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ESCOLA DE ENGENHARIA
Depto. de Engenharia de Materiais e Construção
Curso de Especialização em Construção Civil
Monografia
Janeiro/2012
ii
Belo Horizonte / MG
Escola de Engenharia da UFMG
2012
iii
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, ao Mestre da Vida: Senhor Jesus, autor e consumador da minha fé.
Aos meus amados pais, Maurício e Tânia, pelo amor, carinho, apoio e excelente
educação a mim transmitidos ao longo de todas as etapas da minha vida. À minha
irmã Érika, pela boa vontade em me auxiliar na revisão deste trabalho.
Ao meu caríssimo orientador, amigo e professor Aldo Giuntini, pela valiosa orientação,
pelos conselhos e pelo grande incentivo na minha carreira profissional.
Aos colegas do CECC: João Bosco, Joselito Lima e Izabel Anghinetti, pelo empenho
nos trabalhos em grupo, pela amizade e também pelos sonhos compartilhados.
Aos meus queridos “irmãos” da Igreja Cristã Maranata, pelas orações e pelas palavras
de ânimo e de encorajamento nos momentos difíceis.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 01
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS E JUSTIFICATIVA DO TRABALHO ..................................... 01
1.2 OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 02
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................... 02
1.4 LIMITAÇÕES DO TRABALHO ..................................................................................... 03
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................................... 03
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.7: Desgaste superficial por erosão em galeria pluvial em BH (MG). ............................ 16
Figura 2.11: Efeitos da implosão das bolhas de cavitação em bacia de dissipação. ................. 18
Figura 2.13: Típicas fissuras por retração plástica do concreto fresco ....................................... 21
Figura 2.25: Estrutura de concreto armado deteriorada pelo ataque de sulfatos. ...................... 39
Figura 2.47: Efeito da relação a/c sobre a carga total passante de cloretos. ............................. 68
Figura 2.48: Corrosão das armaduras de concreto armado por ataque de cloretos.... .............. 70
Figura 2.55: Corrosão eletroquímica por carbonatação e por ataque de cloretos. ..................... 79
Figura 2.56: Volumes relativos do ferro e de alguns de seus produtos de corrosão. ................. 80
x
Figura 2.57: Esforços radiais que levam à fissuração e destacamento do concreto .................. 80
Figura 2.58: Perda de seção na barra de aço da armadura, devido à corrosão ......................... 81
Figura 2.65: Origens dos problemas patológicos no ciclo de vida da estrutura .......................... 87
Figura 3.2: Localização das áreas afetadas através de teste à percussão. .............................. 97
Figura 3.7: Limpeza do aço corroído através de escova com cerdas de aço. ............................ 99
Figura 3.8: Aplicação de argamassa inibidora de corrosão nas armaduras. ............................ 100
Figura 3.15: Superfície reparada sem trincas em seu aspecto final. ........................................ 102
Figura 3.17: Aplicação de pintura com inibidor orgânico sobre a superfície ............................. 103
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.9: Teor limite de cloretos para algumas normas estrangeiras ..................................... 65
Tabela 2.10: Quantidade de cloretos livres em relação aos teores de C3A. ............................... 67
Tabela 2.13: Principais aspectos a serem controlados nos insumos do concreto ..................... 89
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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Com este trabalho, espera-se contribuir para um melhor entendimento dos fenômenos
patológicos que se manifestam nas estruturas de concreto armado de cimento
Portland. É importante que engenheiros civis e arquitetos conheçam as causas, os
mecanismos e os sintomas da degradação dessas estruturas, bem como os
respectivos meios de prevenção de patologias, para que as edificações possam ser
concebidas, projetadas e executadas de tal forma que se tornem mais duráveis,
seguras e confiáveis, com custos de manutenção aceitáveis e com a máxima vida útil
possível.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Andrade e Silva (2005), citando outros autores, procuram definir alguns conceitos
fundamentais usados para expressar as patologias encontradas, tais como:
• Anomalia ou sintoma: é a indicação sintomática da ocorrência de um defeito;
• Defeito: não conformidade de qualquer característica do material, em
desacordo com sua especificação, indicando um desvio no seu
comportamento previsto, que pode não necessariamente resultar numa falha;
• Falha: qualquer tipo de irregularidade que possa impedir o normal
funcionamento da estrutura;
• Reparo: é a ação que busca devolver a um elemento ou estrutura a condição
de estabilidade prevista no projeto original, reduzida ao longo da sua
utilização.
• Causa da deterioração: refere-se à natureza da degradação, podendo ser
mecânica, física, química, eletroquímica e biológica (adaptado de ANDRADE,
2005; AGUIAR, 2006).
• Origem da deterioração: está relacionada com as fases ou etapas do ciclo de
vida da estrutura em que surgiu a patologia (fase de projeto, execução, etc.).
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A permeabilidade do concreto, por sua vez, não é uma função simples da porosidade,
mas depende também das dimensões, distribuição, forma, tortuosidade (do caminho a
ser percorrido pelos fluidos) e continuidade dos poros (NEVILLE, 1997), além de
depender da interconectividade da rede capilar. Portanto, pode-se ter dois concretos
distintos, com a mesma porosidade, mas com valores típicos de coeficientes de
permeabilidade bem diferentes (CAVALCANTI FILHO, 2010). Logo, a
impermeabilidade do concreto deve ser a primeira linha do sistema de defesa contra
qualquer processo físico-químico de deterioração (MEHTA e MONTEIRO, 1994).
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Não é difícil entender que quanto mais permissivo um concreto for ao transporte
interno de água, gases e outros agentes agressivos, maior será a probabilidade da
sua degradação, bem como da do aço que deveria proteger. Também não deve ser
difícil concluir que, nestes casos, a degradação dependerá, diretamente, de dois
fatores: permeabilidade do concreto e condições ambientais da superfície. Como, em
geral, não se poderá lidar com a melhoria das condições ambientais, a única saída,
neste sentido, para se evitar a degradação dos concretos, é a redução, ao menor nível
possível, da sua permeabilidade (SOUZA e RIPPER, 1998).
Cascudo (1997) também afirma que o transporte de líquidos, gases e demais agentes
agressivos é influenciado pela estrutura porosa da pasta de cimento endurecida.
Souza e Ripper (1998), por sua vez, afirmam que a estrutura porosa deve ser
entendida tanto pela distribuição gradual (dimensões) dos poros quanto pela
porosidade aberta (interconexão ou interligação entre os poros, por meio de canais).
Cascudo (1997) entende que a porosidade aberta possibilita o transporte das
substâncias e caracteriza a permeabilidade da pasta, ao passo que a distribuição
gradual interfere na velocidade de transporte.
Os poros na pasta de cimento podem ser classificados, conforme Figura 2.1, em:
poros de ar aprisionado (decorrentes do processo de adensamento), poros de ar
incorporado (decorrentes do uso de aditivos incorporadores de ar), poros capilares
(oriundos da saída de água livre do concreto) e poros de gel (devido à água de gel),
tendo os três primeiros tipos maior relevância para a durabilidade do concreto
(CASCUDO, 1997).
Figura 2.1: Dimensões dos poros. Fonte: adaptado de Cascudo (1997) apud POLITO (2006).
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Este trabalho foi desenvolvido a partir das quatro principais causas responsáveis pela
redução da durabilidade do concreto armado, as quais podem ser classificadas, de
acordo com sua natureza, em:
Causas mecânicas;
Causas físicas;
Causas químicas;
Causa eletroquímica (referente à corrosão eletroquímica).
Para toda a causa da deterioração existe um ou mais agentes atuantes que, por meio
de mecanismos de degradação, interagem com o concreto e o aço, reduzindo,
gradativamente, o seu desempenho (ANDRADE, 2005).
Figura 2.2: Guarda-rodas rompido por batida de veículos em viaduto de Belo Horizonte (MG).
12
(a) (b)
Figura 2.3: Pilares de estacionamento, em (a) e (b), constantemente sujeitos a impactos por veículos.
Ressalta-se que o desgaste por abrasão não está associado à perda de desempenho
mecânico da estrutura ou do elemento de concreto, mas sim à perda de desempenho
quanto à funcionalidade (ANDRADE, 2005).
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Figura 2.5: Desgaste superficial por abrasão em pavimento de concreto. Fonte: AGUIAR (2006).
Já o desgaste por erosão também ocorre por atrito (assim como o desgaste por
abrasão), só que em ambiente molhado (ao passo que, por abrasão, ocorre em
ambiente seco).
Numa definição semelhante, Andrade (1992) apud Aguiar (2006) afirma que o
desgaste por erosão é aquele causado pela passagem abrasiva dos fluidos contendo
partículas finas suspensas (conforme Figura 2.8), sendo influenciado pela velocidade
da água, pela qualidade do concreto e pelas características das partículas
transportadas (massa específica, quantidade, forma, dureza, etc.).
Figura 2.7: Desgaste superficial por erosão em galeria pluvial em Belo Horizonte (MG).
Fonte: AGUIAR (2011).
Figura 2.8: Evolução do desgaste superficial por erosão: movimento relativo do líquido e/ou atrito de
partículas suspensas neste contra a superfície de concreto.
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 30/12/2011).
O comitê ACI 210R (ACI, 1993 apud ANDRADE, 2005) recomenda que, para se obter
um concreto resistente à erosão, deve-se empregar agregados de diâmetros máximos
maiores e de elevada dureza, além de utilizar pasta de cimento de baixo fator a/c.
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Outra forma conhecida de desgaste superficial, segundo Andrade (1992) apud Aguiar
(2006), é aquela que ocorre por cavitação. Trata-se da degradação da superfície do
concreto causada pela implosão de bolhas de vapor de água quando a velocidade ou
direção do escoamento sofre uma mudança brusca, tal como no rebaixo brusco da
Figura 2.9.
Figura 2.9: Rebaixo brusco responsável pela implosão de bolhas de vapor na cavitação.
Fonte: AGUIAR (2011).
As estruturas de concreto sujeitas à cavitação são aquelas que estão em contato com
fluxos de água com velocidade elevada, nas quais há mudança brusca de direção do
escoamento (com ou sem a presença de degraus), tais como vertedouros, bacias de
dissipação, condutos forçados, etc.
18
O desgaste por cavitação pode ser minimizado mediante o uso de concretos dosados
para tal solicitação. Entretanto, as medidas mais eficientes seriam aquelas que visam
eliminar ou reduzir – desde que possível – as causas que geram a cavitação, tais
como as irregularidades na superfície e mudanças bruscas de declividade
(ANDRADE, 2005).
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Ocorre devido ao contato das estruturas de concreto (tais como tanques industriais ou
estruturas marítimas) com soluções super-saturadas. No caso das estruturas em
contato com a água do mar, o mecanismo de degradação via cristalização de sais nos
poros do concreto ocorre através dos choques das ondas e dos ciclos alternados de
molhagem e secagem, por causa do fenômeno das marés, segundo Souza e Ripper
(1998).
Os concretos sujeitos à ação física da cristalização dos sais são aqueles com elevada
relação água/cimento (isto é, concretos porosos e permeáveis) e que estejam em
contato com soluções de alta concentração salina. A condição crítica ocorre quando
são expostos a períodos de secagem e umedecimento, favorecendo a cristalização,
ou quando possuem superfícies com condições diferenciadas de saturação e aeração.
Essas condições geram o fluxo da solução, com a percolação em uma das faces e a
evaporação na face oposta, fazendo com que haja um aumento contínuo da
concentração salina (ANDRADE, 2005).
A cristalização de sais nos poros pode ser minimizada se forem tomados cuidados na
confecção do concreto, de modo a produzi-lo menos poroso e permeável, diminuindo a
relação água/cimento (ANDRADE, 2005).
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Figura 2.12: Fissuração por retração plástica do concreto fresco. Fonte: AGUIAR (2011).
Figura 2.13: Típicas fissuras por retração plástica do concreto no estado fresco.
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 31/01/2012).
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Sabendo que a temperatura interna do concreto fresco é alta (por causa das reações
de hidratação do cimento), ressalta-se que, se a temperatura externa também for
elevada, maior será a degradação à qual a estrutura estará sujeita. Tal peculiaridade
deve-se à seguinte lógica: quanto maior for o gradiente térmico (ou seja, a variação da
temperatura do concreto), maiores serão as trações térmicas que irão tracionar a
peça. Por conseguinte, maior será o esforço exercido pela base para restringir a
expansão da peça e, naturalmente, maior será a fissuração no concreto armado.
Graça et al. (2005) mostram, através da Figura 2.14, que é melhor executar a
concretagem à noite do que de dia, visto que a variação da temperatura no concreto,
no período noturno, é inferior à variação diurna, o que implicaria em menor
possibilidade de haver fissuração caso o lançamento do concreto fosse feito à noite.
23
Figura 2.14: Temperatura de lançamento (TL) do concreto durante o dia (T1) e à noite (T2).
Fonte: GRAÇA et al. (2005).
Figura 2.15: Fissuração devido à retração térmica no concreto fresco. Fonte: Emmons (1993).
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Segundo Graça et al. (2005), para minimizar os efeitos da retração térmica, algumas
medidas preventivas podem ser adotadas, tais como:
Uso de cimento com baixo calor de hidratação, com menor teor de C3A
(Aluminato tricálcico) , ou ainda cimento CP-IV (cimento Portland pozolânico),
visto que a adição de pozolana também reduz o calor de hidratação do
cimento;
Uso de concreto CCR (concreto compactado a rolo) em substituição ao
concreto massa convencional, o que pode resultar em uma redução média da
tensão de tração de origem térmica (para estruturas do mesmo tipo) de 2,5
MPa para 1,5 MPa;
Uso de agregados graúdos com maiores dimensões (Dmáx: 50 mm, 76 mm ou
100 mm) para minimizar o consumo de cimento;
Uso de aditivos redutores de água para reduzir o consumo de cimento e,
consequentemente, reduzir o calor liberado na sua hidratação;
Adição de sílica ativa no concreto (ou microssílica), material pozolânico oriundo
das indústrias de ferro-ligas e silício metálico, com alto teor de SiO2 (> 85%).
Além de reduzir o calor de hidratação do cimento, este material diminui a
porosidade e permeabilidade, além de melhorar a aderência pasta/agregado,
aumentando, consequentemente, a durabilidade, a resistência mecânica e
também a resistência à abrasão, além de diminuir a lixiviação.
B) Dilatação térmica
Figura 2.16: Fissuração por restrição à dilatação térmica do concreto endurecido. Fonte: adaptado de
Emmons (1993).
∆LTÉRMICO = L0 x αconc x ∆t
Portanto, a dilatação linear térmica da laje de concreto em questão será de 10,43 mm.
26
Figura 2.17: Empenamento de lajes de concreto, ao se dilatarem. Fonte: adaptado de Emmons (1993).
De acordo com os autores Cánovas (1988) apud Aguiar (2006), Costa e Silva (2002),
Marcelli (2007) e Bauer (2008), o comportamento dos componentes do concreto
armado em situação de incêndio pode ser descrito da seguinte forma:
o À 100ºC:
resistência mecânica da peça permanece inalterada;
o À 400ºC:
O aço começa a perder sua resistência mecânica (Figura 2.18), e a
aderência aço-concreto reduz significativamente;
Inicia-se a perda da água ligada quimicamente (água de constituição do
hidróxido de cálcio), devido à decomposição (ou desidratação) do
hidróxido de cálcio, produzindo óxido de cálcio + água vaporizada.
Trata-se da calcinação do cimento.
o À 500ºC:
ruptura / colapso do aço, e a resistência à compressão do concreto é
de cerca de 50% da resistência inicial;
o À 535ºC:
calcinação (desidratação dos hidróxidos de cálcio) é completa;
o À 573ºC:
agregados silicosos (granito, arenito e gnaisse) sofrem expansão
térmica; no caso dos agregados calcáreos, a dilatação térmica ocorre
por volta de 650ºC. Em ambos os casos, os agregados se expandem
até sua fragmentação, dando início à desagregação do concreto;
A seguir são mostradas duas estruturas de concreto armado degradadas pela ação do
fogo: um edifício na Espanha (Figura 2.19) e um viaduto na cidade de São Paulo
(Figura 2.20).
(a) (b)
Figura 2.20: Incêndio ocorrido em viaduto em São Paulo/SP, em 1998, conforme (a) e (b).
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 31/01/2012).
A reação álcali-agregado (RAA) pode ser definida como um termo geral utilizado para
descrever a reação química que ocorre internamente em uma estrutura de concreto,
envolvendo os hidróxidos alcalinos provenientes principalmente do cimento e alguns
minerais reativos presentes no agregado utilizado. Como resultado da reação, são
formados produtos que, na presença de umidade, são capazes de expandir, gerando
fissurações, deslocamentos e podendo levar a um comprometimento da estrutura
(HASPARYK, 2005), afetando, inevitavelmente, sua durabilidade.
A presença dos íons alcalinos (Na+, K+ e Ca2+) é responsável pelo pH da fase aquosa
do concreto que garantirá a passividade das armaduras quando seu valor for superior
a 12 (NEPOMUCENO, 2005).
+ +
Sabe-se que os íons alcalinos ou álcalis Na e K são provenientes do cimento (sendo
liberados durante a hidratação do mesmo) ou de cloretos presentes no concreto. Ao
reagirem com o mineral reativo (sílica, silicatos, etc.) proveniente de alguns tipos de
agregados utilizados, produz-se, no ambiente confinado, um gel em volta dos
agregados reativos. Em presença de água, isto é, quando exposto à umidade (cerca
de 80%), o gel se expande, criando tensões internas que causam fissuração em torno
dos agregados, na superfície do concreto, conferindo à mesma o aspecto de um
mosaico (Figura 2.21) para, posteriormente, vir a desagregá-la, criando crateras
profundas, de aspecto cônico (adaptado de EMMONS, 1993; SOUZA e RIPPER,
1998).
O concreto sob RAA exibe em sua superfície fissuração em forma de “mapa”. Uma
vez iniciada a fissuração, maior será a penetração de umidade / água no interior do
concreto, acelerando ainda mais a reação álcali-agregado e comprometendo as
propriedades mecânicas e elásticas do concreto, além de reduzir sua durabilidade
(EMMONS, 1993; HASPARYK, 2005).
Figura 2.21: Desenvolvimento da reação álcali-agregado no concreto. Fonte: SOUZA e RIPPER (1998).
33
(a) (b)
Figura 2.22: Reação álcali-agregado em blocos de fundação de edifícios em Recife-PE, conforme (a) e
(b). Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 31/12/2011).
Se %Na2Oeq for menor que 0,30% (ou 3,0 kg/m3), é improvável a ocorrência de
RAS no concreto de cimento Portland;
Ensaios de laboratório sobre a reatividade da combinação cimento-agregado;
Empregos de cimentos CP-III e CP-IV. Por apresentarem menor teor de álcalis
proveniente do cimento, são pouco reativos;
Restringir a penetração de água, através de impermeabilização.
35
Entre os muitos agentes deletérios ao concreto está o sulfato (íon SO42-). Podendo ser
encontrado no solo, nas águas naturais (do mar, da chuva e de lençóis freáticos), nas
águas agrícolas, nos efluentes industriais e sanitários, ele é caracterizado como um
dos mais deteriorantes agentes das estruturas de concreto (COSTA, 2004).
Os resultados destas reações (Equações 2.2 e 2.3) estão na Tabela 2.3, a seguir.
37
Vê-se que, após a hidratação dos compostos cimentícios C3S, C2S e C3A, tem-se a
formação dos seguintes compostos hidratados:
Silicato cálcico hidratado (C-S-H);
Portlandita – Ca(OH)2;
Aluminato tricálcico hidratado (4CaO.Al2O3.19H2O).
Os compostos cimentícios hidratados, por sua vez, serão atacados pelos íons
sulfatos, conforme as Equações 2.4, 2.5, 2.6 e 2.7:
Ressalta-se que o ataque de sulfatos, embora não afete a armadura diretamente, vai
afetá-la indiretamente. Isto ocorre porque, ao atacarem a portlandita (responsável pela
elevada alcalinidade natural do concreto, com pH variando entre 11,5 e 14), ocorre
uma redução na alcalinidade do sistema. Com a diminuição do pH, a camada
passivadora do aço (que protege a armadura contra corrosão) torna-se cada vez mais
instável, até desaparecer, facilitando o desencadeamento da corrosão eletroquímica
da mesma, quando exposta diretamente aos agentes agressivos (íons Cl-, CO2, etc.).
Figura 2.24: Pilar de concreto deteriorado pelo ataque de sulfatos. Fonte: COUTINHO, 2001.
o De acordo com a NBR 5737 (ABNT, 1992), qualquer um dos cinco tipos de
cimento Portland (CP I, CP II, CP III, CP IV e CP V-ARI) pode ser considerado
resistente aos sulfatos, desde que obedeça a pelo menos uma das seguintes
condições:
Teor de aluminato tricálcico (C3A) do clínquer não deve ser superior a
8% em massa (obs: a American Society for Testing and Materials
recomenda que o cimento americano ASTM tipo V tenha um teor
máximo de C3A de 5%), e teor de adições carbonáticas deve ser, no
máximo, 5% em massa;
Cimento Portland de alto-forno (CP III) com teor de escória entre 60% e
70%, em massa;
Cimento Portland pozolânico (CP IV) com teor de materiais pozolânicos
entre 25% e 40%, em massa;
o Caso não se possa impedir o contato entre a água com sulfato e o concreto, a
única forma de controlar o ataque de sulfatos é atuando na qualidade do
material, garantindo a baixa permeabilidade do concreto, utilizando técnicas de
concretagem devidamente executadas, como por exemplo, o transporte, o
lançamento, o adensamento e a cura (COSTA, 2004; POGGIALI, 2009);
o O alto consumo de cimento (baixo fator a/c) pode tornar o concreto mais
resistente aos sulfatos, conforme Figura 2.26:
Vários são os tipos de ácidos perigosos para o concreto, sejam eles inorgânicos
(clorídrico, sulfídrico, nítrico, carbônico, etc.) ou orgânicos (normalmente encontrados
na terra, tais como acético, láctico, esteárico, etc.). Em qualquer caso, a ação do íon
hidrogênio provoca a formação de produtos solúveis que, ao serem transportados pelo
interior do concreto, o vão deteriorando (SOUZA e RIPPER, 1998).
Esses sais de cálcio podem ser muito ou pouco solúveis, dependendo do tipo de
ácido. Se o sal de cálcio produzido for muito solúvel, poderá ser facilmente lixiviado,
aumentando a porosidade e a permeabilidade da pasta de cimento, abrindo caminho
para a entrada de outros agentes de deterioração. Entretanto, se o sal de cálcio
gerado na reação for pouco solúvel ou mesmo insolúvel, o mesmo irá atacar o
concreto de forma muito mais lenta, podendo, inclusive, serem totalmente inofensivos,
já que os sais de cálcio pouco ou nada solúveis, quando depositados nos poros,
diminuem a permeabilidade do concreto à água (BAUER, 2008).
Dentre os sais de cálcio que podem deteriorar o concreto (resultantes da reação entre
os ácidos e o hidróxido de cálcio) e a respectiva solubilidade, podem ser citados,
conforme Tabela 2.4:
Tabela 2.4: Sais de cálcio que degradam o concreto. Fonte: adaptado de “Caderno Técnico da Alvenaria
Estrutural CT 5”, revista Prisma, Ed. Mandarim. Autor: Roberto J. F. Bauer. Data e edição não divulgadas.
42
Deve-se tomar cuidado com o ácido clorídrico ou muriático (HCl), bastante utilizado na
limpeza de obras. Isto porque este ácido tem um efeito desincrustante, podendo ser
usado na remoção dos excessos de concreto e de argamassa. No entanto, a
aplicação excessiva e repetida deste ácido ataca o concreto, ao reagir com o C-S-H
da pasta de cimento, conforme Equação 2.9. Além disso, o cloreto de cálcio produzido
nesta reação é facilmente lixiviado (por ser muito solúvel) e ainda corrói o aço (devido
à reação que o cloreto de cálcio – CaCl2 – terá com o aço, resultando no ataque de
cloretos, assunto a ser tratado posteriormente):
O sulfato de cálcio (na forma de gipsita), por sua vez, irá reagir com o aluminato
tricálcico hidratado (componente da pasta de cimento responsável pela resistência
mecânica), produzindo-se etringita, conforme a Equação 2.12, citada no sub-item
2.4.3.3 (“ataque por sulfatos”) deste trabalho:
(a) (b)
Figura 2.27: Ataque de ácido sulfúrico ao concreto no interior de tubulação de esgoto, em (a) e (b).
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 03/01/2012).
Outro ácido que pode ser nocivo ao concreto é o ácido carbônico (H2CO3), presente
nos refrigerantes e nas águas naturais com elevada concentração de CO2. Assim
como o ácido sulfídrico, o ácido carbônico também é um ácido fraco. Entretanto, ao
reagir com o hidróxido de cálcio – Ca(OH)2 – produz o sal carbonato de cálcio
(CaCO3), conforme Equação 2.13:
Assim como os ácidos, a água pura (também chamada de água mole, trata-se da
água doce dos rios, água subterrânea dos lençóis freáticos, água de lagos de degelo
e água de chuva não ácida) também pode atacar o concreto, através da lixiviação /
hidrólise de componentes da pasta do cimento endurecido. Isto porque tais águas não
contém quase nenhum íon de cálcio nem sais dissolvidos. Quando entram em contato
com a pasta de cimento, estas tendem a hidrolisar ou dissolver os componentes que
contém cálcio (POGGIALI, 2009).
O poder de dissolução da água é tanto maior quanto mais pura for a água, isto é,
quanto menos carbonato de cálcio e de magnésio ela contém, mais fraca é sua
dureza (BAUER, 2008).
45
Para prevenir ou minimizar os efeitos da ação da água pura, Andrade e Silva (2005)
recomendam as seguintes ações:
• Produzir concreto com baixo fator a/c, de modo a torná-lo menos poroso e
menos permeável;
• Tratamento superficial, de modo a tornar o concreto menos permeável, através
de pinturas especiais ou mesmo camada impermeabilizante;
• Tratamento de fissuras, mediante aplicação de gel de poliuretano, resina
epóxi, microcimento, etc.
2.4.3.6 Carbonatação
H2O
Ca(OH)2 + CO2 CaCO3 + H2O (2.16)
Figura 2.29: Avanço do processo de carbonatação. Fonte: CEB-BI 152 (1984) apud Figueiredo (2005).
Tabela 2.6: Classificação da agressividade do ambiente. Fonte: Helene (1995) apud Figueiredo (2005).
Figura 2.30: Influência da umidade relativa no grau de carbonatação. Fonte: Figueiredo (2005) apud
Polito (2006).
50
Figura 2.31: Teor de umidade dos poros do concreto em função da umidade do ambiente.
Fonte: Andrade (1992) apud Figueiredo (2005).
De acordo com a Figura 2.32, quando os poros estão secos ou a umidade relativa do
ar é baixa, o CO2 difunde até as regiões mais internas sem dificuldades. Porém, a
reação de carbonatação não ocorre devido à falta de água. Quando os poros estão
cheios de água (Figura 2.33), a frente de carbonatação é freada devido à baixíssima
velocidade de difusão do CO2 na água. Por outro lado, se os poros estão apenas
parcialmente preenchidos com água (Figura 2.34), a frente de carbonatação avança
devido à coexistência dos dois fatores: água e possibilidade de difusão de CO2
(FIGUEIREDO, 2005).
Figura 2.32: Poros totalmente secos, ou baixa U.R. do ambiente: não ocorre carbonatação.
Fonte: Cascudo (1997) apud Polito (2006).
51
Figura 2.34: Poros parcialmente preenchidos com água: avanço da frente de carbonatação é inevitável.
Fonte: Cascudo (1997) apud Polito (2006).
A Figura 2.35 mostra que a adição de cinza volante ao concreto de cimento Portland
fez com que a frente de carbonatação aumentasse.
3
Figura 2.35: Influência do tipo e quantidade de cimento por m de concreto sobre a profundidade de
carbonatação. Fonte: Ho; Lewis (1987) apud Figueiredo (2005).
Figura 2.36: Influência da relação a/c sobre a profundidade de carbonatação para um concreto de 350
3
kg de cimento por m de concreto e igual composição, após três anos de ensaio. Fonte: Vénuat (1977)
apud Figueiredo (2005).
Figura 2.37: Influência do período de cura inicial sobre a profundidade de carbonatação após 16 anos.
CPC = cimento Portland comum; AF = cimento Portland com 70% de escória granulada de alto forno.
Fonte: Silva (1995) apud Polito (2006).
f) Fissuras: através destas, o CO2 (além do oxigênio e dos íons cloretos) pode
penetrar mais rapidamente no interior do concreto, e por isso há uma preocupação
natural em relação ao aparecimento das fissuras em relação ao problema da corrosão
(MONTEIRO, 2002). A Figura 2.38 apresenta esquematicamente o processo de
penetração e difusão do CO2 através de uma fissura e a reação de carbonatação do
concreto na região carbonatada.
CASCUDO (1997) apresenta um modelo (não válido para todos os casos, mas
comumente utilizado) para estimar a profundidade do processo de carbonatação (em
mm), através da Equação 2.17:
e = k . √t (2.17)
onde:
e = profundidade carbonatada (ou profundidade de penetração do CO2), em mm;
k = coeficiente de carbonatação, dependente da difusividade do CO2, geralmente em
mm.ano-1/2;
t = tempo de exposição, em anos.
Para Smolczyk (1968) apud Figueiredo (2005), esta equação oferece pouca
divergência entre os dados experimentais e as estimações teóricas, no intervalo entre
5 e 30 anos. Logo, esta relação continua sendo a mais utilizada para prever a
profundidade de penetração da carbonatação.
Tabela 2.7: Mudança de cor do concreto, via teste químico, para identificação de região carbonatada.
FENOLFTALEÍNA TIMOLFTALEÍNA
Tabela 2.8: Mudança de cor e intervalos de pH dos principais indicadores usados para a observação
visual da área carbonatada. Fonte: adaptado de Basset et al. (1981) apud Figueiredo (2005).
Figura 2.39: Fenolftaleína aplicada em corpo de prova. Fonte: Rocha (2005) apud Polito (2006).
57
Figura 2.40: Avanço da carbonatação, indicada por teste químico via fenolftaleína.
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 17/01/2012).
Segundo Neville (1997) apud Polito (2006), estes íons destroem a película passivante
do aço e, com a presença de água e oxigênio, tornam possível a corrosão.
58
Para Cascudo (1997), os íons cloreto (Cl-) podem ser introduzidos no concreto através
de distintas formas:
• Uso de aditivos aceleradores de pega que contém CaCl2;
• Na forma de impureza indesejada tanto nos agregados (areia e brita) quanto
na água de amassamento;
• Atmosfera marinha (maresia);
• Água do mar (estruturas “off shore”);
• Uso de sais de degelo (sais anti-congelantes empregados nos invernos
rigorosos de países frios);
• Processos industriais (etapa de branqueamento de indústrias de celulose e
papel, por exemplo);
• Limpeza do concreto com ácido muriático (HCl).
Ressalta-se que em regiões litorâneas a preocupação com este tipo de ataque deve
ser constante, visto que a proximidade do mar faz com que a atmosfera contenha íons
cloretos. Assim, as partículas de água do mar contendo sais dissolvidos, quando em
suspensão na atmosfera, são arrastadas pelo vento e podem depositar-se nas
estruturas, podendo os íons cloreto ingressar no concreto por absorção capilar da
água na qual se encontram dissolvidos (CAVALCANTI FILHO, 2010).
Dentre os vários fatores que potencializam o ataque dos cloretos (tópico a ser
estudado com mais detalhes no sub-item 2.4.3.7.4), Emmons (1993) chama a atenção
para a importância do pH do concreto. Foi demonstrado que é necessário um nível de
8000 ppm de íons cloretos para iniciar o processo quando o pH é de 13,2, mas,
quando o pH cai para um patamar de 11,6, a corrosão se inicia com somente 71 ppm
de íons cloretos.
59
Figura 2.41: Penetração de cloretos em concreto submetido à umidade, dando início à corrosão.
Fonte: EMMONS, 1993.
Segundo Cascudo (1997) e Monteiro (2002), os íons cloretos podem ser encontrados
no interior do concreto em uma das seguintes formas:
Quimicamente combinados com o composto cimentício aluminato tricálcico
(C3A), formando cloroaluminato de cálcio (C3A.CaCl2.10H2O), ou combinado
com o C4AF, formando o cloroferrato;
Fisicamente adsorvidos na superfície das paredes dos poros capilares na
estrutura espacial do silicato de cálcio hidratado (C-S-H);
Livres, precipitados ou dissolvidos na fase aquosa do concreto (na solução dos
poros do concreto).
60
Figura 2.42: Formas de apresentação dos íons cloreto na estrutura do concreto. Fonte: Farias (1991)
apud Silva (2006).
2.4.3.7.1 Teorias para o ataque dos íons cloretos (Cl-) sobre a corrosão do aço
1ª) Teoria do filme de óxido: segundo esta teoria, os íons de cloreto penetram
(através de poros ou defeitos no concreto) no filme passivante que envolve o aço,
mais facilmente do que penetram outros íons. Alternadamente, os cloretos podem
dispersar-se coloidalmente no filme de óxido, tornando mais fácil a sua penetração.
2ª) Teoria da adsorção: segundo esta teoria, os íons cloretos são adsorvidos na
superfície metálica em competição com o oxigênio dissolvido ou com íons hidroxila. O
cloreto promove a hidratação dos íons metálicos, facilitando a sua dissolução.
61
3ª) Teoria do complexo transitório: de acordo com esta teoria, os íons cloretos Cl-
competem com os íons hidroxila (OH-) para produção de íons ferrosos pela corrosão.
Forma-se então um complexo solúvel de cloreto de ferro FeCl2. Este pode difundir-se
a partir das áreas anódicas destruindo a camada protetora de Fe(OH)2 e permitindo a
continuação do processo corrosivo. A uma determinada distância do eletrodo o
complexo é rompido, precipitando o hidróxido de ferro e os íons cloretos ficam livres
para transportar mais íons ferrosos da área anódica. Uma vez que a corrosão não é
estancada, mais íons de ferro continuam a migrar dentro do concreto, a partir do
ponto de corrosão, e reagem também com o oxigênio para formar óxidos mais altos
que induzem a um volume quatro vezes maior, causando tensões internas e fissuras
no concreto. A formação de complexos de cloreto de ferro pode também conduzir a
forças internas que levem à fissuração e à desagregação do concreto.
a) Absorção capilar
Cavalcanti Filho (2010) entende que este fenômeno se dá através do contato entre o
concreto e a solução líquida rica em íons cloretos, a qual adentra / penetra pelos
poros devido às tensões capilares. Tal fenômeno ocorre imediatamente após o
contato superficial entre o líquido e o substrato. Portanto, ocorre na superfície do
concreto. É a porta de entrada para os cloretos nas estruturas marítimas sujeitas a
ciclos de molhagem e secagem, tais como estruturas semi-submersas.
Figura 2.43: Transporte de cloretos via absorção capilar. Fonte: Helene (1993) apud Hoffmann (2001).
Não há absorção capilar em concretos saturados, pois o concreto deve estar com os
poros secos ou parcialmente secos para que seja possível a absorção de água por
capilaridade. Todavia, em concretos saturados de forma permanente, o principal
mecanismo de ingresso de cloretos passa a ser por difusão.
Helene (1993) apud Cavalcanti Filho (2010) afirma que concretos de baixa relação a/c
apresentam capilares de menor diâmetro e menos intercomunicáveis, resultando em
menores volumes absorvidos (portanto menor absorção capilar).
b) Difusão iônica
Figura 2.44: Transporte de íons cloretos para o interior do concreto via difusão iônica.
Fonte: Helene (1993) apud Hoffmann (2001).
64
Mehta e Monteiro (2008) definem permeabilidade como a facilidade com que um fluido
pode escoar através de um sólido (neste caso, o concreto), sob um gradiente de
pressão externa. O mecanismo de penetração de água sob pressão se caracteriza
pela existência de um gradiente hidráulico que força a entrada de água no concreto.
Cascudo (1997) ressalta que este fenômeno está relacionado tanto ao diâmetro dos
poros capilares quanto à interconexão / intercomunicação entre eles.
Figura 2.45: Transporte de íons cloretos via permeabilidade em estrutura de contenção de água.
Fonte: Helene (1993) apud Hoffmann (2001).
65
Figura 2.46: Atuação simultânea de diversos mecanismos de transporte em uma estrutura marítima.
Fonte: Ferreira (1999) apud Missau (2004).
Hansson (1985) apud Figueiredo (2005) afirma que uma certa quantidade de cloretos
pode ser tolerada sem risco de corrosão, visto que, após reagirem com os aluminatos
provenientes do clínquer (C3A e C4AF), os íons cloretos não estarão livres para atacar
o filme passivante que envolve a armadura. No entanto, existe um valor limite de
concentração no qual os íons cloreto podem romper a camada de óxidos passivante e
iniciar o processo de corrosão da armadura. Esse limite não está associado a um
valor fixo, embora algumas normas ou recomendações de alguns países apresentam
-
valores orientativos de valores de íons cloretos Cl em relação à massa de cimento,
conforme Tabela 2.9.
Tabela 2.9: Teor limite de cloretos (em relação à massa de cimento) para algumas normas estrangeiras.
Fonte: adaptado de Figueiredo (2005).
A NBR 6118 (ABNT, 2003), por sua vez, não se reporta ao teor de cloretos, mas
enfatiza que não é permitido utilizar aditivos contendo cloretos em sua composição,
tanto em estruturas de concreto armado quanto em protendido.
66
Rasheeduzzafar et al. (1990) apud Figueiredo (2005) constataram que cimentos com
teores mais elevados de C3A podem ter desempenho muito melhor (em termos de
resistência ao ataque por cloretos) do que cimentos com baixos teores de C3A,
conforme Tabela 2.10.
67
Além do teor de C3A, o tipo de cimento também irá influenciar a resistência do mesmo
em relação ao ataque de íons cloretos. Cimentos com adições, quando submetidos
aos cloretos, apresentam comportamento contrário àquele apresentado quando
submetidos à carbonatação. Enquanto na carbonatação as adições parecem influir de
forma negativa na capacidade de retardar o ingresso de CO2, na resistência à
penetração dos cloretos as adições agem de forma a frear a penetração desses íons.
Isso porque as adições contribuem para o refinamento dos poros do concreto,
diminuído tanto a porosidade quanto a permeabilidade do mesmo, o que dificulta a
penetração dos íons Cl- via absorção capilar, difusão iônica e permeabilidade sob
pressão hidráulica.
Tabela 2.11: Coeficiente de difusão de cloretos, a 25ºC, em pastas de cimento com a/c = 0,5.
Fonte: Meira (2004) apud Figueiredo (2005).
Figura 2.47: Efeito da relação a/c sobre a carga total passante de cloretos.
Fonte: Pereira (2002) apud Missau (2004).
Quanto às condições de cura, Page et al. (1981) apud Figueiredo (2005) entendem
que estas afetam a difusibilidade efetiva de íons cloretos, ao modificarem a estrutura
porosa e, por conseguinte, alterarem a porosidade final do concreto. Pode-se afirmar
que, quanto maior for eficiência e o tempo de duração da cura, maior será a
hidratação do cimento, e menor será a porosidade e a permeabilidade do concreto.
Além disso, menor será a chance de ocorrência de fissuração no concreto por
retração plástica, o que também reduz a intensidade de penetração dos cloretos.
Vários são os métodos que podem ser utilizados para realizar a análise quantitativa
(determinar o teor) de cloretos nas amostras, tais como: análise por fluorescência de
raios-x, método eletrodo de íon seletivo, método de Volhar, ASTM C 102 Test Method
for Electrical Indication of Concrete’s Ability to Resist Chloride Ion Penetration, etc.
(MONTEIRO, 2002; FIGUEIREDO, 2005).
Figura 2.48: Corrosão das armaduras de concreto armado por ataque de cloretos
Fonte: http://www.dcc.ufpr.br/wiki/images/0/01/TC031_Durabilidade.pdf (acesso em 21/01/2012).
71
Figura 2.49: Pilar sobre o mar, após 10 anos de construção, deteriorado por carbonatação e cloretos.
Fonte: AGUIAR, 2006.
Uma observação a ser feita é que, numa pilha eletroquímica, se qualquer um destes
elementos for retirado, o circuito é aberto, e a corrosão é paralisada.
Figura 2.50: Os 3 tipos de corrosão segundo a morfologia. Fonte: Cascudo (1997) apud Polito (2006).
Um quarto tipo de corrosão, citada por Aguiar (2006) seria a corrosão galvânica
(também chamada de corrosão bimetálica). Este tipo de corrosão ocorre quando há
contato entre diferentes tipos de metal em um mesmo meio eletrolítico. O metal com
menor atividade eletroquímica é corroído. Uma das situações mais comuns
encontradas é o uso de alumínio dentro do concreto armado, segundo Emmons
(1993) apud Aguiar (2006).
74
Figura 2.52: Modelo de vida útil – iniciação e propagação da corrosão. Fonte: Tuutti (1982) apud
Monteiro (2002).
anódicas, além de produzir o radical OH- que irá reagir com íons de ferro para
formar os produtos de corrosão. Um dos principais obstáculos para o
desencadeamento do processo eletroquímico está relacionado com a
disponibilidade de O2 nas áreas catódicas. Por sua vez, a taxa de difusão de
O2 é função de um determinado teor de umidade do concreto. No concreto
úmido, o oxigênio estará principalmente difundindo-se em solução, enquanto
que, no concreto parcialmente seco, a difusão do oxigênio gasoso é mais
rápida. Contudo, para que o oxigênio seja consumido numa reação catódica,
ele tem que estar no estado dissolvido. No caso de um concreto com poros
saturados, a taxa de corrosão do aço será baixa, devido à maior dificuldade de
difusão do oxigênio nestas condições (CASCUDO, 1997). Uma importante
consideração a ser feita é concernente à umidade relativa. Em um concreto
com uma UR abaixo de 60%, provavelmente não haverá corrosão. O mesmo
acontecerá se o concreto estiver saturado com água. A umidade ótima para
ocorrer o processo encontra-se entre 70% e 80%, sendo que, acima deste
nível, a difusão de oxigênio é reduzida consideravelmente, segundo Aranha
(1994) apud Aguiar (2006).
(a) (b)
Figura 2.55: Corrosão eletroquímica do aço por: (a) carbonatação; (b) ataque por cloretos. (MAR, 2006).
- 2H2O
2Fe(OH)3 Fe2O3.H2O (2.23)
Os produtos gerados pela corrosão do aço são expansivos. A Figura 2.56 ilustra os
volumes relativos de alguns destes produtos.
Figura 2.56: Volumes relativos do ferro e de alguns de seus produtos de corrosão. Fonte: adaptado de
Cascudo (1997).
Figura 2.57: Esforços radiais produzidos que levam à fissuração e destacamento do concreto devido à
corrosão das armaduras. Fonte: Cascudo (1997) apud Polito (2006).
81
A armadura de aço, ao sofrer a corrosão, sofre perda de seção (Figura 2.58) na região
anódica, devido à dissolução do ferro, resultando na perda de aderência aço/concreto,
na redução da capacidade estrutural da peça e no surgimento de manchas de
coloração marrom-alaranjada. Assim, devido às tensões internas expansivas
provenientes dos produtos da corrosão (situados na região anódica), o lascamento do
concreto e o destacamento da camada de cobrimento também se dará na zona
anódica, conforme a Figura 2.59, sugerida por Mar (2006).
Figura 2.58: Perda de seção na barra de aço devido à corrosão eletroquímica. Fonte: adaptado de
Emmons (1993).
Figura 2.60: Fases da instalação da corrosão em uma barra de armadura. Fonte: Helene (1986) apud
Polito (2006).
Figura 2.61: Fissuração e lascamento do concreto paralelamente às barras e estribos metálicos. Fonte:
Husni (2003) apud Polito (2006).
É a proteção física da armadura. Além de agir como uma barreira física contra
agentes agressivos, oxigênio e umidade, garante a elevada alcalinidade para que a
armadura tenha a sua proteção química (película passivadora). Aguiar (2006) afirma
que quanto maior for esta espessura, maior será o intervalo de tempo necessário para
que a frente de carbonatação e os íons cloretos atinjam a superfície das armaduras.
Para Andrade (1992) apud Polito (2006), o cobrimento também deve ter espessura
homogênea e ser suficiente para resistir ao ambiente. Uma alta porcentagem de
deterioração se produz devido às pequenas espessuras de cobrimento. Recomenda-
se, portanto, a adoção das espessuras de cobrimento conforme prescrição da NBR
6118 (ABNT, 2003), de acordo com as classes de agressividade ambiental.
b) Qualidade do concreto
Quanto menor for o fator a/c, maior será a compacidade, e menores serão a
porosidade e a permeabilidade do concreto, o que dificulta a penetração de agentes
agressivos. Assim, o concreto passa a oferecer maior proteção contra a corrosão das
armaduras.
e) Tipo de aço
f) Armaduras especiais
(a) (b)
Figura 2.62: Desplacamento da camada de cobrimento em (a) e (b), resultando em armação exposta.
Fonte: Mar (2006).
(a) (b)
Figura 2.63: Corrosão em diferentes pilares (“a” e “b”) de um edifício residencial em Porto Alegre (RS).
Fonte:http://www.fortium.com.br/blog/material/Corrosao.nas.Armaduras.de.concreto.armado.pdf (30.01.2012).
(a) (b)
Figura 2.64: Mancha de corrosão e fissuração em viga de concreto armado, em (a) e (b).
87
2.5 Origem das patologias por falhas humanas no ciclo de vida das estruturas
Para Helene (1992) apud Souza e Ripper (1998), as causas dos problemas
patológicos originam-se nas seguintes fases da vida da estrutura de concreto,
conforme Figura 2.65:
Figura 2.65: Origens dos problemas patológicos nas fases da vida de uma estrutura de concreto.
Fonte: Helene (1992) apud Souza e Ripper (1998).
Bauer (2008), Souza e Ripper (1998) e Andrade e Silva (2005) relatam algumas falhas
usualmente cometidas na etapa de concepção dos projetos, as quais resultarão em
patologias futuras. Dentre essas falhas, pode-se citar:
• Cargas ou tensões não levadas em consideração no cálculo estrutural;
88
Tabela 2.13: Principais aspectos a serem controlados nos materiais componentes do concreto armado.
Fonte: Adaptado de Andrade e Silva (2005).
Ainda nesta etapa, Marcelli (2007) e Bauer (2008) citam outras falhas:
o Interpretação errônea dos projetos, por parte do pessoal de campo;
o Retirada prematura das fôrmas (isto é, a desfôrma é feita antes que o concreto
alcance a resistência à compressão e módulo de deformação mínimos
desejados);
o Erro na posição, na quantidade, na distribuição e no diâmetro das barras de
aço das armaduras;
o Cobrimento insuficiente do concreto em relação às armaduras de aço;
o Travamento inadequado dos pilares e deslocamento das fôrmas durante a
concretagem;
o Falta de estanqueidade das fôrmas, permitindo a perda da pasta de cimento;
o Ausência ou má utilização (ex: baixa estanqueidade) das juntas de dilatação
na estrutura de concreto.
Souza e Ripper (1998), por sua vez, fazem menção à utilização indevida dos materiais
de construção que não passaram pelo controle tecnológico na etapa anterior, tais
como:
Utilização de concreto com fck inferior ao especificado em projeto;
Utilização de barras de aço com características e bitolas diferentes do
especificado pelo engenheiro calculista;
Utilização de agregados reativos;
Utilização de água contaminada com cloretos e sulfatos;
Utilização inadequada de aditivos, alterando as características desejadas do
concreto.
Uma vez concluída a execução da estrutura, cabe ao seu usuário cuidar de utilizá-la
da maneira mais eficiente, com o objetivo de manter as características originais ao
longo de toda a vida útil. Essa eficiência está relacionada tanto com as atividades de
uso, como, por exemplo, a garantia da atuação de carregamentos limitados pelas
solicitações previstas em projeto, quanto com as atividades de manutenção, pois o
desempenho da estrutura tende a reduzir ao longo da sua vida útil, de forma mais
91
3. ESTUDO DE CASO
Este estudo de caso foi realizado com base na metodologia de avaliação patológica
proposta por Andrade e Silva (2005) e pelo professor Dr. Abdias Magalhães Gomes,
do Departamento de Engenharia de Materiais e Construção da Escola de Engenharia
da Universidade Federal de Minas Gerais (DEMC / EE-UFMG). Todavia, a
metodologia empregada para reparo e recuperação estrutural abordada neste capítulo
foi baseada no livro do prof. Peter Emmons (EMMONS, 1993) e no material de aula
disponibilizado pelo patologista de concreto José Eduardo de Aguiar (AGUIAR, 2011).
ii. Anamnese do problema: trata-se da etapa em que devem ser avaliados todos
os parâmetros que possam estar contribuindo para a ocorrência do problema.
Inicia-se a partir do levantamento dos sintomas encontrados, das eventuais
intervenções de reparo já realizadas, dos locais predominantes de ocorrência
das patologias e análise do seu processo evolutivo, bem como da análise
histórica dos possíveis materiais e procedimentos executivos comuns na
época de construção.
93
iii. Definição das ações para investigação: nesta etapa devem ser definidos os
ensaios que podem ser realizados para assegurar um adequado diagnóstico
do problema. Deve ser determinada a amostragem, os locais escolhidos como
sendo representativos, os tipos de equipamentos, tanto para ensaios
destrutivos quanto para ensaios não destrutivos, etc.
iv. Diagnóstico das causas prováveis: diante das informações disponíveis pelos
itens 1, 2 e 3, busca-se elaborar o diagnóstico de fatores que podem estar
contribuindo para a ocorrência do problema.
(a)
(b)
Figura 3.1: Em (a): deterioração em uma das vigas no estacionamento de um edifício comercial em Belo
Horizonte / MG; em (b): detalhe da manifestação patológica.
95
Não se fez nenhum tipo de ensaio experimental e não se utilizou nenhum tipo
de equipamento ou aparelho para verificação da corrosão, da profundidade da
frente de carbonatação e nem do teor de cloretos.
96
Técnica operatória
Figura 3.2: Localização das áreas afetadas através de teste à percussão. Fonte:
EMMONS, 1993.
(a) (b)
Figura 3.3: Escarificação mecânica usando martele elétrico, conforme (a) e (b). Fonte:
(a) EMMONS, 1993; (b) AGUIAR, 2011.
98
Figura 3.4: Layouts recomendados para superfícies de reparo. Fonte: EMMONS, 1993.
(a) (b)
Figura 3.6: Limpeza da armadura e do substrato por meio de jateamento de alta
pressão, em (a) e (b). Fonte: (a) EMMONS, 1993; (b) AGUIAR, 2011.
e) Efetua-se nova limpeza do aço corroído, desta vez usando escova com
cerdas de aço ou lixa de ferro, conforme Figura 3.7.
(a) (b)
Figura 3.7: Limpeza do aço corroído através de escova com cerdas de aço, em (a) e
(b). Fonte: AGUIAR, 2011.
(a) (b)
Figura 3.10: Preparo do substrato por molhagem até a saturação, conforme (a) e (b).
Fonte: AGUIAR, 2011.
(a) (b)
Figura 3.13: Acabamento da argamassa polimérica. Fonte: AGUIAR, 2011.
(a) (b)
Figura 3.14: Cura úmida (a) e química (b) da superfície recuperada. Fonte: AGUIAR,
2011.
Figura 3.15: Não pode haver trincas no aspecto final da superfície recuperada.
Fonte: AGUIAR, 2011.
103
Figura 3.17: Aplicação de pintura com inibidor orgânico sobre a superfície reparada.
Fonte: AGUIAR, 2011.
104
4. CONCLUSÕES
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, T.; SILVA, A. J. C. Patologia das Estruturas. In: ISAIA, Geraldo Cechella
(Ed.). Concreto: ensino, pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON, 2005. 2v.
Cap.32, p.953-983.
BAUER, L. A. F. Materiais de construção. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 1v. 488p.
OLIVEIRA ANDRADE, J. J. Vida Útil das Estruturas de Concreto. In: ISAIA, Geraldo
Cechella (Ed.). Concreto: ensino, pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON,
2005. 2v. Cap.31, p.923-951.
TULA, Leonel. Armaduras especiais para concreto durável. In: ISAIA, Geraldo
Cechella (Ed.). Concreto: ensino, pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON,
2005. 2v. Cap.30, p.901-921.