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4, 4602 (2014)
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Este artigo apresenta uma abordagem histórica sobre a dupla refração da luz, especialmente sobre as ideias
de Isaac Newton. Inicialmente, são discutidos os estudos de Erasmus Bartholinus, que descobriu o fenômeno e
o descreveu em 1669, e de Christiaan Huygens, que elaborou um modelo explicativo baseado em uma concepção
vibracional para a luz em seu Tratado sobre a luz (1690). Em seguida, analiso em detalhes o conceito de lados
da luz elaborado por Newton para explicar o fenômeno, descrito nas “Questões” de seu Óptica (1704). Com isso,
pretende-se delinear outros elementos da óptica newtoniana ainda desconhecidos por acadêmicos e educadores.
Palavras-chave: Newton, óptica, dupla refração, polarização, história da ciência.
This paper presents a historical approach about the double refraction of light, especially the ideas of Isaac
Newton. Initially, I discuss the studies of Erasmus Bartholinus, who discovered and described the phenomenon
in 1669, and also the studies of Christiaan Huygens, who developed an explanatory model based on a vibration
conception of light in his Treatise of Light (1690). Next, I analyze the concept of sides of light elaborated by
Newton to explain the phenomenon and described in the “Queries” of the Opticks (1704). Through this analysis,
I intend to outline other elements of Newtonian optics not yet known by scholars and educators.
Keywords: Newton, optics, double refraction, polarization, history of science.
do Óptica – e utilizados para reprovar concepções vi- cujo objetivo seja promover o conhecimento
bracionais como a de Huygens. [...]. [13]
A análise crı́tica do conceito de “lados da luz” pre-
Inicialmente, Bartholinus referiu-se às carac-
tende mostrar, por um lado, como Newton foi capaz
terı́sticas fı́sicas do cristal, tais como sua forma e
de explicar um fenômeno atualmente enquadrado em
aparência. Segundo ele, a aparência externa do cristal
uma concepção ondulatória utilizando uma teoria cor-
seria semelhante a do floco de neve, do sal e de outros
puscular, que considerava a luz como uma bola de bi-
minerais e cristais. Ele era constituı́do por superfı́cies
lhar e detentora de uma gama de propriedades origi-
planas e lados equidistantes uns dos outros, na forma
nais e imutáveis. Por outro, o estudo assinalará que
de um prisma romboide.5 Bartholinus notou que se o
este conceito apresentou alguns aspectos problemáticos
cristal fosse quebrado, as partes resultantes manteriam
relevantes, que poderiam ser alvo de crı́ticas na época,
a mesma forma do original (Fig. 1).
mas não foram.
O artigo está dividido em quatro partes. Na pri-
meira delas, comentarei sobre os relatos originais fei-
tos por Bartholinus, buscando entender como ele des-
creveu o fenômeno da dupla refração e suas principais
caracterı́sticas. Em seguida, analisarei brevemente os
estudos de Huygens. Na terceira parte, discutirei em
detalhes os trechos do Óptica de Newton que tratam
da dupla refração, no sentido de compreender seu con-
ceito de “lados” da luz. Na quarta parte, tecerei alguns
comentários mais especı́ficos sobre este conceito.
X, Bartholinus conclui que ela não poderia ser causada naturais como Robert Hooke (1635-1703), Huygens e
senão por uma lei da refração desconhecida, diferente Newton logo tomassem conhecimento do cristal e de
das leis comuns. suas propriedades.
Essa conclusão seria corroborada se observássemos
o objeto A pelo ponto O. Nesse caso, verı́amos o raio
sendo desviado em Y (não indicado na figura), e, por-
3. Os estudos de Huygens
tanto, obedecendo às leis da refração, e o raio sendo
Huygens começou a estudar o estranho fenômeno da du-
propagado sem desvio em Z, resultado da refração ex-
pla refração por volta de 1672, realizando seus primeiros
traordinária.
experimentos no final deste mesmo ano e obtendo uma
explicação para ele em meados de 1677 [18]. Os resul-
tados de sua investigação sobre o tema foram descritos
em seu Tratado sobre a Luz, publicado em 1690. Para o
estudo que segue, utilizei a versão em português publi-
cada nos Cadernos de História e Filosofia da Ciência,
em 1986 [19].
O Tratado é um extenso estudo geométrico e ma-
temático da natureza fı́sica da luz e de seu comporta-
mento. Por meio de uma concepção vibracional7 para a
luz, Huygens analisou a propagação da luz, a refração,
reflexão, a refração na atmosfera e, por fim, a dupla
refração8 . Seu discurso é conciso e muito elucidativo,
denotando sua destreza em tratar matematicamente os
fenômenos ópticos.
Para Huygens, a luz seria um movimento da
matéria. Esse movimento seria iniciado na fonte
primária da luz e propagado pela matéria adjacente
em todas as direções. Não havia a ideia de periodi-
cidade, sendo os pulsos de luz transmitidos a distâncias
aleatórias da fonte luminosa. Para ele, um único
corpúsculo de matéria luminosa poderia servir de meio
de propagação de vários pulsos, sem influência de uns
sobre os outros.
Nesse modelo mecânico, Huygens admitiu que a in-
tensidade do pulso luminoso fosse se perdendo à me-
dida que ele se propagasse continuamente pela matéria.
Figura 4 - Representação de Bartholinus para ilustrar que o raio Porém, como poderı́amos admitir que a luz do Sol, por
extraordinário não obedecia às leis usuais da refração. Retirada exemplo, conseguisse se espalhar a tão longa distância
de Lohne [10, p. 130]. da Terra? Para solucionar esta questão, ele elaborou
Embora tenha percebido que o fenômeno era cau- um pressuposto básico, que seria conhecido posterior-
sado por outro tipo de refração, Bartholinus não ela- mente como “princı́pio de Huygens”.
borou um modelo explicativo no Nova Experimenta. O “princı́pio de Huygens”9 estabeleceu que um
Entretanto, sua descrição simples e objetiva das ca- pulso gerado por um ponto luminoso originava pulsos
racterı́sticas básicas do cristal-da-Islândia e da dupla secundários, os quais, compostos, contribuı́am para re-
refração provavelmente possibilitou a rápida difusão da forçar o pulso original (Fig. 5). Isso explicaria porque
descoberta. Segundo Lohne [17], a campanha de di- a luz do Sol conseguiria se propagar a grande distância
vulgação feita por ele na época fez com que filósofos até a Terra sem se extinguir.
7 Embora a concepção de Huygens seja usualmente classificada como ondulatória, alguns historiadores têm apontado que esta deno-
minação não é adequada. Shapiro [20], por exemplo, prefere utilizar o termo continuum theory of light para teorias como a de Huygens.
Hakfoort [21], por sua vez, afirma que uma teoria realmente ondulatória veio apenas com Leonhard Euler (1707-1783) em meados do
século XVIII, optando por classificar a concepção de Huygens como uma “teoria de pulsos”. Por fim, Cantor [2] chama esta teoria de
“vibracional”. Em geral, estes autores afirmam que a teoria de Huygens não pode ser considerada ondulatória por ele não ter atribuı́do
à luz elementos caracterı́sticos desta teoria, tais como frequência ou comprimento de onda. Neste trabalho, utilizarei o termo de Cantor,
mas manterei a palavra “onda” nas citações de Huygens, conforme está escrito na tradução para o português do Tratado.
8 Não cabe neste trabalho discorrer sobre toda a teoria sobre luz de Huygens. Para uma análise mais detalhada deste assunto, sugiro
a leitura da tradução comentada para o português feita por Martins [19] e os textos de Silva [22] e Krapas et. al. [23]. Na literatura
internacional, há excelentes trabalhos que analisam em detalhes as concepções de Huygens, tais como Sabra [24] e Shapiro [18].
9 Historiadores da ciência indicaram alguns problemas em relação ao “princı́pio de Huygens” e sua argumentação no Tratado, tais
como suas dificuldades em explicar a intensidade da luz ou o papel das ondas secundárias. Para um exame melhor dessas questões,
recomendo Martins [25] e Shapiro [26].
Isaac Newton e a dupla refração da luz 4602-5
Figura 6 - Ilustrações do Tratado sobre a luz, em que Huygens explica como seu princı́pio de ondas secundárias pode ser utilizado para
explicar a reflexão (a) e a refração (b). Retiradas de Martins [19, p. 25 e 33].
A dupla refração foi discutida no quinto e último oria, uma vez que duas refrações aparentemente sem
capı́tulo do Tratado. O fenômeno desempenhou um pa- relação uma com a outra poderiam ser enquadradas em
pel fundamental na teoria sobre luz defendida por Huy- um mesmo modelo teórico.
gens, uma vez que a explicação da refração irregular de-
veria concordar com seu “princı́pio”, descrito e aplicado Huygens iniciou abordando algumas caracterı́sticas
nos capı́tulos anteriores [28]. Se o “princı́pio de Huy- do cristal e do fenômeno. Ele diferenciou as duas re-
gens” servisse para explicar tanto a refração ordinária frações no cristal, destacando a irregularidade de uma
quanto extraordinária seria uma evidência importante delas. Assim como Bartholinus, ele descreveu vários
para comprovar a validade e aplicabilidade de sua te- experimentos com o cristal e as maneiras de observar a
dupla refração dos raios (Fig. 7)
4602-6 Moura
Figura 9 - Ilustração do Tratado sobre a luz utilizada por Huygens para discutir o comportamento dos raios de luz na passagem por
cristais sucessivos. Retirada de Martins [19, p. 73].
Se as seções dos cristais inferiores fossem giradas [...] parece que somos obrigados a con-
a 90◦ em relação às seções dos cristais superiores, um cluir que as ondas de luz, por haver pas-
fenômeno ainda mais estranho ocorria: o raio que sofreu sado pelo primeiro cristal, adquirem certa
uma refração ordinária no primeiro cristal apresentava forma ou disposição pela qual, ao encon-
uma refração extraordinária no segundo e vice-versa. trar a estrutura do segundo cristal em cer-
Caso as seções fossem colocadas em outras posições tas posições, podem colocar em movimento
aleatórias entre si, os raios ordinário e extraordinário as duas matérias diferentes que correspon-
vindos do primeiro se dividiam novamente no segundo, dem aos dois tipos de refração; e ao en-
originando mais duas refrações. contrar esse segundo cristal em uma outra
4602-8 Moura
posição, elas só podem nele mover uma des- Em seu caderno de anotações – intitulado Quæstiones
sas matérias. Mas não encontrei até agora Quædam Philosophicæ 10 – ele já se dedicava a enten-
nada que me satisfaça para indicar como der os fenômenos da luz e das cores, produzindo seus
isso ocorre. [34] pensamentos iniciais sobre o assunto. Nos anos seguin-
tes, Newton escreveu um ensaio especı́fico sobre as co-
Huygens parece ter encarado a descoberta como um res (“Das Cores”11 ) e em 1672 publicou seu primeiro
grande problema a ser resolvido e adequado à sua ex- artigo, a “Nova teoria sobre luz e cores” [38], provo-
plicação anterior, utilizando ondas esféricas e esferoi- cando uma sucessiva onda de crı́ticas por parte de seus
dais. Ele provavelmente notou que atribuir unicamente coetâneos, tais como Hooke e Huygens [39]. Em 1675,
ao cristal a causa da dupla refração não seria sufici- ele escreveu outros dois textos, a “Hipótese da luz”12 e
ente para explicar este novo fenômeno, sendo levado a um sem tı́tulo, mas conhecido como “Discurso das Ob-
admitir também um efeito no próprio pulso de luz. servações”13 , que marcam o inı́cio de um hiato de quase
Para Shapiro [35], a explicação de Huygens para o trinta anos de estudos até o Óptica, sua principal obra
fenômeno da dupla refração, juntamente com sua inter- sobre o tema, publicada pela primeira vez em 1704.
pretação cinemática do fenômeno, formaram uma real Nos textos escritos antes do Óptica, não há menção
sustentação para a teoria vibracional da luz. Para o sobre o fenômeno da dupla refração. Além disso, não
autor, isto fez com que essa concepção se tornasse uma se sabe ao certo quando Newton começou a estudar o
alternativa viável para explicar os fenômenos ópticos fenômeno, apenas que em meados de 1689 ele já havia
conhecidos na época. Contudo, segundo Martins [36], analisado a estranha refração do cristal-da-Islândia e
o novo comportamento da luz na dupla refração des- discutiu o fenômeno em uma reunião da Royal Society
coberto por Huygens foi um dos principais argumentos de Londres, na qual Huygens estava presente [8].
contra sua teoria e isto só poderia ser resolvido se in-
No Óptica, Newton reservou às “Questões” do Li-
cluı́ssemos uma nova propriedade à luz, o que Newton
vro III a discussão acerca do fenômeno. As “Questões”
fez em seu Óptica.
compõem uma das mais interessantes partes de seu li-
Os apontamentos de Shapiro e Martins e o breve
vro, uma vez que nelas ele especulou abertamente sobre
estudo do modelo explicativo de Huygens levam a uma
vários temas controversos e não estudados completa-
conclusão singular sobre seu trabalho: ao mesmo tempo
mente por ele. Por meio de afirmações em forma de
em que sua explicação para a dupla refração represen-
perguntas, ele buscou defender implicitamente várias
tou um forte argumento a favor da concepção vibraci-
ideias que ainda não haviam sido formalizadas, ou seja,
onal, visto que ela poderia ser empregada tanto para a
que ainda guardavam um caráter hipotético inaceitável
refração ordinária quanto extraordinária, um caso par-
para seu método de pesquisa sobre o mundo natural,
ticular do fenômeno contribuiu para demolir a essência
embora muitas hipóteses tenham exercido papel funda-
de toda a argumentação construı́da no Tratado sobre
mental em algumas de suas concepções sobre a luz [42,
a natureza vibracional da luz. Anos mais tarde, no
43, 44]. Isso fez com que Newton ficasse livre para deba-
Óptica, Newton buscou resolver a questão, adotando
ter seu modelo explicativo para o fenômeno, mas dentro
uma teoria corpuscular para a luz e contrapondo forte-
de suas próprias regras metodológicas, este modelo não
mente qualquer teoria vibracional para explicar a dupla
poderia ser considerado senão uma hipótese.
refração.
Ao longo das edições do Óptica, a quantidade de
“Questões” e seu conteúdo passaram por algumas mu-
4. A dupla refração no Óptica de New- danças [45]. As “Questões” referentes à dupla refração
ton apareceram na edição em latim do livro, publicada em
1706. Não se sabe ao certo por que Newton não incluiu
A óptica ocupou a mente de Newton desde o inı́cio a análise desse fenômeno na edição original de 1704 [46],
de sua vida acadêmica, por volta da década de 1660. uma vez que ele já o conhecida pelo menos desde 1689.
10 Em português: Algumas Questões Filosóficas. O conteúdo do caderno foi publicado por McGuire e Tamny [37] e atualmente está
(http://www.newtonproject.sussex.ac.uk).
12 Publicado em português em Cohen e Westfall [40].
13 Publicado em inglês em Cohen e Schofield [41].
14 Há outra tradução do Óptica para o português, mas incompleta. Ela foi publicada na coleção Os Pensadores, lançada pela editora
Nova Cultural em 1987 [48]. Nessa versão, estão traduzidos os trechos correspondentes ao estudo de Newton sobre a dupla refração. Há
algumas divergências com os termos utilizados na versão da EDUSP, que serão apontados à frente.
15 Originalmente, Newton utilizou o termo unusual refraction para denominar a estranha refração do cristal-da-Islância no Óptica.
Na edição em português da EDUSP, este termo foi traduzido para “refração extraordinária”. Na coleção Os Pensadores, o termo foi
traduzido para “refração incomum” [48]. Embora a tradução mais correta seja esta última, preferi seguir o texto da EDUSP, por ser
uma versão mais completa e atual. Dessa forma, assim como no caso de Huygens e o uso da palavra “onda” (ver nota 7), citarei os
trechos conforme eles estão descritos na versão utilizada, sem alterações. No entanto, o leitor deve estar atento para esta questão,
evitando uma interpretação anacrônica da análise de Newton.
Isaac Newton e a dupla refração da luz 4602-9
Na edição em português do livro [47], utilizada nessa Seja ADBC a superfı́cie refratora do cristal,
análise,14 o fenômeno é tratado nas questões 25 e 26 C o maior ângulo sólido nessa superfı́cie,
e mencionado nas questões 28 e 29.15 Discutirei es- GEHF a superfı́cie oposta e CK uma per-
pecificamente o conteúdo das duas primeiras, fazendo pendicular traçada sobre essa superfı́cie.
referências às outras duas, quando oportuno. Essa perpendicular forma com a borda do
Para Newton, a dupla refração seria ocasionada por cristal CF um ângulo de 19◦ 3’. Ligue KF,
uma propriedade original e imutável da luz, os “lados”. e, nela, tome KL, de modo que o ângulo
Na Questão 25 do Livro III, ele abordou mais direta- KCL seja 6◦ 40’ e o ângulo LCF 12◦ 23’. E,
mente esse ponto. se ST representa qualquer feixe de luz que
incide em T em qualquer ângulo sobre a su-
Não há outras propriedades originais dos perfı́cie refratora ADBC, seja TV o feixe re-
raios de luz, além daquelas já descritas? fratado determinado pela porção dada dos
Exemplo de outra propriedade original, senos 5 para 3, de acordo com a regra usual
temo-lo na refração do cristal-da-islândia, da óptica. Trace VX paralelo e igual a KL.
descrita primeiro por Erasmus Bartholinus Trace-a desde V da mesma forma que L é
e depois, com mais exatidão, por Huygens traçada desde K; e, ao ligar TX, essa linha
em seu livro De la Lumière [Tratado sobre TX será o outro feixe refratado levado de T
a Luz]. [50] até X pela refração extraordinária. [51]
Essa foi uma refutação imediata ao modelo de Huy- A regra descrita por Newton não é correta [52]. Pro-
gens, que pregava a modificação dos raios de luz pelo vavelmente, ele procurou estabelecer uma explicação
cristal, ou seja, enquanto este afirmava que a luz sofria mais fácil que os esferoides de Huygens – cujo modelo
uma transformação e essa originava o fenômeno, se- para a refração extraordinária está correto – com in-
gundo Newton, a tendência para que a dupla refração tuito de mostrar que a ideia de que o fenômeno seria
ocorresse já estava na própria luz. A dupla refração uma manifestação de uma propriedade original da luz
seria uma evidência contra as concepções vibracionais, levava a teorizações mais simples que os complexos ar-
que sugeriam a modificação da luz de alguma forma gumentos da concepção vibracional.
pelo corpo refrator. Nos trechos seguintes da questão 25, Newton abor-
Nos trechos seguintes da questão 25, Newton pros- dou o fenômeno descoberto por Huygens, a respeito do
seguiu descrevendo as caracterı́sticas gerais do cristal, fato dos raios ordinários e extraordinários manterem
assim como fizeram Bartholinus e Huygens, e identifi- seus padrões de refração quando incidiam sobre a su-
cou as duas refrações observadas, ordinária e extraor- perfı́cie de outros cristais-da-Islândia colocados parale-
dinária. Mais adiante, ele apresentou uma regra para lamente abaixo deles.
se traçar a trajetória do raio extraordinário (Fig. 10). Há, portanto, uma diferença original nos
raios de luz por meio da qual alguns raios
nessa experiência são constantemente refra-
tados da maneira usual e outros da ma-
neira extraordinária; pois se a diferença não
fosse original, mas resultasse de novas mo-
dificações impressas nos raios em sua pri-
meira refração, ela seria alterada por novas
modificações nas três refrações seguintes, ao
passo que não sofre alteração, mas é cons-
tante e tem o mesmo efeito sobre os raios
em todas as refrações. [53].
O trecho apresenta uma crı́tica explı́cita à concepção
vibracional da luz e indiretamente à própria explicação
de Huygens. Como essa concepção pressupõe que a luz
é resultado da propagação de um movimento por um
meio – muitas vezes, o meio etéreo –, os fenômenos
ópticos seriam explicados por modificações dos corpos
sobre a luz. Para Newton, o fato do raio de luz manter
um padrão de comportamento passando de um corpo
a outro seria uma evidência contrária a essa concepção
Figura 10 - Ilustração do Óptica utilizada por Newton para mos- vibracional e só poderia ser explicado pensando que a
trar sua regra para se traçar a trajetória do raio extraordinário. luz seria dotada de caracterı́sticas próprias e não modi-
Retirada de Newton [47, p. 261].
ficáveis com a passagem pelos corpos refratores.
4602-10 Moura
A dupla refração seria, assim, explicada pelo ad- Se os lados dos raios são posicionados da
vento de uma propriedade nova da luz, os seus “lados”. mesma maneira em relação a ambos os cris-
Na questão 26 do Óptica, ele perguntou: tais, ele é refratado da mesma maneira em
ambos; mas se o lado do raio voltado para
Não têm os raios de luz vários lados, dota- o lado da refração extraordinária do pri-
dos de várias propriedades originais? [53] meiro cristal17 estiver a 90 graus do lado do
mesmo raio voltado para o lado da refração
De acordo com Newton, não haveria dois tipos de extraordinária do segundo cristal [...], o raio
raios, mas duas possı́veis orientações dos “lados” dos será refratado de maneiras diversas nos di-
raios em relação ao cristal. É difı́cil saber exatamente versos cristais. [59]
como Newton pensou a representação visual destes “la- No trecho em destaque da citação, vemos que New-
dos”,16 mas é possı́vel delinear alguns parâmetros que ton também pensou na existência de um lado de re-
facilitem o entendimento de sua explicação. fração extraordinária no cristal. O raio seria refratado
Os raios de luz teriam quatro lados ou quatro quar- de maneira ordinária ou extraordinária de acordo com
tos, dois fazendo com que o raio fosse refratado ordina- a orientação dos seus lados em relação a este lado de
riamente e dois causadores da refração extraordinária. refração extraordinária do cristal. Curiosamente, não
Cada um desses “lados” responsáveis pelo mesmo tipo há menção sobre a existência de um lado de refração
de refração seria oposto ao outro. Para tentar compre- ordinária do cristal.
ender a argumentação de Newton, podemos pensar que Para facilitar o entendimento do possı́vel raciocı́nio
a seção reta de um raio de luz seja um quadrado, con- de Newton, podemos imaginar este como um cubo,
forme a Fig. 11. Cada par de “lados” opostos faria com sendo duas de suas faces os lados da refração extra-
que o raio tendesse a sofrer um tipo de refração. ordinária (Fig. 12).
16 Edmund Whittaker, na introdução da edição em inglês do Óptica, publicada pela Dover, ofereceu uma possı́vel representação para
os lados da luz. Segundo ele, “um raio obtido por dupla refração difere de um raio de luz ordinário da mesma maneira que uma haste
longa cuja seção reta é um retângulo difere de uma haste longa cuja seção reta é um cı́rculo: em outras palavras, as propriedades de
um raio de luz ordinário são as mesmas com respeito a todas as direções em ângulos retos a sua direção de propagação, enquanto que
um raio obtido por dupla refração tem propriedades relacionadas a direções especiais em ângulos retos a sua própria direção” [56].
17 Na edição em inglês do Óptica, este trecho em negrito está escrito da seguinte forma: “But if that side of the ray which looks
towards the coast of unusual refraction of the first crystal [...]” [57]. É possı́vel observar que os lados dos raios são denominados sides e
o lado do cristal chamado de coast. Na edição em português não há essa diferenciação e ambos os termos foram traduzidos como lados.
Na tradução em português da coleção Os Pensadores, foi utilizado o termo “costa” para denominar o lado do cristal [58]. Por meio de
uma análise da etimologia das palavras coast e side no Online Etymology Dictionary [http://www.etymonline.com], concluı́ que as duas
palavras tem significados parecidos e que a tradução de ambas por lados é adequada. Contudo, o fato de Newton utilizar dois termos
para os lados dos raios e do cristal indica, provavelmente, que ele não acreditava que os dois tinham as mesmas caracterı́sticas.
Isaac Newton e a dupla refração da luz 4602-11
Portanto, todo raio pode ser considerado O padrão de refração mantido pelos raios ao atra-
como tendo quatro lados ou quatro quar- vessar a superfı́cie de dois cristais-da-Islândia colocados
tos, dois dos quais, opostos um ao outro, um diretamente abaixo do outro seria uma evidência de
fazem com que o raio tenda a ser refratado que os lados existiriam e seriam uma propriedade origi-
da maneira extraordinária, na medida em nal da luz e que haveria uma relação entre eles e o lado
que ambos são girados em direção aos lados do cristal.
da refração extraordinária; e os outros dois,
sempre que ambos são girados em direção ao E, como os raios apresentavam essas dis-
lado da refração extraordinária, não fazem posições antes de incidir sobre a segunda,
com que ele tenda a ser refratado de outra terceira e quarta superfı́cie dos dois cris-
maneira que não a usual. Os dois primeiros tais e não sofreram alteração (até onde se
podem, portanto, ser chamados de lados da pode observar) pela refração dos raios ao
refração extraordinária. [59] passar através dessas superfı́cies, e os raios
foram refratados pelas mesmas leis em todas
Dessa forma, Newton estabeleceu ser possı́vel girar as quatro superfı́cies, parece que essas dis-
os lados dos raios, de acordo com o lado do cristal. Po- posições se encontravam originalmente nos
demos assumir que em um facho de luz incidente sobre raios, não tendo sofrido alteração pela pri-
a superfı́cie do cristal-da-Islândia houvesse raios cujos meira refração, e que em virtude dessas dis-
lados estivessem orientados aleatoriamente. Alguns te- posições os raios foram refratados ao incidir
riam seus lados de refração extraordinária orientados sobre a primeira superfı́cie do primeiro cris-
em direção ao lado de refração extraordinária do cris- tal, alguns deles de maneira usual, outros da
tal, ocasionando esse tipo de refração, tal como o raio maneira extraordinária, segundo seus lados
1 da Fig. 13. Outros, com seus lados de refração or- de refração extraordinária estavam virados
dinária orientados em direção ao lado de refração ex- para o lado da refração extraordinária desse
traordinária do cristal, sofreriam a refração comum, tal cristal ou se apresentavam obliquamente em
como o raio 2 da Fig. 13. relação a ele. [59]
4602-12 Moura
A orientação dos lados do raio em relação ao lado da sobre o segundo cristal. Pois nesse caso, os
refração extraordinária do cristal em sua passagem pela raios em cada um dos feixes terão, uns seus
primeira superfı́cie seria mantida nas seguintes, conse- lados da refração extraordinária, outros os
quentemente, o raio sofreria o mesmo tipo de refração seus lados voltados para o lado da refração
nos outros cristais. extraordinária do segundo cristal. [60].
Por meio desse modelo, também era possı́vel expli-
car por que o giro em 90◦ do plano refrator do segundo A atribuição de lados à luz tornaria a explicação
cristal em relação ao primeiro ocasionava a mudança no da dupla refração aparentemente mais simples e obje-
padrão da refração dos raios, sem o surgimento de uma tiva. Não seria necessário, segundo Newton, pensar que
nova dupla refração. Nesse caso, como os lados do cris- o cristal alteraria caracterı́sticas dos raios luminosos;
tal foram invertidos, ocorreria também uma alteração bastaria assumir que existiria uma propriedade original
na refração sofrida por cada raio (Fig. 14) da luz que seria responsável pelo fenômeno e que ela
teria algum tipo de associação com as propriedades do
cristal. A partir disso, Newton soube explicar não so-
mente a dupla refração em si, mas também o fenômeno
descoberto por Huygens com o uso de dois cristais-da-
Islândia.
Newton também utilizou a dupla refração para de-
fender uma concepção corpuscular para a luz. A ideia
de que a luz tem quatro lados ou quatro quartos im-
plica, quase necessariamente, na suposição de ela tem
uma forma e dimensão definidas. Em uma concepção
vibracional ou ondulatória, não podemos imaginar la-
dos opostos um ao outro ou raios de luz sendo girados,
pois esses são caracterı́sticas e efeitos de corpos mate-
riais. Além disso, o fato da luz ter uma propriedade
inata e imutável não poderia ser explicado se a consi-
derássemos uma vibração ou onda, uma vez que essas
podem ter caracterı́sticas modificadas quando passam
de um meio para outro. Na Questão 29, Newton per-
guntou:
lados e não nos outros, e isso sem ter ne- O plano inicial de Newton previa a elaboração de
nhuma relação com suas posições relativas quatro livros para o Óptica, e não três, como foi pu-
ao espaço ou meio através do qual eles pas- blicado. O quarto e último livro seria destinado ao
sam. [62] tratamento dinâmico dos fenômenos ópticos, em uma
espécie de união entre a mecânica e a óptica newto-
A associação que Newton fez entre a dupla refração niana [67, 68]. Segundo Westfall [69], o plano não se
e os efeitos mútuos dos polos de imãs deu origem ao concretizou e Newton acabou organizando a obra na
termo “polarização da luz”, até hoje utilizado [63]. É forma como conhecemos atualmente. O conteúdo desse
interessante que ele reforçou a ideia de que não seria suposto quarto livro acabou sendo distribuı́do em várias
possı́vel compreender o fenômeno sem pensar na luz partes do Óptica, mas especialmente na Questão 31,18
como corpos com poderes atrativos, interagindo com o a última e mais longa do texto [71].
lado da refração extraordinária do cristal. Certamente, Newton não gostaria de ter encerrado
A dupla refração foi tratada por Newton nas partes o Óptica com questões e provavelmente essa foi uma
finais do Óptica. Assim como Huygens, ele inicialmente decisão tomada após seu plano inicial não ter tido êxito
discutiu caracterı́sticas básicas do cristal-da-Islândia e, [72]. É razoável supor que Newton pretendesse incluir a
em seguida, apresentou uma regra para traçar o raio ex- dupla refração no cerne da discussão sobre a existência
traordinário, considerada errada atualmente. Para ele, de forças entre luz e matéria, uma vez que ele conhe-
o fenômeno seria uma evidência terminante de que a cia o fenômeno desde pelo menos o ano de 1689. A
luz possuiria mais uma propriedade original, os lados. análise de sua argumentação evidencia que ele conside-
Por meio dessa ideia, ele foi capaz de explicar os diver- rava o fenômeno exclusivamente a partir de uma con-
sos comportamentos dos raios ao passarem por cristais cepção corpuscular para a luz. Porém, dado que a ideia
sucessivos e, ao mesmo tempo, criticar a concepção vi- de completar o Óptica com um tratamento mecânico
bracional e defender a materialidade da luz. para a luz não foi à frente, a análise da dupla refração
também não deve ter prosseguido, embora o conceito
5. Alguns comentários sobre o conceito de lados pudesse tornar-se um relevante argumento a
favor da materialidade da luz.
de “lados da luz” de Newton
À parte dessas suposições e apreciando apenas o que
Os lados dos raios luminosos não foram as únicas pro- Newton escreveu no Óptica, também cabem alguns co-
priedades originais e imutáveis da luz discutidas por mentários. Os argumentos apresentados são, em si, obs-
Newton no Óptica. Nos livros I e II, ele propôs ou- curos, não permitindo uma visualização mais precisa de
tras propriedades, tais como as cores [64] e os estados como ele entendia o conceito de lados. A inexistência
de fácil transmissão e fácil reflexão [7, 42], construindo de figuras ao longo de sua argumentação nas questões
sua argumentação com base em diversos experimentos 25 e 26 dificulta o entendimento de sua argumentação.
e observações. Newton dedicou quase inteiramente o A única figura apresentada referiu-se à apresentação de
conteúdo dos livros ao estudo destes temas. Porém, sua regra (errada) para traçar os raios ordinários e ex-
ele foi bem mais sucinto para a dupla refração. Foi traordinários.
apresentada apenas uma discussão essencialmente ex- Nas discussões precedentes, busquei criar uma re-
perimental – a que tratou da regra para traçar o raio presentação visual tanto para os lados dos raios quanto
extraordinário –, sendo o restante formado por argu- para o lado da refração extraordinária do cristal, mas
mentos teóricos sobre o comportamento da luz baseados certamente há limitações. Outras representações dife-
no conceito de lados. As razões para essa exposição su- rentes podem ser feitas, tais como a colocada por Whit-
perficial sobre o fenômeno podem ser suscitadas a partir taker (nota 16), mas como Newton não detalhou suas
de uma breve investigação da elaboração do Óptica no ideias, qualquer uma delas será limitada.
final do século XVII. Além disso, a explicação por meio do conceito de
O conteúdo e a estrutura do Óptica passaram por lados da luz é deficiente em relação à explicação de
modificações significativas até sua primeira publicação Huygens. Como aponta Hall [73], os lados parecem
em 1704. Segundo o próprio Newton, parte de seu uma “analogia mecânica imperfeita” com os polos de
conteúdo começou a ser escrita em meados de 1675, “a um imã, se a compararmos com o estudo sofisticado de
pedido de alguns cavaleiros da Royal Society” [65]. Pos- Huygens no Tratado sobre a Luz. Este último inves-
sivelmente, ele se referiu aos textos “Hipótese da luz” e tiu em uma complexa argumentação geométrica para
“Discurso das observações”, enviados para a sociedade descrever o fenômeno e suas principais caracterı́sticas,
naquele ano. Após esse perı́odo, Newton teria retor- enquanto Newton utilizou poucos parágrafos para fazer
nado aos estudos em óptica apenas no final da década o mesmo.
de 1680, logo após a publicação dos Principia [66]. A crı́tica que Newton fez à explicação do fenômeno
18 Nesta questão, Newton perguntou no inı́cio: “Não têm as pequenas partı́culas dos corpos certos poderes, virtudes ou forças por
meio dos quais elas agem a distância não apenas sobre os raios de luz, refletindo-os, refratando-os e inflectindo-os, mas também umas
sobre as outras, produzindo grande parte dos fenômenos da natureza?” [70].
4602-14 Moura
por meio de uma concepção vibracional também é limi- para compreendermos mais claramente os estudos so-
tada. Segundo ele, a manutenção do padrão de refração bre luz e cores de Newton e o próprio contexto de sua
dos raios de um cristal para outro seria uma evidência época.
de que a luz não seria uma vibração, uma vez que se-
ria modificada sucessivamente pelos cristais. Contudo, 7. Agradecimentos
pode-se pensar que o cristal imprime uma modificação
na luz na sua primeira incidência e esta se mantém nas Agradeço aos pareceristas pelas sugestões colocadas e
passagens sucessivas por outros cristais.19 à Profa . Cibelle Celestino Silva (IFSC-USP) pela ori-
Por fim, mesmo que Newton tenha rejeitado uma entação em uma versão inicial deste trabalho, realizada
concepção vibracional por ela supor que os raios se- em 2003. Por fim, agradeço ao auxı́lio de Barbara B.A.
riam modificados pelo cristal, ele pareceu notar que Forato com as Figs. de 11 a 14.
este último tinha um papel fundamental no fenômeno.
O fato dos lados da luz serem girados em direção aos
lados do cristal – assim como os polos de um imã se Referências
orientam em relação aos polos de outro imã – implica [1] P. Fara, Newton – The Making of Genius (Columbia
que o cristal age efetivamente sobre o raio. Embora University Press, New York, 2002).
seja perfeitamente plausı́vel supor, de acordo com as
[2] G.N. Cantor, Optics After Newton – Theories of Light
concepções de Newton, a existência dos lados desde sua
in Britain and Ireland 1704-1840 (Manchester Univer-
primeira emissão do corpo luminoso, a dupla refração sity Press, Manchester, 1983).
só ocorreria por conta de uma interação do raio com o
[3] C.C. Silva e B.A. Moura, Revista Brasileira de Ensino
cristal que resulta em uma situação favorável ou não à
de Fı́sica 30, 1602, 2008.
dupla refração.
[4] J.Z. Buchwald & I.B. Cohen, Isacc Newton’s Natural
Philosophy (MIT Press, Cambridge, 2001).
6. Conclusão [5] T.C.M. Forato, in: Estudos de História e Filosofia das
Ciências: Subsı́dios para Aplicação no Ensino, editado
No final do século XVII, Newton tomou conhecimento
por C.C Silva (Editora Livraria da Fı́sica, São Paulo,
de um estranho fenômeno descoberto por Bartholinus, 2006).
a dupla refração da luz. Provocada pelo cristal-da-
[6] J.E. McGuire and P.M. Rattansi, Notes and Records
Islândia, a estranha refração não conseguia ser expli-
of the Royal Society of London 21, p. 108-43 (1986).
cada segundo as leis conhecidas na época. No mesmo
perı́odo, Huygens dedicou-se a estudar o fenômeno, [7] B.A. Moura e C.C. Silva, in: Filosofia e História da
apresentando um complexo modelo baseado em esfe- Ciência no Cone Sul: Seleção dos Trabalhos do 5◦ En-
contro, editado por R.A. Martins, C.C. Silva, J.M.H.
roides para explicá-lo em seu Tratado sobre a Luz, pu-
Ferreira e L.A-C.P. Martins (Associação de Filosofia e
blicado em 1690.
História da Ciência do Cone Sul, Campinas, 2008).
Newton abordou o fenômeno nas questões 25 e 26
do Óptica, mencionando-o em outras subsequentes. Sua [8] A.E. Shapiro, Notes and Records of the Royal Society
of London 43, 223 (1989).
abordagem diferenciou-se significativamente de Huy-
gens, pois não só apresentou uma proposta mais sim- [9] W.F. Magie, A Source Book in Physics (Harvard Uni-
ples, como também a utilizou para defender uma con- versity Press, Cambridge, 1963).
cepção corpuscular para a luz. Embora o conceito de [10] J.A. Lohne, Centaurus, 21, p. 106-48 (1977).
lados da luz tenha sido logo esquecido pelos seus segui- [11] D. Halliday, R. Resnick e K.S. Krane, Fı́sica 4 (LTC,
dores do século XVIII [75], ainda assim, a menção de Rio de Janeiro, 1996), p. 115-118.
que o fenômeno seria semelhante à orientação de polos [12] J.A. Lohne, op. cit., p. 106-7.
de imãs uns em relação aos outros perdurou, fazendo
[13] J.A. Lohne, op. cit., p. 109.
com que até hoje denominemos a dupla refração como
um caso de polarização da luz. [14] J.A. Lohne, op. cit., p. 113.
O estudo apresentado buscou analisar em detalhes [15] J.A. Lohne, op. cit., p. 115.
o conceito de lados da luz que Newton elaborou para [16] J.A. Lohne, op. cit., p. 129.
explicar a dupla refração. Embora seus estudos sobre
[17] J.A. Lohne, op. cit., p. 145.
a heterogeneidade da luz branca e seus experimentos
com prismas sejam os mais conhecidos por acadêmicos [18] A.E. Shapiro, Archives for History of Exact Sciences,
11, 240 (1973).
e educadores, sua principal obra sobre o tema, o Óptica,
contem discussões sobre muitos outros fenômenos. A [19] R.A. Martins, Cadernos de História e Filosofia da
análise destas ideias pode mostrar aspectos da óptica Ciência, suplemento 4, p. 1-99 (1986).
newtoniana ainda pouco estudados, sendo subsı́dios [20] A.E. Shapiro, op. cit. (1973).
19 Um argumento semelhante foi discutido por Sabra [74], sobre o experimentum crucis de Newton em sua “Nova teoria sobre luz e
cores” (1672).
Isaac Newton e a dupla refração da luz 4602-15
[21] C. Hakfoort, Optics in the Age of Euler (Cambridge [46] A.R. Hall, All Was Light – An Introduction to Newton’s
University Press, Cambridge, 1995) Opticks (Claredon Press, Oxford, 1993), p. 131.
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[26] A.E. Shapiro, op. cit., p. 224 (1973). [51] I. Newton, op. cit., p. 262 (2002).
[27] R.A. Martins, op. cit., p. 22. [52] I. Newton, op. cit., p. 262, nota 109 (2002).
[28] A.E. Shapiro, op. cit., p. 237 (1973). [53] I. Newton, op. cit., p. 263 (2002).
[29] R.A. Martins, op. cit., p. 53. [54] I. Newton, op. cit., p. 265 (2002).
[30] A.I. Sabra, op. cit., p. 224
[55] I. Newton, op. cit., p. 266-7 (2002).
[31] A.E. Shapiro, op. cit., p. 238-9 (1973).
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[33] R.A. Martins, op. cit., p. 57-8.
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[34] R.A. Martins, op. cit., p. 74.
[58] G. Galilei. I. Newton, op. cit., p. 183.
[35] A.E. Shapiro, op. cit., p. 243-4 (1973).
[36] R.A. Martins, op. cit., p. 74, nota 40. [59] I. Newton, op. cit., p. 264 (2002).
[37] J.E. McGuire & M. Tamny, Certain Philosophical [60] I. Newton, op. cit., p. 265 (2002).
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[62] I. Newton, op. cit., p. 273 (2002).
[38] C.C. Silva e R.A. Martins, Revista Brasileira de Ensino
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[67] A.R. Hall, op. cit., p. 87.
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[68] R.S. Westfall, op. cit., p. 521.
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[70] I. Newton, op. cit., p. 274 (2002).
[44] P.J. Chaudhury, Philosophy and Phenomenological Re-
[71] A.R. Hall, op. cit., p. 89.
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[45] B.A Moura, A Aceitação da Óptica Newtoniana no [72] A.R. Hall, op. cit., p. 127.
Século XVIII: Subsı́dios Para Discutir a Natureza da [73] A.R. Hall, op. cit., p. 132.
Ciência no Ensino. Dissertação de Mestrado, Instituto
[74] A.I. Sabra, op. cit., p. 295
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Paulo, p. 44-8. [75] A.R. Hall, op. cit., p. 132-3.