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CÁLCULO III

Notas de Aula

André Luiz Galdino


e-mail: [email protected]
https://galdino.catalao.ufg.br

Cálculo III

1
SUMÁRIO

Cálculo III 1
1. Noções Gerais sobre as Equações Diferenciais 5
1.1 Terminologia e classificação 5
1.2 Solução de uma equação diferencial ordinária 8
1.3 Curvas integrais 10
1.4 Problemas de valor inicial e de contorno, existência e 11
unicidade
1.5 Exercícios 17
2. Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem 21
2.1 Metódo por Integração Direta 21
2.2 Exercícios 22
2.3 Método do Fator Integrante 23
2.4 Exercícios 28
2.5 Método das Variáveis Separáveis 29
2.6 Exercícios 32
2.7 Método das Equações Diferenciais Exatas 33
2.8 Exercícios 40
3. Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como 41
modelos matemáticos
3.1 Dinâmica populacional 42
3.2 Decaimento radioativo 45
3.3 Lei de Newton do esfriamento/aquecimento 47
3.4 Mistura de duas soluções salinas 49
3.5 Reações químicas: irreversíveis mononucleares e 52
bimolecular irreversível
3.6 Exercícios diversos 55
4. Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem 60
4.1 EDO’s lineares de 2a ordem homogêneas e 62
não-homogêneas
4.2 EDO’s de 2a ordem homogêneas com coeficientes 65
constantes
4.3 Método de Variação dos Parâmetros 71
4.4 Exercícios 77
5. Sistemas de Equações Diferenciais Ordinárias Lineares 80
de Primeira Ordem
5.1 Sistemas Homogêneos com Coeficientes Constantes 82
5.2 Exercícios 95
6. Transformada de Laplace 97
6.1 Transformada Inversa de Laplace 105
6.2 O Método da Decomposição em Frações Parciais 109
6.3 Resolvendo PVI com Transformada de Laplace 115
6.4 Exercícios 120
6.5 Tabela: Transformada de Laplace 122

Cálculo III

3
1. Noções Gerais sobre as Equações Diferenciais

1.1 Terminologia e classificação

Em todo esse texto, as derivadas ordinárias serão escritas com a notação


de Leibniz (dy/dx, d2 y/dx2 , . . .) ou com a notação linha (y 0 , y 00 , . . .).
De uma forma compacta, uma Equação Diferencial é uma equação
que relaciona uma função ou mais com suas derivadas (ou diferenciais).
Na prática, quando pensamos em aplicações das equações diferenciais, as
funções envolvidas na equação representam quantidades físicas, enquanto
que suas derivadas representam suas taxas de variação e, consequente-
mente, a equação diferencial em si estabelece uma relação entre esses dois
termos, o que garante a estas equações um papel de extrema importân-
cia em algumas áreas do conhecimento, como por exemplo, engenharia,
biologia, química, física e economia.

Definição 1.1. Chamamos de Equação Diferencial (ED) uma equação


que contém derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais variáveis depen-
dentes em relação a uma ou mais variáveis independentes.
Exemplo 1.2.
dy
1. + 5y = ex .
dx
Como y é derivável em relação a x, então y é visto como uma
função de x. Neste caso, x é a variável independente e y é a variável
dependente.
2. y 000 + 2y 00 + y 0 = cos(x).
Neste caso, x é a variável independente e y é a variável dependente
uma vez que y é visto como uma função de x.
d2 u d2 v
3. + 2 = x2 + u + v.
dx2 dx
Neste caso, x é a variável independente e u e v são as variáveis
dependentes uma vez que u e v são vistos como funções de x.
∂2u ∂2u
4. + 2 = 0.
Cálculo III

∂x2 ∂y
Neste caso, x e y são as variáveis independentes e u é a variável
dependente uma vez que u é visto como uma função de x e y.

5
Para discuti-las melhor, classificamos as equações diferenciais por
tipo, ordem e linearidade. Como existem apenas dois tipos de deriva-
das, as ordinárias e as parciais, existem apenas dois tipos de equações
diferenciais, as Equações Diferenciais Ordinárias e as Equações Diferen-
ciais Parciais. No entanto, neste texto apenas estudaremos as primeiras.
Definição 1.3. Equação Diferencial Ordinária (EDO) é uma equação
que contém somente derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis de-
pendentes em relação a uma única variável independente. De maneira
geral, podemos expressar uma EDO em uma variável dependente x da
seguinte forma:
F (x, y 0 , y 00 , . . . , y (n) ) = 0,
onde F é uma função de valores reais de n + 2 variáveis, a saber,
x, y 0 , y 00 , . . . , y (n) , com y (n) sendo a derivada de y com relação a x de
ordem n, ou seja,
dn y
y (n) = n .
dx
Exemplo 1.4. São exemplos de equações diferenciais ordinárias:

d2 y dy 3. (y 00 )3 + yy 0 + 3sen(y) = x2
1. − + 6y = 0
dx2 dx
000 4 x
d2 y dy
2. y + y = e 4. 2
+ + y = sen(x)
dx dx
Também podemos expressar as EDOs da seguinte forma:
dy d2 y d2 y
 
dy
1. F x, y, , 2 = 2 − + 6y = 0
dx dx dx dx

2. F (x, y 0 , y 00 , y 000 ) = y 000 + y 4 − ex = 0

Definição 1.5. A ordem de uma equação diferencial é a ordem da maior


derivada existente na equação.
Exemplo 1.6.
 3
d2 y dy
1. +5 − 4y = ex é uma EDO de segunda ordem.
dx2 dx

2. 3xy 000 + y 00 + 3x5 y 0 = 5 é uma EDO de ordem 3.


Cálculo III

Definição 1.7. Dizemos que uma equação diferencial de ordem n é


linear, se ela for linear em todas as derivadas envolvidas na equação até
a ordem n. Uma equação diferencial não-linear é simplesmente uma
equação diferencial que não é linear.

6
Sendo assim, uma EDO de n-ésima ordem é linear quando ela puder
ser escrita na forma

an (x)y (n) + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y − g(x) = 0

ou
dn y dn−1 y dy
an (x) n
+ an−1 (x) n−1 + · · · + a1 (x) + a0 (x)y = g(x)
dx dx dx

É fácil observar que uma EDO linear possui as seguintes propriedades:


1. A variável dependente e todas as suas derivadas são de primeiro
grau, ou seja, a potência de cada termo envolvendo y e suas deri-
vadas é no máximo 1;
2. Cada coeficiente depende no máximo da variável independente x.
Em outras palavras, uma EDO linear não pode conter termos como, por
exemplo, sen(y) e ey0 .
Exemplo 1.8. Nos exemplos a seguir temos, respectivamente, EDO’s
lineares de primeira, segunda, terceira e n-ésima ordem.

1. (y − x)dx + 4xdy = 0 d3 y dy
3. 3
+x − 5y = ex
dx dx
2. y 00 − 2y 0 + y = 0 4. y (n) = 1

Exemplo 1.9. As seguintes são EDO’s não-lineares:

1. (1 − y)y 0 + 2y = ex d4 y
3. + y2 = 0
dx4
d2 y  1
2 2
2. + sen(y) = 0 4. y 00 = 1 + (y 0 )
dx2
A teoria matemática e as técnicas para o tratamento de equações li-
neares são bastante desenvolvidas. Por outro lado, no caso das equações
diferenciais não-lineares a situação não é tão satisfatória, não havendo
técnicas gerais de solução. Por este motivo, muitas vezes, tentamos des-
crever um fenômeno não-linear como sendo linear, pelo menos em pri-
meira aproximação. Não trataremos o caso não-linear neste texto, mas
nos casos em que a não-linearidade é inevitável, e os métodos analíticos
Cálculo III

são inexistentes ou insuficientes, temos ainda as ferramentas da análise


qualitativa e numérica.

7
1.2 Solução de uma equação diferencial ordinária

De uma forma geral, a solução de uma equação diferencial é uma função


que não contém derivadas, nem diferenciais, e que satisfaz a equação
dada. De outra forma, a solução de uma equação diferencial é uma fun-
ção que substituída na equação dada, a transforma em uma identidade.
Definição 1.10. Toda função φ, definida em um intervalo I que tem
pelo menos n derivadas contínuas em I, as quais quando substituidas em
uma equação diferencial ordinária de ordem n reduzem a equação a uma
identidade, é denominada uma solução da equação diferencial naquele
intervalo. Em outras palavras, uma solução de uma equação diferencial
ordinária de ordem n

F (x, y, y 0 , y 00 , . . . , y (n) ) = 0,

é uma função φ que tem pelo menos n derivadas e para a qual

F (x, φ(x), φ0 (x), . . . , φ(n) (x)) = 0, para todo x em I.

Alertamos que obter uma solução para uma equação diferencial é


“similar” a calcular uma integral, e é fato que existem integrais que não
possuem primitivas, como é o caso das integrais elípticas. Dessa forma
não é de se esperar que todas as equações diferenciais possuam soluções.
x4
Exemplo 1.11. A função y(x) = , com x ∈ R, é uma solução da
16
EDO 4y 0 − x3 = 0. De fato, derivando y(x) com respeito a x, obtemos

x3
y0 = .
4
Agora substituindo na EDO temos:

x3
4y 0 − x3 = 4. − x3 = 0.
4
Portanto, y(x) tal como apresentada é uma solução da EDO dada, uma
vez que é diferenciável (derivável) em R e satisfaz a referida equação.
x4
Uma pergunta que surge naturalmente aqui é: Será que y(x) = é
16
a única solução da EDO 4y 0 − x3 = 0?
A resposta para essa pergunta é não. Certamente, observe que para
Cálculo III

cada valor atribuído a C, a função

x4
y(x) = + C, C ∈ R, (1.1)
16

8
também é uma solução para a EDO 4y 0 − x3 = 0. Isto porque, derivando
y(x) com respeito a x, obtemos
x3
y0 = .
4
Como R é um conjunto infinito e C é qualquer valor pertencente a
R, temos que há infinitas soluções para a EDO 4y 0 − x3 = 0. Quando
isso acontece dizemos que a EDO possui uma família de soluções a um
parâmetro, que nesse caso o parâmetro é a constante C.
x4
Observe ainda, que a solução y(x) = pode ser obtida da família de
16
soluções apresentada na Eq. 1.1, para isto basta fazer o parâmetro C = 0.
Na verdade, em geral, uma EDO possui um número infinito de solu-
ções. Contudo, também podemos ter soluções de uma EDO que não são
obtidas de uma família de soluções daquela EDO.
Exemplo 1.12. A EDO
dy
= y 2 − 4. (1.2)
dx
possui a seguinte família de soluções
(1 + Ce4x )
y(x) = 2 , C ∈ R. (1.3)
(1 − Ce4x )
No entanto, y1 (x) = −2 é uma solução da EDO dada e não provém dessa
família, uma vez que não existe um valor para o parâmetro C tal que,
quando substituído na Eq. 1.3, nos dê:
y(x) = y1 (x) = −2.
Definição 1.13. Uma solução de uma EDO pode ser uma:
a) Solução geral: é a solução da equação que contém tantas constan-
tes arbitrárias (parâmetros) quantas forem as unidades da ordem de
integração (família de soluções).
b) Solução particular: é a solução deduzida da solução geral atribuindo-
se valores particulares às constantes. Em outras palavras, é quando
a solução vem de uma família de soluções encontrada.
c) Solução singular: é uma solução não deduzida da solução geral (fa-
mília de soluções) e que só existe em alguns casos.
d) Solução trivial: é a solução identicamente nula.
Exemplo 1.14. Como vimos anteriormente, a Eq. 1.1 é uma solução
Cálculo III

x4
geral de 4y 0 − x3 = 0, enquanto que y(x) = é uma solução particular
16
da mesma EDO. Já a EDO dada na Eq. 1.2 possui como solução geral
a função dada na Eq. 1.3 e como solução singular y(x) = −2.

9
1.3 Curvas integrais

Como vimos anteriormente, resolver uma equação diferencial significa


determinar as funções que satisfazem tal equação. Dessa forma, é pela
integração de uma diferencial que se dá a solução e, geometricamente,
as curvas que representam as soluções são definidas como segue:
Definição 1.15. A solução geral (família de soluções) de uma EDO
muitas vezes é dada por uma relação da forma

Φ(x, y, C) = 0

onde a variável dependente y é dado apenas implicitamente em termos


da variável independente x e da constante C ∈ R. Tal expressão é
denominada integral geral da EDO. A integral geral pode ser interpre-
tada geometricamente como a representação de uma família de curvas
no plano-xy, dependente do parâmetro C. Estas curvas são chamadas
curvas integrais da EDO dada, e uma vez que Φ(x, y, C) = 0 é derivável
(diferenciável) em seu intervalo de definição I, as curvas integrais são
contínuas em I.
Exemplo 1.16. Como vimos anteriormente, a EDO da Eq. 1.4 possui
como solução geral a família de funções apresentada na Eq. 1.5.

4y 0 − x3 = 0 (1.4)

x4
+C y(x) = (1.5)
16
onde C ∈ R é uma constante arbitrária. Assim, as curvas integrais da
Eq. 1.4 são obtidas fazendo o gráfico da função apresentada na Eq. 1.5
para diferentes valores de C, como mostram as Figuras 1.1 e 1.2.

y y

4 4

3 3

2 2

1 1

x x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1 −1

−2 −2

−3 −3

−4 −4
Cálculo III

Figura 1.1: Curva integral da EDO Figura 1.2: Curvas integrais da EDO
4y 0 − x3 = 0 para C = 1. 4y 0 − x3 = 0 para C ∈ (−4, 4).

10
Exemplo 1.17. Consideremos a equação diferencial
dy y
= − , x 6= 0 (1.6)
dx x
A solução geral desta equação é dada pela família de funções
C
y= (1.7)
x
onde C ∈ R é uma constante arbitrária. As curvas integrais da Eq. 1.6
são obtidas fazendo-se o gráfico da Eq. 1.7 para diferentes valores de C,
como mostra a Figura 1.4.

y y

4 4

3 3

2 2

1 1

x x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5 −5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1 −1

−2 −2

−3 −3

−4 −4

Figura 1.3: Curvas integrais da EDO Figura 1.4: Curvas integrais da EDO
dy y dy y
= − para C = 1 e C = −1. = − para C ∈ (−4, 4).
dx x dx x

1.4 Problemas de valor inicial e de contorno, existência e unicidade

Quando aplicamos as equações diferenciais, geralmente, estamos mais


interessados em encontrar uma solução que satisfaça algumas condições
adicionais dadas, do que interessados em encontrar uma família de so-
luções, isto é, a solução geral.
Definição 1.18. Um problema de valor inicial (PVI) consiste em uma
equação diferencial, juntamente com condições iniciais relativas à função
incógnita e suas derivadas, tudo dado para um mesmo valor da variável
independente. Que é: Sendo I algum intervalo contendo x0 , um PVI é
dado da seguinte maneira:
dn y

Cálculo III

 Resolver: = f (x, y, y 0 , y 00 , . . . , y (n−1) )


dxn





y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 , . . . , y (n−1) (x0 ) = yn−1

 Sujeita a:

11
onde y0 , y1 , y2 , . . . , yn−1 são constantes reais especificadas previamente.
Os valores de y(x) e suas n − 1 derivadas em um único ponto x0 , a saber,
y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 , y 00 (x0 ) = y2 , . . . , y (n−1) (x0 ) = yn−1 ,
são chamados de condições iniciais.

Exemplo 1.19. PVI de primeira ordem:


dy


 Resolver: = f (x, y)

 dx



 Sujeita a: y(x0 ) = y0

Exemplo 1.20. PVI de segunda ordem:





 Resolver: y 00 − 4y 0 + 9y = 0



y(0) = 0, y 0 (0) = −8

 Sujeita a:

Definição 1.21. Uma solução de um PVI é uma função y = y(x) que sa-
tisfaz não só a equação diferencial dada, mas também todas as condições
iniciais.
Geometricamente, como vimos anteriormente, o conjunto de
solução de uma EDO de primeira ordem define um conjunto de
curvas com traço no plano-xy, chamadas de curvas integrais, e neste
sentido cada uma das curvas integrais é solução de um determinado PVI.

dy y


 =−
 dx
 x
Exemplo 1.22. Encontre a solução do PVI:



 y(1) = 3

Queremos encontrar uma solução y(x) da EDO


dy y
=−
dx x
que satisfaça a condição y(1) = 3, ou melhor, queremos encontrar uma
Cálculo III

solução tal que o ponto (1, 3) seja ponto da curva integral dessa solução.
Veremos no futuro que uma família de soluções para a EDO dada é
C
y(x) = (1.8)
x

12
Agora a pergunta é: será que dentre a família de soluções, dada pela Eq.
1.8, existe uma solução tal que y(1) = 3?
A resposta para a pergunta, neste caso, é sim. De fato, observe que
C
y(1) = .
1
Para que y(1) = 3 temos que ter C = 3. Logo, como podemos ver na
Figura 1.5, a solução particular que satisfaz o PVI dado é
3
y(x) = .
x

−5 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4 5

−1

−2

−3

−4

y y
Figura 1.5: Curva integral solução do PVI: = − , y(1) = 3.
x x
Cálculo III

13
Definição 1.23. Um problema de valor de contorno (PVC) é uma equa-
ção diferencial que também esta sujeita a determinadas condições pré-
estabelecidas, as chamadas condições de contorno ou condições de fron-
teira. Dessa forma, uma solução para um PVC é uma função y = y(x)
que satisfaz não só a equação diferencial dada, mas também todas as
condições de contorno.
Os PVC surgem em diversos ramos da física, por exemplo, problemas
envolvendo a equação da onda e a equação do calor. Entre os primei-
ros PVC estudados está o problema de Dirichlet de encontrar funções
harmônicas (soluções da equação de Laplace). Na verdade, existe uma
vasta classe de importantes problemas de valores de contorno, como por
exemplo, os problemas de Sturm-Liouville e o problema clássico de de-
terminar a forma que toma um cabo flexível, suspenso em dois pontos
e sujeito a seu peso. Este último problema foi proposto por Leonardo
da Vinci e resolvido após anos por Leibniz e J. Bernoulli, e sua função
solução recebe o nome, dado por Leibniz, de catenária.
Como no caso dos PVI, o número de condições impostas para os
PVC é igual à ordem da equação diferencial. No entanto, uma diferença
essencial entre os PVI e os problemas que envolvem condições de con-
torno é que estes podem ter uma, nenhuma ou infinitas soluções. Além
disso, diferentemente das condições iniciais, as condições de contorno
não envolvem derivadas e são definidas em dois ou mais valores da va-
riável independente. De outra forma, sendo I algum intervalo contendo
x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , um PVC envolvendo uma EDO pode ser dado da
seguinte maneira:
dn y

 Resolver:
 = f (x, y, y 0 , y 00 , . . . , y (n−1) )

 dxn



 Sujeita a: y(x0 ) = y0 , y(x1 ) = y1 , y(x2 ) = y2 , . . . , y(xn−1 ) = yn−1

onde y0 , y1 , y2 , . . . , yn−1 são constantes reais especificadas previamente,


e os valores de y(x) nos pontos x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , a saber,
y(x0 ) = y0 , y(x1 ) = y1 , y(x2 ) = y2 , . . . , y(xn−1 ) = yn−1
são as condições de contorno.



 y 00 + 4y = 0

Exemplo 1.24. Encontre uma solução do PVC:
 y( π ) = 0 y( π ) = 1
Cálculo III




8 6
sabendo que a solução geral da EDO dada é:
y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x).

14
Observe que:
π π π 1√ 1√
y( ) = C1 sen( ) + C2 cos( ) = 2 C1 + 2 C2
8 4 4 2 2

π π π 1√ 1
y( ) = C1 sen( ) + C2 cos( ) = 3 C1 + C2
6 3 3 2 2
π
Além disso, para atender às condições de contorno, y( ) = 0 e
8
π
y( ) = 1, devemos ter
6
1√ 1√
2 C1 + 2 C2 = 0 (1.9)
2 2

1√ 1
3 C1 + C2 = 1 (1.10)
2 2
Considerando as Eqs. 1.9 e 1.10 como um sistema e resolvendo-as
simultaneamente, obtemos
2
C1 = −C2 = √ .
3 − 1
Portanto, substituindo estes valores de C1 e C2 na solução geral y(x) =
C1 sen(2x) + C2 cos(2x) obtemos a solução do PVC que é
 
2
y(x) = √ sen(2x) − cos(2x) .
3 − 1
Exemplo 1.25. Determine uma solução do PVC:



 y 00 + 4y = 0

 y(0) = 1 y( π ) = 2



2
sabendo que a solução geral da EDO dada é

y(x) = C1 sen(2x) + C2 cos(2x).

Como y(0) = C1 sen(0) + C2 cos(0) = C2 devemos fazer C2 = 1


para satisfazer a primeira condição de contorno y(0) = 1. Uma vez que
π
y( ) = C1 sen(π) + C2 cos(π) = −C2 devemos fazer C2 = −2 para satis-
Cálculo III

2
π
fazer a segunda condição de contorno y( ) = 2. Assim, para satisfazer
2
ambas as condições de contorno simultaneamente, devems ter C2 = 1 e
C2 = −2, o que é impossível. Portanto, o PVC dado não admite solução.

15
Exemplo 1.26. Vale observar que podemos ter um Problema Misto,
ou seja, um problema com condições iniciais e de contorno. Um típico
problema misto, ou seja, com condições iniciais e de contorno é a Equação
da Onda, que é:
 2
∂ u ∂2u
 ∂x2 − ∂t2 = 0 sobre M










∂u
u(x, 0) = p(x), (x, 0) = q(x), a ≤ x ≤ b (Condições iniciais)


 ∂t






t≥0

 u(a, t) = r(t), u(b, t) = s(t), (Cond. de contorno)

onde M é a região representada por um retângulo infinito. Do ponto de


vista físico, o problema misto pode ser interpretado como o estudo dos
deslocamentos transversais de uma corda de comprimento infinito, mas
que nas extremidades x = a e x = b, o deslocamento ocorre segundo
uma função conhecida u(a, t) = r(t).
Pode parecer meio estranho, mas existem equações diferenciais que
não tem solução, assim como, um PVI pode não ter solução, ter uma
única solução ou ter mais do que uma solução. Problemas sem soluções
não têm obviamente interesse. Já um PVI com várias soluções apresenta
o problema de se saber qual é a solução que efetivamente traduz o com-
portamento do fenômeno estudado. Não obstante, temos os seguintes
questionamentos:
1. Dado um PVI, ele possui solução? (existência).
2. Se a solução existe, ela é única? (unicidade).
Para responder tais perguntas, existe o chamado Teorema de Exis-
tência e Unicidade de Solução que nos garante não somente a existência
de uma solução, como também a sua unicidade, se dada uma EDO com
condições “suficientemente boas”, ou seja, um PVI bem especificado.
Teorema 1.27 (Existência e Unicidade de Solução). Considere o pro-
blema de valor inicial de n-ésima ordem:



 y (n) + an−1 (x)y (n−1) + · · · + a1 (x)y 0 + a0 (x)y = g(x)



 y(x ) = y , y 0 (x ) = y , y 00 (x ) = y , . . . , y (n−1) (x ) = y

0 0 0 1 0 2 0 n−1
Cálculo III

Se ai (x), para i = 0, 1, 2, . . . , n − 1, e g(x) são funções contínuas em um


intervalo aberto α < x0 < β, então existe uma única solução para o PVI,
definida no intervalo (α, β).

16
Exemplo 1.28. Considere o PVI de 1a ordem:

 y0 − y = 0






 y(−3) = 8

Observando a EDO, e comparando com o Teorema 1.27, temos que:

a0 (x) = −1 e g(x) = 0.

Como estas funções são contínuas em R, o Teorema 1.27 garante que


existe, e é única, a solução dd PVI para qualquer que seja a condição
inicial y(x0 ) = y0 .
Exemplo 1.29. Determine quais são as condições que x deve satisfazer
para que exista uma única solução para o problema de valor inicial:



 (4 − x)y 0 + 2xy = ex




 y(1) = 5

Primeiramente, de acordo com o Teorema 1.27, devemos escrever a EDO


dada na forma
y 0 + a0 (x)y = g(x).
Para isto é suficiente dividir ambos os lados da equação

(4 − x)y 0 + 2xy = ex

por 4 − x. Daí obtemos


2x ex
y0 + y= .
4−x 4−x
Assim,
2x ex
a0 = e g(x) = .
4−x 4−x
As funções a0 (x) e g(x) são contínuas para todo x 6= 4. Como a condição
inicial dada é especificada para x = 1, o qual é menor que 4, o Teorema
1.27 garante que há uma única solução para o PVI no intervalo x < 4.
Cálculo III

1.5 Exercícios

1. Classifique as equações diferencias ordinárias a seguir quanto a


ordem e a linearidade.

17
(a) x2 y 00 + xy 0 + 2y = sen(x) (h) 3x2 y (4) + (y 0 )6 = 1

dy dz dx dy
(b) 3x + = x5 (i) + 3x + 1 = 90
dx dx dt ds

(c) (1 + y 2 )y 00 + xy 0 + y = ex (j) y (4) + y 000 + y 00 + y 0 + y = ex

(d) (1 − x)y 00 − 4xy 0 = cos(x) (k) y 0 + xy 2 = 0

d3 y dy  d3 x dx
(e) x 3
−2 +y =0 (l) ln(x) +5 −x=0
dx dx dt3 dt

(f) yy 0 + 2y = 1 + x2 (m) y 00 + sen(x + y) = sen(x)

(g) x2 dy +(y −xy −xex )dx = 0 (n) y 000 + xy 0 + ycos2 (x) = x3

2. Em cada item a seguir identifique as variáveis independentes e


dependentes, e mostre em cada caso que a função y(x) é solução
da EDO dada, onde a é constante.
dy x p
(a) =√ y(x) = x2 + a2 , (a 6= 0)
dx x2 + a2
1 00 2
(b) (y ) − xy 0 + y = 1 − x2 y(x) = x2
4
3. Verifique que a função g(x) = c1 cos(4x) + c2 sen(4x), onde c1 e
c2 ∈ R, é uma família de soluções da EDO

y 00 + 16y = 0.

4. Verifique que a função dada é solução do PVI correspondente.





 y 00 + 3y 0 + 2y = 0

(a) y(x) = e−x − e−2x


 y(0) = 0 y 0 (0) = 1


 y 00 + 4y = 0
Cálculo III




(b) y(x) = cos(2x)


 y(0) = 1 y 0 (0) = 0

18
5. Em cada caso, verificar que a função dada é solução da equação
diferencial correspondente e determinar as constantes A, B e C de
modo que a solução particular satisfaça a condição dada.

 y0 + y = 0



(a) y(x) = Ce−x



 y(0) = 3




 y0 + y = 5

(b) y(x) = Ce−x + 5



 y(1) = 6




 y 0 + 2xy = 0
 2
(c) y(x) = Ce−x


 y(0) = −2

dy 2y


 =
 dx
 x
(d) y(x) = Cx2



 y(1) = 3

d2 y dy

 x dx2 − dx = 0



(e) y(x) = Ax2 + B


y 0 (1) = 4

y(1) = −8,

dy


 = y2
 dx

1
(f) y(x) =

 C −x

 y(1) = 2

6. Determine C1 e C2 de modo que as funções dadas satisfaçam as


Cálculo III

condições iniciais apresentadas.


(a) y(x) = C1 ex + C2 e−x y(0) = 1 y 0 (0) = −1

19
(b) y(x) = C1 ex + C2 e2x + 3e3x y(0) = 0 y 0 (0) = 0

(c) y(x) = C1 sen(x) + C2 cos(x) + 1 y(π) = 0 y 0 (π) = 0

(d) y(x) = C1 ex + C2 ex + x2 ex y(1) = 1 y 0 (1) = −1

7. Determine C1 e C2 de modo que y(x) = C1 sen(2x) +C2 cos(2x) sa-


tisfaça as condições dadas, e determine se tais condições são iniciais
ou de contorno.

(a) y(0) = 1, y 0 (0) = 2 (f) y(0) = 1, y 0 (π) = 1


(b) y(0) = 2, y 0 (0) = 1 (g) y(0) = 1, y(π) = 2
π π
(c) y( ) = 1, y0 ( ) = 2 (h) y(0) = 0, y 0 (0) = 0
2 2
0 π
π π
(d) y(0) = 1, y( )=1 (i) y( ) = 0, y( ) = 1
2 4 6
0 π π
(e) y 0 (0) = 1, y( )=1 (j) y(0) = 0, y0 ( ) = 1
2 2
Cálculo III

20
2. Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem

Agora estamos prontos para resolver algumas equações diferenciais. Va-


mos começar pelas equações diferenciais ordinárias de primeira ordem
dy
= f (x, y). (2.1)
dx
A habilidade de resolver uma equação diferencial, ou seja, em en-
contrar suas soluções, em geral depende da habilidade em reconhecer o
tipo de equação diferencial e da aplicação de um método específico de
solução. Em outras palavras, o que funciona para um determinado tipo
de equação diferencial não necessariamente se aplica a um outro tipo.

2.1 Metódo por Integração Direta

Existem alguns tipos de EDO de primeira ordem que podem ser resolvi-
das analiticamente. Comecemos por estudar o caso mais simples dentre
todas as equações diferenciais, ou seja, quando f na Eq. 2.1 é indepen-
dente de y. De outra forma, quando
f (x, y) = g(x).
Neste caso, a EDO de primeira ordem da Eq. 2.1 é reescrita como
dy
= g(x). (2.2)
dx
Obeserve que a Eq. 2.2 pode ainda ser reescrita como
dy = g(x)dx, (2.3)
e resolvida “facilmente” por integração, usando o Teorema Fundamental
do Cálculo Integral. De fato, se g(x) for uma função contínua, integrando
ambos os lados da Eq. 2.3, obtemos a solução
Z
y(x) = g(x)dx = G(x) + C,

onde G(x) é uma primitiva (integral indefinida) de g(x) e C ∈ R é uma


constante arbitrária que pode ser determinada pela condição inicial do
problema, se assim houver.
Cálculo III

dy
Exemplo 2.1. A solução da EDO = 1 + e2x é dada por
dx
Z
1
y = (1 + e2x )dx = x + e2x + C.
2

21
2.2 Exercícios

Resolva as seguintes EDO’s de primeira ordem por integração direta.

dy dy
1. = x4 17. = cossec2 (x)cotg(x)
dx dt
2. y 0 = sen(x) 18. y 0 = x3 sen(x)
dy 1
3. = 7x5/2 + 4 19. y 0 =
dx x2
4. y 0 = x3 (−2x + x−5 ) dy √
20. = 3x
dy x+1 dx
5. =
dx x5 dy 1
√ 21. =
dy dt sen2 (t)
6. = 2 2 − 3x
dx
dy
p 22. = cos(x) − sec(x)tg(x)
7. y 0 = 3x 2x2 − 4 dx
dy x dy 2x
8. =√ 23. = 2
dx 1+x dx x +1
 
3x  2
9. y 0 = sen ln(x)
2 dy
24. =
dy dx x
= 3tcos 3t2

10.
dt dy et
25. =
dy dt cos (et − 2)
2
11. = cos2 (t)
dt
26. y 0 = x4 cos x5

dy 1
12. =
dt 1 + 9x2 dy
27. = e2t
dy x dt
13. =√
dx x+1 dy 4
28. = 2x x2 + 3
dy dx
14. = arcsen(x) √
dx 29. y 0 = e−3x + x
dy
15. = (2x + 1)sen(x) dy
dx 30. = 7x4 + sec2 (x)
dx
dy
16. = sen(x)sec2 (x) 31. y 0 = xcos(x)
dt
Cálculo III

22
2.3 Método do Fator Integrante

Lembre-se de que uma equação diferencial é linear quando é de primeiro


grau na variável dependente e em todas as suas derivadas.
Definição 2.2. Uma equação diferencial linear de primeira ordem,
dy
a1 (x) + a0 (x)y = g(x), (2.4)
dx
é chamada de homogênea quando g(x) = 0. Caso contrário, g(x) 6= 0, a
equação é chamada de não-homogênea.
Dividindo ambos os lados da Eq. 2.4 pelo coeficiente a1 (x) 6= 0, ob-
temos a chamada forma padrão da EDO de primeira ordem, que é:
dy
+ P (x)y = f (x).
dx
Teorema 2.3. Seja a EDO de primeira ordem na sua forma padrão

y 0 + P (x)y = f (x), (2.5)

onde P (x) e f (x) são funções contínuas em I. Então, a solução geral da


Eq. 2.5 é
Z R  R
y(x) = e P (x)dx f (x)dx + C e− P (x)dx (2.6)

para todo x ∈ I, e C ∈ R uma constante arbitrária, a qual pode ser


determinada se houver uma condição inicial para problema.
Demonstração: Primeiramente, observe que
Z Z R
P (x)dx e e P (x)dx f (x)dx

estão bem definidas em I, uma vez que as funções P (x) e f (x) são
contínuas nesse intervalo.
Seja φ(x) uma solução da Eq. 2.5, isto é,

φ0 (x) + P (x)φ(x) = f (x).


R
Multiplicando ambos os lados dessa última equação por e P (x)dx , temos:
R R R
φ0 (x)e P (x)dx + P (x)φ(x)e P (x)dx = e P (x)dx f (x)
Cálculo III

 R 0 R
P (x)dx
φ(x)e = e P (x)dx f (x)
R Z R
φ(x)e P (x)dx = e P (x)dx f (x)dx + C

23
Donde, isolando φ(x), obtemos:
Z R  R
φ(x) = e P (x)dx
f (x)dx + C e− P (x)dx
.

Com isso provamos que toda solução φ da Eq. 2.5 tem a forma da Eq. 2.6.
Reciprocamente, qualquer função que tenha a forma da Eq. 2.6 é
solução da Eq. 2.5. Com efeito, por derivação e considerando o Teorema
Fundamental do Cálculo Integral, temos
h R  R i
− P (x)dx R P (x)dx
dy(x) d e e f (x)dx + C
y 0 (x) = =
dx dx
h R i
d e− P (x)dx Z R 
P (x)dx
= e f (x)dx + C
dx

hR R i
P (x)dx
R d e f (x)dx + C
+ e− P (x)dx
dx

R Z R 
= − P (x) e− P (x)dx
e P (x)dx
f (x)dx + C
| {z }
y(x)

R R
+ e− P (x)dx
f (x)e P (x)dx
| {z }
f (x)

= −P (x)y(x) + f (x)

O teorema anterior nos diz que se a Eq. 2.5 tem uma solução, então
ela é da forma apresentada na Eq. 2.6. No entanto, não é necessário
memorizar aquela fórmula, mas é de extrema importância que lembremos
do termo especial µ(x), dado a seguir e chamado de fator integrante,
pois ele fornece uma procedimento simples de resolver a Eq. 2.5. Tal
procedimento é conhecido como Método do Fator Integrante.
Cálculo III

R
µ(x) = e P (x)dx (2.7)

24
Método do Fator Integrante para resolver a equação diferencial:

a1 (x)y 0 + a0 (x)y = g(x)

(1) Ponha a equação dada na forma padrão, ou seja, divida ambos


os membros da equação por a1 (x) obtendo assim

y 0 + P (x)y = f (x)

(2) Identifique P (x) na forma padrão e então encontre o fator


integrante R
µ(x) = e P (x)dx

(3) Multiplique a forma padrão pelo fator integrante. O lado


esquerdo da equação obtido após essa multiplicação, é sempre
a derivada do produto do fator integrante por y,
 R 0 R
P (x)dx
e y = e P (x)dx f (x)

(4) Integre ambos os lados desta última equação, e resolva a in-


tegral resultante.
(5) Isole a variável y, a qual é a solução procurada.

Exemplo 2.4. Resolva as seguintes EDO’s lineares de primeira ordem:


(a) y 0 − 3y = 0.

(1) A equação já esta na forma padrão.


Cálculo III

(2) P (x) = −3 e, então, o fator integrante é:


R
µ(x) = e −3dx = e−3x

25
(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos:
 0
e−3x y = 0

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos:

e−3x y = C

(5) Isolando a variável y obtemos a solução da equação, que é:

y = Ce3x

dy
(b) − 3y = 6.
dx
(1) A equação já esta na forma padrão.
(2) P (x) = −3 e, então, o fator integrante é:
R
µ(x) = e −3dx = e−3x

(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos:


 0
−3x
e y = 6e−3x

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos:

e−3x y = −2e−3x + C

(5) Isolamos a variável y obtemos a solução da equação, que é:

y = −2 + Ce3x

(c) xy 0 − 4y = x6 ex .

(1) Dividindo a equação por x 6= 0 obtemos a forma padrão:


4
y0 − y = x5 ex
x
4
Cálculo III

(2) P (x) = − , então o fator integrante é:


x
R 4
−4
µ(x) = e − x dx = e−4ln(x) = eln(x ) = x−4

26
(3) Multiplicando a forma padrão pelo fator integrante obtemos:
 0
−4
x y = xex

(4) Integrando ambos os membros da última equação obtemos:


x−4 y = xex − ex + C
(5) Isolamos a variável y obtemos a solução da equação, que é:
y = x5 ex − x4 ex + Cx4
Exemplo 2.5. Resolva o problema de valor inicial:

 y 0 − sen(x)y = sen(x)






 y(0) = 1

Solução: Como a equação diferencial dada já esta na forma padrão,


vamos calcular o fator integrante, que é dado por
R
µ(x) = e− sen(x)dx = e−(−cos(x)) = ecos(x)
Agora, multiplicando a equação diferencial pelo fator integrante obtemos
 0
cos(x)
ye = sen(x)ecos(x)

Integrando ambos os membros desta última equação vem que


Z
cos(x)
ye = sen(x)ecos(x) dx

Podemos resolver a integral que aparece na equação anterior usando o


método de integração por partes, para isso basta fazer u = cos(x). Daí,
temos
yecos(x) = −ecos(x) + C
Finalmente, isolando a variável y obtemos a solução geral da EDO que é
y(x) = −1 + Ce−cos(x) .
Assim, temos que
y(0) = −1 + Ce−cos(0) = −1 + Ce−1 .
Como y(0) = 1 vem que
−1 + Ce−1 = 1
Cálculo III

ou seja, C = 2e. Portanto, a solução do PVI é


y(x) = −1 + 2e1−cos(x) .

27
2.4 Exercícios

1. Resolva as seguintes equações diferenciais lineares de primeira or-


dem:

dy dy
(a) (x2 − 9) + xy = 0 (f) + 2y = 0
dx dx
(b) y 0 + 3x2 y = x2 dr
(g) + rsec(θ) = cos(θ)

dy dy
(c) = 5y (h) x − y = x2 sen(x)
dx dx
0
(d) xy + 2y = 3 (i) x2 y 0 + xy = 1
dy dy
(e) + y = e3x (j) +y =x
dx dx

2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais:


dy


 (x + 1) + y = ln(x)

 dx
(a)



 y(1) = 10

 y 0 + tg(x)y = cos2 x



(b)


 y(0) = −1

Cálculo III

28
2.5 Método das Variáveis Separáveis

Consideremos a equação diferencial de primeira ordem


dy
= f (x, y). (2.8)
dx
Vejamos um outro caso particular da Eq. 2.8, que é quando f (x, y) é
o produto de uma função de x por uma função de y.
Definição 2.6. Uma equação diferencial ordinária de primeira ordem é
dy
dita ser de variáveis separáveis quando pode ser fatorada como uma
dx
função de x vezes uma função de y, ou seja, pode ser escrita na forma
dy
= g(x)h(y) (2.9)
dx

O nome separável vem do fato de que a expressão do lado direito da


Eq. 2.9 pode ser “separada” em uma função de x e uma função de y.
Observe que na Eq. 2.9 podemos ter dois casos, que são:
h(y) = 0 ou h(y) 6= 0.
No primeiro caso, a Eq. 2.9 possui somente soluções constantes. De fato,
h(y) = 0 nos leva a
dy
= 0,
dx
donde por integração direta obtemos a solução constante
y(x) = C.
No outro caso, ou seja, sendo h(y) 6= 0, a Eq. 2.9 pode ser reescrita
na forma diferencial
1
dy = g(x)dx. (2.10)
h(y)
Com este passo dizemos que separamos as variáveis, pois, todos os y es-
tão de um lado da equação e todos os x estão do outro lado. Agora,
integrando ambos os membros da Eq. 2.10 obtemos as soluções não
constantes da EDO, que é:
Z Z
1
dy = g(x)dx. (2.11)
h(y)
Cálculo III

Consequentemente, como é fácil perceber, a Eq. 2.11 fornece um Método


de Resolução para resolver uma EDO de primeira ordem com variáveis
separáveis.

29
Exemplo 2.7. Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são
de variáveis separáveis.
dy dy
1. = y 2 xe3x+4y 2. = y + sen(x)
dx dx
Solução: A primeira equação podemos fatorar da seguinte maneira
dy
= (xe3x )(y 2 e4y )
dx
Portanto, esta equação é de variáveis separáveis. Agora a segunda não
é possível expressa-la como sendo um produto de uma função de x por
uma função de y, ou seja, a equação não é de variáveis separáveis
Exemplo 2.8. Resolva a equação diferencial
(1 + x)dy − ydx = 0.

Solução: Dividindo os dois lados da igualdade por (1 + x)y tem-se


dy dx
=
y (1 + x)
de onde segue que
Z Z
dy dx
=
y (1 + x)

ln|y| = ln|1 + x| + C1
elevando a e ambos os membros da última igualdade vem que

y(x) = eln|1+x|+C1
= eln|1+x| .eC1
= |1 + x|eC1
= ±eC1 (1 + x)

Chamando ±eC1 de C obtemos a solução geral que é dada por:


y(x) = C(1 + x).
Exemplo 2.9. Resolva o problema de valor inicial:
 dy x
Cálculo III

 =−
 dx y




y(4) = −3

30
Solução: Observe que a EDO dada é de variáveis separáveis, sendo
assim reescrevendo a equação temos

ydy = −xdx

Agora integrando ambos os lados,


Z Z
ydy = − xdx,

obtemos a solução que é

y2 x2
= − + C1
2 2
ou ainda,

y 2 + x2 = 2C1 .

Chamando 2C1 de C 2 vemos que a solução geral para o PVI são


circunferências concêntricas com centro na origem, ou melhor,

y 2 + x2 = C 2 .

Agora, quando x = 4, temos que y(4) = −3, ou seja,

C 2 = (−3)2 + 42 = 25.

Portanto, o PVI dado possui como solução a circunferência

y 2 + x2 = 25.

Observe que a solução apresentada esta na forma implícita. Mas,


podemos a partir desta solução implícita encontrar uma solução explícita
que satisfaz a condição inicial dada. Para isto, basta “isolar” y, o que
nos fornece
p
y = ± 25 − x2 , com −5<x<5

Como o ponto (4, −3) encontra-se no quarto quadrante temos que a


solução desejada é
p
y = − 25 − x2 .
Cálculo III

31
2.6 Exercícios

1. Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são de variáveis


separáveis, e resolva todas aquelas que são.

(a) (x − 1)dy − ydx = 0 (l) (x2 + 1)dx + (y 2 + y)dy = 0


dy 1 + y2 (m) sen(x)dx + ydy = 0
(b) =
dx (1 + x2 )xy
 
dy dy
(n) a x + 2y = xy
dy dx dx
(c) + ycos(x) = 0 √
dx 4−x
dy (o) xdx − dy = 0
(d) = 3x − 1 y
dx
1 dy dy 1 + y2
(e) − tg(y) =0 (p) =
x dx dx 1 + x2
0
(f) 4xy 2 dx + (x2 + 1)dy = 0 (q) xy = 4y

(g) xydx − 3(y − 2)dy = 0 (r) x2 y 0 = y − xy


 2
2
(h) xdx + ye−x dy = 0 dy y+1
(s) yln(x) =
dx x
dy
(i) = e3x+2y dy
dx (t) + 2xy = 0
dy dx
(j) = sen(5x) (u) y 0 + 2y = 1
dx
(k) xy 0 = 4y (v) dx + e3x dy = 0

2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.


 dx

 = 4(x2 + 1)
 dt

(a)
 x( π ) = 1



4
dy


 (e2y − y)cos(x) = ey sen(2x)

 dx
(b)



 y(0) = 0
Cálculo III

32
2.7 Método das Equações Diferenciais Exatas

Uma grande quantidade das EDO’s de primeira ordem pode ser escrita
na sua forma normal, dada por:
dy
y 0 = f (x, y) ou = f (x, y).
dx
Também, EDO’s de primeira ordem são ocasionalmente escritas na forma
diferencial, dada por:

M (x, y)dy + N (x, y)dx = 0.

Exemplo 2.10. A EDO de primeira ordem a seguir está em sua forma


diferencial,
(y − x)dx + 4xdy = 0.
No entanto, supondo que y seja a variável dependente, dividindo esta
última equação pela diferencial dx obtemos:
dy
4xy 0 + y = x onde y0 = .
dx
Consequentemente, podemos expressa-la na sua forma normal, que é:
1 y
y0 = − .
4 4x
Definição 2.11. A equação diferencial de primeira ordem

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 (2.12)

é exata se existir uma função g(x, y) tal que:

∂g ∂g
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y).
∂x ∂y

Exemplo 2.12. A equação x2 y 3 dx + x3 y 2 dy é exata. De fato, sendo


1
g(x, y) = x3 y 3 temos que:
3
∂g ∂g
(x, y) = x2 y 3 = M (x, y) e (x, y) = x3 y 2 = N (x, y).
∂x ∂y
As perguntas naturais que surgem aqui são: Existe um critério para
Cálculo III

determinar se uma equação diferencial de primeira ordem é exata? Se


sim, como determinar a função g(x, y)?

33
As respostas para estas perguntas vem através do Teorema 2.13 a
seguir, mas antes observe que sendo a diferencial total de g(x, y) dada por
∂g ∂g
dg(x, y) = (x, y)dx + (x, y)dy,
∂x ∂y
se a Eq. 2.12 é uma equação diferencial exata, então
dg(x, y) = M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0.
Sendo assim, por integração, obtemos que g(x, y) = c é uma solução
geral da Eq. 2.12, com c ∈ R uma constante, chamadas curvas integrais
da equação diferencial.
Teorema 2.13. Se as funções M (x, y), N (x, y) e suas derivadas parciais
∂M ∂N
(x, y) e (x, y)
∂y ∂x
forem contínuas em um quadrado R, então uma condição necessária e
suficiente para que
M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0
seja exata é
∂M ∂N
(x, y) = (x, y).
∂y ∂x
Demonstração: (⇒) Se a equação M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 é exata,
então existe uma função g(x, y) tal que:
∂g ∂g
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y).
∂x ∂y
Dessa forma, derivando parcialmente M (x, y) em relação a y e N (x, y)
em relação a x temos:
∂2g
 
∂M ∂ ∂g
(x, y) = (x, y) = (x, y)
∂y ∂y ∂x ∂y∂x

∂2g
 
∂N ∂ ∂g
(x, y) = (x, y) = (x, y)
∂x ∂x ∂y ∂x∂y

∂M ∂N
Logo, sendo as derivadas parciais (x, y) e (x, y) contínuas,
Cálculo III

∂y ∂x
temos que
∂2g ∂2g
(x, y) e (x, y)
∂y∂x ∂x∂y

34
também são contínuas e, consequentemente, vale a seguinte igualdade:

∂2g ∂2g
(x, y) = (x, y)
∂y∂x ∂x∂y
Portanto,
∂M ∂N
(x, y) = (x, y).
∂y ∂x
(⇐) Seja M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 e suponhamos que

∂M ∂N
(x, y) = (x, y).
∂y ∂x

A equação M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 é exata se existe uma função


g(x, y) tal que

∂g ∂g
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y).
∂x ∂y

Para determinar g(x, y) integramos M (x, y) com relação a x, na pri-


meira das igualdades anteriores, considerando y como uma constante:
Z
g(x, y) = M (x, y)dx + φ(y), (2.13)

onde a função φ(y) é a constante de integração.


Agora nosso objetivo é determinar φ(y). Para isto derivamos a
Eq. 2.13 em relação a y e usamos a segunda igualdade acima, isto é:
Z 
∂g ∂
(x, y) = M (x, y)dx + φ0 (y) = N (x, y)
∂y ∂y

Consequentemente,
Z 

φ0 (y) = N (x, y) − M (x, y)dx .
∂y

Assim, por integração em relação a y, temos que:


Z  Z 

φ(y) = N (x, y) − M (x, y)dx dy
∂y

Portanto,
Cálculo III

Z Z  Z 

g(x, y) = M (x, y)dx + N (x, y) − M (x, y)dx dy.
∂y

35
Na verdade, a prova de suficiência do Teorema 2.13 nos fornece um
procedimento para resolver EDOs de primeira ordem exatas. A saber:

Método das Equações Diferenciais Exatas:

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0

(1) Verifique se a equação é exata, ou seja, verifique se:

∂M ∂N
(x, y) = (x, y).
∂y ∂x

(2) Se a equação é exata, considere g(x, y) tal que:

∂g ∂g
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y).
∂x ∂y

(3) Integre M (x, y) com relação a x, considerando y como uma


∂g
constante, ou seja, integre (x, y) com relação a x:
∂x
Z
g(x, y) = M (x, y)dx + φ(y).

(4) Derive g(x, y) em relação a y e iguale o resultado a N (x, y):


Z 
∂g ∂
(x, y) = M (x, y)dx + φ0 (y) = N (x, y).
∂y ∂y

(5) Isole φ0 (y) e integre em relação a y:


Z  Z 

φ(y) = N (x, y) − M (x, y)dx dy.
∂y

(6) Obtenha a solução geral g(x, y) = c da equação diferencial


Cálculo III

exata, substituindo φ(y) em g(x, y).

36
Exemplo 2.14. A equação (x−y)dx+(x+y)dy = 0 não é uma equação
exata, pois, sendo M (x, y) = x − y e N (x, y) = x + y temos que:
∂M ∂N
(x, y) = −1 e (x, y) = 1
∂y ∂x
∂M ∂N
Portanto, (x, y) 6= (x, y) e pelo Teorema 2.13 a equação dada
∂y ∂x
não é exata.
Exemplo 2.15. Mostre que as equações a seguir são exatas e resolva.
1. 2xydx + (x2 − 1)dy = 0.

(1) A equação é exata, pois, de M (x, y) = 2xy e N (x, y) = x2 − 1


temos que:
∂M ∂N
(x, y) = 2x e (x, y) = 2x
∂y ∂x
Portanto,
∂M ∂N
(x, y) = (x, y).
∂y ∂x
(2) Seja g(x, y) tal que:
∂g ∂g
(x, y) = 2xy e (x, y) = x2 − 1.
∂x ∂y

∂g
(3) Integrando (x, y) com relação a x, considerando y como
∂x
uma constante, obtemos:
Z
g(x, y) = 2xydx + φ(y) ⇒ g(x, y) = x2 y + φ(y).

(4) Derivando g(x, y) em relação a y e igualando o resultado a


N (x, y), temos:
∂g
(x, y) = x2 + φ0 (y) ⇒ x2 + φ0 (y) = x2 − 1.
∂y

(5) Isolando φ0 (y) e integrando em relação a y:


Z
φ0 (y) = −1 ⇒ φ(y) = −1dy ⇒ φ(y) = −y.
Cálculo III

(6) Portanto, a solução geral da equação é dada por:

g(x, y) = c ⇒ x2 y − y = c.

37
2x y 2 − 3x2
2. dx + dy.
y3 y4

Da equação extraímos que:

2x y 2 − 3x2
M (x, y) = e N (x, y) =
y3 y4
Consequentemente,
∂M 6x ∂N 6x
(x, y) = − 4 e (x, y) = − 4
∂y y ∂x y

Portanto, a equação é exata. Sendo assim, seja g(x, y) tal que:

∂g 2x ∂g y 2 − 3x2
(x, y) = 3 e (x, y) = .
∂x y ∂y y4
∂g
Donde integrando (x, y) com relação a x vem que:
∂x
x2
Z
2x
g(x, y) = dx + φ(y) ⇒ g(x, y) = + φ(y).
y3 y3

Agora, derivando g(x, y) em relação a y temos que:

∂g 3x2 3x2 y 2 − 3x2


(x, y) = − 4 + φ0 (y) ⇒ − 4
+ φ0 (y) = .
∂y y y y4
Isto nos leva a:
y 2 − 3x2 3x2 1
φ0 (y) = 4
+ 4 = 2.
y y y
Por integração em relação a y obtemos:
1
φ(y) = − .
y
Portanto,
x2 1
g(x, y) = − .
y3 y
Consequentemente, a solução geral g(x, y) = c da equação é:
Cálculo III

x2 1
− = c.
y3 y

38
Exemplo 2.16. Resolva o problema de valor inicial:



 (cos(x)sen(x) − xy 2 )dx + y(1 − x2 )dy = 0




 y(0) = 2

Solução: Obverse que a equação é exata, pois,


∂M ∂N
(x, y) = −2xy = (x, y)
∂y ∂x
Alternativamente, para calcular a função g(x, y), podemos usar pri-
∂g ∂g
meiro como hipótese (x, y) = N (x, y), em vez de (x, y) = M (x, y).
∂y ∂x
Na sequência, observe que neste exemplo esta escolha alternativa,
num primeiro momento, facilita o cálculo de integrais e derivadas.
∂g y 2 (1 − x2 )
(x, y) = y(1 − x2 ) ⇒ g(x, y) = + φ(x).
∂y 2
Logo,
∂g
(x, y) = −y 2 x + φ0 (x) ⇒ −y 2 x + φ0 (x) = cos(x)sen(x) − xy 2 .
∂x
Daí obtemos, φ0 (x) = cos(x)sen(x), e por integração por partes, em
relação a x, vem que:
cos2 (x)
Z Z
φ(x) = cos(x)sen(x)dx = − cos(x)(−sen(x))dx = − .
2
Portanto, a solução geral g(x, y) = c da equação é:
y 2 (1 − x2 ) cos2 (x)
− =c ⇒ y 2 (1 − x2 ) − cos2 (x) = 2c.
2 2
Fazendo C = 2c podemos reescrever a solução geral como:

y 2 (1 − x2 ) − cos2 (x) = C.

Por fim, é necessário determinar a constante C de modo a satisfazer a


condição inicial y(0) = 2, que é, quando x = 0 temos y = 2.

22 (1 − 02 ) − cos2 (0) = C ⇒ C = 3.
Cálculo III

Portanto, a solução do PVI dado é:

y 2 (1 − x2 ) − cos2 (x) = 3.

39
2.8 Exercícios

1. Verifique se as seguintes equações diferenciais são exatas e resolva


as que forem:
(a) (2xy + x)dx + (x2 + y)dy = 0
(b) yexy dx + xexy dy = 0
(c) xexy dx + yexy dy = 0
(d) ydx + xdy = 0
(e) (ysenx + xycosx)dx + (xsenx + 1)dy = 0
(f) (2x − 1)dx + (3y + 7)dy = 0
(g) (5x + 4y)dx + (4x − 8y 3 )dy = 0
dy
(h) (1 − 2x2 − 2y) = 4x3 + 4xy
dx
(i) (2x + y)dx − (x + 6y)dy = 0
(j) (x3 + y 3 )dx + 3xy 2 dy = 0
2. Resolva os seguintes problemas de valor inicial:



 (x + y)2 dx + (2xy + x2 − 1)dy = 0

(a)



 y(1) = 1



 (ex + y)dx + (2 + x + yey )dy = 0

(b)



 y(0) = 1

3. Determine o valor de k para que a equação diferencial a seguir seja


exata.

(6xy 3 + cos(y))dx + (kx2 y 2 − xsen(y))dy = 0

4. Verifique que as equações diferenciais são exatas, resolva as equa-


ções e faça um esboço das curvas integrais.

(a) 3x2 ydx + x3 dy = 0 (b) (2x − y)dx + (2y − x)dy = 0


Cálculo III

40
3. Equações diferenciais ordinárias de primeira ordem como mo-
delos matemáticos

Modelos matemáticos são utilizados em muitos campos da atividade hu-


mana, como: Matemática, Economia, Física, Química, Biologia, Psico-
logia, Comunicação, Demografia, Astronomia, Engenharia, etc.
Muitos problemas práticos necessitam usar modelos matemáticos e
as vezes, as situações são muito diferentes, mas a abordagem e a filosofia
subjacentes são as mesmas.
Existe uma “forma” matemática unificada para tratar muitas teorias
científicas e matemáticas, tais técnicas podem ser descritas como uma
dinâmica geral, que tem sido desenvolvida em áreas conhecidas como
Teoria de Sistemas e Teoria de Controle, como é o caso do Cálculo Di-
ferencial e Equações Diferenciais.
Conceitualmente, um modelo matemático ou simplesmente modelo,
pode ser apresentado como uma representação de um sistema real, o que
significa que um modelo deve representar um sistema e a forma como
ocorrem as modificações naquele sistema.
O ato de modelar, conhecido como modelagem, pode ser aplicado
a um grande número de problemas. Por exemplo, o estudo da análise
ambiental nas proximidades de um rio, a forma da asa de um avião, um
sistema econômico, uma cultura agrícola, um estudo populacional, um
estudo físico, e até mesmo um sistema matemático como o conjunto dos
números naturais.
O objetivo mais importante de um modelo, é que ele permite entender
o próprio modelo de uma forma simples ou então descrever este modelo
mais completamente, de modo que o modelo possa ser tão preciso quanto
o mundo real.
Um modelo é normalmente uma simplificação do mundo real ou al-
guma forma conveniente de trabalhar com este mundo, mas as caracte-
rísticas essenciais do mundo real devem aparecer no modelo, de modo
que o seu comportamento seja igual ou semelhante àquele do sistema
modelado.
Um modelo pode ser real ou abstrato. Em diversos exemplos, a aná-
lise ambiental de um rio e a forma da asa de um avião ou o aerofólio de
um carro de corrida, é usual construir modelos físicos e fazer as medidas
nos próprios modelos. Já em um sistema econômico ou em um estudo
Cálculo III

de uma população, devemos usar um modelo abstrato e empregar a lin-


guagem matemática para definir o modelo, pois não é normal tratar a
população como cobaia, como acontece algumas vezes em nosso planeta.

41
Na sequência, trataremos sobre modelos abstratos que podem ser
descritos por equações matemáticas, ou seja, usaremos o termo modelo
para representar modelo matemático.
Um modelo matemático consiste de um conjunto de equações que
representam, de uma forma quantitativa, as hipóteses que foram usa-
das na construção do modelo, as quais se apoiam sobre o sistema real.
Tais equações são resolvidas em função de alguns valores conhecidos ou
previstos pelo modelo real, e podem ser testadas através da compara-
ção com os dados conhecidos ou previstos com as medidas realizadas no
mundo real.
As equações matemáticas de um modelo não proporcionam a pró-
pria explicação científica do modelo, mas simplesmente interpretam as
hipóteses de um ponto de vista quantitativo, dando-nos a condição de
deduzir consequências e mostrar-nos onde estão os detalhes que deverão
ser aceitos ou recusados.
De maneira geral, a construção de um modelo matemático de um
problema segue o seguinte:

1. começa com a identificação das variáveis responsáveis pela variação


do sistema. Podemos a princípio optar por não incorporar todas
essas variáveis no modelo. Nesta etapa, estamos especificando o
nível do problema.
2. Por fim, elaboramos um conjunto de hipóteses razoáveis ou pressu-
posições sobre o problemas que estamos tentando descrever. Essas
hipóteses deverão incluir quaisquer leis empíricas aplicáveis ao pro-
blema.

3.1 Dinâmica populacional

Uma das primeiras tentativas de modelagem do crescimento populaci-


onal humano por meio da matemática foi feita pelo economista inglês
Thomas Malthus, em 1978. Basicamente, a ideia por trás do modelo
malthusiano é a hipótese de que a taxa segundo a qual a população de
um país cresce em um determinado instante é proporcional à população
do país naquele instante. Em outras palavras, quanto mais pessoas hou-
ver em em instante t, mais pessoas vão existir no futuro. Em termos
matemáticos, se P (t) representa a população total no instante t, então
essa hipótese é expressada por:

dP (t) dP
Cálculo III

= kP (t) ou simplesmente = kP,


dt dt
onde k é uma constante de proporcionalidade.

42
Em geral, o modelo muito usado hoje em dia para modelar o cres-
cimento/decaimento de pequenas populações, em um curto intervalo de
tempo, é dado pelo PVI:
dP


 = kP
 dt

(3.1)



 P (t ) = P
0 0

Observe que a equação diferencial que aparece na Eq. 3.1 é de pri-


meira ordem e de variáveis separáveis. De fato, podemos reescrever a
equação como
1
dP = kdt (3.2)
P
Dessa forma, obtemos a solução geral da Eq. 3.2 integrado, conveni-
entemente, os dois lados da igualdade, isto é:
Z Z
1
dP = kdt ⇒ ln(P )+C1 = kt+C2 ⇒ ln(P ) = kt+C2 −C1
P
Daí, fazendo C3 = C2 − C1 obtemos,

ln(P ) = kt + C3

Elevando a exponencial e dos dois lados da igualdade, determinamos a


solução geral P (t) da equação diferencial, que é:

eln(P ) = ekt+C3 ⇒ P (t) = ekt eC3

Por simplicidade, fazendo C = eC3 , obtemos:

P (t) = Cekt ,

Por fim, levando em conta a condição inicial P (t0 ) = P0 , podemos de-


terminar a constante C, a saber:
P (t0 )
P (t0 ) = Cekt0 ⇒ C= ⇒ C = P0 e−kt0
ekt0
Portanto, a solução do PVI dado na Eq. 3.1 é:

P (t) = Cekt ⇒ P (t) = P0 e−kt0 ekt


Cálculo III

ou melhor,

P (t) = P0 ek(t−t0 ) . (3.3)

43
Exemplo 3.1. Uma cultura tem inicialmente P0 bactérias. Em t = 1h,
3
o número medido de bactérias é de P0 . Se a taxa de crescimento
2
for proporcional ao número de bactérias P (t) presente no instante t,
determine o tempo necessário para triplicar o número de bactérias.

Solução: Para resolver este problema basta, simplesmente, resolver o


problema de valor inicial da Eq. 3.1 com t0 = 0, ou seja, P (0) = P0 , e
na sequência, usar a observação empírica de que
3
P (1) = P0
2
para determinar a constante de proporcionalidade k. Sendo assim, temos
o seguinte PVI que representa o problema em questão:
dP


 = kP
 dt




 P (0) = P
0

Como vimos antes, a solução deste PVI é dada pela Eq. 3.3, com as
devidas substituições, ou seja, para t0 = 0 temos

P (t) = P0 ekt .
3
Agora fazendo t = 1 e sabendo que P (1) = P0 , obtemos:
2
 
3 3 3
P (1) = P0 ek ⇒ P0 = P0 ek ⇒ ek = ⇒ k = ln
2 2 2
Portanto, a solução do PVI dado é:

P (t) = P0 eln(3/2)t .

Finalmente, o problema pede para determinar o tempo t necessário para


triplicar o número de bactérias, isto é, determinar t para o qual temos
P (t) = 3P0 . Então vejamos,

P (t) = 3P0 ⇒ P0 eln(3/2)t = 3P0 ⇒ eln(3/2)t = 3

Aplicando ln dos dois lados da última igualdade vem que:


Cálculo III

   
ln(3) 3 3
ln(3/2)t = ln(3) ⇒ t = = ln 3 − ⇒ t = ln .
ln(3/2) 2 2
o que nos leva a resposta desejada.

44
3.2 Decaimento radioativo

O núcleo de um átomo consiste em combinações de prótons e nêutrons.


Muitas dessas combinações são instáveis, isto é, os átomos decaem ou
transmutam em átomos de outra substância. Esses núcleos são chamados
de radioativos. Por exemplo, ao longo do tempo, o altamente radioativo
elemento rádio, Ra-226, transmuta-se no gás radônio radioativo, Rn-222.
Para modelar o fenômeno de decaimento radioativo, supõe-se que a
dA
velocidade (taxa) , segundo a qual o núcleo de uma substância decai, é
dt
proporcional à quantidade A(t) de substância remanescente no instante
t, ou seja,
dA
= kA.
dt
Exemplo 3.2. Em física, a meia-vida é uma medida da estabilidade
de uma substância radioativa. A meia-vida é simplesmente o tempo
necessário para a metade dos átomos em uma quantidade inicial A0
desintegrar-se ou transformar-se em átomos de um outro elemento. Neste
sentido, quanto maior for a meia-vida de uma substância, mais estável
ela será. De posse dessas informações, é sabido que um reator regenera-
dor converte urânio 238 relativamente estável no isótopo plutônio 239.
Depois de 15 anos determinou-se que 0, 043% da quantidade inicial A0
de plutônio desintegrou-se. Ache a meia-vida desse isótopo, se a taxa de
desintegração for proporcional à quantidade remanescente.
Solução: Seja A(t) a quantidade de plutônio remanescente no instante
t. Como já vimos anteriormente, para t0 = 0, a função
A(t) = A0 ekt
é a solução do problema de valor inicial
dA


 = kA
 dt




 A(0) = A
0

Se 0, 043% dos átomos de A0 tiverem se desintegrado, resta-


ram 99, 957% de substância. Assim, para encontrar a constante de
decaimento k, fazemos t = 15, donde por hipótese obtemos:
A(15) = 0, 99957A0
Cálculo III

o que nos leva a:


1
A(15) = A0 e15k ⇒ A0 e15k = 0, 99957A0 ⇒ k= ln(0, 99957)
15

45
Logo,
1
A(t) = A0 e 15 ln(0,99957)t
Agora, a meia-vida do plutônio corresponde ao valor do tempo t
para o qual
1
A(t) = A0 .
2
Sendo assim,
1 1 1 1 1
A(t) = A0 ⇒ A0 e 15 ln(0,99957)t = A0 ⇒ e 15 ln(0,99957)t = .
2 2 2
Portanto, a meia-vida do plutônio é:
15 ln( 21 )
t= .
ln(0, 99957)
Exemplo 3.3. Foi encontrado um osso fossilizado que contém um mi-
lésimo da quantidade original de C-14. Determine a idade do fóssil.

Solução: A Teoria da Datação por Carbono baseia-se no fato de que


o isótopo carbono 14 é produzido na atmosfera pela ação da radiação
cósmica sobre o nitrogênio. A razão da quantidade de C-14 em relação
ao carbono comum na atmosfera parece ser uma constante e, consequen-
temente, a quantidade de isótopo presente em todos os organismos vivos
é a mesma na atmosfera. Assim, comparando a quantidade proporcional
de C-14 presente em um fóssil, A(t), com a razão constante encontrada
dA
na atmosfera, , é possível obter uma estimativa razoável da idade t
dt
do fóssil. O método baseia-se no conhecimento de que a meia-vida do ra-
dioativo C-14 é aproximadamente 5.600 anos. Assim, o ponto de partida
para solucionar o problema em questão é o PVI
dA


 = kA
 dt




 A(0) = A
0

cuja solução para t0 = 0 é dada por

A(t) = A0 ekt .
Cálculo III

Para determinar o valor da constante de decaimento k, usamos o fato de


que a meia-vida do radioativo C-14 é aproximadamente t = 5600, ou seja,
A0 A0 ln(2)
A(5600) = ⇒ A0 e5600k = ⇒ k=− .
2 2 5600

46
Logo, a quantidade de C-14 presente num fóssil no instante t é:
ln(2)
A(t) = A0 e− 5600 t .

Finalmente, para determinar a idade t do fóssil, levamos em conta a


quantidade de C-14 encontrada que é:
1
A(t) = A0
1000
Portanto, o tempo t procurado é:
ln(2) 1 5600 ln(1000)
A0 e− 5600 t = A0 ⇒ t=
1000 ln(2)

Sendo assim, a idade aproximada do fóssil encontrado é de 55.808 anos.

3.3 Lei de Newton do esfriamento/aquecimento

De acordo com a lei empírica de Newton do esfriamento/aquecimento,


a taxa (velocidade) segundo a qual a temperatura de um corpo varia é
proporcional à diferença entre a temperatura do corpo e a temperatura
do meio que o rodeia, denominada temperatura ambiente. Assim, se T (t)
representar a temperatura de um corpo no instante t e Tm a temperatura
do meio que o rodeia, então temos:
dT
= k(T − T m) (3.4)
dt
onde k é uma constante de proporcionalidade.
Note que a Eq. 3.4 é de primeira ordem e de variáveis separáveis,
isto é,
1
dT = kdt
(T − Tm )

Dessa forma, integrado os dois lados dessa última da igualdade, ob-


temos:
Z Z
1
dT = kdt ⇒ ln(T − Tm ) = kt + C1
(T − Tm )

Agora, fazendo as devidas simplificações obtemos a solução geral T (t),


Cálculo III

que é:

T (t) = Cekt + Tm .

47
Exemplo 3.4. O café está a 90o C logo depois de coado e, um minuto
depois, passa para 85o C, em uma cozinha a 25o C. Vamos determinar a
temperatura do café em função do tempo e o tempo que levará para o
café chegar a 60o C.

Solução: De acordo com a Lei do esfriamento/aquecimento de Newton


temos que Tm = 25, e temos que resolver o PVC dado a seguir
dT


 = k(T − 25)
 dt

 T (0) = 90


 T (1) = 85

Observando que a equação diferencial dada é de variáveis separáveis,


usando o respectivo método de solução, obtemos que a temperatura do
café em função do tempo é dada por
T (t) = 25 + 65eln(60/65)t (3.5)
onde a constante C, resultante da resolução da referida equação diferen-
cial, e o valor de k, foram obtidos através das condições T (0) = 90 e
T (1) = 85, respectivamente.
Fazendo T (t) = 60 na Eq. 3.5 vem que
60 = 25 + 65eln(60/65)t
Logo, o tempo necessário para que o café atinja 60o é
ln(35/65)
t= ≈ 8 min
ln(60/65)
Exemplo 3.5. Um bolo é retirado do forno, sua temperatura é de
300o F . Três minutos depois, sua temperatura passa para 200o F . Quanto
tempo levará para sua temperatura chegar a 75o F , se a temperatura do
meio ambiente em que ele foi colocado for de exatamente 70o F ?

Solução: De acordo com a Lei do esfriamento/aquecimento de Newton


temos que Tm = 70. Portanto, devemos resolver o PVC dado por
dT


 = k(T − 70)
 dt

 T (0) = 300


 T (3) = 200
Cálculo III

A equação diferencial dada no PVC acima é de variáveis separáveis,


cuja solução geral T (t) é:
T (t) = Cekt + 70.

48
Uma vez que T (0) = 300 temos
T (0) = C + 70 ⇒ C + 70 = 300 ⇒ C = 230.
Consequente,
T (t) = 230ekt + 70.
Para determinar o valor de k nos valemos da condição T (3) = 200.
Isto é,
130
T (3) = 230e3k + 70 ⇒ 230e3k + 70 = 200 ⇒ e3k = .
230
ln(13/23)
O que nos leva a k = , ou seja,
3
ln(13/23)
t
T (t) = 70 + 230e 3 .
O tempo que o bolo levará para sua temperatura chegar a 75o F , ou seja,
T (t) = 75 é:
ln(13/23)
t
ln(13/23)
t
ln(13/23)
t 5
70 + 230e 3 = 75 ⇒ 230e 3 =5 ⇒ e 3 = .
230
Portanto, fazendo as devidas simplificações obtemos t =.

3.4 Mistura de duas soluções salinas

Vamos supor que um tanque contenha uma mistura de água e sal com um
volume inicial de V0 litros e Q0 gramas de sal. Suponhamos, também,
que uma solução salina seja bombeada para dentro do tanque a uma
taxa de Te litros por minuto possuindo uma concentração de Ce gramas
de sal por litro. Suponha que a solução bem misturada sai a uma taxa
de Ts litros por minuto.
A taxa de variação da quantidade Qt de sal no tanque é igual à taxa
com que entra sal no tanque menos a taxa com que sai sal do tanque,
ou seja,
dQ
= (taxa de entrada de sal) - (taxa de saída de sal)
dt
A taxa com que entra sal no tanque é igual a taxa com que entra a
mistura, ou seja, Te , vezes a concentração de entrada, Ce .
Te Ce
Cálculo III

E a taxa com que sai sal do tanque é igual a taxa com que sai a mistura
do tanque, ou seja, Ts , vezes a concentração de sal que sai do tanque, Cs .
Ts Cs

49
Figura 3.1: Mistura de duas soluções salinas

Dessa forma, a taxa de variação da quantidade Qt de sal no tanque


pode ser dada como
dQ
= Te Ce − Ts Cs
dt
Como a solução é bem misturada a concentração de sal que sai é igual
a concentração de sal no tanque, ou seja,
Q(t)
Cs (t) =
V (t)
onde V (t) é o volume no tanque.
Como o volume no tanque, V (t), é igual ao volume inicial, V0 , somado
ao volume que entra no tanque menos o volume que sai do tanque, então

V (t) = V0 + Te t − Ts t

= V0 + (Te − Ts )t

Assim, a quantidade de sal no tanque, Q(t), é a solução do problema


de valor inicial:

 dQ = Te Ce − Ts Q
Cálculo III


 dt V0 + (Te − Ts )t




 Q(0) = Q0

50
Exemplo 3.6. Num tanque há 100 litros de salmoura contendo 30 gra-
mas de sal em solução. Água (sem sal) entra no tanque à razão de 6
litros por minuto e a mistura se escoa à razão de 4 litros por minuto,
conservando-se a concentração uniforme por agitação. Vamos determi-
nar qual a concentração de sal no tanque ao fim de 50 minutos.

Solução: O problema pode ser modelado pelo seguinte problema de


valor inicial
dQ Q


 = −4
 dt
 100 + 2t



Q(0) = 30

A equação acima é linear e pode ser escrita como


dQ Q
+4 =0
dt 100 + 2t
Neste caso o fator integrante é dado por
R 4
e 100+2t dt = (100 + 2t)2

Multiplicando-se a equação pelo fator integrante obtemos


d
[(100 + 2t)2 Q] = 0
dt
Integrando-se obtemos

(100 + 2t)2 Q = C

ou seja,
C
Q(t) =
(100 + 2t)2
Substituindo t = 0 e Q(0) = 30 vem que:

C = 30.1002 = 3.105

Assim,
3.105
Q(t) =
(100 + 2t)2
Cálculo III

A concentração é o quociente da quantidade de sal pelo volume que


é igual a

V (t) = 100 + 2t

51
Logo
3.105
c(t) =
(100 + 2t)3
Portanto, após 50 minutos

3.105 3
c(50) = = gramas/litro
(100 + 2.50)3 80

Exemplo 3.7. Um determinado remédio é injetado na veia de um pa-


ciente de hospital. O líquido, contendo 5 mg/cm3 do remédio, entra na
corrente sanquinea do paciente a uma taxa de 100 cm3 /h. O remédio
é absorvido pelos tecidos do corpo, ou deixa a corrente sanguínea de
outro modo, a uma taxa proporcional à quantidade presente, com um
coeficiente de proporcionalidade igual a 0, 4/h. Supondo que o remédio é
distribuído uniformemente na corrente sanguínea, escreva uma equação
diferencial para a quantidade de remédio presente na corrente sanguínea
em qualquer instante de tempo.

Solução: São injetados 100 cm3 por hora, e cada centímetro cúbico
contém 5 mg do remédio. Assim, o remédio entra na corrente sanguínea
do paciente a uma taxa de 500 mg/h. Por outro lado, se Q(t) é a
quantidade (em mg) de remédio na corrente sanguínea no tempo t, então
o remédio deixa a corrente sanguínea a uma taxa de

0, 4Q(t) mg/h

A taxa de variação da quantidade de remédio é dada pela diferença entre


a quantidade que entra e quantidade que sai da corrente sanguínea por
unidade de tempo. Segue-se que a equação diferencial para a quanti-
dade de remédio presente na corrente sanguínea em qualquer instante
de tempo é dada por

dQ(t)
= 500 − 0, 4.Q(t).
dt

3.5 Reações químicas: irreversíveis mononucleares e bimolecular irre-


versível

Iniciamos esta seção apresentando alguns conceitos de Cinética Química.


Começamos definindo o que venha a ser Cinética Química:
Cálculo III

Definição 3.8. Cinética química é o estudo da velocidade das reações,


de como a velocidade varia em função das diferentes condições e quais
os mecanismos de desenvolvimento de uma reação. Aqui entendemos
Velocidade de uma reação química como o aumento na concentração

52
molar do produto por unidade de tempo ou o decréscimo na concentração
molar do reagente na unidade de tempo. Vale ressaltar também que
a Constante da velocidade, k, é uma constante de proporcionalidade
que relaciona velocidade e concentração. Tem valor constante a uma
temperatura e varia com a temperatura.
Agora definimos o que venha a ser uma reação química:
Definição 3.9. Uma reação química é a transformação de um con-
junto de substâncias (chamadas reagentes) A, B, etc. em outro con-
junto de substâncias (chamadas produtos) P , Q, etc. mediante proces-
sos que preservam os elementos químicos componentes; nesse caso, tanto
o consumo quanto a produção de substâncias ocorrem segundo propor-
ções inteiras características dadas pelos chamados coeficientes da reação
a, b, · · · , p, q, · · · .
Simbolicamente, representamos a reação por uma equação química

aA + bB + · · · −→ pP + qQ + · · ·

Dizemos que a equação está balanceada quando o conjunto dos coefi-


cientes da reação é irredutível, i.e., têm a unidade como máximo divisor
comum. De outra forma,

mdc(a, b, · · · , p, q, · · · ) = 1

Para ilustrar esses conceitos, citamos como exemplo a queima do


alcool etílico: o alcool etílico C2 H6 O reage com o oxigênio O2 produzindo
gás carbônico CO2 e água H2 O,

C2 H6 O + 3O2 −→ 2CO2 + 3H2 O

Observamos que os (números de cada um dos) elementos químicos


envolvidos são preservados na reação química: na equação balanceada,
tanto antes quanto depois da queima temos 2 átomos de carbono (de-
notado por C), 6 átomos de hidrogênio (denotado por H) e 7 átomos
de oxigênio (denotado por O).
Definição 3.10 (Lei de Ação das Massas). A Lei de Ação das Massas
determina a velocidade instantânea de uma reação química simples em
termos das concentrações dos seus reagentes. Essa lei foi descoberta
empiricamente por Guldberg e Waage em 1864. Em outras palavras,
a Lei de Ação das Massas estabelece que a velocidade de uma reação
química é proporcional às concentrações das substâncias que reagem.
Cálculo III

Exemplo 3.11 (Reações Irreversíveis Mononucleares). Consideremos


inicialmente a inversão da sacarose. A reação é:

C12 H22 + O11 + H2 O −→ C6 H12 O6 + C6 H12 O6

53
São formadas duas moléculas, uma de glicose e outra de frutose. Como,
neste caso, a concentração da água pode ser suposta constante durante a
reação, já que sua variação é desprezível nas condições em que o problema
se realiza, chamamos A esta concentração, a a da sacarose antes de
iniciar a reação e x a da sacarose decomposta ao fim do tempo t. A
velocidade com que se verifica a inversão será dada pela derivada da
quantidade decomposta em relação ao tempo; como esta derivada deve
ser proporcional às concentrações A da água e a − x da sacarose que
ainda não reagiu, temos:
dx
= k1 A(a − x)
dt
Reescrevendo a EDO acima, onde fazemos k = k1 A, isto é:
dx
= k(a − x),
dt
e contando o tempo a partir do momento em que se inicia a reação, para
t = 0, devemos ter x = 0; logo, temos o seguinte PVI:
dx
= k(a − x), com x(0) = 0
dt
A EDO é de variáveis separaveis e sua solução, utilizando a condição
inicial, nos dá a quantidade de sacarose decomposta por unidade de
volume ao fim do tempo t.
Exemplo 3.12 (Reação Bimolecular Irreversível). Consideremos a rea-
ção:
C2 H2 + O2 −→ 2CO + H2 .
Chamando a e b as concentrações iniciais de acetileno e oxigênio e x a
quantidade de cada reagente, expressa tal como as concentrações iniciais,
em moléculas/ grama por unidade de volume, a velocidade da reação é:

dx
= k(a − x)(b − x).
dt
Cálculo III

54
3.6 Exercícios diversos

1. Resolva cada uma das seguintes equações diferenciais lineares:


2(3x + 1)e−3x  3x
1) y 0 = 3y + 2x R: y = C − e
9
2) y 0 = y + 3 R: y = (C − 3e−x )ex
2y
3) y 0 = + x2 R: y = x2 (x + C)
x
(2x2 + 2x + 1)e−2x )
4) y 0 = 2y − x2 + C e2x

R: y =
4
e2x C
5) y 0 = −y + e2x R: y = + x
3 e
2x C
6) y 0 = −y + 2e−x + x2 R: y = x2 − 2x + 2 + x + x
e e
dy
7) = ex+y R: y = −ln(−ex − C)
dx
dy 2
8) = 2xy R: y = Cex
dx
dy ex p
9) = R: y = 2(ex + C)
dx y
dy x+y
10) = R: y = xln(x) + Cx
dx x
x 1
11) y 0 + 3y = x + e−2x R: y = − + e−2x + Ce−3x
3 9
C
12) y 0 + x2 y = x2 R: y = x3 + 1
e3
 −3x 
−3sen(2x) − 2cos(2x)

3x e
13) y 0 − 3y = sen(2x) R: y = e +C
13
x2 C
14) y 0 + 2y = xe−2x R: y = 2x
+ 2x
2e e
x4 + C
15) xy 0 + 2y = 4x2 R: y =
x2
dy cos(x) sen(2x) − 2x − 4C
16) + y = sen(x)R: y =−
dx sen(x) 4sen(x)
dy cos(5x)
17) = sen(5x) R: y =C−
dx 5
Cálculo III

dy x3
18) = (x + 1)2 R: y = + x2 + x + C
dx 3
dy 2
19) + 2xy = 0 R: y = Ce−x
dx

55
dy y+1 1
20) = R: y = x(C − )
dx x x
0
21) xy = 4y R: y = Cx4
dy
22) (x + 1) =x+6 R: y = 5ln(x + 1) + x + C
dx
dy
23) ex = 2x R: y = 2(−x − 1)e−x + C
dx
dy
24) = 5y R: y = Ce5x
dx
 4x 
dy e
25) 3 + 12y = 4 R: y = e−4x +C
dx 3
 4x 
dy −x e
26) + y = e3x R: y = e +C
dx 4
dy
27) + 2y = 0 R: y = Ce−2x
dx
dy 3x2 + 2C
28) x + 2y = 3 R: y =
dx 2x2
dy
29) = y + ex R: y = (x + C)ex
dx
 x3 
−x3 e
30) y 0 + 3x2 y = x2 R: y = e +C
3
ln(x) + C
31) x2 y 0 + xy = 1 R: y =
x
2
(x − 1)ex
 2 
2
32) y 0 + 2xy = x3 R: y = e−x +C
2
4Ce2x − 2x2 − 2x − 11
33) y 0 = 2y + x2 + 5 R: y =
4
34) y 0 = y + x R: y = −x − 1 + Cex
Cex − x2 − 3x − 3
35) (1 + x)y 0 − xy = x + x2 R: y =
x+1
2. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.

1
 

 0
y − y=x 2 
 t2 y 0 + ty = 1

 x 

(a) (b)

 

Cálculo III


 y(1) = 3 
 y(1) = 2

56

dy 4


 + y = x2 , x ∈ (0, ∞)  y 0 + 3x2 y = 6x2
 dx x
 

(c) (e)

 


y(0) = 3

 y(1) = 0 

2
 dy
 y 0 − 2xy = 6xex
 sen(t) + cos(t) = cos(2t)
dt
 


 
(d) (f)

 y( π ) = 1

 


 y(0) = 1
2 2

3. Resolva o PVI que modela o esvaziamento de um tanque circular


considerando r = 0, 5, k = 0, 0025 e
dh k p


 = − 2 h(t)
 dt
 πr



 h(0) = 2

4. Verifique se as seguintes EDO’s de primeira ordem são de variáveis


separáveis e, caso seja, encontre a solução.

1) (2 + y)dx − (3 − x)dy = 0 18) y 0 = (x + y + 1)2


2) xydx − (1 + x2 )dy dy y
19) = 3
dy e−2y dx y − 2x
3) = 2
dx x +4 20) sen(2x)dx + cos(3y)dy = 0
4) (y − y 2 )dx − dy = 0 21) xdx + ye−x dy = 0
dy y − 4x dr
5) = 22) =r
dx x−y dθ
6) ex dx − ydy = 0 dy 2x
√ √ 23) =
7) ydx − xdy = 0 dx y + x2 y
dy 2x
8) y 2 dx + (x − 1)dy0 24) =
dx 1 + 2y
9) dx + (x2 − x)dy = 0 2

10) (1 − y 2 )dx + (1 − x2 )dy = 0 25) xex dx + (y 5 − 1)dy = 0


y
11) (1 − y 2 )dx + x3 dy = 0 26) y 0 = 2
p x
xex
p
12) 1 − y 2 dx + 1 − x2 dy
27) y 0 =
13) (1 + y 2 )dx + (1 + x2 )dy = 0 2y
2
14) (x + 3)ydx + (6x − x2 )dy = 0 x y−y
28) y 0 =
Cálculo III

15) xey dx − 2(x + 1)2 ydy = 0 y+1


1
16) yln(x)dx − (x + 1)2 dy = 0 29) dx + dy = 0
1 x
2
17) xdx + = 0 30) ex dx − 1 + e−x = 0
y

57
5. Uma cultura de bactérias cresce a uma taxa proporcional à quan-
tidade da substância. Ao fim de 10 minutos cresceu 3%.
(a) Determine a constante de proporcionalidade.
ln(3/100)
Resposta: k =
10
(b) Quanto tempo levará a cultura para duplicar?
10ln(2)
Resposta: t =
ln(3/100)
6. Certa substância radioativa decresce a uma taxa proporcional à
quantidade presente. Observa-se que após 1 hora houve uma re-
dução de 10% da quantidade inicial da substância, determine a
meia-vida da substância.

7. Devido a uma maldição rogada por uma tribo vizinha, os membros


de uma aldeia são gradualmente impelidos ao assassinato ou ao

suicídio. A taxa de variação da população é −2 p pessoas por mês,
quando o número de pessoas é p. Quando a maldição foi rogada,
a população era de 1600. Quando morrerá toda a população da
aldeia?
dp √
Sugestão: = −2 p, ou melhor, p−1/2 dp = −2dt.
dt
8. Um tanque com 50 galões de capacidade contém inicialmente 10
galões de água. Adiciona-se ao tanque uma solução de salmoura
com 1kg de sal por galão, à razão de 4 galões por minuto, enquanto
a mistura escoa à razão de 2 galões por minuto. Determine:
(a) O tempo necessário para que ocorra o transbordamento.
Sugestão: V (t) = V0 + (Te − Ts )t. Sendo V (t) = 50, temos
t = 20.
(b) A quantidade de sal presente no tanque por ocasião do trans-
bordamento
Resposta: Q(20) = 48.
9. Um tanque com capacidade de 900 litros contém inicialmente 100
litros de água pura. Entra água com 4 gramas de sal por litro numa
taxa de 8 litros por minuto e a mistura escoa numa taxa de 4 litros
por minuto. Determine a quantidade de sal no tanque quando a
solução está para transbordar.
10. Certa industria lança seus dejetos químicos em um rio que desa-
Cálculo III

gua num lago. Os dejetos causam irritação na pele quando sua


concentração é superior ou igual a 20 partes por milhão (ppm).
Pressionada pelos ecologistas do Green Peace, fazem 30 dias que

58
a fábrica parou de lançar dejetos, cuja concentração no lago foi
estimada em 120 ppm. Hoje, verificou-se que a concentração de
dejetos no lago é de 60 ppm. Supondo-se que a taxa de variação
da concentração de dejetos no lago é proporcional à concentração
presente no lago em cada instante, quanto tempo ainda levará para
se poder nadar sem o perigo de sofrer irritação na pele?
11. Em uma comunidade de 100 pessoas, inicialmente, existe 1 pessoa
infectada com um vírus. A velocidade de propagação do vírus é
proporcional ao número de pessoas infectadas vezes o número de
1
pessoas não infectadas. Após 1 dia, da comunidade está contami-
4
nada. Assim, após 2 dias, quantas pessoas estarão contaminadas?

12. Sabe-se que a população de uma certa comunidade cresce a uma


taxa proporcional ao número de pessoas presentes em qualquer
instante. Se a população duplicou em 5 anos, quando ela triplicará?
13. Suponha que a população da comunidade do problema anterior
seja 10000 após 3 anos. Qual era a população inicial? Qual será a
população em 10 anos?
14. O isótopo radioativo de chumbo, Ph 209, decresce a uma taxa pro-
porcional à quantidade presente em qualquer tempo. Sua meia vida
é de 3, 3 horas. Se 1 grama de chumbo está presente inicialmente,
quanto tempo levará para 90% de chumbo desaparecer?

15. Inicialmente havia 100 miligramas de uma substância radioativa


presente. Após 6 horas a massa diminui 3%. Se a taxa de decres-
cimento é proporcional à quantidade de substância presente em
qualquer tempo, determinar a meia vida desta substância.
16. Com relação ao problema anterior, encontre a quantidade rema-
nescente após 24 horas.
17. Um termômetro é retirado de uma sala, em que a temperatura é
70o F, e colocado no lado fora onde a temperatura é 10o F. Após
0, 5 minuto o termômetro marcava 50o F. Qual será a temperatura
marcada pelo termômetro no instante t = 1 minuto? Quanto levará
para marcar 15o F?
18. Uma quantidade de substância radioativa possui inicialmente m0
gramas e decompõe-se a uma razão proporcional à quantidade pre-
Cálculo III

sente. Se a meia-vida da quantidade inicial é 2000 anos, encontre


a quantidade da substância depois de 3000 anos.

59
4. Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem

Inicialmente, antes de continuar nosso estudo das EDO’s, vamos expor


alguns conceitos básicos que nos ajudará no decorrer do nosso estudo e,
mais a frente, apresentaremos um fato muito importante que será usado
praticamente em todo o texto daqui por diante.
Definição 4.1 (Independência Linear entre Funções). Dizemos que duas
funções f (x) e g(x) são linearmente dependentes (LD) se existem duas
constantes C1 e C2 , com pelo menos uma delas diferente de zero, tal que
C1 f + C2 g = 0
para qualquer valor de x. Em outras palavras, f (x) e g(x) são linear-
mente dependentes se f (x) = Cg(x), onde C é uma constante. Dizemos
que as funções f (x) e g(x) são linearmente independente (LI) se elas
não são linearmente dependentes, ou seja, se as constantes C1 e C2 são
ambas iguais a zero.
Devido à complexidade da Definição 4.1, podemos usar um teorema,
chamado Teorema do Wronskiano, para identificar se um conjunto de
funções é LI ou LD. Mas, antes vejamos a seguinte definição.
Definição 4.2. Sejam f (x) e g(x) funções deriváveis em [a, b]. Definimos
o Wronskiano das funções f (x) e g(x), e denotamos por W [f, g](x), como
sendo o seguinte determinante:


f (x) g(x)
W [f, g](x) = .
f 0 (x) g 0 (x)

Exemplo 4.3. Calcule o Wronskiano das funções sen(x) e cos(x) para


x ∈ (0, π). Sejam f (x) = sen(x) e g(x) = cos(x). Primeiramente,
calculemos as derivadas de f (x) e g(x), as quais são, respectivamente
f 0 (x) = cos(x) e g 0 (x) = −sen(x). Então temos que o Wronskiano de f
e g é dado por


sen(x) cos(x)
W [f, g](x) =
cos(x) −sen(x)

Cálculo III

= −sen2 (x) − cos2 (x) = −1.

Portanto, W [sen(x), cos(x)](x) = −1.

60
Teorema 4.4 (Teorema do Wronskiano). Sejam f (x) e g(x) funções
deriváveis em [a, b]. Se o Wronskiano de f (x) e g(x) for diferente de zero
para algum x0 ∈ [a, b], então f (x) e g(x) são linearmente independentes
em [a, b]. Por outro lado, se f (x) e g(x) são linearmente dependentes,
então o Wronskiano de f (x) e g(x) é zero para todo x ∈ [a, b].
Dessa forma, pelo Teorema do Wronskiano temos:
• duas funções f (x) e g(x) são linearmente independentes se
W [f, g](x) 6= 0 para algum x0 ∈ [a, b].
• se f (x) e g(x) são linearmente dependentes, então W [f, g](x) = 0
para todo x ∈ [a, b].
Os exemplos a seguir são muito importantes, pois vemos que as fun-
ções trigonométricas e exponenciais são soluções freqüentes de EDO’s
lineares de 2a ordem.
Exemplo 4.5.
1. Vimos no Exemplo 4.3 que W [sen(x), cos(x)](x) = −1 6= 0. Por-
tanto, pelo Teorema do Wronskiano as funções sen(x) e cos(x) são
linearmente independentes para x ∈ (0, π).
2. As funções ex e e−x são linearmente independentes, pois,

x −x
e e
W [ex , e−x ](x) =


ex −e−x

= −ex e−x − e−x ex = −2 6= 0.

Exemplo 4.6. Considere as funções reais eax e ebx com a e b nú-


meros reais. Pelo Teorema do Wronskiano, tais funções serão LI se
W [eax , ebx ](x) 6= 0 para algum x0 .

ax bx
e e
W [eax , ebx ](x) =


aeax bebx

= bebx eax − aeax ebx


= beax+bx − aeax+bx
= (b − a)e(a+b)x .
Cálculo III

Assim, se x = 0, então W [eax , ebx ](0) = b − a. Portanto, se a 6= b,


então eax e ebx são LI. Em particular, as funções ex e e−x são LI, como
vimos no exemplo anterior. Caso contrário, ou seja, se a = b, então eax
e ebx são LD.

61
4.1 EDO’s lineares de 2a ordem homogêneas e não-homogêneas

A forma mais geral de uma EDO linear de segunda ordem é dada por

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = g(x) (4.1)

onde p(x), q(x), r(x) e g(x) são funções contínuas. Se g(x) 6= 0, a equa-
ção 4.1 é dita não-homogênea e se g(x) = 0 a equação é dita homogênea.
Apesar do teorema a seguir ser enunciado para EDO’s de 2a ordem,
vale ressaltar que tal fato é verdadeiro para qualquer EDO linear homo-
gênea independentemente da ordem.
Teorema 4.7 (Princípio de Superposição). Consideremos a EDO linear
homogênea de segunda ordem

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0. (4.2)

Se y1 e y2 são ambas soluções de 4.2 e c1 e c2 são quaisquer constantes,


então a função
y(x) = c1 y1 + c2 y2 (4.3)
também é uma solução de 4.2.
Demonstração: Desde que y1 e y2 são ambas soluções de 4.2, temos que

p(x)y100 + q(x)y10 + r(x)y1 = 0

e
p(x)y200 + q(x)y20 + r(x)y2 = 0.
Portanto, substituindo c1 y1 + c2 y2 em 4.2 e usando as regras básicas de
derivação obtemos:
 00  0  
p(x) c1 y1 + c2 y2 + q(x) c1 y1 + c2 y2 + r(x) c1 y1 + c2 y2 =

     
p(x) c1 y100 + c2 y200 + q(x) c1 y10 + c2 y20 + r(x) c1 y1 + c2 y2 =

   
00 0 00 0
c1 p(x)y1 + q(x)y1 + r(x)y1 + c2 p(x)y2 + q(x)y2 + r(x)y2 =
Cálculo III

c1 .0 + c2 .0 = 0

Assim, y = c1 y1 + c2 y2 é uma solução de 4.2.

62
Uma pergunta que surge naturalmente é: Se y1 e y2 são duas soluções
de p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0, podemos afirmar que toda solução de
tal equação é da forma c1 y1 + c2 y2 ? A resposta para esta pergunta é
positiva e vem através do próximo teorema.
Teorema 4.8. Sejam y1 e y2 soluções linearmente independentes da
equação diferencial linear homogênea de 2a ordem

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0.

Se Y é uma solução da EDO, então existem constantes c1 e c2 tais que

Y = c1 y1 + c2 y2 .

Este último teorema é muito útil, pois, ele nós diz que se conhecemos
duas soluções particulares linearmente independentes, então conhecemos
todas as soluções. Em outras palavras, se y1 e y2 são duas soluções para
uma EDO linear homogênea de 2a ordem

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0,

e tais soluções são linearmente independentes, então a solução geral da


EDO é dada por

y(x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x).

A demonstração do Teorema 4.8, a qual não apresentaremos aqui, é


obtida através do seguinte resultado, que também não demonstraremos.
Teorema 4.9. Suponha que y1 e y2 são duas soluções de

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0.

Então, y1 e y2 são linearmente independentes se, e somente se,


W (y1 , y2 )(x0 ) 6= 0, para algum x0 .
Exemplo 4.10. As funções y1 = ex e y2 = e−x são soluções da EDO
homogênea y 00 − y = 0. Para verificar se y1 e y2 são soluções da EDO
dada, devemos verificar se:

y100 − y1 = 0 e y200 − y2 = 0.

Sendo assim temos:

(ex )00 − ex = ex − ex = 0 e (e−x )00 − e−x = ex − ex = 0,


Cálculo III

ou seja, y1 e y2 são de fato duas soluções da EDO dada. Agora, para


construir a solução geral, precisamos verficar se y1 e y2 são LI. Mas,
como vimos no Exemplo 4.5, tais funções são LI e, portanto, a solução
geral da EDO y 00 − y = 0 é dada por y = c1 ex + c2 e−x .

63
Definição 4.11 (Conjunto Fundamental de Soluções). Se y1 e y2 são
soluções linearmente independentes de p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0 com
p(x) 6= 0, então as soluções y1 e y2 são chamadas de Conjunto Funda-
mental de Soluções.
Agora vamos pensar um pouco sobre como resolver uma equação
diferencial de segunda ordem não homogênea, ou seja, como resolver
p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = g(x), (4.4)
com p(x) 6= 0 e g(x) 6= 0.
Lema 4.12. Suponha que Y1 e Y2 são duas soluções da Equação 4.4.
Então, a função Y1 − Y2 é uma solução da equação homegênea

p(x)y 00 + q(x)y 0 + r(x)y = 0, (4.5)


associada à Equação 4.4.
Então, qual é a utilidade deste lema para nós? Através dele, podemos
demonstrar o teorema que segue.
Teorema 4.13. Seja y1 e y2 um conjunto fundamental de soluções da
Equação 4.5 e yp uma solução particular de 4.4. Então, a solução geral
de 4.4 é dada por
y(x) = yh (x) + yp (x),
onde
yh (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x).
Demonstração: Seja yp uma solução particular de 4.4. Sendo y a
solução geral de 4.4, temos pelo lema anterior que y − yp é uma solução
de 4.5, e pelo Teorema 4.8 vem que

y − yp = yh
y = yh + yp .

A questão aqui reside em como determinar uma solução particular


para a Equação 4.4, o que é feito usando um método chamado de vari-
ação dos parâmetros. Apesar do método de variação dos parâmetros ser
um método mais geral e que pode ser aplicado em uma extensa variedade
de casos, ele possui duas desvantagens: a primeira é que a solução da
equação homogênea associada é absolutamente requerida para resolver
o problema. A segunda, como veremos oportunamente, para completar
Cálculo III

o método devemos resolver um par de integrais e não há garantia de


que podemos resolver tais integrais. É sugerido que nos casos de im-
possibilidade prática de resolver tais integrais, deve-se recorrer a outros
métodos, em particular, métodos numéricos.

64
4.2 EDO’s de 2a ordem homogêneas com coeficientes constantes

Geralmente, com o intuito de tornar o aprendizado (e a leitura) mais


acessível, é interessante iniciar por estudar as EDO’s lineares de segunda
ordem homogênea. No entanto, via de regra, não é tão fácil descobrir
soluções para uma EDO linear de 2a ordem homogênea qualquer. Mas, é
sempre possível fazê-lo se os coeficientes p(x), q(x) e r(x) na equação 4.2
são funções constantes, ou seja, se a equação diferencial possui a forma

ay 00 + by 0 + cy = 0, (4.6)

onde a, b e c são constantes e a 6= 0.


Talvez não seja difícil pensar em alguma solução da equação 4.6 se
escrevermos a equação “verbalmente”:

Nós estamos procurando uma função y tal que uma constante vezes sua
segunda derivada y 00 mais uma outra constante vezes y 0 mais uma
terceira constante vezes y seja igual a 0.
Nós sabemos que a função exponencial y = eλx (onde λ é uma cons-
tante) possui a propriedade que sua derivada é uma constante vezes ela
mesma: y 0 = λeλx . Além disso, y 00 = λ2 eλx .
Logo, vamos assumir que todas as soluções de 4.6 serão da forma:

y = eλx .

Nesta linha de raciocínio, vamos substituir y = eλx , e suas respec-


tivas derivadas y 0 = λeλx e y 00 = λ2 eλx , na equação 4.6 e ver o que
acontece, isto é:

ay 00 + by 0 + cy = aλ2 eλx + bλeλx + ceλx = eλx (aλ2 + bλ + c).

Consequentemente, para que y = eλx seja uma solução da equação


4.6, devemos ter a seguinte igualdade:

eλx (aλ2 + bλ + c) = 0.

Sendo a função exponencial sempre diferente de zero, então devemos ter:

aλ2 + bλ + c = 0.

Esta última equação é chamada de Equação característica, e note que


Cálculo III

ela pode ser obtida da equação diferencial 4.6 simplesmente substituindo:

y 00 por λ2 , y 0 por λ e y por 1.

65
Também, a equação característica é uma equação de segundo grau
e, portanto, possui duas raízes, digamos: λ1 e λ2 . Consequentemente,
temos duas soluções para a equação diferencial 4.6, a saber:

y1 = eλ1 x e y2 = eλ2 x .

Ademais, quando os valores de a, b e c são reais, existem três pos-


sibilidades para as raízes λ1 e λ2 : reais e distintas ou reais e iguais ou
complexas conjugadas. Por isso, vamos estudar detalhadamente cada
caso, os quais nos fornecerão um conjunto de soluções fundamental para
construir a solução geral da equação 4.6.

4.2.1 Raízes reais e distintas

.
Se as raízes da equação característica aλ2 + bλ + c = 0 são reais e
distintas, ou seja, λ1 6= λ2 , então as soluções

y1 = eλ 1 x e y2 = eλ2 x

são LI, e pelo Teorema 4.7 a solução geral de ay 00 + by 0 + cy = 0 é:

y(x) = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x .

Exemplo 4.14. Encontre a solução geral da equação y 00 +11y 0 +24y = 0.


A equação característica associada à equação y 00 + 11y 0 + 24y = 0 é:

λ2 + 11λ + 24 = 0,

cujas raízes são λ1 = −8 e λ2 = −3. Portanto, as raízes são reais e


distintas e, consequentemente, a solução geral da equação diferencial é:

y(x) = c1 e−8x + c2 e−3x .

4.2.2 Raízes reais e iguais

Se as raízes da equação característica aλ2 + bλ + c = 0 são reais e iguais,


ou seja, λ1 = λ2 = λ. Então, temos as seguintes soluções:

y1 = eλ1 x = eλx e y2 = eλ2 x = eλx .

Contudo, estas soluções não são LI e, portanto, não podem gerar a so-
Cálculo III

lução geral de 4.6. Para contornar este problema, primeiramente vamos


considerar que a primeira solução de ay 00 + by 0 + cy = 0 seja:

y1 = eλx .

66
Agora, mantendo a mesma linha de raciocínio, vamos admitir que a
segunda solução de ay 00 + by 0 + cy = 0 seja:

y2 = xeλx .

O que não deixa de ser verdade, pois:

ay200 + by20 + cy2 = a 2λeλx + λ2 xeλx + b eλx + λxeλx + c xeλx


  

2aλ + b xeλx + aλ2 + bλ + c xeλx


 
=

= 0.xeλx + 0.xeλx = 0.

b
Note que o primeiro termo é 0, porque λ = − e, consequentemente,
2a
2aλ + b = 0. Já o segundo termo é 0, pois λ é raiz da equação caracte-
rística. Por fim, é fácil verificar que as soluções

y1 = eλx e y2 = xeλx

são LI, e a solução geral de ay 00 + by 0 + cy = 0 é:

y(x) = c1 eλx + c2 xeλx .

Exemplo 4.15. Encontre a solução geral da equação y 00 − 4y 0 + 4y = 0.


A equação característica associada à equação y 00 − 4y 0 + 4y = 0 é:

λ2 − 4λ + 4 = 0,

cujas raízes são λ1 = λ2 = 2. Portanto, as raízes são reais e iguais e,


consequentemente, a solução geral da equação diferencial é:

y(x) = c1 e2x + c2 xe2x .

4.2.3 Raízes complexas conjugadas

Se as raízes λ1 e λ2 da equação característica aλ2 + bλ + c = 0 são


complexas conjugadas, ou seja,

λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ,
Cálculo III

onde α e β são números reais, então obtemos as soluções LI a seguir:

y1 = e(α+iβ)x e y2 = e(α−iβ)x .

67
Para uma melhor apresentação da solução geral vamos nos valer da
Fórmula de Euler:
eiθ = cos(θ) + isen(θ).
Precisamos ainda de uma variante da Fórmula de Euler que é:
e−iθ = cos(θ) − isen(θ).
Inicialmente, podemos reescrever
y1 = e(α+iβ)x e y2 = e(α−iβ)x
como sendo
y1 = eαx ei(βx) e y2 = eα e−i(βx) .
Usando a Fórmula de Euler e sua variante obtemos:
y1 = eαx (cos(βx) + isen(βx)) e y2 = eα (cos(βx) − isen(βx)).
Substituindo y1 e y2 em y(x) = C1 y1 + C2 y2 vem que:

y(x) = C1 eαx (cos(βx) + isen(βx)) + C2 eα (cos(βx) − isen(βx))

 
= eαx (C1 + C2 )cos(βx) + i(C1 − C2 )sen(βx)

 
αx
= e c1 cos(βx) + c2 sen(βx) ,

onde c1 = C1 + C2 e c2 = i(C1 − C2 ).
Portanto, se as raízes da equação aλ2 + bλ + c = 0 são complexas
conjugadas, digamos, λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ, então a solução geral
de ay 00 + by 0 + cy = 0 é:
 
αx
y=e c1 cos(βx) + c2 sen(βx) .

Exemplo 4.16. Resolva a equação diferencial y 00 − 4y 0 + 9y = 0.


A equação característica associada à equação y 00 − 4y 0 + 9y = 0 é:
λ2 − 4λ + 9 = 0,
√ √
cujas raízes são λ1 = 2 + i 5 e λ2 = √ 2 − i 5. Como as raízes são
Cálculo III

complexas conjugadas, com α = 2 e β = 5, a solução geral da equação


diferencial é:
√ √
 
y = e2x c1 cos( 5x) + c2 sen( 5x) .

68
EDO’s de 2a Ordem Homogêneas com Coeficientes Constantes:

ay 00 + by 0 + cy = 0

(1) Substituindo na EDO y 00 por λ2 , y 0 por λ e y por 1,


determine a equação característica:

aλ2 + bλ + c = 0.

(2) Se as raízes da equação característica são reais e distintas,


digamos, λ1 6= λ2 , então a solução geral da EDO é:

y(x) = c1 eλ1 x + c2 eλ2 x .

(3) Se as raízes da equação característica são reais e iguais, diga-


mos, λ1 = λ2 = λ, então a solução geral da EDO é:

y(x) = c1 eλx + c2 xeλx .

(4) Se as raízes da equação característica são complexas conju-


gadas, digamos, λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ, então a solução
geral da EDO é:
 
y = eαx c1 cos(βx) + c2 sen(βx) .

Observe que em qualquer caso, na solução geral da equação ay 00 +by 0 +


cy = 0, aparecem duas constantes: c1 e c2 . Então, como encontrá-las?
Uma vez que temos duas constantes, faz sentido esperar que precisamos
de duas equações, ou condições, para encontrá-las. Uma maneira de
fazer isto é considerar um PVI envolvendo a referida equação, ou seja, é
Cálculo III

especificar condições iniciais para a solução e sua derivada em um ponto


particular, que é:

y(x0 ) = y0 e y 0 (x0 ) = y1 .

69
Exemplo 4.17. Determine a solução do PVI y 00 + 11y 0 + 24y = 0, com
y(0) = 0 e y 0 (0) = −7.
Pelo exemplo 4.14, a solução geral da EDO y 00 + 11y 0 + 24y = 0 é:

y(x) = c1 e−8x + c2 e−3x ,

e sua derivada é:
y 0 (x) = −8c1 e−8x − 3c2 e−3x .
Assim, temos que y(0) e y 0 (0) são dados por:

y(0) = c1 e0 + c2 e0 = c1 + c2
0 0 0
y (0) = −8c1 e − 3c2 e = −8c1 − 3c2

Agora, aplicando as condições iniciais y(0) = 0 e y 0 (0) = −7 temos o


seguinte sistema:
c1 + c2 = 0
−8c1 − 3c2 = −8
7 7
Resolvendo este sistema obtemos c1 = e c2 = − e, consequentemente,
5 5
a solução do PVI é:
7 −8x 7 −3x
y(x) = e − e .
5 5
Exemplo 4.18. Determine a solução do PVI y 00 − 4y 0 + 4y = 0, com
y(0) = 12 e y 0 (0) = −3.
Pelo exemplo 4.15, a solução geral da EDO y 00 − 4y 0 + 4y = 0 é:

y(x) = c1 e2x + c2 xe2x ,

e sua derivada é:

y 0 (x) = 2c1 e2x + c2 e2x + 2c2 xe2x .

Assim, temos que y(0) e y 0 (0) são dados por:

y(0) = c1 e0 + c2 .0.e0 = c1
0 0 0 0
y (0) = 2c1 e + c2 e + 2c2 .0.e = 2c1 + c2

Aplicando as condições iniciais y(0) = 12 e y 0 (0) = −3 temos o seguinte


Cálculo III

sistema:
c1 = 12
2c1 + c2 = −3

70
Resolvendo este sistema obtemos c1 = 12 e c2 = −27 e, consequente-
mente, a solução do PVI é:

y(x) = 12e2x − 27xe2x .

Exemplo 4.19. Determine a solução do PVI y 00 + 4y = 0, com y(0) = 0


e y 0 (0) = 1.
A equação característica associada à equação y 00 − 4y = 0 é:

λ2 + 4 = 0,

cujas raízes são λ1 = 2i e λ2 = −2i. Como as raízes são complexas


conjugadas, com α = 0 e β = 2, a solução geral da equação diferencial é:

y(x) = c1 sen(2x) + c2 cos(2x),

e consequentemente,

y 0 (x) = 2c1 cos(2x) − 2c2 sen(2x).

Como y(x) é uma solução da EDO para quaisquer valores de c1 e c2 , de-


vemos procurar os valores de c1 e c2 que também satisfaçam as condições
inicias dadas, ou seja, y(0) = 0 e y 0 (0) = 1. Note que

y(0) = c1 sen(0) + c2 cos(0).

Uma vez que sen(0) = 0, cos(0) = 1 e y(0) = 0 temos que c2 = 0. Além


disso,
y 0 (0) = 2c1 cos(0) − 2c2 sen(0).
1
Donde concluímos, sabendo que y 0 (0) = 1, que c1 = . Substituindo os
2
valores de c1 e c2 em y(x), obtemos a solução do PVI que é:
1
y(x) = sen(2x).
2

4.3 Método de Variação dos Parâmetros

A variação dos parâmetros é um método para determinar uma solução


particular de qualquer equação diferencial linear de ordem n, desde que
se conheça a solução da EDO homogênea associada. Sendo assim, seja

yh = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)
Cálculo III

a solução geral do problema homogêneo

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

71
e tentemos encontrar uma solução particular da EDO não homogênea

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x) (4.7)

que possua a forma

yp = u1 (x)y1 (x) + u2 (x)y2 (x).

Se desejamos que yp seja uma solução particular de 4.7 devemos ter:

yp00 + p(x)yp0 + q(x)yp = g(x).

Então, vamos calcular a derivada de yp que é:

yp0 = u01 y1 + u1 y10 + u02 y2 + u2 y20 = (u1 y10 + u2 y20 ) + (u01 y1 + u02 y2 ).

Desde que estamos buscando determinar duas funções desconhecidas,


u1 e u2 , é de se esperar que precisamos de duas equações envolvendo tais
funções. Podemos obter uma equação impondo que as funções u1 e u2
satisfazem a seguinte condição:

u01 y1 + u02 y2 = 0.

Esta condição permite simplificar de forma considerável a expressão yp0 .


Deste modo temos:

yp0 = u1 y10 + u2 y20 .

Consequentemente,

yp00 = u01 y10 + u1 y100 + u02 y20 + u2 y200 .

Substituindo yp , yp0 e yp00 em 4.7 vem que:

(u01 y10 +u1 y100 +u02 y20 +u2 y200 )+p(x)(u1 y10 +u2 y20 )+q(x)(u1 y1 +u2 y2 ) = g(x).

Simplificando obtemos:

u01 y10 + u02 y20 + u1 (y100 + p(x)y10 + q(x)y1 ) + u2 (y200 + p(x)y20 + q(x)y2 ) = g(x).

Como ambas y1 e y2 são soluções da equação homogênea associada à


4.7 temos:
Cálculo III

y100 + p(x)y10 + q(x)y1 = 0, y200 + p(x)y20 + q(x)y2 = 0.

Portanto,
u01 y10 + u02 y20 = g(x).

72
Logo, para determinar u1 e u2 devemos resolver o seguinte sistema:
(
u01 y1 + u02 y2 = 0 (4.8)
u01 y10 + u02 y20 = g(x) (4.9)

Observe que no sistema anterior sabemos quem são as soluções y1 e y2 .


Portanto, apenas devemos determinar quem são u01 e u02 . O sistema
apresentado é de simples solução. De fato, isolando u01 em 4.8 obtemos:

u02 y2
u01 = − . (4.10)
y1
Substituindo 4.10 em 4.9, após algumas simplificações obtemos que:

y1 g(x)
u02 = . (4.11)
y1 y20 − y2 y10

Logo, substituindo 4.11 em 4.10 vem que:

y2 g(x)
u01 = − .
y1 y20 − y2 y10

Lembrem-se que y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções


para a equação homogênea associada, ou seja, são LI. Consequentemente,

W [y1 , y2 ](x) = y1 y20 − y2 y10 6= 0.

Assim, podemos reescrever u01 e u02 como:

y2 g(x) y1 g(x)
u01 = − , u02 = .
W [y1 , y2 ](x) W [y1 , y2 ](x)

Finalmente, integrando u01 e u02 obtemos u1 e u2 :


Z Z
y2 g(x) y1 g(x)
u1 = − dx, u2 = dx.
W [y1 , y2 ](x) W [y1 , y2 ](x)

Obviamente, não encorajamos os leitores a decorarem as fórmulas


anteriores, mas sim, a compreender bem o procedimento. No entanto, o
método apresentado pode se tornar um tanto quanto longo e complicado
Cálculo III

73
para se aplicar a cada equação diferencial que desejamos resolver. Dessa
forma, o mais conveniente é usar o roteiro apresentado a seguir.

Método de Variação dos Parâmetros:

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x)

(1) Encontramos um conjunto y1 (x) e y2 (x) de soluções funda-


mentais da equação homogênea associada:

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

ou seja,
yh = c1 y1 + c2 y2 .

(2) Calculamos o Wronskiano de y1 e y2 :

W [y1 , y2 ](x).

(3) Determinamos u1 e u2 :
Z
y2 g(x)
u1 = − dx
W [y1 , y2 ](x)

Z
y1 g(x)
u2 = dx
W [y1 , y2 ](x)

(4) Encontramos uma solução particular para a equação diferen-


cial não homogênea:

yp = u1 y1 + u2 y2 .

(5) Obtemos a solução geral da equação diferencial que é:

y = yh + yp .
Cálculo III

74
Exemplo 4.20. Resolva a seguinte equação diferencial:

y 00 − 3y 0 + 2y = ex sen(x).

Primeiramente encontramos a solução da EDO homogênea associada:

y 00 − 3y 0 + 2y = 0,

cuja equação característica é:

λ2 − 3λ + 2 = 0.

A equação característica possui raízes reais e distintas λ1 = 1 e λ2 = 2.


Consequentemente,
yh = c1 ex + c2 e2x .
Agora o próximo passo é encontrar uma solução particular yp . Para isto
calculamos o Wronskiano:

x 2x
e e
W [ex , e2x ](x) = = 2ex e2x − ex e2x = e3x .

x 2x
e 2e

Sendo assim, temos que:


Z 2x x Z
e e sen(x)
u1 = − dx = − sen(x)dx = cos(x)
e3x

ex ex sen(x) e−x
Z Z  
u2 = dx = e−x sen(x)dx = − cos(x) + sen(x)
e3x 2
Logo,
yp = u1 y1 + u2 y2

e−x
 
= cos(x)ex − cos(x) + sen(x) e2x
2

ex
 
= cos(x) − sen(x) .
2
Cálculo III

Portanto, a solução geral da EDO é y = yh + yp , ou seja,

ex
 
y(x) = c1 ex + c2 e2x + cos(x) − sen(x)
2

75
Exemplo 4.21. Resolva a equação diferencial
1 π
y 00 + y = , 0<x< .
cos(x) 2

Primeiramente encontramos a solução da EDO homogênea associada:

y 00 + y = 0,

cuja equação característica é:

λ2 + 1 = 0.

A A equação característica possui raízes complexas conjugadas λ1 = i e


λ2 = −i. Consequentemente,

yh = c1 cos(x) + c2 sen(x).

Agora o próximo passo é encontrar uma solução particular yp . Para


isto calculamos o Wronskiano:


cos(x) sen(x)
= cos2 (x) + sen2 (x) = 1.

W [cos(x), sen(x)](x) =
−sen(x) cos(x)

Assim temos:

Z Z
1 sen(x)
u1 = − sen(x) dx = − dx = ln(cos(x))
cos(x) cos(x)
Z Z
1
u2 = cos(x) dx = 1dx = x
cos(x)

Logo,
yp = u1 y1 + u2 y2

= ln(cos(x))cos(x) + xsen(x).
Portanto, a solução geral é dada por y = yh + yp , ou seja,
Cálculo III

y(x) = c1 cos(x) + c2 sen(x) + cos(x)ln(cos(x)) + xsen(x).

76
4.4 Exercícios

1. Encontre a solução geral das seguintes equações diferenciais.

1) y 00 + 4y = 0 24) y 00 − 5y = 0
2) y 00 − 2y 0 − 2y = 0 25) y 00 + 4y 0 + 5y = 0
3) 2y 00 + 2y 0 + 3y = 0 26) y 00 + 4y = 0
4) y 00 − 2y 0 + 2y = 0 27) y 00 − 3y 0 + 4y = 0
5) 4y 00 + y 0 = 0 28) y 00 + 4y 0 + 4y = 0
6) y 00 − 36y = 0 29) y 00 = 0
7) y 00 + 9y = 0 30) y 00 − y = 0
00
8) 3y + y = 0 31) y 00 − y 0 − 30y = 0
00 0
9) y + 5y = 0 32) y 00 − 2y 0 + y = 0
00 0
10) y − y − 6y = 0 33) y 00 + y = 0
00 0
11) y + 3y − 5y = 0 34) y 00 + 2y 0 + 2y = 0
00 0
12) 12y − 5y − 2y = 0 35) y 00 − 7y = 0
00 0
13) 3y + 2y + y = 0 36) y 00 + 6y 0 + 9y = 0
00 0
14) y − 4y + 5y = 0 37) y 00 + 2y 0 + 3y = 0
00 0
15) 2y − 3y + 4y = 0 38) y 00 − 3y 0 − 5y = 0
00 0
16) 2y + 2y + y = 0 1
39) y 00 + y 0 + y = 0
17) 2y 00 − 5y 0 = 0 4
18) y 00 − 8y = 0 40) 2y 00 − 5y 0 − 3y = 0
19) y 00 − 25y = 0 41) −10y 00 + 25y = 0
20) 9y 00 − 12y 0 + 4y = 0 42) y 00 − 4y 0 + 13y = 0
21) 6y 00 + y 0 − y = 0 43) y 00 − 8y 0 + 17y = 0
22) y 00 − y 0 − 2y = 0 44) 4y 00 − 4y 0 − 3y = 0
23) y 00 − 7y 0 = 0 45) y 00 − 10y 0 + 25y = 0

2. Resolva os seguintes PVI.

1) y 00 − y 0 − 2y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = 1

2) y 00 + y = 0, y(2) = 0, y 0 (2) = 0
Cálculo III

77
3) y 00 + 16y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = 2

4) y 00 + 6y 0 + 5y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = 3

5) y 00 − 8y 0 + 17y = 0, y(0) = 4, y 0 (0) = −1

6) y 00 − y = 0, y(0) = 1, y 0 (0) = 1

7) 2y 00 − 2y 0 + y = 0, y(0) = −1, y 0 (0) = 0

8) y 00 − 2y 0 + y = 0, y(0) = 5, y 0 (0) = 10

9) y 00 + y 0 + 2y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = 0

10) y 00 − 3y 0 + 2y = 0, y(1) = 0, y 0 (1) = 1


π π
11) y 00 + y = 0, y( ) = 0, y 0 ( ) = 2
3 3
12) y 00 − 4y 0 + 9y = 0, y(0) = 0, y 0 (0) = −8

13) y 00 − 8y 0 + 17y = 0, y(0) = −4, y 0 (0) = −1

14) 4y 00 + 24y 0 + 37y = 0, y(π) = 1, y 0 (π) = 0


π π
15) y 00 + 16y = 0, y( ) = −10, y 0 ( ) = 3
2 2
16) y 00 + 3y 0 − 10y = 0, y(0) = 4, y 0 (0) = 2

17) 3y 00 + 2y 0 − 8y = 0, y(0) = −6, y 0 (0) = −18

18) 4y 00 − 5y 0 = 0, y(−2) = 0, y 0 (−2) = 7

19) 16y 00 − 40y 0 + 25y = 0, 9


y(0) = 3, y 0 (0) = −
4
20) y 00 + 14y 0 + 49y = 0, y(−4) = −1, y 0 (−4) = 5

3. Resolva as seguintes equações diferenciais

1) y 00 − 4y 0 + 4y = (x + 1)e2x 4) y 00 + y = cos2 (x)


Cálculo III

00 1 5) y 00 + y = tg(x)
2) y − y =
x 6) y 00 + y = sec(x)tg(x)
3) y 00 + y = sen(x) 7) y 00 + y = sec2 (x)

78
e2x 14) y 00 + 2y 0 + y = e−x ln(x)
8) y 00 − 4y =
x
9x e−10x
00
9) y − 9y = 3x 15) y 00 + 10y 0 + 25y =
e x2
1
10) y 00 + 3y 0 + 2y = ex
1 + ex 16) y 00 − 2y 0 + y =
ex x
11) y 00 − 2y 0 + y =
1 + x2 17) y 00 − y 0 − 2y = e3x
e3x
12) y 00 − 3y 0 + 2y = 18) y 00 + 4y = sen2 (2x)
1 + ex
ex ex
13) y 00 − 2y 0 + 2y = 19) y 00 − 2y 0 + y =
cos(x) x5

4. Resolva as seguintes equações diferenciais sujeitas às condições ini-


ciais y(0) = 1 e y 0 (0) = 0.
x
1) 4y 00 − y = xe 2 3) y 00 + 2y 0 − 8y = 2e−2x − e−x
2) 2y 00 + y 0 − y = x + 1 4) y 00 −4y 0 +4y = (12x2 −6x)e2x

5. Resolva os seguintes problemas de valores iniciais.

1) y 00 + 4y 0 + 8y = sen(x), y(0) = 1 e y 0 (0) = 0

2) y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(0) = 1 e y 0 (0) = 2

3) y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(0) = 2 e y 0 (0) = 1

4) y 00 − y 0 − 2y = 0, y(0) = 2 e y 0 (0) = 1

5) y 00 − y 0 − 2y = e3x , y(1) = 2 e y 0 (1) = 1

6) y 00 + y = x, y(1) = 0 e y 0 (1) = 1

7) y 00 + 4y = sen2 (2x), y(π) = 0 e y 0 (π) = 0


Cálculo III

79
5. Sistemas de Equações Diferenciais Ordinárias Lineares de
Primeira Ordem

Um sistema de n equações diferenciais ordinárias lineares de primeira


ordem é um conjunto de equações que envolvem variáveis dependentes,
aqui denotadas por x1 , x2 , x3 , · · · , xn , suas derivadas de primeira ordem,
e uma variável independente, denotada por t, e pode ser escrito como:



 x01 (t) = p11 (t)x1 (t) + p12 (t)x2 (t) + · · · + p1n (t)xn (t) + g1 (t)

 x02 (t) = p21 (t)x1 (t) + p22 (t)x2 (t) + · · · + p2n (t)xn (t) + g2 (t)

 ...

..
.
..
.



 x0 (t) = p (t)x (t) + p (t)x (t) + · · · + p (t)x (t) + g (t)

n n1 1 n2 2 nn n n

Podemos simplificar o sistema anterior, nos valendo da notação ma-


tricial. A saber, o referido sistema é equivalente a:
      
x01 p11 (t) p12 (t) · · · p1n (t) x1 g1 (t)
      
 0 
 x2   p21 (t) p22 (t) · · · p2n (t)   x2   g2 (t) 
    
 =  +
 ..  .. .. ..   ..   .. 
  
 ..
 .   . . . .  .   . 
      
x0n pn1 (t) pn2 (t) · · · pnn (t) xn gn (t)

Por simplicidade, omitimos a variável independente t em alguns mo-


mentos, por exemplo, em vez de escrever x1 (t) e x01 (t) escrevemos apenas
x1 e x01 , respectivamente. Além disso, fazendo
     
x1 x01 p11 (t) p12 (t) ··· p1n (t)
     
x2 x02  p21 (t) p22 (t) · · · p2n (t)
     
  0   
x=
 ..
,x = 
  ..
 , P (t) = 
  .. .. .. ..


 .   .   . . . . 
     
xn x0n pn1 (t) pn2 (t) · · · pnn (t)
Cálculo III

80
 
g1 (t)
 
 g2 (t)
 

e g(t) = 
 ..
, é possível simplificar a notação para uma mais

 . 
 
gn (t)
compacta, que é:

x0 = P (t)x + g(t). (5.1)

Se g(t) 6= 0, então dizemos que 5.1 é um sistema não-homogêneo.


Por outro lado, se g(t) = 0, então o sistema 5.1 é dito ser homogêneo
e é da forma

x0 = P (t)x. (5.2)

Uma solução para o sistema 5.2 é uma função vetorial x(t) que satisfaz
5.2 para todo t ∈ (α, β).
Teorema 5.1 (Princípio da Superposição). Se φ1 , φ2 , . . . , φn são solu-
ções do sistema linear homogêneo x0 = P (t)x, então qualquer combina-
ção linear c1 φ1 + c2 φ2 + · · · + cn φn é também uma solução do referido
sistema.
Demonstração: Se φ1 , φ2 , . . . , φn são soluções do sistema linear
homogêneo x0 = P (t)x, então temos que:
 


 φ01 = P (t)φ1 

 c1 φ01 = c1 P (t)φ1
 
 φ02 = P (t)φ2  c2 φ02
 
= c2 P (t)φ2
 
.. .. .. ⇒ .. .. ..



 . . . 


 . . .
 
 φ0 = P (t)φ
  c φ0

= cn P (t)φn
n n n n

Agora, somando as equações destas últimas igualdades vem que:

c1 φ01 + c2 φ02 + · · · + cn φ0n = c1 P (t)φ1 + c2 P (t)φ2 + · · · + cn P (t)φn .

Simplificando, obtemos:

(c1 φ1 )0 + (c2 φ2 )0 + · · · + (cn φn )0 = P (t)(c1 φ1 + c2 φ2 + · · · + cn φn ).

Portanto, x = c1 φ1 + c2 φ2 + · · · + cn φn é uma solução do sistema de


Cálculo III

equações diferenciais ordinárias homogêneo x0 = P (t)x.


Não obstante, é possível mostrar que qualquer solução x do sistema
de equações diferenciais ordinárias homogêneo x0 = P (t)x, definida para
t ∈ (α, β), pode ser expressa de forma única como uma combinação

81
linear de n soluções φ1 , φ2 , . . . , φn linearmente independentes (LI) em
(α, β), isto é,

x = c1 φ1 + c2 φ2 + · · · + cn φn ,

e dizemos que esta solução é a solução geral do sistema. Em outras


palavras, para descrevermos completamente o conjunto de soluções do
sistema de equações diferenciais ordinárias homogêneo, basta encontrar-
mos n soluções linearmente independentes.

5.1 Sistemas Homogêneos com Coeficientes Constantes

Um caso particular, mas não menos importante, do sistema linear ho-


mogêneo x0 = P (t)x é quando P (t) é uma matriz constante, ou seja,
P (t) = A, sendo A uma matriz que não depende de t. Neste caso, temos
que o sistema linear homogêneo pode ser escrito como

x0 = Ax. (5.3)

Por analogia às equações diferenciais ordinárias lineares com coeficientes


constantes, busquemos uma solução para o sistema linear homogêneo
com coeficientes constantes x0 = Ax da forma: A uma matriz que não
depende de t. Neste caso, temos que o sistema linear homogêneo pode
ser escrito como

x(t) = v eλt . (5.4)

Derivando 5.4, substituindo em 5.3, observando que eλt 6= 0 para todo


t ∈ R, e simplificando vem que:

λv eλt = Av eλt ⇒ λv = Av ⇒ Av − λv = 0 ⇒ (A − λI)v = 0.

Porém, para que (A−λI)v = 0 tenha uma solução não nula é necessá-
rio e suficiente que a matriz A − λI seja não inversível, ou seja, devemos
ter det(A − λI) = 0. Em outras palavras, λ deve ser um autovalor de
A e v o autovetor de A associado à λ. Consequentemente, determinar
uma solução do sistema linear homogêneo x0 = Ax é, de certa forma,
equivalente a determinar os autovalores e autovetores da matriz A.
Neste sentido, usaremos o chamado método dos autovalores para re-
solver o sistema linear homogêneo 5.3, onde A é um matriz real 2 × 2
com entradas constantes. Porém, este método pode ser usado no caso
Cálculo III

em que A é uma matriz n × n.


Com relação aos autovalores da matriz A temos 3 possibilidades: au-
tovalores reais e distintos, autovalores reais e iguais, e autovalores com-
plexos conjugados. Na sequência, analisamos cada caso separadamente.

82
5.1.1 Autovalores reais e distintos

Seja A uma matriz real 2 × 2 com entradas constantes. Se A possuir dois


autovalores λ1 e λ2 reais e distintos, então os dois autovetores v1 e v2
associados a eles são linearmente independentes e, consequentemente,

φ1 = v1 eλ1 t e φ2 = v2 eλ2 t

são duas soluções linearmente independentes do sistema linear homogê-


neo x0 = Ax, e sua solução geral é dada por:

x(t) = c1 v1 eλ1 t + c2 v2 eλ2 t .


 
1 1
Exemplo 5.2. Resolva o sistema x0 =   x.
4 1
 
1 1
Solução: Os autovalores de A =   são dados por:
4 1

det(A − λI) = 0

   

1 1 1 0
  − λ  = 0

4 1 0 1


1−λ

1
= 0
1−λ

4

(1 − λ)(1 − λ) − 4 = 0

λ2 − 2λ − 3 = 0

Logo, os autovalores de A são as raízes da equação λ2 − 2λ − 3 = 0,


que são λ1 = −1 e λ2 = 3.
Cálculo III

Agora, para determinar os autovetores v1 e v2 , associados a λ1 e λ2


respectivamente, basta resolver os sistemas (A − λi I)vi = 0.

83
 
a
Sendo assim, para λ1 = −1, o autovetor v1 =   é dado por:
b

(A − λ1 I)v1 = 0

       
1 1 1 0 a 0
  − λ1     =  
4 1 0 1 b 0

    
1 − λ1 1 a 0
   =  
4 1 − λ1 b 0

    
2 1 a 0
   =  
4 2 b 0

Daí obtemos o seguinte sistema:



 2a + b = 0
 4a + 2b = 0

cuja solução é b = −2a. Logo,


   
a a
v1 =  = .
b −2a
 
1
Em particular, podemos fazer a = 1. Assim, o autovetor v1 =  .
−2
 
a
Para λ2 = 3 o autovetor v2 = 
 é dado por:
b
    
1−3 1 a 0
   =  
4 1−3 b 0
Cálculo III

    
−2 1 a 0
   =  
4 −2 b 0

84
Donde se segue o sistema:

 −2a + b = 0
 4a − 2b = 0

cuja solução é b = 2a. Logo,


   
a a=1 1
v2 =   =⇒ v2 =  .
2a 2

Portanto, a solução geral do sistema linear homogêneo em questão é:


   
1 1
x(t) = c1   e−t + c2   e3t .
−2 2

   
1 −2 −1
Exemplo 5.3. Resolva o PVI: x0 =   x, com x(0) =  .
3 −4 2

Solução: Primeiramente, vamos determinar os autovalores da matriz.



1−λ −2

= 0 ⇒ λ2 + 3λ + 2 = 0.
−4 − λ

3

Assim, os autovalores da matriz são λ1 = −2 e λ2 = −1.


 
a
Para λ1 = −2 temos que o autovetor v1 =   é dado por:
b
    
1 − (−2) −2 a 0
  = 
3 −4 − (−2) b 0
     
3 −2 a 0  3a − 2b = 0 2b
  =  ⇒ ⇒ a= .
3 −2 b 0  3a − 2b = 0 3
Cálculo III

2b
   
b=3 2
v1 =  3  =⇒ v1 =  .
b 3

85
 
a
Para λ1 = −1 temos que o autovetor v2 =   é dado por:
b
    
1 − (−1) −2 a 0
  = 
3 −4 − (−1) b 0
     
2 −2 a 0  2a − 2b = 0
  =  ⇒ ⇒ a = b.
3 −3 b 0  3a − 3b = 0
   
b b=1 1
v2 =   =⇒ v2 =  .
b 1
Portanto, a solução geral do sistema linear homogêneo é:
   
2 1
x(t) = c1   e−2t + c2   e−t .
3 1
 
−1
Da condição inicial x(0) =   vem que:
2
   
2 1
x(0) = c1   e−2·0 + c2   e−0
3 1
   
2c1 + c2 −1
 =  ⇒ c1 = 3 e c2 = −7.
3c1 + c2 2
Consequentemente, a solução do PVI é:
   
2 1
x(t) = 3   e−2t − 7   e−t ,
3 1

ou melhor,
   
6 −7
x(t) =   e−2t +   e−t .
Cálculo III

9 −7

86
5.1.2 Autovalores reais e iguais

Trataremos agora o caso em que a matriz A possui dois autovalores reais


e iguais, digamos λ. Aqui temos duas possibilidades, a saber:
a) O autovalor λ possui dois autovetores LI, v1 e v2 , associados a ele.
Neste caso, a solução geral do sistema x0 = Ax é dada por:

x(t) = c1 v1 eλt + c2 v2 eλt .

No entanto, os exemplos mais interessantes desse caso aparecem, por


exemplo, quando a matriz A é 3 × 3 e simétrica, pois, para matrizes
2 × 2 não há bons exemplos. Isto porque é possível demonstrar que:
Seja A uma matriz 2 × 2 e λ um autovalor de A. O autovalor λ é
repetido e existem dois autovetores v1 e v2linearmente
 independentes
λ 0
associados a ele se, e somente se, A =  . Em particular,
0 λ
   
1 0
v1 =   e v2 =  .
0 1

b) O autovalor λ possui apenas um autovetor v1 associados a ele. Neste


caso, sendo v1 o autovetor associado a λ, temos que φ1 = v1 eλt é
uma solução para o sistema linear homogêneo x0 = Ax. Dessa forma,
precisamos encontrar uma segunda solução φ2 , de modo que φ1 e φ2
sejam LI. Não obstante, por analogia com as equações diferenciais
de 2a ordem com coeficientes constantes, buscaremos encontrar uma
solução da forma:
φ2 = (v1 t + v2 ) eλt .

Derivando φ2 , substituindo em x0 = Ax, e simplificando obtemos:

t(A − λI)v1 + (A − λI)v2 = v1 .

daí, da igualdade de polinômios, vem que:

(A − λI)v1 = 0.
(A − λI)v2 = v1 .
Cálculo III

Consequentemente, a segunda solução do sistema x0 = Ax é dada por


φ2 = (v1 t + v2 ) eλt , onde v1 é o autovetor associado a λ e o vetor v2
é determinado resolvendo o sistema (A − λI)v2 = v1 .

87
 
2 0
Exemplo 5.4. Resolva o sistema x0 =   x.
0 2

Solução: Os autovalores da matriz são dados por:



2−λ

0
= (2 − λ)2 = 0.
2−λ

0

Logo, os autovalores da matriz são reais e iguais, a saber λ = 2. Sendo


assim, o autovetor associado a esse autovalor é dado por:
    
2−λ 0 a 0
  = 
0 2−λ b 0
     
0 0 a 0  0 = 0
  =  ⇒
0 0 b 0  0 = 0

Observe que neste caso a solução do sistema acima é a, b ∈ R. Logo,


fazendo a = 1 e b = 0, e depois a = 0 e b = 1 obtemos, respectivamente,
dois autovetores LI, que são:
   
1 0
v1 =   e v2 =  .
0 1

Portanto, a solução geral do sistema é:

   
1 0
x(t) = c1   e2t + c2   e2t .
0 1

 
3 2 4
 
Exemplo 5.5. Encontre a solução do sistema x0 =  2 2  x.
 
0
 
4 2 3

Solução: Inicialmente vamos determinar os autovalores da matriz.


Cálculo III

det(A − λI) = 0
(3 − λ)2 (−λ) + 32 + 16λ − 8(3 − λ) = 0
3 2
−λ + 6λ + 15λ + 8 = 0

88
Observe que λ = 8 é uma raiz da equação. Sendo assim podemos dividir
a equação por (λ − 8) donde obtemos:

−λ3 + 6λ2 + 15λ + 8 = (λ − 8)(−λ2 − 2λ − 1) = 0.

Como as raízes de −λ2 − 2λ − 1 são repetidas e iguais a −1, temos que os


autovalores da matriz são λ1 = 8, λ2 = −1 e λ3 = −1. Observe que neste
exemplo nem todos os autovalores são repetidos, neste caso podemos
proceder como segue para determinar a solução geral do sistema linear
homogêneo. Primeiro, determinemos o autovetor associado a λ1 = 8:
    
3−8 2 4 a 0
    
0−8 2  b  =  0 
    
 2
    
4 2 3−8 c 0

     
−5 2 4 a 0 

 −5a + 2b + 4c = 0
     
−8 2  b  =  0  ⇒ 2a − 8b + 2c = 0
    
 2
     

2 −5  4a + 2b − 5c = 0

4 c 0

Resolvendo este último sistema vem que a = 2b e c = 2b. Logo,


   
2b 2
   
b=1
v1 =  b  =⇒ v1 =  1 .
   
   
2b 2

Agora, para λ = −1 temos:


    
3 − (−1) 2 4 a 0
    
0 − (−1)  b  =  0 
    
 2 2
    
4 2 3 − (−1) c 0
     
4 2 4 a 0 

 4a + 2b + 4c = 0
     
b = 0  ⇒
    
 2 1 2   2a + b + 2c = 0
     
Cálculo III



4 2 4 c 0  4a + 2b + 4c = 0

Resolvendo o sistema vem que b = −2a − 2c.

89
Consequentemente,

         
a a 0 1 0
         
v =  −2a − 2c  =  −2a  +  −2c  = a  −2  + c  −2  .
         
         
c 0 c 0 1

Dessa forma obtemos os seguintes autovetores:


   
1 0
   
v2 =  −2  e v3 =  −2  .
   
   
0 1

Portanto, neste caso, a solução geral do sistema linear homogêneo é:


     
2 1 0
     
x(t) = c1  1  e8t + c2  −2  e−t + c3  −2  e−t .
     
     
2 0 1

 
3 −4
Exemplo 5.6. Resolva o sistema x0 =   x.
1 −1

Solução: Os autovalores são dados por:



3−λ −4

= (3 − λ)(−1 − λ) + 4 = λ2 − 2λ + 1 = 0.
−1 − λ

1

Logo, os autovalores da matriz são λ1 = λ2 = 1, ou seja, são reais e


iguais. Sendo assim, um autovetor associado a esses autovalores é:
     
2 −4 a 0  2a − 4b = 0
(A−λI)v1 = 0 ⇒   =  ⇒
1 −2 b 0  a − 2b = 0

Logo, encontramos a = 2b e, consequentemente,


Cálculo III

   
2b b=1 2
v1 =   =⇒ v1 =  .
b 1

90
 
c
Para determinar u =   devemos resolver (A − λI)u = v1 , que é:
d
  
  
2 −4 c  2c − 4d = 2 2
(A − λI)u = v1 ⇒   = ⇒
1 −2 d 1  c − 2d = 1

Assim, c = 1 + 2d. Consequentemente,

       
c 1 + 2d 1 2d
u= = = + ,
d d 0 d

ou seja,
   
1 2
u=  + d .
0 1

Observe que o segundo termo do lado direito da igualdade anterior é


um múltiplo do autovetor v1 , dessa forma a solução φ2 conterá um
termo que quando escrevermos a solução geral x(t) = c1 φ1 + c2 φ2 e sim-
plificarmos, esse termo será incorporado à parcela c1 φ1 , bastando para
isso apenas redefinir a constante c1 . Sendo assim, podemos desconside-
rar aquele segundo termo do vetor u, isto é, podemos fazer d = 0, ou seja,
 
1
u= .
0

Portanto, a solução geral do sistema é:

     
2 2 1
x(t) = c1   et + c2  t +   et .
1 1 0

5.1.3 Autovalores complexos


Cálculo III

Seja o sistema linear homogêneo x0 = Ax. Se a matriz A possui autova-


lores complexos conjugados, digamos λ1 = α + iβ e λ2 = α − iβ, então
os autovetores v1 e v2 associados, respectivamente, a λ1 e λ2 também

91
serão complexos conjugados, digamos v1 = µ + iη e v2 = µ − iη, com µ e
η vetores de mesma dimensão. Também, os autovetores v1 e v2 são LI,
e φ1 = v1 eλ1 t e φ2 = v2 eλ2 t são soluções do sistema x0 = Ax.
Certamente, como v1 e v2 são vetores complexos, temos que as so-
luções φ1 e φ2 também são complexas. No entanto, nosso interesse é
encontrar soluções reais para o sistema linear homogêneo x0 = Ax, e que
correspondam aos autovalores complexos. Neste sentido, temos que:

φ1 + φ2 = v1 eλ1 t + v2 eλ2 t
= (µ + iη) e(α+iβ)t + (µ − iη) e(α−iβ)t
= (µ + iη) eαt eiβt + (µ − iη) eαt e−iβt .

Na sequência, aplicando a Fórmula de Euler e simplificando vem que:


φ1 + φ2
= eαt (µcos(βt) − ηsen(βt)).
2
De maneira similar obtemos:
φ1 − φ2
= eαt (ηcos(βt) + µsen(βt)).
2i
Portanto, pelo Princípio da Superposição temos que
φ1 + φ2 φ1 − φ2
ψ1 = e ψ2 =
2 2i
também são soluções do sistema x0 = Ax. Além disso, são soluções reais
e LI. De fato, antes afirmamos que os vetores µ e η são LI. Observe que:
v1 + v2
v1 + v2 = 2µ ⇒ µ=
2

v1 − v 2 i(v2 − v1 )
v1 − v2 = 2iη ⇒ η= ⇒ η=
2i 2
Consequentemente,

k1 µ + k2 η = 0
   
v1 + v2 i(v2 − v1 )
k1 + k2 = 0
2 2
k1 (v1 + v2 ) + ik2 (v2 − v1 ) = 0
(k1 − ik2 )v1 + (k1 + ik2 )v1 = 0
Cálculo III

Como os autovetores v1 e v2 são LI, temos obrigatoriamente que


k1 − ik2 = 0 e k1 + ik2 = 0, ou seja, k1 = 0 e k2 = 0. Portanto, os
vetores µ e η são LI.

92
Agora mostremos que ψ1 e ψ2 são LI.

k3 ψ1 + k4 ψ2 = 0
αt αt
k3 e (µcos(βt) − ηsen(βt)) + k4 e (ηcos(βt) + µsen(βt)) = 0
k3 (µcos(βt) − ηsen(βt)) + k4 (ηcos(βt) + µsen(βt)) = 0
(k3 cos(βt) + k4 sen(βt))µ + (k4 cos(βt) − k3 sen(βt))η = 0

Uma vez que µ e η são LI, vem que:

k3 cos(βt) + k4 sen(βt) = 0 e k3 cos(βt) − k4 sen(βt) = 0

Pelo item ?? do Exercício ??, temos que as funções cos(βt) e sen(βt)


são LI, ou seja, k3 = 0 e k4 = 0. Portanto,

ψ1 = eαt (µcos(βt) − ηsen(βt)) e ψ2 = eαt (ηcos(βt) + µsen(βt)).

são LI e, consequentemente, a solução do sistema é x(t) = c1 ψ1 + c2 ψ2 .

 
2 8
Exemplo 5.7. Resolva o sistema x0 =   x.
−1 −2

Solução: Os autovalores da matriz são:



2−λ

8
= λ2 + 4 = 0

⇒ λ1 = 2i e λ2 = −2i.
−1 −2 − λ

O autovetor associado a λ1 = 2i é dado por:


     
2 − 2i 8 a 0  (2 − 2i)a + 8b = 0
  =  ⇒
−1 −2 − 2i b 0  −a + (−2 − 2i)b = 0

Donde obtemos a = (−2 − 2i)b, ou seja,


 
(−2 − 2i)b
v1 =  .
b

Fazendo b = −1, temos:


Cálculo III

         
2 + 2i 2 2i 2 2
v1 =  = + =  + i .
−1 −1 0 −1 0

93
   
2 2
Logo, µ =  eη= . Consequentemente,
−1 0
     
2 2 2cos(2t) − 2sen(2t)
ψ1 =   cos(2t) −   sen(2t) =  .
−1 0 −cos(2t)

     
2 2 2cos(2t) + 2sen(2t)
ψ2 =   cos(2t) +   sen(2t) =  .
0 −1 −sen(2t)

Portanto, a solução geral do sistema homogêneo é dada por:


   
2cos(2t) − 2sen(2t) 2cos(2t) + 2sen(2t)
x(t) = c1   + c2  .
−cos(2t) −sen(2t)

   
1 2 −1
Exemplo 5.8. Resolva o PVI: x0 =   x e x(0) =  .
−2 1 1

Solução: Os autovalores da matriz são:



1−λ

2
= λ2 − 2λ + 5 = 0 ⇒ λ1 = 1 + 2i e λ2 = 1 − 2i.
−2 1−λ

O autovetor associado a λ1 = 1 + 2i é dado por:


     
−2i 2 a 0  −2ia + 2b = 0
  =  ⇒ ⇒ b = ia.
−2 −2i b 0  −2a − 2ib = 0

Donde obtemos,
       
a a=1 1 1 0
v1 =   =⇒ v1 =   ⇒ v1 =   + i .
ia i 0 1
   
1 0
Logo, µ =  eη= . Consequentemente,
0 1
Cálculo III

      
1 0 cos(2t)
ψ1 = et   cos(2t) −   sen(2t) = et  .
0 1 −sen(2t)

94
      
0 1 sen(2t)
ψ2 = et   cos(2t) +   sen(2t) = et  .
1 0 cos(2t)

Portanto, a solução geral do sistema homogêneo é:


   
cos(2t) sen(2t)
x(t) = c1 et   + c2 et  .
−sen(2t) cos(2t)

Por fim,
     
c1 0 c1
x(0) =  + =  ⇒ c1 = −1, c2 = 1.
0 c2 c2

Consequentemente, a solução do PVI é:


   
cos(2t) sen(2t)
x(t) = − et   + et  .
−sen(2t) cos(2t)

5.2 Exercícios

1. Resolva os seguintes sistemas:


   
1 −1 1 −4
a) x0 =   x. e) x0 =   x.
5 −3 4 −7
 
  3 −18
0 1 1 f) x0 =   x.
0
  2 −9
b) x =  1 1  x.
 
0  
 
1 1 0 1 1
g) x0 =   x.
  1 1
12 4  
c) x0 =   x. −6 −5
−16 −4 h) x0 =   x.
5 4
Cálculo III

   
1 9 2 3
d) x0 =   x. i) x0 =   x.
−1 −5 4 3

95
2. Resolva os problemas de valores iniciais a seguir.
   
−2 2 5
a) x0 =   x, x(0) =  .
2 1 0
   
5 −1 2
b) x0 =   x, x(0) =  .
3 1 −1
   
1 9 1
c) x0 =   x, x(0) =  .
−1 −5 −1
   
−3 2 1
d) x0 =   x, x(0) =  .
−1 −1 −2
   
3 6 2
e) x0 =   x, x(0) =  .
−2 −3 4
   
−1 −1 −4
f) x0 =   x, x(0) =  .
1 −1 2
   
−4 0 5
g) x0 =   x, x(3) =  .
0 −4 −2

3. Resolva os seguintes PVIs:



 x = 4x + x
1 1 2
a) , x1 (0) = 6, x2 (0) = 2.
 x = 3x + 2x
2 1 2

 x = −5x + x
1 1 2
b) , x1 (0) = 2, x2 (0) = −1.
 x = 2x − 4x
2 1 2

 x = 6x − 4x
1 1 2
c) , x1 (0) = 1, x2 (0) = 3.
 x = 8x − 2x
2 1 2

 x = x − 4x
1 1 2
d) , x1 (0) = −2, x2 (0) = 1.
 x = 4x − 7x
2 1 2
Cálculo III


 x = 6x + 8x
1 1 2
e) , x1 (0) = 8, x2 (0) = 0.
 x = 2x + 6x
2 1 2

96
6. Transformada de Laplace

A Transformada de Laplace é essencialmente um método algébrico para


resolver problemas de valores iniciais (PVI), como por exemplo:

ay 00 + by 0 + cy = f (t), com y(0) = y0 , y 0 (0) = y1 e a, b, c ∈ R.

Na prática, a Transformada de Laplace transforma um PVI em um pro-


blema algébrico envolvendo funções polinomiais que é, geralmente, mais
fáceis de resolver do que uma equação diferencial. Isto se dá da se-
guinte maneira, primeiramente usamos a Transformada de Laplace para
transformar o PVI numa equação algébrica, na sequência resolvemos a
equação algébrica, e por fim, usamos a Transformada Inversa de Laplace
para transformar a solução da equação algébrica na solução do PVI dado.
Definição 6.1. Seja f (t) uma função definida para todo real t ≥ 0. A
Transformada de Laplace de f (t), denotada L{f (t)}(s), é dada por:
Z ∞
L{f (t)}(s) = f (t) e−st dt,
0

com s > 0 e para o qual a integral está definida.


Observe que a Transformada de Laplace transforma uma função na
variável t ≥ 0, em uma função na variável s > 0. Isto acontece, pois,
a variável t é substituída durante o processo de integração. Em ge-
ral, e por simplicidade, denotamos a Transformada de Laplace das fun-
ções f (t), g(t), y(t) e etc, respectivamente, por F (s), G(s), Y (s). Isto é,
F (s) = L{f (t)}(s), G(s) = L{g(t)}(s) e Y (s) = L{y(t)}(s).
Na sequência, apresentamos algumas propriedades da Transformada
de Laplace.
Teorema 6.2 (Multiplicação por uma Constante). Seja f (t) uma função
definida para todo real t ≥ 0. Se a é uma constante, então:

L{af (t)}(s) = a L{f (t)}(s).

Demonstração: De fato,
Cálculo III

Z ∞ Z ∞
−st
L{af (t)}(s) = af (t) e dt = a f (t) e−st dt = a L{f }(s).
0 0

97
Teorema 6.3 (Linearidade). Sejam f (t) e g(t) funções definidas para
todo real t ≥ 0. Se a e b são constantes, então:

L{af (t) + bg(t)}(s) = a L{f (t)}(s) + b L{g(t)}(s).

Demonstração: Certamente, observe que:


Z ∞
L{af (t) + bg(t)}(s) = (af (t) + bg(t)) e−st dt
0

Z ∞ Z ∞
−st
= a f (t)e dt + b g(t)e−st dt
0 0

= a L{f (t)}(s) + b L{g(t)}(s).

Teorema 6.4 (Deslocamento). Se L{f (t)}(s) = F (s) e a é uma cons-


tante tal que s > a, então:

L{ eat f (t)}(s) = F (s − a).

Demonstração: Uma vez que,


Z ∞
F (s) = f (t)e−st dt,
0

temos: Z ∞
F (s − a) = f (t)e−(s−a)t dt
0

Z ∞
= f (t)eat e−st dt
0

= L{ eat f (t)}(s).

Observe que o Teorema do Deslocamento nos diz que se substituirmos


a variável s por s − a na Transformada de Laplace F (s), então isto
corresponde a multiplicar a função original f (t) por eat .
Cálculo III

98
Exemplo 6.5. A Transformada de Laplace da função f0 (t) = 1 é:
Z ∞ ∞
−st e−st
F0 (s) = L{1}(s) = e dt = −
0 s 0

e−sA
   
1
= lim − − lim −
A→∞ s A→∞ s

1 1
= 0 − (− ) = .
s s
1
Portanto, F0 (s) = .
s
Exemplo 6.6. A Transformada de Laplace da função f1 (t) = t é:
Z ∞
F1 (s) = L{t}(s) = t e−st dt
0


t e−st 1 ∞ −st
Z
= − + e dt
s 0 s 0

1 1 1 1 1
= 0+ L{1}(s) = F0 (s) = · = 2 .
s s s s s
1
Portanto, F1 (s) = .
s2
Exemplo 6.7. A Transformada de Laplace da função f2 (t) = t2 é:
Z ∞
2
F2 (s) = L{t }(s) = t2 e−st dt
0


t2 e−st 2 ∞ −st
Z
= − + t e dt
s 0 s 0

2 2 2 1 2
= 0+ L{t}(s) = F1 (s) = · 2 = 3 .
s s s s s
2
Portanto, F2 (s) = .
Cálculo III

s3

99
Exemplo 6.8. A Transformada de Laplace da função f3 (t) = t3 é:
Z ∞
3
F3 (s) = L{t }(s) = t3 e−st dt
0


t3 e−st 3 ∞ 2 −st
Z
= − + t e dt
s 0 s 0

3 3 3 2 6
= 0+ L{t2 }(s) = F2 (s) = · 3 = 4 .
s s s s s
6
Portanto, F3 (s) = .
s4
Exemplo 6.9. Seja fn (t) = tn . Pelos exemplos anteriores notamos que:

1 1 0!
L{t0 }(s) = = = .
s s0+1 s0+1

1 1 1!
L{t1 }(s) = = = .
s2 s1+1 s1+1

2 2·1 2!
L{t2 }(s) = = = .
s3 s2+1 s2+1

6 3·2·1 3!
L{t3 }(s) = = = .
s4 s3+1 s3+1
Nesse sentido, por indução, é possível mostrar que:
n!
Fn (s) = L{tn }(s) = .
sn+1
Exemplo 6.10. A Transformada de Laplace da função f (t) = eat , com
a ∈ R, é dada por:
Z ∞ Z ∞
at −st
at
F (s) = L{ e }(s) = e e dt = e−(s−a)t dt
0 0


1 −(s−a)t
1
= − e = .
s−a s−a
Cálculo III

1
Assim, para s > a, F (s) = .
s−a

100
Exemplo 6.11. A Transformada de Laplace da função g(t) = e−at ,
com a ∈ R, é dada por:
Z ∞
1
G(s) = L{ e−at }(s) = e−(s+a)t dt = .
0 s + a
1
Logo, para s > −a, G(s) = .
s+a
Exemplo 6.12. A Transformada de Laplace da função f (t) = eiat , com
a ∈ R, é dada por:
1
F (s) = L{ eiat }(s) = .
s − ia
Exemplo 6.13. A Transformada de Laplace da função g(t) = e−iat ,
com a ∈ R, é dada por:
1
G(s) = L{ e−iat }(s) = .
s + ia
Exemplo 6.14. Encontre a Transformada de Laplace das funções
cos(at) e sen(at), com a ∈ R. Da Fórmula de Euler temos que:

eiat = cos(at) + isen(at) e e−iat = cos(at) − isen(at).

Daí obtemos que:

eiat + e−iat eiat − e−iat


cos(at) = e sen(at) = .
2 2i
Pelo Teorema 6.3, a Transformada de Laplace da função cos(at) é:

e + e−iat
 iat 
L{cos(at)}(s) = L (s)
2

 
1
= L{ eiat }(s) + L{ e−iat }(s)
2

 
1 1 1
= +
2 s − ia s + ia

 
Cálculo III

1 2s s
= = 2 .
2 (s − ia)(s + ia) s + a2
s
Logo, L{cos(at)}(s) = .
s2 + a2

101
Por fim, a Transformada de Laplace da função sen(at) é:

e − e−iat
 iat 
L{cos(at)}(s) = L (s)
2i

 
1
= L{ eiat }(s) − L{ e−iat }(s)
2i

 
1 1 1
= −
2i s − ia s + ia

 
1 2ia a
= = 2 .
2i (s − ia)(s + ia) s + a2
a
Logo, L{cos(at)}(s) = .
s2 + a2
Exemplo 6.15. Vamos determinar a Transformada de Laplace da fun-
ção derivada y 0 (t).
Z ∞
L{y 0 (t)}(s) = y 0 (t) e−st dt.
0

−st
Integrando por partes, onde u = e e dv = f 0 (t)dt, vem que:
Z ∞ ∞ Z ∞
y(t)
L{y 0 (t)}(s) = y 0 (t) e−st dt = st + s e−st y(t)dt
0 e 0 0

Logo,
L{y 0 (t)}(s) = s L{y(t)}(s) − y(0).
Ou ainda,
L{y 0 (t)}(s) = sY (s) − y(0).
Exemplo 6.16. Encontre a Transformada de Laplace da função y 00 (t).
Do exemplo anterior temos que:
 
L{y 00 (t)}(s) = s L{y 0 (t)}(s) − y 0 (0) = s sY (s) − y(0) − y 0 (0),

ou seja,
L{y 00 (t)}(s) = s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0).
Cálculo III

Exemplo 6.17. Determine a Transformada de Laplace da função y(t),


sabendo que:

y 00 − 10y 0 + 9y = 5t, com y(0) = −1, y 0 (0) = 2.

102
Inicialmente, determinamos a Transformada de Laplace de cada membro
da equação diferencial, isto é:

L{y 00 − 10y 0 + 9y}(s) = L{5t}


L{y 00 }(s) − 10 L{y 0 }(s) + 9 L{y}(s) = 5 L{t}
5
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) − 10 sY (s) − y(0) + 9Y (s) =

s2
Usando as condições iniciais e simplificando obtemos:
5
s2 − 10s + 9 Y (s) + s − 12 = 2 .

s
Fatorando s2 − 10s + 9 e isolando Y (s) obtemos o desejado, que é:
5 12 − s
Y (s) = + .
s2 (s
− 9)(s − 1) (s − 9)(s − 1)

 1, 0 ≤ t ≤ 2,
Exemplo 6.18. Sendo h(t) = , determine sua
 t − 2, 2 ≤ t.
Transformada de Laplace.
Z ∞
H(s) = L{h(t)}(s) = h(t) e−st dt
0

Z 2 Z ∞
= h(t) e−st dt + h(t) e−st dt
0 2

Z 2 Z ∞
= e−st dt + (t − 2) e−st dt
0 2

2  ∞
1 −st 1 −st 1 −st
= − e + −(t − 2) e − 2e
s 0 s s 2

2 ∞ ∞
1 −st 1 −st 1 −st
= − e −(t − 2) e − 2 e
s 0 s 2 s 2

1 1 1
= − e−2s + + 2 e−2s .
s s s
Cálculo III

1 −2s 1
− 1 + 2 e−2s .

Dessa forma, temos que H(s) = − e
s s

103
Exemplo 6.19.
7! 5040
a) L{t7 }(s) = = 8 .
s8 s
1
b) L{ e2t t}(s) = L{t}(s − 2) = .
(s − 2)2
c)

L{(t + 4)2 }(s) = L{t2 + 8t + 16}(s)

= L{t2 }(s) + 8 L{t}(s) + 16 L{1}(s)

2 8 16
= 3
+ 2+ .
s s s
d) Seja f (t) = 5 e6t − 3sen(7t) + 2cos(8t).

L{f (t)}(s) = 5 L{ e6t }(s) − 3 L{sen(7t)}(s) + 2 L{cos(8t)}(s)

5 21 2s
= − + .
s − 6 s2 + 49 s2 + 64

e)

L{4 et (cos(2t) + 9)}(s) = L{4 et cos(2t) + 36 et }(s)

= 4 L{ et cos(2t)}(s) + 36 L{ et }(s)

4(s − 1) 36
= + .
(s − 1)2 + 4 (s − 1)
f) Seja y 0 (t) = 3 − 2t, com y(0) = 0. Então:

L{y 0 (t)}(s) = L{3 − 2t}(s)

3 2
sY (s) − y(0) = −
Cálculo III

s s2

3 2
Y (s) = 2
− 3.
s s

104
6.1 Transformada Inversa de Laplace

Como vimos anteriormente, a Transformada de Laplace transforma uma


função na variável t ≥ 0, em uma função na variável s > 0. Neste
sentido, a Transformada Inversa de Laplace é usada para transformar a
função na variável s de volta na função na variável t.
Definição 6.20. Se F (s) = L{f (t)}(s), então a Transformada Inversa
de Laplace da função F (s), denotada por L−1 {F (s)}, é dada por:
L−1 {F (s)} = f (t).
Talvez a propriedade mais importante da Transformada Inversa de
Laplace seja a linearidade, porém, juntamente com ela apresentamos a
não menos importante propriedade do deslocamento.
Teorema 6.21 (Linearidade e Deslocamento). Sejam a e b constantes.
Se L{f (t)}(s) = F (s) e L{g(t)}(s) = G(s) então:
i) L−1 {aF (s) + bG(s)} = a L−1 {F (s)} + b L−1 {G(s)}.
ii) L−1 {F (s − a)} = eat L−1 {F (s)}, com s > a.
Demonstração:
i) Pela linearidade da Transformada de Laplace, Teorema 6.3, temos:
L{af (t) + bg(t)}(s) = aF (s) + bG(s).
Aplicando a Transformada Inversa de Laplace em ambos os lados
da igualdade vem que:
af (t) + bg(t) = L−1 {aF (s) + bG(s)}.
Pela definição de Transformada Inversa de Laplace temos que:
L−1 {F (s)} = f (t) e L−1 {G(s)} = g(t).

Portanto, L−1 {aF (s) + bG(s)} = a L−1 {F (s)} + b L−1 {G(s)}.

ii) Seja s > a. Pelo Teorema 6.4 vem que:


L{ eat f (t)}(s) = F (s − a).
Aplicando a Transformada Inversa de Laplace em ambos os lados
da igualdade temos:
Cálculo III

eat f (t) = L−1 {F (s − a)}.

Consequentemente, L−1 {F (s − a)} = eat L−1 {F (s)}.

105
Exemplo 6.22. Diretamente da definição temos que:
   
−1 1 −1 1
a) L =1 i) L = ei2t
s s − 2i
   
−1 n! −1 1
b) L =t n
j) L = e−i5t
sn+1 s + 5i
   
2 s
c) L−1 = t 2
k) L −1
= cos(at)
s3 s2 + a2
   
1 s
d) L−1 = eat l) L−1 = cos(3t)
s−a s2 + 9
   
−1 1 3t −1 a
e) L = e m) L = sen(at)
s−3 s2 + a2
   
−1 1 −at −1 5
f) L = e n) L = sen(5t)
s+a s2 + 25
   
1 a
g) L−1 = e−7t o) L−1 = senh(at)
s+7 s2 − a2
   
1 8
h) L−1 = eiat p) L−1 = senh(8t)
s − ia s2 − 64
s−a
Exemplo 6.23. A Transformada Inversa de Laplace de é:
(s − a)2 + b2
   
−1 s−a at −1 s
L = e L = eat cos(bt).
(s − a)2 + b2 s2 + b2
1
Exemplo 6.24. A Transformada Inversa de Laplace de é:
s2 + b2
   
1 1 b
L−1 = L−1 · 2
s + b2
2 b s + b2

 
1 −1 b
= L
b s2 + b2
Cálculo III

1
= sen(bt).
b

106
1
Exemplo 6.25. A Transformada Inversa de Laplace de é:
(s − a)2 + b2
   
1 1 b
L−1 = L−1 ·
(s − a)2 + b2 b (s − a)2 + b2

 
1 −1 b
= L
b (s − a)2 + b2

 
1 at −1 b
= e L
b s + b2
2

1 at
= e sen(bt).
b
1
Exemplo 6.26. A Transformada Inversa de Laplace de é:
sn
   
−1 1 −1 1 (n − 1)!
L = L · (n−1)+1
sn (n − 1)! s

 
1 (n − 1)!
= L−1
(n − 1)! s(n−1)+1

tn−1
= (n ≥ 1).
(n − 1)!

Exemplo 6.27. Usando as propriedades da Transformada Inversa de


Laplace e a manipulação algébrica temos que:
t5
     
1 1 5! 1 −1 5!
a) L−1 6
= L −1
· 6
= L 6
= .
s 5! s 5! s 120

   √  √ 
1 1 10 1
b) L−1 = L−1 √ · √ = √ sen 10 .
s2 + 10 10 s2 + ( 10)2 10

   
10s s
c) L−1 = 10 L−1 = 10cos(4t).
Cálculo III

2
s + 16 2
s + 16

107
d)    
s−1 s−1
L−1 = L−1
s2 − 2s + 5 (s − 1)2 + 4

 
t −1 s
= e L = et cos(2t).
s2 + 4

e)
     
1 6 1 −1 2 2
L−1 + 2 = L + 3 L−1
s3 s +4 2 s3 s2 + 4

t2
= + 3sen(2t).
2

1 s−3
f) Seja F (s) = + .
(s + 1)4 (s − 3)2 + 6
   
1 s−3
L−1 {F (s)} = L−1 + L −1
(s + 1)4 (s − 3)2 + 6

e−t t3 √ 
= + e3t cos 6t .
6
s
g) Seja F (s) = .
s2 + 4s + 5
Observe que por fatoração temos s2 + 4s + 5 = (s + 2)2 + 1. Logo,
 
−1 −1 s
L {F (s)} = L
s2 + 4s + 5

 
(s + 2) − 2
= L−1
(s + 2)2 + 1

 
−1 s+2 2
= L −
(s + 2)2 + 1 (s + 2)2 + 1

   
s+2 2
L−1 − L−1
Cálculo III

=
(s + 2)2 + 1 (s + 2)2 + 1

= e−2t cos(t) − 2 e−2t sen(t).

108
6.2 O Método da Decomposição em Frações Parciais

P (s)
Seja F (s) uma função racional da forma , onde P (s) e Q(s) são
Q(s)
polinômios com grau{P (s)} ≤ grau{Q(s)}. O método da decomposi-
P (s)
ção em frações parciais consiste em decompor F (s) = em termos
Q(s)
que são uma variante das Transformadas de Laplace apresentadas na
Tabela 6.5.
Na verdade, a essência deste método é fatorar o polinômio Q(s) em
fatores, de preferência, lineares. Neste sentido, o Teorema do Fator nos
diz que (s − s1 ) é um fator de Q(s) se, e somente se, Q(s1 ) = 0. De outra
forma, (s−s1 ) é um fator de Q(s) se, e somente se, s1 é uma raiz de Q(s).
Não obstante, o polinômio Q(s) pode ter raízes reais distintas, reais
repetidas, complexas conjugadas ou uma combinação delas. Vejamos os
caso por meio de exemplos.
 
7s − 1
Exemplo 6.28 (Raízes reais e distintas). Encontre L−1 .
s3 − 7s − 6
Neste caso, Q(s) = s3 − 7s − 6 e suas raízes são −1, −2 e 3, ou seja,
Q(s) pode ser fatorado como segue:
Q(s) = (s + 1)(s + 2)(s − 3).
Logo, a função racional pode ser reescrita da seguinte forma:
7s − 1 7s − 1
= .
s3 − 7s − 6 (s + 1)(s + 2)(s − 3)
Agora aplicamos o método da decomposição em frações parciais, que
neste caso é através da seguinte igualdade:
7s − 1 A B C
= + + .
(s + 1)(s + 2)(s − 3) s+1 s+2 s−3
Multiplicando ambos os lados da última igualdade pelo denominador da
fração do lado esquerdo temos:
7s − 1 = A(s + 2)(s − 3) + B(s + 1)(s − 3) + C(s + 1)(s + 2).
Simplificando, vem que:
7s − 1 = (A + B + C)s2 + (−A − 2B + 3C)s + (−6A − 3B + 2C).
Da igualdade de polinômios obtemos o seguinte sistema:

Cálculo III



 A+B+C = 0

−A − 2B + 3C = 7 ,


 −6A − 3B + 2C = −1

109
cuja solução é A = 2, B = −3 e C = 1. Logo,
7s − 1 2 3 1
= − + .
s3 − 7s − 6 s+1 s+2 s−3
Consequentemente,
       
7s − 1 1 1 1
L−1 = 2 L −1
−3 L−1
+ L−1
.
s3 − 7s − 6 s+1 s+2 s−3
Portanto,  
−1 7s − 1
L = 2 e−t − 3 e−2t + e3t .
s3 − 7s − 6
s2 + 9s + 2
Exemplo 6.29 (Raízes reais repetidas). Sendo F (s) = ,
s3 + s2 − 5s + 3
encontre L−1 {F (s)}.
Observe que 1, 1 e −3 são as raízes de s3 + s2 − 5s + 3. Logo,
s2 + 9s + 2 s2 + 9s + 2
= .
s3 + s2 − 5s + 3 (s − 1)2 (s + 3)
Neste caso, o método da decomposição em frações parciais nos pede a
seguinte igualdade:
s2 + 9s + 2 A B C
2
= + 2
+ .
(s − 1) (s + 3) s − 1 (s − 1) s+3
Donde obtemos:
s2 + 9s + 2 = A(s − 1)(s + 3) + B(s + 3) + C(s − 1)2 .
Simplificando,
s2 + 9s + 2 = (A + C)s2 + (2A + B − 2C)s + (−3A + 3B + C).
Da igualdade de polinômios temos:



 A+C = 1

2A + B − 2C = 9 ,


 −3A + 3B + C

= 2

cuja solução é A = 2, B = 3 e C = −1. Logo,


     
−1 −1 1 −1 1 −1 1
L {F (s)} = 2 L + 3L −L .
s−1 (s − 1)2 s+3
Cálculo III

Portanto,
s2 + 9s + 2
 
L−1 = 2 et + 3t et − e−3t .
s + s2 − 5s + 3
3

110
 
s+3 −1
Exemplo 6.30 (Raízes Complexas). Encontre L .
s2 + 4s + 5
As raízes do polinômio s2 + 4s + 5 são complexas conjugadas, a saber
−2 ± i. Neste caso, nosso primeiro passo é usar o método de completar
quadrados para transformar o polinômio s2 + 4s + 5 em um produto
notável. Isto é:
s2 + 4s + 5 = (s + 2)2 + 1.
Logo,
s+3 (s + 2) + 1 s+2 1
= = + .
s2 + 4s + 5 2
(s + 2) + 1 (s + 2) + 1 (s + 2)2 + 1
2

Portanto,
     
s+3 s+2 1
L−1 = L−1 + L−1
s2 + 4s + 5 (s + 2)2 + 1 (s + 2)2 + 1

   
−2t −1 s −2t −1 1
= e L +e L
s2 + 1 s2 + 1

= e−2t cos(t) + e−2t sen(t).


s+3
Exemplo 6.31. Se F (s) = , encontre L−1 {F (s)} .
s3 + 9s2 + 25s + 25
3 2
O polinômio Q(s) = s + 9s + 25s + 25 possui uma raiz real e um par
de raízes complexas conjugadas, a saber, −5 e −2 ± i. Logo, podemos
reescrever Q(s) da seguinte forma:
s3 + 9s2 + 25s + 25 = (s + 5)(s2 + 4s + 5).
Neste caso, o método da decomposição em frações parciais nos leva a
seguinte igualdade:
s+3 A Bs + C
2
= + 2 .
(s + 5)(s + 4s + 5) s + 5 s + 4s + 5
Assim,

s+3 = A(s2 + 4s + 5) + (Bs + C)(s + 5)


= (A + B)s2 + (4A + 5B + C)s + (5A + 5C).
Consequentemente,

Cálculo III



 A+B = 0
 1 1 4
4A + 5B + C = 1 ⇒ A=− , B= , C= .

 5 5 5

 5A + 5C = 3

111
Logo,
s+3 1 s+4
=− + .
(s + 5)(s2 + 4s + 5) 5(s + 5) 5(s2 + 4s + 5)
Daí, completando quadrados e manipulando algebricamente obtemos:
s+3 1 s+4
= − +
(s + 5)(s2 + 4s + 5) 5(s + 5) 5((s + 2)2 + 1)

1 s+2+2
= − +
5(s + 5) 5((s + 2)2 + 1)

1 s+2 2
= − + + .
5(s + 5) 5((s + 2)2 + 1) 5((s + 2)2 + 1)
Portanto,
   
−1 1 1 1 s+2
L {F (s)} = − L−1 + L−1
5 s+5 5 (s + 2)2 + 1

 
2 −1 1
+ L
5 (s + 2)2 + 1

1 1 2
= − e−5t + e−2t cos(t) + e−2t sen(t).
5 5 5
2s2 + 10s
Exemplo 6.32. Se F (s) = , encontre L−1 {F (s)} .
(s2 − 2s + 5)(s + 1)
Nos valendo do método da decomposição em frações parciais temos
a seguinte igualdade:
2s2 + 10s As + B C
= 2 + .
(s2 − 2s + 5)(s + 1) s − 2s + 5 s + 1
Donde obtemos,

2s2 + 10s = (As + B)(s + 1) + C(s2 − 2s + 5)


= (A + C)s2 + (A + B − 2C)s + (B + 5C).

Consequentemente,

Cálculo III



 A+C = 2

A + B − 2C = 10 ⇒ A = 3, B = 5, C = −1.



 B + 5C = 0

112
Isto é,
2s2 + 10s 3s + 5 1
= 2 − .
(s2 − 2s + 5)(s + 1) s − 2s + 5 s + 1
Agora, completando quadrados e manipulando algebricamente obtemos:

2s2 + 10s 3s + 5 1 3s − 3 + 8 1
= − = −
(s2 − 2s + 5)(s + 1) (s − 1)2 + 4 s + 1 (s − 1)2 + 4 s + 1

3s − 3 8 1
= + − .
(s − 1)2 + 4 (s − 1)2 + 4 s + 1
Portanto,
   
−1 −1 s−1 −1 2
L {F (s)} = 3L + 4L
(s − 1)2 + 4 (s − 1)2 + 4

 
1
− L−1
s+1

= 3 et cos(2t) + 4 et sen(2t) − e−t .

5s2 + 8s − 5
Exemplo 6.33. Se F (s) = , encontre L−1 {F (s)} .
s2 (s2 + 2s + 5)
Temos que:

5s2 + 8s − 5 A B Cs + D
= + 2+ 2 .
s2 (s2 + 2s + 5) s s s + 2s + 5
Logo,

5s2 + 8s − 5 = (A + C)s3 + (2A + B + D)s2 + (5A + 2B)s + 5B.

Sendo assim,



 A+C = 0



 2A + B + D = 5
⇒ A = 2, B = −1 , C = −2, D = 2.


 5A + 2B = 8


= −5

 5B
Cálculo III

Consequentemente,

5s2 + 8s − 5 2 1 −2s + 2 2 1 −2s + 2


= − 2+ = − 2+ .
s2 (s2
+ 2s + 5) s s (s + 1)2 + 4 s s (s + 1)2 + 4

113
Portanto,
     
−1 −1 1 −1 1 −1 s+1
L {F (s)} = 2L −L − 2L
s s2 (s + 1)2 + 4

 
2
+ 2 L−1
(s + 1)2 + 4

= 2 − t − 2 e−t cos(2t) + 2 e−t sen(2t).

3s2 + 2s + 3
Exemplo 6.34. Se F (s) = , encontre L−1 {F (s)} .
s2 + 3s + 2
P (s)
Diferentemente dos exemplos anteriores, onde F (s) = e o
Q(s)
grau{P (s)} < grau{Q(s)}, aqui temos o grau{P (s)} = grau{Q(s)}.
Por isso, para decompor F (s) devemos efetuar a divisão do polinômio
3s2 + 2s + 3 pelo polinômio s2 + 3s + 2. Feito isso, obtemos:
3s2 + 2s + 3 = 3(s2 + 3s + 2) + (−7s − 3).
Consequentemente,
3s2 + 2s + 3 3(s2 + 3s + 2) + (−7s − 3) −7s − 3
2
= 2
=3+ 2 .
s + 3s + 2 s + 3s + 2 s + 3s + 2
Como as raízes de s2 + 3s + 2 são −1 e −2 vem que:
−7s − 3 A B
3+ =3+ + .
(s + 1)(s + 2) s+1 s+2
Daí obtemos A = 4 e B = −11, consequentemente:
4 11
F (s) = 3 + − .
s+1 s+2
Logo, de acordo com a Tabela 6.5,
   
−1 −1 −1 4 −1 11
L {F (s)} = L {3} + L −L
s+1 s+2

= 3δ(t) + 4 e−t − 11 e−2t ,

onde δ(t) é a Função Delta de Dirac e é dada por:


Cálculo III

δ(t − t0 ) = 0, t 6= 0;
Z +∞
δ(t − t0 )dt = 1.
−∞

114
6.3 Resolvendo PVI com Transformada de Laplace

Exemplo 6.35. Resolva o PVI.

y 00 − 10y 0 + 9y = 5t, com y(0) = −1 e y 0 (0) = 2.

a) Primeiro, usando a linearidade, aplicamos a Transformada de Laplace


em ambos os lados da igualdade da EDO:

L {y 00 } − 10 L {y 0 } + 9 L {y} = 5 L {t}
5
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) − 10(sY (s) − y(0)) + 9Y (s) =
s2

b) Substituindo as condições iniciais e fatorando obtemos:


5
(s2 − 10s + 9)Y (s) + s − 12 =
s2
−s3 + 12s2 + 5 −s3 + 12s2 + 5
Y (s) = 2 2
= 2
s (s − 10s + 9) s (s − 9)(s − 1)

c) Aplicando o método da decomposição em frações parciais vem que:

−s3 + 12s2 + 5 A B C D
= + 2+ +
s2 (s − 9)(s − 1) s s s−9 s−1

Multiplicando ambos os lados por s2 (s − 9)(s − 1) e fatorando temos:

−s3 + 12s2 + 5 = (A + C + D)s3 + (−10A + B − C − 9D)s2


+(9A − 10B)s + 9B

Assim, da igualdade de polinômios, obtemos o seguinte sistema:





 A + C + D = −1 A = 50/81


 −10A + B − C − 9D = 12

B = 5/9



 9A − 10B = 0 C = 31/81


−2

 9B = 5 D =

50 5 31 2
Y (s) = + + −
81s 9s2 81(s − 9) s − 1
Cálculo III

d) A solução do PVI é dada por y(t) = L−1 {Y (s)} , ou seja,


50 5 31 9t
y(t) = + t+ e − 2 et .
81 9 81

115
Exemplo 6.36. Resolva o PVI.

y 00 + 4y 0 = 1, com y(0) = 0 e y 0 (0) = 0.

a) Aplicando a Transformada de Laplace de ambos os lados da EDO:

L {y 00 } + 4 L {y 0 } = L {1}

1
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) + 4(sY (s) − y(0)) =
s

b) Substituindo as condições iniciais e fatorando temos:


1 1 1
(s2 + 4s)Y (s) = ⇒ Y (s) = ⇒ Y (s) = 2 .
s s(s2 + 4s) s (s + 4)

c) Aplicando o método da decomposição em frações parciais obtemos:


1 A B C
= + 2+ ⇒ (A + C)s2 + (4A + B)s + 4B = 1.
s2 (s + 4) s s s+4
Esta última igualdade de polinômios gera um sistema cuja solução é
1 1 1
A=− ,B= eC= . Logo,
16 4 16
1 1 1
Y (s) = − + + .
16s 4s2 16(s + 4)

d) A solução do PVI é dada por y(t) = L−1 {Y (s)}, ou seja,


     
1 1 1 1 1 −1 1
y(t) = − L−1 + L−1 + L .
16 s 4 s2 16 s+4
Portanto, de acordo com a Tabela 6.5, temos:

1 t e−4t
y(t) = − + + .
16 4 16

Exemplo 6.37. Resolva o PVI.

y 00 − 6y 0 + 5y = 0, com y(0) = 1 e y 0 (0) = −3.

a) Aplicando a Transformada de Laplace de ambos os lados da EDO:


Cálculo III

L {y 00 } − 6 L {y 0 } + 5 L {y} = L {0}
2 0
s Y (s) − sy(0) − y (0) − 6(sY (s) − y(0)) + 5Y (s) = 0

116
b) Substituindo as condições iniciais, fatorando e obtendo Y (s):

s2 Y (s) − s + 3 − 6(sY (s) − 1) + 5Y (s) = 0


s−9 s−9
Y (s) = ⇒ Y (s) =
s2 − 6s + 5 (s − 1)(s − 5)

c) Aplicando o método da decomposição em frações parciais:

s−9 A B
= + ⇒ s − 9 = A(s − 5) + B(s − 1)
(s − 1)(s − 5) s−1 s−5

 A+B = 1 A=2
s−9 = (A+B)s+(−5A−B) ⇒ ⇒
 −5A − B = −9 B = −1

2 1
Y (s) = −
s−1 s−5
d) Determinando a solução do PVI:

y(t) = L−1 {Y (s)}

 
2 1
y(t) = L−1 −
s−1 s−5

   
−1 1 −1 1
y(t) = 2L −L
s−1 s−5

y(t) = 2 et − e5t .

Exemplo 6.38. Resolva o PVI.

y 0 + 2y = 4t e−2t , com y(0) = −3.

a) Aplicando a Transformada de Laplace de ambos os lados da EDO:

L {y 0 } + 2 L {y} 4 L e−2t t

=
Cálculo III

4
sY (s) − y(0) + 2Y (s) =
(s + 2)2

117
b) Substituindo as condições iniciais, fatorando e obtendo Y (s):
4
sY (s) + 3 + 2Y (s) =
(s + 2)2
4 3 −3s2 − 12s − 8
Y (s) = − ⇒ Y (s) =
(s + 2)3 s+2 (s + 2)3
c) Aplicando o método da decomposição em frações parciais:
−3s2 − 12s − 8 A B C
= + +
(s + 2)3 (s + 2)3 (s + 2)2 s+2

−3s2 − 12s − 8 = A + B(s + 2) + C(s + 2)2

−3s2 − 12s − 8 = Cs2 + (B + 4C)s + (A + 2B + 4C)




 C = −3 A=4

B + 4C = −12 ⇒ B=0


−8 C = −3

 A + 2B + 4C =

4 −3
Y (s) = +
(s + 2)3 s+2
d) Determinando a solução do PVI:

y(t) = L−1 {Y (s)}

 
4 −3
y(t) = L−1 +
(s + 2)3 s+2

   
−1 2 −1 1
y(t) = 2L − 3L
(s + 2)3 s+2

   
2 1
y(t) 2 e−2t L−1 − 3 e−2t L−1
Cálculo III

=
s3 s

y(t) = 2 e−2t t2 − 3 e−2t .

118
Exemplo 6.39. Resolva o PVI.

y 00 − 2y 0 + 2y = cos(t), com y(0) = 1 e y 0 (0) = 0.

a) Aplicando a Transformada de Laplace de ambos os lados da EDO:

L {y 00 } − 2 L {y 0 } + 2 L {y} = L {cos(t)}
s
s2 Y (s) − sy(0) − y 0 (0) − 2(sY (s) − y(0)) + 2Y (s) =
s2 + 1

b) Substituindo as condições iniciais, fatorando e obtendo Y (s):


s
s2 Y (s) − s − 2(sY (s) − 1) + 2Y (s) =
s2 + 1
s s3 − 2s2 + 2s − 2
(s2 −2s+2)Y (s)−s+2 = ⇒ Y (s) =
s2 + 1 (s2 + 1)(s2 − 2s + 2)

c) Aplicando o método da decomposição em frações parciais:

s3 − 2s2 + 2s − 2 As + B Cs + D
= 2 + 2
(s2 + 1)(s2 − 2s + 2) s +1 s − 2s + 2

s3 −2s2 +2s−2 = (A+C)s3 +(−2A+B +D)s2 +(2A−2B +C)s+(2B +D)





 A+C = 1 A = 1/5


−2A + B + D −2 B = −2/5

 =



 2A − 2B + C = 2 C = 4/5


−2 D = −6/5

 2B + D =

s−2 4s − 6
Y (s) = 2
+ 2
5(s + 1) 5(s − 2s + 2)

s−2 4(s − 1) − 2
Y (s) = +
5(s2 + 1) 5((s − 1)2 + 1)

s 2 4(s − 1) 2
Y (s) = − + −
Cálculo III

5(s2 + 1) 5(s2 + 1) 5((s − 1)2 + 1) 5((s − 1)2 + 1)

119
d) Determinando a solução do PVI:

y(t) = L−1 {Y (s)}

   
1 −1 s 2 1
y(t) = L − L−1
5 (s2 + 1) 5 (s2 + 1)

   
4 s−1 2 −1 1
+ L−1 − L
5 ((s − 1)2 + 1) 5 ((s − 1)2 + 1)

1 2 4 2
y(t) = cos(t) − sen(t) + et cos(t) − et sen(t).
5 5 5 5

6.4 Exercícios

1. Se L{f (t)}(s) = F (s), então mostre que:


1 s
L{f (at)}(s) = F .
a a

ex + e−x ex − e−x
2. Sendo cosh(x) = e senh(x) = , encon-
2 2
tre, usando a definição, a Transformada de Laplace das funções
cosh(at) e senh(at).
3. Usando a Tabela 6.5, se necessário, determine a Transformada de
Laplace das seguintes funções:

a) f (t) = cos(at + b) h) f (t) = t2 sen(3t)


b) f (t) = sen(at + b) i) f (t) = tcosh(3t)
c) f (t) = e−2t cos(3t)
j) f (t) = t2 sen(2t)
d) f (t) = t e−t sen(2t)
k) g(t) = t3/2
e) f (t) = e−4t senh(t)
f) f (t) = 6cos(4t − 1) l) f (t) = (10t)3/2
g) f (t) = 3t4 e−2t m) f (t) = ty 0 (t)

4. Encontre a Transformada de Laplace das seguintes funções:


Cálculo III

a) f (t) = 6 e−5t + e3t + 5t3 − 9


b) f (t) = 4cos(4t) − 9sen(4t) + 2cos(10t)
c) f (t) = 3senh(2t) + 3sen(2t)

120
d) f (t) = e3t + cos(6t) − e3t cos(6t)
e) y 00 − 2y 0 + 2y = 2 et , y(0) = 0, y 0 (0) = 1
f) y 00 − 3y 0 + 2y = 0, y(0) = 1, y 0 (0) = 1
g) y 00 + 2y = sen(t), y(0) = 1, y 0 (0) = 0

5. Determine a Transformada Inversa de Laplace das seguintes:

1 2 6s2 + 36s + 20
a) F (s) = + f) F (s) =
s s+1 (s + 1)(s + 2)(s + 3)
3s + 1 2s + 26
b) F (s) = g) F (s) =
s+4 s(s2 + 4s + 13)
4 6s2 + 8s + 3
c) F (s) = h) F (s) =
(s + 1)(s + 3) s(s2 + 2s + 5)
12 s2 + 5s + 6
d) F (s) = i) F (s) =
(s + 2)2 (s + 4) (s + 1)2 (s + 4)
20(s + 2) 10
e) F (s) = j) F (s) =
s(s2 + 6s + 25) (s + 1)(s2 + 4s + 8)

6. Usando a Transformada de Laplace, resolva os PVI’s a seguir.

a) 2y 00 + 3y 0 − 2y = t e−2t , g) y 00 − 3y 0 − 4y = 16t,
y(0) = 0, y 0 (0) = −2. y(0) = −4, y 0 (0) = −5.

b) y 00 − 6y 0 + 15y = 2sen(3t), h) y 00 + 2y 0 + 10y = 3cos(2t),


y(0) = −1, y 0 (0) = −4. y(0) = 1, y 0 (0) = −2.

i) y 00 + 5y 0 + 6y = 10 e−t ,
c) y 00 + 7y 0 + 12y = 0,
y(0) = 2, y 0 (0) = 4.
y(0) = 1, y 0 (0) = 2.

j) y 0 + y = sen(3t),
d) y 00 − y 0 − 2y = 0, y(0) = 0.
y(0) = 1, y 0 (0) = 0.
k) y 00 + 2y 0 + 5y = 0,
(4)
e) y − 4y = 0, y(0) = 1, y 0 (0) = 0.
y(0) = 1, y 0 (0) = 1,
y 00 (0) = −2, y 000 (0) = 0. l) y 00 − 2y 0 + y = et ,
y(0) = −2, y 0 (0) = −3.
Cálculo III

f) y 0 − 2y = e3t ,
y(0) = −5. m) y 00 − 5y 0 + 6y = 0,
y(0) = 2, y 0 (0) = 2.

121
6.5 Tabela: Transformada de Laplace

f (t) = L−1 {F (s)} F (s) = L {f (t)} (s)

1
1 (1)
s

eat f (t) F (s − a) (2)

δ(t) 1 (3)

δ(t − t0 ) e−st0 (4)

dn F (s)
tn f (t) (−1)n (5)
dsn

f 0 (t) sF (s) − f (0) (6)

f 00 (t) s2 F (s) − sf (0) − f 0 (0) (7)

f n (t) sn F (s) − s(n−1) f (0) − · · · − f (n−1) (0) (8)


Z t
f (x)g(t − x)dx F (s)G(s) (9)
0

n!
tn (n ≥ 0) (10)
sn+1
a
sen(at) (11)
s2 + a2
s
cos(at) (12)
s2 + a2
1
eat (13)
s−a
a
senh(at) (14)
s2 − a2
s
cosh(at) (15)
s2 − a2
Cálculo III

eat − ebt 1
(16)
a−b (s − a)(s − b)

122
aeat − bebt s
(17)
a−b (s − a)(s − b)

1
teat (18)
(s − a)2

n!
tn eat (19)
(s − a)n+1

b
eat sen(bt) (20)
(s − a)2 + b2

s−a
eat cos(bt) (21)
(s − a)2 + b2

b
eat senh(bt) (22)
(s − a)2 − b2

s−a
eat cosh(bt) (23)
(s − a)2 − b2

2as
tsen(at) (24)
(s2 + a2 )2

s2 − a2
tcos(at) (25)
(s2 + a2 )2

2as
tsenh(at) (26)
(s2 − a2 )2

s2 + a2
tcosh(at) (27)
(s2 − a2 )2

sen(at) a
arctag (28)
t s
Cálculo III

123

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