Numeração Cabalistica
Numeração Cabalistica
Numeração Cabalistica
CARLOS ROSA
“SEGREDOS” DA
HISTÓRIA DO
BRASIL
TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS
SABER E NINGUÉM LHE ENSINOU
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2 – Segredos da História do Brasil
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PREFÁCIO
Narrar e dizer: esta é a verdade, esta é a verdadeira história –
quem poderá afirmar?
Que interesses estão envolvidos, quais os dados de que se valeu,
quem o faz? São muitas perguntas para múltiplas respostas. A
história é a narrativa do viver, e como tal o viver tem muitas
facetas. A cada momento e a cada olhar, por ângulos diferentes o
vilão poderá se transformar em herói e vice-versa.
E como dito pelo Maior da nossa língua “Navegar é preciso,
viver não é preciso”, porque para se chegar ao ponto certo em meio
ao oceano é necessária precisão no navegar, e no viver não há
métrica. Podemos estabelecer táticas e estratégias para conduzir e
acertar melhor pela matéria, pela rota, mas para viver não há
previsibilidade plena e sempre o princípio da dúvida predomina a
cada passo que damos aos nossos olhos; mesmo aqui no presente,
aos nossos olhos pode escapar num instante o que nos pareceu
verdadeiro, real.
Imagine o viver de tempos idos, que balizamento nos trará a
verdadeira precisão dos fatos, senão o bom senso e a ligação de
todos os elos que compõem os acontecimentos depois de que os
conhecemos com todo o seu desenvolvimento, dando coerência em
toda a teia do que passou.
O autor recompõe a história usando de várias e magistrais
metáforas de ambientes para dar à narrativa maior dinâmica e
interesse ao leitor, que tem a sensação de que está lendo um roman-
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4 – Segredos da História do Brasil
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6 – Segredos da História do Brasil
“SEGREDOS” DA
HISTÓRIA DO
BRASIL
TUDO QUE VOCÊ SEMPRE QUIS
SABER E NINGUÉM LHE ENSINOU
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ÍNDICE
10 – O Descobrimento do Brasil
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10 – Segredos da História do Brasil
O DESCOBRIMENTO
DO BRASIL
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14 – Segredos da História do Brasil
A UNITED ARTISTS
APRESENTA
A DESCOBERTA DO BRASIL
ESTRELANDO:
Alonso Ojeda
João Rodrigues da Fonseca
Pero Alves Gouveia, conhecido como Pedro Álvares Cabral
Salvador Fernandes Zarco, conhecido como Cristóvão Colombo
Américo Vespúcio
João Ponce de Leão
Diogo Velásquez
João de Esquivel
João de La Cosa
Diogo de Nicoesa
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Cristóvão Jacques
Enésio – o bacharel
Fernando Pizarro
Sua Majestade a Rainha Izabel – a Católica
PRODUÇÃO E DIREÇÃO
Steven Spielberg
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- Tudo bem?
Cristóvão Jacques disse que sim a o filme continuou.
O trabalho estava encerrado; o ferro penetrou até o osso, a
calcinação é perfeita, mas o veneno da flecha foi mais rápido e já
havia se propagado pelo corpo do infeliz. A febre persiste por
quase dois meses. São dias horríveis: delírios, convulsões, gritos.
Panos ensopados em vinagre é o único bálsamo que consegue
serenar o braseiro que arde e queima interiormente.
As esperanças de salvação são remotíssimas.
Mas, quem é talhado a ferro e fogo como Ojeda, não é qualquer
febre ou flecha que o farão recuar.
Durante o tempo de convalescência, as escaramuças não
diminuem, pelo contrário, os ataques dos caraíbas eram cada vez
mais intensos e, se não fosse Pizarro, por certo todos seriam
mortos.
Uma comissão propõe-lhe que abandone a fortificação, pois que
nem água para beber tinham mais.
- Vamos para o Haiti, diziam.
Ojeda repele a proposta. Não sabe recuar. Não sabe fazer outra
coisa na vida a não ser lutar.
E chegando às raias do inimaginável, diz aos seus comandados
que a hostilidade dos da terra era bastante benéfico, pois assim
conseguia manter-se em forma.
Como não podia deixar de acontecer, estoura a revolta. Ojeda é
obrigado a negociar com os insurretos. Pede-lhes quarenta dias de
espera, pois pretende viajar a São Domingos buscar socorro. Caso
não consiga, diz: – todos podem abandonar a colônia, ou agir como
melhor lhes aprouver.
Em um velho navio completamente podre, o único que restava
da frota, o antigo imediato de Colombo lança-se com um punhado
de bravos à louca aventura; louca, pois somente pessoas treslouca-
das ou insanas, teriam coragem de navegar em tão frágil
embarcação.
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só não sabia que iria haver uma controvérsia tão grande sobre uma
coisa que várias pessoas sabiam da verdade. É incrível a deturpação
dessa verdade.
- Tens razão, meu amigo – diz Affonso de Albuquerque,
solvendo um grande gole de whisky – e acrescenta: – as controvér-
sias ficam ainda maiores é quando entram interesses políticos,
como no teu caso... É por demais sabido que nós portugueses já
tínhamos conhecimento do Brasil bem antes de lá chegares, mas o
que me intriga, é que os documentos foram simplesmente
extraviados ou escondidos tão bem, que somente em meados do
século 20 vão começar a ser descobertos e, até lá, e mesmo depois,
a controvérsia continuará, em detrimento da verdade, como verás
nos filmes que tenho.
Neste bate-papo descontraído, são interrompidos pelo criado que
avisa que o almoço está servido.
Durante a refeição, Albuquerque explica a ambos que o
documentário a qual irão assistir é baseado em documentos “ditos
verdadeiros”, e que a emissora teve grande trabalho para reunir tais
documentos, conforme havia lido e que culminaria com o feito
atribuído a Cabral.
Faltavam 15 minutos para as três horas, quando os três
navegadores dirigiram-se à biblioteca a fim de assistirem ao tal
programa.
- Não queremos ser interrompidos, disse Albuquerque ao criado.
O telão foi ligado e antecediam ao programa esperado, alguns
comerciais que deixaram tanto Cabral como Cristóvão Jacques,
completamente intrigados, principalmente quando aparece um
homem juntamente com três elementos com caras pintadas de azul.
- Quem são esses elementos azuis? Quem é esse sujeito que está
com eles? Pergunta Cabral assustado.
Albuquerque dá uma imensa gargalhada e explica aos amigos:
- Isso é um comercial de uma prestadora de serviços de celular.
Aqui em Portugal, isto – apresentando um aparelho celular aos
amigos – chama-se telemóvel. A empresa é a TIM, e o elemento
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- Não tem porém nenhum. Os fatos falam por si. Diz-me uma
coisa: quando chegou essa nau “Vitória” ao porto de Sevilha?
- Precisamente no dia 8 de setembro de 1522, com apenas 18
homens na tripulação – disse Albuquerque.
- Aí está. Se não me engano, um ano e quatro meses depois da
morte de Magalhães.
- Perfeito – disse Magalhães – não havia pensado nisso...
- Bem, independente de ser ele ou não o primeiro a dar a volta
ao mundo, estou interessado em saber detalhes da viagem; tens
alguma coisa a respeito?
- Tudo. Mas isso é assunto para outro livro, sobre a História
Universal.
De repente ouve-se: “Plim, plim”, e Albuquerque diz: – O
programa já vai começar – e acrescenta: – que pena que o Jacques
foi embora; ele é fraco de mente, apesar de forte de músculos.
- Com o sucesso da viagem de Vasco da Gama – diz o narrador
– D. Manuel I decide mandar uma esquadra maior e mais
preparada, que pudesse estabelecer feitorias seguras nas Índias.
Portugal tratava de desenvolver as bases para seu império
comercial. Para chefiar essa esquadra, procura um conhecedor da
arte de navegar, bom soldado, cristão devoto, leal e capaz de
entender os seus projetos políticos e comerciais. Esse homem é
Pedro Álvares Cabral.
- Nasceu em 1467 ou 68, no castelo da vila de Belmonte, na
Beira Baixa, filho de D. Izabel de Gouveia e Dom Fernão Cabral.
Seu pai tinha o apelido de “Gigante da Beira”, por sua grande
estatura e era respeitado tanto pela bravura e nobreza de seus
antepassados, como pelo talento de guerreiro e habilidade de
administrador.
- Com onze anos foi mandado para a corte de Afonso V, onde
além de receber instrução literária, histórica e científica, aprendeu a
usar as armas. Com dezesseis anos é nomeado moço fidalgo da
corte de D. João II. Ali, viveu um ambiente de heroísmo, cercado
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Albuquerque interrompe:
- Calma, meu amigo. Vamos continuar vendo e ouvindo a
narração e depois comentaremos.
Cabral calou-se, balançando a cabeça em sinal de negativo. O
narrador continuava:
- Na noite seguinte, uma das naus, a do capitão Vasco de Ataíde
não se encontrava mais à vista. Procuraram-na por algum tempo,
mas ela desaparecera sem nenhuma razão aparente. Não poderia ter
naufragado no mar tranquilo, nem se desviado com o vento fraco.
Nunca mais ninguém veria a nau perdida. Era o inexplicável, o
desconhecido. Mas esses fatores estiveram sempre presentes em
todas as navegações. E a viagem continuou.
- Entre os marinheiros correm rumores. As doze naus navegam
há semanas sem ver terra. Os veteranos do mar não compreendem:
eles não estão indo para as Índias pela rota que Vasco da Gama
acabara de descobrir. Como então se afastam tanto da África,
rumando para o ocidente? E o perigo? E os dragões e as serpentes
aladas de que falavam as velhas histórias do grande oceano
desconhecido? – dizia entusiasmado o locutor, e continuou: –
Apesar de tudo, os comandantes dos navios não pareciam
preocupados: repetem a ordem de seguir para sudoeste, sempre
para sudoeste.
- O 43º dia de viagem vai acabando como os outros; por todos
os lados os barcos balançando, os trabalhos de rotina e, no fim do
dia, a hora de rezar.
- O Sol está desaparecendo quando a notícia de espalha: existe
alguma coisa no mar. Toda a tripulação corre para a amurada. Entre
as ondas, boiam algumas algas marinhas. Anoitece, nada mais se
pode fazer. Mas uma coisa é certa para todos: existe terra por perto.
- A noite é de festa, conversas, esperanças de fortuna... Mas
também há dúvida e medo. Que terra seria aquela – diz Sergio
Chapelin com ar de surpresa – e continua a narrativa:
- Mal amanhece, todos os olhos estão no horizonte. Decepção.
Lá apenas a imagem de sempre: mar, mar. Mas, antes que alguém
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A FUNDAÇÃO
DA CIDADE DE
SÃO PAULO
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Dona Rosalina para mais uma vez, respira fundo, tira os óculos,
esfrega suavemente o nariz e diz baixinho, sem que qualquer
criança ouvisse:
- Fantástico! Fantástico. E continua a leitura da última página:
A fundação do Colégio decorre de uma necessidade imperiosa.
Nóbrega cita três razões:
Primeira: “Que daquele lugar poderiam mais facilmente e
comodamente acudir, não só às aldeias dos índios que ali
moravam, mas a outro grande número de almas, que habitavam
por esse sertão em circuito; e com esta vizinhança dos padres,
poderiam mais facilmente evocar, ou pelo menos remediar por
meio das missões dos intérpretes, que já estão muito peritos,
entre eles, Pedro Correia, Manoel de Chaves, António Rodrigues
e Diogo Jácomo. Segunda razão: porque no lugar onde estavam
(São Vicente), já eram muitos e tinham à sua conta para
sustentar, grande número de meninos do seminário, e a terra
estava muito pobre e não podia as esmolas abranger a tantos.
Terceira: porque era necessário, sendo o Brasil província de per
si, haver estudos e criar súditos em tal número que acudissem
com socorro a possíveis incursões de estrangeiros sobre o Brasil”.
Bem, o espaço está acabando, mas ainda é possível fazer uma
retrospectiva do que acabamos de ler: o padre Manoel da
Nóbrega funda em 29 de agosto de 1553 juntamente com os
padres Manoel de Paiva, primo de João Ramalho e António
Rodrigues, a aldeia de Piratininga, que daí a alguns meses se
batizaria com o nome de São Paulo.
O padre (irmão menor sem ordem de missa) José de Anchieta
foi um mero coadjuvante na fundação do Colégio São Paulo, pois
que a missa ali celebrada por ocasião do fato foi celebrada pelo
jesuíta Manoel de Paiva, sendo Anchieta seu ajudante.
Muito bem, após todo esse relato, espero ter colocado um
ponto final na questão. Anchieta foi sem sombra de dúvida, um
homem de grande valor; mas nada ou muito pouco teve a ver com
a fundação da maior cidade do Brasil. Os méritos são todos para o
padre Manoel da Nóbrega, que gostaria de imortalizá-lo nestas
páginas, porém, o espaço reservado é pequeno. Ficará para outra
oportunidade. – Daniel.
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JOSÉ DE ANCHIETA
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A ACUSAÇÃO
Capítulo I
- Exmº Senhor Presidente e demais membros do Alto Escalão da
Congregação dos Santos; é de fundamental importância que
começamos esta nossa peça acusatória contra o padre José de
Anchieta, nos remetendo ao dia 30 de junho de 1980, quando o
então Papa João Paulo II, em passagem triunfal pelo Brasil, na
incumbência de “confirmar os filhos da igreja católica numa fé
intrépida e irradiante”, conforme palavras do próprio pontífice,
dirige-se diretamente ao presidente da República Federativa do
Brasil:
- Nascido à sombra da cruz, batizado com o nome de Vera e
Santa Cruz e logo alimentado com a primeira Eucaristia celebrada
em Porto Seguro, tornou-se a nação que possui o maior número de
Católicos de toda a Terra – observou Sua Santidade naquela
oportunidade.
Já na homilia proferida na catedral de Brasília, João Paulo II,
disse:
- No conjunto das nações latino americanas, sua cultura é
radicalmente católica. E dominado por esse sentimento católico,
Pedro Álvares Gouveia (depois Cabral), trazia em suas caravelas
sob ordens de frei Henrique de Coimbra, sete frades franciscanos
missionários, oito capelães e um vigário. E junto com os primeiros
aventureiros, os missionários franciscanos integraram a obra de
colonização da nova terra.
E continuou:
- A fé católica, não apenas em sua formação abstrata, mas em
sua concretização prática, nas normas que ela inspira e nas
atividades que ela sucinta, está na raiz da formação do Brasil,
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Capítulo II
- Senhor Presidente e demais membros do Alto Conselho da
Congregação dos Santos; os jesuítas, membros da Sociedade de
Jesus ou companhia de Jesus, ordem religiosa fundada por Inácio
de Loyola (1491-1556); loyolistas – indivíduos dissimulados,
astutos, fingidos, hipócritas (dicionário Aurélio, 1ª Ed. – 13ª
impressão), somente chegaram ao Brasil em 1549, após mais de 40
anos de atividades catequéticas dos franciscanos e outros clérigos.
Antes mesmo de Anchieta, o pretenso pioneiro da evangelização
chegar ao Brasil, já estava criada a diocese da Bahia, por Pedro
Fernandes Sardinha, seu primeiro bispo, em 1552, um ano antes da
chegada do “canarino”.
Apesar de desinformado, o senhor Karol Wojtyla (João Paulo II)
em virtude da beatificação de José de Anchieta, foi agraciado com
o título de “Cidadão Paulistano” pela municipalidade, cujo perga-
minho foi-lhe entregue pessoalmente por uma comitiva de vereado-
res, especialmente escolhidos para o evento, comitiva essa que já
havia viajado a Roma, à custa do dinheiro sofrido do povo paulista-
no. Dinheiro gasto imerecidamente, pois o pontífice polonês nunca
fez absolutamente nada por merecer tal laurel, e o dinheiro gasto
nessa viagem poderia ter servido para construir casas populares
para pessoas de baixa renda, ou financiar milhares de metros de
esgoto para a sofrida capital paulista.
Afinal, para que toda essa despesa? Acaso a beatificação é um
acontecimento assim tão importante?
Como todos aqui sabem de sobra, na contextura do tratado sobre
a vida dos santos romanista, é o terceiro estágio do processo da
canonização. O primeiro é: Servo de Deus; o título é recebido
depois que o bispo local autoriza o início do processo de canoniza-
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2º - INTRODUÇÃO DA CAUSA
Terminado o processo informativo diocesano, se o bispo que o
patrocinou julgar que a causa é digna de prosseguir, envia todo o
material recolhido para Roma. Lá a Sagrada Congregação para as
Causas dos Santos, um dos organismos do Vaticano, examina os
escritos do candidato para ver se contém erros relativos à fé ou à
moral. Se há informações de caráter duvidoso que o Papa absorva
pessoalmente, ou se não há erro de todo, a Congregação analisa os
depoimentos sobre a vida do candidato e decide se a causa é digna
de ser introduzida.
3º - PROCESSO APOSTÓLICO
Aprovada a introdução da causa, o Papa nomeia juízes e instala
tribunais nos lugares em que o candidato passou partes mais
significativas de sua vida. O processo apostólico é uma espécie de
repetição da primeira etapa, o processo informativo diocesano. Só
que agora, os tribunais se reúnem sob a orientação direta do Papa e
procuram, sobretudo, esclarecer questões que o processo diocesano
informativo tenha deixado obscuras. A principal preocupação do
tribunal nessa etapa é reunir informações sobre a reputação do
candidato, sobre suas virtudes e os milagres atribuídos a ele.
4º - JULGAMENTO
O material reunido no processo apostólico é enviado a Roma.
Com base nele, os cardeais da Congregação para a Causa dos
Santos julgam quatro pontos:
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5º - CANONIZAÇÃO
Solenemente celebrada pelo próprio Papa depois de completado
todo o inquérito processual canônico, incluindo-se outros dois ou
três milagres feitos pelo beato. Com a canonização, o santo passa a
gozar do culto público em toda a igreja de rito latino e suas
imagens podem ser expostas em toda a parte.
Capítulo III
O processo de canonização de Anchieta se arrastou por séculos
pelos corredores do vaticano. Falecido em 1597, vinte anos após,
ou seja, em 1617, os jesuítas do Brasil introduziram via bispado da
Bahia, junto à Santa Sé, o pedido de sua beatificação e canoniza-
ção. Somente em 1730, cento e vinte anos depois – senhor presi-
dente – foram para exame, remetidos a Roma os escritos poéticos
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Capítulo IV
- Senhor Presidente e demais membros deste Colegiado, este
quarto capítulo é por demais importante para o caso, mesmo que
alguns o achem enfadonho ou mesmo desnecessário, porém trata-se
da origem de Anchieta.
- São desacertadas as notícias de sua origem familiar. Uns dizem
ser filho de certo João de Anchieta. Alguns identificam seu pai
como Adolfo Coster (Anchieta et la famille de Loyola, Paris, 1930)
como sendo o vigário de S. Sebastião de Soreazu que teve José de
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uma aventura amorosa com uma freira. Outros ainda, ser filho de
João Lope de Anchieta, casado com Maria de Ayala, portanto a
mãe de José. Já o historiador espanhol Francisco Mateos em
(Ultimas Investigaciones Historicas sobre la Vida y Obra Del Padre
José de Anchieta – São Paulo, 1965), identifica como pai do bem-
aventurado brasileiro o funcionário público João Lopez de
Anchieta, casado com a viúva de Nuno Nuñez de Villavicencio,
senhora Mencía Díaz de Clavijo y Llarena, de origem judia.
- Com efeito – senhor Presidente – o jornalista Valdir Sanches
do jornal O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde, grandes
diários da cidade de São Paulo e de renome mundial, em abril de
1980, logo após o anúncio da beatificação de Anchieta, foi a S.
Cristóvão de La Laguna, em Tenerife, nas ilhas Canárias, colher in
loco informes referentes ao novo bem-aventurado. Dirigiu-se à
matriz da atual paróquia de S. Domingos de Gusmão, antiga
paróquia dos Remédios, onde José foi batizado.
- D. Xisto, o então pároco, gentilmente permitiu-lhe franco
acesso aos antigos escritos paroquiais guardados em um velho
armário empoeirado. “No primeiro destes livros, encadernados em
pergaminho – diz o jornalista – nas primeiras páginas comidas
pelo tempo, está escrito, com letra do século XVI, ‘Livro Primeiro
de Batismo da Igreja Paroquial dos Remédios, de 30 de maio de
1530 até junho de 1552’. Na página 31 verso – continua Valdir –
correspondente ao ano de 1534, estão registrados os nascimentos
de várias crianças, na maioria meninos. O quarto deles chama-se
Joseph, filho de Juande Anchieta e de sua mulher, que foi batizado
no dia 7 de abril por Juan GTTB (um apelido abreviado), vigário.
Foram padrinhos Domingo Rifo e Dona Alonso” (o Estado de S.
Paulo, 13 de abril de 1980).
- Como vê, senhor Presidente, o lacônico assento do batismo em
nada favorece as conclusões de Francisco Mateos quanto a origem
paterna de Anchieta. Ao contrário, mantém as antigas suposições.
- E, de fato, por ser naquele tempo o catolicismo a religião
oficial também na Espanha, não havia o Registro Civil de nasci-
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Capítulo V
Precisamente às 14 horas, todos ficam de pé aguardando a figura
do Presidente, que após adentrar o recinto e passar os olhos pelo
plenário, sentou-se. Santo Agostinho já estava no seu lugar – o
púlpito destinado à acusação. Antes de autorizar o doutor da igreja
a continuar, disse a todos com voz suave e firme:
- Não vou tolerar mais qualquer manifestação, seja a favor ou
contra. Lembrem-se do local em que estão. Alguma pergunta?
Santa Edwiges levanta a mão.
- Sim, minha filha – diz espantado o Arcanjo Miguel.
- Se não podemos nos manifestar, não seria melhor esvaziar o
recinto e esperar o resultado do julgamento do lado de fora?
As manifestações foram imediatas; umas a favor, e outras
contra, como é crível em uma democracia.
Com calma e habilidade, o Presidente sorriu e, dirigindo-se à
santa dos pobres e endividados, disse com carinho:
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Capítulo VI
- Para melhor compreensão da vida de Anchieta – senhor
presidente – não podemos nos furtar de saber como foi o desenvol-
vimento da Companhia de Jesus durante sua existência, fatos que
normalmente são omitidos dos historiadores brasileiros, sempre
propensos a ocultar a verdade em detrimento de interesses outros.
- Fundada nos moldes militares ortodoxos de então, seus
correligionários eram obrigados à obediência irrestrita e cega.
- Tendo à frente o Geral, mas conhecido como “papa negro”,
eleito vitaliciamente e investido de autoridade ilimitada, cujas
decisões são inapeláveis, é cercado de um conselho formado de seis
“assistentes”. Antes de morrer, o Geral tem de designar o “vigário”
ou substituto que governará interinamente até a eleição do novo
Geral e dos assistentes, eleitos por uma “Congregação Geral”,
composta de todos os “provinciais”.
- Pasme – senhor Presidente – que o “Geral” é chamado de
“papa negro” por possuir quase tantos poderes quanto o Sumo
Pontífice romano. O adjetivo “negro” distingue-o do Papa, que
habitualmente veste-se de branco e ele de sotaina preta.
- Divide-se a Companhia em províncias, regida cada uma por
um “provincial” coadjuvado por um conselho composto de
consultores. Cada casa de ordem tem um superior próprio,
submetido ao provincial.
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Capítulo VII
Anchieta faleceu em 9 de junho de 1597 e já no ano
subsequente, o jesuíta Fernão Cardim encaminhou ao Vaticano sua
primeira biografia elaborada por Quiricio Caxa, também jesuíta.
Seguiram-se também outros escritos informativos, incorporando-se
todos como peças do processo. Era necessário um “santo”
brasileiro, um “santo” da Companhia; Anchieta fora o escolhido!
- Só em 1617, ou seja, 20 anos depois – senhor Presidente – a
Santa Sé considerou as petições. Decorreram ainda muitos anos e
apenas em 1736, o papa Clemente XII declarou Anchieta
“Venerável”, por constar serem suas virtudes “em grande grau”.
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Capítulo VIII
- Neste capítulo – senhor Presidente e demais membros da
Congregação – demonstraremos, sem deixar qualquer margem a
dúvida, que Anchieta é um embusteiro, e que não fez qualquer tipo
de milagre. Os milagres a ele atribuídos suplantam o absurdo. São
fantasmagóricos. Provém unicamente do interesse dos jesuítas de
guindá-lo aos píncaros da glória. Com o novo Papa, também jesuíta
(e que fique bem claro que é a primeira vez que se elege um papa
jesuíta, o qual não nos cabe aqui discutir os porquês disso) estava
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Capítulo IX
- Senhor Presidente – continuou o relator – antes de chamar para
depor o “santo” Inácio de Loyola, fundador da Ordem Jesuítica,
queremos deixar bem claro a todos que, o padre José de Anchieta
sempre foi um embuste e nada, absolutamente nada do que dizem e
disseram dele é verdade. Senão, vejamos: – Jovem ainda, dezenove
anos, vai Anchieta para o Brasil desvinculando-se completamente
do seio intelectual da Europa e mais particularmente da famosa
Universidade de Coimbra, onde deu os primeiros e únicos passos
para a cultura. Diz-nos o francês Charles Sainte-Foy, seu biógrafo:
“Feito superior, foi-lhe mister ter uma cela; porém, nada de mesa,
de cama, de cadeira, nem livros...”
- Padre Antônio Franco, seu panegirista, fala do seu nulo
conceito junto à comunidade jesuíta no Brasil, ilustrando-a com o
juízo que dele fizera um confrade quando de sua chegada à Bahia
para ser ordenado sacerdote: – “Um irmão vendo-o curvado, roto,
humilde, com semblante e feições menos airosas, começou a dizer:
‘Que vem fazer cá isto?’ – tendo-o dentro de si por um homem
inútil e de pouca serventia”.
- Pero Rodrigues, seu primeiro biógrafo (Anais da Biblioteca
Nacional, vol. XIX, pág. 34) confirma o depoimento de Franco e
garante que Anchieta não possuía qualquer livro.
- Quando foi nomeado Reitor da Província – senhor Presidente –
tanto os sacerdotes como o povo, recorreram a Roma por ter ele,
Anchieta, limitações intelectuais, um “ludíbrio da ocupação ou
cargo”. O motivo desse recurso aos altos escalões romanos foi a
“incompetência intelectual de Anchieta, que jamais teve curso
regular de estudos e, no Brasil, jamais os fez metodicamente em
qualquer matéria! Mesmo a gramática da língua geral (Tupi-
guarani) que a ele se atribui, foi completada e corrigida por outro!”
Diz o seu biógrafo Paternida que: “Anchieta começou uma gramá-
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Carlos Rosa – 109
Capítulo X
- E para encerrar este libelo – senhor Presidente – peço que seja
chamado ao plenário o fundador da Ordem dos Jesuítas, o “santo”
Inácio de Loyola – disse com altivez santo Agostinho.
O Presidente expediu a ordem de trazer ao plenário o referido
“santo”, que após alguns minutos adentrou ao recinto com cara de
poucos amigos e desconfiado, como sempre foi do seu feitio. O
presidente pediu que se sentasse no banco destinado às testemunhas
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ÚLTIMO CAPÍTULO
Santo Agostinho retoma a palavra:
- Senhor Presidente, demais membros desta egrégia
Congregação, meus amigos e minhas amigas. E por todos os moti-
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118 – Segredos da História do Brasil
Ass:...........................................
...........................................
..................................etc., etc., etc.
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O BRASIL
COLONIZADO
PELOS
HOLANDESES
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132 – Segredos da História do Brasil
O MEU CUNHADO
Acordamos cedo para um domingo – 8 horas. A Glória preparou
o café auxiliada pela Fabiana – a filha mais nova. A conversa, é
claro, versou sobre os holandeses no Brasil. Aliás, esse era o nosso
único assunto havia mais de quinze dias.
Quando a família está em paz, unida e com um propósito defini-
do, parece que o tempo passa mais rápido e com melhor qualidade.
Terminamos o café por volta das 9:30 horas, mais porque fomos
despertados pelo barulho da campainha da porta.
- Quem será a esta hora? – perguntou a Glória.
- Só pode ser o teu querido e amado irmão; querido sim e amado
nem tanto – acrescentei sarcasticamente.
A Glória me olhou de soslaio e foi atender à porta.
- Ora, ora, vocês por aqui tão cedo?
Virei-me para as filhas e disse:
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134 – Segredos da História do Brasil
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OS HOLANDESES NO BRASIL
Não nos cabe, nem mesmo é de nossa competência, descrever
como foi a invasão da Bahia, de Pernambuco, do Maranhão ou de
qualquer outra localidade que por ventura os holandeses tivessem
se apossado; nosso intuito é tão somente o que os mesmos fizeram
após se instalarem como senhores da terra. Tentaremos ser o mais
imparcial possível e com absoluta certeza, traçaremos nestas linhas
os pensamentos e os estudos realizados pelos escritores anterior-
mente citados, e que se não são do agrado de todos, com certeza o
são da maioria. Ficou claro? Vamos aos fatos.
Falso é o que alguns escritores pensam e dizem dos holandeses
em relação aos povos ibéricos, mais precisamente com respeito a
Portugal.
O contrário sim: a função do holandês na história daqueles
grandes dias está longe de comparar-se à dos portugueses, pois
enquanto este criava, como a causa suprema para a Europa naquele
tempo, a expansão do espírito ocidental por todo o mundo, o que é
que a Holanda fazia?
Construía diques, cuidava da sua economia doméstica e
observava! Principalmente, observava.
Esperou o momento oportuno para sair da sua “toca” e disputar
aos heróis dos descobrimentos (os portugueses) os proveitos e
vantagens da obra realizada.
Tal qual aves de rapina, armaram-se de todas as maneiras e
iniciaram, instigados pela fortuna fácil, o trabalho de invadir as
possessões portuguesas já consolidadas e recolher os despojos.
Não tem, portanto, o direito de ser considerados como
pregoeiros e defensores de um princípio que foram os primeiros a
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136 – Segredos da História do Brasil
AS PRIMEIRAS EXPEDIÇÕES
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Almirante Leynssen
No mesmo ano (1599), a Bahia (Salvador) foi assaltada por sete
navios da esquadra de Leynssen. Estes navios faziam parte da
formidável esquadra de Piter van der Does, de setenta navios e que
não dissimulava os seus intuitos nos mares da América.
Mesmo sem as vantagens do assalto às povoações, só a captura
de barcos pela costa e pelas baías indefesas, já assegurava aos
piratas, pelo menos, lucro certo e grosso.
Cientes do êxito das expedições que garantiam opulentos lucros
nos mares da América, não tinham os holandeses razão alguma
para abrandar seu ímpeto contra as colônias portuguesas – quase
sempre desprotegidas, ou então mal policiadas.
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138 – Segredos da História do Brasil
A INVASÃO DA BAHIA
Pelos fins de 1623, estava equipada uma poderosa frota de vinte
e seis navios, montando quinhentas bocas de fogo, sob o comando
em chefe de Jacó Willekens, tendo como vice-almirante, o temível
Pieter Heyn. A guarnição era de 3300 homens, sendo 1700 de tropa
de terra, às ordens do coronel Johan van Dorth, que também seria o
governador da conquista.
A 9 de maio de 1624 pela madrugada, os navios transpuseram a
barra e sob o comando de Pieter Heyn, tomaram posição defronte à
praia (hoje praia da Barra) onde deviam desembarcar. A cidade foi
facilmente conquistada, como todos já devem saber, e só o
governador ficou em seu posto com alguns oficiais.
Antes de tudo, os invasores trataram de recolher os fartos
despojos daquela fácil vitória. Além de dinheiro, de objetos de ouro
e prata, de mobiliário, de alfaias das igrejas (é importante frisar que
TODAS as igrejas existentes, foram completamente saqueadas e os
padres proibidos de dizer missa, assim como os moradores de
frequentá-las, e aqueles que desobedeceram tais ordens, foram
sumariamente assassinados), etc., arrecadaram grande quantidade
de mercadorias, tanto dos armazéns e casas de comércio, como das
embarcações que se achavam no porto, carregando-se logo vários
navios que partiram apressadamente para a Holanda sob o comando
de Willekens.
Nem só do que havia na cidade e no porto se aproveitaram os
invasores: durante alguns meses foram apreendendo barcos
mercantes que, nada suspeitando daquela mudança (não havia
telefone, Internet ou qualquer meio de comunicação), entravam na
baia certos de serem bem recebidos, como já era costume.
Tudo isso era rapina oficial; isto é, a que se fazia por conta da
empresa, sem falar, também, do saque com que se premiou o
“heroísmo” da soldadesca.
Durante o ano que permaneceram os holandeses na cidade do
Salvador, nada, absolutamente nada, fizeram em prol da cidade,
limitando-se unicamente a viver dos frutos da rapinagem e a guer-
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Carlos Rosa – 139
rear com os da terra, que desde os primeiros dias não lhes deram
trégua.
Numa dessas escaramuças, morre Johan van Dorth, e seu
sucessor, o coronel Albert Schouten, não teve melhor sorte.
Capitularam no dia 1º de maio de 1625, mas nem por isso o
fracasso dessa aventura fez os holandeses desistirem do Brasil.
A Christina, a minha filha mais velha que estava encarregada de
pesquisar o assunto na Internet, conseguiu descobrir um livro
sensacional: “RELAÇÃO DA CONQUISTA E PERDA DA CIDADE
DO SALVADOR PELOS HOLANDES EM 1624-1625” de Johann
Gregor Aldenburgk, que entre outras coisas muito importantes, diz:
- Fatos extraordinários aconteceram em tão breve espaço de
tempo, não deixando dúvida, que a ocupação batava não passava
de pura rapinagem e que sua gente, afeta à guerra, não possuía
qualidades colonizadoras, muito menos inteligência para negociar
com os nativos, que os usou como escudos para seus soldados, e
sendo impiedosos ao extremo, inclusive com os seus.
E continua:
- Centenas de casas foram incendiadas nos arrabaldes de São
Salvador e os despojos divididos com a marujada. Junto com
Willikens, embarcaram para a Holanda, todos os jesuítas, frades e
oficiais que conseguiram capturar, sendo passados a mosquetão
(fuzilados) todos os soldados que lhe caíram na mão.
Resumindo, foi uma tragédia para o Brasil a primeira invasão
holandesa.
No início de janeiro de 1627, chegava à Bahia o novo
governador geral, Diogo Luis de Oliveira, conde de Miranda,
militar português a serviço da Espanha que, tendo passado por
Pernambuco, Mathias de Albuquerque lhe transmitiu o governo.
Procurou o novo governante prevenir-se como lhe era possível,
para qualquer contingência; e andava em tal trabalho, quando nos
primeiros dias de março, é surpreendido por uma grande esquadra
às ordens do temível Pieter Heyn.
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140 – Segredos da História do Brasil
A INVASÃO DE PERNAMBUCO
Com o êxito dessa nova proeza de Pieter Heyn, os holandeses
não tiveram mais dúvidas e, durante o ano de 1629, preparou-se a
grande expedição cujo comando se confiou ao general Hendrik
Lonck, dando-se ao coronel Diederik van Waerdenburck o governo
das tropas de terra.
A esquadra era composta de mais de 50 navios, montando 1100
canhões, com cerca de 8000 homens.
A 9 de fevereiro de 1630, teve-se aviso que a poderosa esquadra
havia saído de Cabo Verde, tomando o rumo do Brasil. No dia 15,
apresentava-se diante do Recife.
A conquista da capitania, assim como os lances heroicos de
ambas as partes, deve ser lido e estudado em outros livros, pois é
realmente admirável sob todos os pontos de vista.
Mas, não podíamos deixar de narrar alguns lances épicos que
nos legaram os participantes da luta.
Demorou para que Madrid compreendesse a gravidade do
problema (como sempre os espanhóis eram lerdos em perceber
alguma coisa); a vitória flamenga afetaria altamente o domínio
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O JULGAMENTO DE
JOAQUIM SILVÉRIO
DOS REIS
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O
“HERÓI”
TIRADENTES
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Fazia-lhe ver nessas longas conversas que os livros que ele tinha
lido tinham sido escritos por contadores de “estórias” e não por
historiadores; que os nossos governantes sempre foram avessos à
verdade, pois na sua grande maioria, se viam envolvidos nas mais
terrificantes tramas, nos mais cruciais problemas, aqueles de real
repercussão e, por isso, manipulavam os escritores e os editores ao
seu alvedrio, calando ou simplesmente fazendo com que se
ignorasse ou mesmo se punisse quem se atrevesse a contar a
verdade sobre a história do Brasil. Uma lástima!
Lembro-me de ter-lhe dito num dos nossos encontros, mais ou
menos o seguinte:
- Jamil, certa vez, no século XIX, Michelet, homenageou um
vulto secundário da história da França (Taine), lamentando que o
povo francês não fizesse justiça a alguns heróis esquecidos. E
disse: “A história é às vezes madrasta – cobre de louros os que
pouco fizeram e obscurece o mérito dos verdadeiros heróis”.
E acrescentei:
- No Brasil, também houve um extraordinário professor e
historiador, chamado Assis Cintra, que no início do século XX, ou
seja, a mais de 110 anos, disse: “Se houve na França uma
campanha em favor da verdade histórica conspurcada, porque não
a fazemos também no Brasil?”.
E continuou: “Urge que se remodele nossa história. É certo que
o investigador que isso tentar sofrerá os ataques formidáveis das
vestais da tradição, acordados pelo grasnar dos gansos capitolinos
de nossa história. Os ledores amontoarão citações dos mestres
consagrados: a multidão ignara bradará ao atrevido – demolidor.
Onde pusestes vosso patriotismo? E se não for um forte, o evange-
lizador da verdade histórica baqueará, vencido e humilhado”.
Jamil não podia acreditar no que ouvia. Às vezes tentava dar
algum “pitaco”, mas logo se calava, pois contra fatos não há
argumentos.
Nesse dia, em especial, começamos falando de futebol, passando
para a violência dentro e fora dos gramados, e quando menos espe-
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- Se não, vejamos:
1º - O COVARDE:
Auto de perguntas feitas ao alferes Joaquim José da Silva
Xavier. Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1789,
aos 22 dias do mês de maio, nesta fortaleza da Ilha das Cobras,
cidade do Rio de Janeiro, onde foi vindo o desembargador José
Pedro Machado Coelho Torres, comigo, Marcellino Pereira Cleto,
ouvidor e corregedor desta comarca, e escrivão nomeado para esta
devassa, e o tabelião José dos Santos Rodrigues de Araújo para
efeito de assistir a estas perguntas, e sendo aí se procedeu a elas
na forma seguinte, de que tudo para constar fiz auto. E eu,
Marcellino Pereira Cleto, ouvidor e corregedor desta comarca e
escrivão nomeado, o escrevi. E sendo perguntado como se
chamava, de quem era filho, donde era natural, se tinha algumas
ordens, se era casado ou solteiro, e que ocupação tinha, respondeu
que se chamava Joaquim José da Silva Xavier, filho de Domingos
da Silva Santos e de sua mulher Antônia da Encarnação Xavier,
natural de Pombal, termo da vila de São João d’El Rei, capitania
de Minas Gerais, que tinha quarenta e um anos de idade, que era
solteiro, que não tinha ordens algumas, e com efeito, vendo-lhe eu
o alto da cabeça, vi que não tinha tonsura alguma, que era alferes
do regimento da cavalaria paga de Minas Gerais. E sendo-lhe
perguntado se sabia a causa de sua prisão, respondeu que não.
- Antes de continuar, mesmo não sendo este um livro oficial de
história do Brasil, este depoimento de Tiradentes está disponível na
Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, no processo da Devassa da
Inconfidência Mineira, e pode ser acessado por qualquer pessoa
que queira saber a verdade. Mas vamos continuar:
E sendo-lhe mais instado que dissesse a verdade porque se
sabia que ele, respondente, tinha dito que os Cariocas eram uns
patifes, vis, que era bem feito que levassem com um bacalhau, visto
que queriam suportar o jugo do governo da Europa, do qual se
podiam livrar, como fizeram os americanos Ingleses, e que se
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2º O HUMILHADO:
Relatório da Província Religiosa do Brasil em 1792:
“... e em relação do enforcamento do réu Xavier, vulgo
Tiradentes, fizemos endereçar do réu um requerimento em termos
humildes e cristãos à Sereníssima e Santa Rainha, pedindo
clemência; mas em vista de ser necessário um exemplo para conter
os exaltamentos de liberdade de que estavam possuídos e natural
escarmento dos povos, acharam o senhor visconde governador das
Minas e o vice-rei, que se não perdoasse ao supradito réu a quem
confortamos como pudemos e dele fizemos um crente conformado e
humilde. Pensamos justas as considerações expedidas pelo senhor
visconde e por isso será de bom que a rainha não perdoe, o que
não faria exemplo. E dos conjurados é sabido ter sido o réu o mais
falador e o mais insignificante do Grêmio da Sociedade desta
província, motivos que determinaram a sua escolha para morrer
como exemplo (Arquivo de S. Bento, em Lisboa).
“... e seria de bom alvitre que V. Excia. não se deixasse
impressionar pelo tom humilde da petição do alferes Xavier,
pedindo clemência. Embora tenha sido certo como ele diz que não
foi o chefe, é necessário um exemplo, e nesse caso será bom
desencaminhar a petição da Piedade de Sua Majestade. (carta do
visconde de Barbacena ao secretário de Estado de D. Maria I).
Assim, Tiradentes, pediu humildemente a clemência da rainha
de Portugal e não a obteve, apesar da sua humildade. Ora, isso não
é ser herói. Um humilhado que mendiga um perdão ao algoz não
pode ser vulto glorioso, um heroico revolucionário.
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174 – Segredos da História do Brasil
3º UM REVOLUCIONÁRIO TRANSFORMADO EM
SANTO:
Entra o algoz para lhe vestir a alva e pedindo-lhe como de
costume perdão da morte, e que a justiça é que lhe movia os braços
e não a vontade, placidamente, voltou-se a ele e lhe disse:
– Oh! Meu amigo, deixe-me beijar-lhe as mãos e os pés.
O que fez com demonstração de humildade, e com a mesma
despiu a camisa e vestiu a alva dizendo que o seu Redentor
morrera por ele também nu (Relação circunstanciada da pérfida
conjuração descoberta em Minas Gerais e coleção de várias peças,
etc., por um amante da verdade e do trono – 1792).
Vendo Tiradentes o carrasco que entrava na prisão a pôr-lhe as
cordas, assim que o reconheceu lhe beijou os pés com tanta
humildade, que, sendo ele, carrasco, do número dos que afetam
dureza e crueldade, chegou a comover-se e deixou escapar uma
lágrima. Ao despir-se para receber a alva, despiu também a
camisa e disse assim:
- Nosso Senhor morreu nu por meus pecados. (Memória do êxito
que teve a conjuração de Minas e dos fatos relativos a ela,
acontecidos nesta cidade do Rio de Janeiro, desde o dia 17 até 26
de abril de 1792. – Arquivo do Instituto Histórico Brasileiro).
Minha amiga ou meu amigo leitor me diga com sinceridade: Um
revolucionário que morre assim como um santo (e não é qualquer
santo), como um padre pio, chorando e beijando os pés do negro
Capitânia –, o carrasco que ganhara dez patacas para enforcá-lo,
positivamente não pode ser considerado herói, ou pode?
Nem tal morte constitui um padrão de glórias. Seria a morte de
um “santo” do cristianismo, porém, não a de uma militar revoltoso.
Prenderam um revolucionário e “enforcaram” um frade.
Compare-se o procedimento de Tiradentes com o do padre
Roma: Tiradentes, oficial dum regimento de cavalaria, ao morrer,
chora e beija os pés do carrasco. O padre Roma, diante do pelotão
de fuzilamento, no atual Campo da Pólvora, em Salvador, Bahia,
brada corajosamente, apontando para o coração:
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4º - O FALSO PROTO-MARTIR:
Relatório de D. Pedro de Almeida, conde de Assumar, ao rei de
Portugal:
“... a revolução tomou grande vulto, sendo esmagada por duas
companhias de dragões reais e 1500 homens de infantaria e o
intuito dos revolucionários era fazer uma República do povo,
expulsar do governo todos os ministros d’El-Rei, e não admitir
outros. Prendemos Felipe dos Santos, um dos cabeças que nessa
revolta havia praticado os maiores desatinos, pelo que lhe
mandamos fazer logo sumário de suas culpas e como “tudo
confirmasse” (o grifo é nosso), o mandamos arrastar e esquartejar
vivo, pela necessidade urgente de darmos exemplo de rigor, certo
que se sua Majestade estivesse presente, maior seria ainda o
castigo”.
Ora, Felipe dos Santos fez uma revolução que somente foi
vencida por 1500 soldados de infantaria e duas companhias de
dragões reais. Confessou seus intentos republicanos, “não negou”
suas ideias e foi arrastado e esquartejado vivo no dia 16 de julho de
1720.
“... então, o senhor capitão-general mandou amarrá-lo com
couro cru em cavalos indomados, escolhidos com cuidado, e pon-
do-se pano queimado nas ventas dos animais, espatifaram num
abrir e fechar de olhos o corpo do diabólico revoltado, que queria
a República das Minas, sem a autoridade do Senhor governador e
dos juízes d’El-Rei Nosso Senhor. E noto que o caso ficará de
escarmento” (Carta do secretário do governo de Minas a D. José
Menezes de Alboim Figuerôa, da casa real).
“Era trevoso o dia pelo tempo ser de inverno pesado. O
capitão-general, à frente das tropas, fez vir o condenado à sua
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5º - O INDISCRETO DA CONJURAÇÃO:
“ ... e declararam (o Dr. José Alves Maciel e o coronel
Francisco de Paula Andrade, protagonistas de Inconfidência), que
Tiradentes nessa dita conspiração, figurou apenas como um
confidente do Dr. José Alves Maciel, limitando-se o seu papel a
simples correio para comunicar certas informações que não
convinham que fossem por escrito a fim de evitar a possibilidade
de riscos que corriam de poder o governador havê-las, sendo em
cartas, missão que ele não soube desempenhar com a cautela
devida, em vista do seu gênio exaltado e tagarela, entusiasmando-
se com a exposição Que lhe fazia o Dr. José Alves Maciel, das
vantagens que gozavam os americanos com a sua independência,
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“AVENTURAS,
AMORES, JURAS E
FALSIDADES DE
UM PRÍNCIPE”
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“O FALSO PATRIARCA”
Não me contive e corri até o fim do corredor onde tinha visto o
homem virar à direita; estanquei completamente estupefato. A
única coisa que havia à direita no fim do corredor era uma pequena
entrada que dava acesso a uma janela, que pelo jeito devia estar
fechada há anos.
Fiquei como que entorpecido e somente voltei à realidade,
quando um guarda do museu tocou-me no ombro dizendo:
- O senhor está se sentindo bem? Precisa de algo?
Respondi que sim, que tudo estava em perfeita ordem e que já
estava de saída.
Minha mulher que nada entendia, ficou apreensiva com o meu
proceder. Quando cheguei de volta juntamente com o guarda, ela
tremia, tremia muito e foram necessários alguns minutos para
acalmá-la.
Saímos dali em silêncio e uma vez fora do edifício, não podendo
mais conter a curiosidade, sentamos num banco, nos jardins
fronteiriços ao museu e, prontamente, comecei a ler os livros que o
misterioso homem me havia entregado, enquanto as crianças
brincavam na grama do jardim, ao nosso lado.
Iniciei a leitura pelo: “AVENTURAS...”, e logo no prefácio que
era bastante reduzido, não tive dúvidas de que era porta-voz de algo
até então obscuro da nossa história. Dizia o prefácio:
“É com grande alegria que nesta pequena narrativa, longe de
pretender mudar o curso ou os fatos históricos, faço saber a quem
interessar possa, de fatos passados sob meus olhares e de outras
verdades incontestes, esquecidas de nossos proeminentes
historiadores, e que versam sobre meu ex-amo e senhor, o
Imperador do Brasil, Dom Pedro I.
Ass. Francisco Gomes da Silva – O Chalaça.
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“AVENTURAS, AMORES,
JURAS E FALSIDADES
DE UM PRÍNCIPE”
CAPÍTULO PRIMEIRO
“CARLOTA JOAQUINA”
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sapatos, atirando-os ao mar. Disse que era para não manchar a terra
dos brancos com os calçados que havia pisado a terra dos negros.
Fez terríveis confusões e conflitos com o novo costume que
instituiu: Todos deviam descobrir-se (tirar o chapéu ou qualquer
coisa que tivesse na cabeça) demoradamente à sua passagem, e
quem tivesse montado a cavalo, teria de desmontar e quem tivesse
de carruagem, teria que descer para prestar-lhe homenagem.
Muitos fidalgos e diplomatas sofreram grandes vexames por
causa dessa lei.
A vida de D. João VI e Carlota Joaquina talvez tivesse sido a
mais desarmoniosa de qualquer casal que já pisou neste mundo.
Não era dizer que não se amavam – odiavam-se. A mulher fazia
tudo para contrariar o marido; o marido tudo fazia para danar a
mulher.
D. João era apegado a D. Pedro, talvez por se julgar, de fato, pai
do príncipe. Carlota não tinha a D. Pedro nenhum carinho materno,
ou porque o não tivesse de verdade, ou porque o dissimulava para
hostilizar o marido.
Os seus carinhos eram todos para o príncipe D. Miguel, que as
“más línguas” sempre afirmaram não ser filho de D. João.
Ela própria ensinava o filho querido a desrespeitar aquele que,
pelo menos oficialmente, era seu pai.
A infidelidade de Carlota nasceu na própria lua de mel (aos 12
anos de idade). Um dos primeiros amores foi o oficial de marinha
Luiz Mota Fio que, por desconfiança de D. João, foi mandado para
Angola, como governador.
Muito cedo D. João desconfiou das leviandades da esposa, mas
certeza só teve mais tarde, durante o tempo em que fora concebida
a princesa Maria de Assunção. É que Carlota vivera quase um ano
inteiro na quinta do Ramalhão e o marido em Queluz e em Mafra...
Mas o demônio da mulher teve habilidade de convencer o marido
de que a princesinha era um fruto temporão.
Ao ser, no ano seguinte, surpreendida com nova gravidez, que
resultou no nascimento de Dona Anna de Jesus Maria, Carlota quis
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188 – Segredos da História do Brasil
passar a noite com D. João, mas este não mais se deixou enganar e
trancou-se no seu quarto, não deixando a mulher entrar.
Carlota fez escândalo como qualquer mulherzinha da rua: gritou,
berrou, quis por a porta abaixo. Mas a porta não se abriu. D. João
também era teimoso. Nunca mais lhe dirigiu a palavra, a não ser
nas cerimônias oficiais.
E o seu desejo manifestou-se claro aos íntimos do paço: não
reconhecer a princesinha como sua filha. Não foi pequeno o
trabalho que a corte teve em demovê-lo do capricho. Cedeu porque
o escândalo teria um ruído universal.
Carlota Joaquina deu à luz nove filhos, os quais foram batizados
com os seguintes nomes: Maria Teresa, Antonio Pio, Maria Isabel
Francisca, Pedro de Bragança - que viria a ser o futuro soberano do
Brasil –, Maria Francisca, Isabel Maria, Miguel, Maria da
Assunção e Ana de Jesus.
Quando a corte se transferiu para o Brasil, a separação entre os
dois consortes era total. Viviam em casas separadas – o rei na
Quinta da Boa Vista, a rainha nas casas das Laranjeiras e no Rio
Comprido.
Nem mesmo em caso de grave doença, D. João entrava no
quarto da rainha.
No Rio de Janeiro, só em 1817, pelas festas do casamento de D.
Pedro, o rei e a rainha jantaram juntos.
D. João, além do ódio que lhe votava, tinha-lhe medo.
A vida de Carlota Joaquina fora um inferno para ela própria. A
natureza talhou-a para o domínio, e a pobre mulher nunca pode
dominar à altura dos seus desejos. A natureza fê-la orgulhosa e o
marido caprichava em diminuí-la.
Existem criaturas que dão, na vida, a impressão exata de
temporais. Carlota Joaquina teve tudo das tempestades. A primeira
borrasca que deflagrou foi no seu lar, e a última no “miguelismo”
(querendo fazer de D. Miguel rei de Portugal), que a sua ambição e
a sua turbulência desencadearam em Portugal, à sombra da audácia
rústica de D. Miguel.
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CAPÍTULO SEGUNDO
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Quem quiser conhecer uma criatura, more com ela, diz o povo.
Ninguém pode julgar um homem público sem esmiuçar-lhe a
intimidade.
Odiava os pedreiros livres – os maçons – e também os padres
jesuítas, que os imaginava vorazes, a roerem o ouro dos impérios.
A intimidade de D. João é rasteira e, às vezes, de uma
comicidade irresistível.
Percorrendo-se os documentos da família real portuguesa,
guardados na Biblioteca Nacional, a figura de D. João VI parece de
uma mediocridade que beira às raias do inimaginável.
D. João era um homem bragantinamente porco. Não há notícia
de que tenha tomado um único banho no Brasil, nos treze anos que
aqui viveu. A sua “toilete caseira” mesmo a das audiências, era
uma vergonha. Era uma camisa de cambraia que ele conservava no
corpo cinco ou seis dias; calças de pano preto, já ruças; colete
preto; casaca de Saragoça, tudo tão usado e tão gasto que o seu
alfaiate, Thomaz Carneiro, tinha que remendar de véspera para S.
Majestade vestir no dia seguinte. Só nos dias de grande gala vestia
suas roupas mais ricas.
Aí, envergava as fardas rutilantes, os calções de casimira, meias
de seda com fivelas de ouro e brilhantes, condecorações reluzentes
de diamantes, a majestosa e rica peça da Ordem do Tosão de Ouro,
a bengala de ouro em que cintilava um grande diamante da coroa
portuguesa. Vestia tudo isso é claro, sem tomar banho.
Era o egoísmo em figura de gente. Chegava mesmo a ser
avarento. Todos os diamantes que vinham de Minas, Goiás, Mato
Grosso e São Paulo, ele os guardava para si, desde que fossem de
primeira água. E namorava-os como um usurário namora as arcas
de ouro. Ao recebê-los, pesava-os, punha-lhes rótulos, guardava-os
em gavetinhas feitas de propósito para isso e, sempre que podia, os
ia contar e mirar. Aquilo era seu, só seu.
Quando as filhas se casaram e tiveram de seguir para a Espanha,
o camareiro-mor veio preveni-lo de que as princesas não tinham
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CAPÍTULO TERCEIRO
“O PRÍNCIPE REGENTE”
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CAPÍTULO QUARTO
“A MARQUESA DE SANTOS”
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por uma linda mulher que por lá viu, ninguém pensou que aquilo
tivesse importância maior. D. Pedro era moço, ardente, mulherengo
e as suas paixões não passavam de aventuras de rapaz – fogo de
palha, que flamejavam num momento, para extinguir-se num sopro.
Mas quando, no ano seguinte, se tornou público que a tal mulher
com armas e bagagem, se mudara para o Rio, ao apelo do próprio
imperador, e que estava instalada nas proximidades da Boa Vista,
num palácio luxuoso, houve pela cidade um frêmito de escândalo e
revolta.
- Está louco!
- É um cínico!
Eram escândalos todos os dias.
E este caso dera-se na capela imperial, durante as cerimônias da
sexta-feira da Paixão, como citei anteriormente.
A tribuna das damas do paço começou a encher. Viam-se a
marquesa de Aguiar, camareira-mor da imperatriz, as damas de
honra – marquesa do Maranhão, baronesa de São Salvador dos
Campos dos Goytacazes, viscondessa do Rio Seco e dona Anna
Romana de Aragão Calmon, dona Mariana Laurentina da Silva
Souza Gordilho, dona Maria José de Paiva de Andrade, dona Maria
de Loreto Viana de Souza de Macêdo e mais a dama de câmara,
dona Micaella Josephina de Araújo.
Não tinham ainda começado as cerimônias sacras, quando
Joaquim de Faria de Souza Lobato entrou na tribuna acompanhado
respeitosamente da amante do imperador.
Foi um choque. As damas entreolharam-se surpreendidas.
A fidalguia tinha um ódio terrível aquela que dominava o
coração do imperador...
Durante aproximadamente três minutos, tudo não passou de
cochichos. A surpresa fazia-as apenas murmurarem contrariadas.
- É um desaforo!
- Uma afronta!
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- É o remorso.
Na outra sala, Dona Leopoldina que, com sua argúcia feminil,
havia pressentido e adivinhado tudo, conversa com as suas damas
de honra, dignamente serena, na sua majestade imperturbável do
seu sorriso de santa.
Nas escadas vinha subindo um leve rumor de sedas caras.
- É ela! É ela!
Segui o rumo do corredor...
D. Pedro aparentando uma calma que não tinha, tamborilou
nervosamente no espaldar de uma cadeira, naquele gesto muito seu.
E, quando voltou a olhar para a porta de entrada, o coração lhe
bateu subitamente. A sala inteira estava como que petrificada,
silenciosa, olhos nele, como numa tourada se acompanham os
movimentos de um toureiro.
À porta assomava o vulto magnífico de Dona Domitila de
Castro. Estava toda de branco, a imensa cauda do vestido
arrastando, o cabelo fulgindo numa faiscação de pedras.
O imperador quis avançar e não pôde. Os pés ficaram presos no
tapete vermelho. E ficou minutos na contemplação da amante,
imóvel, como imóvel ficara ela ao vê-lo. Havia realmente um que
de extasiante naquela mulher. Alta, envolta nas dobras da seda
branca, a epiderme mordida pelo fulgor da sala, assim parada no
meio da porta, tinha qualquer coisa de vaporosa, de etéreo, uma
aparência de deusa que estivesse coberta de espumas.
Olharam-se. A sala sorriu da perturbação dos dois. D. Pedro
conseguiu avançar. Risonho, entregou a mão de soberano ao beijo
da amante.
E ela entrou no salão com o seu andar ondulado de mulher
voluptuosa.
Algumas senhoras aproximaram-se. O imperador estava
desajeitado como nunca. Parecia um colegial em primeira falta.
Escaldava-lhe a cabeça, o sangue subira-lhe todo ao rosto.
Não teve sequer a lembrança de apresentar a amante às damas
que a cercavam. E houve uns segundos silenciosos, em que nin-
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guém falava por não saber o que dizer. Afinal, Sua Majestade
indicou a dona Domitila o sofá ao lado.
Ela sentou-se. No salão os olhares das mulheres reluziam, como
que a devorá-la da cabeça aos pés, devassando-lhe, minúcia a
minúcia, os sapatos, as meias, a curva da cintura, o talho do
vestido, as fitas, as rendas, o colar de pérolas, a coroa de rosas nos
cabelos.
De uma e de outra sala, de quando em quando, chegava à porta
um olhar perscrutor de dama, disfarçando. Era a curiosidade
feminina assanhada, a bisbilhotice de mulher gozando aquela
novidade picante de sabor escandaloso.
Ninguém falava, a não ser aos cochichos. Tinha-se a impressão
de um quarto de enfermo. E o tempo ia passando. Não era possível
aquilo continuar assim. Havia muito tempo que a primeira dama da
imperatriz ali estava e não tinha sido levada a outra sala para ser
apresentada a Dona Leopoldina. Pelas regras do protocolo, devia
ser o próprio imperador a fazer a apresentação.
Fui ter com o imperador. Toda a gente parecia entender nossa
conversa. Lembrei a Sua Majestade as regras protocolares.
E mais vivos, mais agudos, chispavam os olhos bisbilhoteiros.
D. Pedro caminhou para o sofá em que Dona Domitila, sozinha,
agitava o vasto leque de madrepérola. Ia levá-la a apresentação.
Houve um prurido de curiosidade entre as damas. Muitas
surgiram da sala próxima. Dona Domitila erguera-se à aproximação
do imperador. Os dois caminharam em direção da porta que levava
a sala da imperatriz.
As mulheres moveram-se para seguir o par. Queriam ver aquilo!
Queriam ver a cara de D. Pedro apresentando a amante à esposa
legítima! Era um prato raro, que valia a pena saborear...
Mas, no momento em que Sua Majestade ia transpor a porta,
vinha entrando dona Francisca Castelo Branco, açafata da
imperatriz. D. Pedro fez à dama um gesto, detendo-a. E, gentil e
risonho:
- Quer prestar-me um obséquio?
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CAPÍTULO QUINTO
“O CHALAÇA”
Foi mais ou menos assim: – em 1820, havia na Rua da Viola,
uma casa de hospedagem de Maria Pulchéria, cognominada
“Maricota Corneta”, porque dava o sinal das refeições com uma
corneta que pertencera ao seu marido, corneteiro do antigo corpo
de infantaria da corte.
Depois das ave-marias, sua casa se enchia do que tinha de
melhor, na alegria e na valentia, o Rio de Janeiro desse tempo. De
vez em quando, a polícia do intendente João José da Cunha dava
uma “batida” na espelunca e levava para o calabouço meia dúzia de
desordeiros. Às vezes era a polícia que fugia, deixando na dobrada
das esquinas alguns mortos e feridos.
Tão falada era a hospedaria que, um dia, o príncipe D. Pedro
resolveu conhecê-la de perto. Disfarçado com uma grande capa
paulista, acompanhado de um valente e robusto camareiro, foi, à
noite, visitar a “hospedaria da Corneta”.
Entrou. Discutia-se política e besteiras de todos os tipos. Já se
pode imaginar que o vocabulário não era dos mais requintados.
Eu trocava versos, dedilhando minha viola, com um negro de
olhos esbugalhados, ex-escravo do paço, alforriado por ter salvado
a vida de Carlota Joaquina, num acidente de cavalo. Chamava-se
José Januário.
Instalado numa das mesas de pau tosco, D. Pedro assistia à
disputa de “braço de ferro” de dois valentões. De repente, José
Januário, encarando o pseudo paulista, abriu a boca num sorriso
alegre, e cantou:
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CAPÍTULO SEXTO
“A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL”
Livros e mais livros de história foram e serão escritos sobre
episódios tendo como protagonista nosso primeiro imperador e, por
mais que se escreva, nunca teremos a verdade inconteste, pois,
historiadores e leitores, por certo serão a favor e contra essa figura
tão contraditória e importante do nosso país. Mas, penso eu, o mais
importante é de alguma maneira, poder-se contribuir para aclarar a
verdade, pois que a mesma anda um tanto anuviada e necessita com
certeza, de um aclaramento. E sendo assim, alguns fatos até então
tidos como realidade, foram isto sim, completamente opostos ou
tiveram inversão de fatores e valores adaptados à época ou aos
interesses de alguns, a fim de que os mesmos tivessem proveito em
determinadas situações, como é o caso da proclamação da
Independência, tão bem retratada no famoso quadro de Pedro
Américo, que em nada se compara com a verdade dos fatos, os
quais passarei a relatar, ou melhor, que figuras insuspeitas e que
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CAPÍTULO SÉTIMO
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“Não há dinheiro, não sei o que fazer. Esta província está quase
a estourar. Logo que o banco, o tísico bando (diagnosticava Sua
Alteza) – que é o meu termômetro estiver com o dinheiro exausto,
que para isso não falta nem quatro meses, pelos passos
gigantescos com que ele marcha para a cova, aberta pelos
dilapidadores, não saberei o que fazer”.
Achou-se impotente para governar esta imensa região, com
tantas riquezas por explorar, tantas maravilhas para descobrir, onde
um povo de boa raça portuguesa, nascido aqui, criado na sombra
dos seus heróis, se movia, querendo repetir o que, muitos séculos
antes, na Lusitânia, os seus antepassados tinham feito, e se
enaltecia nas páginas da história ensinada às crianças nas escolas.
Pois que diferença havia no colonizador romano, que dera regalias
aos velhos habitantes de Portugal, e os portugueses que, negando-
as ao Brasil, se tornavam piores? E então o príncipe, num arranco,
suplicava:
“... e para ir ter o gosto de beijar a mão de V. M. e assistir ao
pé de V. M. por todas as razões expedidas e não expedidas. Vossa
Majestade perdoará o meu modo de escrever, mas é a verdade que
o faz, não sou eu. Porém, repare V. M. que o meu fim tem sido
sempre bom, que alcança para V. M. delícias, para a nação
felicidade e glória e para mim honra”.
As palavras falam por si. D. Pedro nunca pretendeu ficar no
Brasil – era uma carga muito pesada e a sua capacidade administra-
tiva estava muito aquém da empreitada que se avizinhava.
Há em toda essa complicada história da proclamação da
Independência, lances e nuanças dignas das maiores epopeias.
Acordos e acórdãos dos mais absurdos, que só são entendidos pelos
historiadores mais assíduos aos fatos e aos documentos. Um dos
documentos mais impressionantes em todo o processo da nossa
Independência é o documento de reconhecimento da nossa
Independência por Portugal:
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O FALSO
PATRIARCA
I
Não é minha pretensão traçar um perfil do dito “Patriarca da
Independência”, pois mais de uma centena de “historiadores” já o
fizeram, mas tentar, à luz de documentos verdadeiros, desmistificar
esse título ostentado falsamente pelo santista. Igualmente, poderão
os leitores avaliar em vista desses ditos documentos, quem foi na
realidade o articulador da nossa liberdade.
Nascido José Bonifácio de Andrada e Silva, em 13 de junho de
1763, na cidade de Santos, São Paulo, somente quando de um
recenseamento em 1776, aparece a existência de um José Bonifácio
de Andrada, de treze anos e estudante.
Em 1783, partiu para Portugal para continuar os estudos. Só
regressou 36 anos depois, ficando completamente alheio aos
meandros e nuanças da política da nossa terra.
Embora qualificasse Jean-Jaques Rousseau de “sublime”, suas
ideias inclinavam-se mais para Voltaire. Como ele, José Bonifácio
odiava o despotismo, dizendo em versos:
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II
José Bonifácio, o Patriarca da Independência. De onde teria
surgido esse dito, essa asneira? Melhor ouvir o marechal Henrique
Baurepaire Rohan, ex-ministro de Estado, ex-conselheiro supremo
da Guerra e membro do Instituto Histórico:
“Sendo eu estudante de engenharia em 1832 e passando com
outros pela Rua do Ouvidor, vi em uma loja, um quadro contendo
vários bustos, e no centro dele, o do conselheiro José Bonifácio de
Andrada e Silva, com a inscrição (por sobre a cabeça de José
Bonifácio), que dizia: Patriarca da Independência.
Até essa época, nunca ninguém ouvira falar em patriarcado da
independência, dado como título a esse senhor (ou a quem quer
que seja), mas, espalhando-se a notícia da existência do quadro
por entre os partidários dos Andradas, grassou a ideia, aceitando-
a mesmo o senhor conselheiro, até que os contemporâneos que
acompanhavam os movimentos políticos de 1821 a 1833,
aparecendo na imprensa da época, restabeleceram a verdade dos
fatos e demonstraram ou nulificaram o pretendido patriarcado do
senhor José Bonifácio”.
Suponha-se, e não vai disparate no símile, diz o renomado
professor e historiador Assis Cintra:
“Que amanhã, um ilustre correligionário resolva fazer um
quadro dos protagonistas da República, e no centro, a figura do
conselheiro Rodrigues Alves, encimando-o com o dístico: ‘O
Patriarca da República’, e exponha a obra prima num mostruário
da Rua do Ouvidor.
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III
Estudemos o patriotismo de José Bonifácio, através dos grandes
acontecimentos políticos da Independência.
A maçonaria preparava movimentos subversivos em todas as
províncias. O plano era derrubarem-se os governadores portugue-
ses, elegerem-se juntas governativas compostas de brasileiros,
organizarem-se por intermédio dessas juntas, milícias brasileiras e
depois disso lançar-se o grito de Independência, com a República.
Em diversas províncias os governadores foram derrubados.
Vejamos o que aconteceu em S. Paulo. Eis a descrição feita por
uma testemunha ocular, e transcrita por Mello Moraes na “História
das Constituições”, página 52:
“Os males provenientes de um sistema abusivo, tinha de tal
sorte indisposto os ânimos, que toda a interposição da parte do
governador para consolidar a confiança dos povos, já abalada por
anteriores comportamentos, era inteiramente baldada. Ele mesmo,
intimamente convencido da sua impossibilidade para obrar com
energia, vendo-se despopularizado, sem força física nem moral
para fazer executar as leis, pediu, por vezes, ao ministério a sua
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IV
Uma das provas cabais de que José Bonifácio foi um mero
aproveitador das circunstâncias, foi escrito pelo próprio imperador
(às vezes nosso imperador era metido a jornalista), sob o
pseudônimo “P. Patriota” no Diário Fluminense:
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