os teatros: Minerva em 1873, depois Apolo (rua Boa Vista), o
Provisório Paulistano, Ginásio Paulistano e das Variedades Paulistanas (em
uma travessa da rua Boa Vista), todos inferiores ao Teatro São José. Há
também casas de espetáculos em barracões de zinco: Politeama, em formato
circular, depois o Santana (na av. 24 de maio). São construídos também os
Teatro Eldorado, o Édem Club para uso particular, o Coliseu Paulista e o São
José novo, logo demolido para a construção do edifício da Light.

Nascem o Bairro do Chá, Santa Efigênia e Campos Elíseos. Somente entre


1881 e 1883 São Paulo assiste a abertura de 50 novas ruas. A inauguração
dos serviços da Companhia Cantareira de Águas e Esgotos é diretamente
132
responsável pela expansão da cidade.

Surge grande número de sociedades anônimas comerciais, financeiras e


industriais, em geral firmas individuais capitalizadas pelo café. A cidade torna-
se campo para investimentos de capitais acumulados e não reinvestidos no
café. OS imigrantes se reúnem em organizações e criam o Círculo Operário e
surgem Companhias Filodrammatica. Em 1881 o Círculo Operário solicita a
dispensa de pagamento de licença sobre espetáculos.

O golpe militar que derruba a monarquia acontece no ano seguinte à Lei Áurea,
e é liderado grandemente por paulistas, que defenderão os interesses do
Estado de São Paulo.

O incêndio que destrói o Teatro São José é seguido pelo espetáculo da


implantação dos bondes elétricos da Light. A cidade inicia o século XX em um
processo que irá se intensificar, de abandono ou mesmo rejeição do passado,
com expectativas e anseios modernos de progresso, desenvolvimento e
expansão.

A oligarquia cafeeira que proclama a República será responsável pelo


florescimento da arte em São Paulo. É a mesma oligarquia que tomará
empréstimos externos em nome do País para a compra de excedentes da
própria produção, que virá a financiar a Semana de Arte Moderna e diversos
outros importantes eventos culturais. Será a responsável pela industrialização
da cidade e pelo fascínio pelo progresso que as décadas vindouras
confirmariam. É a mesma oligarquia que viaja à Europa e escolhe a etnia cuja
migração seria incentivada para substituir a mão de obra escrava, e como
consequência mudando não apenas traços, mas especialmente hábitos,
costumes e expectativas da cidade.

Segundo Miroel Silveira, os italianos eram fascinados pelo trabalho e pela


cultura. Desenraizados viviam a nostalgia enquanto, influenciados pelo
idealismo de uma América livre e libertadora de Garibaldi, criavam sociedades
de auxílio mútuo xxvi. Trazem um novo ethos, uma nova estética e uma ‘nova’
técnica. A entrada maciça de imigrantes italianos acontece no final do séc. XIX
(300 mil apenas entre 1895 e 1897).

133
1887 Construída a Ferrovia Cantareira para construção de duto de 14
quilômetros.

Rebaixamento dos trilhos e a estação da Luz é inaugurada em 1899, e no


mesmo ano o primeiro bonde elétrico circula na linha Centro-Barra Funda. A
feição da cidade está em acelerada mudança. Passa a adquirir um caráter
industrial, com investimentos advindos do campo e também do estrangeiro.

No início do século a serra que separa São Paulo do mar deixa de ser uma
barreira, e passa a ser a fonte de energia que determinará a produção e o
crescimento da cidade.

Surgem as ocupações dos Campos Elíseos e avenida Paulista com a mudança


dos fazendeiros à capital do estado. Mais tarde, surgem o Jardim América e
Europa.

No início do século, o urbanismo surge trazendo formas emblemáticas de


progresso. Nasce o modernismo, embalado pela ideia de cidade acabada e
pela destruição do antigo. Há o contraponto entre o arcaico e o moderno.

Oswald de Andrade escreve sobre os Postes da Light. O momento é de


euforia, incentivada pela São Paulo Tramway Light and Power Co, empresa de
capital canadense que recebe concessão de aproveitamento hidro energético
da Bacia do Alto Tietê, incluindo o aproveitamento dos rios Pinheiros e Grande.

A Light and Power Co. passa a absorver grande parte dos serviços de utilidade
pública, entre o fornecimento de energia elétrica para o crescente parque
industrial, residências e comércio, transporte público, gás, água, esgoto,
telefone e planejamento urbano.

Ainda no final do séc. XIX, a inauguração das ferrovias provoca um acelerado


crescimento no entorno de suas estações, caracterizando um novo arranjo do
espaço da cidade, mais particularmente a várzea do Rio Tietê. A cidade cresce
em torno dos chamados bairros-estações, ao longo das linhas férreas. Surgem
assim os bairros da Lapa, Vila Prudente, Ipiranga, entre outros no eixo leste-
noroeste.

Verifica-se a necessidade da manutenção da produção para o crescimento da

134
cidade. Neste sentido as várzeas dos rios eram fundamentais para produção
de tijolos e de telhas, uma vez que grande parte das olarias se encontrava ali.

A burguesia deixa de habitar o chamado triângulo central, para ocupar,


primeiro, os Campos Elísios, depois Higienópolis, configurando desde cedo o
grande potencial do mercado de terras via loteamentos.

“O Centro perdera a função residencial desde o final do século passado (séc.


XIX) e os velhos sobrados onde residiam as famílias paulistas transformaram-
se em casas comerciais ou cederam lugar a novas construções” xxvii.

Segundo Cassiano Ricardo em Canto da Raça (1936), construía-se à razão de


três casas por hora na cidade de São Paulo.

Até o início do século XIX o padrão de ocupação grandes usos institucionais e


religiosos entremeados por áreas verdes. Arredores ocupados por chácaras

Campo do Guaré ou Caminho do Guarepe – em linguagem indígena “matas em


terras molhadas” – porque em épocas de chuva os rios Tamanduateí e Tietê
transbordavam e inundavam o local.

135
CAC5996 Mascaramentos Contemporâneos: Designs Atravessados Por
Perspectivas Estéticas de um Corpocidade
Conceito A

Docentes Responsáveis: Adriana Vaz Ferreira Ramos, Felisberto Sabino da Costa,


Maria Helena Franco de Araujo Bastos

ANEXO 5
.ppt para apresentação em seminário do texto
CARLRSON, Marvin A cidade como teatro. In: Percevejoon line-0 Periódico do
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas UNIRIO.
file:///C:/Users/Antonio/Downloads/MARVIN%20CARLSON%20CIDADE.pdf
acessado em 27/09/2018

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ANEXO 6
.ppt de trabalhos práticos desenvolvidos em aulas
Conceito A

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NOTAS DO TRABALHO EIXO CRONOLÓGICO

i REZENDE, Carlos Penteado de- Fragmentos para uma história da


música em São Paulo, (1500-1800). In: IV Centenário da Cidade de São Paulo.
São Paulo : Prefeitura Municipal de São Paulo, Gráfica Municipal, 1954. p. 195
ii Citado por Carlos Penteado Rezende em Fragmentos para a história da
Música em São Paulo, In: IV Centenário da Cidade de São Paulo. pág. 197.
iii Idem pág 195
iv TAUNAY, Affonso de E; História da cidade de São Paulo. São Paulo :
Melhoramentos, 19-?. p. 89.
v Idem. p. 89 e também TAUNAY, Affonso História seiscentista da Villa
de São Paulo. (tomo segundo 1653-1666). São Paulo : Typ. Ideal, 1927. p. 275.
vi TAUNAY, Affonso História seiscentista da Villa de São Paulo. (tomo
segundo 1653-1666). p. 275.
vii Idem. TAUNAY, Affonso História seiscentista da Villa de São Paulo.
(tomo segundo 1653-1666). p. 142. e também TAUNAY, Affonso História da cidade
de São Paulo. p. 91
viii VARGAS, Maria Teresa Da rua ao palco :notas sobre a formação do
teatro na cidade de São Paulo. . p. 23.

ix Termos do documento da Câmara Municipal citado por Taunay História


da cidade de São Paulo no século XVIII terceiro tomo, São Paulo : Coleção do
Departamento de Cultura, 1951. p. 152.
x TAUNAY, Affonso de E. História da cidade de São Paulo no século
XVIII – Segundo tomo, São Paulo : Coleção do Departamento de Cultura, 1951.
p. 105.
xi Citado por REZENDE, Carlos Penteado de. Fragmentos para uma
hisória da música em São Paulo. in: IV Centenário da fundação da cidade de São
Paulo. pág. 214
xii Manuel Cardoso de Abreu, “Divertimento Admirável para os historiadores observarem as máquinas do
mundo reconhecidas nos sertões da navegação das minas de Cuiabá e Mato Grosso”, in Roteiros e notícias de São Paulo
colonial”, p. 83 e 84.

xiii Affonso Taunay. História Colonial da cidade de São Paulo no séc. XIX p
106.
154
xiv Depoimento consta em Affonso Taunay História Colonial da cidade de
São Paulo no séc. XIX São Paulo : Divisão do Arquivo Histórico, 19 - p. 26.
xv Affonso Taunay História Colonial da cidade de São Paulo no séc. XIX
São Paulo : Divisão do Arquivo Histórico, 19 - p 108.
xvi A ordem consta de Affonso Taunay História Colonial da cidade de São
Paulo no século XIX p 109.
xvii Affonso Taunay História Colonial da cidade de São Paulo no séc. XIX p
115
xviii Affonso Taunay História Colonial da cidade de São Paulo no séc. XIX p
116
xix VAMPRÉ, Spencer. Memórias para a história da Academia de São Paulo. in: Maria Tereza Vargas
em Da rua ao palco. p. 25.
xx idem. p. 25.

xxi BRUNO, Ernani da Silva. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. p


889.
xxii BUENO, Francisco de Assis. A cidade de São Paulo. Recordações
evocadas da memória p. 27.
xxiii HESSEL, Lothar e Raeders, O Teatro no Brasil: da colônia à regência.
Porto Alegre : Edições URGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1974.
p.146.
xxiv HESSEL, Lothar, Raeders, Georges O teatro no Brasil – sob Dom Pedro
II p. 38.
xxv REIS Fo, Nestor Goulart dos Campos Eliseos ; a casa e o bairro, a
tecnologia da construção civil em 1900 ; proj. Sao Paulo : Imesp, 1992, p. 12
xxvi SILVEIRA, Miroel A contribuição italiana ao teatro brasileiro, 1895-1964
São Paulo : Edições Quíron, 1976. p. 24.
xxvii BACELLI, Roney A Presença da Cia. City em São Paulo e a implantação
do Primeiro Bairro-Jardim 1915/1940 São Paulo : FFLCH- USP Diss.
Mestrado/ 1982. datilografado.

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