Sócrates
Sócrates
Sócrates
Nesta monografia, tive por intenção fazer uma análise da pedagogia de Sócrates e
as consequências da mesma, tomando por base para minha pesquisa a Apologia de
Sócrates, escrita por Platão, visto que, Sócrates nada escreveu. No tribunal, Sócrates de
início, faz um relato sobre acusações antigas feitas por Meleto, um dos cidadãos
poderosos de Atenas. As acusações tinham, como uma das referências, a peça As
Nuvens, escrita pelo comediógrafo Aristófanes que contribuiu para a má fama de Sócrates.
Ao esclarecer todos os pormenores de todas as acusações, Sócrates agora relata o
momento mais importante de sua vida: o episódio do oráculo do deus de Delfos, Apolo. A
partir de tal episódio, Sócrates exerce sua pedagogia quando é declarado pelo oráculo o
mais sábio dentre os homens. Para por à prova a declaração do oráculo, Sócrates
interroga os homens ditos mais sábios e ao chegar à conclusão que esses homens só
tinham o conhecimento restrito de sua área, Sócrates revela-lhes a sua ignorância e
acaba assim despertando o ódio de tais homens contra si. Sócrates então reconhece ser
mais sábio que aqueles homens por não ter a pretensão de saber e, por isso, dizia: “só
sei que nada sei”. A partir desse momento, Sócrates, por ser obediente às leis e aos
deuses, resolve assumir a sua missão de interrogar todos os homens revelando-lhes a
sua ignorância, levando-os a buscar o autoconhecimento, fazendo-os pensar por si
próprios. Sócrates emprega o método maiêutica (do grego: maieutiké), que significa: arte
do parto. O método consistia em perguntas e respostas, no qual Sócrates desempenhava
a função de parteiro, só que de ideias, fazendo uma analogia à profissão materna
(parteira). Então, àqueles que se deixassem interrogar e aceitassem os ensinamentos
socráticos, estariam aceitando consequentemente a sua doutrina que tinha como
princípios: “conheça-te a ti mesmo” e “cuida de ti mesmo”. E uma vez, pondo em prática a
doutrina, estariam aptos a cuidarem da alma, conquistando sua autonomia, tornando-se
cidadãos livres. Todos esses relatos feitos na Apologia tiveram como consequência a
condenação de Sócrates.
Dedicatória.................................................................................................2
Agradecimentos.........................................................................................3
Resumo......................................................................................................4
Introdução...................................................................................................6
Conclusão...................................................................................................30
Bibliografia..................................................................................................33
Índice..........................................................................................................36
Introdução
Mesmo com tantos escritos sobre o filósofo Sócrates, ainda assim, pelo fato dele
não nos deixar nada escrito, nos são suscitadas muitas dúvidas com relação à sua
identidade. Quanto a essa questão, Giovanni Reale diz:
1
Marcondes, Danilo. Iniciação à história da Filosofia dos Pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Ed.
Zahar, 2010, pg 45.
2
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 81.
descreve uma fase de transição entre os diálogos da juventude de Platão e os
intermediários, na qual Platão daria início à introdução de partes das suas ideias nos
diálogos socráticos, estabelecendo com essa atitude uma mudança no Sócrates histórico.
Esses diálogos são: Eutidemo, Hípias Maior, Lísis, Menexemo, Mênon. Nos diálogos
intermediários, Platão introduz a teoria das ideias, marcando com essa atitude, o
rompimento com as doutrinas do mestre, passando a se opor a elas. Os diálogos
intermediários são: Crátilo, Fédon, Symposium (Banquete), República (livro II – X), Fedro,
Parmênides e Teeteto.3
3
Vlastos, Gregory. Socrates: Ironist and Moral Philoshoper. Melborne, Austrália: Cambridge University
Press, 1991, pg 46 - 47.
4
Vlastos, Gregory. Ibidem, pg 47 - 49
5
Vlastos, Gregory. Idem
complexo modelo de alma tripartida composta de: racionalidade, paixão e desejo;
Sócrates, nessa fase, já havia dominado todas as ciências do seu tempo; a concepção da
filosofia de Sócrates era elitista; Sócrates tem uma visão política elaborada que classifica,
em ordem de constituição, a democracia como a pior forma de governo contemporâneo,
abaixo da timocracia e da oligarquia, preferível somente a tirania; ele tinha uma base
metafísica no amor para transcendência da forma da beleza que é totalmente deficiente
do padrão; a forma pessoal da religião de Sócrates é centrada na comunhão com as
divinas, mas impessoais, formas, ou seja, ela é mística realizada em contemplação; na
sequência dos diálogos de Mênon até Fedro, Sócrates é um filósofo didático, expondo a
verdade para seus interlocutores que consentiam com ele, consequentemente a teoria
metafísica dos díalogos precedentes do período de transição, está sujeita à procurar pela
crítica presente no diálogo Parmênides, e então, Sócrates experimenta um novo começo,
mudando para um novo método maiêutico, modo de investigação presente no diálogo
Teeteto.
Vede, pelo contrário, o que ele nos dá: nada como o corpo e suas
concupiscências para provocar o aparecimento de guerras, dissenções, batalhas;
com efeito na posse de bens é que reside a origem de todas as guerras, e, somos
irresistivelmente impelidos a amontoar bens, fazemo-lo por causa do corpo, de
quem somos míseros escravos!
A comédia As Nuvens, como já havia citado no início, foi uma das referências
usadas para contribuir com as acusações antigas e difamações contra o filósofo Sócrates.
A caricatura de Sócrates era de um homem amoral, andarilho, sem paciência com
aqueles que dialogavam, um homem interesseiro que fazia tudo visando unicamente o
lucro, inclusive, ensinar.
Estrepsíades
(muito espantado)
[...] Então venha, meu Socratezinho, desça aqui para ensinar-me aquilo que vim
procurar...
Sócrates
(descendo)
Mas a que veio você?
Estrepsíades
Porque desejo aprender a falar. Com efeito, estou sendo saqueado, pilhado e
penhorado nos meus bens, por credores e juros muito cacetes...
Sócrates
E como você não percebeu que se endividava?
Estrepsíades
Foi uma doença de cavalos que me arruinou, terrível, devoradora...mas ensine-me
o outro dos seus dois raciocínios, aquele que não devolve nada. Pelos deuses,
juro pagar-lhe qualquer salário que você cobrar...
Sócrates
Por quais deuses você pretende jurar? Para começar, em nosso meio os deuses
são moedas fora de circulação...
Fidípides
Mas quem são eles?
Estrepsíades
Não sei ao certo seu nome (Solenemente). São pensadores meditabundos, gente
de bem!
Fidípides
Ah! Já sei, uns coitados! Você está falando desses charlatães, pálidos e descalços,
entre os quais o funesto Sócrates e Querefonte...
Neste comédia, a caricatura feita de Sócrates pelo comediógrafo não tem nada em
comum com o Sócrates de 70 anos apresentado por Platão no tribunal durante a sua
apologia. Nos versos 635-645 a atuação da personagem Sócrates, justifica a má fama
atribuída na peça As Nuvens:
Sócrates
Então vamos, o que é que você deseja aprender agora mesmo, em
primeiro lugar, daquelas coisas que nunca lhe ensinarão? Diga-me, serão por
acaso as medidas, os versos ou os ritmos?
Estrepsíades
As medidas, eu sim! Pois há pouco fui tapeado por um mercador de farinha numa
medida dupla...
Sócrates
Não é isso que lhe pergunto, mas que medida você julga mais bela, o trímetro ou
tetrâmetro?
Estrepsíades
Nada me parece superior ao quartilho...
Sócrates
Você diz tolices!
Estrepsíades
Então aposte comigo que o quartilho não tem quatro medidas...
Sócrates
Vá pro inferno! Como você é bronco e totalmente ignorante! Hum, talvez possa
aprender os ritmos mais depressa!...
Como já foi dito no início, a comédia As Nuvens, serviu como base para que o
poeta Meleto fundamentasse suas acusações contra o filósofo Sócrates com relação à
sua participação e ensino de doutrinas naturais aos cidadãos atenienses (Apologia 19b-c).
Para esclarecer essa questão, Sócrates, segundo Platão (Apologia 19c-d), faz um relato a
todos os presentes no tribunal, justificando a sua não participação em tais doutrinas
naturais:
[...] Não será desse crime que me há de condenar Meleto – mas a verdade é que
não tenho deles, atenienses, a mais vaga noção. Invoco o testemunho da maioria
de vós mesmos, pedindo aqueles que alguma vez ouviram minhas conversas – há
muitos deles entre vós. Dizei-os, pois mutuamente, a ver se algum de vós me
ouviu alguma vez discorrer, por pouco que fosse, sobre tais assuntos.
Se na Apologia, segundo Platão, Sócrates não admitia ter tido qualquer
envolvimento com as doutrinas naturais, no diálogo Fédon (97b-98c), Platão apresenta
um Sócrates que em um determinado tempo de sua vida, provavelmente na juventude, se
entusiasmou pela obra de um filósofo chamado Anaxágoras, ao ler a seguinte frase
(Fédon 19b): “O espírito é ordenador e causa de todas as coisas”. Ao analisar a obra de
Anaxágoras, toda a esperança depositada nos ensinamentos deste filósofo foi afastada,
quando ele percebeu o absurdo contido nessa obra. Com relação a isso, Sócrates diz, no
Fédon (98c):
À medida que avançava e ia estudando mais e mais, notava que esse homem não
fazia nem um uso do espírito nem lhe atribuía papel algum como causa na ordem
do universo, indo procura tal causalidade no éter, no ar, na água, em muitas
outras coisas absurdas.
Portanto, mesmo que Sócrates tenha participado por um tempo de tais doutrinas, é
muita incoerência por parte dos cidadãos influentes de Atenas se basearem em tais
questões para desmoralizá-lo. Portanto, quando tais cidadãos o condenam, Sócrates faz
uma observação quanto a isto na Apologia (39d):
Serão mais numerosos, os que vos pedirão contas; até agora eu os continha e vós
não percebíeis; eles serão tanto mais importunos quanto são mais jovens, e vossa
irritação será maior. Se imaginas que, matando homens, evitareis que alguém vos
repreenda a má vida, estás enganados, essa não é uma forma de libertação, nem
é inteiramente eficaz, nem honrosa; esta outra, sim, é a mais honrosa e mais fácil;
em vez de tapar a boca dos outros, preparar-se para ser o melhor possível. Com
este vaticínio, despeço-me de vós que me condenastes.
Para que fique mais clara a questão da participação, ou não, de Sócrates em
doutrinas naturais e o ensinamento das mesmas, Giovanni Reale diz:
Não é mais possível estabelecer com segurança quanto tempo duraram essas
experiências naturalistas de Sócrates: Aristófanes que, como já dissemos,
apresenta Sócrates em torno dos 40 anos, atribui-lhe ainda uma série de ligações
(algumas vezes bastante precisas) com certas doutrinas de físicos. Uma coisa,
todavia, parece certa ou, pelo menos, provável, isto é, que Sócrates jamais ficou
satisfeito com essas pesquisas e que, por consequência, jamais fez delas objeto
de seu ensinamento.6
Na Apologia (20c-e), podemos notar que há uma saída de toda a problemática
envolvendo Sócrates com relação a sua participação, ou não, em doutrinas naturais para
a questão do homem. Toda essa mudança do filósofo é marcada pelo episódio do oráculo
do deus de Delfos, que segundo relatos feitos por Platão, foi o fato mais marcante da vida
de Sócrates, direcionando-o para as questões que dizem respeito ao homem, a sua
essência, sua alma.
6
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 90.
Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho
consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar
declarando-me o mais sábio? Naturalmente não está mentindo, porque isso lhe é
impossível.
Sócrates, então, resolve por à prova a resposta da pitonisa quando afirmou que ele
era o homem mais sábio. E saiu examinando todos aqueles que se consideravam sábios,
tais como: os poetas, oradores, políticos e artífices. Ele constatou que estava enganado,
pois os que sabiam alguma coisa específica, por exemplo, o político sobre política,
tornavam-se arrogantes, presunçosos e acreditavam saber todas as coisas, quando, na
verdade, pouco ou nada sabiam. E foi por ter a atitude de revelar a esses homens toda a
sua ignorância, que ele estava ali no tribunal, narrando todo o acontecido, responsável
por provocar contra ele o ódio e as calúnias que deram origens a tais acusações:
corromper a juventude e ser injusto com os deuses da cidade, investigar tudo o que há
sobre a terra e nos céus dentre outros.
[...] De Platão, extrai-se, ademais, que Deus, além de um cuidado genérico por
todos os homens, tem um cuidado particular pelo homem bom (note-se: não para
cada homem individual – tese que permaneceu estranha à grecidade – mas só
pelo homem virtuoso). É natural, portanto, que no contexto dessa crença, Sócrates
situasse a própria experiência do daimónion: trata-se ao seu ver de um
particularíssimo sinal com o qual, a ele que tendia com todas as suas forças ao
bem, em outras ocasiões, a Divindade providente, indicava a via certa.7
7
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 133.
O filósofo também foi acusado de ter participado e ensinado sobre doutrinas
naturais, como já havia esclarecido no início dessa tese.
Por isso, se para Sócrates, a alma era o próprio homem, ele não se cansava em
investigá-los, em torná-los livres e auxiliá-los a conquistarem, assim, a sua autonomia.
Para Sócrates, a alma poderia ser entendida como sede da razão, a nossa consciência
pensante e operante. Quanto a isso, Giovanni Reale complementa: “Em poucas palavras:
para Sócrates, a alma é o eu consciente, é a personalidade intelectual e moral” 9.
Atenienses, eu vos sou reconhecido e vos quero bem, mas obedecerei antes ao
deus que a vós, enquanto tiver alento e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar,
de vos dirigir exortações, de ministrar ensinamentos em toda a ocasião àquele de
vós que eu deparar, dizendo-lhe o que costumo: “Meu caro, tu, um ateniense, da
cidade mais importante e mais reputada por sua cultura e poderio, não te pejas de
cuidar de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares
nem cogitares da razão, da verdade e de melhorar a alma?... E eu acredito que
jamais aconteceu à cidade maior bem que minha obediência ao deus”.
Com a atitude de ministrar ensinamentos, Sócrates tinha como objetivo principal,
fazer com que os homens assumissem um compromisso com a ética, a moral e a busca
da verdade para que assim, os mesmos pudessem cuidar de sua própria alma. E no seu
afã em fazer com que os homens tivessem um conhecimento da virtude, Sócrates diz
(Apologia 30b):
Outra coisa não faço se não andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não
cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais
8
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores.Tradução de Marcelo Perine. São Paulo:
Ed. Loyola, 2009, pg 92.
9
Reale, Giovanni. Ibidem, pg 93.
possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os homens,
mas da virtude vem os haveres e todos os outros bens particulares e públicos.
Com essas palavras, o filósofo deixa claro nesse ponto do seu discurso, a
existência de uma necessidade primordial de cuidar das coisas do caráter. Quando ele se
refere à questão dos valores, ele está falando propriamente da questão do homem. Não
os bens possuídos por este: honrarias, fortuna, filhos, dinheiro, mas o que ele é
Para Sócrates, o seu magistério, a sua pedagogia, tinha como objetivo, motivar os
cidadãos a buscarem o conhecimento da virtude, areté. Por isso, na Apologia (31b),
Sócrates relata a importância de persuadir os homens a cuidar da virtude:
Podeis reconhecer que sou um homem bom, um homem dado pelo deus à cidade
por esta reflexão: não é conforme à natureza do homem que eu tenho
negligenciado todos os meus interesses, sofrendo a anos, as consequências
desse abandono do que é meu, para me ocupar do que diz respeito a vós,
dirigindo-me sem cessar a cada um em particular, como um pai ou um irmão mais
velho, para persuadir a cuidar da virtude.
A persuasão usada por Sócrates, não é um simples ensinar, ele usa uma
racionalização que fomenta cada homem buscar o conhecimento da virtude com uma
base, uma fundamentação e uma justificação. Dessa forma, tudo que foi relatado pelos
discípulos de Sócrates, nos faz entender que só assim o homem poderá conquistar sua
verdadeira liberdade e autonomia.
Não se cuida da alma do homem com arengas dirigidas a massas ouvintes, nas
quais a individualidade de quem ouve é, como tal, quase totalmente descuidada e
ignorada, e se não se cuida com discursos em benefícios do mestre ou quem se
crê tal: da alma, da alma individual, só se cuida com diá-logo, ou seja, com o logos
que, procedendo por perguntas e respostas, envolve efetivamente mestre e
discípulo numa experiência espiritual única de pesquisa comum da verdade.10
O método desenvolvido por Sócrates chamava-se maiêutica (maieutiké), a arte de
fazer parto, em grego, em alusão a profissão materna de parteira. Vamos, no que segue,
descrever melhor que arte é esta.
10
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 138.
Capítulo II - Método Socrático
Definição do Método
O método socrático era desenvolvido por meio de diálogos críticos com seus
interlocutores. O filósofo estabelecia dois momentos básicos, dividindo esses diálogos
em: ironia e maiêutica. “Para interpretá-lo corretamente é preciso que nos remetamos ao
novo conceito de psyché: A alma e o cuidado da alma” 11
. Assim, realmente
entenderemos o uso da dialética de Sócrates e a sua finalidade. O método socrático,
sendo aplicado com essa finalidade, marca toda a diferença entre o método usado pelos
sofistas voltado também para a problemática do homem, mas que não tinha o mesmo
compromisso que Sócrates. Porque o objetivo do filósofo de cuidar da alma humana tinha
uma relação com o seu compromisso assumido com o deus de Delfos.
Sócrates não tinha interesses à parte, ele queria servir única e exclusivamente ao
deus (Apologia 33c): “Mas, repito, faço por uma determinação divina, vinda não só através
do oráculo, mas também de sonhos e de todas as vias pelas quais o homem recebe
ordens dos deuses”. O filósofo não se autointitulava mestre e nem tinha a intenção de
apresentar discursos elaborados para se vangloriar dos mesmos. Quanto a isto, no
tribunal, durante o seu discurso, ele diz, segundo Platão, na Apologia (33b):
11
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 138.
Ironia
A ironia(do grego: eironeia: dissimulação) socrática era evidenciada pelo não saber.
Nesse ponto do diálogo, Sócrates finge não saber, dissimula, é como se usasse uma
máscara, como se zombasse do interlocutor. Não faz isso com a intenção de ridicularizá-
lo, porém com o objetivo de despertar os homens e fazê-los refletir, por isso, Sócrates
interrogava todos os seus interlocutores com a intenção de mostrar-lhes que eles
pensavam saber, mas na verdade não sabiam o que pensavam saber. E sendo assim, à
medida que o diálogo transcorria, ele atacava com muita habilidade, as respostas de seus
interlocutores. Então, com raciocínio colocava em evidência as contradições e os novos
problemas que, com certeza, iriam surgir a cada resposta.
Mas com que objetivo Sócrates fazia tudo isso? De início, ele tinha por meta
principal demolir, em todos aqueles que se deixassem investigar, o orgulho, a presunção
e a arrogância por pensar saber mais que os outros. Para Sócrates, a primeira virtude do
sábio, seria adquirir consciência da sua ignorância. Por isso mesmo ele dizia: “só sei que
nada sei”.
Para Gregory Vlastos, a ironia socrática poderia ser definida como uma
ingenuidade hipócrita, ou seja, uma nova forma de ironia, não existente na literatura grega.
Segundo ele, seria uma ironia mais complexa, não comparada à ironia no seu sentido
mais utilizado, uma ironia mais simples; ele faz a seguinte distinção para que fique mais
claro: uma ironia simples seria aquela que dá um sentido diferente do usual, porém na
complexa, o sentido é de todo ambíguo, ou seja, verdadeiro por um lado e falso pelo outro.
12
Marcondes, Danilo. Iniciação à história da Filosofia dos Pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Ed.
Zahar, 2010, pg 47- 48.
Vlastos define o Sócrates irônico, como um homem que vive atrás de uma máscara,
uma figura enigmática, um homem que ninguém conhece. Porém, não quer dizer que o
filósofo usava de tal recurso para enganar, porque ser reservado e enganador não seriam,
para Vlastos, a mesma coisa. Essa atitude seria semelhante ao esconder e não ao iludir.
Quanto a essa figura enigmática apresentada pelo filósofo na ironia, Vlastos cita a
personagem Alcibíades no Banquete de Platão (216c-d) ao descrevê-lo: “[...] Pois ficai
sabendo que ninguém o conhece”. Para entender melhor a fala de Alcibíades, quanto à
descrição do Sócrates irônico, citarei uma parte maior do mesmo trecho (Banquete 216c-
d):
[...] De seus flauteios então, tais foram as reações que eu e muitos outros tivemos
deste sátiro; mas ouvi-me como ele é semelhante àqueles com quem o comparei,
que poder maravilhoso ele tem. Pois ficai sabendo que ninguém o conhece; mas
eu o revelarei, já que comecei. Estais vendo, com efeito, como Sócrates
amorosamente se comporta com os belos jovens, está sempre ao redor deles, fica
aturdido e como também ignora tudo e nada sabe.
Com isso, Sócrates através da ironia, o fazia passar por um processo de revisão de
suas afirmações mal estruturadas, confusas e vazias, transformando o seu modo de ver
as coisas e permitindo com que o interlocutor pudesse, por si mesmo, buscar o
conhecimento verdadeiro. No diálogo Teeteto (210c), há uma definição precisa sobre
esse momento da ironia descrito acima, quando Sócrates diz:
Mas, Teeteto, se você voltar a conceber, estará mais preparado após esta
investigação, ou ao menos terá uma atitude mais sóbria, humilde e tolerante em
relação aos outros homens, e será suficientemente modesto para não supor que
sabe aquilo que não sabe.
Sócrates nessa parte do diálogo, não tem como intenção destruir o conteúdo de
todas as respostas dadas pelos seus interlocutores, mas fazê-los tomar consciência
realmente de suas próprias respostas, das consequências que poderiam ser tiradas a
partir de suas reflexões, na maioria das vezes, repletas de conceitos vagos e imprecisos,
que os mesmos não se davam conta.
Quanto a aporia presente nos diálogos socráticos, Manoel García Morente, define o
seguinte:
Nenhum dos diálogos de Sócrates que nos conservou Platão – onde reproduz
com bastante exatidão os espetáculos ou cenas que presenciara – consegue
chegar a uma solução satisfatória; todos se interrompem, como dando a entender
que o trabalho de continuar perguntando e continuar encontrando dificuldades,
interrogações e mistérios na última definição dada, não pode acabar nunca.13
Maiêutica
Como sua mãe, que era parteira, assim também Sócrates julgava ser destinado a
não produzir o conhecimento, porém parturejar as ideias provindas de seus interlocutores.
Sendo a parteira grega, uma mulher que já não podia mais procriar, era estéril, e por isso,
dava a luz aos corpos de outra fonte, julgando serem belos ou não, Sócrates diz o
seguinte nesta passagem no Teeteto (150c):
13
García Morente, Manuel. Fundamentos da Filosofia I: lições preliminares. Tradução de Guilhermo de la
Cruz Coronado. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1980, pg 38.
Mênon – Sócrates, mesmo antes de estabelecer relações contigo, já ouvia (dizer)
que nada fazer senão caíres tu mesmo em aporia, e levares também outros a cair
em aporia. E agora, está me parecendo, me enfeitiças e drogas, e me tens
simplesmente sob completo encanto, de tal modo que me encontro repleto de
aporia. E, se também é permitida uma pequena troça, tu me pareces, inteiramente,
ser semelhante, a mais não poder, tanto pelo aspecto como pelo mais, à raia
elétria, aquele peixe marinho achatado. Pois tanto ela entorpece quem dela se
aproxima e a toca, quanto tu pareces ter-me feito agora algo desse tipo. Pois
verdadeiramente eu, de minha parte, estou entorpecido, na alma e na boca, e não
sei o que te responder. E, no entanto, sim, miríades de vezes, sobre a virtude,
pronunciei numerosos discursos, para multidões, e muito bem, como pelo menos
me parecia. Mas agora, nem sequer o que ela é, absolutamente, sei dizer.
Realmente, parece-me teres tomado uma boa resolução, não embarcando em
alguma viagem marítima, e não te ausentando aqui. Pois se, como estrangeiro,
fizesses coisas desse tipo em outra cidade, rapidamente serias levado ao tribunal
como feiticeiro.
Neste trecho do diálogo Mênon de Platão, a personagem homônima ao diálogo, é
um interlocutor em crise, porque as suas ideias foram confundidas por Sócrates, que
segundo ele era um homem que vivia em contínua aporia. A princípio os interlocutores de
Sócrates, assim como Mênon, pensando tudo saber, têm plena segurança e certeza que
vão responder corretamente todas as perguntas feitas pelo filósofo. No momento, em que
se segue o diálogo, ao terem suas ideias ofuscadas pela falta de novas certezas, nas
quais pudessem se agarrar no momento da aporia, acusam Sócrates de ser um feiticeiro,
um impostor. Consequentemente, Sócrates adquiriu muita aversão e inimizades desses
homens e adquiriu a fama de ser um semeador de dúvidas.
O que Sócrates pede com afã aos cidadãos de Atenas é que lhe dêem o logos da
justiça, o logos da coragem. Dar e pedir o logos é a operação que Sócrates pratica
diariamente pelas ruas de Atenas. Pois que é este logos senão o hoje
denominamos conceito? Este é o conceito. Quando Sócrates pede o logos,
quando pede que indiquem qual o logos da justiça, o que é a justiça, o que pede é
o conceito de justiça, a definição da justiça. Quando pede o logos da coragem, o
que pede é o conceito da coragem. Mas, para Sócrates, o interesse fundamental
da filosofia era a moral: Chegar a ter das virtudes e da conduta do homem
conceitos tão puros e tão perfeitos, que a moral pudesse ser apreendida e
ensinada, como se aprende e se ensinam as matemáticas, e que por conseguinte
ninguém fosse mal. Porque a convicção de Sócrates é que aquele que é mal é
porque não sabe.14
Todo o empenho de Sócrates, demonstrado até aqui, tinha um objetivo: que o
homem pudesse cuidar de sua alma, que adquirisse o conhecimento da virtude e assim,
conquistasse a sua autonomia, expressando as suas próprias ideias e cuidando de si
mesmo. Para isso, os seguidores de Sócrates tinham conhecimento de sua doutrina,
apresentado como pontos básicos: “conheça-te a ti mesmo” (gnôthi seautón) e “cuide de
ti mesmo” (epimeléia heautoû).
Ao se considerar investido pelo deus de Delfos e mudar a sua vida de forma radical,
Sócrates tem como objetivo principal que cidadãos atenienses obtenham o conhecimento
da virtude e assim, conheçam a si mesmos e cuidem de si mesmos. Durante a Apologia,
mesmo condenado à morte, Sócrates põe em evidência a importância do cuidado com a
virtude, ao se dirigir aos juízes que não viram razões para condená-lo, ele faz um pedido
(41d-42a):
Contudo, só tenho um pedido que lhes faço: quando meus filhos crescerem,
castigai-os, atormentai-os com os mesmíssimos tormentos que eu vos infligi, se
achardes que eles estejam cuidando mais da riqueza ou de outra coisa que da
virtude; se estiverem supondo ter um valor que não tenham, repreendei-os, como
vos fiz eu, por não cuidarem do que devem e por suporem méritos, sem ter
nenhum. Se vós o fizerdes, eu terei recebido de vós justiça; eu, e meus filhos
também.
Cuidando da virtude, todo homem, com certeza, segundo Sócrates, teria condições
de ter o conhecimento de si próprio e com isso cuidariam de si próprios também. Quando
o homem tem o conhecimento de si próprio, não quer dizer propriamente que seja o
conhecimento do corpo ou do seu nome, mas o conhecimento da sua própria alma. Todos
os princípios difundidos na doutrina socrática se resumiam nessas proposições: “conheça-
te a ti mesmo” e “cuide de ti mesmo”.
14
García Morente, Manuel. Fundamentos da Filosofia I: lições preliminares. Tradução de Guilhermo de la
Cruz Coronado. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1980, pg 87.
Xenofonte, em Memoráveis IV (capítulo II, 24 - 40), narra um diálogo de Sócrates e
Eutidemo, que era o homem com costume de se vangloriar de ter recebido excelente
educação, de possuir vasta coleção de livros e de ter planos para fazer parte de um cargo
importante no Estado. Com esse homem, Sócrates dialoga sobre vários assuntos,
inclusive, sobre a questão do autoconhecimento, no seguinte trecho:
Sócrates – Vamos, dize-me, com que arte podemos cuidar de nós mesmos.
Alcibíades – Não saberei dizer.
Sócrates – Nisso, contudo, estamos de acordo: não com uma arte com a qual
poderemos tornar melhores qualquer uma das nossas coisas, mas com a arte que
tornará melhores a nós mesmos?
Alcibíades – É verdade.
Sócrates – Ora, teríamos conhecido qual a arte que torna melhor os calçados, se
não conhecêssemos o calçado?
Alcibíades – Impossível.
Sócrates – Nem a arte que torna melhores os anéis, se ignorássemos o anel?
Alcibíades – É verdade.
Sócrates – E então? Jamais poderemos saber qual é a arte de tornar melhores a
nós mesmos, se ignoramos o que nós mesmos somos.
Alcibíades – Impossível.
Sócrates – E, portanto, conhecer a si mesmo é uma coisa fácil e era talvez o
homem qualquer aquele que, no templo de Delfos consagrou aquele mote? Ou é,
ao invés, uma coisa difícil e não para todos?
Alcibíades – A mim, Sócrates, amiúde pareceu ser coisa de todos normalmente
dificílima.
Sócrates – Mas, ó Alcibíades, fácil ou não, para nós é assim: se nos conhecermos,
saberemos talvez também qual é o cuidado que devemos ter com nós mesmos; se
não nos conhecermos, jamais o saberemos.
Alcibíades – Assim é.
Sócrates – Dize-me, pois, de que modo, poder-se-ia encontrar o que é esse “si
mesmo”?
Sócrates – [...] E não se serve o homem de todo o corpo?
Alcibíades – Certo.
Sócrates – Mas, não dissemos que uma coisa é quem se serve de algo, outra
coisa é aquilo de que ele se serve?
Alcibíades – Sim.
Sócrates – Uma coisa, portanto, é o homem, outra o seu corpo.
Alcibíades – Parece que sim.
Sócrates – Que é, pois, o homem?
Alcibíades – Não sei dizer.
Sócrates – Isso, porém, podes dizer, que ele é o que se serve do corpo.
Alcibíades – Sim.
Sócrates – E o que é que se serve do corpo se não a alma?
Alcibíades – Não é outra coisa [...].
Sócrates – A alma, portanto, nos ordena conhecer quem nos admoesta: “conheça-
te a ti mesmo”.
Na passagem do diálogo de Platão Alcibíades Maior(128d-130e), Sócrates
conceitua o corpo como instrumento da alma, ou seja, o homem se serve do corpo, porém
a alma exerce um papel de grande importância, porque se dela nos descuidarmos, não
teremos como nos autoconhecermos, permanecendo assim, na ignorância. O que
Sócrates está querendo deixar evidente para Alcibíades, no diálogo, é que: a única coisa
importante para qual ele deve se voltar, é para o cuidado de si mesmo, ou seja, o cuidado
de sua própria alma.
No diálogo com Eutidemo, Sócrates, mostra claramente que os homens erram pela
falta de conhecimento porque, para Sócrates, o conhecimento tem um valor supremo,
portanto, é a partir do mesmo que a alma pode ser do modo como deve ser e, com isso,
há uma realização do homem porque a sua essência está na alma. Quando Sócrates é
tocado pelo episódio do oráculo, ele não mede esforços para ressaltar a importância do
cuidado necessário com a alma, para o homem poder conquistar a sua autonomia e
assim, tornar-se livre.
Toda doutrina socrática tem como propósito um cuidado com a alma, com a
conversão do homem, para estabelecer uma verdadeira mudança em sua vida. Na sua
apologia, à medida que seu discurso vai transcorrendo, Sócrates evidencia que todo o
seu empenho é devido ao compromisso com o deus Apolo em despertar os cidadãos para
a necessidade do cuidado com a alma. Mas por quê? Porque, para Sócrates, a alma era o
próprio homem, por isso ele não hesitou em cumprir a sua missão até o fim, mesmo isso
lhe custando à própria vida. Através dos seus preceitos, saía pelas ruas de Atenas,
interrogando todos os cidadãos sem fazer distinção de classe social ou sexo.
O preceito délfico “conheça-te a ti mesmo” foi o ponto de partida para exortar os
atenienses a buscarem o autoconhecimento, saindo da ignorância para valorizarem a
importância da alma e estarem aptos a cuidar de si mesmo. A doutrina socrática, sendo
aplicada dessa forma, adquiria um caráter subversivo, porque os argumentos da razão
postulados por ele evocavam novos valores que iam de encontro com os tradicionais. E
assim, surgiria então uma nova Pólis e, com certeza, os cidadãos poderosos do Estado
sentir-se-iam incomodados com o filósofo por ele ter alertado o povo ministrando-lhes
ensinamentos com esse propósito.
Sócrates era veemente, renitente e, por isso, renunciou a si próprio para cumprir a
sua missão de guiar os cidadãos no sentido de transformar a sua alma através do
conhecimento da virtude. O que mais marca no cumprimento da missão socrática é a sua
determinação: ele pregava incansavelmente pelas ruas de Atenas sem temer qualquer
represália, tudo isso, com a finalidade de transformar, a cidade que ele tanto amava, com
seu senso crítico em uma Pólis mais justa para o povo ateniense. Tudo isso está
explicitado nesta passagem, quando ele diz na Apologia (30b-c):
A vida do homem adquire o seu justo sentido só agora, porque a própria “vida
órfica” e a “vida pitagórica” com sua doutrina da “purificação”, em substância,
tendiam a purificar uma alma-demônio que era diferente do eu, da consciência, do
sujeito, cindindo assim e dilacerando a unidade do homem. 16
Assim durante a apologia, Sócrates demonstra por várias vezes, a importância do
cuidado da alma, abdicando das paixões, de tudo o que é ilusório e efêmero. Tudo que é
prazeroso ao corpo nos distanciaria da alma. O corpo seria um grande obstáculo para o
homem adquirir a sua autonomia, porque essa só seria possível, com a saída da
ignorância e, permanecendo apegado a todos os prazeres, o corpo poderia proporcionar
segundo Sócrates, dessa forma, o homem estaria cada vez mais distante do
conhecimento. E no diálogo Fédon, Sócrates descreve o corpo como obstáculo para
adquirir o conhecimento da alma (66c-66d):
15
Reale, Giovanni. Sofistas, Sócrates e socráticos menores. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed.
Loyola, 2009, pg 92.
16
Reale, Giovanni. Ibidem, pg 93.
homem a possibilidade de abdicar de tudo que pudesse impedi-lo de tornar melhor sua
alma. Sócrates se empenhou muito para isso, porque era um filósofo e entendia o seu
papel e a sua função em mostrar aos homens a importância da persistência com relação
ao cuidado com a alma. Se o homem conseguisse ter esse domínio, então, com certeza,
a alma estaria a salvo. Ela estaria liberta e o filósofo então teria cumprido seu papel.
Na passagem 82b do diálogo Fédon, em que dialoga com Símias e Cébes, ele diz:
“Os mais felizes... serão aqueles cujas almas hão de ter um destino e lugar mais
agradáveis, serão aqueles que sempre exerceram essa virtude social e cívica que nós
chamamos de temperança e de justiça...”. Por isso, para definir todo o empenho que
Sócrates exerceu o seu magistério com intuito de instruir os homens a se voltarem para o
cuidado com a própria alma, Giovanni Reale descreve bem a atuação de Sócrates
durante o tempo dedicado ao magistério: “Filosofar para Sócrates, significava: examinar,
provar, curar, purificar a alma. Portanto, o valor infinito da alma de cada homem era o pilar
fundamental da filosofia e da educação socrática” 17.
17
Reale, Giovanni. Platão. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed. Loyola, 2007, pg 25
Conclusão
Sócrates foi um revolucionário mesmo não tendo usado de força física, mas de sua
palavra, usou de persuasão, essa foi a sua arma. Ele não fez distinção de pessoas, nem
de sexo, nem classe social. Ele permitiu a todos os homens a possibilidade de saírem da
ignorância e terem contatos com a filosofia e a partir daí, mudassem os valores adquiridos
até então. Cícero, em sua obra Tusculanae Disputationes (livro 5, capítulo 4), descreve a
missão pedagógica do filósofo Sócrates, da seguinte forma: “Ele foi o primeiro a tirar a
filosofia do pedestal, e a estabelecê-la nas cidades, e a introduzi-la nas casas das
pessoas e as forçá-las a investigar a vida comum, a ética, o bem e o mal.”
Durante os quatro anos de curso, tive que conviver com questões difíceis que me
levaram a tomar decisões, mudando o curso da minha história. Estava presa a um viver
que me entristecia, me oprimia e durante minha pesquisa, li uma citação do Giovanni
Reale sobre a mensagem de liberdade e de libertação com relação à revolução socrática
da tábua de valores, tal mensagem me remeteu ao que eu estava vivendo contribuindo
para uma reflexão mais profunda da minha própria vida, dando-me condições para tomar
uma decisão quanto ao que me afligia. Eis a citação:
Law, Stephen. Filosofia. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges: Ed. Zahar, 2011.
Marcondes, Danilo e Franco, Irley. A Filosofia: O que é? Para que serve? Rio de Janeiro:
Ed. Zahar: Ed. PUC-Rio, 2011.
Marcondes, Danilo e Japiassú, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Ed.
Zahar, 2008.
Platão. Mênon. Texto estabelecido e anotado por John Burnet; tradução de Maura Iglésias.
Rio de Janeiro: Ed. Loyola: Ed. PUC-Rio, 2001.
Platão. Os pensadores, Volume II, Defesa de Sócrates. Tradução de Jaime Bruna. São
Paulo: Ed. Abril,1972.
Platão. Os pensadores, Volume III, Diálogo Fédon. Tradução de Jaime Bruna. São Paulo:
Ed. Abril, 1972.
Platão. Diálogos, Volume IX, Diálogo Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém:
Universidade Federal do Pará, 1973.
Reale, Giovanni. Platão . Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Ed Loyola, 2007.
Vlastos, Gregory. Socrates: Ironist and Moral Philoshoper. Melborne, Austrália: Cambridge
University Press, 1991.
Xenofonte. Oeconomicus.
<https://ebooks.adelaide.edu.au/x/xenophon/x5oe/complete.html>
Xenofonte. Symposium.
<http://www.gutenberg.org/files/1181/1181-h/1181-h.htm>