Anatomia

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Marco Aurélio Dolsan

Resumo 1º Capítulo – Estudo da Anatomia

CURITIBA
2018
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA

1.0 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

No seu conceito mais amplo, a Anatomia é a ciência que estuda, macro e microscopicamente, a
constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. Com a descoberta do microscópio,
desenvolveram-se ciências que são ramos da Anatomia, como a Citologia (estudo da célula), a Histologia
(estudo dos tecidos e de sua organização para formar o órgão) e a Embriologia (estudo do desenvolvimento
do indivíduo). Podemos ainda considerar as seguintes Anatomias: sistêmica (estudo macroscópico dos
sistemas orgânicos, como por exemplo o sistema respiratório); topográfica (estudo de territórios os regiões
do corpo, visando o conhecimento das relações anatômicas entre as estruturas de todos os sistemas);
aplicada (compreende o estudo da aplicação prática dos dados anatômicos em todas as profissões da área
da saúde); radiológica (estudo das estruturas anatômicas por meio das imagens produzidas pela ação dos
raios X sobre o corpo humano); antropológica (aplicação do conhecimento anatômico no estudo de grupos
humanos atuais ou antigos) e comparada (estudo comparativo da anatomia dos órgãos e sistemas dos
animais não humanos).

Durante séculos, particularmente devido a grande influência da igreja, a prática das dissecções humanas
foi proibida. A abertura de corpos sofreu grande restrição, e muitas das descrições existentes reportavam-
se a dissecações feitas em animais, como as que foram feitas pelo fisiologista grego Galeno, que dissecou
porcos e macacos no século II D.C. Foi só em 1539 que André Vesálio, um anatomista belga, demonstrou
que as descrições anatômicas de Galeno não se referiam a dissecações feitas na espécie humana. Para isto,
dissecou corpos humanos, e suas descrições ajudou a corrigir noções equivocadas que prevaleciam desde
a antiguidade, tornando-se merecedor do título “pai da anatomia científica moderna”.

A Anatomia (ana=em partes; tomein=cortar) macroscópica é estudada pela dissecação de peças fixadas por
soluções. Esse resumo refere-se aos dados anatômicos macroscópicos considerados fundamentais para
reconhecimentos dos órgãos e dos sistemas por eles constituídos. O mais completo atlas de anatomia é
uma representação bidimensional do corpo humano, sendo indispensável para noções de profundidade de,
por exemplo, artérias e veias, a dissecação como método de escolha para o aprendizado da Anatomia.

2.0 – SISTEMAS ORGÂNICOS

As unidades morfológicas ou células, se agrupam constituindo os tecidos, que reunidos formam os


órgãos, envolvidos em funções variadas. Determinados órgãos se organizam em sistemas com funções bem
mais complexas. Em conjunto, os sistemas constituem o corpo humano. Os sistemas que em conjunto
compõem o organismo são os seguintes:

a. sistema esquelético – compreende os ossos que formam o arcabouço de sustentação do corpo;

b. sistema articular – compreende as conexões (articulações) entre os ossos para permitir o movimento;

c. sistema muscular – é constituído pelos músculos, denominados esqueléticos por se fixarem nos ossos;

d. sistema circulatório – compreende um conjunto de tubos, os vasos, condutores do sangue, acoplados a


um órgão central, na verdade um vaso de paredes espessadas e muito modificado, o coração;

e. sistema linfático – outro sistema de tubos, os vasos linfáticos, que conduzem a linfa, um liquido que
conduz nutrientes e células de defesa;

f. sistema respiratório – como o próprio nome indica, trata-se de um conjunto de órgãos responsáveis pela
ventilação;

g. sistema digestório – é constituído pelo canal alimentar, que se inicia na boca e termina no ânus;
h. sistema endócrino – compreende um conjunto de glândulas endócrinas, isto é, sem ducto excretor,
conhecidas também como glândulas de secreção interna.

i. sistema urinário – é formado pelos dois rins, que produzem a urina, e pelas vias urinárias que a conduzem
para o meio exterior;

j. sistema genital – o feminino e o masculino que estão relacionados à reprodução, embora envolvidos com
outras funções do organismo;

k. sistema sensorial – é constituído pelos órgãos dos sentidos, capazes de captar sensações gerais como as
táteis, gustativas, auditivas, olfatórias e visuais;

l. sistema nervoso – compreende uma parte central, uma parte periférica e uma divisão autônoma;

m. sistema tegumentar – constitui o revestimento externo do corpo, e

n. sistema locomotor – engloba os estudos dos sistemas esqueléticos, articular e muscular.

3.0 – TERMINOLOGIA ANATÔMICA

Como acontece em todas as ciências, a Anatomia possui uma linguagem própria, empregada na descrição
de suas estruturas. Desde 1895, na Basiléia, várias tentativas foram feitas no sentido de padronizar, criando
uma nomenclatura anatômica internacional. Somente em 1955 no Congresso de Paris foi aprovada a PNA
(Paris Nomina Anatômica). Como envolve dinamismo, revisões foram tratadas e a última versão da
Terminologia Anatômica foi aprovada em assembleia geral da Federação Internacional de Associações de
Anatomistas em Roma, Itália, em setembro de 1999. A tradução para a língua portuguesa, foi publicada em
S. Paulo, em 2000.

Usam-se as seguintes abreviaturas para os termos gerais de anatomia:

A. = artéria, Aa. = artérias

Lig. = Ligamento, Ligg. = Ligamentos

M. = músculo, Mm. = músculos

N. = nervo, Nn. = nervos

R. = ramo, Rr. = ramos

V. = veia, Vv. = veias

4.0 – DIVISÃO DO CORPO HUMANO.

O corpo divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros, que se subdividem em:

* Cabeça: fronte; occipital; têmpora; orelha e face;

* Pescoço

* tronco: tórax; abdome; pelve e dorso;

* membro superior: cíngulo do membro superior; axila; braço; cotovelo; antebraço e mão;

* membro inferior: cíngulo do membro inferior; nádegas, quadril, coxa; joelho; perna e pé.
As cavidades do corpo compreendem: cavidade do crânio, cavidade torácica, cavidade abdominopélvica,
distinguindo-se uma cavidade abdominal e outra pélvica.

5.0 – CONCEITOS DE NORMALIDADE, DE VARIAÇÃO ANATÔMICA E DE ANOMALIA

No estudo da Anatomia Humana, comumente nos deparamos com diferenças entre estruturas
identificadas nos cadáveres e as referências descritas pelos livros. Isso se deve ao fato de que os padrões
anatômicos apresentados nos livros estão baseados em uma média de casos encontrados em um número
significativo de dissecções e, assim, não considera algumas diferenças pontuais encontradas. O termo
normal, está relacionado à forma ou a disposição encontrada com mais frequência nos cadáveres,
tornando-se assim um padrão. No entanto, o normal, não pode ser associado de uma forma absoluta ao
mais frequente. Como exemplo clássico, temos o sistema ABO do sangue. Se perguntarmos na sala de aula
quem tem o sangue AB, poucos alunos se manifestarão. Embora o tipo AB seja de ocorrência mais rara, ele
é considerado normal.

A simples observação de um grupamento humano evidencia diferenças morfológicas nos elementos que
compõe esse grupo. Essas diferenças morfológicas, são chamadas variações anatômicas, e sua
apresentação externa, em qualquer sistema do organismo, não evidencia prejuízo funcional ao indivíduo.

É evidente que a formação externa dos dois indivíduos não é a mesma, no entanto, não há prejuízo, por
exemplo, do equilíbrio bípede. Essas diferenças são variações anatômicas externas.

Outro exemplo é a representação do estômago em dois indivíduos. O estômago A (de uma pessoa alta e
magra) é alongado, já o B (de uma pessoa baixa e com protuberância abdominal) apresenta-se mais
horizontalmente. Essa variação anatômica não interfere nos fenômenos digestivos. Visto que o material de
estudo da Anatomia é o cadáver, o que se observa nesse material pode não reproduzir o que um Atlas de
Anatomia representa. A comprovação é fácil. Com a mão esquerda faça um garrote no seu braço direito, e
note o padrão de distribuição das veias, agora mais visíveis. Agora, faça no outro braço. O padrão de
distribuição das veias não é igual nos dois braços. Podemos concluir, então, que as variações em Anatomia,
é uma constante. Não espere encontrar sempre no seu material de estudo a reprodução exata das figuras
de um Atlas. As descrições anatômicas obedecem um padrão que não inclui a possibilidade de variações.
Para o anatomista, o padrão é o “normal” numa conceituação estatística. Para um médico, “normal” está
ligado intimamente a saudável, não doente.

5.1 – ANOMALIA

Quando o desvio do padrão anatômico perturba a função, diz-se que se trata de uma anomalia e não de
uma variação. Por exemplo, se um indivíduo nasce com um dedo a mais ou a menos em sua mão, isso pode
comprometer suas atividades ou não, mesmo sendo considerada uma anomalia. Contudo, se isso for
considerado pelo portador como uma deformidade, e problemas sociais forem evidenciados, pode
configurar um conceito de doença (comprometendo o bem-estar social).

5.2 – MONSTRUOSIDADE

Se a anomalia for acentuada a ponto de deformar profundamente a construção do corpo do indivíduo,


sendo, em geral, incompatível com a vida, denomina-se monstruosidade. Como exemplo de
monstruosidade, podemos citar a Agenesia (não formação) do encéfalo.

6.0 – FATORES GERAIS DE VARIAÇÃO

Às variações anatômicas ditas individuais devem ser acrescentadas aquelas decorrentes do biotipo e de
características populacionais. Estes são, em conjunto, denominados fatores gerais de variação anatômica.

A – idade – tempo decorrido ou duração da vida. Grandes modificações ocorrem na vida intra e extra-
uterina do mamífero, bem como nos períodos em que ela se subdivide.

a) Fase intra-uterina
1) ovo – quinze primeiros dias

2) embrião – até o fim do 2º mês

3) feto – até o 9º mês.

b) Fase extra-uterina

4) recém-nascido – até 1 mês depois do nascimento

5) Infante – até o final do 2º ano

6) menino – até o fim do 10º ano

7) pré-púbere – até a puberdade

8) púbere – dos 12 aos 14 anos, correspondendo a maturidade sexual que é variável nos limites da fase e
nos sexos.

9) jovem – até os 21 anos no sexo feminino e 25 anos no sexo masculino

10) adulto – até a menopausa (castração fisiológica natural) feminina (cerca de 50 anos) e masculina (cerca
de 60 anos)

11) velho – além dos 60 anos.

B – Sexo – corresponde ao dimorfismo sexual da espécie humana. É possível estabelecer diferenças


morfológicas entre homens e mulheres, mesmo fora da área genital. A quantidade de gordura na tela
subcutânea, por exemplo, é mais abundante e se acumula em certas regiões do corpo da mulher.

C – Características populacionais – é a denominação conferida a cada grupamento humano que possui


caracteres físicos comuns, externa e internamente, pelos quais se distinguem dos demais. Conhecem-se,
por exemplo, representantes das raças Branca, Negra e Amarela e seus mestiços. Os quelóides são cicatrizes
elevadas e irregulares, que frequentemente, são formadas pela excessiva quantidade de colágeno no
derma nos indivíduos de pele negra, quando em recuperação de uma lesão ou incisão cirúrgica.

D – Biótipo – é a resultante da soma de caracteres herdados e dos caracteres adquiridos por influência do
meio e de sua interrelação.

Na grande variabilidade morfológica humana, há possibilidade de reconhecer o tipo médio e os tipos


extremos. Naturalmente, tipos mistos são, também, descritos.

Os dois tipos extremos são chamados longilíneos (indivíduos magros, em geral altos, com pescoço longo,
tórax muito achatado e membros longos em relação à altura do tronco) e brevilíneos (indivíduos
atarracados, em geral baixos, com pescoço curto, tórax de grande diâmetro e membros curtos em relação
à altura do tronco).

Os mediolíneos apresentam características intermediarias aos dos tipos precedentes.

7.0 – POSIÇÃO DE DESCRIÇÃO ANATÔMICA

Para evitar que a posição das estruturas anatômicas seja descrita de forma variada pelos autores, instituiu-
se uma posição padronizada do corpo, denominada posição de descrição anatômica (posição anatômica).
Deste modo, os anatomistas, se referem ao objeto da descrição considerando o indivíduo na posição
padronizada. A posição anatômica se assemelha à posição fundamental da Educação Física: Fig. 1.4
indivíduo em posição ereta (em pé, posição ortostática ou bípede), com a face voltada para a frente, o olhar
dirigido para o horizonte, membros superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas
para frente, membros inferiores unidos, com as pontas dos pés dirigidos para frente. Não importa,
portanto, que o cadáver esteja sobre a mesa em decúbito dorsal (com o dorso acolado à mesa), decúbito
ventral ou decúbito lateral: as descrições anatômicas são feitas considerando-o em posição de descrição
anatômica, de pé.

8.0 – PLANOS DE DELIMITAÇÃO DO CORPO HUMANO.

Na posição anatômica o corpo pode ser delimitado por planos tangentes à superfície, os quais, com suas
intersecções, determinam a formação de um sólido geométrico, um paralelepípedo, Fig. 1.5. Tem-se assim,
para as faces desse sólido, os seguintes planos correspondentes:

a. dois planos verticais, um tangente ao ventre: plano ventral ou anterior – e outro ao dorso: plano dorsal
ou posterior. Estes e outros a eles paralelos são também designados como planos frontais, por serem
paralelos a “fronte”. Via de regra, as denominações ventral e dorsal são reservadas ao tronco e anterior e
posterior, aos membros Fig. 1.6. A terminologia anatômica atual tem evitado o uso dos termos ventral e
dorsal, preferindo os termos anterior e posterior, respectivamente.
b. dois planos verticais tangentes aos lados do corpo: planos laterais esquerdo e direito Fig. 1.7

c. dois planos horizontais, um tangente à cabeça: plano cranial ou superior – e outro à região plantar: plano
podálico (de podos=pé) ou inferior Fig. 1.8.

O tronco isolado é limitado, inferiormente, pelo plano horizontal que tangencia o vértice do cóccix, um osso
análogo à parte da cauda de outros animais, por esta razão, este plano é denominado caudal.

9.0 – PLANOS DE SECÇÃO DO CORPO HUMANO

Além dos planos de delimitação, descrevem-se também os planos de secção do corpo humano:

a. o plano que divide o corpo humano em metades direita e esquerda é denominado mediano Fig. 1.9.
Toda secção do corpo feita por planos paralelos ao mediano é uma secção sagital (corte sagital) e os planos
de secção são também chamados sagitais. O nome deriva do fato de que o plano mediano passa pela sagitta
(que significa seta) do crânio fetal, figura representada pelos espaços suturais mediano, de direção ântero-
posterior. A Fig. 1.10 mostra um crânio de feto em vista superior para localizar a sagitta.
b. os planos de secção que são paralelos aos planos posterior e anterior são os ditos frontais e a secção é
também denominada frontal (corte frontal). O plano anterior é tangente à fronte do indivíduo, donde o
adjetivo – frontal Fig. 1.11.

c. os planos de secção que são paralelos aos planos cranial e caudal são horizontais. A secção é denominada
transversal (corte transversal), ilustrada na Fig.1.12.
10.0 – EIXOS DO CORPO HUMANO

São linhas imaginárias traçadas no indivíduo considerado incluído no paralelepípedo. Os eixos principais
seguem três direções ortogonais:

a. eixo ântero-posterior, projetando-se perpendicularmente ao plano frontal;

b. eixo crânio-caudal (longitudinal), projetando-se perpendicularmente ao plano transversal;

c. eixo látero-lateral (ou látero-medial nos membros), projetando-se perpendicularmente ao plano sagital.

11.0 – TERMOS DE POSIÇÃO DE DIREÇÃO

O estudo da forma dos órgãos vale-se, geralmente, da comparação geométrica. Assim, conforme o órgão,
são descritos faces, margens, extremidades ou ângulos, designados de acordo com os correspondestes
planos fundamentais para os quais estão voltados.

Quando uma determinada estrutura, como o rim, possui duas margens dispostas a partir do plano mediano
do corpo, elas são definidas como medial (mais próxima do plano mediano) e lateral (mais distante do plano
mediano). A Fig. 1.14 representa, de modo esquemático, um corte transversal ao nível do tórax. Estruturas
estão colocadas em posições diversas. O texto a seguir deve ter como base essa figura.

A – A linha XY corresponde ao plano mediano. Estruturas situadas nesse plano são, por essa razão,
denominadas medianas: a,b e c. Exemplos de estruturas medianas: a coluna vertebral, o nariz, a cicatriz
umbilical.

B – Das estruturas d e e f, consideradas em conjunto, a estrutura f é a que se coloca mais próxima do plano
mediano rem relação a d e e, sendo denominada medial; a estrutura d está situada mais distante do plano
mediano e, portanto, é lateral. Em contrapartida a estrutura e fica localizada no meio das outras duas (d e
f) e, assim, sua posição é denominada intermediária.
Os seguintes conceitos devem ser levados em consideração:

a. a estrutura que se situa mais próxima do plano mediano em relação a uma outra é dita medial, por
exemplo, o 5º dedo (mínimo) é medial em relação ao polegar;

b. a estrutura que se situa mais próxima do plano lateral (direito ou esquerdo) em relação a uma outra é
dita lateral. Por exemplo, o polegar é lateral em relação ao 5º dedo;

c. a estrutura que se situa entre duas outras que são respectivamente medial e lateral em relação a ela é
dita intermediária.

C – Das estruturas g, h e i, consideradas em conjunto, a estrutura i é a que se coloca mais próxima do plano
anterior, em relação a g e h, e é denominada anterior; g e h estão mais próximas do plano posterior e são
denominadas posteriores em relação a i. Por outro lado, a estrutura h está situada entre i (que é anterior)
e g (que é posterior) sendo, por isso, considerada média.

Registrem-se os conceitos:

a. a estrutura que se situa mais próxima do plano anterior em relação a uma outra é dita anterior. Por
exemplo o dorso do pé é posterior em relação à planta (essa inversão se deve à rotação do membro inferior
na vida intra-uterina), A planta é anterior em relação ao dorso da mão;

b. a estrutura que se situa mais próxima do plano posterior em relação a uma outra é dita posterior. Por
exemplo, o dorso da mão é posterior em relação à palma;

c. a estrutura que se situa entre outras duas que são, respectivamente, anterior e posterior é referida como
média.

D – A Fig. 1.14 representa estruturas que estão em alinhamento transversal (d, e e f) ou ântero-posterior
(i,h e g). Entretanto, as estruturas podem estar em um alinhamento longitudinal ou crânio-caudal. Nestes
casos, a estrutura mais próxima do plano cranial (ou superior) é dita cranial (ou superior) em relação a uma
outra que lhe será caudal (ou inferior). Esta última estará mais próxima do plano caudal do que a primeira.
Os termos cranial e caudal, como foi dito, são empregados mais comumente para estruturas situadas no
tronco.

Pode ocorrer que uma estrutura se situe entre as que são, respectivamente, cranial (ou superior) e caudal
(ou inferior) em relação a ela. Neste caso ela será média. Por exemplo, o nariz é médio em relação aos olhos
e aos lábios.

E – Os adjetivos interno e externo são também utilizados como termos de posição, indicando a situação da
parte voltada para o interior ou exterior de uma cavidade. Por exemplo, a face interna de uma costela está
voltada para a cavidade do tórax e a face externa, votada para a pele e os músculos do tórax. Não devemos
confundir os termos interno e externo com medial e lateral, respectivamente. Na Fig. 1.14 os números 1 e
2 ilustram o exemplo. Pode ocorrer, eventualmente, que uma estrutura esteja situada entre outras duas
que são respectivamente interna e externa em relação a ela. Neste caso ela será média.

F – Nos membros empregam-se termos especiais de posição, como os adjetivos proximal e distal, conforme
a parte considerada se encontre mais próxima ou mais distante da raiz do membro. Por exemplo, a mão é
distal em relação ao antebraço e este também o é em relação ao braço; o antebraço é proximal em relação
à mão. As expressões proximal e distal são aplicadas também aos segmentos dos vasos em relação ao órgão
central, o coração, e dos nervos em relação ao chamado neuro-eixo, que inclui o encéfalo e a medula. Pode
ocorrer que uma estrutura se situe entre duas outras que são respectivamente, proximal e distal a ela:
neste caso será média. Por exemplo, nos dedos há três falanges: proximal, média e distal. Assim, o termo
médio (média) indica estruturas que estão entre duas outras que podem ser anterior e posterior, cranial
(superior) e caudal (inferior), interna e externa, proximal e distal em relação a elas.

12.0 – PRINCIPIOS GERAIS DE CONSTRUÇÃO DO CORPO HUMANO


O corpo humano é constituído segundo os seguintes princípios:

a. Antimeria: o plano mediano divide o corpo do indivíduo em duas metades direita e esquerda que são
denominadas antímeros e são semelhantes, morfológica e funcionalmente. É a chamada simetria bilateral.
Na realidade não há simetria perfeita pois não existe correspondência exata de todos os órgãos. Ela é mais
notada no início do desenvolvimento, e vai perdendo essa característica. A diferença na altura dos ombros,
o coração deslocado para a esquerda, o fígado quase todo a direita e outros casos, demonstram a
assimetria morfológica. A assimetria funcional revela, por exemplo, o uso do membro superior direito com
mais frequência na maioria dos indivíduos, conhecido como destralidade.

b. Metameria: é a superposição, no sentido longitudinal, de segmentos semelhantes, cada qual chamado


metâmero. Como exemplos temos na coluna vertebra (superposição de vértebras), e na caixa torácica (a
superposição de costelas em série longitudinal).

c. Paquimeria: é o princípio segundo o qual o segmento axial do corpo do indivíduo é constituído,


esquematicamente, por dois tubos como ilustra a Fig. 1.15.

Os tubos, denominados paquímeros, são respectivamente, anterior, ou ventral, e posterior, ou dorsal. O


paquímero anterior, maior, contém a maioria das vísceras e, por esta razão, é também denominado
paquímero visceral. O paquímero posterior compreende a cavidade craniana e o canal vertebra (situado
dentro da coluna vertebral) e aloja a parte central do sistema nervoso: o encéfalo, na cavidade craniana, e
a medula espinhal, no canal vertebral; esta é a razão pela qual ele é também denominado paquímero
neural.

d. Estratificação: a Fig. 1.16 ilustra o princípio segundo o qual o corpo humano é constituído por camadas,
estratos, telas ou túnicas, que se superpõem, reconhecendo-se, portanto, uma estratimeria ou
estratificação.
Na Fig. 1.16 a pele (1) é a camada mais superficial, vindo a seguir a tela subcutânea (2), a fáscia muscular
(3), os músculos (4) e os ossos (5). Podem ocorrer vasos e nervos no nível da tela subcutânea (6), ou na
profundidade, entre músculos (7). As estruturas que se situam fora da lâmina de envoltura dos músculos
(fáscia muscular) são ditas superficiais; as que se situam para dentro dessa lâmina são profundas.

A estratigrafia ocorre também nos órgãos ocos como o estômago, cujas paredes são constituídas por
camadas superpostas.

e. Segmentação: é possível considerar a segmentação como um dos princípios de construção corpórea,


definindo segmento como “o território de um órgão que possua irrigação e drenagem sanguínea
independentes, separado dos demais ou separável e removível cirurgicamente e que seja identificado
morfologicamente”.

SISTEMA ESQUELÉTICO

1.0 – CONCEITO DE ESQUELETO

Osteologia é o estudo dos ossos. Em sentido amplo, é o estudo das formações ligadas ou relacionadas com
os ossos, formando o esqueleto. O esqueleto não é a simples reunião de ossos, mas sim o “arcabouço”. Em
sentido restrito, podemos definir o esqueleto como o conjunto de ossos e cartilagens que se interligam
para formar o arcabouço de corpo animal e desempenhar várias funções. Os ossos são definidos como
estruturas resistentes, de número, coloração e forma variáveis, com origem, estrutura e função
semelhantes e que, em conjunto, constituem o esqueleto.

2.0 – FUNÇÕES DO SISTEMA ESQUELÉTICO

Como funções importantes do esqueleto, podemos destacar: proteção (para órgãos como o coração, os
pulmões e a parte central do sistema nervoso); sustentação e conformação do corpo; local de
armazenamento de substâncias orgânicas e minerais; sistema de alavancas que, movimentadas pelos
músculos, permite o movimento do corpo e local de proteção dos elementos do sangue. O sistema
esquelético, juntamente com o articular e muscular, constitui o sistema locomotor.

3.0 – TIPOS DE ESQUELETOS

Entre os artrópodos a base de sustentação é externa, há um exoesqueleto e a esta porção externa mais
rígida se prendem as partes moles Fig. 2.0. Com a evolução, um endosqueleto (esqueleto interno), pouco
a pouco, vai substituindo esse exoesqueleto Fig. 2.1. Nos peixes, tatus, quelônios e crocodilos, pode-se
verificar um endosqueleto bem desenvolvido, embora o exoesqueleto ainda esteja conservado com
desenvolvimento variável. O homem possui um endosqueleto.
4.0 – DIVISÃO DO ESQUELETO

O esqueleto pode ser dividido em duas grandes porções. Uma mediana, formando o eixo do corpo, e
composta pelos ossos da cabeça, do pescoço e do tronco (tórax e abdome): o esqueleto axial; outra forma
os membros que constitui o esqueleto apendicular. A união entre essas duas porções se faz através de
cíngulos: o cíngulo do membro superior (ao qual pertencem a escápula e a clavícula) e o cíngulo do
membro inferior (constituído pelo osso do quadril). Abaixo, ilustração do esqueleto axial.

Questionário

1 – O estudo da célula; o estudo dos tecidos e como estes se organizam para a formação dos órgãos e o
estudo do desenvolvimento do indivíduo, foram especializações desenvolvidas a partir da descoberta do
microscópio. Qual alternativa, representa, na ordem enunciada, esses ramos da Anatomia?

( ) Biologia, Tecidologia e Antropologia


( ) Biologia, Radiologia e Antropologia
( x ) Citologia, Histologia e Embriologia
( ) Citologia, Tecidologia e Embriologia
( ) Biologia, Histologia e Antropologia

2 – O estudo das estruturas anatômicas por meio de imagens produzidas pela ação dos raios X sobre o
corpo humano, e que nas últimas décadas avançou consideravelmente no quesito tecnologia, denota que
forma de estudo anatômico?

( ) Sistêmico
( ) Topográfico
( ) Aplicado
( ) Comparado
( x ) Radiológico

3 – Assinale a opção que, na ordem, represente o preenchimento das lacunas da seguinte frase: Nos
sistemas orgânicos, as unidades morfológicas ou ..... que se agrupam, constituindo os ..... que exibem
determinadas funções, que por sua vez reúnem-se nos ..... que estão envolvidos em funções mais variadas,
e estes se organizam em ..... com funções ainda mais complexas, e que em conjunto constituem o .....

( x ) células, tecidos, órgãos, sistemas e corpo humano


( ) tecidos, células, órgãos, sistemas e corpo humano
( ) sistemas, células, tecidos, órgãos e corpo humano
( ) células, órgãos, tecidos, sistemas e corpo humano
( ) células, sistemas, órgãos, tecidos e corpo humano
4 – O sistema que compreende as conexões entre os ossos para permitir o movimento e o sistema que
forma o arcabouço de sustentação do corpo, além de servir à fixação de músculos delimitando cavidades e
protegendo os órgãos, são representados pelos sistemas?

( ) muscular e esquelético
( ) articular e muscular
( ) articular e tegumentar
( ) muscular e articular
( x ) articular e esquelético

5 – Ao conjunto de termos empregados para designar e descrever o organismo ou suas partes, dá-se o
nome de Terminologia Anatômica. Marque a alternativa que contenha, não necessariamente na mesma
ordem, as abreviaturas para: artérias, veia, ligamentos, nervo e músculos.

( x ) n, v, aa., ligg, mm
( ) ligs, n, vv, a, m
( ) mm, lig, n, v, aa
( ) n, v, a, ligg, mm
( ) mm, ligg, n, v, aa

6 – O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A representação correta da


subdivisão do tronco, não necessariamente na ordem estudada, é representada pela opção:

( ) dorso, tórax, abdome e pescoço


( ) dorso, abdome, pescoço e braço
( x ) dorso, abdome, pelve e tórax
( ) dorso, braço, tórax e abdome
( ) dorso, tórax, pelve e braço

7 – Em uma comunidade foram observados indivíduos com as seguintes características: O Sr. José nasceu
com sua língua desenhada, conhecida como língua geográfica (Eritema migratório lingual), contudo o órgão
não apresentou prejuízos relacionados ao sentido do paladar, à deglutição dos alimentos ou a formação
dos fonemas na fala. A D. Maria tem seis dedos na mão direita. Juliana, nasceu viva, e infelizmente, sua
deficiência (agenesia, não formação do encéfalo), acabou evoluindo para óbito em poucos dias após o
parto. Classifique, dentro dos conceitos estudados, as características descritas do Sr. José, da D. Maria e da
Juliana, respectivamente.

( ) variação anatômica, monstruosidade e anomalia


( ) anomalia, monstruosidade e variação anatômica
( ) anomalia, anomalia e monstruosidade
( x ) variação anatômica, anomalia e monstruosidade
( ) anomalia, variação anatômica e monstruosidade

8 – Para evitar que a posição das estruturas anatômicas sejam descritas de formas variadas, instituiu-se
uma posição padronizada, a posição anatômica. Dos itens elencados, qual representa com fidelidade essa
posição?

( x ) indivíduo em pé, ereto, com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para o horizonte, membros
superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para frente, membros inferiores
unidos, com as pontas dos pés dirigidos para frente
( ) indivíduo em pé, ereto, com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para sua lateral direita,
membros superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para frente, membros
inferiores unidos, com as pontas dos pés dirigidos para frente
( ) indivíduo em pé, ereto, com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para sua lateral direita,
membros superiores estendidos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para trás, membros
inferiores unidos, com as pontas dos pés dirigidos para frente
( ) indivíduo em pé, ereto, com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para o horizonte, membros
superiores contraídos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para trás, membros inferiores unidos,
com as pontas dos pés dirigidos para frente
( ) indivíduo em pé, ereto, com a face voltada para a frente, o olhar dirigido para o horizonte, membros
superiores contraídos, aplicados ao tronco e com as palmas voltadas para frente, membros inferiores
unidos, com as pontas dos pés dirigidos para frente

9 – O plano que divide o corpo humano em metades direita e esquerda, é denominado ..... ou sagital. O
plano que é paralelo ao plano anterior e posterior tem sua secção chamada ..... o plano que é paralelo ao
plano cranial e caudal tem sua secção denominada ..... O estudo dos planos de secção do corpo humano
completa os pontilhados, na sua ordem, da seguinte maneira:

( ) transversal, frontal e mediano


( ) frontal, mediano e transversal
( x ) mediano, frontal e transversal
( ) mediano, transversal e frontal
( ) transversal, mediano e frontal

10 – O esqueleto pode ser dividido em duas grandes porções. Uma mediana, formando o eixo do corpo
com ossos (da cabeça, do pescoço e do tronco) que ficam próximos ou no próprio eixo central. Outra é
formada pela reunião dos ossos dos membros superiores, inferiores e os elementos de apoio, denominados
cíngulos, que os conectam ao tronco. Qual o nome dado a essa divisão, respectivamente?

( ) central e periférico
( x ) axial e apendicular
( ) axial e mediano
( ) central e mediano
( ) central e apendicular

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