Compatibilidade
Compatibilidade
Compatibilidade
Interferência
eletromagnética
Claudio Ferreira Dias
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Sumário
Unidade 2
Interferência eletromagnética .................................................................. 5
Seção 2.1
Fontes de interferência eletromagnética ...................................... 7
Seção 2.2
Elementos passivos de circuito sujeitos a interferência
eletromagnética............................................................................ 20
Seção 2.3
Aterramentos, blindagens e filtros............................................. 34
Unidade 2
Interferência eletromagnética
Convite ao estudo
Caro aluno, vamos falar sobre a interferência eletromagnética e seu
impacto em vários aspectos do nosso cotidiano. Esse tipo de interferência,
causado por algum distúrbio eletromagnético, pode afetar o desempenho de
um dispositivo, um canal de transmissão ou um sistema.
No nosso dia a dia podemos notar a interferência eletromagnética no
áudio ou no vídeo, em rádio ou TV, e as fontes podem ser diversas, ou seja,
vindas de um acendedor elétrico de fogões ou de uma batedeira. Dispositivos
transmissores como celulares e tablets também são potenciais fontes de inter-
ferência, e é por esse motivo que a equipe de bordo de um voo pede para que
todos os passageiros desliguem seus celulares,a fim de que não haja interfe-
rência nos instrumentos da aeronave.
Nesta unidade vamos aprender mais sobre as fontes de interferência
eletromagnética. Geralmente, as interferências eletromagnéticas são
mudanças rápidas de correntes elétricas que podem ter origem natural ou
humana. A grande atenção sobre esse tópico se justifica pelo risco de haver
interrupção, obstrução e dano em equipamentos eletrônicos.
Dessa forma, vamos iniciar nossos estudos pelas fontes de interfe-
rência eletromagnética. Em seguida, apresentaremos e discutiremos
sobre elementos passivos de circuito sujeitos à interferência eletromag-
nética. Fecharemos a unidade discutindo sobre a função de aterramentos,
blindagens e filtros.
Para contextualizar nossa unidade, imagine que um laboratório de testes
precisa de um profissional com experiência para oferecer consultoria em
uma série de instrumentos que estão sendo preparados para fabricação.
Os instrumentos devem ser capazes de operar em ambientes eletromagne-
ticamente agressivos e atender muito bem os requisitos dos clientes. Além
disso, a diretoria da empresa decidiu entrar em um novo nicho de negócios.
Felizmente, você foi encontrado e seus serviços foram contratados e agora
você precisa oferecer o suporte necessário para a equipe de desenvolvimento
elaborar soluções em compatibilidade eletromagnética. A sua especiali-
dade é identificar as fontes de interferência, sejam elas naturais ou artifi-
ciais. Você deve verificar se os componentes dos aparelhos estão projetados
considerando-se proteção eletromagnética e recomendar condições de
operação para assegurar que vão operar apropriadamente.
Assim, a atividade de seu aprendizado vai ser dividida em três seções. Na
Seção 2.1, vamos fazer um estudo mais aprofundado das fontes de interfe-
rência eletromagnética. Na Seção 2.2, vamos conhecer e aprender sobre os
elementos passivos de circuito sujeitos à interferência eletromagnética. Na
Seção 2.3, vamos entender o funcionamento de aterramentos, blindagens e
filtros.
Sua missão será entender mais a fundo os mecanismos que produzem
interferência eletromagnética. Uma vez que você consiga entendê-los, será
mais fácil conseguir soluções para diversos problemas do cotidiano. Com sua
dedicação e foco você vai chegar lá.
Vamos nessa? Boa sorte!
Seção 2.1
Diálogo aberto
Caro aluno, há muitas formas de interferência eletromagnética que
podem afetar circuitos e impedi-los de funcionar da maneira que foram
planejados. As interferências eletromagnéticas, ou interferências de rádio,
podem se originar de inúmeras maneiras, embora não sejam consideradas em
grande parte de projetos eletrônicos que se baseiam em um mundo ideal. O
fato é que a interferência eletromagnética pode surgir de fontes humanas ou
naturais. Também pode ter uma variedade de características que dependem
da fonte ou da natureza do mecanismo que gera a interferência.
Dessa forma, nesta seção, começaremos um estudo mais aprofun-
dado sobre as fontes naturais e humanas de interferência eletromagnética.
Começaremos pela interferência atmosférica e, em seguida, discutiremos
sobre descargas eletrostáticas. Você vai aprender que descargas atmosféricas
e eletrostáticas têm uma influência importante sobre equipamentos eletrô-
nicos. Além disso, vamos discutir sobre o sinal de potência que é comumente
utilizado em sistemas de energia para alimentar equipamentos residen-
ciais, comerciais e industriais. Algumas formas de distúrbios em sistemas
de energia podem degradar o funcionamento de equipamentos eletrônicos.
Finalmente, falaremos sobre a interferência causada por transmissores de
rádio, em que parte do sinal que distorce por causas não lineares pode se
tornar sinais interferentes importantes.
Lembrando a situação em que contextualizamos nossa unidade, vamos
imaginar um problema que a empresa tenha que solucionar, nesse caso na região
sul do país, área que é bastante conhecida por ser climaticamente instável. Nessa
região há uma indústria de fabricação de papel com um equipamento que faz
a leitura de uma série de sensores wireless espalhados pela fábrica. O equipa-
mento sempre apresentou problemas de funcionamento, e você acredita que
tais problemas estão relacionados à interferência eletromagnética. Em geral, os
sintomas vão de leituras instáveis até a total parada de operação por um longo
período de tempo (principalmente em dias com tempestades). Seu papel será
o de identificar e dar soluções para esse problema. Você deve analisar a sensi-
bilidade do rádio e produzir um relatório que especifique qual é o problema.
Será que você consegue identificar a fonte do problema? Será que os sintomas
revelam a verdadeira natureza do problema?
Acreditamos que, após a dedicação em seus estudos, essa será uma tarefa
bastante fácil. Vamos lá?
Reflita
A amplitude permitida das emissões de interferência é derivada dos
requisitos de compatibilidade mútua da definição de compatibilidade
eletromagnética. Assim, reflita: quando uma interferência não permi-
tida ocorre? Quais são as vítimas de interferência a serem consideradas?
8 - U2 / Interferência eletromagnética
capacidade de ser seletivas com relação à frequência. Uma vez que é impos-
sível testar a emissão com todas as linhas de transmissão, há a necessidade de
um substituto. Essa substituição consiste em utilizar a rede de estabilização de
impedância de linha. Uma medida de tensão de interferência é conseguida
utilizando uma rede de estabilização de impedância de linha. Os valores limite
para a tensão de interferência são escolhidos de tal modo que, pela excitação de
um dipolo casado de meia-onda para essa voltagem em cada frequência, uma
intensidade de campo não produza distúrbio (GONSCHOREK; VICK, 2009).
10 - U2 / Interferência eletromagnética
Figura 2.2 | Variação do ruído de rádio com a frequência
Assimile
Lembre-se de que os dados apresentados nas Figuras 2.1 e 2.2 representam
a potência de ruído acima do ruído térmico. Essa representação dos dados
foi interessante para tornar a porção do ruído atmosférico independente.
12 - U2 / Interferência eletromagnética
A indução eletrostática pode causar carregamento em porções diferentes
do corpo humano. Se um objeto carregado é trazido próximo a outro objeto
neutro, o primeiro vai induzir uma redistribuição das cargas do segundo. Se
um condutor aterrado for conectado e desconectado do objeto neutro, haverá
um equilíbrio de cargas, e o objeto neutro passará a ficar carregado. Logo,
isso cria a possibilidade de ocorrer uma descarga eletrostática, por exemplo
– o corpo neutro poderia ser o corpo humano (SENGUPTA; LIEPA, 2006).
Exemplificando
Sacos de dissipação antiestática, como o próprio nome sugere, são feitos
de um polímero padrão de polietileno com uma cobertura estática
dissipativa. Esse utensílio é importante para guardar componentes
eletrônicos sensíveis à estática. O saco previne a acumulação de cargas
estáticas em sua superfície, descarregando-se por alguma forma de
aterramento. A ponte até o aterramento é conseguida com a inclusão
de uma amina hidrófila (um componente químico orgânico capaz de
absorver e reter umidade), que atrai umidade para sua superfície e
permite conduzir cargas quando toca alguma superfície ou até mesmo
pela atmosfera.
Pesquise mais
Até agora você aprendeu muito sobre fontes de interferência eletromag-
nética. Vimos exemplos de interferência eletromagnética com origem
natural e humana. Nesse momento é importante que você aprenda mais
sobre o que são os “harmônicos”. Os harmônicos são importantes na
análise de possíveis fontes de interferência. Veja o vídeo a seguir para
aprender mais sobre esse tema muito importante:
O que são HARMÔNICAS em sistemas ELÉTRICOS? Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=72gelIKLKiE. Acesso em: 3 out. 2018.
14 - U2 / Interferência eletromagnética
Nesta seção estudamos aspectos importantes das fontes naturais de
interferência eletromagnética e vimos exemplos de interferência causados
por ação humana e natural. Você conheceu mecanismos que geram certas
interferências e também aprendeu quais são as consequências de certos
tipos de distúrbio em equipamentos eletrônicos. Agora está na hora de você
utilizar seus conhecimentos para enfrentar o desafio de descobrir quais são
os motivos que levam o sistema de sensores da fábrica de papel a falharem. A
seguir, vamos juntos trabalhar na solução desse problema.
Perceba que a SNR em que o aparelho está operando é bem menor que
a SNR mínima necessária. Logo o equipamento falha no critério de imuni-
dade. Assim, você conversa com a equipe de desenvolvimento e solicita um
ajuste de balanço de enlace. O novo balanço de enlace deve incluir o nível de
ruído atmosférico para que o sistema opere sem falhas.
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Os eletrônicos vestíveis – ou, em inglês, wearables – são literalmente “algo
vestível”, “que pode ser vestido”. No Brasil, esse é um conceito muito novo e
pode ser conhecido pelo termo “tecnologia vestível”, que caracteriza todos os
dispositivos inteligentes que alguém veste e usa como se fosse um acessório.
O potencial das tecnologias vestíveis é desconhecido. As aplicações são as
mais diversas e podem abranger a área de consumo ou da saúde, do trânsito,
da economia doméstica e assim por diante.
Uma empresa que produz eletrônicos vestíveis está desenvolvendo uma
roupa para malhação. Essa roupa possui um sistema eletrônico embutido que
consegue medir várias características do corpo, como temperatura, pressão
16 - U2 / Interferência eletromagnética
e batimentos cardíacos. O controle dos modos de operação é realizado por
uma interface metálica costurada no tecido (composto de poliéster), locali-
zada na região do peito. Na fase final de testes vê-se que o produto simples-
mente para de operar definitivamente após algum tempo. Qual é a solução
para o problema do equipamento? Será que existe alguma relação entre os
materiais que pode estar prejudicando o funcionamento do circuito? Analise
o problema e responda em forma de relatório.
Resolução da situação-problema
Ao observar o resultado dos testes e analisar a composição dos materiais
é possível suspeitar que o problema de resistibilidade está associado ao
fenômeno de carga eletrostática triboelétrica. O carregamento de eletrici-
dade estática do tipo triboelétrico é gerado pelo contato ou fricção de dois
materiais de constantes dielétricas diferentes. Esse processo envolve a trans-
ferência de elétrons ou íons através do contato. Durante o processo, alguns
materiais absorvem elétrons e adquirem, portanto, carga negativa. Por outro
lado, outros materiais tendem a perder elétrons e, portanto, adquirem carga
positiva. Assim, vejamos novamente a tabela da série triboelétrica.
Quadro 2.1 | Série triboelétrica
POSITIVO 13 - Madeira
1 - Ar 14 - Aço
2 - Pele humana 15 - Borracha dura
3 - Vidro 16 - Vídeo epóxi
4 - Mica 17 - Cobre
5 - Cabelo humano 18 - Latão
6 - Nylon 19 - Ouro
7 - Lã 20 - Isopor
8 - Amianto 21 - Acrílico
9 - Seda 22 - Poliéster
10 - Alumínio 23 - Silício
11 - Papel 24 - Teflon
12 - Algodão NEGATIVO
1 . Todo dispositivo elétrico ou eletrônico tem que satisfazer valores limite de emissão
e demonstrar uma imunidade predefinida contra sinais de distúrbio incidentes. Na
prática, deve satisfazer sua função satisfatoriamente se sinais interferentes estão
incidindo, e deve, no mínimo, resistir à destruição.
Leia as seguintes afirmativas:
I – A emissão é mais importante do que o aspecto de resistência à destruição.
II – As fontes de interferência são apenas originadas da atividade humana.
III – A interferência pode se propagar pela rede de alimentação residencial.
18 - U2 / Interferência eletromagnética
Por exemplo, quando a modulação em amplitude é utilizada, uma banda lateral
superior é dada pela soma da frequência central com a frequência modulante, e
uma banda lateral inferior é dada subtraindo-se a frequência central da frequência
modulante.
Além das frequências utilizadas na transmissão desejada, há também a transmissão
de emissões indesejadas, ou seja, espúrios. Dentro dessas emissões pode haver
harmônicos da portadora, das bandas laterais e do oscilador interno principal. Outras
formas de emissão podem ter origem em frequências não harmônicas e ruído não
coerente de banda larga. O ruído branco de banda larga é baseado no ruído térmico,
normalmente chamado de ruído gaussiano branco. A consideração feita é de que o
ruído térmico exibe uma densidade espectral de potência uniforme.
Leia as seguintes afirmativas:
I – Além das frequências utilizadas na transmissão desejada, há também a trans-
missão de emissões indesejadas.
II – A consideração feita é de que o ruído térmico exibe uma densidade espectral de
potência não uniforme.
III – Dentro dessas emissões pode haver harmônicos da portadora, das bandas laterais
e do oscilador interno principal.
Diálogo aberto
Caro aluno, sabemos que a maior contribuição para problemas de
interferência eletromagnética vem de componentes ativos, mas e com
relação aos componentes passivos? Estes podem não ser a causa verda-
deira de problemas de interferência eletromagnética, mas, se escolhidos
e instalados de forma precária, certamente vão contribuir. Assim, certos
componentes são utilizados principalmente para o propósito de resolver
questões de interferência eletromagnética. Nesta seção, vamos conhecer e
estudar tais componentes.
Dessa forma, vamos começar um estudo mais aprofundado sobre
condutores, resistores, capacitores e indutores sujeitos a interferência
eletromagnética. A maioria dos problemas com interferência eletro-
magnética é exceção às regras. Eventualmente, um capacitor pode não
se comportar como um capacitor. Isso geralmente acontece quando
existe uma pequena quantidade de indutância que apenas fará diferença
em altas frequências. O mesmo acontece com o indutor, que poderá
apresentar comportamento semelhante, porém considerando-se uma
capacitância parasita. Até mesmo trilhas e condutores podem ser consi-
derados nessa equação quando sujeitos a alta frequência. O segredo
é entender as limitações dos componentes e projetá-los de modo a
acomodar essas limitações.
Agora você tem a chance de aprender como resolver problemas de inter-
ferência eletromagnética. Em seu trabalho no laboratório, você recebeu um
diagrama elétrico de equipamento industrial e seu protótipo para testes. A
análise desse equipamento visa a encontrar possíveis emissões eletromag-
néticas nocivas e se é susceptível a interferências. O equipamento serve
para controlar um motor de grande porte e receber informações de um
sensor. Seu trabalho será o de avaliar o protótipo e propor soluções para
melhorar a susceptibilidade em relação a interferências eletromagnéticas.
Você deve produzir um relatório apontando as soluções técnicas para os
problemas encontrados nesse sistema industrial.
Vamos lá?
20 - U2 / Interferência eletromagnética
Não pode faltar
Reflita
Você consegue imaginar o quão importantes são os efeitos de frequên-
cias mais altas? Em que momento esses efeitos podem ser ignorados,
ou ainda precisamos ficar atentos ao risco de problemas potenciais?
Seria possível que as trilhas representassem uma “parte escondida” do
esquemático original?
22 - U2 / Interferência eletromagnética
a fluir próxima à periferia do condutor. Dessa forma, podemos calcular a
profundidade pelicular como (WENTWORTH, 2009, p. 519):
1
d=
p f ms
Combinando as equações anteriores, temos que a resistência em corrente
alternada é dada por (WENTWORTH, 2009):
a
Rca = Rcc
2d
Outro fator importante é conseguir estimar a frequência para a qual a
resistência começa a aumentar devido ao efeito pelicular. Assim, temos que
essa frequência pode ser calculada como (WENTWORTH, 2009, p. 520):
4
f=
pmsa 2
Visto que o condutor apresenta indutância, temos que ela pode ser calcu-
lada como (WENTWORTH, 2009, p. 520):
ml
Lcc =
8p
Uma vez que essa indutância é dependente da corrente do condutor,
para altas frequências devemos então considerar também o efeito pelicular.
Assim, para incluir o efeito pelicular podemos reescrever a última equação
como (WENTWORTH, 2009, p. 521):
ml
Lca = d
4pa
Dessa forma, a impedância de um condutor em altas frequências pode ser
determinada como (WENTWORTH, 2009, p. 521):
Z = Rca + jwLca
O resistor, mesmo representando um dos componentes mais simples,
pode apresentar problemas de interferência eletromagnética. Note na
Figura 2.1 que um resistor operando em alta frequência pode ser represen-
tado por um circuito equivalente que inclui um resistor, um capacitor e um
indutor. Enquanto resistores antigos feitos com material de carbono eram
relativamente bem-comportados para frequências de algumas centenas de
mega-hertz, resistores de filme ou fio são susceptíveis a apresentar efeitos
indutivos e, portanto, aumentam a impedância total.
Exemplificando
Em altas frequências, entretanto, capacitância parasita (entre voltas ou
ponta a ponta) limita a impedância. Por exemplo, 3 pF em 100 MHz é em
torno de 500 ohms. Se colocarmos essa impedância em paralelo com
qualquer outra que esteja em torno de uma grandeza em kilo-ohms,
então continuaremos com algo bem próximo de 500 ohms.
24 - U2 / Interferência eletromagnética
Exemplificando
Por exemplo, se assumirmos que há 20 nH por centímetro para um
condutor, um capacitor de 1.000 pF vai ressonar em torno de 70 MHz
com um comprimento de fio de apenas 0,6 centímetros. Em 0,3 centíme-
tros, esse capacitor cai para 50 MHz. Portanto, a dica mais importante
para este problema é sempre manter o comprimento de conectores o
mais curto possível.
Assimile
O valor de capacitor para fazer desacoplamento de interferência eletro-
magnética deve ser o suficiente, mas não muito. Uma vez que você está
querendo prover um curto em alta frequência, algo abaixo de 1 ohm é
um bom objetivo. Não é necessário ir mais abaixo, uma vez que você se
torna limitado pela resistência interna do capacitor.
Pesquise mais
Até agora você aprendeu sobre o comportamento de componentes
passivos em altas frequências. Vimos que o modelo simples dos compo-
nentes em baixa frequência se torna uma combinação de outros compo-
nentes em alta frequência.
Vamos mais a fundo investigar problemas que ocorrem em condutores
que captam ruído ambiente. O vídeo a seguir mostra uma situação em
que uma fonte de tensão linear apresenta comportamento de uma fonte
chaveada, ou seja, apresenta picos no sinal de alimentação. O apresen-
tador do vídeo vai demonstrar como encontrar a fonte de interferência
26 - U2 / Interferência eletromagnética
visto não ser esse um comportamento normal desse tipo de fonte.
Conforme já discutimos, condutores podem se comportar como antenas
ou linhas de transmissão.
HOW TO track down common mode noise (Como caçar ruído de modo
comum). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BFLZm4L-
bzQU. Acesso em: 11 out. 2018.
28 - U2 / Interferência eletromagnética
Por sorte, note que o capacitor 2 é o mais adequado, pois possui
impedância muito baixa, em torno de 60 MHz. Logo, você altera o protótipo
para incluir o novo componente e faz uma nova avaliação com o analisador
de espectro. O resultado é ilustrado na Figura 2.6.
Figura 2.6 | Análise espectral após adição do capacitor 2
Avançando na prática
Descrição da situação-problema
Uma caldeira tem um controle automático de temperatura que é neces-
sário para o cozimento de alimentos em certa indústria alimentícia. A
caldeira começou a apresentar problemas após a inclusão de um novo
sistema de comunicação por rádio. A suspeita é de que alguma interferência
esteja causando um distúrbio no circuito eletrônico que realiza o controle
em relação à leitura de temperatura. A conexão que parte do sensor até o
controle é de 3 metros, logo é possível que haja alguma contaminação através
do cabo do sensor. Seu trabalho será encontrar uma solução para resolver o
problema de interferência.
30 - U2 / Interferência eletromagnética
De maneira confiante, você constrói o filtro e adapta o circuito entre o
conector do sensor e a entrada do equipamento de controle. Após um período
de testes, o equipamento continua com problemas, e uma nova verificação
com o analisador de espectro revela o resultado da Figura 2.9.
Figura 2.9 | Espectro observado após a adição do filtro
Veja que, por algum motivo, o ruído se aparenta maior que a colocação
do filtro passa-baixas. A explicação desse resultado vem do tipo de capacitor
utilizado. A análise da impedância em relação à frequência revela a solução e
pode ser observada a partir da Figura 2.10.
Figura 2.10 | Impedância de capacitor para altas frequências
Dentre todas as alternativas a seguir marque aquela que seja adequada para aplicações
que trabalham devidamente dentro da grandeza em GHz.
a) Poliéster.
b) Mica.
c) Cerâmico.
d) Papel.
e) Eletrolítico.
Suponha que exista uma interferência na faixa de 200 MHz que esteja prejudicando o
funcionamento de um dispositivo eletrônico. Utilizando a “regra de um”, qual seria a
capacitância adequada para que a impedância capacitiva seja de 0.16 ohms? Marque
a alternativa correta.
32 - U2 / Interferência eletromagnética
a) 330 uF.
b) 470 uF.
c) 0.16 uF.
d) 0.001 uF.
e) 0.005 uF.
Diálogo aberto
Sistemas eletrônicos bem projetados operam com confiabilidade em seu
ambiente eletromagnético. Eles normalmente não são afetados com facili-
dade por picos de tensão, funcionam bem até mesmo na presença de campos
magnéticos fortes e não causam interferência em equipamentos adjacentes.
Em um sistema bem projetado, o custo de um bom aterramento, blindagem
e filtragem costuma ser insignificante em relação ao custo total do projeto.
Infelizmente, muitos sistemas eletrônicos não são bem projetados. É comum
que empresas gastem milhões na tentativa de rastrear e corrigir problemas de
funcionamento que foram resultado de se estabelecer soluções impróprias de
aterramento, blindagem ou filtragem.
Nesta seção, vamos rever os fundamentos de aterramento, blindagem
e filtragem, que são conceitos que ajudam a melhorar a segurança e a
confiabilidade de produtos eletrônicos. Dessa forma, vamos começar
com um estudo sobre topologia de aterramento e área de laço. Em
seguida, trataremos dos tipos de blindagem e cabos de blindagem. E,
finalmente, falaremos de filtragem e de como utilizar núcleos de ferrite
para combater interferências.
Retomando a situação-problema do nosso contexto de aprendizagem,
vamos imaginar que você recebeu um equipamento para ser avaliado no
laboratório em que está trabalhando e que serve para sincronizar a veloci-
dade entre dois motores. O equipamento trabalha em um ambiente indus-
trial e consiste de um microcontrolador que recebe um sinal analógico de
um transformador de corrente conectado em uma das três fases presentes
em um motor de indução. A variação da corrente do motor é monitorada
pelo circuito que, após determinado processamento, controla a corrente CA
que alimenta outro motor. O equipamento apresenta vários problemas de
funcionamento e raramente entra em sincronia. Dentro de um conjunto de
análises, constata-se a presença de nível CC a partir do transformador de
corrente para o circuito de processamento, presença de nível CC na entrada
do controle do motor, mau funcionamento do microcontrolador devido à
interferência CA do controlador do motor e mau funcionamento do micro-
controlador devido aos transientes na linha de alimentação. Seu trabalho é
identificar a causa dos problemas citados e fornecer as soluções na forma de
um relatório técnico.
Vamos lá?
34 - U2 / Interferência eletromagnética
Não pode faltar
A interferência eletromagnética é um grande problema para projetistas de
sistemas constituídos de um conjunto de subsistemas, cada qual composto de
um grande número de componentes eletrônicos montados bem próximos. Se a
precaução apropriada não for tomada, esses subsistemas podem não funcionar
apropriadamente e contribuir para uma falha geral de sistema. Os três princi-
pais aspectos do projeto de compatibilidade eletromagnética que vamos
abordar são: aterramentos, blindagem e filtragem (WENTWORTH, 2009).
Reflita
Uma característica bem conhecida de circuitos digitais em relação aos
circuitos analógicos é a robustez. Circuitos digitais são menos susceptí-
veis a ruído ou interferência que os circuitos analógicos. Mas, de fato, o
que realmente faz com que circuitos digitais sejam mais robustos? Quais
são os fatos que poderiam prejudicar essa robustez no universo da inter-
ferência eletromagnética?
36 - U2 / Interferência eletromagnética
O aterramento de ponto único tem a desvantagem de que todas as
conexões de terra dos subsistemas são levadas para o mesmo ponto, o qual
requer condutores mais compridos, que resultam em uma impedância maior.
Além disso, as correntes de retorno fluindo através dos mesmos condutores
podem irradiar eficientemente para outros condutores terra e gerar o efeito
de crosstalk entre eles. Portanto, aterramento de ponto único deve ser empre-
gado apenas para subsistemas de baixa frequência (WENTWORTH, 2009).
Exemplificando
O termo crosstalk tem um equivalente em português: a linha cruzada.
Esse foi um fenômeno comum nos telefones de linha antigos. Acontecia
quando alguém fazia uma ligação pelo telefone, e um terceiro aparecia
na linha. A confusão ocorre quando as ondas eletromagnéticas vindas de
dois aparelhos se sobrepõem. Podemos dizer que houve acoplamento
magnético e que o sinal acabou escapando por um caminho por onde
não deveria ter passado.
38 - U2 / Interferência eletromagnética
acoplamento indutivo, a blindagem deve estar conectada em um condutor de
referência em ambas as pontas. Isso permite gerar um fluxo de corrente de
retorno ao longo da blindagem. Como consequência, um contrafluxo magné-
tico é produzido e resulta no cancelamento do fluxo da corrente do gerador.
Quando se substitui o condutor central por um par trançado, pode-se utilizar
um dos condutores como retorno. Assim, o uso de par trançado inerente-
mente reduz o acoplamento indutivo ou campo magnético. O modelo de um
par trançado é mostrado esquematicamente na Figura 2.15.
Figura 2.15 | Ilustração do efeito do par trançado em campos magnéticos de condutores vicinais
I 2 = IC - I D
40 - U2 / Interferência eletromagnética
Na Figura 2.17(a) temos a estrutura do ferrite mostrada na esquerda e
o diagrama esquemático equivalente mostrado na direita. Observe as letras
L e M, que representam as indutâncias direta e mútua, respectivamente.
Fazendo a mesma análise com as correntes IC e ID, derivamos as Figuras
2.17(b) e 2.17(c). Na Figura 2.17(b), a corrente de modo diferencial não
possui impedância, resultado de fluxos magnéticos opostos, e está livre
para circular pelo circuito. Na Figura 2.17 (c), a corrente de modo comum
é a soma das impedâncias mútua e direta, resultado de fluxos magnéticos
de mesma direção, e a corrente depende da somatória das indutâncias do
circuito (WENTWORTH, 2009).
Pesquise mais
Até agora você aprendeu sobre o comportamento de componentes
passivos em altas frequências. Vimos que é possível resolver problemas
de interferência eletromagnética considerando aspectos de aterramento,
blindagem e filtragem. Para destacar a importância de se utilizar blindagem
em circuito de radiofrequência, vamos nos aprofundar no entendimento
de como prevenir que um circuito de radiofrequência irradie sinais ou
seja afetado por causas externas. Apresentamos o vídeo a seguir, que
fala sobre a importância da blindagem para minimizar a influência de
elementos externos no funcionamento de um dispositivo eletrônico.
WHY RF circuits need shielding – or how not to build a Theremi (Por que
circuitos de radiofrequência precisam de blindagem?). Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=fpD_mDCViPE. Acesso em: 22 out. 2018.
42 - U2 / Interferência eletromagnética
Figura 2.19 | Filtro para correntes de modo comum
Descrição da situação-problema
Você vai analisar um dispositivo com problemas de funcionamento
devido a uma interferência em uma linha de sincronismo entre dois circuitos
integrados que operam em uma frequência de 100 MHz. Existe um ruído de
modo comum que contamina o cabo e corrompe o sinal de sincronismo. A
solução desse problema está na utilização de um toroide de ferrite para eliminar
a interferência. A Figura 2.21 mostra o diagrama esquemático da solução.
Figura 2.21 | Representação estrutural da solução
Resolução da situação-problema
Para calcular a compensação de fase necessária é preciso primeiro trans-
formar a representação estrutural em um diagrama de circuito equivalente.
A Figura 2.22 ilustra o diagrama esquemático com todas as informações que
precisamos conhecer.
Figura 2.22 | Diagrama esquemático do circuito
44 - U2 / Interferência eletromagnética
Temos que LD e LM são as indutâncias direta e mútua, respectivamente.
Como o circuito possui somente componentes em série, podemos afirmar
que existe apenas um fluxo de corrente i. Sabemos que a fonte de sincro-
nismo opera em 100 MHz, o que nos permite calcular as impedâncias direta
e mútua como:
w = 2p f = 628´106
jwLD = j18,8´103 W
jwLM = j16,9´103 W
Lembramos que para resolver esse problema devemos utilizar fontes
dependentes de tensão. Assim, podemos reformular a Figura 2.22 e incluir as
fontes dependentes de tensão associada aos indutores. A Figura 2.23 mostra
a nova configuração com as impedâncias complexas calculadas e as fontes
dependentes de tensão adicionadas.
Figura 2.23 | Circuito equivalente com fontes dependentes de tensão
46 - U2 / Interferência eletromagnética
2. O aterramento é idealmente uma superfície equipotencial de impedância zero.
Um engenheiro eletricista considera uma superfície equipotencial ideal do ponto de
vista AC ou DC. Por outro lado, nenhum aterramento mencionado por esses modelos
pode ser considerado ideal, e frequentemente aterramentos podem até estar longe de
serem comparados com um aterramento ideal.