A Honra e o Orgulho

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A HONRA E O ORGULHO

Por Ávillys d’Avalon

Há uma tênue linha que divide a Honra do Orgulho. Em nossa sociedade atual,
fomos ensinados a viver e agir por orgulho... Se orgulhar de algo ou dar orgulho a alguém
é motivo de mérito. Nesse processo todo, nos esquecemos da honra.
A honra é muito comum nas sociedade militares antigas, porque é respaldada pela
ética e pelo senso de sagrado imaculado, ou que não deve ser manchado. Ela está ligada
diretamente ao caráter de uma pessoa e, por consequência, de um grupo ou família.
Enquanto o orgulho está ligado a ações momentâneas ou a conquistas pessoais.
A honra perdura por toda a vida de uma pessoa, levando ela a agir dentro de uma
conduta ética ou sagrada, visando um coletivo, trabalhando sempre em prol de sua causa.
O orgulho, por ser momentâneo e efêmero, escraviza a pessoa a buscar novos trunfos e
vitórias a qualquer preço a fim de não manchar sua reputação ou suas conquistas
sucessivas. Se torna, portanto, agarrado a lógicas ou racionalidades fracas, passageiras
que lutam incessantemente para se perpetuarem, indo contra tudo e todos. Escravizando
a pessoa em manutenção de momentos, de sua postura in victa. A honra não tem esse
temor, é vivida continuamente e dificilmente é abalada.
O Blog Autoconhecimento – o segredo da felicidade, as diferencia da seguinte
maneira:

Na honra, há ética, respeito, honestidade, lealdade e retidão. No


orgulho/vaidade, há o "vencer a qualquer preço", usando qualquer arma para
isso... A pessoa se perde em si, se consome na "dor" de ter sido ferido e
esquece o que o fez chegar até ali e o seu objetivo. (ZINN, S.I.: 2013).

O agir com honra, seguira portanto o caminho da Deusa celta Morrigan, senhora
da guerra e da morte. Há quatro pilares da honra: O pudor. É o saber escolher. O momento
certo de agir, as palavras certas, a vestimenta certa. O pudor é agir dentro da ética, o agir
com retidão. Fazer a coisa certa, independente do quanto custa. Mas eis que esse pudor
não é visto ou pautado por uma certeza pessoal. A ética é sempre coletiva, sempre maior
que o indivíduo. Esse pudor, coloca o indivíduo a serviço do bem comum.
O segundo pilar é a força/coragem. É o ter força, ter caráter e coragem para agir
fazendo o que é certo. Coragem para enfrentar seu ego e seu orgulho e agir em prol do
outro. Coragem para colocar o pudor em ação. E com ela vem a força da honestidade, do
colocar-se a prova, pois sabe-se que a honra não pode ser maculada quando se faz a coisa
certa – se age com retidão. Uma pessoa de coragem e de força, não tem medo de se por a
serviço, de servir, de agir. Tem valentia, mas não vaidade. Pois sabe que seu caráter não
poderá ser posto a prova.
E aqui a diferença do orgulho aparece. Se o pudor for pessoal e não ético, haverá
medo em agir... A coragem não será real e a ação se dará em disputas pela razão. Afinal,
se o pudor for pessoal a coragem será motivada pelo orgulho, e o orgulho carece de se
provar, de manter-se no poder e dominante sempre. Não aceita servir, mas se funda na
soberba e arrogância. Não se coloca a prova, pois sabe que pode ser subjugado. Ou se
coloca inflexivelmente em debate. Afinal, assim, poderá se manter para além do caráter.
O terceiro pilar é o respeito. O respeito da honra é tradicional... É um respeito que
vai além daquilo que se gosta ou faz. Ele age em completo respeito pelas coisas, pessoas
e modos que vem antes de si, pois sabe que sua ética está firmada nesse ponto. O respeito
imbrica em lealdade e dá valor a uma causa. É ao agir com respeito que a honra garante
sua manutenção e perpetuação, pois o respeito passado adiante é maior que a disputa de
ego do orgulho. O respeitar e ser leal garante a retidão, justifica a força e a coragem e
regulamenta o pudor.
O respeito, então, nos conduz ao último pilar: a sabedoria. Essa é alcançada pela
honra no final de sua jornada e permite uma compreensão ampla de todo caminho
percorrido e ainda a ser percorrido. Através dela a tradição se perpetua, com ela o caráter,
a ética e a honra são mantidas e passadas a diante. A sabedoria carece de respeito, pois
não se enfuna, não se enraivece e não se pronuncia aos ouvidos da ignorância, soberba e
arrogância. É o último pilar da honra, mas é também aquele a ser conquistado por seus
adeptos. A sabedoria, portanto, fundamenta toda a ética. Deve ser respeitada, seguida,
vivenciada, para só então ser compreendida.
E quando somos feridos ou levados a ferir, como diferenciar se estamos agindo
por orgulho ou por honra? O site Inexpressive nos dá uma brilhante definição desse
processo:

Orgulho tem a ver com certo e errado. Honra vai além disso, tem a ver
com o que você considera incorruptível. Sagrado. Imaculado. E acima de tudo
inconcebível, inaceitável e não porque o mundo disse que é, mas porque você
sabe ser o seu limite de sanidade, de ser humano e agir com humanidade. É o
que você mais preza e viu ser destruído na sua cara como se fosse nada. Quem
tem honra não age de outro jeito se não com honra diante da honra ferida.
Quem age com orgulho tem um leque de opções e algumas culpas na mala que
carrega se quiser, já que pode facilmente jogar fora ou nas costas de alguém.
A honra ferida é um fardo que não se pode carregar e que você preferia não
atribuir a ninguém. É a batalha que você não leva até o fim porque abandona.
No ferimento da honra não existe vitória possível, existe sair dali de cabeça
erguida ou morto por uma causa perdida.
Orgulho ferido é tema de discussão em roda numa mesa de boteco. Honra
ferida é quase uma confissão, você confidencia a poucos. Sente vergonha pelo
que não fez, mas pelo que foi feito. Orgulho ferido é uma queimadura de
primeiro no máximo segundo grau. Honra é a de terceiro. Orgulho ferido é
uma ferida que sara. Honra uma cicatriz que nunca te deixará esquecer de
quem e como te feriu.
Ferir o orgulho é um tiro no escuro com bala de festim. Ferir a honra é
um tiro de rifle com mira telescópica dado por um atirador de elite muito bem
posicionado. Um tiro de precisão, certeiro. Não tem como ferir a honra só um
pouquinho ela é o asfalto em relação ao rolo compressor, está para a grama
num campo de batalha em relação ao tanque de guerra. Ferir a honra de alguém
pressupõe atingir a pessoa de maneira certeira onde ela menos esperava. É um
fogo amigo que vem de alguém que não se preocupou em ter cuidado. Alguém
que não estava preparado, em que você depositou sua confiança e depositaria
sua vida. O orgulho ferido é o tiro que vem de onde você espera que venha se
for cauteloso. Seu orgulho ferido pode ser defendido por terceiros, sua honra
ferida é parte do seu corpo que foi arrancado no campo de batalha, uma
amputação desleal, já não há mais o que ser feito.
Seus argumentos podem defender seu orgulho. Quando sua honra é ferida
os argumentos ironicamente não servem mais de nada. O orgulho ferido pode
ter sido fruto de injustiça. A honra ferida É fruto dela.
[...]
A pessoa que sabe o que é ter a honra ferida jamais tomará decisões que
firam a honra das pessoas que a honram. A pessoa que teve o orgulho ferido
aprende a ferir o orgulho dos outros e o faz principalmente sobre pessoas que
considere soberbas quando tem a chance. (QUEIROZ, S.I.: 2011).

A honra é, portanto, o caminho antigo, o caminho do sábio, o caminho do


guerreiro. É um valor atemporal que está se perdendo na sociedade de hoje. Uma
sociedade que embandeira o orgulho e sepulta a honra, possibilitando todas as disputas e
crueldades egocêntricas que vivenciamos e assistimos ao nosso redor. Esse valor antigo
é base das religiosidades antigas e base constituinte da “revivência” dessas religiosidades
nos dias atuais. Não é fácil nos amputarmos do orgulho para vivermos com honra, mas
pode ser essa uma das salvações para esses tempos negros em que vivemos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

EVANS, Tira Brandon. The Morrigan’s first prophecy in: Faery Shaman. Publicado em
2007. Disponível em <http://www.faeryshaman.org/es11.1/es11.1reg1.htm>, acessado
em acessado em 15 nov. 2016.

QUEIROZ, Letícia. Orgulho e Honra in: Inexpressive. Publicado em 12 ag. 2011.


Disponível em <http://apartamento25.blogspot.com.br/2011/08/orgulho-e-honra.html>,
acessado em 15 nov. 2016.
ZINN, Adriana. Qual a diferença entre honra e a orgulho/vaidade? What is the difference
between honor and pride/vanity? In: Autoconhecimento – o segredo da felicidade.
Publicado em 26 out. 2013. Disponível em
<http://aprendendoameconhecer.blogspot.com.br/2013/10/qual-diferenca-entre-honra-
e.html>, acessado em 15 nov. 2016.

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