Projeto e Fabricacao de Estruturas em Materia PDF
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(Novembro/2006)
SUM ÁRI O
1. INTRODUÇÃO ............................................
..................................................................
.............................................
.............................................
...........................
.....11
1.1 MATERIAIS COMPÓSITOS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ...................................................2
1.2 MOTIVAÇÃO: VANTAGENS X DIFICULDADES .....................................................................3
1.3 PROCEDIMENTO DE PROJETO PARA ESTRUTURAS EM CPR ................................................5
................................................5
3. ANÁLISE MACROMECÂNICA
MACROMECÂNICA ..............................................
....................................................................
.......................................30
.................30
3.1 TEORIA CLÁSSICA DE LAMINADOS ..................................................................................30
3.2 A NÁLISE DE TENSÕES E DE DEFORMAÇÕES NA LÂMINA ..................................................43
4. ANÁLISE DE FALHAS..............................................
FALHAS......................................................................
...............................................
...............................
........47
47
4.1 MODOS DE FALHA DE UM LAMINADO ..............................................................................47
4.1.1 Danos Intralaminares.........................................
Intralaminares................................................................
.............................................
..............................
........48
48
4.1.2 Falhas Interlaminares (Delaminações)....................
(Delaminações) ..........................................
.............................................
.........................
..51
51
4.2 PROCEDIMENTO DE A NÁLISE DE FALHA EM LAMINADOS.................................................53
4.2.1 Critério da Máxima Tensão .............................................
....................................................................
........................................55
.................55
4.2.2 Critério da Máxima Deformação ............................................
...................................................................
................................
.........56
56
4.2.3 Critério de TSAI-HILL (1968) ............................................
...................................................................
.....................................56
..............56
SUM ÁRI O
1. INTRODUÇÃO ............................................
..................................................................
.............................................
.............................................
...........................
.....11
1.1 MATERIAIS COMPÓSITOS: DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO ...................................................2
1.2 MOTIVAÇÃO: VANTAGENS X DIFICULDADES .....................................................................3
1.3 PROCEDIMENTO DE PROJETO PARA ESTRUTURAS EM CPR ................................................5
................................................5
3. ANÁLISE MACROMECÂNICA
MACROMECÂNICA ..............................................
....................................................................
.......................................30
.................30
3.1 TEORIA CLÁSSICA DE LAMINADOS ..................................................................................30
3.2 A NÁLISE DE TENSÕES E DE DEFORMAÇÕES NA LÂMINA ..................................................43
4. ANÁLISE DE FALHAS..............................................
FALHAS......................................................................
...............................................
...............................
........47
47
4.1 MODOS DE FALHA DE UM LAMINADO ..............................................................................47
4.1.1 Danos Intralaminares.........................................
Intralaminares................................................................
.............................................
..............................
........48
48
4.1.2 Falhas Interlaminares (Delaminações)....................
(Delaminações) ..........................................
.............................................
.........................
..51
51
4.2 PROCEDIMENTO DE A NÁLISE DE FALHA EM LAMINADOS.................................................53
4.2.1 Critério da Máxima Tensão .............................................
....................................................................
........................................55
.................55
4.2.2 Critério da Máxima Deformação ............................................
...................................................................
................................
.........56
56
4.2.3 Critério de TSAI-HILL (1968) ............................................
...................................................................
.....................................56
..............56
5. TÉCNICAS DE FABRICAÇÃO.......................
FABRICAÇÃO ..............................................
.............................................
.........................................58
...................58
5.1 TÉCNICAS DE DEPOSIÇÃO DE FIBRA.................................................................................59
5.1.1 Hand-Lay-Up e Wet-Lay-Up (“Laminação”) ............................................
.........................................................60
.............60
5.1.2 Filament Winding
Winding (Enrolamento Filamentar
Filamentar ou Bobinagem)
Bobinagem) ................................
................................61
61
5.2 TÉCNICAS DE PROCESSAMENTO DE R ESINA
ESINA .....................................................................63
5.2.1 Cura em Autoclave ...........................................
..................................................................
.............................................
................................
..........63
63
5.2.2 Solidificação por Termoformagem.....................
Termoformagem ...........................................
.............................................
...............................
........65
65
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBLIOGRÁFICAS .............................................
.....................................................................
................................
........67
67
Projeto e Fabricação de Estruturas Aeronáuticas em Material Compósito Polimérico 1
1. INTRODUÇÃO
A aplicação de materiais compósitos é uma realidade atual principalmente no segmento de
indústrias aeronáutica e aeroespacial. Ao longo do tempo, diversos projetos foram baseados
considerando as propriedades desses materiais, dentre os quais pode-se citar: F-111, Vought A-7, F-
18, F-22, no segmento militar; Lockheed L-1011, Rutan Voyager, Boeing 777, Airbus 380, Boeing
787 no segmento civil. Um compósito pode ser considerado um material multifase que exibe uma
combinação de propriedades, possibilitando assim, um desempenho melhor desse material frente a
cada fase da sua composição, caso essas fossem empregadas individualmente (Callister, 1985).
(b)
(a)
FIGURA 1-1 – Compósito Polimérico Reforçado (CPR): (a) Fuselagem em CPR;
(b) Falhas intra e interlaminares
De acordo com esse princípio de ação combinada, procura-se moldar os melhores arranjos de
propriedades por uma combinação criteriosa de dois ou mais materiais distintos. Esses materiais que
formam o compósito podem ser classificados como aglomerante (fase contínua ou matriz) ou
reforço (fase dispersa). O aglomerante tem como função manter os reforços unidos, transmitindo a
estes o carregamento aplicado. Os reforços têm como função suportar os carregamentos
transmitidos pelo aglomerante. Devido à grande variedade de compósitos, Callister (1985) os
classifica como: compósitos reforçados por partículas, compósitos reforçados por fibras e
compósitos estruturais. Neste trabalho serão abordados especificamente os compósitos estruturais
laminados, que possuem uma resina polimérica como matriz e fibras longas como reforços
empilhados em camadas. Cada camada possui um conjunto de fibras sob uma dada direção, sendo
então chamada de lâmina (Figura 1(a)). Vale ressaltar que o texto irá geralmente referenciar os
compósitos poliméricos reforçados laminados com a sigla CPR
A inerente anisotropia associada aos CPR permite que se projete as propriedades do material
juntamente com as características geométricas e funcionais da estrutura, de maneira a se obter o
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desempenho desejado. A combinação de valores de resistência, bem como, de rigidez,
proporcionada pelo caráter anisotrópico do material, e principalmente, o peso tornaram os CPR
muito atrativos para indústria aeronáutica e aeroespacial. Em se tratando de rigidez e resistência
tem-se que as mesmas podem ser projetadas em função dos requisitos de projeto, ou seja, pode-se
desenvolver o projeto do material em função do carregamento ao qual a estrutura está sendo
solicitada. Aumentando-se rigidez e resistência, sem necessariamente incrementar o peso total da
estrutura, tem-se economia de combustível, gerando assim, aumento de desempenho para uma
determinada missão, ou ainda, aumento de alcance da aeronave. Vale ressaltar ainda que os custos
de uma aeronave estão diretamente associados ao processo de produção ao qual o material será
submetido para obtenção do componente final. Quanto aos custos, é interessante considerar o fator
de utilização de material que é expresso pela relação entre o peso de matéria-prima utilizada pelo
peso do componente final. Enquanto que para metais tem-se um fator de utilização de material de
15 – 25, para materiais compósitos tem-se 1,2 – 1,3 (Jones, 1999).
No entanto, a anisotropia presente nos materiais compósitos pode ser vista como um fator
positivo ou negativo. Pois, se por um lado, é concedida a possibilidade de não apenas selecionar o
material, mas também projetá-lo em conjunto com a estrutura visando uma alta eficiência, por outro
lado, a anisotropia associada à heterogeneidade faz com que haja uma grande dificuldade em se
prever com precisão os modos de falha intra e interlaminares do material (Figura 1(b)). Essa
dificuldade de prever o comportamento mecânico reflete diretamente na confiabilidade dos
componentes fabricados, e torna-se ainda mais sério para componentes de alta responsabilidade, nos
quais a combinação de danos por fadiga ou por impacto e de efeitos do meio ambiente pode causar
falha catastrófica. Isto obriga o emprego de elevados coeficientes de segurança que evidenciam a
sub-utilização das potencialidades desses materiais, acarretando assim num custo mais elevado para
o produto final (Tita, 2003).
A abordagem micromecânica busca analisar a lâmina constituída por: reforço (fibra), matriz
(resina polimérica) e interface fibra-matriz. Apesar da lâmina ser ortotrópica e heterogênea, vários
autores consideram seus constituintes (fibra e resina polimérica) como sendo isótropos e
homogêneos a fim de facilitar o procedimento de análise. Por outro lado, a abordagem
macromecânica busca analisar o comportamento da estrutura, ou seja, o comportamento mecânico
do laminado que é constituído por uma seqüência de lâminas empilhadas.
Além da alta resistência específica, os plásticos reforçados são requisitados pelo bom
desempenho frente a carregamentos dinâmicos. Em alguns projetos, o maior objetivo é evitar danos
estruturais causados por vibrações indesejáveis. Para tal, é possível empilhar as lâminas segundo
uma seqüência adequada a fim de obter um laminado com freqüências naturais diferentes da
freqüência de excitação (Tita; Carvalho e Lirani, 2001). Nas últimas duas décadas, os plásticos
reforçados estão sendo utilizados para garantir não apenas a eficiência estrutural, mas também a
segurança de passageiros, nas indústrias automobilística, aeronáutica, naval, de trens e até mesmo
de elevadores. Dessa forma busca-se um projeto estrutural de componentes que absorvam a máxima
quantidade de energia proveniente de um impacto sob um certo controle do colapso, sem ocasionar
riscos para a vida humana ou então gerar altas desacelerações na estrutura. Neste caso, o uso de
plásticos reforçados é aconselhável, pois estes são capazes de dissipar grande quantidade de
energia, sem comprometer a resistência da estrutura.
Nota-se assim, que os materiais compósitos poliméricos reforçados possuem uma excelente
combinação de rigidez, resistência e baixo peso que são características muito atrativas para o
desenvolvimento de estruturas. Além dessas características deve-se ressaltar a sua inerente
anisotropia que permite ao projetista desenvolver as propriedades do material juntamente com as
características geométricas e funcionais da estrutura, de maneira a se obter o desempenho desejado.
Por exemplo, as estruturas fabricadas em plástico reforçado podem ter as fibras arranjadas nas
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direções mais solicitadas em função dos carregamentos atuantes. No entanto, a anisotropia presente
nos plásticos reforçados pode ser vista como um fator positivo ou negativo. Pois, se por um lado,
ela concede ao engenheiro a possibilidade de não apenas selecionar o material, mas também
projetá-lo em conjunto com a estrutura visando uma alta eficiência estrutural, por outro lado, a
anisotropia associada à heterogeneidade faz com que haja uma grande dificuldade em se prever com
precisão o modo de falha da estrutura. Essa dificuldade de prever o modo de falha exato do material
reflete diretamente na confiabilidade das estruturas fabricadas, e torna-se ainda mais sério para
estruturas de alta responsabilidade, onde a combinação de fadiga, de danos por impacto e de efeitos
do meio ambiente pode causar falha catastrófica. Isto obriga os engenheiros a utilizarem nos
cálculos, elevados coeficientes de segurança que evidenciam a sub-utilização das potencialidades
desses materiais, acarretando assim num custo mais elevado para o produto final.
É diante desse contexto que vários estudos tem sido apresentados nas últimas décadas com o
intuito de minimizar o problema da sub-utilização dos plásticos reforçados, visando o
desenvolvimento de estruturas que possuam uma combinação de bom desempenho com viabilidade
de fabricação e custos aceitáveis para um mercado competitivo. Dessa forma, o presente texto visa
apresentar aspectos importantes relacionados com o desenvolvimento e a fabricação de uma
estrutura em plástico reforçado.
Com base nos valores de propriedades elásticas de uma dada lâmina pode-se obter a rigidez
de um laminado completo, utilizando a Teoria Clássica de Laminados. A rigidez juntamente com os
carregamentos externos pré-especificados possibilitará o cálculo das deformações no laminado. Este
procedimento é conhecido como Análise Macromecânica e será melhor apresentado no Item 3. Os
valores de deformações no laminado se relacionam com os valores de tensões no mesmo através das
Equações Constitutivas. Sob posse dos valores de tensões no laminado pode-se calcular os valores
de tensão em cada lâmina através de uma Transformação Tensorial. Tal procedimento de Análise de
Tensões e de Deformações também será detalhado no Item 3.
As tensões calculadas juntamente com os limites de resistência obtidos através de ensaios
experimentais são então aplicados a um dado Critério de Falha, a fim de que se possa determinar a
ocorrência ou não da falha de uma lâmina. Caso a falha seja detectada, e o nível de tensão que a
causou esteja abaixo do desejado, deve-se fazer o re-projeto da estrutura. Isto envolve a escolha de
uma nova seqüência de empilhamento, de um novo reforço e/ou de uma nova matriz, ou então, de
uma nova fração volumétrica de fibra. Tal procedimento de Análise de Falhas bem como os
mecanismos de falha apresentados em plásticos reforçados serão relatados no Item 4.
Por fim, caso a estrutura final esteja bem dimensionada, segue-se para a fabricação da mesma.
Sendo assim, será apresentado no Item 5, algumas Técnicas de Fabricação para obtenção de
estruturas em plástico reforçado.
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Resina é um termo genérico utilizado para designar polímeros, pré-polímeros e/ou misturas de
vários aditivos ou componentes quimicamente reativos. As propriedades físico-químicas da resina
afetam profundamente as propriedades bem como a fabricação dos plásticos reforçados. Como
exemplo, a estabilidade térmica e a temperatura máxima de serviço do componente em plástico
reforçado são determinadas pelas propriedades da resina polimérica. Portanto, variações na sua
formulação ou presença de impurezas podem afetar a sua processabilidade como o seu manuseio,
comprometendo o desempenho do componente e sua durabilidade ao longo do tempo. Dessa forma,
deve-se evitar que as resinas poliméricas sejam expostas à ação prolongada de luz ultravioleta ou de
alguns solventes, pois as mesmas irão se degradar, alterando assim as propriedades finais da
estrutura final fabricada em plástico reforçado.
Pesquisadores classificam as resinas como termoplásticas e termofixas e demonstram que a
diferença principal está no comportamento característico quando aquecidas. As termoplásticas se
fundem em um líquido viscoso capaz de sofrer grandes deformações para serem então moldadas e
solidificadas numa forma desejada. Dentre as quais destacam-se: o polietileno, o polipropileno e o
nylon. Por outro lado, as termofixas podem inicialmente formar ligações químicas intercruzadas
(processo de cura) e posteriormente, caso a taxa de aquecimento permaneça, podem sofrer uma
decomposição térmica. Dentre as quais destacam-se: as epóxis, as poliésteres e as fenólicas. Dessa
forma, as resinas termoplásticas após se solidificarem podem ser novamente fundidas e
reaproveitadas, o mesmo não ocorrendo com as resinas termofixas.
A TABELA 2.1.1-1 apresenta as faixas típicas de valores das propriedades mecânicas das
resinas termofixas e termoplásticas, demonstrando que as resinas termofixas possuem propriedades
mecânicas superiores às termoplásticas.
TABELA 2.1.1-1 – Comparação das faixas típicas de valores das propriedades das resinas.
Propriedades Termofixas Termoplásticas
Módulo de Elasticidade (GPa) 1,3 – 6,0 1,0 – 4,8
Resistência à Tração (GPa) 0,02 – 0,18 0,04 – 0,19
Temperatura Máxima de Serviço ( oC) 50 – 450 25 – 230
Por outro lado, as resinas termoplásticas são geralmente empregadas em estruturas menos
solicitadas mecanicamente e/ou termicamente. No entanto, devido a grande facilidade e rapidez de
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processamento dessas resinas, tem-se que as mesmas estão sendo cada vez mais utilizadas para fins
estruturais.
2.1.2 Reforços
Dessa forma, nota-se que o arranjo do reforço pode ser unidirecional, multidirecional ou
aleatório, dependendo dos esforços que atuam no componente a ser projetado. O arranjo
unidirecional concede características ortotrópicas ao compósito final, ou seja, o material possuirá
três planos de simetria ortogonais entre si (planos 1-2, 1-3 e 2-3) (FIGURA 2.1.2-2 (a)). O arranjo
multidirecional concede características anisótropas ao compósito final, ou seja, o material não
(a) (b)
FIGURA 2.1.2-2 – (a) Arranjo unidirecional: material ortotrópico;
(b) Arranjo multidirecional: material anisótropo.
Além da disposição (orientação) das fibras, outro aspecto a ser considerado é o comprimento
das fibras. O fenômeno de transferência de carregamento, é função do comprimento da fibra e da
adesão interfacial entre fibra e matriz. Assim, para cada combinação fibra-matriz é necessário
estabelecer um comprimento mínimo da fibra capaz de garantir efetivamente a rigidez e resistência
do plástico reforçado. Matthews e Rawlings (1994) definiram o comprimento crítico da fibra ( l c )
como sendo o comprimento mínimo da fibra, para um dado diâmetro, que admita a tensão de
ruptura a tração da fibra em lugar da tensão de ruptura ao cisalhamento da interface, isto é, o
comprimento mínimo de fibra necessário para a tensão transmitida alcançar a tensão de ruptura a
tração da fibra. Então:
σ f ⋅ d
lc = (2.1.2-1)
2 ⋅ τ f
onde:
l c = comprimento crítico da fibra;
σ f = resistência à tração na ruptura da fibra;
τ f = menor resistência ao cisalhamento da matriz ou da interface;
d = diâmetro da fibra.
o o
o ã ã
ã s s
s n n
n e e
e T
T T
0 l
l c l c l c l c Posição
0 2 2 l 0 2 2 l
Posição Posição
σ f σ f
σ f σ f σ f σ
f
l = l c
l > l c l < l c
As propriedades das fibras mais comumente utilizadas estão mostradas na TABELA 2.1.2-1,
cujos dados são uma pequena quantidade do vasto estoque de informações acumuladas por meio de
experimentos que são relatados na literatura ou então encontrados em catálogos de fabricantes.
(a) (b)
FIGURA 2.2-1 – (a) Lâmina: direção longitudinal e transversal; (b) Planos de Ortotropia.
A lâmina possui três planos de simetria posicionados ortogonalmente entre si (FIGURA 2.2-1
(b)). Dessa forma, para que se possa caracterizar mecanicamente uma lâmina ortotrópica deve-se
determinar nove constantes elásticas:
! E11 = módulo de elasticidade da lâmina na direção longitudinal;
! E22 = módulo de elasticidade da lâmina na direção transversal (paralelo ao plano da lâmina);
! E33 = módulo de elasticidade da lâmina na direção transversal (perpendicular ao plano da
lâmina);
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! G12 = módulo de cisalhamento longitudinal paralelo ao plano da lâmina (medido no plano 1-2);
! G13 = módulo de cisalhamento transversal perpendicular ao plano da lâmina (medido no plano
1-3);
! G23 = módulo de cisalhamento transversal perpendicular ao plano da lâmina (medido no plano
2-3);
! ν12 = coeficiente de Poisson longitudinal paralelo ao plano da lâmina (medido no plano 1-2);
As proporções relativas de matriz e fibra são obtidas através das frações de massa ou de
volume (fração volumétrica) que podem ser encontradas dividindo respectivamente as equações
2.2-1 e 2.2-2 por M c e Vc. Portanto:
M f M m
1= + (2.2-3)
Mc Mc
Vf Vm Vv
1= + + (2.2-4)
Vc Vc Vc
m f + m m = 1 ou ! Mi = ! m = 1
i
M c
(2.2-7)
v f + v m + v v = 1 ou ! Vi = ! v = 1
i
V c
Ou:
M c M f + M m ρ f Vf + ρ m Vm
ρc = = =
Vc Vc Vc
(2.2-9)
ρ c = ρ f v f + ρ m v m
Considerando as hipóteses impostas para o emprego da Regra das Misturas tem-se que na
direção longitudinal ao se aplicar um dado carregamento P c, as deformações das fibras, da matriz e
do compósito nesta direção serão iguais (FIGURA 2.2.1-1). Dessa forma:
ε c = ε f = ε m (2.2.1-1)
Como a fibra e a matriz apresentam comportamento elástico, as tensões são dadas pela Lei de
Hooke:
σ f = E f ε f e σm = E mεm (2.2.1-2)
Além disso:
De forma análoga pode-se obter o volume de matriz e o volume de compósito. Além disso,
com base na FIGURA 2.2.1-1, tem-se que:
l f = l m = l c (2.2.1-7)
σ c = E c ε c = E f ε f v f + E m ε m v m
(2.2.1-9)
E c = E f v f + E m v m ou E11 = E f v f + E m v m
Nota-se assim, que a Regra das Misturas indica que a propriedade elástica da lâmina de um
plástico reforçado é dada pela média ponderada das frações volumétricas de seus n constituintes.
Deve-se ressaltar que está formulação também possibilita a determinação do valor de
resistência à tração na direção longitudinal que será representado pelo símbolo σ̂1 . Para se estimar
tal valor deve-se considerar a possibilidade da ocorrência de dois casos:
1. A deformação máxima das fibras ε̂ f é menor que a deformação máxima da matriz ε̂ m ;
2. A deformação máxima da matriz ε̂ m é menor que a deformação máxima da fibra ε̂ f .
εˆ c = εˆ f (2.2.1-11)
ˆ
σ f
o
ã
s
Fibra
n
e
T
σ mˆ
∗
σ m Matriz
ˆ
ε f ˆ
ε m
Deformação
Tomando a FIGURA 2.2.1-2, considerando que todas as fibras da lâmina possuem a mesma
resistência e que tanto as fibras como a matriz possuem comportamento linear elástico, pode-se
formular a tensão de ruptura sob tração de uma lâmina da seguinte forma:
σˆ 1 = σˆ f v f + σ*m v m ou σˆ 1 = σˆ f v f + σ *m (1 − v f ) (2.2.1-12)
Onde σ̂ f corresponde ao valor de tensão de ruptura das fibras e σ *m ao valor da tensão que
atua na matriz quando as fibras atingem o seu limite de deformação.
Nota-se assim, pela equação 2.2.1-12 que a resistência da lâmina não depende somente do
limite de deformação das fibras, mas também da fração volumétrica de fibra. Para uma fração
volumétrica v f baixa, após as fibras terem sido rompidas simultaneamente, o carregamento
aplicado irá fraturar a lâmina se a matriz não for capaz de suportá-lo. Dessa forma, tem-se que:
σˆ 1 = σˆ m v m = σˆ m (1 − v f ) (2.2.1-13)
ˆ
ˆ = σ ˆ f v f + σ m∗ (1 − v f )
σ f
σ 1
o
ã
s
n
e
T
σ mˆ ˆ = σ ˆ m (1 − v f )
σ 1
∗
σ m
FIGURA 2.2.1-3 – Variação da tensão de ruptura de uma lâmina unidirecional σ̂1 com v f para εˆ f < εˆ m
Nota-se assim pela FIGURA 2.2.1-3 que o ponto de intersecção das equações das retas 2.2.1-
12 e 2.2.1-13 determina o volume mínimo de fibras que é dado por:
σˆ m − σ ∗m
v min = v f = ∗
(2.2.1-14)
σˆ f + σˆ m − σ ∗m
Então, a fração volumétrica crítica é uma propriedade do sistema mais importante do que a
fração volumétrica mínima. Uma análise da eq.( 2.2.1-16) mostra que, quando σˆ m − σ ∗m é pequeno,
Por esta razão, pode ser visto que a fração volumétrica crítica é de maior importância, onde a
resistência à tração do compósito é o critério de projeto. Além disso, se os módulos de elasticidade
da fibra e da matriz são conhecidos tem-se:
Em
σ *m = ε̂ f E m e σˆ f = εˆ f E f , ou seja, σ *m = σˆ f ⋅ (2.2.1-17)
E f
Em
σˆ m − σˆ f
E f
v crit = (2.2.1-18)
E
σˆ f (1 − m )
E f
εˆ c = εˆ m (2.2.1-19)
ˆ
σ f
∗
σ f
Fibra
o
ã
s
n
e
T
Matriz
ˆ ˆ
ε m ε f
Deformação
Tomando a FIGURA 2.2.1-4, considerando que todas as fibras da lâmina possuem a mesma
resistência e que tanto as fibras como a matriz possuem comportamento linear elástico, pode-se
formular a tensão de ruptura sob tração de uma lâmina da seguinte forma:
σˆ 1 = σˆ f v f + σ *m v m ou σˆ 1 = σ ∗f v f + σˆ m (1 − v f ) (2.2.1-20)
Onde σ̂ f corresponde ao valor de tensão de ruptura das fibras e σ*f ao valor da tensão que
atua as fibras quando a matriz atinge o seu limite de deformação.
Nota-se assim, pela equação 2.2.1-20 que a resistência da lâmina não depende somente do
limite de deformação da matriz, mas também da fração volumétrica de fibra. Para uma fração
volumétrica v f alta, após a matriz fraturar, o carregamento aplicado irá fraturar a lâmina se as
fibras não forem capazes de suportá-lo. Dessa forma, tem-se que:
σˆ 1 = σˆ f v f (2.2.1-21)
& #
o
ã
s
n
e
T
σ mˆ
0 v f ∗ 1.0
v f
FIGURA 2.2.1-5 – Variação da tensão de ruptura de uma lâmina unidirecional σ̂1 com v f para εˆ m < εˆ f
Nota-se assim pela FIGURA 2.2.1-5 que o ponto de intersecção das equações das retas 2.2.1-
20 e 2.2.1-21 determina o volume mínimo de fibras que é dado por:
σˆ m
v ∗f = (2.2.1-22)
σˆ f − σ ∗f + σˆ m
Quanto à fração volumétrica crítica, verifica-se que para qualquer valor de v f tem-se que o
valor de resistência da lâmina será superior ao valor de resistência da matriz. Portanto, a fração
volumétrica crítica é nula quando εˆ m < εˆ f .
Por fim, conclui-se que a eficiência máxima das fibras é obtida quando grande parte do
carregamento é transferida para as fibras e quando o processo de ruptura é controlado pelas fibras
em lugar da matriz. Este último requisito implica que a fração volumétrica em fibra deve ter um
valor maior ou igual a um valor crítico, cujo valor depende da fibra e da matriz utilizada.
Considerando as hipóteses impostas para o emprego da Regra das Misturas tem-se que na
direção transversal ao se aplicar um dado carregamento P c, as tensões que atuam nas fibras, na
matriz e no compósito nesta direção serão iguais (FIGURA 2.2.2-1). Dessa forma:
σ c = σ f = σ m (2.2.2-1)
Dessa forma, a elongação transversal da lâmina de compósito δc é dada pela soma das
elongações das fibras δf e da matriz δm. Portanto:
δ c = δ f + δ m (2.2.2-2)
Desde que as frações volumétricas de fibra e de matriz possam ser escritas como:
t f tm
v f = e vm = (2.2.2-4)
tc tc
Como as tensões que atuam na direção transversal às fibras são iguais as que atuam na direção
transversal à matriz, pode-se escrever as deformações da seguinte forma:
σc σc
ε f = e εm = (2.2.2-6)
E f Em
Vale ressaltar que devido à isotropia transversal da lâmina que o módulo de elasticidade da
lâmina na direção transversal paralelo ao plano da lâmina E 22 é igual ao módulo de elasticidade da
lâmina na direção transversal perpendicular ao plano da lâmina E33.
FIGURA 2.2.3-1 – Representação de uma lâmina unidirecional carregada sob tensão de cisalhamento
Além disso, o deslocamento total da lâmina u c será dado pela soma dos deslocamentos das
fibras uf e da matriz u m. Portanto:
u c = u f + u m ou u c = t f γ f + t m γ m (2.2.3-1)
Com base na hipótese de que as deformações causadas por cisalhamento são lineares, tem-se
as seguintes relações:
τ f τm τ12
γ f = , γ m = e γ 12 = (2.2.3-5)
G f Gm G 12
Considerando que as tensões de cisalhamento que atuam nas fibras, na matriz e no compósito
são iguais e substituindo as relações (2.2.3-5) na equação (2.2.3-4) tem-se que o módulo de
cisalhamento longitudinal paralelo ao plano da lâmina (medido no plano 1-2) será obtido através da
seguinte equação:
1 1 1 n
v
= v f + vm =! i (2.2.3-6)
G 12 G f G m i =1 G i
De acordo com a isotropia transversal da lâmina, pode-se afirmar que G 12 é igual a G 13
(módulo de cisalhamento transversal perpendicular ao plano da lâmina e medido no plano 1-3).
Entretanto, o valor de G23 que é módulo de cisalhamento transversal perpendicular ao plano da
lâmina (medido no plano 2-3) necessita ser determinado. Porém, tem-se a seguinte relação:
E 33 E 22
G 23 = = (2.2.3-7)
2(1 + ν 23 ) 2(1 + ν 23 )
Se uma tensão σc for aplicada na direção longitudinal às fibras haverá uma contração da
lâmina na direção transversal, como ilustra a FIGURA 2.2.4-1. Essa contração poderá ser expressa
pela soma das contrações das fibras juntamente com a contração da matriz, ou seja:
u c2 = u f 2 + u m2 (2.2.4-1)
No entanto as contrações da matriz e da fibra podem ser expressas da seguinte forma:
ε m2 u m2 t m
ν m = − m = − m ou u m2 = −ν m u 1m
ε1 u1 t m
(2.2.4-2)
ε f 2 f
u t f
ν f = − f =− 2
f
ou u f 2 = −ν f u 1f
ε1 u t f
1
Onde νm e νf são respectivamente os coeficientes de Poisson da fibra e da matriz e t f e tm são
respectivamente as espessuras das fibras e da matriz.
Substituindo as relações (2.2.4-2) na equação (2.2.4-1) obtém-se:
( m ε1m t m + ν f ε1f t f )
u c2 = − ν m u 1m − ν f u 1f = − ν (2.2.4-3)
Considerando que as deformações nas fibras, na matriz e no compósito são iguais tem-se que:
ε1m = ε1f = ε1c = ε11 (2.2.4-4)
' t t $
Ou seja: u c2 = −%% ν m m + ν f f ""t c ε11 (2.2.4-6)
& t c t c #
Desde que as frações volumétricas de fibra e de matriz possam ser escritas como:
t f tm
v f = e vm = (2.2.4-7)
tc tc
Como coeficiente de Poisson longitudinal paralelo ao plano da lâmina (medido no plano 1-2)
ν12 é dado pela relação − ε 22 ε11 , tem-se:
n
ε 22
ν 12 =− = ν m v m + ν f v f = ! ν i v i (2.2.4-9)
ε11 i =1
De acordo com a isotropia transversal da lâmina, pode-se afirmar que ν12 é igual a ν13
(coeficiente de Poisson transversal perpendicular ao plano da lâmina e medido no plano 1-3).
Entretanto, o valor de ν23 que é o coeficiente de Poisson transversal perpendicular ao plano da
lâmina (medido no plano 2-3) necessita ser determinado. Porém, a determinação de tal coeficiente é
relativamente complexa, sendo apresentadas na literatura diferentes formas de cálculo. Uma forma
relativamente aceita foi apresentada por Whitney, Daniel e Pipes (1984) onde:
2E11 K 12 − E11 E 22 − 4ν122 K 12 E 22
ν 23 = (2.2.4-10)
2E 11K 12
Onde K 12 é o módulo volumétrico ( bulk modulus) da lâmina medido no plano 1-2 e pode ser
obtido através da seguinte expressão:
(K f + G m )K m + (K f − K m )G m v f
K 12 = (2.2.4-11)
(K f + G m ) − (K f − K m )v f
Onde:
vf = fração volumétrica de fibra
K f = módulo volumétrico da fibra
Gf = módulo de cisalhamento da fibra
K m = módulo volumétrico da matriz
Gm = módulo de cisalhamento da matriz
Verifica-se que caso o fornecedor das fibras e da resina não possua os dados referentes ao
módulo cisalhamento e ao módulo volumétrico de ambas, serão necessários vários ensaios
experimentais. Dessa forma, geralmente, opta-se por realizar ensaios experimentais a fim de
determinar ν23 ou então G 23, e com base na equação (2.2.3-7) pode-se calcular uma propriedade em
TABELA 2.3-1 – Ensaios mecânicos em plásticos reforçados para determinação de propriedades elásticas,
valores de resistência e limites de deformação.
Propriedades Resistência Limite de
Ensaios Mecânicos
Elásticas Mecânica Deformação
1)Tração a 0o: carregamento de tração aplicado
E11; ν12 (= ν13) XT X’T
paralelo às fibras.
2)Tração a 90 o: carregamento de tração aplicado
E22 (=E33) YT Y’T
perpendicular às fibras.
3)Compressão a 0o: carregamento de compressão
- XC X’C
aplicado paralelo às fibras.
4)Compressão a 90 o: carregamento de compressão
- YC Y’C
aplicado perpendicular às fibras.
5)Cisalhamento no plano 1-2 : carregamento de
G12 (=G13) S12 S’12
cisalhamento aplicado no plano da lâmina.
6)Cisalhamento no plano 2-3 : carregamento de
G23 - -
cisalhamento aplicado no plano 2-3.
Além da determinação das propriedades elásticas e dos valores de resistência mecânica, pode-
se observar através dos ensaios, todo comportamento mecânico de uma lâmina ortotrópica quando
solicitada sob tração, compressão, cisalhamento ou flexão. Dessa forma, todo comportamento de
uma lâmina de plástico reforçado pode ser observado com base numa curva tensão-deformação
obtida experimentalmente. A observação minuciosa dessa curva pode levar a conclusão da
ocorrência de mecanismos de danificação/falha intralamimar (no interior da lâmina), tais como
fraturamento das fibras ou da matriz, bem como mecanismos de falha interlaminar (entre lâminas)
conhecido por delaminação (separação de lâminas adjacentes). A identificação desses fenômenos
permitirá a escolha de um Critério de Falha mais adequado para uma futura Análise de Falhas. No
entanto, a realização desses ensaios exige que o projetista se atente para algumas particularidades,
tais como:
1. Os ensaios mecânicos que são realizados para a determinação de propriedades mecânicas dos
materiais bem como para determinação dos valores de resistência mecânica estão
fundamentados na aplicação da teoria básica de mecânica. Tal teoria é aplicada
satisfatoriamente para materiais elásticos, homogêneos e isótropos. Entretanto, os materiais
compósitos poliméricos possuem heterogeneidade, anisotropia e muitas vezes comportamento
inelástico, dificultando assim, a aplicação de tais conceitos;
2. Surgem grandes dificuldades na execução dos ensaios tais como:
- influência de efeitos de borda (“ end-effects”) que geram regiões de concentração de tensão
próximas às arestas da amostra;
- aplicação de níveis de carregamento adequados sem causar falhas prematuras ao material;
- utilização de dimensões apropriadas (em particular espessura) em relação à escala de
heterogeneidade do material;
3. A anisotropia também propicia alguns problemas, tais como:
- agrava os efeitos de borda (“ end-effects”), que dependem da geometria da amostra e do grau
de anisotropia;
- promove falhas prematuras em regiões do corpo-de-prova que estão próximas às fixações;
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- promove delaminações (separação de lâminas adjacentes) prematuras em arestas vivas
(“ free edges”), gerando assim a formação de outros mecanismos de falha;
4. Os testes em compósitos são de alto custo, pois:
- geralmente os materiais compósitos são caros;
- a fabricação de amostras demanda atenção meticulosa a detalhes;
5. Em determinados casos, as normas tradicionais (ASTM, ISO, DIN, etc.) podem ser bastante
adequadas; enquanto que em outros, podem ser totalmente inadequadas.
Na literatura é possível encontrar mais uma gama de comentários com relação à execução de
ensaios mecânicos em compósitos. Muitas vezes, pequenos detalhes durante a fabricação ou durante
os testes podem levar a resultados totalmente inconsistentes. Dessa forma, muitas vezes as normas
para ensaios de materiais compósitos são apenas um guia a ser seguido e que pode ter seus
parâmetros alterados dependendo do tipo de material que se pretende caracterizar.
3. ANÁLISE MACROMECÂNICA
A abordagem macromecânica consiste em analisar o comportamento da estrutura, ou seja, o
comportamento mecânico do laminado que é constituído por uma seqüência de lâminas empilhadas.
Por exemplo, um laminado com ângulos de orientação para as fibras iguais a 0 o, 90o, 90o e 0o
pode ser representado de várias maneiras: [0/90/90/0]; [0/90 2/0]; [0/90]s; [0/90/90/0]T. Os
subíndices que acompanham os respectivos ângulos de orientação das fibras de cada camada
(a) (b)
FIGURA 3.1-2 – (a) Sólido carregado (b) Estado Triplo de Tensões
Dessa forma o Tensor das Tensões será simétrico e poderá ser simplesmente representado por
um vetor de seis posições:
-σ x * - σ1 * - σ1 *
+σ ( +σ ( +σ (
+ y( + ( 2 + 2(
+σz ( + σ3 ( +σ 3 (
σ = + ( ou σ = + ( ou σ = + ( (3.1-3)
+ τ yz ( +σ 23 ( +σ 4 (
+τ zx ( +σ 31 ( +σ 5 (
+ ( + ( + (
+,τ xy () ,+σ12 )( ,+σ 6 )(
O raciocínio análogo pode ser desenvolvido para o Tensor das Deformações que é dado por:
- γ xy γ xz *
+ ε xx
+ γ 2 2 ((
γ yz (
ε=+
yx
ε yy (3.1-4)
+ 2 2 (
+ γ zx γ zy (
+ ε zz (
+, 2 2 ()
E pode ser representado por um vetor de seis posições devido à simetria do tensor:
- ε xx * - εx * - ε1 * - ε1 *
+ ε ( +ε ( +ε ( +ε (
+ yy ( + y( + ( 2 + 2(
+ ε zz ( +ε ( +ε ( +ε (
+ γ yz ( ou ε = + z ( ou ε = + 3 ( ou ε = + 3 (
ε=+ ( (3.1-5)
+ ε yz ( +ε 23 ( +ε 4 (
+ γ 2 ( + ε zx ( +ε 31 ( +ε 5 (
+ zx 2 ( + (
+ γ ( + ( + (
+ xy ( + ε
, ) xy ( +
, ε 12 (
) ,+ε 6 )(
, 2)
1 − ν 12 − ν 13
C11 = ; C 21 = ; C 31 =
E11 E11 E11
− ν 21 1 − ν 23
C12 = ; C 22 = ; C 32 =
E 22 E 22 E 22
− ν 13 − ν 32 1
C13 = ; C 23 = ; C 33 =
E 33 E 33 E 33
1 1 1
C 44 = ; C 55 = ; C 66 =
G 23 G 31 G 12
Com a inversa da matriz de flexibilidade, tem-se a matriz de rigidez, que para os compósitos
poliméricos será convenientemente chamada de Q:
- σ1 * - Q11 Q 12 Q13 0 0 0 * - ε1 *
+σ ( + Q Q 22 Q 23 0 0 0 (( ++ ε 2 ((
+ 2 ( + 21
+ σ 3 ( +Q 31 Q 32 Q 33 0 0 0 ( +ε 3 (
+ (=+ (+ ( (3.1-10)
+σ 4 ( + 0 0 0 Q 44 0 0 ( + γ 4 (
+σ 5 ( + 0 0 0 0 Q 55 0 ( + γ 5 (
+ ( + (+ (
+,σ 6 () +, 0 0 0 0 0 Q 66 () +, γ 6 ()
onde:
E11 (1 − ν 23 ν 32 )
Q11 =
∆ E11 ( ν 21 + ν 31 ν 23 ) E 22 ( ν 12 + ν 32 ν 13 )
E (1 − ν 31 ν13 ) Q12 = =
Q 22 = 22 ∆ ∆
∆ E ( ν + ν ν ) E ( ν + ν ν )
E (1 − ν12 ν 21 ) Q13 = 11 31 21 32 = 22 13 12 23
Q 33 = 33 ∆ ∆
∆ E ( ν + ν ν ) E ( ν + ν 21 ν 13 )
Q 44 = G 23
Q 23 = 22 32 12 31 = 33 23
∆ ∆
Q 55 = G 13 ∆ = 1 − ν 12 ν 21 − ν 23 ν 32 − ν 31 ν 13 − 2 ν 21 ν 32 ν 13
Q 66 = G 12
Dessa forma a Lei de Hooke passa ser escrita em função da Matriz de Rigidez Reduzida:
- σ1 * -Q11 Q12 0 * - ε1 *
+σ ( = +Q 0 (( ++ε 2 ((
+ 2 ( + 21 Q 22 (3.1-11)
+,σ 6 () +, 0 0 Q 66 () +,γ 6 ()
onde:
E11 E 112
Q11 = =
1 − ν12 ν 21 E 11 − ν122 E 22 ν 12 E 22 ν E E
Q12 = Q 21 = = 12 112 22
E 22 E11E 22 1 − ν12 ν 21 E 11 − ν12 E 22
Q 22 = =
1 − ν12 ν 21 E 11 − ν122 E 22 ν 12 ν 21
=
Q 66 = G 12 E 11 E 22
- ε * - * - * - ε *
+ 1
( + εx ( + εx ( + 1 (
= [T ]+ ε y ( + εy ( −1
+ ε2 ( , ou seja, = [T ] + ε 2 ( (3.1-13)
+ γ 6 ( + ( + ( + γ 6 (
+, 2 () Local + γ xy ( + γ xy ( +, 2 () Local
, 2 ) Global , 2 ) Global
Substituindo 3.1-12 e 3.1-13 em 3.1-11 tem-se a equação constitutiva escrita para o Sistema
Global de Coordenadas (x-y) em função da Matriz de Rigidez Reduzida Transformada:
- σx * - Q11 Q12 Q16 * - ε x *
+ ( + (+ (
+ σy ( = + Q12 Q 22 Q 26 ( + ε y ( (3.1-13b)
+σ xy ( + Q 26 Q 66 () +,γ xy () Global
, ) Global , Q16
- Q11 Q12 Q16 * - Q11 Q12 Q16 *
+ (
Ou seja: + Q12 Q 22 Q 26 ( = [T ]−1 ++Q12 Q 22 Q 26 (([T ] (3.1-13c)
+ Q16 Q 26 Q 66 () +,Q16 Q 26 Q 66 ()
,
(a) (b)
FIGURA 3.1-4 – Influência da orientação da fibra: (a) nas propriedades elásticas (Jang, 1994);
(b) na rigidez da lâmina (Hull, 1981).
(a) (b)
FIGURA 3.1-5 – (a) Estrutura laminada; (b) Esforços atuantes
Nesse laminado podem atuar Forças Normais (N x; Ny e Nxy), Forças Cortantes (Q x e Qy),
Momentos Fletores (M x e My) e Momento de Torção (M xy) como mostra a FIGURA 3.1-5(b).
Esses esforços podem ser calculados em função das tensões internas do laminado e, portanto,
podem ser equacionados em duas parcelas:
Nota-se assim, a necessidade de se obter as tensões internas que atuam no laminado. Para tal,
faz-se uso da Teoria Clássica de Laminados que possui as seguintes hipóteses:
! O laminado é considerado plano (como uma placa) e o plano médio (superfície média)
que divide o mesmo ao meio está contido no plano x-y (plano1-2);
! As lâminas estão perfeitamente vinculadas entre si, não existindo deslocamento
relativo entre as mesmas e promovendo assim a continuidade de deslocamentos;
! A matriz que permanece entre as lâminas é infinitesimalmente fina e não deformável
por cisalhamento;
! Para laminados finos são empregadas as aproximações cinemáticas de Kirchhoff Isto
acarreta em: εxz = εyz = εz = 0 e σxz , σyz , σz << σxy , σy , σx
De acordo com a FIGURA 3.1-6, tem-se que um dado ponto C, distante z c do plano médio,
terá um deslocamento u c na direção x dado pela seguinte equação:
u c = u 0 − z cβ (3.1-17)
∂w 0 (3.1-18)
Sendo β=
∂x
onde:
εxo, εyo e εxyo são deformações no plano médio do laminado
Nota-se que as aproximações de Kirchhoff resultam numa variação linear dos deslocamentos
e das deformações ao longo da espessura do laminado e para um laminado que sofre pequenas
deformações, tem-se que as mesmas podem ser escritas de uma forma compacta para o Sistema
Global de Coordenadas (x-y):
[ε]Global = [ε 0 ]Global + z[K ]Global (3.1-25)
onde:
[εo] = deformações no plano médio do laminado
[K] = curvatura do laminado medida em relação ao plano médio
k = indica a lâmina
- N X * n 5 - ε x0 * - K x * 2
+ N ( = / K [Q ] + ε ( dz + K [Q ] + K ( zdz /
h h
+ Y( ! 4 .h
K =1 / K 1−K
+ y0 ( .h K 1 K + y ( 1/
−
(3.1-28)
+, N XY () + γ xy 0 ( + K xy (
3 , ) , ) 0
- MX * n 5 - ε x0 * - K x * 2
+ M ( = / K [Q ] + ε ( zdz + K [Q ] + K ( z 2 dz /
h h
+ Y( ! 4.h
K =1 / K 1
− K
+ y0 ( .h K 1 K + y ( 1/
−
(3.1-29)
+, M XY () + γ xy 0 ( + K xy (
3 , ) , ) 0
Vale destacar que a matriz [Q ] permanece constante em uma lâmina, pois é função apenas do
ângulo de orientação das fibras e da matriz [Q] que por sua vez depende somente das propriedades
elásticas da lâmina. Nota-se também que a deformação no plano médio [ εo] e a curvatura [K] do
laminado, medida em relação ao plano médio, permanecem constantes para cada lâmina. Sendo
assim, as equações 3.1-28 e 3.1-29 podem ser reescritas da seguinte forma:
[ N] = [A][ε 0 ] + [B][K ] (3.1-30a)
n h K
[B ] = ! .h [Q ] zdz = Matriz de acoplamento entre a rigidez no plano e a rigidez à flexão
k =1 K −1 K
n h K
[D ] = ! .h [Q ] z 2 dz = Matriz que representa a rigidez à flexão ou à torção
k =1 K −1 K
Ou seja:
- [ N ]* -[A ] [B]* -[ ε o ]*
+[M ]( = + [B] [D ]( + [K ]( (3.1-31)
, ) , ), )
A presença da matriz de acoplamento [B] nas equações constitutivas implica que as forças
normais Nx e Ny e a força de cisalhamento N xy atuantes no plano médio de um laminado resultam
não apenas em deformações normais e distorções angulares γ xy, mas também em flexão e torção
produzindo as curvaturas K x, K y e K xy respectivamente. Analogamente, a ação dos momentos M x,
My e Mxy provoca deformações no plano médio além das curvaturas. Caso a matriz [B] apresente
valor nulo fica claro pela matriz [A] que as forças resultantes normais provocarão distorções
angulares em adição às deformações normais e que as forças de cisalhamento produziram
deformações normais além das distorções angulares. O mesmo raciocínio pode ser aplicado em
relação à matriz [D] em que os momentos fletores e o momento de torção estarão envolvidos tanto
com flexão como com torção. Para matriz [B] apresentar valor nulo, é necessário que o laminado
seja simétrico, pois, como a matriz [B] é formada a partir de uma integral que depende da
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coordenada z, tem-se que as contribuições das lâminas com coordenada z-positivo anulam as
contribuições provenientes das lâminas que possuem coordenada z-negativo. Portanto, num
laminado simétrico não há presença de acoplamentos entre as forças normais e a força de
cisalhamento com os momentos fletores e o momento de torção.
Deve-se ressaltar que até então se apresentou a formulação para laminados finos, no caso de
laminados espessos, torna-se necessário calcular as tensões de cisalhamento transversais provocadas
por forças cortantes (Q x e Qy). Para tal, assume-se que estas tensões estão distribuídas
parabolicamente ao longo da espessura do laminado. Em contraste com as descontinuidades na
interface entre as lâminas, utiliza-se uma função contínua f(z) dada por:
5 - ' z $ *
2
f (z) = +1 − % " ( (3.1-32)
4 +, & h / 2 # ()
Q y = (A 45 xz + A 44 γ yz ) (3.1-34)
onde:
5 n - 4 1*
A ij = !
4 k =1
( Qij ) k +h k − h k −1 − (h 3k − h 3k −1 ) 2 (
, 3 h )
-Q y * -A 44 A 45 * - γ yz *
+Q ( = + A A 55 () +, γ xz ()
(3.1-36)
, x ) , 45
Conclui-se assim que para laminados finos deve-se empregar somente a equação 3.1-35 e que
para laminados espessos deve-se recorrer tanto à equação 3.1-35 como a equação 3.1-36. No
entanto, em termos práticos de projeto, as equações acima são explicitadas de forma inversa, ou
seja, dado um determinado carregamento, calcula-se os valores de deformação normais ( εxo e εyo),
distorções angulares γ xy bem como curvaturas K x, K y e K xy. Porém, todos esses valores são
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contabilizados em relação ao plano médio do laminado e necessitam ser obtidos em relação a cada
lâmina.
As equações (3.2-1) e (3.2-2) podem ser combinadas para formar as equações constitutivas
parcialmente invertidas:
-[ ε o ]* -[A * ] [B* ]* -[ N]*
+[M ]( = + * * (+ ( (3.2-3)
, ) ,[C ] [D ]) ,[K ])
Onde:
[A * ] = [A −1 ]
[B* ] = −[A −1 ][B]
[C* ] = [B][A −1 ] = −[B* ]T
[D * ] = [D ]− [B][A −1 ][B]
[D'] = [D * ]
−1
Têm-se assim os valores das deformações no plano médio bem como as curvaturas em função
dos carregamentos atuantes no laminado em função do Sistema Global de Coordenadas. Sob posse
desses valores é possível obter as tensões que atuam numa dada lâmina k em relação a esse sistema:
k
[σ]Global
k
= [Q ]Global [[ε 0 ]Global + z[K ]Global ] (3.2-9)
Verifica-se, portanto, que se pode estabelecer um procedimento para realizar uma Análise de
Tensões e de Deformações em um laminado, através dos seguintes passos:
Passo 2: Calcular a Matriz de Rigidez Reduzida de uma lâmina em relação ao Sistema Local
de Coordenadas.
- Q11 Q12 0 *
[Q]Local = ++Q 21 Q 22 0 ((
+, 0 0 Q 66 ()
onde:
E 11 E112
Q11 = =
1 − ν12 ν 21 E11 − ν122 E 22
E 22 E11 E 22
Q 22 = =
1 − ν12 ν 21 E11 − ν122 E 22
Q 66 = G 12
ν 12 E 22 ν E E
Q12 = Q 21 = = 12 112 22
1 − ν12 ν 21 E11 − ν12 E 22
ν 12 ν 21
=
E 11 E 22
1 n
[B] = ! [Q ]k (h k 2 − h k 2 −1 )
2 k =1
1 n
[D ] = ! [Q ]k (h 3k − h 3k −1 )
3 k =1
Passo 6: Calcular as tensões que atuam numa dada lâmina k em relação ao Sistema Global de
Coordenadas.
k
= [Q ]Global [[ε 0 ]Global + z[K ]Global ]
k
[σ]Global
As tensões serão então substituídas de forma adequada nos Critérios de Falha e com base no
valor obtido pelo critério o projetista poderá avaliar se uma dada lâmina irá ou não falhar sob uma
determinada combinação de carregamentos.
4. ANÁLISE DE FALHAS
Sob posse dos valores de tensão e de deformação que atuam em cada lâmina do laminado
segue-se para a análise de falhas da estrutura. Para realizar tal análise, o engenheiro necessita em
primeiro lugar conhecer quais são os diferentes modos de falha que podem ocorrer em uma
estrutura fabricada em plástico reforçado. Em seguida deve selecionar o critério de falha mais
adequado para o problema em questão e daí então aplicar no critério escolhido, as tensões que
atuam na estrutura a fim de prever a ocorrência de falha.
f alha.
Os mecanismos de danificação que ocorrem dentro das lâminas podem ser subdivididos em 3
classes:
! Mecanismos de danificação da fibra
! Mecanismos de danificação da matriz
! Mecanismos de danificação da interface fibra-matriz
(a)
(b)
FIGURA 4.1.1-1 – Mecanismos da fibra sob compressão: (a) Microflambagem (Agarwal e Broutman, 1990);
(b) Cisalhamento (Agarwal e Broutman, 1990)
(1) (2)
(a)
FIGURA 4.1.1-2 –Evolução do dano na matriz: (a) sob tração; (b) sob compressão.
Caso a lâmina esteja sob a ação de carregamento de cisalhamento poderá ocorrer ruptura da
matriz como mostra a FIGURA 4.1.1-3(a).
(a)
(b)
FIGURA 4.1.1-3 – Mecanismos da matriz sob cisalhamento:
(a) fratura da matriz (adaptado de Agarwal e Broutman, 1990);
(b) influência da orientação das fibras (Hanh e Tsai,1973).
(a) (b)
FIGURA 4.1.1-4 – (a) Danificação/falha da interface sob compressão
(b) Mecanismos de danificação/falha em uma lâmina sob tração (Anderson, 1995)
Estudos demonstram que o mecanismo de falha dos compósitos se assemelha ao dos metais
no que diz respeito à evolução do processo, ou seja, assim como nos metais, a falha nos materiais
compósitos inicia-se por pequenos mecanismos (danos intralaminares) para depois então ocorrer os
mecanismos mais visíveis (falha interlaminar). Normalmente o processo de danificação inicia-se em
lâminas que tenham orientação de fibra próxima a 90 o em relação aos carregamentos. Após o
aparecimento do primeiro dano, o carregamento na estrutura tende a ser re-distribuído vindo a
provocar o aparecimento de mais regiões danificadas na mesma lâmina ou em outras lâminas. Esse
processo ocorre sucessivamente até que essas regiões danificadas se unem, formando assim uma
fissura discreta. As fronteiras das fissuras que se formaram numa determinada lâmina encontram
lâminas adjacentes com ângulos de orientação diferente (FIGURA 4.1.2-1(a)). Neste momento, as
tensões de cisalhamento interlaminares aumentam abruptamente e levam o laminado a iniciar o
processo de delaminação (FIGURA 4.1.2-1(b)). É interessante ressaltar que o número de
delaminações aumenta em quantidade e se propaga pela estrutura com o incremento dos
carregamentos.
(a) (b)
FIGURA 4.1.2-1 – Mecanismos de danificação/falha em plásticos reforçados:
(a) processo de evolução da falha (Hull, 1981); (b) amostra delaminada
(a) (b)
FIGURA 4.1.2-2 – (a) Delaminação: Tensões Interlaminares e Tensões Normais
(b) Modos Básicos de Delaminação
σ z
τ yz τ xz
y x
(a)
(b)
FIGURA 4.1.2-3 – (a) regiões prováveis de ocorrência de delaminação (adaptado de Jang, 1994). ;
(b) evolução das tensões devido ao efeito de borda (Keunings, 1992).
Sendo assim, um procedimento geral de análise de falha pelo Método LPF é constituído pelas
seguintes etapas (FIGURA 4.2-1):
1. Análise de Tensões: análise desenvolvida de forma analítica utilizando a Teoria Clássica de
Laminados ou então de forma numérica;
2. Selecionar um Critério de Falha: a seleção do critério de falha mais adequado é uma das
principais etapas do processo de análise;
3. Aplicar as tensões ao Critério de Falha: sob posse das tensões que atuam em cada lâmina
é possível obter o valor da equação do critério escolhido em cada lâmina;
4. Verificar as lâminas que falharam : através da equação do critério é possível determinar se
houve falha de alguma lâmina;
5. Se não houve falha – Incrementar Carregamento: o carregamento deve ser incrementado
para que se faça uma nova análise das tensões;
6. Se houve falha – Degradar propriedades da Lâmina : a lâmina que falhou deve ter suas
propriedades elásticas reduzidas (degradadas) em função do modo de falha ocorrido;
7. Houve falha total?: verificar se todas as lâminas falharam;
Verifica-se assim que o Método FPF é fortemente conservador em termos de segurança, pois
a falha de uma simples lâmina, não resulta na falha do laminado completo. Por outro lado, o
Método LPF pode superestimar a resistência do laminado. Conseqüentemente, o engenheiro deve
ser cuidadoso ao escolher o método, mas principalmente o Critério de Falha que irá utilizar. Porém,
devido principalmente à complexidade de previsão dos fenômenos físicos, tem-se uma gama de
Critérios de Falha para materiais compósitos polimérico. Segue então, uma breve apresentação de
três Critérios de Falha comumente empregados.
onde:
σ1: tensão de tração ou compressão aplicada na direção longitudinal às fibras;
σ2: tensão de tração ou compressão aplicada na direção transversal às fibras;
σ12: tensão de cisalhamento aplicado no plano da lâmina;
XT,C: resistência da lâmina à tração ou à compressão na direção longitudinal às fibras;
YT,C: resistência da lâmina à tração ou à compressão na direção transversal às fibras;
S12: resistência ao cisalhamento no plano da lâmina.
σ2
σ2 = YT
σ12 = -S12
σ1 = −XC
σ1
σ1 = XT
σ2 = −YC σ12 σ12 = S12
onde:
ε1 = deformação na direção longitudinal à fibra
Com base no Critério de HILL, Tsai propôs um critério de falha para materiais
especificamente ortotrópicos transversalmente isotrópos. Assim, o Critério de TSAI-HILL para
estado plano de tensões pode ser expresso da seguinte forma:
Onde σ1 e σ 2 são ambas tensões de tração na equação. Vale ressaltar que o Critério de Tsai-
Hill quantifica a desigualdade em tração e compressão do material, ou seja, quando as tensões
normais σ1 e/ou σ 2 são de compressão, as correspondentes tensões de resistência à compressão
devem ser empregadas. Dessa forma, re-arranjando a equação acima, tem-se que o critério possuirá
na verdade 4 equações distintas para que o mesmo possa ser representado no espaço das tensões
( σ 1 - σ 2 ):
1) No primeiro quadrante, (σ1 , σ 2 > 0) :
2 2 2
σ 1 σ 2 σ 1σ 2 σ 12
2
+ 2
− 2
=1− 2 (4.2.3-1a)
X T Y T X T S 12
Com isso, torna-se possível obter os envelopes de falha segundo o Critério de TSAI-HILL.
Tais envelopes demonstram que o aumento da tensão de cisalhamento resulta numa contração do
envelope de falha, fazendo com que a falha ocorra sob combinações de tensões normais menores
FIGURA 4.2.3-1.
aumento de σ 12
σ 1
Na prática, para verificar se uma lâmina falhou ou não, empregando o Critério de TSAI-
HILL, utiliza-se às definições Fator de Segurança e Margem de Segurança. O Fator de Segurança é
igual a:
2 2 2
' σ $ ' σ $ ' σ σ $ ' σ $
FS = f (σ) = % 1 " + % 2 " − % 1 2 2 " + %% 12 "" (4.2.3-2)
& X # & Y # & X # & S12 #
Dessa forma, se MS for menor do que zero significa que a lâmina irá falhar. Por outro lado, se
MS for muito maior do que zero significa que a lâmina está com uma resistência muito alta e pode
ser otimizada.
Vale ressaltar que este critério é um dos mais empregados, entretanto, para alguns compósitos
sob determinados carregamentos que apresentam escoamento, a formulação do Critério de TSAI-
HILL não é satisfatória. Além disso, o mesmo não é invariante em relação ao sistema de
coordenadas, sendo aplicado apenas aos materiais com presença de eixos de ortotropia (1-2-3).
Finalmente, deve-se destacar que caso a falha seja detectada, o projetista deve recorrer ao Re-
Projeto do laminado como mostra a FIGURA 1.4-1. Para tal, ele pode modificar a seqüência de
empilhamentos a fim de alterar a rigidez, ou alterar alguns constituintes como tipo de resina ou tipo
de reforço ou então, aumentar a fração volumétrica de fibra.
5. TÉCNICAS DE FABRICAÇÃO
No esquema mostrado na FIGURA 1.4-1, verifica-se que a técnica de fabricação a ser
aplicada é a última etapa a ser cumprida. No entanto, não é neste momento que o projetista irá
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escolher a técnica de fabricação mais adequada para se obter uma determinada estrutura. Na
verdade, a técnica de fabricação deve ser selecionada pelo projetista a partir do momento que o
mesmo selecionar o tipo de reforço e matriz que serão empregados bem como definir a geometria
da estrutura.
Geometria
Material Processo
A FIGURA 5-1 mostra que há um “Elo de Ligação” entre o material a ser empregado, o
processo de fabricação e a geometria da estrutura. Dessa forma, dependendo do tipo de resina
selecionada (termoplástica ou termofixa), do tipo de reforço (contínuo ou picado) deve-se escolher
o tipo de processo de fabricação. No entanto, o projetista deve estar atento também à forma, ou seja,
se a forma será prismática ou de revolução. Portanto, somente um processo de fabricação adequado
poderá orientar as fibras nas direções especificadas em projeto, garantindo assim uma maior
eficiência estrutural.
Há inúmeras técnicas de fabricação para materiais compósitos poliméricos que variam desde
processos manuais até processos altamente automatizados, tornando difícil a sua classificação.
Além disso, uma estrutura, muitas vezes é obtida através de uma combinação de processos que
ocorrem simultaneamente. Neste texto, optou-se por subdividir as técnicas de fabricação em dois
grandes grupos:
1. Técnicas de Deposição de Fibra : são utilizadas para posicionar os reforços de maneira
automática ou manual. A resina polimérica pode estar ou não na sua forma química ou
física final durante este processo de deposição;
2. Técnicas de Processamento de Resina: estão subdivididas em dois tipos que são os
Processos de Cura e os Processos de Solidificação.
Caso o ângulo de orientação seja diferente do especificado em projeto tem-se que os Critérios
de Falha adotados não serão mais válidos, pois a lâmina ortotrópica irá possuir novos valores de
resistência mecânica. Caso a seqüência de empilhamento das lâminas não seja atendida, tem-se que
o laminado terá comportamento diferente do previsto em projeto com base na Teoria Clássica de
Laminados. Finalmente, se a distribuição dos reforços não for homogênea, haverá regiões no
laminado com maior fração volumétrica de fibras ao passo que outras terão maior fração
volumétrica em resina. Novamente, o laminado previsto em projeto terá comportamento diferente
do laminado fabricado. Sendo assim, as lâminas projetadas deverão ter a sua resposta governada
pela fibra ao passo que algumas lâminas fabricadas terão a sua resposta governada pela matriz.
Segue abaixo a apresentação de algumas técnicas de deposição de fibra, evidenciando as
principais variáveis do processo e suas principais características bem como algumas aplicações.
Essas duas técnicas de deposição de fibras são as mais antigas e mais comuns. A técnica de
Hand-Lay-Up baseia-se na superposição manual de camadas de fibras pré-impregnadas com resina
ou fibras a seco em um molde que definirá a forma da peça (FIGURA 5.1.1-1 (a)).
Camadas 7 e 8 +/-45o
Camadas 5 e 6 +/-45o
Camadas 3 e 4 +/-45o
Camadas 1 e 2 0o /90o
(a) (b)
FIGURA 5.1.1-1 – (a) Hand-lay-up; (b) Wet-lay-up
mandril
Para tal processo, utiliza-se um vaso pressurizado que aplica pressão e calor sob a peça
previamente colocada numa bolsa de vácuo. As autoclaves em geral operam em 10-300 psi (70-
2000 kPa) e acima de 420 oC. A aplicação de pressão e a transferência de calor são realizadas por
convecção de gás pressurizado (ar, nitrogênio ou dióxido de carbono) sob a peça (FIGURA 5.2.1-1
(a)).
(a) (b)
FIGURA 5.2.1-1 – (a) Autoclave;
(b) Fase de preparação para efetuar moldagem do laminado: Fase de Laminação
A FIGURA 5.2.1-1 (b) apresenta todo o sistema montado, ou seja, o conjunto preparado para
ser levado para a auto-clave. No entanto, vale destacar que antes do fechamento da auto-clave,
aplica-se vácuo com auxílio de uma bomba de vácuo.
Após a Fase de Laminação (preparação) e com o sistema sob vácuo, segue-se para a Fase de
Moldagem (cura), aplicando pressão e temperatura de acordo com as especificações fornecidas pelo
fabricante do material. Atualmente é possível operar auto-claves controladas computacionalmente
que permitem fazer rampas de aquecimento e rampas de resfriamento. Sendo assim, dado o ciclo de
um cura de um determinado tecido “ prepreg ” (FIGURA 5.2.1-2), o operador pode programar a
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auto-clave para que execute o mesmo. Considerando que a temperatura ambiente esteja por volta
dos 20 oC, demora-se cerca de 30 minutos para que se atinja os 120 o C desejados. Neste instante, a
viscosidade da resina é mínima, mas por outro lado, as reações químicas de intercruzamento já
iniciaram durante a fase de aquecimento. Dessa forma, é de fundamental importância manter por 60
minutos a resina sob o patamar dos 120 oC a fim de que não haja degradação do material por
exotermia. Durante esses 60 minutos, aplica-se uma pressão de 3 bar (0,3 MPa), visando assim,
expulsar o excesso de resina e compactar o laminado.
100 3 -0,2
]
r
] a ]
r
C 80 b
[ a
[
o
o b
a ã -0,4 [
r o
u
t 2 s
s u
a e c
r r á
e 60 P V
p
m
e -0,6
T
40 1
-0,8
20
0
0 30 60 90 120 150
tempo [minutos]
Vale ressaltar que antes de ligar a auto-clave, coloca-se o sistema sob a ação de -0,8 bar (-0,08
MPa) de vácuo para eliminar possíveis bolhas que viessem a se formar com o aquecimento da
resina. Deve-se destacar também que a pressão é mantida durante a fase de resfriamento do
equipamento para garantir a forma do laminado compactado. Somente após o resfriamento do
equipamento é que a pressão pode ser reduzida, e então o molde pode ser retirado da auto-clave.
Finalmente, após 150 minutos, pode-se remover as peças curadas pela auto-clave.
Apesar de ser um processo de custo elevado, o mesmo permite a cura de peças de grande
porte e com alta qualidade.
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