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Evolução da Reciclagem do ‘Irreciclável’
(Junho 2019) Everton da Silva Coelho, Rebeca Lopes Adamuz Materiais Elétricos – Profº. Dr. Lauro Paulo – ICT SJC UNIFESP RESUMO — A evolução dos polímeros fez com que metais sejam II. HISTÓRICO E ESTRUTURA DOS TERMOFIXOS substitutos em diversas aplicações por polímeros, como em latarias de carro. Os polímeros podem ser divididos em dois tipos: O primeiro termofixo foi criado em 1909 por Leo Hendrik termoplásticos e termofixos; o termofixo possui características, Baekeland, registrado pelo nome de Bakelite (Baquelite), esse tais como alta resistência a calor e resistência a deformação, material ficou rapidamente popular por manter sua forma fazendo desse polímero usado em diversas aplicações do cotidiano. quando aquecido e foi empregado em cabos de panelas, partes A principal desvantagem dos polímeros termofixos está no fato isolantes de ferramentas e, na Segunda Guerra Mundial, na deles não poderem ser reciclados, porém a questão do descarte fabricação de armas. desse material no seu fim de vida tem se tornado um tópico Os termofixos são polímeros que possuem estabilidade relevante entre especialistas, assim, nos últimos anos pesquisas nesse ramo (reciclagem de termofixos) têm surgido. térmica, alta dureza, estabilidade dimensional (sua forma é Esse documento apresenta duas pesquisas feitas na última mantida após moldagem) e é resistente a compressão. Essas década sobre reciclagem; a primeira, pioneira na sua ideia, propriedades se devem ao processo de reticulação em que apresenta a criação de classes de termofixos que podem ser cadeias lineares de polímeros se interligam de forma cruzada, reciclados; enquanto a segunda propõe tratamentos químicos para produzindo um polímero tridimensional com alta massa molar; quebrar as ligações cruzadas dos termofixos, os transformando em enquanto os termoplásticos, uma outra categoria de polimeros, produtos reusáveis ou recicláveis. Ambas pesquisas seguem pelo é formada por uma cadeia de polímeros lineares que conseguem mesmo caminho mas obtêm diferentes resultados, e com isso tempos duas promissoras ideias para lidar com o problema do se mover livremente quando aquecida ou sobre pressão. descarte desses produtos não recicláveis O termofixo tem ampla utilidade, por exemplo os Epóxis são usados como adesivo em automóveis e aeronaves e na criação I. INTRODUÇÃO de placas de circuitos impressos; os fenol-formaldeído podem ser usados, juntamente com lã e vidro, para isolamento acústico; A SSIM como é importante que novas e melhores tecnologias sejam desenvolvidas para melhorar a condução elétrica, também é necessário pensar em tecnologias na área dos já os amina-formaldeídos são aplicados em superfícies de mobílias, pisos e cozinhas e em utensílios pois são compatíveis isolantes, pois estes são responsáveis pela segurança do sistema com corantes e pigmentos; e os silicones são usados como e por garantir o mínimo de perdas durante a condução elétrica. selantes em juntas e molde de fundição, além disso são capazes Atualmente os principais isolantes usados no ramo da de suportar horas de intenso fluxo luminoso sem ficar eletrônica são os polímeros. Os polímeros podem ser divididos amarelado ou sobre outra degradação, assim são usados em duas categorias: Termoplásticos, que são polímeros que também na fabricação de LEDs. fundem a determinada temperatura; e termofixos, que são polímeros que mantem sua forma e rigidez quando aquecido, se III. TECNOLOGIAS QUE POSSIBILITAM A RECICLAGEM a temperatura for muito alta, ele se degrada. Os termofixos, em É evidente que devido ao seu amplo uso (consequência de especial os epóxis, são os polímeros mais usados na construção suas propriedades de resistência térmica e não-deformidade) de placas de circuitos impressos (PCB), de encapsulamento de polímeros termofixos estão presente em muitos objetos usados LEDs e capacitores, devido a sua resistência térmica e no dia-a-dia, e o número desse material tende a aumentar com habilidade de manter sua forma. Do total dos termofixos, 7% o crescimento da demanda desses objetos à base de termofixos. deles são destinados no uso direto em eletrônicos e 16% dos Com isso, uma questão muito importante é levantada, ‘o que compósitos de termofixos são para o mesmo uso. fazer com os descartes? ’, pois por consequência de sua Com o avanço tecnológico, cada vez mais esse material estrutura esse material não é reciclável. A maneira inicial que isolante é necessário e apesar de suas ótimas propriedade esse material foi reutilizado foi através da trituração/corte em mecânicas, os termofixos tem uma desvantagem que a longo certos tamanhos, para preencher certo materiais, como por prazo é péssima para o meio ambiente, esse material não é exemplo no preparo de concreto não-estrutural. reciclável, além disso, em altíssimas temperaturas pode liberar Pensando nisso, pesquisas sobre reciclagem tem sido compostos orgânicos voláteis (VOCs), que podem ser tóxicos. desenvolvida nos últimos anos. 2
A. Novas Classes de Termofixos limpeza: enxague em água e secagem a temperatura ambiente.
Em 2014, cientistas da IBM, realizaram uma pesquisa sobre A solução, agora sem a fibra de carbono, foi neutralizada a reciclabilidade desse tipo de polímero, e o resultado foi que com hidróxido de sódio, com isso, o termoplástico que não é eles conseguiram desenvolver duas novas classes de termofixo: solúvel em água precipitou na solução, então as últimas etapas o HDCN (Hemiaminal Dynamic Covalent Networks) e o PHT foram executadas: filtragem do termoplástico, enxague e (PolyHexahydroTiazine). secagem em centrifuga até virar pó. O tempo desse processo Foi polimerizado um monômero (4,4’oxydianiline, ODA) e pode variar dependendo da densidade do termofixo. através da condensação desse monômero com paraformaldeido Na pesquisa, é esperado que o processo seja eficiente no solvente NMP (N,N-dimethyl-p-phenyleneamine) á 50°C também para recuperar metais e fibras de vidro após durante 30 minutos, foi formado o HDCN, ao aumentar esse despolimerização do termofixo. temperatura a aproximadamente 200°C, formou-se o PHT IV. CONCLUSÃO Com o aumento de consumidores a cada dia, a produção de lixo também aumenta e pelas Diretrizes Europeias de Aterros é necessário que o descarte em aterros seja diminuído. Essas diretrizes incentivaram o surgimento de pesquisa no ramo de reciclagens eficientes, incluindo reciclagem dos, até então, irreciclaveis termofixos. Pesquisas efetivas de reciclagem de termofixos são extremamente necessárias, pois devido as suas propriedades, Figura 1 - Reação química da formação do HDC e do PHT termofixos são amplamente usados e consequentemente seu descarte é alto. Assim, técnicas e métodos desse tipo de Por meio de análise de ressonância magnética nuclear reciclagem podem ser considerados tecnologias de ponta e (NMR) e medições infravermelhas no estado solido mostram fundamentais para a preservação do meio ambiente, podendo que o PHT possuiu um bom modulo de Young (E 14 GPa), até produzir economia a industrias fabricantes de termofixos. além disso, PHTs e seus compostos mostraram distintas propriedades mecânicas (sua temperatura de degradação é aproximadamente 300°C) e excepcional estabilidade para REFERENCES solventes orgânicos e soluções com pH>3, porém em pH<2 Biron, M. (2014). Thermosets and Composites. Elsevier. podem ser facilmente despolimerizado, permitindo a recuperação dos monômeros para reuso. Com isso, a García, J. M. (2014). Recyclable, Strong Thermosets and recuperação de componentes de alto valor, como em Organogels via Paraformaldehyde Condensation with microeletrônica é mais possível de ser realizada. Diamines. Science. Assim, o PHT pode ser tornar um promissor substituto dos termofixos não-recicláveis. Guo, Q. (2018). Thermosets: Structure, Properties e Applications . Elsevier.
B. A Possibilidade de Real Reciclagem Rosa, A. D. (2018). Innovative Chemical Process for
Em 2018, a empresa Connora Technologies desenvolveu um Recycling Thermosets Cured with Recyclamines® by processo que, ao contrário da pesquisa da IBM, pode promover Converting Bio-Epoxy Composites in Reusable reciclagem e reaproveitamento dos termofixos em uso, de Thermoplastic—An LCA Study. MDPI. forma eficiente. O processo da Connora desenvolveu uma série de agentes de cura epóxi à base de amina recicláveis, chamado Recyclamine®. A Recyclamine® possui grupos terminais de amina que ficam presos a um grupo central clivável (separável), esse grupo é o caminho para a reciclabilidade, pois pode converter a resina epóxi em termoplástico, por separações. O processo Connora opera eficientemente em uma faixa de temperatura de 70-100°C e em ambiente ácido, e se destaca pelo baixo consumo energético e baixo custo. Quando esse processo foi aplicado em epóxi, ele foi capaz de recuperar do epóxi fibra de carbono e termoplástico. A primeira etapa desse processo envolveu colocar o epóxi em uma solução de ácido acético diluído (25%) à 70°C por 1h. Quando a matriz do epóxi foi totalmente dissolvida, a fibra de carbono pode ser removida e então passou pelas etapas de