A Genealogia de Copacabana PDF
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Genealogia de Copacabana 50
4. Genealogia de Copacabana
A verdade é que tudo ali existe em função da praia. Foi a praia que
valorizou o chão, foi a praia que ergueu os arranha-céus. A praia
criou aquela mocinha queimada e de óculos escuros, que fala uma
linguagem que você, da Tijuca ou de Madureira, não compreende-
rá. Bars, cassinos, homens de terras distantes, americanos alegres
e austríacos enterrados na sua melancolia, casas de antiguidades,
atletas e cocktails – tudo isso é fruto da praia. Prestem bem atenção
a essa coisa importante: a Tijuca também é lugar onde se mora e se
vive, mas lá o chão não está espetado de arranha-céus e penso que a
bebida que ainda hoje predomina, nas suas casas e nos seus bares, é
o bom e amigo leite doméstico.
Copacabana: janela para o mar. Joel Silveira, O Cruzeiro, 29 mar.
1943, p. 14 a 17.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0710768/CA
que gira em torno dos salões do Copacabana Palace, tendo por ator/
personagem “a senhora”. Estes microcosmos e seus personagens for-
mam os ecossistemas com seus comportamentos próprios, que são
objeto da imprensa da época.
O fato que acontece nas ruas torna-se notícia construída nas re-
dações das revistas e jornais. A interpretação da notícia a leva de volta
às ruas como fato. Do entrecruzamento de falas constrói-se uma cida-
de múltipla de significados, uma cidade-corpo, cujos redutos e artérias
formam um sistema de informações articulado, uma linguagem.
70 Idem. p. 231
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Cidade maravilhosa,
Cheia de encantos mil...
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!
...
Letra e música de André Filho
74 Idem. p. 23
75 Morse, . As cidades “periféricas” como arenas culturais: Rússia, Áustria, América Latina.
Estudos Históricos. p. 205-225.
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76 carvalho, M. Alice. Quatro vezes cidade; Neves, Margarida de Souza. Brasil, acertai vos-
sos ponteiros p. 53-65.
77 edmundo, Luís. O Rio de Janeiro de meu tempo.
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ses médias urbanas que abrangia novos gêneros musicais, festas po-
pulares, religiões, linguagens, culinária e estilos de vida, que viria a
se expandir e consolidar a partir dos anos 1930. Dado o interesse das
elites econômicas em que o Rio funcionasse como vitrine de um país
que pretendia vir a integrar o “rol das nações civilizadas”, a cidade
adquiriu a função de caixa de ressonância de uma “cultura nacional”,
e sua paisagem foi adquirindo importância diferenciada em relação
a outras cidades.78
Voltei do Rio num estado que não sei bem como é, num es-
tado misturado. Tinha de tudo nele, e de muitas coisas desse
tudo não terei tempo de lhe contar, nem talvez valha a pena.
O Rio me dá uma animação danada, isso é verdade. Não é
apenas por falar muito de arte, de literatura, de andar de cá
pra lá, dormindo, respirando, falando arte. (...) Eu careço de
tudo isso. Daí um desejo quasi enraivecido de Rio (...)
92 Peregrino Jr., “Um sorriso para todas”. Careta, nº 1020, 7 jan. 1928, p.34. In: BAN-
DEIRA, Manuel; ANdrade, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro em prosa e verso.
93 Peregrino Junior. Um sorriso para todas...
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94 A narrativa que se segue foi recolhida em livros sobre a história do bairro, crônicas e ma-
térias de imprensa.
95 Jaguaribe, Beatriz. Os passos perdidos, cidade e mito. Papêis avulsos, 20.
96 Sevcenko, Nicolau. História da vida privada no Brasil. V. 3 P. 563.
97 Postado por “Saudades do Rio” em 04/02/2009 05:38, http://fotolog.terra.com.br/lui-
zd:1532. O site não fornece indicação de data nem de local de publicação.
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98 Matos, Maria Izilda. Pelas noites de Copacabana: roteiro boêmio de Antonio Maria.
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103 As informações e fotografias sobre os moaicos foram encontradas nas páginas virtuais
de http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id4.html e de Teixeira, Milton. As calçadas em
mosaico de pedras portuguesas do Rio de Janeiro. http://www.jornalcopacabana.com.br/
ed162/milton.htm
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Abertura da rua Rodolfo Dantas. Vê-se, ao fundo, o quase sempre com dois pavimentos, pequenos jardins na frente e
hotel Copacabana Palace quintal nos fundos. Além dos bangalôs, os preferidos da classe mé-
dia, havia uma variedade de estilos, como os cottages “que pareciam
transplantados da Normandia, prédios em estilo bávaro, casas rústi-
cas da Escócia, mansões coloniais”, construídas pelas firmas de enge-
nharia que se alastram pelo bairro.
Fotos de Augusto Malta ... apartamentos modernos, para pequenas e grandes famílias
e quartos independentes para solteiros no último andar.
Propaganda do Palacete São Paulo (antigo Palacete Lido),
Revista Light, julho de 1929.
Afirma O Beira-mar:
ao individualismo.
fino trato” e aos ricos. Copacabana serve, então, aos ricos e aos que
querem se passar por ricos. Morar em prédio de apartamentos deno-
ta riqueza, saúde, higiene, privacidade, distinção, civilização, ascen-
são social, status, modernidade. É curiosa essa vinculação entre ser
rico e morar em edifício, uma vez que as antigas habitações coletivas
das classes trabalhadoras eram sinal de pobreza, doença, insalubri-
dade, aglutinação, promiscuidade, mistura, degradação social, atraso
cultural. Para essa radical inversão de valores contribuem diferentes
A vida social transfere-se do interior das residências
para a rua fatores de ordem material e/ou simbólica que se articulam, moldan-
OC5M O natal na praça do Lido do o senso comum, entre eles o cuidado na construção dos novos
O Cruzeiro, 26 dez. 1942, p. 4/5 prédios, em que distinção e luxo evidenciavam-se nos detalhes: en-
tradas de grandes dimensões, lustres de cristal ou alabastro, linhas
art nouveau e posteriormente art deco. O art deco baseava suas linhas
e volumes em projeções futuristas, condensando todos os símbolos
do mundo moderno, da ciência e das técnicas: linhas retas, planos
ortogonais, metais cromados, cores industriais, plásticos, mobiliário
mínimo, sóbrio e objetivo. Dos banheiros, chamados salas de banho
ou water closets, até os nomes dos edifícios, tudo denotava a intenção
de riqueza dos moradores: Rex, Imperator, Magestic, Glória, Éden.
A ostentação e o luxo da nova burguesia eram representados pelo
Copacabana Palace Hotel e pelos prédios de apartamentos que sur-
giam em torno dele até a praça do Lido, área chamada de “Coração
de Copacabana”.
1965
O Edifício Chopin foi o primeiro prédio de Copaca- a zona sul e a zona norte. A zona sul, que começa pro-
bana a ter janelas panorâmicas de vidro. priamente no Flamengo, é a civilização do apartamento e das
praias maliciosas, do traje e dos hábitos esportivos, da boite e
dos pecados à meia-luz, dos enredos grã-finos, do pif-paf de
família, dos bonitões de músculos à mostra e dos suculen-
tos brotinhos queimados do sol, dos conquistadores de alto
coturno e de certas damas habitualmente conquistáveis, do
short, do blusão e do slack, dos hotéis de luxo (e de outros de
má reputação) e dos turistas ensolarados. O Rio cosmopoli-
ta está na Zona Sul, onde uma centena de nacionalidades se
tropicalizam à beira das praias. A Zona Norte é Brasil 100%.
A gente mora largamente em casas (muitas com quintal) e
Praça do Lido com seu restaurante a casa impõe um sistema diferente de vida: patriarcal, con-
servador. Vizinhança tagarela e prestativa, garotos brincando
na calçada. Reuniões na sala de visitas. Solteironas ociosas
e mocinhas sentimentais analisando a vida que passa debai-
xo das janelas. Namoro no portão, amor sob controle – para
casar. Festinhas familiares, de baixa dosagem alcoólica. A
permanente compostura no traje, ajustada com a do procedi-
mento. Paletó e gravata. Mais toilette que vestidos, mais área
coberta nos corpos femininos. Vida mais barata. Empregada
de 300 réis. Menos água, mais calor. Diversão pouca, nada de
boite e night-club. Vida menos agradável aos homens, mais
abençoada pelos santos.
Zona Sul – Zona Norte, paraíso e purgatório do Rio. Sair do
Avenida Atlântica em 1956
purgatório e ganhar o paraíso é aspiração de quase todos,
mas há quem prefira, sinceramente, a vida simples e provin-
ciana dos bairros e subúrbios do norte. Para muitos a zona
120 Ibidem.
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Leme em 1908
Foi na praia do Flamengo. Via-se de roupão de banho, cujas
dobras mais salientavam, um verdadeiro modelo de estatu-
ária grega. Atirou-se à água, e se não fosse a flanela, que lhe
cobria a extraordinária plástica, poderia ser comparada à Vê-
nus... Fitei-a; fitei-a de uma maneira capaz de deixar em seco
todo o molhado reino de Netuno. Saiu. Passou-me por perto,
pingando, e o meu olhar teve maior eloquência que um volu-
me inteiro de discursos.122
122 Bandeira, Manuel; Andrade, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro em prosa e verso.
123 O decreto que regulamentava o banho de mar preconizava que:
Duas visões da praia, nos anos 1940 e 1950 Vestuário apropriado guardando a necessária decência e compostura.
Não permitir o trânsito de banhistas nas ruas que dão acesso às praias, sem uso de roupão
ou paletós suficientemente longos, os quais deverão ser fechados ou abotoados e que só
poderão ser retirados nas praias.
Não permitir vozerios ou gritos, que não importem em pedidos de socorro e que possam
alarmar os banhistas.
Proibir a permanência de casais que se portem de modo ofensivo à moral e decoro públi-
cos nas praias, logradouros e nos veículos.
Circuito Copacabana.
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Ipanema e Leblon.
4.3.3 O Copacabana125