Festa Do Divino - Brasil
Festa Do Divino - Brasil
Festa Do Divino - Brasil
Débora B. G. ThomsenI
Rosália Maria Netto PradosII
Luci Mendes de Melo BoniniIII
Resumo:
Palavras chave: Estudam-se as festas do divino dos municípios de Mogi das Cruzes -
SP, Alcântara – MA, Pirenópolis - GO, São João Del Rei – MG e Vale do
Regionalismo Guaporé–MT- RO a fim de se identificar eventos folclóricos, religiosos
e profanos, bem como apontar políticas locais de preservação de
Festa do Divino patrimônio histórico, cultural – material e imaterial. Optou-se pelo
método de revisão bibliográfica e documental – tanto documentos
Religiosidade e cultura
oficiais como documentários expostos nas redes sociais e páginas
Patrimônio cultural oficiais dos municípios. Os resultados demonstraram que as festas do
Divino em várias regiões do Brasil são bastante semelhantes dadas
as origens portuguesas.Não se encontrou, na maioria dos casos,
políticas culturais de reconhecimento de patrimônio cultural, mas sim,
de incentivos turísticos em algumas delas.
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Resumen:
Se estudian las fiestas del divino de los municipios de Mogi das Cruzes Palabras clave:
– São Paulo, Alcantara - Maranhão, Pirenópolis - Goiás, São João Del
Rei – Minas Gerais y Valle del Guaporé – Mato Grosso y Rondônia a Regionalismo
fin de identificar eventos folclóricos, religiosos y Profanos, así como
apuntar si existen políticas locales de preservación de patrimonio Fiesta de lo Divino
histórico, cultural - material e inmaterial. Se optó por el método de
Religiosidad y cultura
revisión bibliográfica y documental - tanto documentos oficiales como
documentales expuestos en las redes sociales y páginas oficiales de Patrimonio cultural
los municipios. Los resultados demostraron que las fiestas de lo divino
en varias regiones de Brasil son bastante similares a las orígenes
portuguesas. No se ha encontrado, en la mayoría de los casos, políticas
culturales de reconocimiento de patrimonio cultural, sino, Incentivos
turísticos en algunas de ellas.
Abstract:
Keywords: This paper presents a research about the Holy Ghost feast in different
municipalities in Brasil: Mogi das Cruzes - São Paulo, Alcântara –
Regionalism Maranhão, Pirenópolis - Goiás, São João Del Rei – Minas Gerais and
Vale do Guaporé – Mato Grosso and Rondônia in order to identify folk,
Holy Ghost Feast religious and secular events, as well as local political point of preservation
historical, cultural heritage – tangible and intangible. The method was
Religion and culture
the bibliographical and documental review– both official documents
Cultural heritage as documentaries exposed in social networks and official pages were
chosen to clarify the objects studied here. The results showed that the
parties of the divine in various regions of Brazil are quite similar because
the Portuguese sources. It was not found, in most cases, cultural policies
cultural heritage recognition, but tourist incentives in some of them.
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da cidade organiza todos os anos a fim de Espírito Santo). A queima dos pedidos sim-
dar conta da grande massa que a cidade boliza a elevação dos mesmos ao céu.
recebe, dada as dimensões da festa.
Para identificação dos devotos e
Um dos ritos religiosos que aconte- agentes das festividades, tradicionalmente
cem ao longo da festa é a Alvorada: durante são utilizadas bandeiras vermelhas, com
9 dias, a partir das 5 horas da manhã, os uma pomba (representação popular do Es-
devotos se reúnem em frente da Catedral pírito Santo, conforme referências bíblicas)
de Santana, saem por uma procissão que no centro. Todas possuem características
se arrasta pelo centro da cidade e rezam a comuns como fitas coloridas trançadas,
Coroa do Divino, esta ação representa uma a pomba envolta por ornamentação, e os
antiga manifestação realizada pelos devo- dons do Espírito Santo representados. Sem-
tos que buscavam doações para a realiza- pre utilizando as cores vermelho e branco,
ção da Festa do Divino, passando de casa esse ícone, na maioria das vezes, é feito à
em casa, rezando e abençoando as famílias mão (VALIM; PRADOS; BONINI, 2015).
que doavam prendas para a festa. São dife-
rentes trajetos: hospital, cemitério e igrejas.
A procissão assim se organiza: na frente os Festa do Divino: Alcântara - Maranhão
lanterneiros, em seguida rezadores e reza-
deiras acompanhados do carro de som e A cidade de Alcântara está localizada
atrás desses os devotos, mais de duas mil na região norte do estado do Maranhão, dis-
pessoas participam das alvoradas ao longo tante 30km da capital, São Luís. Possui uma
da festa (BONINI; PEREIRA, 2016). população estimada de 21.667 habitantes
(IBGE, 2016) sendo que em 2010 eram
No último dia da Festa ocorre uma 21.851 (IBGE, 2010). Destes, 12.658 são
procissão ao Divino Espírito Santo, que par- católicos (58% da população contabilizada
te da Catedral de Santana e caminha pelas em 2010), e 4.249 evangélicos (19,44%)
ruas do centro da cidade. O cortejo faz sete (IBGE, 2010). A cidade foi fundada em 1648
paradas durante o percurso em reconhe- quando a aldeia elevou-se a categoria de
cimento aos setes dons do Espírito Santo vila. Esse território, antes habitado por ín-
- Fortaleza, Ciência, Conselho, Sabedoria, dios, passou a ser colonizados por france-
Piedade, Entendimento e Temor do Senhor. ses e logo em seguida, por portugueses.
Para essa procissão, devotos voluntários de
toda a cidade confeccionam tapetes decora- Entre as celebrações realizadas du-
dos feitos com serragem, pó de café, casca rante os dias de festa, ocorrem missas na
de ovo, areia colorida, entre outros materiais. igreja matriz, apresentação dos membros da
corte no Palácio Imperial de Alcântara (crian-
Desde o início do ano, as rezadei- ças entre 4 e 14 anos utilizando trajes de épo-
ras realizam um trabalho de peregrinação ca da corte de imperadores e mordomos),
visitando mais de 2 mil casas, e atenden- cortejo ao Divino e levantamento do mastro.
do cerca de 33 mil devotos. Durante essas Durante todas as etapas da cerimônia, as cai-
visitas, elas recolhem pedidos ao Divino xeiras, senhoras que tocam caixa e entoam
Espírito Santo (BONINI; PEREIRA, 2016). cânticos em louvor ao Divino Espírito Santo,
embalam a festa. Esses cânticos são acom-
O encerramento da festa se dá após panhados pelas caixeiras, mulheres conside-
a celebração de Pentecostes, com a incine- radas sacerdotisas que conduzem os rituais
ração dos pedidos realizados pelos devotos festivos da Festa do Divino (GOMES; GAS-
e entregues às rezadeiras ou depositados TAL; CORIOLANO, 2015). As caixas são ins-
nas urnas instaladas no Império (altar do trumentos de percussão que acompanham
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os cânticos, resgatando a herança cultural res das vestimentas que serão utilizadas
africana, muito presente na região, já que Al- pelas crianças e por toda a decoração da
cântara possui comunidades remanescentes festa. É costume haver ao amanhecer, ao
de quilombos que mantém as características meio dia, e ao anoitecer, uma salva de cai-
dos seus ancestrais. Os cânticos entoados xas, denominada alvorada.
podem ser improvisados ou decorados, indi-
viduais ou coletivos (GOMES, 2017). O levantamento do mastro indica o
início da festa e é realizado à noite e sua
É importante salientar que Alcântara derrubada assinala a finalização da festa.
foi a primeira cidade histórica amazônica a
ser reconhecida como Patrimônio Nacio- Ao participarem das festividades,
nal, desde 1948, por sua riqueza cultural e os turistas entram em contato com o co-
arquitetônica. A cidade mantém viva gran- tidiano, a gastronomia, e o estilo de vida
des tradições culturais e a convivência em local. O comércio ambulante de comidas e
comunidade e merece destaque pela pre- bebidas se intensifica, no entanto, surgem
sença de inúmeras ruínas coloniais, con- atividades de cunho puramente comercial,
sideradas atrativos turísticos, tais como a como os clubes de reggae:
Capela das Mercês, 1656; Praça da Matriz,
1648; Igreja de São Matias, 1869; Pelouri- Este evento religioso estimula a parti-
nho; Igreja e Convento de Nossa Senhora cipação ativa dos visitantes: no levan-
do Carmo, 1665; Forte de São Sebastião, tamento do mastro, nas missas e la-
1797; Igreja de Nossa Senhora do Rosário dainhas, na visita aos mordomos, ou
dos Pretos, 1781; entre outras (GOMES, seja, os espaços de convivência co-
2017). Em 1983, em Alcântara, foi criado o munitária transformam-se em espa-
Centro de Lançamentos de Alcântara para ços materiais e simbólicos onde bens,
implementação de atividades espaciais. serviços, patrimônios e elementos
Essa criação gerou grandes impactos so- da cultura circulam entre anfitriões e
ciais, econômicos e ambientais pois reti- hóspedes. (CARVALHO, 2016, p. 13).
rou diversas comunidades quilombolas de
suas áreas originais, em função da desa- Segundo Gomes (2017), as come-
propriação para fins de interesse nacional, morações na cidade estão passando por
ocupando praticamente toda a área litorâ- sérias dificuldades de perpetuação em
nea da cidade (GOMES, 2017). função da falta de renovação das caixei-
ras, geradas pelo desconhecimento, de-
As festas no Maranhão apresentam sinteresse e falta de incentivos; a viagem
algumas particularidades como as caixei- em embarcações, em condições precá-
ras e a união da festa católica a religiões rias, que dá acesso à cidade; a falta de
praticadas em terreiros de tambor de mina estrutura de restaurantes e hotéis. No en-
- casas de culto afro-maranhense, principal- tanto, a gestão municipal e estadual vem
mente em São Luís (FERRETI, 2005). No se comprometendo a estimular e financiar
entanto, em Alcântara, a festa é de base a manutenção das tradições da cidade e a
católica, e as caixeiras entoam cânticos em sensibilização da população local.
devoção ao Espírito Santo, exclusivamente.
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rais, distante 187km da capital, Belo Hori- ros circulam pelas ruas das cidades, junto
zonte. Possui uma população estimada de com as bandeiras do Espírito Santo.
89.832 habitantes (IBGE, 2016) sendo que
em 2010 eram 84.469 (IBGE, 2010). Des- As festividades se iniciam com o le-
tes, 72.048 são católicos (85,3% da popula- vantamento do mastro, na sexta feira. No
ção contabilizada em 2010), e 7.271 evan- sábado, véspera de Pentecostes é reali-
gélicos (8,6%) (IBGE, 2010). A cidade foi zada a Missa Inculturada - com rituais que
fundada em 1713 pelo Governador D. Braz seguem as tradições africanas. No sába-
Balthazar da Silveira, e desenvolveu-se em do é realizada a Procissão do Imperador
virtude da intensa mineração na região. Perpétuo seguida de bandeiras, músicas e
folias. No domingo de Pentecostes trans-
A festa em adoração ao Divino Es- corre a alvorada, missa, apresentação de
pírito Santo, na cidade de São João del grupos de congadas, marujadas, catua-
Rei, iniciou-se, provavelmente, com a pés, bate-paus e moçambiques, seguidos
inauguração da igreja do Senhor Bom Je- de danças-de-fitas e pastorinhas. Depois,
sus de Matosinhos, em 1774. Possui um vem o Cortejo Imperial e a coroação do
imperador perpétuo, Santo Antônio, eleito novo Imperador. Para finalizar as celebra-
pela população, coadjuvando com o Divi- ções ocorre a descida do mastro (PASSA-
no Espírito Santo. Conta como principais RELLI, 2004; PORTAL DO DIVINO, 2017).
eventos associados às festividades, as
folias (visitas às casas recolhendo donati-
vos para as comemorações); a cavalgada Festa do Divino: Pirenópolis – Goiás
do divino (ocorre nas ruas da cidade); os
mastros do Divino e Santo Antônio; procis- O município de Pirenópolis está loca-
são do imperador perpétuo, entre outros lizado no centro do estado de Goiás, distante
(PORTAL DO DIVINO, 2017). 130km da capital, Goiânia. Possui uma popu-
lação estimada em 24.604 habitantes (IBGE,
Em São João del Rei, comemora- 2016), sendo que em 2010 eram 23.006
-se o Jubileu Perpétuo, uma festa religio- (IBGE, 2010), destes, 16.294 são católicos.
sa que possibilita indulgência aos fiéis A cidade foi fundada em torno das primeiras
arrependidos, que confessarem, comun- décadas do século XVIII, por Manoel Rodri-
garem, e visitarem a capela de Nosso Se- gues Tomar e surgiu em função das ativida-
nhor Jesus Cristo de Matosinho e fizerem des mineradoras na região. (IBGE, 2017)
orações a Deus em favor da santa propa-
gação da fé (PASSARELLI, 2004). Em 1990 o município foi tombado
como conjunto arquitetônico, urbanísti-
A festa sofreu uma paralisação em co, paisagístico e histórico, pelo IPHAN.
1923 quando a Conferência Episcopal da Possui casarões e igrejas do século XVIII
Província de Mariana proibiu a festa, que como a Matriz de Nossa Senhora do Ro-
só voltou a ganhar força e representativi- sário de 1732 (PIRENOPOLIS, 2017). Na
dade em 1997. Nessa data ela começou cidade, as comemorações em homena-
a apresentar características que se repe- gem ao Espírito Santo, envolvem as Ca-
tem todos os anos: a fase preparatória valhadas – encenações dramáticas da ba-
das festividades ocorre quando as ruas do talha entre mouros e cristãos pelo domínio
município são percorridas pelas Folias do da península Ibérica e são animadas por
Divino, que são grupos folclóricos respon- diversos mascarados.
sáveis por angariar donativos para a festa.
No domingo que antecede a festa aconte- Acredita-se que as festas foram se
ce a Cavalgada do Divino, onde cavalei- difundindo em Goiás à medida que a Igreja
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expandia e ocupava novos espaços assu- de. As máscaras mais populares são de
mindo uma cultura colonizadora por meio boi, onça e diabo. (PIRENÓPOLIS, 2017)
dos jesuítas. Em Pirenópolis, a festa ga-
nhou grande enfoque quando a cidade per- Um dado importante sobre a Festa
deu sua importância econômica em Goiás, do Divino em Pirenópolis é que, assim como
e assim, buscou dinamizar seus festejos ocorreu em outras localidades, antigamente
em função da valoração da expressão da a festa era totalmente patrocinada e orga-
sociedade. No entanto, é importante obser- nizada por uma única família, de alto poder
var que a Romanização da Igreja Católica aquisitivo, da cidade. O mantenedor da fa-
exigiu das entidades religiosas, posturas mília era considerado o Imperador do Divino
diferentes das que vinham sendo tomadas, e a festa se moldava aos padrões estabele-
inclusive redefinindo manifestações católi- cidos por essa família (SILVA, 2000).
cas populares (SILVA, 2000).
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ram suas marcas mais peculiares como a pre- BONINI, Luci M. M.; PEREIRA, Rute (orgs.). Reza-
sença de determinados símbolos como o mas- deiras e Rezadores da Festa do Divino Espírito San-
to em Mogi das Cruzes, SP: Os saberes e fazeres
tro, a bandeira e a pomba branca, a presença
como patrimônio cultural. São Paulo: Editae, 2015.
de rituais católicos como missas, alvoradas e
novenas, traço do colonizador português. BORGES, Wilmer. Vale do Guaporé: começa em
Porto Murtinho o 123 Festa do Divino Espírito
Foram descritas, ainda que breve- Santo e chega a Pimenteiras 22 de Abril. Hoje
mente, particularidades culturais: religiosas, Rondônia, 2017. Disponível em: http://hojeron-
donia.com/vale-do-guapore-comeca-em-porto-
manifestações folclóricas, símbolos advin-
-murtinho-o-123a-festa-do-divino-espirito-santo-
dos do colonizador que interagiram com -e-chega-a-pimenteiras-22-de-abril/. Acessado
as tradições culturais dos negros “evange- em: 21/07/2017.
lizados” que mantiveram seus ritmos, suas
cores vibrantes, seus instrumentos musicais BRASIL. Ministério da Cultura. Fundo Nacional
de percussão que inspiram os devotos. de Cultura. Brasília: Ministério da Cultura, 2017.
Disponível em: http://www.cultura.gov.br/editais-
-da-cultura. Acessado em: 24/06/2017.
Percebe-se, pelos dados encontra-
dos, que os poderes locais precisam olhar BRASIL. Decreto Nº 3.551, de 4 de Agosto de
mais detidamente para a inserção das fes- 2000. Institui o Registro de Bens Culturais de
tas na agenda política para a preservação Natureza Imaterial que constituem patrimônio
dos patrimônios culturais ali existentes. Há, cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial e dá outras providências.Dis-
em algumas localidades o investimento em
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
políticas de turismo, já que a Festa do Divino decreto/d3551.htm. Acessado em 23/07/2017.
promove o desenvolvimento local e regional.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
A pesquisa também demonstrou que (IBGE). Cidades. 2010, 2016, 2017. Disponível em:
faltam resultados científicos mais abrangen- http://www.ibge.gov.br. Acessado em: 14/06/2017.
tes que possam comparar semelhanças e
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diferenças entre essas festas no Brasil. co da Festa do Divino Espírito Santo em Alcântara,
Maranhão, Brasil. Turismo & Sociedade. Curitiba,
Os autores agradecem a Bolsa de v. 9, n. 1, p. 1-18, janeiro-abril de 2016.
pesquisa concedida pela FAEP – Fun-
dação de Amparo ao Ensino e à Pes- CASTRO, Maria L.V. de, FONSECA Maria Cecília L.
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