Radicais Duplos
Radicais Duplos
Radicais Duplos
Resumo. p Apresentamos
√
neste artigo as relações que permitem escrever um radical duplo
√ √
do tipo A ± B como uma soma (ou diferença) de radicais simples da forma a ± b.
Empregamos um problema geométrico presente no vestibular do ITA de 1990 para motivar o
estudo de radicais duplos e usamos as relações provenientes da transformação para calcular
a raiz quadrada de números complexos de uma forma simplificada. Os objetivos do trabalho
são relacionar Geometria e Álgebra, aplicar o estudo de radicais e destacar a importância
da correlação de conteúdos em sala de aula.
Palavras-chave. Radiciação, volume da pirâmide, circuitos elétricos.
Abstract.p We√present in this article the relationships that allow to write a √
double radical
√
of type A ± B as a sum (or difference) of simple radicals of the form a ± b. We
use a geometric problem included in 1990 ITA vestibular to motivate the study of double
radicals and we employ the relations from the transformation to calculate the square root
of complex numbers in a simplified way. The aims of the work are to connect Geometry and
Algebra, apply the study of radicals and highlight the importance of contents correlation in
classroom.
Keywords. Root extraction, volume of the pyramid, electric circuits.
1 Problema motivador
O problema descrito a seguir foi proposto no vestibular do Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA) de 1990.
Seja uma pirâmide de vértice V e base triangular ABC. O segmento AV , de compri-
mento unitário, é perpendicular à base e os ângulos das faces laterais, no vértice V , medem
45o , como ilustra a Figura 1(a). Pede-se para calcular o volume da pirâmide V ABC.
Como sabemos, o volume da pirâmide é determinado pela terça parte do produto
da área da base pela altura da pirâmide [4]. Sendo o segmento V A perpendicular ao
triângulo ABC, V A é a altura da pirâmide. Temos então que calcular a área da base.
1
[email protected]
2
[email protected]
3
[email protected]
(a) (b)
Figura 1: Pirâmide do problema motivador: (a) dados iniciais; (b) dados complementares.
a+b=A
(
√ = a +√b
A
⇒ B . (4)
B = 2 ab ab =
4
B
x2 − Ax + = 0,
4
ou seja,
√
A+ A2 − B
x1 = a =
2
e √
A− A2 − B
x2 = b = .
2
Como a > b, o lado direito da Equação (2) é um número real positivo. A condição
A2 > B, imposta inicialmente, garante que o lado esquerdo da Equação (2) também é
um número real positivo. Essas condições eliminam as “raı́zes estranhas” que podem ser
obtidas ao se elevar uma equação como (2) ao quadrado, como discutido em Lima et al [7].
Assim, podemos reescrever a igualdade (2) como
s √ s √
√ A2 − B A2 − B
q
A+ A−
A± B = ± . (5)
2 2
Logo, o radical duplo pode ser transformado em uma soma (ou diferença) de radicais
simples se, em (5), A2 − B for um quadrado perfeito, com as condições anteriormente
impostas a A e B.
Retornando ao problema geométrico motivador, constatamos que a medida (1) não
pode ser reescrita como uma diferença de radicais simples, uma vez que A = 4 e B = 8
implicam em A2 − B = 8, o qual não é um quadrado perfeito.
Dessa forma, aplicando o Teorema de Heron [3, 8] ao triângulo ABC, obtemos para a
área do triângulo ABC e para o volume da pirâmide V ABC, respectivamente,
√
q
1
A∆ABC = 2 2 − 2ua, (6)
2
√
q
1
VV ABC = 2 2 − 2uv. (7)
6
As medidas (6) e (7) também são dadas por radicais duplos. Como √ A = −2 <√0, não
2
podemos empregar a transformação (5), uma vez que A − B = −4 e A2 − B = −4 =
2i. Contudo, seria possı́vel usarmos a relação (5) para calcularmos a raiz quadrada de um
número complexo? [5, 9]
√ √ √
q q p
w = ± z = ± a ± bi = ± a ± b −1 = ± a ± −b2 ,
s p s p
2
a + a − (−b ) 2 2 2
a − a − (−b )
w = ± ± ,
2 2
s √ s √
a+ a +b2 2 2
a− a +b 2
w = ± ± . (8)
2 2
√
Como a2 + b2 é o módulo do número complexo z [1,2,6], denotado por |z|, podemos
reescrever a igualdade (8) como
r r !
√ a + |z| a − |z|
w=± z=± ± ,
2 2
r r !
|z| + a
(−1) (|z| − a)
w=± ± ,
2 2
r r !
|z| + a |z| − a
w=± ± i . (9)
2 2
Se |z| for um número racional, o número complexo w (9) terá as partes real e imaginária
dadas por radicais simples.
Apliquemos agora a relação (9) para solucionar quatro problemas, sendo os dois primeiros
propostos em [9] e o quarto um problema interdisciplinar.
√
w2 = −3i ⇒ w = −3i
z = −3i, a = 0, b = 3
√
|z| = 32 = 3
r r !
√ √ 3+0 3−0
z = −3i = ± − i
2 2
√ √ !
3 3
=± √ −√ i
2 2
√ √ !
6 6
=± − i
2 2
√ √
6 6
w1 = − i
2√ 2√
6 6
w2 = − + i
2 2
Problema 4: No circuito ilustrado na Figura 2, a potência total sobre a impedância
U2
A fórmula que relaciona S, U e Z em circuitos elétricos é S = . Assim:
Z
√
U= SZ;
p
U = (2 − 2j)(23 + 7j);
p
U = 60 − 32j;
r r
|(60 − 32j)| + 60 |(60 − 32j)| − 60
U = − j;
r 2 r 2
68 + 60 68 − 60
U = − j;
2 2
U = (8 − 2j)V.
4 Conclusões
Enquanto professores da Educação Básica, é importante associarmos os conteúdos
estudados em sala de aula, contextualizando-os sempre que possı́vel. Mostramos neste
artigo algumas relações entre números complexos e radicais duplos, enfatizando as conexões
entre a Geometria e a Álgebra e aplicando as propriedades dos radicais em um problema
interdisciplinar. Destacamos que a forma proposta para calcular a raiz quadrada de um
número complexo é mais simples do que empregar a Segunda Fórmula de Moivre [6], uma
vez que não dependemos do argumento do número complexo.
Referências
[1] M. P. Carmo, A. C. Morgado and E. Wagner. Trigonometria e números complexos.
Coleção do Professor de Matemática, 3 ed., SBM, Rio de Janeiro, 2005.
[2] R. Courant and H. Robbins. What is Mathematics? 2nd ed., Oxford University Press,
New York, 1996.
[5] C. S. Guimarães. Matemática em nı́vel IME/ITA. Vestseller, São José dos Campos,
2008.
[10] J. S. e Silva and J. D. S. Paulo. Compêndio de Álgebra. Tomo II. Livraria Popular de
Francisco Franco, Lisboa, 1969.