Mia Isabel Morgado Dissertacao

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Universidades Lusíada

Morgado, Isabel Cristina Martins, 1988-


Topografia, arquitectura e o projecto
arquitetónico
http://hdl.handle.net/11067/387

Metadados
Data de Publicação 2013-10-01
Resumo O facto de haver um terreno com uma acentuada topografia é desde
logo uma característica importante e incontornável no desenvolvimento
do projeto, na forma dada ao volume, na sua estrutura e na relação
que tem com a sua envolvente. Na presença de um lugar com um forte
declive, o terreno vai ser matéria do projeto, seja por integração física
ou por oposição do objeto. Na arquitetura, a topografia não pode ser lida
separadamente da sua envolvente assim torna-se necessário estudar as
característi...
Palavras Chave Levantamentos topográficos, Projecto de arquitectura, Lugar (Filosofia)
na arquitectura
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações

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http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura

T
Topogra
afia, arq
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cto arqu
uitetón
nico

Realizado
R p
por:
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Cristina Ma
artins Morggado
Orientado por:
p
outor Arqtt. Joaquim José Ferrãão de Oliveira Braiziinha
Prof. Do

Co
onstituição
o do Júri:

esidente:
Pre Proff. Doutor H
Horácio Maanuel Pere
eira Bonifáccio
Orientador: Proff. Doutor A
Arqt. Joaquim José Ferrão
F de OOliveira Brraizinha
Arg
guente: Proff. Doutor A
Arqt. Mário
o João Alves Chaves

Disssertação a
aprovada em:
e 3 de
e Julho de
e 2013

a
Lisboa
2013
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A

Faculdade de Arquitectura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitectura

Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Isabel Cristina Martins Morgado

Lisboa

Abril 2013
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A

Faculdade de Arquitectura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitectura

Topografia, arquictetura e o projecto arquitectónico

Isabel Cristina Martins Morgado

Lisboa

Abril 2013
Isabel Cristina Martins Morgado

Topografia, arquitectura e o projecto arquitectónico

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e


Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.

Orientador: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de


Oliveira Braizinha

Assistente de orientação: Arqt. Jorge Virgílio Rodrigues


Mealha da Costa

Lisboa

Abril 2013
Ficha Técnica
Autora Isabel Cristina Martins Morgado
Orientador Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha
Assistente de orientação Arqt. Jorge Virgílio Rodrigues Mealha da Costa
Título Topografia, arquitectura e o projecto arquitectónico
Local Lisboa
Ano 2013

Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação

MORGADO, Isabel Cristina Martins, 1988-

Topografia, arquitetura e o projecto arquitectónico / Isabel Cristina Martins Morgado ; orientado por
Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha, Jorge Virgílio Rodrigues Mealha da Costa. - Lisboa :
[s.n.], 2013. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes
da Universidade Lusíada de Lisboa.

I - BRAIZINHA, Joaquim José Ferrão de Oliveira, 1944-


II - MEALHA, Jorge, 1960-

LCSH
1. Levantamentos topográficos
2. Projecto de arquitectura
3. Lugar (Filosofia) na arquitectura
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
5. Teses - Portugal - Lisboa

1. Topographical surveying
2. Architectural design
3. Place (Philosophy) in architecture
4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
5. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon

LCC
1. TA590.M67 2013
AGRADECIMENTOS

Gostaria aqui de expressar a minha gratidão a todos aqueles que me acompanharam


ao longo do meu percurso académico. Aos professores, colegas e amigos que conheci
pelos ensinamentos e conselhos que me transmitiram e que me ajudaram a crescer.

Ao professor Braizinha, meu orientador, pela disponibilidade e simpatia com que me


recebeu e pelas conversas que me proporcionaram um melhor e mais aprofundado
conhecimento pela matéria.

Ao professor Jorge Mealha, assistente de orientação, pelas aulas de apoio e pelo seu
espírito crítico que contribuiu significativamente para a qualidade deste trabalho.

Ao Dr. Hélder e à D. Catarina da mediateca por toda a atenção que me dispensaram.

À Dr.ª Ângela Borges agradeço toda a atenção, disponibilidade e paciência na leitura


deste trabalho.

Ao André por toda a força, pelo incentivo e carinho dado em todos os momentos.

Aos meus pais e irmãos um enorme obrigada por toda a amizade, paciência
demonstrada e total ajuda na superação dos obstáculos que surgiram ao longo desta
caminhada. Um agradecimento especial aos meus pais por estarem sempre
presentes, pelo apoio incondicional, pela confiança, compreensão e motivação
transmitida. A eles dedico este trabalho.

Um muito obrigada a todos!


“Se a natureza fosse confortável, a
arquitetura nunca teria sido inventada”

OSCAR, Wilde (2005) –. O declínio da mentira. Veja


Passagens. 2005. Algarão. p.17
APRESENTAÇÃO

Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Isabel Cristina Martins Morgado

O facto de haver um terreno com uma acentuada topografia é desde logo uma
característica importante e incontornável no desenvolvimento do projeto, na
forma dada ao volume, na sua estrutura e na relação que tem com a sua
envolvente.
Na presença de um lugar com um forte declive, o terreno vai ser matéria do
projeto, seja por integração física ou por oposição do objeto.
Na arquitetura, a topografia não pode ser lida separadamente da sua
envolvente assim torna-se necessário estudar as características presentes no
lugar, olhar para o mesmo como um todo e estabelecer ligações com o objeto
arquitetónico que irá ser construído.

Palavras-chave: Topografia, Envolvente, Paisagem, Território, Integração, Lugar,


Natureza.
PRESENTATION

Topography, architecture and the architectural project

Isabel Cristina Martins Morgado

Having an accentuated terrain is immediately an important and unavoidable


characteristic in the development of the project, such as in the form given to the
volume, in its structure and in the relation with its surroundings.
In the presence of a place with a strong incline, the terrain shall be the projects
material, may it be by physical integration, or by opposition of the object.
In architecture, topography cannot be read separately from its surroundings and
by this it becomes necessary to study the characteristics which are present in a
certain place, look at the same as a whole and establish connections with the
architectural object which will be built.

Key-words: Topography, Surrounding, Landscape, Territory, Integration, Place,


Nature.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1- Teodolito: Instrumento utilizado na Topografia (Agrim, Juan Carlos


Ambao y Asoc, 1995) ....................................................................................... 19
Ilustração 2 - Mapa topográfico de Portugal (WorldMap, 2010) ....................... 20
Ilustração 3 - Coordenadas (Viagens GPS, 1999) ........................................... 21
Ilustração 4 - Geologia (Ciências Hoje, 2003) .................................................. 22
Ilustração 5 - Christian Norberg Schulz (Arkitektur, designhoskolen i Oslo, c.a
2000) ................................................................................................................ 23
Ilustração 6 - Terra e Céu (Olhares, 2005) ....................................................... 24
Ilustração 7 - Exemplo de um Lugar: Machu Picchu (Zenzi, 2010) .................. 25
Ilustração 8 - Exemplo de um Espaço: terreno rústico (Miparcela, 2003) ........ 26
Ilustração 9 - Josep Maria Montaner (Rámon, 2012) ....................................... 27
Ilustração 10 - Exemplo de um Lugar: Cataratas Niagara (Insoonia, 2010) ..... 28
Ilustração 11 - Marc Augé (Página12, 2007) .................................................... 29
Ilustração 12 - Exemplo de um Não-Lugar: autoestrada (Aventar, 2011)......... 30
Ilustração 13 - Milan Kundera (TheGuardian, 2010) ........................................ 31
Ilustração 14 - Exemplo de um Não Lugar: estação de metro (Mobilize, 2003) 32
Ilustração 15 - Exemplo Curvas de Nível (TheDigitalMap, 2003) ..................... 34
Ilustração 16 - Exemplo de um Corte através de uma Planta (Geographicae,
2006) ................................................................................................................ 34
Ilustração 17 - Exemplo de Território: Monsanto em Lisboa (GuiaDaCidade,
2004) ................................................................................................................ 35
Ilustração 18 - Exemplo de uma zona urbana (ColégioWeb, 2001) ................. 36
Ilustração 19 - Exemplo de uma zona rural (JornalCidade, 2012) .................... 37
Ilustração 20 - Exemplo de um espaço explorado: Fundação Calouste
Gulbenkian (SicNotícias, 2011) ........................................................................ 38
Ilustração 21 - Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright (Stephen Wright, 2007)
......................................................................................................................... 39
Ilustração 22 - Casa OS do Atelier Nolaster: alçado posterior (Sancheztaffur,
2008) ................................................................................................................ 39
Ilustração 23 - Casa OS do Atelier Nolaster: cobertura (Sancheztaffur, 2008) 39
Ilustração 24 - Alezander Tzonis (Tzonis, 2006) .............................................. 40
Ilustração 25 - Liane Lefaivre (CADS, 2013) .................................................... 41
Ilustração 26 - Kenneth Frampton (MetalocusMagazine, 2010) ....................... 41
Ilustração 27 - Igreja de Bagsvaerd (CoisasArquitetura, 2010) ........................ 43
Ilustração 28 - Prefeitura de Saynatsalo (Galinsky, 2009)................................ 44
Ilustração 29 - Prefeitura de Saynatsalo (StudioDesignando, 2009) ................ 44
Ilustração 30 - Álvaro Siza Vieira (Bustler, 2008) ............................................. 45
Ilustração 31- Exemplo de uma obra de Siza Vieira: Piscinas das Marés de
Leça da Palmeira (Flickriver, 2007) .................................................................. 45
Ilustração 32 - O tecido da cidade moderna para substituir o da cidade
tradicional: projeto de Le Corbusier para uma zona insalubre a ser saneada em
Paris (As cidades de Garnier e Le Corbusier, 2008) ........................................ 46
Ilustração 33 - Colin Rowe (Better! Cities & Towns, 1996) ............................... 47
Ilustração 34 - Frank Lloyd Wright (ArchDaily, 2008) ....................................... 48
Ilustração 35 - Exemplo de uma obra de Frank Llyod Wright: Casa Massaro
(Obviuos, 2003) ................................................................................................ 48
Ilustração 36 - Exemplo de uma obra de Frank Lloyd Wright: Casa Robie
(ArqStyle’s, 2010) ............................................................................................. 50
Ilustração 37 - Exemplo de uma obra do Estilo Internacional: Vila Savoye de Le
Corbusier (Teoria do Design, 2009) ................................................................. 51
Ilustração 38 - Casa de Chá da Boa Nova (Mestre do Mar, 2008) ................... 53
Ilustração 39 - Casa de Chá da Boa Nova (Olhares, 2003) ............................. 53
Ilustração 40 - Casa Malaparte (SkyscraperCity, 2000) ................................... 54
Ilustração 41 - Casa Lefèvre (PlataformArquitetura, 2006) .............................. 55
Ilustração 42 - Casa Lefèvre (PlataformArquitetura, 2006) .............................. 55
Ilustração 43 - Casa Martínez Mondragón (Tecnohaus, 2007) ........................ 56
Ilustração 44 - Termas de Vals (The Urban Earth, 2008) ................................. 57
Ilustração 45 - Termas de Vals (SkyscraperCity, 2000) ................................... 58
Ilustração 46 - Cemitério Finisterra (SkyscraperCity, 2000) ............................. 59
Ilustração 47 - Cemitério Finisterra (SkyscraperCity, 2000) ............................. 59
Ilustração 48 - Habitações Ponte de Lima (Arcstreet, 2005) ............................ 60
Ilustração 49 - Habitações Ponte de Lima (Arcstreet, 2005) ............................ 60
Ilustração 50 - Esquiço Habitações Ponte de Lima (Arkitectos, 2008) ............. 61
Ilustração 51 - Casa Cascata: alçado frontal (Northland, 2012) ....................... 63
Ilustração 52 - Casa Cascata: escadas exteriores com ligação à cascata
(Unique Places, 2010) ...................................................................................... 64
Ilustração 53 - Casa Cascata: Planta 1º andar (Unique Places, 2010) ............ 65
Ilustração 54 - Casa Cascata: Planta 2º andar (Unique Places, 2010) ............ 65
Ilustração 55 - Casa Cascata: Planta 3º andar (Unique Places, 2010) ............ 65
Ilustração 56 - Casa Cascata: sala de estar (Wright House, 2000) .................. 66
Ilustração 57 - Casa Cascata: terraço de Sudoeste (Wright House, 2000) ...... 67
Ilustração 58 - Casa Cascata: terraço dos quartos (Wright House, 2000)........ 68
Ilustração 59 - Centro de Arte Casa das Mudas: fotografia Calheta
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 71
Ilustração 60 - Centro de Arte Casa das Mudas: fotografia aérea
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 72
Ilustração 61 - Centro de Arte Casa das Mudas: Planta Localização
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 73
Ilustração 62 - Centro de Arte Casa das Mudas: Planta de Cobertura
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 73
Ilustração 63 - Centro de Arte Casa das Mudas: Planta Piso -1
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 74
Ilustração 64 - Centro de Arte Casa das Mudas: Planta Piso -3
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 75
Ilustração 65 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Este
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 76
Ilustração 66 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Sul
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 76
Ilustração 67 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Oeste
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 76
Ilustração 68 - Centro de Arte Casa das Mudas: edifício original
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 77
Ilustração 69 - Centro de Arte Casa das Mudas: receção
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 78
Ilustração 70 - Centro de Arte Casa das Mudas: auditório
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 79
Ilustração 71 - Centro de Arte Casa das Mudas: cobertura
(PlataformArquitectura, 2006) .......................................................................... 79
Ilustração 72 - Centro de Arte Casa das Mudas: pátio (PlataformArquitectura,
2006) ................................................................................................................ 80
Ilustração 73 - Centro de Arte Casa das Mudas: exterior vista mar
(SkyscraperCity, 2000) ..................................................................................... 81
Ilustração 74 - Centro de Arte Casa das Mudas: Exterior vista montanha
(SkyscraperCity, 2000) ..................................................................................... 82
Ilustração 75 - Casa Tóló: esquiço (Casa Tóló, 2004) ..................................... 83
Ilustração 76 - Casa Tóló: esquiço (Casa Tóló, 2004) ..................................... 83
Ilustração 77 - Casa Tóló: modelo tridimensional (Casa Tóló, 2004) ............... 84
Ilustração 78 - Casa Tóló: modelo tridimensional (Casa Tóló, 2004) ............... 84
Ilustração 79 - Casa Tóló: fotografia aérea (Casa Tóló, 2004) ......................... 85
Ilustração 80 - Casa Tóló: escadas exteriores (Casa Tóló, 2004) .................... 86
Ilustração 81 - Casa Tóló: plantas (Casa Tóló, 2004) ...................................... 87
Ilustração 82 - Casa Tóló: cortes (Casa Tóló, 2004) ........................................ 87
Ilustração 83 - Casa Tóló: vista exterior com acesso à casa (Casa Tóló, 2004)
......................................................................................................................... 88
Ilustração 84 - Casa Tóló: piscina (Casa Tóló, 2004) ....................................... 88
Ilustração 85 - Casa Tóló: vista exterior das escadas e quartos (Casa Tóló,
2004) ................................................................................................................ 89
Ilustração 86 - Casa Tóló: sala de estar (Casa Tóló, 2004) ............................. 90
Ilustração 87 - Casa Tóló: escadas interiores (Casa Tóló, 2004) ..................... 91
Ilustração 88 - Casa Tóló: escadas interiores (Casa Tóló, 2004) ..................... 91
Ilustração 89 - Fotografia área de intervenção (Ilustração nossa) .................... 92
Ilustração 90 - Área de intervenção delineada a linha vermelha (Ilustração
nossa)............................................................................................................... 93
Ilustração 91 - Masterplan (Ilustração nossa)................................................... 95
Ilustração 92 - Loteamento: planta cobertura (ilustração nossa) ...................... 97
Ilustração 93 - Loteamento: planta piso 0 (Ilustração nossa) ........................... 97
Ilustração 94 - 3D: vista área 1 (Ilustração nossa) ........................................... 99
Ilustração 95 - 3D: vista área 2 (Ilustração nossa) ........................................... 99
Ilustração 96 - 3D do projeto 1 (Ilustração nossa) .......................................... 100
Ilustração 97 - 3D do projeto 2 (Ilustração nossa) .......................................... 100
Ilustração 98 - 3D do projeto 3 (Ilustração nossa) .......................................... 101
Ilustração 99 - 3D do projeto 4 (Ilustração nossa) .......................................... 101
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................... 17
2. Topografia, Lugar, Espaço: Algumas Noções .............................................. 19
2.1. Topografia .............................................................................................. 19
2.1.1. Conceito .......................................................................................... 19
2.2. Lugar...................................................................................................... 21
2.2.1. Conceito .......................................................................................... 21
2.3. Lugar e Espaço ...................................................................................... 26
2.4. Não-Lugares .......................................................................................... 29
3. Situações de Contexto ................................................................................. 33
3.1. Importância da Topografia na Arquitetura .............................................. 33
3.2. Arquitetura como território ..................................................................... 35
3.3. Território na História .............................................................................. 37
3.4. Arquitetura e Natureza ........................................................................... 39
3.5. Regionalismo Crítico .............................................................................. 40
3.6. Contextualismo Cultural ......................................................................... 46
3.7. Organicismo ........................................................................................... 48
4. Estudos de Caso .......................................................................................... 53
4.1. Considerações Prévias .......................................................................... 53
4.2. Coerência Orgânica. Frank Lloyd Wright ............................................... 63
4.3. Construir numa falésia. Paulo David ...................................................... 71
4.4. Percurso a pique. Álvaro Leite Siza Vieira ............................................. 83
5. Projeto III. Grotte Celoni ............................................................................... 92
5.1. Programa ............................................................................................... 92
5.2. Enunciado .............................................................................................. 93
5.3. Dados do projeto.................................................................................... 94
5.4. Três Fases ............................................................................................. 94
5.4.1. Fase 2. Masterplan.......................................................................... 96
5.4.2. Fase 3. Loteamento ........................................................................ 98
6. Considerações Finais ................................................................................. 103
Referências .................................................................................................... 105
Bibliografia...................................................................................................... 111
Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

1. INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem como objetivo estudar a relação que o lugar/natureza tem
com o objeto construído e de como a topografia é uma condicionante essencial se não
mesmo a mais importante.

A topografia pode ser vista também como elemento gerador de projeto, não apenas
como linguagem mas também como conceito.

Pretende-se com este trabalho mostrar que a arquitetura deve ser contextualizada
devido à relação com o lugar ser essencial.

As características topográficas de cada lugar são únicas, logo o arquiteto deve encará-
las como um estímulo para a sua intervenção e não como obstáculos a vencer.

Para uma construção arquitetónica ser harmoniosa, os arquitetos devem respeitar o


diálogo que existe entre o sítio topográfico e o objeto a projetar.

Pode-se construir o mesmo edifício em locais diferentes mas se se quer fazer nascer
um objeto arquitetónico ele tem que estar enraizado no local e não apenas ser lá
colocado sem ter qualquer tipo de relação com o que o rodeia.

Este trabalho foi organizado em três partes: a primeira é um estudo concetual


destinado a analisar o lugar e a topografia assim como a importância e relação que
têm com a arquitetura, fala-se também da interligação da natureza com a arquitetura
onde são abordadas algumas correntes arquitetónicas subjacentes a este tema.

Na segunda parte, serão desenvolvidos os conhecimentos anteriormente


apresentados e é feito um estudo de exemplos construídos que caracterizam o tema
deste trabalho.

A terceira e última parte destina-se ao trabalho elaborado na disciplina de Projeto III,


na cidade de Roma, no programa Erasmus.

Isabel Cristina Martins Morgado 17


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Isabel Cristina Martins Morgado 18


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

2. TOPOGRAFIA, LUGAR, ESPAÇO: ALGUMAS NOÇÕES

2.1. TOPOGRAFIA

2.1.1. CONCEITO

Significado etimológico da palavra topografia:

TOPOS = LUGAR

GRAFIA = DESCRIÇÃO

Ou seja, a topografia é a descrição de um lugar.

A topografia “é a técnica e arte de representar num desenho a configuração de um


terreno com todos os seus acidentes, dividida em planimetria e altimetria ou
nivelamento” (Porto Editora, 2013).

Os conhecimentos desta são usados nas mais diversas áreas.

Todos os projetos de arquitetura, urbanismo, engenharia civil, agronomia, e outros


desenvolvem-se em função do terreno onde estão inseridos, pelo que a topografia tem
como função ser a base inicial para que estes projetos sejam implantados e
executados de modo preciso e rigoroso.

Ilustração 1- Teodolito: Instrumento utilizado na


Topografia (Agrim, Juan Carlos Ambao y Asoc, 1995)

Isabel Cristina Martins Morgado 19


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A topografia estuda todos os acidentes geográficos definindo a situação e a


localização numa determinada área enquanto que, referimo-nos à geodesia1 quando
pretendemos estudar áreas maiores. Por vezes confunde-se a topografia com
geodesia, por ambas usarem os mesmos instrumentos e os mesmos métodos para
mapear as superfícies terrestres.

Ilustração 2 - Mapa topográfico de Portugal (WorldMap, 2010)

1
Geodesia – é a ciência que estuda a forma e as dimensões da Terra, sem ter em conta os pormenores e
acidentes da superfície.

Isabel Cristina Martins Morgado 20


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

2.2. LUGAR

2.2.1. CONCEITO

O estudo do lugar é fundamental para a compreensão da arquitetura e da relação


desta com a sua envolvente.

Lugar é um espaço ocupado por um corpo; sítio, local.


“O lugar poderá representar uma posição, uma ordem ou uma localidade, pequena
povoação ou região”. (Porto Editora, 2013b)

Visto de modo analítico-racional o lugar é um lugar geográfico, geológico, topográfico.

Um lugar pode ser localizado através das suas coordenadas geográficas e levando em
linha de conta o não menos importante, fator altitude. A geologia2 (composição,
estrutura e propriedades do lugar) e a topografia (acidentes de terreno) bem como a
orientação solar os acessos e a sua envolvente são imprescindíveis na elaboração de
um projeto.

Ilustração 3 - Coordenadas (Viagens GPS, 1999)

2
Geologia - ciência que se ocupa do estudo da Terra, dos materiais que a compõem, da sua estrutura, da
sua história e das suas propriedades físicas.

Isabel Cristina Martins Morgado 21


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O conceito de lugar já mereceu diversas interpretações e teorias relacionadas com o


significado por parte de diversos estudiosos.

A interpretação deste conceito vem da antiguidade, onde os romanos defendiam a


existência protetora do lugar e do ser. Acreditavam que cada lugar era governado por
um Deus ou o espírito do lugar – Genius Loci3.

Ilustração 4 - Geologia (Ciências Hoje, 2003)

3
Genius Loci – termo latino que se refere ao ‘espírito do lugar’ e é objeto de culto na religião romana.

Isabel Cristina Martins Morgado 22


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O arquiteto, historiador e teórico Christian Norberg Schulz 4 explica este termo ao


abordar a fenomenológica do ambiente e a interação entre o lugar e identidade.
Genius-loci diz respeito ao conjunto de características socioculturais, arquitetónicas,
de linguagem, de hábitos pelos quais o lugar é caracterizado.
Segundo Norberg-Schulz: “o ato fundamental da arquitetura é compreender a vocação
do lugar” (Nesbitt, 2008, p. 459) e por consequência a sua essência.

Ilustração 5 - Christian Norberg Schulz (Arkitektur, designhoskolen i Oslo, c.a


2000)

4
Christian Norberg Schulz – nasceu em Oslo a 23 de maio de 1926 e faleceu a 28 de março de 2000. Foi
um historiador, arquiteto e teórico. Apesar de Noberg Schulz ter exercido a sua profissão sempre no seu
país natal é conhecido internacionalmente pelos seus livros de história da arquitetura e pelas suas teorias.
Teorias que ensinou aos seus alunos de arquitetura. Em 1996 recebeu o prémio Fritt Ord Honorary
Award.

Isabel Cristina Martins Morgado 23


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Este teórico norueguês afirma que para fazer arquitetura é de extrema importância a
compreensão do lugar, pois acredita que este é mais do que uma localização
geográfica, é mais do que um simples espaço, é antes uma manifestação do habitar
humano.
Para Schulz, habitar é mais do que um abrigo é “o ato de demarcar ou diferenciar um
lugar no espaço, converte-se no ato de construir e na verdade da origem da
arquitetura”. (Nesbitt, 2008, p. 443)

O lugar pode ser então natural ou construído e é sempre composto por dois elementos
que transmitem significado: o espaço (terra) e a natureza (céu); estes são estudados
pela perceção e simbolismo que permitem assim um apoio existencial, ou seja, a
capacidade de habitar um lugar.

Estes dois elementos que constituem o lugar foram analisados morfologicamente por
Noberg-Schulz, e segundo ele, o elemento espaço (terra) é composto pela relação
interior-exterior que compara o sítio e os seus arredores, pela extensão que neste é
caracterizada pela topografia, pelos limites que são a forma e volume do espaço, pela
escala e proporção, pelas direções (orientação solar, horizontal e vertical) e pelo ritmo
dado.

Ilustração 6 - Terra e Céu (Olhares, 2005)

Isabel Cristina Martins Morgado 24


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Por outro lado, o elemento natureza é observado apenas em dois aspetos: qualitativo
(qualidade da luz, cor e classificação) e quantitativo (quantidade de luz).

Assim sendo, o carácter de um lugar é modificado conforme o tempo (estações do


ano, diferentes horas do dia e clima) mas também é determinado pela constituição
material e formal desse mesmo lugar.

A estrutura do lugar é representada através dos aspetos do espaço e do carácter, e


esses lugares são então chamados de regiões, de paisagens, de assentamentos ou
até mesmo de construções.

O propósito existencial do construir [arquitetura] é fazer um sítio tornar-se num lugar,


isto é, revelar os significados presentes de modo latente ao ambiente dado. (Nesbitt,
2008, p. 454)

Para Nobert-Schulz, o lugar é parte integrante da existência e “é algo mais do que a


mera localização abstrata. Entendemos uma totalidade formada por características
concretas com substância material, forma, textura e cor. Estas características
determinam um ‘caráter ambiental’, que é a essência do lugar” (Noberg-Schulz, 1996,
p. 6), pelo que podemos afirmar que o Lugar é a manifestação concreta da vida
humana.

Ilustração 7 - Exemplo de um Lugar: Machu Picchu (Zenzi, 2010)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

2.3. LUGAR E ESPAÇO

Qual a diferença entre lugar e espaço? Significarão o mesmo?


O problema começa na nossa língua mãe ao usarmos constantemente a palavra
‘espaço’ em vez de ‘lugar’.

O espaço é tridimensional e está intimamente ligado ao tempo e nesse espaço/tempo


ocorrem os eventos (entre os quais podemos citar a migração da população).

O espaço tem significados abstratos, tem portanto um carácter indefinido enquanto,


por outro lado, o lugar tem um caráter concreto empírico e existencial que é, como já
vimos, um espaço ocupado.

O espaço torna-se um lugar quando for ocupado pelo homem de modo físico ou
simbólico.

Ilustração 8 - Exemplo de um Espaço: terreno rústico (Miparcela, 2003)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Josep Maria Montaner5 estudou este tema e recorreu a Platão6 e Aristóteles7 para
mostrar como os conceitos de ‘espaço’ e de ‘lugar’ são distintos.

Ilustração 9 - Josep Maria Montaner (Rámon, 2012)

Este arquiteto espanhol é da opinião que o espaço moderno baseia-se “em medidas,
posições e relações, é quantitativo; desdobra-se, mediante geometrias tridimensionais;
é abstrato, lógico, científico e matemático; é uma construção mental” (Montaner, 2000,
p. 101) e, por outro lado, o lugar é “definido por substantivos, pelas qualidades das
coisas e dos elementos, por valores simbólicos e históricos, é ambiental e está
fenomenologicamente relacionado com o corpo humano”. (Montaner, 2000, p. 37)

5
Josep Maria Montaner – nasceu em Barcelona em 1954, é um arquiteto e escritor catedrático na Escola
de Arquitetura de Barcelona. Escreveu cerca de 35 livros sobre arquitetura que estão traduzidos em
várias línguas. Publica regularmente textos em revistas de arquitetura e nos diários espanhóis. Foi
convidado por diversas escolas da Europa, América e Ásia para partilhar os seus conhecimentos.
6
Platão – nasceu em 428-7 a.C. e morreu em 348-7 a.C. Foi um filósofo e matemático do período
clássico da Grécia Antiga, autor de diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas (a primeira
instituição de educação superior do mundo ocidental). Platão ajudou a construir os alicerces da filosofia
natural, da ciência e da filosofia ocidental em conjunto com o seu mentor Sócrates e o seu pupilo
Aristóteles.
7
Aristóteles – nasceu a 384 a.C. em Estogira e faleceu em Atenas em 322 a.C. Foi um filósofo grego,
aluno de Platão. Escreveu sobre a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a
retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O arquiteto espanhol partilha da mesma opinião que Schulz ao defender que a ideia
de lugar é diferente da ideia de espaço e que o lugar está então relacionado “com o
processo fenomenológico de perceção e da experiência do mundo por parte do corpo”.
(Montaner, 2000, p. 37)

Ilustração 10 - Exemplo de um Lugar: Cataratas Niagara (Insoonia, 2010)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

2.4. NÃO-LUGARES

Por vezes surgem lugares com qualidades e/ou valores negativos que são chamados
os ‘não-lugares’.

Conforme as ideias que o antropólogo francês Marc Augé8 defende, os não-lugares


são o oposto aos lugares antropológicos, lugares estes que, como já foi dito, têm uma
forte relação entre o espaço e o social.

Segundo Augé, os lugares acompanham a modernidade mas, com as mudanças que


a nossa sociedade vai sofrendo, há uns que se perdem, desaparecem ou acabam
mesmo por serem substituídos, a estes Marc Augé chama de ‘não-lugares’.

Ilustração 11 - Marc Augé (Página12, 2007)

8
Marc Augé – nasceu em 1935 em Poitiers é um etnólogo e antropólogo francês com projeção
internacional e com grande presença na América Latina. É coordenador de pesquisas na Ecole des
Hautes Etudes em ciências sociais, onde foi presidente entre 1985 e 1995. É também autor de diversos
livros entre eles: ‘Non-Lieux, introduction à une anthropologie de la surmodernité’, ‘Pour une anthropologie
des mondes contemporains’, ‘Fictions fin de siècle’ e ‘Théorie des pouvoirs et idéologie’.

Isabel Cristina Martins Morgado 29


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A sociedade em que hoje vivemos é caraterizada pelo consumo e velocidade que, por
sua vez, se materializa através por exemplo das autoestradas, dos hipermercados,
dos aeroportos, dos centros comerciais, das salas de espera, das estações de metro.
Estes espaços físicos são para o antropólogo não-lugares porque são locais de mera
passagem.

Ilustração 12 - Exemplo de um Não-Lugar: autoestrada (Aventar, 2011)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Kundera9 exprime esta ideia num dos seus romances (‘A Imortalidade’ publicado em
França em 1990) ao distinguir a ‘estrada’ (não-lugar) em oposição ao ‘caminho’ (lugar):

«A estrada distingue-se do caminho não só por ser percorrida de automóvel, mas


também por ser uma simples linha ligando um ponto a outro. A estrada não tem em si
próprio qualquer sentido; só têm sentido os dois pontos que ela liga. O caminho é uma
homenagem ao espaço. Cada trecho do caminho é em si próprio dotado de um sentido
e convida-nos a uma pausa. A estrada é uma desvalorização triunfal do espaço, que
hoje já não passa de um entrave aos movimentos do homem, de uma perda de tempo
(…) E também a sua vida, ele já não a vê como um caminho, mas como uma estrada:
como uma linha conduzindo de uma etapa à seguinte, do posto de capitão ao posto de
general, do estatuto de esposa ao estatuto de viúva. O tempo de viver reduziu-se a um
simples obstáculo, que é preciso ultrapassar a uma velocidade sempre crescente».
(Kundera, 2004)

Augé defende os não-lugares como um espaço de passagem que não são capazes de
se tornarem identidade. Os não-lugares são assim espaços de ninguém.

Ilustração 13 - Milan Kundera (TheGuardian, 2010)

9
Milan Kundera – nasceu a 1 de abril de 1929 em Brno. É um autor checo que estudou literatura e
estética na Faculdade de Artes da Universidade Charles mas acabou por se mudar para o curso de
cinema da Academia de Artes Performativas de Praga. Escreveu vários livros e peças de teatro.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Para concluir, o lugar é algo imaterial e plástico que se transforma com o tempo e
varia conforme o valor dado por cada um de nós. Posto isto, o lugar não é algo rígido
como muitos de nós pensávamos, ou seja, o Lugar é dinâmico.

Ilustração 14 - Exemplo de um Não Lugar: estação de metro (Mobilize, 2003)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3. SITUAÇÕES DE CONTEXTO

3.1. IMPORTÂNCIA DA TOPOGRAFIA NA ARQUITETURA

A topografia e a arquitetura geram uma simbiose de conhecimento. Pretendem estudar


e ao mesmo tempo compreender o espaço físico e os seus componentes. Sob o ponto
de vista da arquitetura, a topografia não deve ser lida separadamente da sua
envolvente, pois esta é parte integrante do projeto.

A arquitetura surge assim do confronto feito com a topografia, topografia esta que
pode ser transformada respeitando sempre as suas caraterísticas.

Sendo o arquiteto um criador de lugares, é interessante perceber como ele interpreta


um lugar e entender até que ponto diz que “o lugar faz a obra” ou “a obra faz o lugar”,
pois o lugar topográfico surge na arquitetura como uma forte componente, onde a
curva de nível poderá ser ou não um dos elementos geradores do projeto.

As intervenções arquitetónicas ora reeditam topografias variadas dissimulando a


construção na paisagem, ora criam acidentes geográficos artificiais em locais
originalmente planos.

Em todos os casos, podemos dizer que estas intervenções se fundamentam em pelo


menos três características concetuais não excludentes entre si:

- a utilização de geometrias complexas para reforçar o caráter público e aberto do


edifício com maior continuidade com o espaço urbano adjacente;

- a interpretação ou reinvenção da topografia pré-existente como facto gerador do


projeto, definindo com isso construções menos geométricas e mais topológicas;

- a síntese de uso, construção e forma entre edifício e paisagem, reduzindo (e em


alguns casos eliminando quase completamente) a diferenciação entre ambos.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 15 - Exemplo Curvas de Nível (TheDigitalMap,


2003)

Um grande número de projetos recentes sugere que a arquitetura pode, na verdade,


ser entendida como o “florescimento” de locais paisagísticos construídos e cultivados.
Para que a obra seja bem sucedida, o correto será aproveitar as caraterísticas de cada
lugar, sejam elas positivas e/ou negativas.

Teóricos paisagistas no passado afirmaram que, de facto, os edifícios dependiam do


terreno, pois recriam as caraterísticas do terreno em que estavam inseridos.

O lugar acaba por influenciar o edifício e as suas caraterísticas (estrutura, materiais,


entre outros) fazendo com que este seja um atributo do primeiro (lugar).

Ilustração 16 - Exemplo de um Corte através de uma Planta


(Geographicae, 2006)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.2. ARQUITETURA COMO TERRITÓRIO

A relação equilibrada homem-território tem sido sujeita a diversas interações


conscientes e sustentáveis.

Os novos avanços tecnológicos, a situação económica e o equilíbrio sistémico


ambiental territorial onde a arquitetura, a ecologia e a economia tendem a desenrolar-
se desintegradamente.

A arquitetura deverá ser pensada como um todo, algo que é para ser vivido por todos
e deverá portanto ter uma linguagem universal. Sendo assim, o maior sentido de fazer
projeto é poder imaginar e representar estruturas, formas de solo e de espaço focadas
na compreensão de operações de construção e de desenho de espaço natural, em
função do seu reconhecimento como território. Deverá ainda obedecer a uma
metodologia que incida sobre as relações analíticas e operativas entre elementos e
fatores dos cenários naturais e imaginários.

Ilustração 17 - Exemplo de Território: Monsanto em Lisboa (GuiaDaCidade, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Tendo como princípio que o território é por si só um objeto inesgotável de


circunstâncias, procura-se refletir sobre o contribuir do território de maneira a atingir a
simbiose perfeita transportada desde a história do lugar com toda a sua envolvente
social, económica, geográfica e cultural.

Deste modo, na elaboração de um projeto o contexto deverá ser avaliado dando assim
origem a um novo lugar que incluí a obra em si.

Nas últimas décadas, na arquitetura têm surgido muitas críticas sobre edifícios que
foram projetados como sendo um objeto isolado. Muitos têm argumentado contra o
facto de edifícios internamente definidos serem concebidos sem uma referência
externa. Sendo, portanto, o ‘contexto’ algo a valorizar e integrar no projeto
arquitetónico.

Ao haver preocupações para com o terreno significa mais do que um interesse em


geometria (perfil, configuração do terreno…), significa sim ter especial atenção à
materialidade, cor, espessura, temperatura, luminosidade e textura.

Ilustração 18 - Exemplo de uma zona urbana (ColégioWeb, 2001)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.3. TERRITÓRIO NA HISTÓRIA

Segundo uma perceção histórica, surge o estudo do território como arquitetura a partir
do entendimento do território como resultado de diferentes e contínuos processos de
transformação.

O território é reconhecido como um espaço lido, vivido e compreendido, um espaço


físico que reúne toda a informação gerada devido à presença do homem no lugar.
Deste modo, o território é também o reflexo da sociedade, contribuindo por meio das
suas potencialidades físicas e das suas restrições, mas também testemunhando
mediante estratificações e marcas deixadas por antigos habitantes.

Quando se indica que o projeto arquitetónico assume um papel articulador entre a


cultura e o território, referimo-nos de certa maneira à possibilidade de conhecer em
cada sítio as necessidades do lugar e da sociedade.

Como consequência das sucessivas transformações naturais, aquelas geradas pelo


homem e situando-se num território como a arquitetura, estabelecem-se valores e
formas do solo que proporcionam uma nova compreensão das operações construtivas
no espaço urbano e rural, isto a partir de uma leitura codificada de relações sintéticas
entre elementos formais e os fatores naturais do território.

Ilustração 19 - Exemplo de uma zona rural (JornalCidade, 2012)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O território abordado como arquitetura constitui um artefacto construído, manipulado e


artificializado pelo homem num processo de adaptação aos seus espaços.
Os elementos (espaços explorados) são o resultado da transformação de fatores
selecionados (componentes potenciais) devido às ações do homem.

O sol, o solo e o vento são fatores que geram movimento mas utilizados pela vontade
do homem como conforto e defesa são objetos que transformam a paisagem,
formalizando o território como arquitetura numa só unidade.

São as obras que tratam o projeto com uma aproximação interpretativa que o
entendem como um pequeno universo, obras essas suscetíveis a determinadas
possibilidades de modelação; um universo cuja interpretação se encontra no projeto
em si.

Ilustração 20 - Exemplo de um espaço explorado: Fundação Calouste Gulbenkian (SicNotícias, 2011)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.4. ARQUITETURA E NATUREZA

Após um breve estudo sobre o lugar e a topografia vamos agora abordar a relação que
estes têm com o edificado.

Ao referirmo-nos à arquitetura no contexto natural há um elemento protagonista que é


o ambiente natural seja por representação ou por perceção.

Mas, ao falarmos da interligação da arquitetura com a natureza, já não há um


elemento que prevaleça sobre o outro, mas sim a maneira como os dois comunicam
entre si, surpreendendo o espetador por o objeto construído não modificar a paisagem
mas por se enquadrar na perfeição na sua envolvente. O respeito pelo ambiente
natural é uma premissa a cumprir, assim como a integração da obra no contexto.

Com base nestes pressupostos surge a prática do Regionalismo Crítico que se opõe à
indiferença do objeto arquitetónico em relação ao lugar onde está inserido.

Ilustração 21 - Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright (Stephen


Wright, 2007)

Ilustração 22 - Casa OS do Atelier Nolaster: Ilustração 23 - Casa OS do Atelier Nolaster:

alçado posterior (Sancheztaffur, 2008) cobertura (Sancheztaffur, 2008)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.5. REGIONALISMO CRÍTICO

O termo Regionalismo Crítico 10 foi introduzido por Alezander Tzonis11 e Liane


Lefaivre12 ao quererem que a arquitetura moderna desse um significado ao lugar
através das características do contexto natural. A cultura regional não deverá ser algo
dado e imutável mas um dado consciente.

A topografia assim como os materiais da região, o artesanato, a luz local e o clima


devem ser respeitados, não excluindo as técnicas modernas.

Mas foi o arquiteto, crítico e historiador, Kenneth Frampton13 que desenvolveu o


estudo deste tema.

Ilustração 24 - Alezander Tzonis


(Tzonis, 2006)
10
Regionalismo Crítico – É uma abordagem arquitetural que tenta remediar a indiferença em relação ao
lugar onde está situado o objeto arquitetónico. Através da utilização das forças do contexto, visa
enriquecer o significado da arquitetura. Este termo pretende identificar determinados fenómenos regionais
(cultura, artesanato, clima), interagi-los e integrá-los. O Regionalismo Crítico manifesta-se como uma
arquitetura conscientemente delimitada, dá especial atenção ao enquadramento tectónico da obra e
estabelece limites físicos e temporais.
11
Alezander Tzonis – nasceu na Grécia a 8 de novembro de 1937. É um investigador que contribuiu para
a teoria e história da arquitetura. Desde 1975 colaborou em quase todos os seus projetos com Liane
Lefaivre. Em 1985 fundou e dirigiu a Design Knowledge Systems. Tzonis é conhecido pelo seu trabalho
de design criativo por analogia, história do surgimento e desenvolvimento do pensamento arquitetónico
moderno e pela introdução ao Regionalismo Crítico.
12
Liane Lefaivre – é uma historiadora, crítica, teórica e professora de arquitetura. Lefaivre introduziu o
conceito do movimento populista em arquitetura assim como o conceito do Regionalismo Crítico. Muitos
dos seus livros foram premiados e já foi curadora em uma exposição em Amesterdão em 2002 e em 2003
em Viena numa exposição dedicada à obra de Santiago Calatrava. Além das suas publicações
académicas escreve regularmente para revistas de arquitetura, como é o caso de ‘The Architectural
Record, Architecture Magazine’ e a revista ‘The Architect’s Newspaper’.
13
Kenneth Frampton – nasceu em 1930. É um arquiteto, crítico, historiador e professor de arquitetura da
Universidade de Columbia em Nova Iorque. Estudou arquitetura na Escola de Arte de Guildford e na
Architectral Association School os Architecture em Londres. Foi professor na Universidade de Princeton
no período de 1966 a 1971. Frampton é conhecido pelos seus estudos sobre a arquitetura do século XX.
Em 2002 foi publicado uma coleção dos seus escritos ao longo de 35 anos com o nome de ‘Labour, Work
and Architecture’.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Frampton pretende conjugar uma arquitetura moderna com as características


tradicionais do lugar.

Ilustração 25 - Liane Lefaivre (CADS, 2013)

Ilustração 26 - Kenneth Frampton


(MetalocusMagazine, 2010)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O Regionalismo Crítico não é “uma evocação simplista de um vernacular sentimental


ou irónico” (Nesbitt, 2008, p. 503) mas procura “desconstruir o modernismo universal a
partir de imagens e valores localmente cultivados”. (Nesbitt, 2008, p. 506)

Para Frampton este termo é uma maneira de pensar arquitetura, é uma crítica à
modernização não é um período histórico ou um estilo arquitetónico.

A relação da arquitetura com o lugar pode ser feita através da modelação da


topografia do terreno. Esta forma de construir lugares está presente na obra de Jorn
Utzon14 e Alvar Aalto15, dos quais passamos a descrever dois exemplos simbólicos.

A Igreja de Bagsvaerd de Utzon (1973-1976) localizada perto de Copenhaga e


vencedora do prémio The Pritzker Architecture Prize16.

Esta obra tem como conceito base a relação espacial, transpondo a ideia de estar
entre o céu e a terra para dentro do objeto construído – a cruz e o altar.

A maneira como o arquiteto combina as formas com a luz local transmite a sensação a
quem percorre o edifício de estar debaixo das nuvens. A luz é um elemento
fundamental neste projeto, pois estabelece o lugar e sugere o território.

14
Jorn Utzon – nasceu na Copenhaga a 9 de abril de 1918 e faleceu a 29 de novembro de 2008. Utzon
ficou conhecido pelo seu projeto da Sdyney Opera House na Austrália. Conquistou o prémio Pritzker em
2003.
15
Alvar Aalto – Hugo Alvar Henrik Aalto nascido a 3 de fevereiro de 1878 em Kuortane e faleceu a 11 de
maio de 1976 em Helsínquia. A obra deste arquiteto é considerada exemplar na vertente orgânica da
arquitetura moderna da primeira metade do século XX. Alvar Aalto também é conhecido como designer,
em áreas como o projeto de mobília, tecidos, cristais, entre outros. Estudou no Instituto Tecnológico de
Helsinquia e após ter lutado na guerra de independência da Finlândia, estabeleceu-se por conta própria
em 1912. Aalto adere aos princípios da arquitetura europeia do movimento moderno embora já tivesse o
seu estilo pessoal onde dava importância à integração do edifício na paisagem e à exploração de
diferentes texturas dos materiais, tanto das novas tecnologias como das mais tradicionais. As suas obras
mais conhecidas são: o Auditório Finlândia e o campus da Universidade de Tecnologia de Helsínquia.
16
The Pritzker Architecture Prize – é um prémio internacional de arquitetura. Foi criado em 1979 pela
fundação Hyatt, gerida pela família Pritzker sendo muitas vezes chamado o nobel da arquitetura. É
atribuído anualmente ao arquiteto, ainda em vida, que cumpra os princípios enunciados por Vitrúvio:
solidez, beleza e funcionalidade.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Usa material pré-fabricado, racional, neutro e económico no exterior (betão) e no


interior, para simular o espaço sagrado, usa conchas não muito económicas mas com
referências culturais.

Ilustração 27 - Igreja de Bagsvaerd (CoisasArquitetura, 2010)

Outro exemplo que Frampton aponta é o edifício da Prefeitura de Saynatsalo de Alvar


Aalto.

Nesta obra está patente uma resistência à dominação da tecnologia universal.

É organizado um plano em U, que gera um pátio interior. Este pátio é uma referência
direta aos tradicionais vilarejos, onde utiliza uma arquitetura vernacular. Os materiais
utilizados diferenciam-se pela importância dada a cada ambiente.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A inspiração dos elementos que constituem o lugar torna-se o ponto de partida do


projeto, visto que para Frampton devemos valorizar os aspetos locais de uma
determinada cultura.

Ilustração 28 - Prefeitura de Saynatsalo (Galinsky, 2009) Ilustração 29 - Prefeitura de Saynatsalo (StudioDesignando, 2009)

Este crítico da arquitetura afirma que ao utilizarmos as caraterísticas do lugar criamos


uma “arquitetura mais espacial e experimental” (Nesbitt, 2008, p. 506) e que se a
arquitetura for “baseada nas práticas construtivas regionais é mais correta do ponto de
vista ecológico, além de diferenciada do ponto de vista estético” (Nesbitt, 2008, p.
503), o que contribui igualmente para a importância dos elementos que constituem o
lugar.

Kenneth Frampton pretende estabelecer “uma visão teórica alternativa que sirva para
dar continuidade ao exercício crítico da arquitetura” (Nesbitt, 2008, p. 503) e anseia
por “uma arquitetura que seja capaz de condensar o potencial artístico da região e, ao
mesmo tempo, de reinterpretar as influências culturais vindas de fora”. (Nesbitt, 2008,
p. 504)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Os regionalistas dão mais importância ao território onde a obra está inserida,


repreendendo a arquitetura desumana que privilegia a estética modernizada.

O aspeto visual torna-se, por fim, uma caraterística secundária e dão prioridade ao
tátil. Dão ênfase, como já dissemos, à topografia, clima, luz, forma tectónica…

Como compilação das ideias, Frampton nega a limitação do vernáculo mas sem nunca
negar o seu uso, carateriza a obra do nosso famoso Siza na busca do lugar:

Essa hipersensibilidade em relação à transformação de uma realidade fluida e,


contudo, específica, torna a obra de Siza mais estratificada e enraizada, uma vez que,
ao tomar Aalto como ponto de partida, ele fundamentou seus edifícios na configuração
de uma topografia específica e na refinada textura da malha local. Com essa finalidade,
os seus fragmentos são respostas à paisagem urbana, campestre e marinha da região
do Porto. Outros fatores importantes consistem em sua deferência para com os
materiais locais, o artesanato e as subtilezas da luz local; uma deferência que é
mantida sem cair no sentimentalismo de excluir a forma racional e a técnica moderna.
(Kenneth, 2008)

Ilustração 30 - Álvaro Siza Vieira (Bustler, 2008) Ilustração 31 - Exemplo de uma obra de Siza Vieira:

Piscinas das Marés de Leça da Palmeira (Flickriver, 2007)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.6. CONTEXTUALISMO CULTURAL

Josep Maria Montaner é arquiteto e professor catedrático de composição arquitetónica


na Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona e recentemente a sua atitude
crítica na área da arquitetura tem ganho destaque.

Segundo Montaner “a sensibilidade em relação ao lugar por parte da arquitetura


contemporânea é um fenómeno recente”. (Montaner, 2001, p. 21)

Este arquiteto afirma existir três momentos que constituem a pós-modernidade: o


classicismo revivalista e historicista, o ecletismo e o contextualismo cultural.

É oportuno debruçarmo-nos sobre este último momento, que de certo modo se


relaciona com o Regionalismo Crítico de Frampton, ao concordar que, para projetar
algo para um lugar, os valores que prevalecem são a tradição e cultura desse lugar.

Tem como finalidade implementar na arquitetura os aspetos culturais, económicos,


tecnológicos e históricos de cada lugar.

Ilustração 32 - O tecido da cidade moderna para substituir o da cidade tradicional: projeto de Le Corbusier para uma zona insalubre
a ser saneada em Paris (As cidades de Garnier e Le Corbusier, 2008)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Colin Rowe17 após ter feito um estudo sobre o Urbanismo Moderno 18 através da
cidade tradicional, deu início a este movimento em 1970 que pretende ser “um meio-
termo entre um passado irrealista congelado, que não admite nenhum
desenvolvimento, e a renovação urbana que destrói toda a estrutura da cidade”.
(Nesbitt, 2008, p. 323)

O facto de a obra arquitetónica dever se relacionar com o contexto envolvente faz com
que a questão ambiental ganhe um valor importantíssimo, pois o segredo está em
saber utilizar os elementos presentes, moldá-los e incluí-los no projeto arquitetónico.

Deste modo, o contexto, a história e a cultura agregam-se ao objetivo criando uma


linguagem que incorpora a tradição e o moderno.

Ilustração 33 - Colin Rowe (Better! Cities & Towns, 1996)

17
Colin Rowe – nasceu em Inglaterra em 1920 e morreu em 1999. Foi um historiador, crítico, teórico e
professor da arquitetura. Reconhecido pela sua grande influência intelectual no mundo da arquitetura e
urbanismo da segunda metade do século XX especialmente nas áreas de planeamento da cidade e
desenho urbano.
18
Urbanismo Moderno – rutura radical na estrutura, na forma, na organização distributiva e propósitos da
urbanística da cidade, ou seja, foi a rutura da cidade tradicional e a criação de uma cidade moderna. A
partir dos anos 1950’s houve a necessidade de reconstrução rápida, a menores custos e máxima
quantidade de alojamentos, dando novas condições de vida à população, a possibilidade de projetar e
construir a cidade por sistemas independentes revela-se de grande eficácia, não apenas estabelecer
diferenças nos processos construtivos e materiais ou estilos, mas construir uma arquitetura diferente,
liberta e oposta a qualquer continuidade histórica. Tem como funções principais: habitar, trabalhar, recrear
e circular.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

3.7. ORGANICISMO

Montaner considera que o organicismo de Frank Lloyd Wright 19 fez com que o valor e
significado do lugar ganhassem mais força.

Wright ficou famoso pela arquitetura orgânica20 que projetou ao longo da sua vida,
rejeitou as formas rígidas e mecânicas, optou por uma arquitetura que se integrava
perfeitamente no meio envolvente, na natureza, criava uma harmonia que contrariava
o conceito da “casa, máquina de habitar” que Le Corbusier implementou.

Ilustração 34 - Frank Lloyd Wright Ilustração 35 - Exemplo de uma obra de Frank Llyod Wright: Casa Massaro
(ArchDaily, 2008) (Obviuos, 2003)

19
Frank Lloyd Wright – nascido a 8 de junho de 1867 em Richland Center e morreu em Phoenix a 9 de
abril de 1959. Foi um arquiteto e estudiador. Um dos conceitos principais da sua obra é fazer com que o
projeto seja individual de acordo com a sua localização e finalidade. No início da sua carreira trabalhou
com Louis Sullivan, um dos pioneiros em arranha-céus da Escola de Chicago. Wright é responsável por
mais de mil projetos, dos quais mais de quinhentos estão construídos. Este arquiteto influenciou os rumos
da arquitetura moderna com as suas ideias e obras e é considerado um dos arquitetos mais importantes
do século XX. Faltava uma semana para se graduar em engenharia quando abandonou o curso e foi
trabalhar para Chicago como desenhista no escritório do arquiteto Silsbee. Tornou-se uma figura chave
na arquitetura orgânica. A sua obra inclui exemplos originais e edifícios inovadores, incluindo escritórios,
templos, escolas, hotéis e museus. Frequentemente desenhava também os elementos a serem
empregados no interior das suas construções (mobília e vitrais).
20
Arquitetura Orgânica – arquitetura moderna influenciada pelas ideias de Frank Lloyd Wright. Apesar de
ter surgido nos EUA, desenvolveu-se ao redor de todo o mundo. Este conceito foi desenvolvido através
de pesquisas de Frank Lloyd Wright que acreditava que uma casa deve nascer para atender às
necessidades das pessoas e do carácter do país como um organismo vivo. A arquitetura orgânica é
considerada como um contraponto ou mesmo uma reação à arquitetura racionalista influenciada pelo
Estilo Internacional.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Wright realizou em 1908 uma arquitetura humana e natural, mas tornou-se um homem
peculiar na história da arquitetura pós-moderna por saber conjugar esta visão com os
novos avanços da tecnologia. Soube adaptar-se aos diferentes lugares topográficos
que lhe sugeriam, aos climas e ambientes diversos e projetou pormenorizadamente
cada obra para que esta bebesse dos elementos do lugar onde se situava e criou
assim espacialidades brutais.

Foi nesse mesmo ano que o arquiteto estabeleceu seis características da arquitetura
orgânica:

- eliminar o que não é essencial, simplicidade;

- ter tantos estilos na arquitetura como estilos de pessoas;

- conceber o edifício como algo orgânico;

- harmonizar as cores com as formas naturais;

- mostrar os materiais como são;

- utilizar uma casa com caráter que expresse sua função.

Wright referia-se à arquitetura orgânica como aquela em que todas as partes estavam
relacionadas com o todo, como o todo estava relacionado com as partes: continuidade
e totalidade.

Em todo o seu trabalho, há um elemento que nunca muda e que está sempre presente
que são os valores humanos e é o próprio arquiteto que o escreve em 1957 no seu
livro ‘A Testamente’:

Tenho-me referido constantemente a uma arquitetura mais <humana>, portanto


tentarei explicar o que isto significa para mim, como arquiteto. Tal como a arquitetura
orgânica, a qualidade da humanidade é inerente ao homem. Como o sistema solar é
calculado em anos-luz, assim pode ser a luz interior aquilo a que chamamos
humanidade. Esse elemento, o Homem enquanto luz, está para lá de qualquer cálculo.
A Buda chamava-se a luz da Ásia, a Jesus a luz do mundo. A luz do Sol pertence à
natureza tal como a luz interior pertence ao espírito humano: a luz humana.
A luz do homem paira acima do instinto. A imaginação humana nasce, concebe e cria
por meio dessa luz interior: morre, mas continua a ser a luz da existência que vivia no
homem. O espírito é iluminado por ela com tanta força que a sua própria vida é essa
luz, procede dela e, por seu turno ilumina o seu género. As afirmações dessa luz na
vida e no trabalho humano são a verdadeira felicidade do homem. Nada há de mais

Isabel Cristina Martins Morgado 49


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

elevado na consciência humana do que os raios dessa luz interior. Nós chamamos-lhes
beleza. A beleza não é mais do que o brilho da luz do homem – o seu esplendor é
romantismo elevado da humanidade, tal como entendemos que a Arquitetura, as Artes,
a Filosofia e a Religião são românticas. Na alma humana, tudo vem alimentar essa luz
inextinguível, ou é alimentado por ela. Ele não pode contribuir com nada de intelectual
que esteja acima ou para além dessa inspiração. Do berço à tumba o seu verdadeiro
ser suspira por essa realidade para assegurar a continuação da sua vida como Luz do
Além.
Tal como a luz do Sol banha um objeto indefeso, revelando a sua forma e a sua
expressão, assim uma luz correspondente, de que o Sol é um símbolo, fulgara a partir
do trabalho inspirado da humanidade. A luz interior é a certeza de que a Arquitetura, a
Arte e a Religião do homem são uma só coisa – os seus emblemas simbólicos. Então
podemos chamar à própria humanidade a luz que jamais se extingue. Os lados mais
vis do homem estão sujeitos a esse milagre da sua própria luz.
Nascente e poente constituem símbolos apropriados da existência do Homem na Terra.
Não existe elemento de imortalidade mais precioso do que uma humanidade tão
humana. O céu pode ser o símbolo dessa luz das luzes apenas na medida em que o
céu se converte num porto de abrigo. (Pfeiffer, 2007, p. 37)

Um exemplo famosíssimo de Wright é a Casa Cascata21 que, como veremos mais à


frente, é o reflexo dos ideais deste homem que essencialmente eram a relação
biunívoca entre o homem e a natureza, defendendo o regresso à ruralidade e o
abandono do conceito da cidade tradicional, que era o que estava a ser praticado na
época. Não admite uma relação superficial, que apenas toquemos a paisagem mas
sim que o habitat e a natureza se complementem, fazendo com que “onde quer que
nos encontremos no interior da construção, a glória do ambiente envolvente é
acentuada, trazida para dentro e transformada num componente da vida diária”. (Pinto,
2008, p. 10)

Ilustração 36 - Exemplo de uma obra de Frank Lloyd Wright: Casa Robie (ArqStyle’s,
2010)

21
Casa Cascata – obra de Frank Lloyd Wright construída em 1934 na Pensilvânia.

Isabel Cristina Martins Morgado 50


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Como resumo, estas correntes arquitetónicas têm como objetivo comum construir uma
arquitetura moderna mas com preocupações culturais, históricas e sociais. Está
presente a importância dada ao Lugar e à cultura do mesmo; é, portanto, uma reação
à globalização resultante do Estilo Internacional 22 que apenas queria construir e
construir.

Ilustração 37 - Exemplo de uma obra do Estilo Internacional: Vila Savoye de Le Corbusier (Teoria do Design, 2009)

22
Estilo Internacional – surgiu na Suíça, foi uma vertente do funcionalismo (propunha o principio de que a
‘a forma segue a função’ e que qualquer ornamento era inútil). As características deste movimento
incluíram uma mudança na arquitetura, que começou a projetar edifícios visando a funcionalidade e
eliminando toda a ornamentação característica das antigas construções. Tem como principal nome o
arquiteto Le Corbusier. O estilo internacional teve a sua maior produção em 1950 e 1970.

Isabel Cristina Martins Morgado 51


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Isabel Cristina Martins Morgado 52


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

4. ESTUDOS DE CASO

4.1. CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

Neste capítulo iremos compilar algumas obras com o intuito de consolidar o que
anteriormente estudámos.

No vasto leque de obras arquitetónicas há inúmeros exemplos que caracterizam o que


se tem vindo a relatar.

Antes de passar aos três principais exemplos para caracterizar este tema, vão ser
enumerados alguns casos em que a topografia é a protagonista do projeto
arquitetónico, onde a arquitetura se funde no território e confunde-se no mesmo.

A Casa de Chá da Boa Nova localizada em Leça da Palmeira foi uma das primeiras
obras do arquiteto Álvaro Siza Vieira23. Construída entre 1958 e 1963 está hoje
classificada como monumento nacional.

Esta casa de chá e restaurante está construída sobre as rochas que se deixam banhar
pelo mar.

Este edifício com amplos vãos envidraçados é um paradigma da inserção e integração


da arquitetura no sítio pois Siza Vieira foi capaz de integrar os valores poéticos e
sensíveis da realidade daquele lugar com o projeto construído.

Ilustração 38 - Casa de Chá da Boa Nova (Mestre do Mar, Ilustração 39 - Casa de Chá da Boa Nova (Olhares,
2008) 2003)

23
Álvaro Siza Vieira – nasceu em Matosinhos a 25 de junho de 1933, é o mais conceituado e premiado
arquiteto português. Foi influenciado por obras de Adolf Loos, Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto mas cedo
desenvolveu a sua própria linguagem, nascida não só nas referências modernistas internacionais como
também na forte tradição construtiva portuguesa. Siza Vieira criou verdadeiros marcos na história da
arquitetura portuguesa e internacional e influencia muitas gerações de arquitetos.

Isabel Cristina Martins Morgado 53


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A obra arquitetónica não deve causar impacto na Natureza mas deve sim adequar-se
e moldar-se ao terreno natural fazendo parecer que sejam apenas uma, ou seja, as
duas devem complementar-se.

Foi este o Conceito que Curzio Malaparte24 tinha em mente quando projetou a casa
Malaparte25 na Ilha Capri em Itália, construída em 1937 sobre uma rocha de 40 metros
à beira mar. Esta casa tornou-se uma referência arquitetónica no século XX, por ser
uma obra modernista com formas simples, espaços amplos e com generosas
aberturas para o exterior.

Foi projetada segundo a tradição popular de Capri e por essa razão todos os vãos são
diferentes e não utiliza cores primárias mas sim ocres tradicionais. Malaparte inovou,
ao não construir sobre pilotis, e conseguiu com que o objeto se encaixasse
perfeitamente na rocha. Este homem soube interpretar a paisagem e respeitá-la.

Ilustração 40 - Casa Malaparte (SkyscraperCity, 2000)

24
Curzio Malaparte – Kurt Erich Suckert, mais conhecido pelo pseudônimo Curzio Malaparte nasceu a 9
de junho de 1898 em Prato (Itália) e morreu a 19 de julho de 1957. Foi um escritor,
jornalista, dramaturgo, cineasta, militar e diplomata italiano. O sobrenome do seu pseudônimo (por si
usado desde 1925), significa em italiano "parte má".
25
Casa Malaparte – Esta casa é uma referência do século XX. A casa Malaparte ficou conhecida como
sendo a obra-prima do arquiteto Adalbero Libera. Libera era um arquiteto italiano modernista nascido a
1903. Malaparte encomendou-lhe o projeto da sua casa de férias mas acabou por ser ele a criar a sua
casa. Esta casa já foi palco de filmes como Le Mépris de Jean-Luc Godard em 1963.

Isabel Cristina Martins Morgado 54


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Assim fez também o arquiteto Luis Longhi 26 em 2008 no projeto da casa Lefèvre
situada no Peru. Este projeto é uma resposta imediata ao sítio, um deserto peruano
que se liga ao oceano. Com duas características marcantes no lugar foi então que Luis
Longhi interveio com o máximo respeito à envolvente apresentando uma proposta
digna daquele território.

O projeto é uma ampliação do deserto, que parece ser uma fortaleza que se conecta
ao terreno pela parte posterior.
Na parte frontal vemos uma espécie de cubo de vidro onde se encontra a área social
da casa, simbolizando neste lugar a relação do deserto com o mar.

Este arquiteto conseguiu retirar os elementos que o lugar tinha de mais belo e
interligou-os de um modo convincente. O resultado é uma casa à beira de uma falésia
constituída por um jogo de volumes, onde uns se relacionam mais com o mar e outros
com o deserto, oferecendo ao morador um leque de sensações a serem desfrutadas.

Ilustração 41 - Casa Lefèvre (PlataformArquitetura, 2006) Ilustração 42 - Casa Lefèvre (PlataformArquitetura,


2006)

26
Luis Longhi – arquiteto peruano nascido na cidade de Puno. Em 1981 tornou-se o único aluno da
Universidade da Pensilvânia, na realização de dois mestrados simultaneamente: Arquitetura e Mestre em
Belas Artes, com especialização em escultura. Depois de 13 anos a trabalhar nos EUA, Longhi voltou
para a sua cidade natal onde começou a sua prática no seu próprio atelier.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Não se deve criar arquitetura sem haver um suporte que a legitime e que a
contextualize e, visto nestes casos o terreno ser íngreme, há a necessidade de o
estudar profundamente, levando-nos a não destruir o seu carácter.

Outro exemplo que respeita estas premissas é a Casa Martínez Mondragón, no


México, do atelier AVM Arquitetura27. Esta casa construída em 2005 estende-se num
terreno com 30 metros de pendente e com um ângulo de 45º.

Estas condições fazem nascer um volume concebido em três peças fragmentadas,


que se sobrepõem obedecendo a rotações e movimentos com o intuito de encontrar a
melhor orientação e iluminação.

Aqui, mais uma vez, a noção de fusão entre topografia e arquitetura define o processo
criativo e de desenho, e a pedra foi escolhida como material nos elementos verticais e
a pureza dos elementos horizontais faz com que a procura do equilíbrio seja evidente.

Ilustração 43 - Casa Martínez Mondragón (Tecnohaus, 2007)

27
AVM Arquitetura – é um estúdio de arquitetura no México fundado em 1997.

Isabel Cristina Martins Morgado 56


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ao projetarmos algo, devemos tirar partido das virtudes e defeitos do lugar para que a
obra seja plena de sucesso.

As Termas de Vals de Peter Zumthor28 constitui ainda um exemplo bem característico


de um local com um terreno com uma topografia especial.

Zumthor é conhecido por construir lugares em vez de edifícios, aproveita as


qualidades dos materiais e é neles que se foca em primeiro lugar, quando começa a
projetar.

Neste projeto em particular, o arquiteto afirma que apenas teve de dar a forma pois já
lá estava tudo, desde a montanha, à pedra até a nascente quente. Foi a junção de
todos estes elementos que fez nascer as Termas de Vals. As termas estão
construídas através da sobreposição de camadas de quartzito de Vals, provenientes
da região aliás, foi mesmo esta pedra que serviu de inspiração para o arquiteto em
1996.

Ilustração 44 - Termas de Vals (The Urban Earth, 2008)

28
Peter Zumthor – nasceu a 26 de abril de 1943. É um arquiteto suíço, vencedor do prémio Pritzker em
2009. Estudou no Pratt Institute, em Nova Iorque na década de 1960. O arquiteto trabalhou em muitos
projetos de conservação, dando-lhe uma maior compreensão da construção e das qualidades de
diferentes materiais de construção tradicional. Na sua experiência profissional, Zumthor conjugou os seus
conhecimentos sobre materiais e pormenor. Em 1989 recebeu a medalha de ouro de Heirich Tessenow,
da fundação Heinrich Tessenow Gesellsholz e em 1998 recebeu o prémio de arquitetura Carlsberg. Deu
aulas no Instituto de Arquitetura Sul da Califórnia em quatro universidades diferentes. Trabalha no seu
estúdio próprio que fundou em 1979 na cidade Haldenstein na Suíça.

Isabel Cristina Martins Morgado 57


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Zumthor trabalhou com o redor natural ao projetar as saunas com coberturas


ajardinadas onde algumas delas estavam enterradas na encosta. A água que desce a
montanha percorre espaços interiores e semiexteriores. O volume paralelepipédico é
composto por aberturas e vazios geométricos e a luz rompe as paredes através de
fendas. Há um constante jogo de luz/sombra e de vazio/cheio. O arquiteto construiu na
montanha e com a montanha, fazendo relacionar-se com o lugar e não se impondo de
forma abrupta.

Ilustração 45 - Termas de Vals (SkyscraperCity, 2000)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A topografia pode ser considerada matéria operativa do projeto, como conceito e


também como linguagem.

O arquiteto César Portela29, autor do Cemitério de Finisterra construído em 2000,


resolveu a questão do terreno com um relevo acentuado ao dispor diversas caixas de
pedra ao longo da encosta que por sua vez criam percursos.

Como não há muros a delimitar o espaço, os limites são a terra, o mar e o céu. César
Portela foi sensível ao ponto de preservar o declive acentuado. E visto um cemitério
ser um local fúnebre e delicado o arquiteto criou algo subtil que se adaptou ao
desenvolvimento natural do terreno.

Ilustração 46 - Cemitério Finisterra (SkyscraperCity, 2000) Ilustração 47 - Cemitério Finisterra (SkyscraperCity, 2000)

29
César Portela – nasceu em Pontevedra em 1937. Este arquiteto espanhol estudou em Madrid e em
Barcelona. Licenciou-se em 1966 e doutorou-se dois anos depois. É professor convidado por diversas
escolas de todo o mundo. Colaborou na organização e design de vários seminários e workshops sobre
arquitetura, alguns tão importantes por serem dirigidos em colaboração com Aldo Rossi. Galardoado com
o prémio nacional de arquitetura em Espanha em 1999 com a construção da Estação Rodoviária de
Cardoba, entre outros prémios e homenagens.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O conceito de implantação é uma característica importante a considerar na elaboração


de um projeto.

Permitir que a topografia ganhe destaque é o que o arquiteto Eduardo Souto Moura 30
fez nas Habitações em Ponte de Lima.
Neste projeto a relação que o objeto tem com a topografia é mais evidente do exterior.
São duas casas com o mesmo programa e duas atitudes diferentes: uma natural e
outra artificial.
O arquiteto pretendia que as habitações diferissem entre si pela relação que cada uma
delas estabelece com a paisagem.

Ambos os volumes mantêm um forte diálogo arquitetónico com a colina; à primeira


vista o que se evidencia é uma casa inclinada que acompanha as linhas do terreno,
centrada em si própria onde procura uma relação com a natureza que a rodeia e outra
casa que contraria a inclinação do terreno, estando suspensa na encosta e orientada
para a paisagem montanhosa do Minho.

Estas casas nascem sobre a pendente e envolvem-se na paisagem oferecendo-nos


diferentes sensações. As suas formas e disposição não convencional exigiram muito
estudo por parte do arquiteto.

Como dizia Fernando Távora: “…em arquitetura o contrário também é verdade”.


(Souto Moura, p.20)

Ilustração 48 - Habitações Ponte de Lima (Arcstreet, Ilustração 49 - Habitações Ponte de Lima (Arcstreet, 2005)
2005)

30
Eduardo Souto Moura – nasceu no Porto a 25 de julho. Em 1980 licenciou-se em arquitetura pela
Escola Superior de Belas Artes do Porto. Estagiou com o arquiteto Álvaro Siza Vieira quando ainda era
estudante de arquitetura entre 1974-1979. Vencedor de inúmeros prémios, entre eles o prestigiado
Pritzker 2011. Influenciado pelas linhas horizontais de Mies Van der Rohe, é um dos expoentes máximos
da Escola do Porto.

Isabel Cristina Martins Morgado 60


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Em todos estes projetos está patente que a relação com o lugar é essencial, que a
paisagem influencia a arquitetura e a paisagem deve ser um meio a valorizar e a
preservar.

Tentamos demonstrar que arquitetos com culturas e influências diferentes tendem


cada vez mais a interpretar primeiro o lugar, a captar as sensações que este tem para
oferecer, e só depois elaborar algo que se integre no sítio.

Sendo um terreno com um declive mais acentuado, as preocupações e exigências são


maiores, mas não é verdade pensarmos que temos mais liberdade de expressão ao
desenharmos para um terreno plano. Hoje em dia possuímos inúmeras técnicas que
nos permitem criar obras arquitetónicas muito inovadoras mesmo quando achamos
que estamos a intervir num território complicado. Porque, afinal, não é um território
complicado é apenas diferente/especial.

Seguidamente iremos introduzir o cerne deste trabalho: o estudo de três obras que
nos mostram que, com um gesto simples e rigoroso, projetamos em falésias e em
terrenos bem acidentados.

Ilustração 50 - Esquiço Habitações Ponte de Lima (Arkitectos, 2008)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

4.2. COERÊNCIA ORGÂNICA. FRANK LLOYD WRIGHT

Um dos principais exemplos da arquitetura integrada no lugar e na sua envolvente é a


Casa Cascata do arquiteto Frank Lloyd Wright. Esta casa é considerada o expoente
máximo da arquitetura orgânica, termo usado pelo arquiteto em 1908.
A Casa Cascata foi construída para Edgar Kaufmann31 em 1934 na Pensilvânia. Foi
encomendada como uma casa de campo num local que, para além, de várias árvores
tinha também uma cascata. Esta cascata acabou por ser responsável por todo o
projeto feito.

Frank Lloyd Wright pretendia que o projeto refletisse a contemplação das formas
naturais, exprimindo a fusão entre a estrutura, a função, o espaço e a imagem. Estas
características foram conseguidas, pois como o próprio disse numa palestra para a
Taliesin Fellowship32:

A Fallingwater foi uma grande graça divina – uma das maiores graças divinas que se
podem experimentar aqui na Terra. Acho que nada igualou nunca a coordenação, a
expressão harmoniosa do grande princípio de tranquilidade quando a floresta, água,
rocha, todos os elementos estruturais se combinam tão silenciosamente; de facto não
se ouve seja que ruído for para além da música do rio que ali passa.
Escuta-se a Fallingwater da mesma maneira que se escuta a quietude do campo…
(Pfeiffer, 2007, p. 123)

Ilustração 51 - Casa Cascata: alçado frontal (Northland, 2012)

31
Edgar Kaufmann – nasceu a 1 de novembro de 1885 e faleceu a 15 de abril de 1955. Era um
empresário alemão que se graduou na Universidade Yale. Era proprietário de duas obras-primas
arquitetónicas: Casa Cascata e Kaufmann House.
32
Taliesin Fellowship - a Escola de Arquitetura Frank Lloyd Wright, foi inaugurada formalmente em 1932,
quando vinte e três aprendizes foram viver e aprender para Taliesen (nome galês, atribuído por Wright à
sua residência de verão, que significa: Cume brilhante). As fontes desta filosofia educacional têm raízes
que se reportam a datas muito anteriores à década de 1930.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Esta casa veio redefinir a relação entre arquitetura, homem e natureza. Wright criou
esta relação ao elaborar este edifício, teoria que ensinava aos seus alunos.
Este projeto elogia o lugar onde se encontra, a cascata é sempre um elemento
presente para quem vive a casa, não visualmente mas através do som. Foi projetada
de modo a que a cascata do riacho Bear Run fosse um elemento gerador do projeto.

É um projeto que apenas faz sentido no lugar onde se encontra, foi criado de modo
minucioso para o sítio, o que faz com que este não faça sentido em mais lado nenhum
do mundo.

A casa ergueu-se através do próprio crescimento orgânico, aproveita o declive do


terreno e assenta-se nas rochas já existentes.

Ilustração 52 - Casa Cascata: escadas exteriores com ligação à cascata (Unique Places, 2010)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 53 - Casa Cascata: Planta 1º andar (Unique Places, 2010)

Ilustração 54 - Casa Cascata: Planta 2º andar (Unique Places, 2010)

Ilustração 55 - Casa Cascata: Planta 3º andar (Unique Places, 2010)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

À primeira vista os elementos com mais impacto visual são a lareira (elemento vertical)
e as varandas (elementos horizontais). Todos os elementos verticais da casa são em
pedra da região com ‘protuberâncias’ ou com alguma saliência dando um ar mais
escultórico às massas pedregosas, os elementos horizontais são de betão derramado.

Este edifício cresce de dentro para fora, está construído de acordo com as
necessidades dos seus moradores, podendo ser modificado porque, visto ser um
edifício de arquitetura orgânica, é concebido como algo vivo e mutável.

Desde as suas primeiras obras que Frank Lloyd Wright manifesta um conhecimento
pormenorizado sobre materiais oriundos da natureza. Neste projeto o arquiteto usa
materiais naturais como a madeira, o tijolo, e a pedra que fazem integrar o edifício na
floresta.

Wright manifesta uma grande preocupação com a habitabilidade do interior. O espaço


interior deve ser abrangente e livre, evitando todos os limites possíveis. A sala de estar
tem uma grande superfície envidraçada que permite apreciar a vista da cascata e
receber o ruído que esta produz.
O uso de grandes vãos fez com que a separação com o exterior fosse praticamente
inexistente e a luz natural fosse também predominante assim como a vista para a
natureza.

Deste modo, o espaço interior não só ganha uma nova liberdade como leva o
ocupante a ter uma relação mais próxima com a natureza.

Ilustração 56 - Casa Cascata: sala de estar (Wright House, 2000)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Do terreno foram removidas algumas rochas para fazerem parte da fachada do edifício
e é criado uma progressão natural de rocha até o piso. O resto da fachada é de cor
creme que contrasta com a cor verde ou marrom (dependendo da época do ano).

A entrada principal (localizada a norte) dá-nos acesso a uma pequena sala com
função de hall situada por baixo das escadas que fazem a ligação ao segundo andar.
O hall transporta-nos para a maior divisão da casa onde podemos desfrutar de uma
vista magnífica, com os terraços em duas direções: um eleva-se sobre a torrente e o
outro avança sobre as rochas e a cascata.

Na sala de jantar à direita deparamo-nos com a lareira cercada por pedras naturais
que surgem desde o solo. Em ambos os lados da sala existe uma porta com ligação
para um dos terraços. De um lado há uma escada exterior que nos leva ao quarto do
filho de Kaufmann. A oeste localiza-se a cozinha e um quarto onde se encontram
móveis de madeira de nogueira desenhados por Wright, aliás como todos na casa.

Ilustração 57 - Casa Cascata: terraço de Sudoeste (Wright House, 2000)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

No piso superior existem dois quartos, duas casas de banho e um escritório assim
como três terraços e umas escadas que dão acesso ao terceiro andar.

Todas as ligações e acessos são estreitos para conferir maior importância aos
espaços de estar, onde a grande incidência de luz se contrapõe ao escuro dos
corredores.

Os tetos são baixos propositadamente pois direcionam o olhar para a paisagem que
envolve a casa. A beleza desta obra está na relação conseguida com o exterior,
relação esta dada através dos terraços que comunicam com a natureza.

Ilustração 58 - Casa Cascata: terraço dos quartos (Wright House, 2000)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Este projeto consiste em duas partes: a casa principal da família Kaufmann que foi
construída entre 1936 e 1938 e a casa de hóspedes concluída em 1939, um pouco
mais elevada na encosta do monte. A ligação processa-se através de um passadiço
coberto e semicircular.

A Casa Cascata nutre a forte vontade que o arquiteto teve em fundir a natureza com a
arquitetura. O objeto construído é a continuação das rochas presentes no sítio. A
exaltação do sítio é então conseguida ao fundir o volume arquitetónico à colina e, se
tivesse sido projetado sobre pilotis, já não era possível obter esta perfeita integração
no terreno.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

4.3. CONSTRUIR NUMA FALÉSIA. PAULO DAVID

O arquipélago da Madeira localiza-se no Oceano Atlântico e dista cerca de 980km de


Lisboa.
A ilha da Madeira é muito montanhosa e a sua formação vulcânica criou cumes
elevados, vales profundos e encaixados e um litoral com arribas altas e escarpadas.

A orografia da ilha da Madeira constitui um desafio à edificação da paisagem pois,


construir na forma imponente que esta apresenta (nomeadamente um maciço de
rocha basáltica de cor escura) é um desafio para qualquer arquiteto.

Ilustração 59 - Centro de Arte Casa das Mudas: fotografia Calheta (PlataformArquitectura, 2006)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

A construção nesta ilha distingue-se no modo como o programa se articula com o


lugar. É um exercício vertical interessante cujo resultado será certamente bem
conseguido se os arquitetos souberem tirar partido das características da geografia da
ilha da Madeira e ainda se forem capazes de fundir harmoniosamente o projeto com
essas qualidades.

E quando se trata de equipamentos culturais, como é o caso do Centro da Casa das


Mudas, a facilidade de acesso, a centralidade e a atratividade são fatores primordiais a
ter em linha de conta na sua projetação.

O arquiteto Paulo David33 resolve esses mesmos fatores de forma excecional ao


projetar este edifício na Ponta Oeste da ilha da Madeira. Foi ao estagiar com o
arquiteto Gonçalo Byrne34 que Paulo David aprendeu a noção do conceito de lugar e a
valorizar a relação que o objeto arquitetónico tem com o meio envolvente.

Ilustração 60 - Centro de Arte Casa das Mudas: fotografia aérea (PlataformArquitectura, 2006)

33
Paulo David – Paulo David Abreu Andrade nasceu no Funchal em 1959, é um arquiteto vencedor da
Medalha Alvar Aalto em 2012. Formou-se em 1989 na Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Lisboa, trabalhou nos gabinetes de Gonçalo Byrne e João Carilho da Graça. Em 1996 regressou à sua
cidade natal, onde se estabeleceu e abriu o seu gabinete.
34
Gonçalo Byrne – Gonçalo de Sousa Byrne nasceu em Alcobaça em 1941. Diplomou-se em arquitetura
na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1968. Autor de uma vasta obra, várias vezes premiada a
nível nacional e internacional. Do seu vasto currículo, constam dezenas de obras em Portugal e no
estrangeiro desde habitações, a renovações urbanas, equipamentos urbanos, laboratórios e
universidades. As suas obras são diversificadas em termos de escala, de tema e de programa. Em 2005 a
Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa deu-lhe o título de Honoris Causa.

Isabel Cristina Martins Morgado 72


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 61 - Centro de Arte Casa das Mudas: planta localização (PlataformArquitectura, 2006)

Ilustração 62 - Centro de Arte Casa das Mudas: planta de cobertura (PlataformArquitectura, 2006)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Paulo David é um madeirense nato e ao exercer a sua carreira na ilha sabe a


importância que a topografia tem e o impacto desta nas obras arquitetónicas.
A resposta dada por este arquiteto a um concurso promovido pela Sociedade de
Desenvolvimento da Ponta Oeste tem sido reconhecida mundialmente.

Desde sempre que este arquiteto teve especial atenção na maneira como trata a fusão
do elemento artificial com a arquitetura onde tem como premissa preservar a
paisagem madeirense, visto a ilha viver essencialmente do turismo, sendo que a
natureza e a beleza da ilha são fatores que não podem ser destruídos.

Atualmente, no Funchal, em Londres, Paris ou outra cidade qualquer, o centro histórico


tem um poder de sedução, um encanto e um conforto que não tem a periferia. A
Madeira não escapa a esta situação, embora tenha a seu favor, a natureza. O que me
faz lembrar, noutra escala, o Rio de Janeiro. É tão forte a natureza que a construção
não se sobrepõe (…) a ilha da Madeira é ainda um sítio sagrado, tal como o Rio de
Janeiro. (Siza Vieira, 2001)

Ilustração 63 - Centro de Arte Casa das Mudas: planta piso -1 (PlataformArquitectura, 2006)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Em todos os seus projetos Paulo David tenta fazer uma leitura atenta do lugar e
esforca-se por responder eficazmente a todos os obstáculos que este poderá ter. Visto
o elemento natural ser uma constante da sua obra é importante integrá-lo com a sua
arquitetura fazendo uma ligação equilibrada entre o natural e o construído.

O projeto Centro de Artes Casa da Mudas não foi exceção, seguiu os preceitos morais
de Paulo David e não foi em vão que ganhou vários prémios pela sua perfeita
integração na paisagem e território.

Esta obra está situada no alto de uma falésia talhada a pique no concelho da Calheta
a cerca de 20 minutos da cidade do Funchal, um concelho de grande extensão na
frente marítima da costa oeste da ilha, conhecido pelos seus altos montes e onde o
centro se desenvolve no vale mais profundo.

A inexistência de qualquer espaço destinado à arte contemporânea na capital


madeirense e a política descentralizada possibilita a inesperada criação de um espaço
expositivo.

Ilustração 64 - Centro de Arte Casa das Mudas: planta piso -3 (PlataformArquitectura, 2006)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 65 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Este (PlataformArquitectura, 2006)

Ilustração 66 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Sul (PlataformArquitectura, 2006)

Ilustração 67 - Centro de Arte Casa das Mudas: alçado Oeste (PlataformArquitectura, 2006)

Isabel Cristina Martins Morgado 76


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Este centro é uma ampliação da Casa da Cultura da Calheta, e o seu nome Casa das
Mudas advém das antigas moradoras do edifício original, duas irmãs portadoras de
uma deficiência, que eram sobrinhas de um dos descobridores da Ilha, João
Gonçalves Zarco35.

Este edifício que tem como objetivo a divulgação da cultura, do lazer e da produção
artística desenvolve-se ao longo de um eixo longitudinal, orientado na direção
Norte/Sul, é o resultado das condições topográficas e é construído até o limite máximo
da falésia.

Ilustração 68 - Centro de Arte Casa das Mudas: edifício original (PlataformArquitectura, 2006)

35
João Gonçalves Zarco – nasceu a 1390 e morreu no Funchal a 1471. Foi um navegador português e
Cavaleiro Fidalgo da Casa do Infante D.Henrique. Comandante de barcos, foi escolhido pelo Infante para
organizar o povoamento e administrar por si a Ilha da Madeira, na zona do Funchal a partir de 1425 após
juntamente com Tristão Vaz Teixeira terem descoberto o arquipélago da Madeira em 1418.

Isabel Cristina Martins Morgado 77


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O projeto pretende redesenhar a ‘massa montanhosa’. O volume foi esculpido e


escavado aproveitando os socalcos do terreno, integrando-se no território o que faz
com que o espectador tenha dificuldade em estabelecer os limites entre o natural e o
artificial, perde-se a noção de onde começa ou acaba o objeto construído. Aspeto
conseguido por Paulo David ao escolher como materialidade do Centro das Artes a
pedra negra, conhecida por basalto serrado que se assemelha à natureza da
paisagem vulcânica onde está inserido, intensificando os valores da paisagem e do
território.

Este centro tem um programa organizado em volumes que nascem do solo, volumes
estes que incluem: três salas com diferentes ritmos, dimensões e características que
constituem o módulo de exposições que se desenrola em duas cotas diferentes,
permitindo uma amplitude de uso e onde toda a infraestrutura técnica está camuflada
para que a obra de arte seja o único elemento visível ao longo da visita; um auditório
que em oposição apresenta um detalhado design de modo a possibilitar variedade de
programação; uma biblioteca, uma sala de workshops, uma loja e um restaurante com
esplanada.

Ilustração 69 - Centro de Arte Casa das Mudas: receção (PlataformArquitectura, 2006)

Isabel Cristina Martins Morgado 78


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ao percorrermos este Centro Cultural a sensação de descoberta e de surpresa é uma


constante, pátios interiores surgem no meio dos volumes, com altimetrias que não se
mantêm, o que permite uma vista variada nos diversos ângulos construídos.

Ilustração 70 - Centro de Arte Casa das Mudas: auditório (PlataformArquitectura, 2006)

Ilustração 71 - Centro de Arte Casa das Mudas: cobertura

(PlataformArquitectura, 2006)

Isabel Cristina Martins Morgado 79


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Visto ser um projeto com um carácter cultural onde não existe uma faixa etária como
alvo, as acessibilidades e o funcionamento do Centro têm de ser simples e adequadas
às mobilidades condicionadas.

O ingresso é dado pela parte superior, onde um plano inclinado nos conduz a um pátio
de forma quadrada que organiza e denuncia o programa. E aqui iniciamos o percurso
com ruelas e becos para acedermos ao programa elaborado. Cada espaço é gerido de
forma autónoma, de maneira a não obrigar ninguém a ter que percorrer espaços que
não sejam do seu interesse. A sua interioridade e complexidade só são reveladas
quando estamos perto do edifício.

Ilustração 72 - Centro de Arte Casa das Mudas: pátio (PlataformArquitectura, 2006)

Isabel Cristina Martins Morgado 80


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Paulo David soube respeitar e entender a paisagem onde iria intervir, construiu um
edifício que está perfeitamente integrado na topografia e foi eficaz no modo como
trabalhou o funcionamento dos espaços internos.

A relação com o território não passa despercebida a quem está no interior do edifício,
pois é nos sempre possível admirar ora a montanha ora o mar.

(…) ao percorrer os nossos projetos entendeu esta importância fulcral que a paisagem
aquática assume. Basta pensar que o sol nasce e põe-se no mar. O próprio estado de
alma do ilhéu como constante mirante do horizonte faz todo o sentido. Essa força que a
presença da massa de água transmite vislumbra-se até na concretização de alguns
formalismos construtivos como o Forte do Pico, como vigia perante os perigos que
vinham do mar, ou o Hotel do Óscar Niemeyer36, como exercício de
vislumbramento.(David, 2007, p.26)

Ilustração 73 - Centro de Arte Casa das Mudas: exterior vista mar (SkyscraperCity, 2000)

36
Óscar Niemeyer – nasceu a 15 de dezembro de 1907 e morreu no Rio de Janeiro a 5 de dezembro de
2012. Este arquiteto brasileiro é considerado uma das figuras-chaves no desenvolvimento da arquitetura
moderna. Niemeyer ficou mais conhecido pelos projetos de edifícios cívicos para a Brasília. Estudou na
Escola Nacional de Belas Artes e durante o seu terceiro ano estagiou com Lúcio Costa. Ao longo dos
anos tornou-se um dos arquitetos prolíferos do Brasil, projetou vários edifícios tanto no seu país como no
exterior. Em Portugal apenas há uma obra, e situa-se na cidade do Funchal, o Hotel Casino do Funchal
construído na década de 60. Entre outros prémios, em 1988 ganhou o Pritzker. Até dias antes de morrer,
com 104 anos Niemeyer continuou a trabalhar.

Isabel Cristina Martins Morgado 81


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Segundo a arquiteta Ana Vaz Milheiro 37:

…o interior do edifício da Calheta tem semelhanças com uma peça siziana… Todo o
edifício, apesar da sua clausura, tem como referência, não a falésia, onde se enterra,
mas o mar e o passado que tem construído a relação entre este e a ilha. Este último
dado é mais decorrente da presença de Gonçalo Byrne, com quem Paulo David
trabalhou, do que de Siza. (Milheiro, p. 94)

Paulo David ficou conhecido com este projeto do Centro da Casa das Mudas. É um
edifício imponente tanto para quem o observa do mar como de quem o vê do cume da
montanha.

O arquiteto soube aproveitar o terreno em socalcos e adaptar-se a ele, não entrando


em contradição com a natureza, muito pelo contrário, valoriza os elementos que a
compõem neste lugar e assim permite que haja um diálogo entre a arquitetura e a
natureza, diálogo este conseguido também pela materialidade usada por este ser
natural daquela localidade.

O Centro de Artes é a continuação do rochedo em direção ao céu. Os antigos


edificavam as suas construções em locais previamente escolhidos tendo em conta uma
forte relação com o espaço e a energia telúrica do local. Não sei se foi um acaso a
escolha deste lugar. O espaço pode condicionar ou favorecer a criatividade e a criação
artística. Aqui, é seguramente muito inspirador (David, 2006, p. 12)

Ilustração 74 - Centro de Arte Casa das Mudas: exterior vista montanha (SkyscraperCity, 2000)

37
Ana Vaz Milheiro – Licenciou-se em arquitetura em 1991 pela Faculdade Técnica de Arquitetura da
Universidade Técnica de Lisboa e doutorada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo em 2004. É professora e autora de três obras (‘Nos trópicos sem Le Corbuiser’, ‘A Minha
Casa é um Avião’ e ‘Construção do Brasil’).

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

4.4. PERCURSO A PIQUE. ÁLVARO LEITE SIZA VIEIRA

Álvaro Leite Siza Vieira nasceu a 28 de julho de 1962 na cidade do Porto.

Iniciou a sua vida de estudante de arquitetura na Faculdade Arquitetura da


Universidade do Porto, após ter desistido do curso de Direito porque pouco tinha a ver
com a sua pessoa. Em 1994 licenciou-se na Faculdade de Arquitetura da Universidade
do Porto, por saber desenhar quis entrar na área do pai mas por não considerar
correto estagiar com ele optou por fazé-lo com o mais recente galardoado prémio
máximo da arquitetura Eduardo Souto Moura.

O seu percurso iniciou-se ao projetar várias discotecas para a cidade do Porto e


colaborou com o seu pai em diversos projetos, entre eles: trabalhos do Chiado, Museu
de Arte Contemporânea em Helsínquia e Complexo Olímpico das Universidades de
Palermo. Mas o seu reconhecimento internacional foi alcançado ao projetar a Casa
Toló.

É um projeto de uma casa de férias no Lugar das Carvalhinhas, Alvite, freguesia de


Cerva, concelho de Ribeira de Pena, distrito de Vila Real, em que o cliente é o seu
primo, respetiva mulher e filho.

Ilustração 75 - Casa Tóló: esquiço (Casa Tóló, Ilustração 76 - Casa Tóló: esquiço (Casa Tóló,
2004) 2004)

Isabel Cristina Martins Morgado 83


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Segundo o arquiteto ninguém conhecia este projeto até ser nomeado para o concurso
‘Wallpaper Awards’38 onde apenas concorrem projetos de vanguarda. Acabou por não
vencer este concurso mas ganhou a categoria Private House nos Russian International
Architectural Awards39 em 2005.

Este projeto situa-se numa área com 1000m2 com uma acentuada topografia em que
a área construída tem cerca de 180m2.
Este terreno tem uma particularidade: ser muito estreito e muito comprido, mas usufrui
de grande luz solar pois está orientado para Sul.

Álvaro Leite Siza Vieira inspirou-se nos jogos impossíveis de Escher e nas
características do terreno e desenvolveu um esquema escalonado que transforma a
casa numa infinita escadaria.

Ilustração 77 - Casa Tóló: modelo tridimensional Ilustração 78 - Casa Tóló: modelo tridimensional

(Casa Tóló, 2004) (Casa Tóló, 2004)

38
Wallpaper Awards – prémio anual de arquitetura, design, interiores e arte.
39
Russian International Architectural Awards – prémio anual que distingue edifícios e projetos de
urbanismo.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Com uma vista natural privilegiada esta casa, que cai como que uma cascata
montanha abaixo, engloba um programa que contém três quartos de dormir, uma casa
de banho social, uma sala de estar, outra de refeições, uma cozinha, uma despensa e
uma piscina exterior.

A entrada da casa é dada pela cota superior do terreno (zona Norte) por ser possível o
trânsito automóvel. Por ser mais funcional e mais prático na integração da casa, a
zona Sul pode ser também acedida mas pedonalmente em que o percurso é bem mais
agreste, pela quantidade de escadas que possui.

Ao querer manter o grande declive do terreno a fragmentação do edifício é necessária


e surgem vários volumes de pequeno tamanho que vencem assim a inclinação e cada
um deles contém uma parte do programa, todos articulados e ligados entre si.

Assim, clarificam-se várias funções da casa, onde cada desnível corresponde a um


único compartimento.

Ilustração 79 - Casa Tóló: fotografia aérea (Casa Tóló, 2004)

Isabel Cristina Martins Morgado 85


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

As coberturas destes pequenos fragmentos funcionam simultaneamente como


pavimento de apoio ao jardim, solução adaptada das regiões com topografia de relevo
acentuado do norte do país, dos seus pátios e eiras tradicionais.

Aqui as coberturas são revestidas com isolamento térmico e têm como acabamento
lajetas de betão pré-fabricado e antiderrapante.

As lajes do pavimento são em betão armado mas visto o terreno ter um nível freático
elevado e para a casa ter uma boa impermeabilização e conforto térmico (constante
preocupação do arquiteto) foram criadas caixa de ar entre as lajes e o terreno.

As paredes, também com o mesmo material, têm um acabamento exterior com uma
especial cofragem, as que não são paredes resistentes são feitas com blocos de
cimento enchidas com areia, sempre rebocadas e pintadas de cor branca. As
fundações, paredes e coberturas são impermeabilizadas por telas em PVC.

Ilustração 80 - Casa Tóló: escadas exteriores (Casa Tóló, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 81 - Casa Tóló: plantas (Casa Tóló, 2004)

Ilustração 82 - Casa Tóló: cortes (Casa Tóló, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

As aberturas estão todas viradas para Sul aproveitando em grande quantidade a luz
solar. Todas as portas e janelas exteriores são de estrutura metálica e vidro duplo
tendo sempre em vista um bom isolamento térmico e acústico. No interior, as
paredes são todas pintadas de cor branca e a madeira de cor castanho claro foi o
material eleito para as escadas, soalho, rodapé e portas.

A relação interior/exterior foi privilegiada pois os vãos enquadram determinadas vistas


da paisagem. O arquiteto deu especial atenção à luz natural, sabendo usá-la e
conjuga-la com relações inter-espaciais e variação de pé-direito.

Ilustração 83 - Casa Tóló: vista exterior com acesso à casa (Casa Tóló, 2004)

Ilustração 84 - Casa Tóló: piscina (Casa Tóló, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

O arquiteto quis preservar as árvores pré-existentes no terreno com o intuito de manter


a relação imediata com o envolvente e também porque o verde era uma característica
importante da paisagem.

Ao olharmos para esta casa o que a distingue são as várias escadas ali presentes que
criam inúmeros caminhos que, por sua vez, ligam os diversos patamares e desde a
cota superior à cota inferior há sempre um percurso. Assim, toda a casa é um caminho
em forma de escada que liga todos estes desníveis que a constituem.

Uma das tendências atuais na arquitetura é explorar a escada, de modo que ela venha
a se integrar e a compor o ambiente. Não apenas como um elemento de circulação
vertical, mas também como um elemento estético do ambiente.

O arquiteto optou por escadas minimalistas mas aqui o elemento tão puro torna-se
perigoso. Não há qualquer tipo de guarda/corrimão, o que cria uma circulação
perturbante. Segundo o autor, este projeto toma como referências mesmo
inconscientes as suas memórias das ruínas das civilizações incas: como as
escadarias de Machu Piccho e a maneira como estas se ajustam à topografia e como
as construções da ilha Santorini na Grécia se instalam no território.

Na casa Tóló o cenário é o mesmo, embora a escala seja muito mais reduzida, o
projeto procura adaptar-se à topografia do terreno.

Ilustração 85 - Casa Tóló: vista exterior das escadas e quartos (Casa Tóló, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 86 - Casa Tóló: sala de estar (Casa Tóló, 2004)

É um projeto que apresenta uma linguagem de unidade muito forte, onde a sua
imagem varia conforme a perspetiva.

O facto de a casa parecer estar semienterrada é devido aos baixos recursos


económicos disponíveis, mas que acaba por resultar muito bem dado Álvaro Siza ter
escolhido como material o betão à vista, o que transmite a ideia de que algo está a
nascer do solo.

A casa está unida ao terreno de forma natural e os pátios exteriores relacionam-se


com todo o verde presente em redor. Este corpo adequa-se à morfologia do terreno,
daí sofrer rotações em alguns módulos, módulos estes que foram idealizados
conforme uma geometria rigorosa mas estão naturalmente adaptados ao terreno e
perfeitamente integrados no lugar.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 87 - Casa Tóló: escadas interiores (Casa Tóló, 2004)

Ilustração 88 - Casa Tóló: escadas interiores (Casa Tóló, 2004)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

5. PROJETO III. GROTTE CELONI

5.1. PROGRAMA

O objetivo desta disciplina é não só colocar desafios ao aluno na elaboração de uma


composição projetual como dotá-lo de um senso crítico nomeadamente faze-lo
reconhecer a necessidade da subtração respeitando a adição. E também saber faze-lo
dar uso ao vazio, combinando-o com o cheio se necessário.

A tarefa do aluno será propor uma projetação contemporânea e real: contemporânea


enquanto fruto do conhecimento da análise geográfica – urbana, da história e da
relação da produção atual, e real pelo mesmo motivo mas também por utilizar técnicas
de construção modernas.

Durante o estágio projetual as regras podem ser encontradas por tentativas de


soluções inovadoras por experimentações positivas e negativas e por sucessivas
aproximações até à definição e equilíbrio projetual finais.

Ilustração 89 - Fotografia área de intervenção (Ilustração nossa)

Isabel Cristina Martins Morgado 92


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

5.2. ENUNCIADO

A disciplina abordará um tema real, que faz referência a um projeto urbanístico cuja
realização está já programada pela comunidade de Roma no contexto das ações para
implantação de habitação.

Em particular, a disciplina terá como área de trabalho a zona de Grotte Celoni.

Trata-se de uma vasta área livre, localizada ao longo da Via Casilina na parte oriental
da cidade de Roma.

Ilustração 90 - Área de intervenção delineada a linha vermelha (Ilustração nossa)

Isabel Cristina Martins Morgado 93


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

5.3. DADOS DO PROJETO

Superfície Territorial - 227600 m2


Superfície Útil para residentes – 56900 m2
Área não residencial – 11380 m2 (20%)
Área Comercial – 2845 m2 (5%)
Área de Serviços Privados – 8535 m2 (15%)

A área é praticamente toda plana. A norte encontra-se a Via Casilina, alguns


complexos de edifícios com caráter industrial e uma área residencial do Villaggio
Breda a oeste. Este último elemento é o componente mais marcante da envolvente,
pois trata-se de o Instituto Autónomo de Casas Populares (Bairro Social) projetado nos
anos 40.

O acesso é possível através de uma área de estacionamento que dá apoio à estação


ferroviária Grotte Celoni (linha Roma Pontano).

5.4. TRÊS FASES

1 – Reconhecimento da experiência ‘housing’ a nível europeu no decurso dos últimos


20 anos. Cada aluno deverá produzir uma análise de duas casas de estudo, através
da realização de um formulário padronizado, que será fornecido pelo professor. As
fichas de análise, uma vez recolhidas, estarão disponíveis a todos os outros alunos no
site da disciplina.

2 – Elaboração de um Masterplan geral da área de implantação de projeto, à escala


1/2000 e 1/1000. Esta fase será realizada em grupo de 4 a 6 alunos, e deverá ser
produzido um modelo tridimensional (maqueta) do projeto urbano.

3 – Elaboração, por parte de cada membro do grupo de planificação do Masterplan, de


um projeto arquitetónico de um ou mais edifícios habitacionais que compõe(m) o
plano.

O reagrupamento dos projetos individuais deverá dar origem a uma redefinição do


Masterplan.

Isabel Cristina Martins Morgado 94


Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 91 - Masterplan (Ilustração nossa)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

5.4.1. FASE 2. MASTERPLAN

Após análise do terreno, objeto de intervenção, verificou-se que este estava cercado
por uma malha urbana extremamente rígida.

A nossa ideia foi quase imediata: construir uma malha dinâmica no vazio proposto
que, de certo modo, se opusesse à malha existente.

O desenho deste Masterplan nasceu de modo simples e objetivo: criar um vazio no


centro e, no perímetro envolvente, criar diversos loteamentos (que posteriormente
cada elemento do grupo iria desenvolver).

Este vazio urbano mostrou-se necessário devido à linha de elétrico que por ali
passava, o que condicionou o nosso desenho mas também permitiu definir a nossa
resposta de intervenção.

A ideia foi criar uma espécie de ‘rambla’ central, com espaços verdes e de lazer.
Passou a ser um novo centro urbano e simultaneamente o novo centro verde.

Ficou estabelecido que o rés do chão de todos os quarteirões iria ser destinado a
comércio, dinamizando assim esta zona central do Masterplan .

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 92 - Loteamento: planta cobertura (ilustração nossa)

Ilustração 93 - Loteamento: planta piso 0 (Ilustração nossa)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

5.4.2. FASE 3. LOTEAMENTO

A ideia chave deste projeto é manter as ligações visuais com o pré-existente, tornando
este novo centro urbano bastante atrativo e de fácil acesso para os que o visitam.

Visto o terreno ser todo plano, a opção foi “brincar” com o espaço verde e projetá-lo
com cotas altimétricas variadas.

O espaço verde criado no centro do loteamento é mais privado e destinado às


pessoas que ali habitam. Esta zona é composta por espelhos de água intercalados por
um jogo de verdes (uns mais privados e outros mais públicos).

Optámos por criar um edifício apenas habitacional e os dos extremos, que são mais
pequenos, são de escritório e os últimos pisos de habitação.

Tanto o edifício de habitação como o de escritório+habitação têm destinado o rés do


chão ao comércio. A cobertura de ambos estes edifícios é ajardinada e acessível aos
moradores.

O edifício do centro é mais alto por querer manter a ideia de os extremos dos
loteamentos serem mais baixos, não apenas por causa da luminosidade mas também
para, de certo modo, se “agarrarem” aos edifícios vizinhos.

Todos os edifícios são compostos por torres de vidro que fazem a distribuição e
ligação dos andares.

As casas pátio são uma opção a quem quer habitar numa casa no centro da cidade.

A ideia era que a frente do lote do lado da rambla fosse mais alta e à medida que
atravessamos o loteamento a altura do edificado vai diminuindo, de modo a que o
centro do loteamento não fosse escuro mas sim iluminado pelo sol.

As ligações que unem a rambla e o envolvente têm como material a pedra calcária
branca, onde o verde já não existe, com o intuito de essas mesmas ligações serem
consistentes.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 94 - 3D: vista área 1 (Ilustração nossa)

Ilustração 95 - 3D: vista área 2 (Ilustração nossa)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 96 - 3D do projeto 1 (Ilustração nossa)

Ilustração 97 - 3D do projeto 2 (Ilustração nossa)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

Ilustração 98 - 3D do projeto 3 (Ilustração nossa)

Ilustração 99 - 3D do projeto 4 (Ilustração nossa)

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluindo a dissertação, mas nunca este tema, podemos afirmar que a Topografia
assume um papel essencial em relação ao Contexto e ao Lugar visto que o objeto
arquitetónico deve integrar-se no Sítio, devendo os dois complementar-se.

Tal como referido, a topografia é inerente ao lugar, é ela que define a forma deste
último e é um dos fatores fundamentais a ter em consideração num projeto
arquitetónico. Ao elaborar um projeto, o arquiteto estuda as propriedades naturais do
terreno a intervir, pois a topografia é uma das condicionantes mais fortes mesmo
quando o autor tem o desejo de a anular ou a contrariar, criando uma topografia
artificial.

Quando se pretende tirar partido do território onde vamos atuar podemos fazer com
que este seja parte integrante da obra, tornando-se a nossa estratégia arquitetónica do
modo como vamos relacionar o lugar com o projeto.

É evidente que quando se atua num terreno com uma pendente acentuada e ao
querer acompanhar este declive, o resultado será um volume fragmentado que se vai
moldando ao terreno e consequentemente cria uma nova paisagem.

A aparente dicotomia natural/artificial gera um processo de simbiose onde a


arquitetura interpreta a topografia e a topografia informa a arquitetura.

Por fim, na arquitetura assim vista, a própria topografia surge como um projeto
simultaneamente de paisagem e de arquitetura, pelo que podemos afirmar que esta
representa a atitude por parte de um sujeito sobre um território, que está em constante
transformação e que poderá sempre ser utilizado na criação do objeto arquitetónico.

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Topografia, arquitetura e o projeto arquitetónico

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Arquitetura e Topografia: A Influência da Topografia na Arquitetura

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