Policia Federal Gerenciamento de Crises
Policia Federal Gerenciamento de Crises
Policia Federal Gerenciamento de Crises
GERENCIAMENTO DE
CRISES
1995
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MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES
ÍNDICE
CAPÍTULO I
- Introdução. Princípios básicos. Critérios de ação.......................................... pág._____
CAPÍTULO II
- Classificação dos graus de risco ou ameaças e níveis de resposta. Fatores
que influenciam na classificação. Elementos essenciais de informações no
gerenciamento de crises. Fontes de informações. Tipologia dos causadores de
eventos críticos e gradação de sua periculosidade..................................................... pág._____
CAPÍTULO III
- Fases da confrontação. A pré-confrontação ou preparo. Os níveis de
treinamento. A importância dos ensaios e sua periodicidade. A reciclagem. As
medidas preventivas. A difusão doutrinária. Planos de segurança. Critérios básicos
para sua elaboração. A definição de responsabilidade. Elaboração de
responsabilidade. Elaboração e atualização das sinopses de rotinas ......................... pág._____
CAPÍTULO IV
- A resposta imediata. Tarefas preliminares de gerenciamento. Elementos
operacionais essenciais. O comandante da cena de ação. Seu papel e
responsabilidades nas diversas fases da confrontação ................................................ pág._____
CAPÍTULO V
- Operação e organização do posto de comando ............................................ pág._____
CAPÍTULO VI
- Elementos operacionais essenciais. O negociador. Seu papel e
responsabilidades. A utilização tática do negociador. Características do negociador .
O negociador não-policial............................................................................................... pág._____
CAPÍTULO VII
- A negociação. Recomendações doutrinárias acerca da negociação. Táticas
de negociação. A ”síndrome de Estocolmo”. Breve histórico desse fenômeno.
Conseqüências práticas da sua ocorrência. Efeitos da “síndrome de Estocolmo” no
negociador. A troca de reféns. A substituição do negociador. O negociador................ pág._____
CAPÍTULO VIII
- Elementos operacionais essenciais. O grupo tático especial (“SWAT”).
Evolução histórica do conceito “SWAT” nos EUA. Componentes táticos de uma
“SWAT”. Recomendações sobre o recrutamento do pessoa de uma “SWAT”.
Considerações de natureza ética. O Comando de Operações Táticas (COT) do
Departamento de Polícia Federal................................................................................... pág._____
CAPÍTULO IX
- Perímetros táticos. Regras a serem observadas na sua instalação............... pág._____
CAPÍTULO X
- O plano específico. O papel da inteligência nesta fase. Estudo crítico das
principais opções táticas em uso. A decisão para uso de força letal. A rendição e a
resiliência........................................................................................................................ pág._____
CAPÍTULO XI
- A resolução. Fundamentos teóricos da resolução com uso de força letal.
Preparativos finais para a execução dessa fase. Atribuições do comandante da cena
de ação nessa fase......................................................................................................... pág._____
CAPÍTULO XII
- A vitimologia. Orientações gerais destinadas aos cidadãos para o
enfrentamento de situações de crise.............................................................................. pág._____
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CAPÍTULO II
INTRODUÇÃO
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portanto, que as organizações policiais se preparem adequadamente para enfrentar tal
realidade.
Nessas condições, é louvável e de bom alvitre a decisão da Direção
Geral do DPF em adotar medidas com vistas a dar ao Gerenciamento de Crises o
tratamento estratégico e doutrinário que o assunto exige, especialmente levando-se em
consideração o fato de que a partir da vigência da Instrução Normativa nº 08/88-DG/DPF
a Polícia Federal passou a Ter a responsabilidade de assumir o comando das operações
policiais, até solução final, nos casos de apoderamento ilícito de aeronaves.
A recente criação de um grupo tático especial subordinado diretamente
ao Coordenador Central Policial, em Brasília, o projeto de formação, pela citada
Coordenação, de grupos semelhantes e de equipes de negociadores para atuarem a nível
regional, e a decisão de incluir a disciplina “Gerenciamento de Crises” nos currículos do
Curso Superior de Polícia e do Curso Especial de Polícia da ANP são exemplos bem
claros da nova postura adotada no trato dessa importante problemática.
No FBI e em quase todas as polícias norte-americanas o
gerenciamento de Crises já vem há mais de duas décadas recebendo um tratamento
científico, estando atualmente à matéria consolidada em bases doutrinárias consistentes.
Nas academias de polícia dos EUA, o Gerenciamento de Crises é
matéria de grande importância, tanto nos cursos de formação como nos cursos de
aperfeiçoamento de policiais. Nenhum executivo de polícia daquele país deixou de Ter
algum contato com essa disciplina.
E o resultado dessa política é que as crises são tratadas de uma
maneira quase uniforme nos EUA, verificando-se destarte, que apesar das diferenças de
legislação de um estado para outro, as organizações policiais (não importa qual seja a
sua natureza) adotam uma mesma doutrina de trabalho com relação a esse assunto e, o
que é mais importante, falando uma mesma linguagem. A Academia Nacional do FBI
mantém no seu currículo um curso de Gerenciamento de Crises ministrado em 22 horas-
aula, no qual não apenas se aprende a doutrina do FBI sobre crises, mas também se tem
a possibilidade de efetuar uma troca de experiências entre os participantes, através de
debates e seminários.
PRINCÍPIOS BÁSICOS
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O que é uma crise?
A Academia Nacional do FBI define crise como:
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importante salientar que a análise e o planejamento durante o desenrolar de uma crise
são consideravelmente prejudicados por fatores como a insuficiência de informações
sobre o evento crítico, a intervenção da mídia e o tumulto de massa geralmente causado
por situações dessa natureza.
Finalmente, com relação às considerações legais especiais exigidas
pelos eventos críticos, cabe ressaltar que, além de reflexões sobre temas como estado de
necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal, responsabilidade civil,
etc., o aspecto da competência para atuar é aquele que primeiro vem à baila, ao se Ter
notícia do desencadeamento de uma crise. “Quem ficará encarregado do
gerenciamento?” – é o primeiro e mais urgente questionamento a ser feito, sendo muito
importante na sua solução um perfeito entrosamento entre as autoridades responsáveis
pelas organizações policiais envolvidas.
Além dessas características essenciais, uma crise poderá ainda
apresentar outras características peculiares como:
a) a necessidade de muitos recursos para a sua solução;
b) ser um evento de baixa probabilidade de ocorrência e de graves
conseqüências;
c) ser caótica;
d) ter um acompanhamento próximo e detalhado, tanto pelas
autoridades como pela comunidade e pela mídia.
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organizações policiais?
Há três razões para isso.
Em primeiro lugar, a responsabilidade da organização policial.
Crises mal gerenciadas podem acarretar problemas de
responsabilidade Civil para o Estado, especialmente nos casos em que ocorreram mortes
de reféns ou de pessoas inocentes.
Nos EUA, ficou célebre a ação movida pelos DOWNS contra a União,
em virtude da morte de um dos membros daquela família num caso de uma crise mal
conduzida (segundo os familiares), pelo FBI.
Em segundo lugar, a crise é não-seletiva e inesperada. Em outras
palavras, ninguém está imune à ocorrência de uma crise em sua área de atuação e
tampouco pode prever quando esse evento vai ocorrer. Sendo assim, toda e qualquer
organização policial há que estar adredemente preparada para o enfrentamento de um
evento crítico.
Finalmente, a ação da mídia durante os eventos críticos.
Essa ação, onipresente principalmente em conjuntura de liberdades
democráticas, faz com que os erros porventura cometidos pelos órgãos policiais no
gerenciamento de uma crise sejam vistos sob uma lente de aumento. Além disso, a ampla
divulgação de tais erros causa um desgaste da confiança do público na organização
policial e um constrangimento natural dentro da própria comunidade policial.
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Esses estudos e treinamentos especiais, tecnicamente denominados
de pré-confrontação. São os principais escopos deste Curso de Gerenciamento de
Crises. Finalmente, para concluir esta parte introdutória, é importante mencionar os
objetivos do Gerenciamento de Crises.
OBJETIVOS
a) PRESEVAR VIDAS; e
b) APLICAR A LEI.
CRITÉRIOS DE AÇÃO
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de linha telefônica ou da luz elétrica daquele ponto ou até mesmo o uso de força letal.
Aos processos de tomadas de decisão não faltam também o exame e a
análise das sugestões e das propostas de solução que chegam em avalancha ao local da
crise. Essas sugestões vão desde as mais fantasiosas às mais intrincadas e engenhosas,
passando pôr algumas prosaicas ou grosseiras e outras que chegam a ser simplesmente
estúpidas.
“Ponham um soporífero na comida para que todos durmam”, sugere
um; “façam algazarra para que os bandidos não possam dormir e se entreguem pelo
cansaço”, sugere outro; “deixem que eles fujam com os reféns e com o dinheiro”, implora
aquele outro, “usem a ´SWAT´ para acabar logo com isso”, exigem os mais radicais, e
assim por diante.
Para balizar e facilitar o processo decisório no curso de uma crise, a
doutrina estabelece o que se chama critérios de ação.
Critério de ação são os referenciais que servem para nortear o
tomador de decisão em qualquer evento crítico.
Quais são esses critérios de ação?
A doutrina de gerenciamento de crises do FBI estabelece três critérios
de ação, a saber: a necessidade, a validade do risco e a aceitabilidade.
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A aceitabilidade legal significa que o ato deve estar amparado pela
Lei.
Considerando que o policial, no exercício de suas atribuições,
responde civil, penal e administrativamente pelos seus atos, é obvio que qualquer decisão
ou ação que tomar no curso de uma crise deve estar em consonância com as normas em
vigor.
A crise, por mais séria que seja, não dá aos que a gerenciam
prerrogativas de violar as leis, mesmo porque, como vimos anteriormente neste capítulo,
uma das finalidades do Gerenciamento de Crises é justamente aplicar a lei.
Sendo assim, toda uma gama de problemas de ordem legal vem à
baila por ocasião da eclosão de um evento crítico. Temas como a responsabilidade civil, a
legítima defesa de terceiros, o estado de necessidade, o exercício regular de direito e o
estrito cumprimento do dever legal, entre outros, devem ser discutidos e levados em
consideração no processo decisório, para evitar o desamparo legal das ações a serem
desencadeadas.
Dentre essas discussões de ordem jurídica, talvez a primeira que vem
à tona é a da competência, isto é, a quem vai competir o gerenciamento da crise?
Essa dificuldade prática de definir competência não é privilégio do
Brasil. Os próprios americanos reconhecem que um das primeiras indagações a serem
feitas ao se depararem com uma crise é “who is in charge?” (“quem está
encarregado?)”
Esse problema é de suma importância e a sua não-solução tumultua o
processo de gerenciamento (e conseqüentemente, decisório) muito mais do que se possa
imaginar.
Somente a título de exemplo poder-se-ia citar o caso do motim de
presos ocorrido no dia 13 de novembro de 1989, em Piraquara/PR, na Penitenciária
Central do Estado do Paraná, onde o gerenciamento da crise ficou durante boa parte do
tempo indefinido, haja vista que se tratava de assunto de imediato interesse e
competência dos seguintes órgãos: a Secretaria de Segurança Pública do Estado
(representada no local da crise pela PM/PR e pelo Centro de Operações Especiais –
COPE, da Polícia Civil), a Secretaria de Justiça (representada pelo Departamento
Penitenciário Estadual – DEPEN), o Juiz das Execuções Penais do Estado do Paraná e o
Ministério Público Estadual.
Ao fim do evento, à falta de uma definição da competência, prevaleceu
a autoridade do Juiz das Execuções Penais, que assumiu a condição de gerenciador da
crise e de comandante da cena de ação, autorizando, inclusive, no desenlace da crise, o
uso de força letal.
A aceitabilidade deve também abranger o campo moral.
Isso significa que não devem ser tomadas decisões ou praticadas
ações que estejam ao desamparo da moralidade e dos bons costumes.
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Suponha-se que determinado causador de evento crítico inclua, no rol
de suas exigências, que determinada mulher atraente (uma atriz famosa, por exemplo) lhe
conceda favores sexuais como condição para liberação dos reféns. Essa exigência, ainda
que conte com a anuência da referida mulher, que, num gesto patriótico ou humanitário,
se ofereça voluntariamente para ser submetida aos caprichos do referido elemento, não
pode nem deve ser tolerada pelos responsáveis pelo gerenciamento da crise.
A aceitabilidade inclui também a ética.
Dentro desse raciocínio não pode o responsável pelo gerenciamento
de crise tomar decisões nem exigir dos seus subordinados a prática de ações que
causem constrangimentos “interna corporis”, no seio do organismo policial. Nesse
sentido, é clássico o exemplo do policial que se oferece como voluntário para ser trocado
por algum refém.
Essa troca –se tolerada – acarreta questionamentos éticos de natureza
bastante intrincada, que podem resultar em abalos profundos na coesão do grupo policial.
Ao se aceitar que um policial passe à condição de refém em troca de
outrem, não se está solucionado a crise, mas tão-somente se lhe aduzindo um ingrediente
de impacto ético polêmico e de conseqüências imprevisíveis.
Preliminarmente, vem a indagação moral sobre se a vida do policial
vale mais ou menos do que a do refém por quem foi trocado. Depois, ao aceitar a troca,
coloca-se um profissional numa situação bem pior do que a de um refém comum, pois os
bandidos passarão a enfocar seus cuidados e desconfianças naquele elemento recém-
ingressado no ponto crítico, que, por ser um policial, tem em tese treinamento especial e
pode estar disposto a tentar, a qualquer momento, uma reação.
Por outro lado, o policial que passa à condição de refém, apesar das
instruções que tenha recebido dos seus superiores antes da troca, pode, a partir de certa
altura dos acontecimentos, começar a se questionar se deve ou não deve tentar alguma
saída ou atitude heróica, porquanto, a vista da sociedade e dos seus colegas de trabalho,
ele é um profissional que fez um juramento de, se necessário, sacrificar até a própria vida
no cumprimento de sua missão.
Se dentro do ponto crítico a tensão aumenta com esses
questionamentos dos bandidos e do policial agora refém, lá fora, entre os que participam
do gerenciamento da crise, não menos carregado e nervoso se torna o ambiente, pois se
antes se lidava com uma crise onde havia simplesmente reféns, agora se lida com uma
crise em que um dos reféns é um colega de trabalho, conhecido de todos e até, às vezes,
estimado e respeitado.
Dentro dessa ordem de idéias, a ação da troca de policiais por reféns é
um perfeito exemplo de decisão que não obedece ao critério da aceitabilidade ética.
Da fria observância dos critérios de ação, os responsáveis pelo
gerenciamento de uma crise podem evitar que, após a debelação do evento, sejam
submetidos às barras dos tribunais, à crítica da sociedade e da mídia, ou ao reproche
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dos seus pares.
TEMAS PARA DISCUSSÃO
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10. O uso da força letal e suas conseqüências jurídicas no que
concerne à legítima defesa de terceiros e ao estado de
necessidade.
11. Por que não se deve fornecer armas, quando exigidas por
elementos causadores de um evento crítico?
13
CAPÍTULO II
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ELEMENTOS ESSENCIAIS DE INFORMAÇÃO
Como pode ser observado, esses exemplos dados, pelo FBI são
meramente ilustrativos e o enquadramento de um evento crítico nessa escala varia de
país para país e também em função dos princípios doutrinários da organização policial
envolvida. Outro fator ponderável é a diagnose da situação, a ser feita pelo policial
responsável pelo gerenciamento da crise.
Essa diagnose e a conseqüente classificação do grau de risco ou
ameaça depende de vários fatores a serem avaliados, os quais integram os chamados
elementos essenciais de informação que são quatro:
BANDIDOS
REFÉNS
OBJETIVO (ou PONTO CRÍTICO)
ARMAS
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Ela tem importantes reflexos operacionais e de gerenciamento, pois é a
partir dessa classificação que o organismo policial encarregado de gerenciar o evento
crítico oferecerá o nível de resposta compatível.
NÍVEIS DE RESPOSTA
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orientação e da assessoria de técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
Uma correta avaliação do grau de risco ou ameaça representado por
uma crise concorre favoravelmente para a solução do evento, possibilitando, desde o
início, o oferecimento de um nível de resposta adequado à situação, evitando-se,
destarte, perdas de tempo desnecessárias.
Importa finalmente ressaltar que a avaliação inicial do grau de risco ou
ameaça é sempre feita pela autoridade policial que primeiramente toma ciência do evento
crítico. Essa avaliação, em que pese ser muitas vezes provisória, depende, como se viu
mais acima, dos elementos essenciais de informação de que dispõe inicialmente a
autoridade policial.
A coleta desses elementos essenciais de informação é quase sempre
penosa e de difícil confirmação. Freqüentemente dados de vital importância como, por
exemplo, os números de bandidos ou de reféns, somente vêm a ser confirmados após o
epílogo da crise.
Nessas condições o responsável pelo gerenciamento de uma crise há
que estar alertado para, o fato de que a coleta de dados de informações acerca do evento
crítico ocorre quase sempre de maneira indireta, sendo importante atentar para as
chamadas fontes de informações.
FONTE DE INFORMAÇÃO
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TIPOLOGIA DOS CAUSADORES DE EVENTOS CRÍTICOS
1
BOLZ JUNIOR FRANK A. – “How to be a Hostage and live”, Lyle Stuart Inc. Secaucus, nº J., 1987, página 47 e
segs.
18
Estatisticamente, nos Estados Unidos, esse é o tipo de indivíduo que
causa a maioria dos eventos críticos. Brigas domésticas, problemas referentes à custódia
de menores, empregados revoltados ou alguma mágoa com relação a autoridade de
destaque podem ser o estopim para a prática de atos que redundem em crises. Segundo
BOLZ, essas situações são as mais difíceis de lidar.
O nível de ansiedade e, muitas vezes, a própria racionalidade do
elemento causador do evento crítico podem subir e descer vertiginosamente, “como uma
montanha russa”, dificultando a negociação.
Não se possuem, no Brasil, dados estatísticos confiáveis que possam
indicar com exatidão o percentual representado por esse tipo de causadores de eventos
críticos no universo de crises registradas no país.
O terceiro e último tipo é o terrorista por motivação política.
Apesar de não ostentar uma liderança estatística como os
emocionalmente perturbados, essa espécie de causadores de eventos críticos é, de
longe, a que causam maior estardalhaço. Basta uma olhada nos jornais para se verificar
as repercussões causadas por esse tipo de evento, ao redor do mundo.
É que pela própria essência desses eventos, geralmente
cuidadosamente planejados por grupos com motivação política ou ideológica, a
repercussão e a divulgação constituem, na maioria das vezes, o principal objetivo da
crise, que se revela como uma oportunidade valiosa para críticas às autoridades
constituídas e para revelação dos propósitos ou programas do grupo.
No Brasil, essa categoria de causadores de eventos críticos foi muito
ativa durante o início da década de 70, no auge do regime militar, mas atualmente não se
tem registrado ocorrências dessa natureza.
Uma subespécie dessa categoria de causadores de eventos críticos
seria o terrorista por motivação religiosa.
É muito difícil, segundo BOLZ, lidar com esse tipo de elemento, porque
não pode haver nenhuma racionalização através do diálogo, o que praticamente
inviabiliza as negociações. Ele não aceita barganhar as suas convicções e crenças.
Quase sempre, o campo de manobra da negociação fica reduzido a
tentar convencer o elemento de que ao invés de “morrer pela causa”, naquele evento
crítico, seria muito mais proveitoso sair vivo “para continuar a luta”. BOLZ acha que para
esse tipo de fanático pode parecer, em dado momento, ser mais conveniente sair da crise
carregado nos braços dos seus seguidores como um herói, do que no interior de um
esquife como um mártir.
Seja qual for o tipo do causador de evento crítico, deve-se evitar, no
curso da crise, a adoção de posturas estereotipadas com relação à tipologia e à
motivação. A postura do “dejà-vu” pode ser muito prejudicial, tanto ao negociador como
ao responsável pelo gerenciamento da crise.
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A classificação aqui apresentada, a para de suas imperfeições, deve
servir apenas, como se disse mais acima, como um ponto de orientação na diagnose dos
causadores de eventos críticos, dados o papel primordial que eles desempenham numa
crise.
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TEMAS PARA DISCUSSÃO
21
CAPÍTULO III
Este Capítulo tem por finalidade conceituar cada uma dessas fases e
apresentar um especial enfoque sobre a primeira delas (a Pré-confrontação ou Preparo).
As demais fases serão objeto de estudo mais detalhado em outros
capítulos, ao longo deste Manual.
. A PRÉ-CONFRONTAÇÃO ou PREPARO
2
Veja-se o conceito de Gerenciamento de Crises, na pág.7
3
BASSET, DONALD A. Confrontation manegement, Quântico, VA.FBI National Academy, SOARU, nov 1987, p.2.
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Já foi dito alhures que quanto mais treinada e preparada estiver uma
organização policial para o enfrentamento de eventos críticos, maiores serão as suas
chances de obter um bom resultado.
Em outras palavras, cuida-se aqui de mudar uma mentalidade
organizacional meramente reativa (eminentemente passiva, que consiste em somente
agir após a eclosão dos eventos) para uma postura organizacional proativa (onde as
ações de prevenção e antecipação são prioritárias).
No tocante à sua postura diante dos eventos críticos, as organizações
policiais costumam responder mediante duas abordagens básicas de gerenciamento:
a) a abordagem ad hoc ou casuística; e
b) a abordagem permanente ou de comissão.
A abordagem ad hoc ou casuística consiste em reagir aos eventos
críticos mediante uma mobilização de caso a caso, enquanto que a abordagem
permanente ou de comissão adota a praxe de manter um grupo de pessoas previamente
designado, o qual é acionado tão logo se verifica uma crise.
A experiência norte-americana e de outros países tem demonstrado
que a abordagem ad hoc apresenta freqüentemente problemas de entrosamento e
eficiência, mesmo quando convocam para o gerenciamento pessoas familiarizadas com o
manejo de crises.
A abordagem permanente ou de comissão, além de facilitar o
entrosamento entre os participantes, mostra-se eficiente na definição do papel de cada
um dos componentes do grupo de gerenciamento.
Nessas condições, sob o aspecto doutrinário, recomenda-se a todas as
instituições policiais que:
a) disponha de uma entidade ou grupo colegiado
designado para uma resposta a crises, o qual será acionado tão logo
ocorra um evento crítico;
b) disponha, em suas principais unidades regionais
ou metropolitanas, de elementos especialmente treinados para
responder a crises; e
c) promova regularmente o treinamento conjunto de
suas unidades policiais [para assegurar uma boa
interoperacionalidade quando da ocorrência de crise.
Esse preparo ou aprestamento deve abranger todos os escalões da
organização policial, através de uma sistemática de difusão e ensinamento dos princípios
doutrinários do Gerenciamento de Crises, seguidos de treinamento e ensaios e
possibilitem o desenvolvimento de habilidades e aptidões em três níveis distintos, a saber,
o individual, o de grupo e o de sistema.
Nessas condições, não apenas os indivíduos – isoladamente ou em
conjunto – devem desenvolver uma metodologia de trabalho eficiente na resposta aos
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eventos críticos, mas também, o próprio sistema vigente na organização policial há que se
demonstrar eficaz e desenvolto no curso desse processo.
O trabalho de aprestamento deve, obrigatoriamente, incluir a realização
de ensaios e exercícios simulados que sejam, tanto quanto possível, aproximados da
realidade, proporcionando aos participantes o desenvolvimento da capacidade de decidir
e de agir sob pressão.
Esses ensaios ou exercícios simulados devem obedecer a uma certa
periodicidade, que variará de organização para organização, levando-se em
consideração, principalmente, a sua potencialidade de se envolver num evento crítico.
Quanto maior essa potencialidade, mais freqüentes deverão ser esses ensaios.
Além dos ensaios não deve também a organização policial descuidar
da reciclagem, processo através do qual são reestudados e atualizados os princípios
ferais da doutrina, adaptando-os, quando necessário, à conjuntura vigente.
A pré-confrontação, contudo, não se resume apenas ao preparo e ao
aprestamento da organização policial para o enfrentamento das crises. Ela engloba
também um trabalho preventivo.
Esse trabalho compreende ações de antecipação e de prevenção.
A antecipação consiste na identificação de situações específicas que
apresentem potencial de crise e a subseqüente adoção de contramedidas que visem a
neutralizar, conter ou abortar tais processos.
Assim, por exemplo, se o diretor de uma penitenciária tem
conhecimento de que, naquele estabelecimento está em evolução um plano de motim,
deverá providenciar junto à autoridade policial competente a adoção de medidas para
neutralizar ou fazer abortar os planos dos presidiários, evitando assim uma crise através
da antecipação.
Do mesmo modo, se obtém a noticia de que determinado cidadão está
sendo cogitado para ser vítima de uma extorsão mediante seqüestro, a primeira coisa que
a autoridade policial deve fazer, após confirmar a informação, é adotar contramedidas
com o objetivo de frustrar a consumação do referido delito.
Já a prevenção é um trabalho mais genérico, realizado com o objetivo
de evitar ou dificultar a ocorrência de um evento crítico ainda não identificado, mas que se
apresenta de uma forma puramente potencial.
Realiza-se a prevenção principalmente perante a população em geral,
quando se esclarece a respeito dos cuidados que deve ter para evitar que seja vítima de
algum evento crítico.
Do mesmo modo, age também por prevenção, o diretor de uma
penitenciária que determina a execução de inspeções periódicas nas celas e demais
dependências daquele estabelecimento, para localizar armas e instrumentos que possam
ser utilizadas numa rebelião ou motim.
Nos aeroportos a prevenção é realizada, quando, por exemplo, se
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submete a uma vistoria, através de Raios-X, a bagagem de mão dos passageiros.
Perante a população, o trabalho de prevenção é dos mais profícuos.
Ele consiste não somente na recomendação de atividades e
comportamentos que visem a evitar ou dificultar que as pessoas se envolvam em
situações de crise, mas também – e principalmente – na orientação de comportamentos
que devem ter quando, por infelicidade, venham a ser vítimas de um evento dessa
natureza.
O conhecimento de princípios gerais de Gerenciamento de Crises por
parte das vítimas favorece bastante a atuação da polícia e incrementa o potencial de êxito
da solução do evento, sendo necessário, para que isso ocorra, uma criteriosa difusão da
doutrina entre as pessoas que possam ser virtuais protagonistas de alguma crise.
Esse assunto será estudado com mais detalhes no último Capítulo
deste Manual, quando dor abordada a Vitimologia.
A Pré-confrontação cuida também da metodologia de elaboração dos
planos de segurança.
O plano de segurança ou plano de contingência é o documento
através do qual uma determinada organização policial estabelece normas e rotinas de
caráter interno com vistas a disciplinar o Gerenciamento de Crises.
É através desse plano que a organização policial condensa os seus
princípios doutrinários que deverão ser observados antes, durante e após a ocorrência de
um evento crítico.
A doutrina do Gerenciamento de Crises recomenda uma metodologia
de elaboração desse plano, que, pela sua natureza, integra a fase da Pré-confrontação ou
Preparo.
Nessas condições, deve o plano de contingência estabelecer regras de
aprestamento, treinamento, ensaios e reciclagem para a fase da Pré-confrontação.
Na hipótese de eclosão de uma crise, deve o plano prever rotinas,
estabelecer tarefas e definir responsabilidades para que a resposta imediata da
organização policial ocorra dentro de um padrão de desempenho que facilite o
subseqüente processo de gerenciamento do evento.
Finalmente, deve o plano de contingência estabelecer normas que
permitam, em todas as fases da crise, orientar os tomadores de decisão na adoção de
medidas que sejam compatíveis com os critérios de ação e com os objetivos básicos de
preservação de vidas e de aplicação da lei preconizados pela doutrina de Gerenciamento
de Crises.
Importa ainda lembrar que todo plano de segurança ou plano de
contingência deve prever a existência das chamadas sinopses de rotinas, que se
destinam a dar a cada policial, em tópicos claros e objetivos, um resumo das tarefas que
lhe couber de imediato executar, na eventualidade de uma crise.
Tais sinopses, diga-se de passagem, precisam estar sendo
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constantemente atualizadas, principalmente no que concerne a números de telefones ou
endereços que precisem ser contatados em casos de crise.
Deflagrada uma crise, passa-se à fase seguinte da confrontação, que é
a Resposta Imediata.
A RESPOSTA IMEDIATA
O PLANO ESPECÍFICO
A RESOLUÇÃO
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TEMAS PARA DISCUSSÃO
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CAPÍTULO IV
Conter a crise;
Isolar o ponto crítico; e
Iniciar as negociações.
A ação de conter uma crise consiste em evitar que ela se alastre, isto
é, impedindo que os seqüestradores aumentem o número de reféns, ampliem a área sob
seu controle, conquistem posições mais seguras, ou melhor, guarnecidas, tenham acesso
a mais armamento, etc.
A ação de isolar o ponto crítico, que se desenvolve praticamente ao
mesmo tempo em que a de conter a crise, consiste em estremar o local da ocorrência
interrompendo todo e qualquer contato dos seqüestradores e dos reféns (se houver) com
o exterior. Essa ação tem como principal objetivo obter o total controle da situação pela
polícia, que passa a ser o único veículo de comunicação entre os protagonistas do evento
e o mundo exterior.
O isolamento da área materializa-se não apenas pela implantação dos
perímetros táticos, que serão melhor abordados no Capítulo IX deste Manual, mas
também pela interrupção ou bloqueio das comunicações telefônicas do ponto crítico com
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o mundo exterior.
A experiência tem demonstrado que quanto melhor for o isolamento do
ponto crítico mais fácil se torna o trabalho de gerenciamento da crise. O início das
negociações é o terceiro passo essencial a ser dado pela autoridade policial que tornou
ciência da crise.
Mesmo que essa autoridade policial não seja aquela que ficará
encarregada do processo de gerenciamento, é por demais importante que ela dê início
imediato às negociações. O clima de profunda tensão e incerteza vivido pelos bandidos
nos primeiros momentos da crise pode leva-los a uma atitude de nervosa loquacidade,
que poderá não se repetir no decorrer da crise, quando já obtiverem um controle da
situação e passarem a disciplinar as suas palavras e emoções. Importantes dados e
informações podem ser fornecidos pelos próprios bandidos nesses momentos iniciais de
negociação, facilitando uma posterior diagnose da crise.
Ainda sobre a negociação, que será estudada em detalhes no Capitulo
IV, é importante lembrar que toda a doutrina de gerenciamento de crises repousa
praticamente na negociação.
Adotadas essas três medidas iniciais, tem início o processo de
instalação do teatro de operações.
O teatro de operações, também denominado cena de ação fica sob a
responsabilidade de um policial (geralmente um executivo de polícia) denominado de
COMANDANTE DO TEATRO DE OPERAÇÕES ou COMANDANTE DA CENA DE
AÇÃO (“ON-SCENE COMMANDER’)”.
A partir daí, toda e qualquer ação desenvolvida no âmbito do teatro de
operações (ou da cena de ação) dependerá da anuência expressa desse policial, que
passa a ser a mais alta autoridade na área em torno do ponto crítico.
O comandante do teatro de operações pode até vir a ser substituído
por outro policial, a critério dos altos escalões da organização policial envolvida, mas a
sua autoridade ou a autoridade de quem o venha a substituir não pode ser desrespeitada
no âmbito do teatro de operações. Toda e qualquer ordem, orientação ou decisão relativa
ao evento crítico deverá – necessariamente – ser transmitida ao teatro de operações
através desse policial.
Esse postulado doutrinário tem como objetivo óbvio trazer coesão e
definição de autoridade no gerenciamento da crise, evitando-se a dispersão de comando
e a nefasta ocorrência de cadeias de comando paralelas.
Essa prerrogativa do comandante da cena de ação traz-lhe, como
conseqüência, uma série de responsabilidades e encargos.
Desde a instalação do posto de comando (P.C.) até a solução final da
crise, inúmeras são as atividades a serem desenvolvidas pelo comandante da cena de
ação.
Essas atividades vão ser desempenhadas nas diversas fases da
29
evolução do evento crítico, sendo importante lembrar que poderão apresentar uma grande
diversificação, dependendo da complexidade e da duração da crise.
Nessas condições, na chamada “FASE DA RESPOSTA IMEDIATA”,
que é aquela em que a organização policial toma conhecimento e reage ao evento crítico,
o comandante da cena de ação poderá ter, entre outras, as seguintes responsabilidades:
30
comando da cena de ação.
31
desempenho dos policiais envolvidos;
- Providenciar, sempre que possível vigilância técnica do ponto crítico
para coleta de informações;
- Providenciar autoridade policial e escrivão para a lavratura de autos
de prisão em flagrante que porventura se façam necessários;
- Providenciar alimentação e alojamento para os policiais, no caso de
crises que se protraiam excessivamente;
- Providenciar os seus períodos de descanso a fim de evitar que a
fadiga afete a sua capacidade de decisão; e
- No caso de transferência da crise, avisar às autoridades policiais do
local de destino, fornecendo-lhes as informações mais detalhadas e
atuais possíveis sobre o evento crítico.
32
- Providenciar perícias de local com vistas a virtuais indenizações de
terceiros cujo patrimônio tenha sido lesado em decorrência da crise;
- Realizar, tão logo quanto possível, uma reunião com todos os
policiais participantes do evento, com o objetivo de realizar uma
avaliação crítica dos resultados;
- Efetuar uma última entrevista com os representantes da mídia,
informando-os sobre os resultados da crise; e
- Providenciar o apoio psicológico necessário para os policiais
porventura afetados por traumas resultantes do evento crítico.
- Como bem se vê, é imensa a gama de atribuições que recai sobre
os ombros do comandante da cena de ação. Por essa razão, a
escolha do homem encarregado dessa missão deve ser a mais
criteriosa possível.
33
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
34
CAPÍTULO V
I. DEFINIÇÕES
II DESCRIÇÃO
35
de decisões.
- Agir e reagir, através da implementação de planos e decisões e da
coordenação de ações.
- Apoiar todas as funções acima, através de um trabalho de logística
e de administração.
c) Sede de autoridade para as operações de campo. Nessa condição, o
PC centraliza a autoridade e o controle na cena de ação. Também
serve como orientador dirigente e ponto de tomada de decisão para os
subordinados.
a. Comunicações
36
b. Segurança (isolamento)
- De pessoas hostis;
- Da mídia;
- Do público;
- De policiais curiosos, não participantes do evento.
c. Acomodações e Infra-estrutura
e. Acesso
37
ou arriscadas, ao se deslocar para o PC.
f. Tranqüilidade
g. Isolamento
h. Distribuição de Tarefas
c) Elementos de apoio
d) Elementos de assessoria.
38
VI. TAREFAS E FUNÇÕES SUGERIDAS PARA OS ELEMENTOS
ESSENCIAIS DE UM POSTO DE COMANDO (PC)
a. Elementos de comando
O elemento de comando, como se disse, é o Comandante da Cena de
Ação. Ele tem as seguintes tarefas:
- É autoridade máxima para todas as ações no local da crise.
- É ele quem determina a estratégia.
- É ele quem revê e dá a última palavra sobre todos os planos que
terão impacto sobre a área da crise, obedecendo aos três critérios
de ação (necessidade, aceitabilidade e efetividade do risco).
- É ele quem estabelece a cadeia de comando mantendo todo o
pessoal cientificado sobre a mesma.
- É ele quem autoriza todas as ações táticas, com exceções das
chamadas reações de emergências (ocorridas quando de um súbito
e inesperado ataque dos bandidos contra os policiais ou os reféns).
Nesse mister, o uso de agentes químicos, - granadas de efeito
moral e de explosivos somente pode ocorrer com a sua autorização.
- É ele quem supervisiona e coordena as atividades do GAD.
- É ele quem assegura uma coordenação com o seu substituto (O
Comandante da Cena de Ação Substituto), na execução das tarefas
deste, quando necessário.
b. Elementos Operacionais
1. Comandante da SWAT
39
crise.
- Tem controle direto sobre a área do perímetro interno, em torno do
ponto crítico.
- Determina as opções táticas viáveis e as recomenda ao
Comandante da Cena de Ação.
- Formula plano tático específico visando apoiar as estratégias
concebidas pelo Comandante da Cena de Ação.
- Explica para o pessoal da SWAT a missão a ser executada e o
plano a ser implementado, de acordo com a orientação do
Comandante da Cena de Ação.
- Supervisiona o ensaio do plano.
- Supervisiona a inspeção do pessoal a ser empregado na ação.
- Dirige pessoalmente a implementação dos planos táticos
autorizados pelo Comandante da Cena de Ação.
- Assegura a comunicação rápida das informações obtidas pelos
francos-atiradores (“snipers”) para os encarregados do
processamento das informações.
- Assegura a coordenação de ações táticas com os demais
integrantes do GAD.
- Ordena a aplicação do plano de emergência, durante a resposta
imediata, antes da chegada de autorização superior, em casos de
extrema necessidade.
40
3. Chefe do Grupo de Vigilância Técnica
5. Elementos de Apoio
41
porventura utilizados no local da crise.
- Assegurar o fluxo normal de papéis ou de burocracia necessários
ao gerenciamento da crise.
6. Elementos de Assessoria
- SWAT;
- Negociação;
- Vigilância técnica;
- Mídia;
- Legal; e
- Especialidades estranhas à atividade policial, como, por exemplo,
42
medicina, epidemiologia, meio-ambiente, energia nuclear, etc.
43
TEMAS PARA DISCUSSÃO
44
CAPÍTULO VI
45
negociador profissional.
O papel fundamental do negociador é o de servir de intermediário entre
os causadores do evento crítico e o comandante da cena de ação. Funciona ele, portanto,
como um catalisador, no processo dialético que se desenvolve entre as exigências dos
causadores do evento crítico (tese) e a postura das autoridades (antítese), na busca de
uma solução aceitável (síntese).
1. A Coleta de informações
4
FUSELIER, DWAYNE, The tactical role of de negotiator, Washington, FBINA, SOARU, Crisis Managenet
Handout, 1988., passim.
46
crise.
Além do mais pode um negociador colher preciosas informações
através das seguintes táticas:
a) Diálogo com os causadores da crise. A Polícia Metropolitana de
Londres5 calcula que 40% do total de informações de uma crise é
obtido por esse meio. Durante o diálogo, o negociador pode obter ou
confirmar informes acerca do verdadeiro número de bandidos e de
reféns, armas, exigências, nomes e posição social das pessoas
envolvidas, etc. Em suma, todos os elementos essenciais de
informação de que tratamos no Capítulo II.
b) Soltura de reféns. Isso proporciona a oportunidade de se obter
dados preciosos de alguém que estava no interior do pronto crítico,
dados esses que podem ser analisados e cotejados com outros
obtidos de outras fontes.
c) Entrega e retirada de recipientes com água, comida e remédios,
possibilitando assim, o levantamento, naqueles objetos, de
impressões digitais para confirmação da identidade dos causadores
da crise ou dos reféns.
d) Aproximação do ponto crítico. Essa aproximação, feita para
dialogar ou fazer entregas (de comida, água, cigarros, etc),
possibilita uma observação mais próxima e mais detalhada do
interior do ponto crítico, com a conseqüente coleta de dados de
muita importância para orientação do grupo tático.
e) Realização de fotografias (com máquinas oculta) do ponto crítico,
aproveitando as oportunidades de entrega de água, comida, etc.
f) Coleta de declarações escritas dos bandidos ou dos reféns, para
análise.
5
FUSELIER, DWAYNE, ibid
47
b. Ganhar tempo, através de conversas prolongadas com os
causadores da crise, possibilitando um melhor amadurecimento das
decisões do grupo tático.
c. Prolongar a negociação para que o plano de ataque possa ser
melhor detalhado e ensaiado pelo grupo tático.
d. Prolongar a negociação para que evolua a chamada “Síndrome de
Estocolmo”6, fazendo assim com que se reduzam as possibilidades
de assassinatos de reféns pelo não-cumprimento dos prazos fatais
por parte das autoridades.
e. Desenvolver um estreito relacionamento com os bandidos, de modo
a torná-los mais receptivos às idéias, sugestões e propostas dos
responsáveis pelo gerenciamento da crise.
6
A respeito desse assunto, leia-se o Capítulo VII.
48
g) Arranjar uma estória de cobertura e ruídos paralelos (o
funcionamento de geradores de emergência por exemplo), para ocultar
ruídos provocados pelo grupo tático.
49
Seja como for, o que importa ficar bem claro é que o negociador seja
um policial dotado de certas características – inatas ou adquiridas através de treinamento
– que possibilitem conduzir a negociação aos fins colimados pela doutrina e pelos
responsáveis pelo gerenciamento de crise.
Durante muito tempo se discutiu se a função do negociador poderia ser
desempenhada por pessoa que não fosse policial.
O uso de negociadores não-policiais é uma experiência por que já
passaram quase todas as organizações policiais, especialmente quando, historicamente,
as primeiras crises necessitaram da intervenção de alguém para servir de intermediário
ou interlocutor entre os causadores dos eventos críticos e as autoridades policiais.
Pode-se até afirmar, e com certa segurança, que os primeiros
negociadores foram, historicamente, não-policiais.
E essa realidade teve suas razões de ser.
Eclodindo uma crise, os bandidos se viam diante de uma polícia, que,
devido ao seu despreparo doutrinário, pretendia solucionar o evento através da cega
aplicação da lei, com a rendição incondicional dos infratores. Nessas condições, fazia-se
necessária a intervenção de alguém, alheio aos quadros policiais, que pudesse servir de
mediador, possibilitando assim que o evento fosse solucionado através de concessões
mútuas.
Essa é, com toda certeza, a conjuntura ainda hoje vivida pela maioria
das organizações policiais brasileiras, as quais, à míngua de uma doutrina e de um
preparo adequado para enfrentar crises, socorrem-se do amadorismo e da improvisação
para solucionar o problema, valendo-se de quaisquer meios ao seu alcance, inclusive de
negociadores improvisados. Tal concepção, contudo, é superada e perigosa.
Hoje, com a experiência pregressa de casos e mais casos em todo o
mundo, pode-se dizer com a certeza que a utilização de negociadores não-policiais é uma
opção de alto risco.
DWAYNE FUSELIER é peremptório ao dizer que “essas pessoas, em
virtude de geralmente não terem sido treinadas para a negociação, tenderão,
provavelmente, devido ao “stress” causado pela situação, a se apegar aos seus
modos e maneiras de falar, ao dialogarem com os bandidos” 7.
Sendo assim, de acordo com aquele autor, os religiosos tenderão a se
manter excessivamente moralistas ou teológicos, os advogados sentirão dificuldades em
decidir por qual dos lados estariam atuando, e até mesmo os profissionais de psiquiatria
ou psicologia, se não tiverem um treinamento prévio a respeito de gerenciamento de
crises, em pouco ou nada poderão contribuir, porquanto estão acostumados a serem
procurados por pessoas que vão lhes pedir auxílio, e nunca por pessoas que resistam a
esse auxílio.
7
FUSELIER, DWAYNE, ibid
50
Outro tipo de negociador não-policial de que freqüentemente se valem
os responsáveis pelo gerenciamento de crises são os familiares de algum dos bandidos.
A crônica policial tem registrado que essa prática tem conseqüências
muitas vezes desastrosas.
Já houve casos verdadeiramente folclóricos em que o cônjuge, o pai ou
a mãe de algum causador de evento crítico se ofereceu para servir de negociador, com a
melhor das intenções, e tão logo se estabeleceu o contato entre aquelas pessoas e o
elemento causador da crise este reagiu da forma mais agressiva possível, argumentando
que ele se encontrava naquela situação justamente devido àquele cônjuge, àquele pai ou
àquela mãe e que não admitia que a polícia voltasse a utilizá-los como negociadores por
considerar aquilo chantagem emocional.
Aconteceu também um caso, nos EUA, em que o irmão de um
seqüestrador se ofereceu para atuar como negociador, garantindo que tinha ascendência
e autoridade sobre o infrator. Obtido o consentimento do comandante da cena de ação
para a realização do contato entre os dois irmãos, o “negociador” tão logo viu o outro
disse “Puxa, mano! Acabamos de ver você pela televisão, lá em casa. Vá em frente, firme,
pois estamos todos torcendo por você”.
Não é preciso ser muito perspicaz para perceber o quanto tal afirmativa
não deve Ter influído no ânimo do infrator, dando-lhe um respaldo psicológico, que,
àquela altura dos acontecimentos era inteiramente pernicioso para os objetivos da polícia.
O grande argumento contra a utilização de negociadores não-policiais
não é tanto a sua falta de preparo, mas a total inexistência de compromisso entre eles e a
polícia. Quem pode garantir que, nos contatos realizados com os bandidos, o negociador
não-policial vá se manter fiel às orientações e propostas emanadas do comandante da
cena de ação?
Mesmo que tal pessoa tenha interesse na solução do evento (um juiz
ou um promotor de justiça, por exemplo), quem pode garantir que ela aceitará as
diretrizes da polícia, principalmente se, na fase de planejamento específico, estiver se
esboçando uma solução com emprego de força letal?
E no caso de se decidir pelo uso de força letal, como se esperar que
uma pessoa sem treinamento específico possa exercer um papel tático na negociação,
conforme se descreveu alhures, neste Capítulo?
Finalmente, se for empregada a força letal, como ficará a
responsabilidade civil do Estado, se o negociador não-policial vier a se ferir, ou mesmo a
perder a vida?
Dentro dessa ordem de idéia, a doutrina do gerenciamento de crises
considera inteiramente condenável o emprego de negociadores não-policiais.
Psicólogos, psiquiatras e até outros expertos em ciências
comportamentais podem e devem ser bem-vindos ao local da crise, mas a sua atuação se
51
deve limitar tão-somente à prestação de assessoria ao comandante da cena de ação e
aos negociadores policiais.
O Agente Especial do FBI, DWAYNE FUSELIER, antes citado, é
categórico ao afirmar que “a menos que haja razões específicas em contrário, os
negociadores devem ser recrutados entre policiais com treinamento apropriado,
assessorados por consultores profissionais em psicologia, se necessário” 8 .
No Capítulo VII quando tratarmos especificamente da negociação,
voltaremos a falar da figura do negociador não-policial.
Ainda sobre o negociador, duas últimas recomendações devem ser
feitas. A primeira delas é a de que o comandante da cena de ação se abstenha totalmente
de atuar como negociador, ainda que tenha treinamento específico sobre esse assunto e
se sinta à vontade para assumir esse papel.
A experiência tem demonstrado que o comandante da cena de ação
nunca é um bom negociador porque o negociador não pode ter poder de decisão. Se
isso acontecer, os elementos causadores da crise logo perceberão esse detalhe e
passarão a interpretá-lo diretamente, instando-o a que atenda imediatamente essa ou
aquela exigência, eliminando assim as possibilidades de procrastinação, tão necessárias
para se ganhar tempo no curso de uma crise.
Por outro lado, ao se tornar negociador, o comandante da cena de
ação, além de desviar os seus esforços e a sua concentração mental de inúmeros outros
assuntos importantes que envolvem a sua missão de gerenciar a crise, tornar-se-á um
negociador insuscetível de ser julgado no seu desempenho, pois a tarefa de avaliar e – se
for o caso-substituir o negociador cabe ao próprio comandante da cena de ação, e se este
é o negociador, quem o irá avaliar?
A Segunda recomendação é no sentido de que se evite utilizar homens
da “SWAT” (grupo tático) como negociadores.
A formação e o condicionamento mental desses policiais são
inteiramente voltados para a solução dos eventos críticos através do emprego da força
letal. Isso os torna imprestáveis para promover uma negociação, que exige, acima de
tudo, uma inabalável crença na solução da crise através do entendimento e do diálogo.
8
FUSILIER. DWAYNE. Ibid.
52
TEMAS PARA DISCUSSÃO
53
CAPÍTULO VII
54
revela, entre outras cousas, o seguinte:
Pessoas favoráveis à negociação...................................58%
Pessoas contrárias à negociação....................................39%
Pessoas favoráveis ao pagamento de resgate...............76%
Pessoas contrárias ao pagamento de resgate................19% 9
Favoráveis....................................................................40%
Contrários.....................................................................50% 10
a. ganhar tempo;
b. abrandar exigências;
c. colher informações; e
d. prover um suporte tático.
9
LACAYO, RICHARD, The hostage agony. Time Newsmagazine (1989, aug 14), p.9
10
Ibidem.
55
três ou quatro.
E há razões para isso.
Primeiramente, em virtude da necessidade de se substituir o
negociador, quando a crise se protrair demasiadamente no tempo. Sabe-se, por
experiência, que as crises são fenômenos de longa duração, sendo bem raras aquelas
que se solucionam em menos de doze horas. O mais comum é que durem entre dois e
cinco dias.
Ora, não há ser humano que consiga ficar ininterruptamente
trabalhando por tão longo lapso de tempo, mormente numa missão tão estressante como
a de negociador. Havendo mais de um negociador disponível, é possível se dar uma
continuidade ao trabalho, através da realização de escalas ou rodízios, ao longo da crise.
Outro motivo é a precaução que deve haver em face da possibilidade
de o negociador se desentender com os causadores do evento crítico, ou mesmo perder a
confiança destes. Nessas hipóteses, a negociação se inviabiliza com aquele negociador,
sendo imprescindível a sua substituição.
A Segunda recomendação doutrinária é com relação à troca de
reféns.
Essa idéia de troca de reféns é hoje inteiramente repudiada, seja
devido a razões morais ou éticas, seja pelo fato de que tais trocas interferem no
desenvolvimento da chamada “Síndrome de Estocolmo”, de que falaremos mais
adiante, ainda neste Capítulo.
A terceira recomendação é estreitamente relacionada aos critérios de
ação, de que tratamos no Capítulo I, e que preconiza que toda e qualquer exigência que
contribua para a exacerbação do grau de risco da crise não deve, sob hipótese
alguma, ser atendida.
Os fundamentos dessa terceira recomendação são óbvios. Se a
negociação visa a buscar uma solução aceitável para a crise, atenuando-lhe a gravidade
e aparando as arestas entre os causadores do evento e as autoridades policiais, é
inteiramente ilógico o atendimento de uma exigência que somente vai contribuir para a
piora do problema, como é o caso da entrega de armas aos bandidos.
Um incidente recente, ocorrido em Betim, Minas Gerais, em 1990,
envolvendo a Policia Militar daquele Estado, bem demonstra o acerto desta
recomendação doutrinária.
Pressionada por uns bandidos que haviam escapado de um presídio
mediante a tomada de reféns, a PMMG concordou em lhes entregar um carro-forte e três
submetralhadoras por eles exigidas. Como resultado desse destino, todo o Brasil assistiu,
pela televisão, os bandidos receberem as referidas armas e as experimentarem numa rua,
em pleno centro da cidade, dando rajadas para o ar.
Pode-se plenamente imaginar o risco e a responsabilidade assumidos
pelos tomadores de decisão da PMMG, ao permitir a entrega daquelas armas aos
56
bandidos, contribuindo, destarte, para o aumento da letalidade do evento.
Aquelas mesmas armas, que mais tarde foram utilizadas dentro do
carro-forte para matar dois policiais militares que tinham sido trocados por reféns (outro
erro grave de gerenciamento cometido pela PMMG), poderiam perfeitamente, num gesto
treslouco dos malfeitores, ter sido utilizadas para metralhar os transeuntes no centro de
Betim, na ocasião em que eram testadas. ????
E se isso houvesse ocorrido? Como ficaria a PMMG perante a
população, ao ser verificado que as armas utilizadas para ferir e matar pessoas inocentes
haviam sido fornecidas por aquela corporação, como resultado de uma noção equivocada
de negociação?
Portanto, é mais do que procedente essa terceira recomendação
doutrinária. Se os bandidos tiverem que matar inocentes, que os mate com as armas de
que dispuserem, nunca com armas que lhes tenham sido fornecidas pela polícia.
Além dessas três recomendações, a doutrina de gerenciamento de
crises ensina algumas táticas de negociação, que consistem em regras básicas
destinadas a orientar o negociador em sua missão, otimizando os resultados a serem
obtidos.
DWAYNE FUSELIER e GARY NOESNER apontam quinze regras
básicas que devem ser observadas por todo negociador. 11
Essas regras básicas, de caráter eminentemente empírico e
tradicionalmente observado pelas principais organizações policiais do mundo no
desempenho de missões de negociação, são as seguintes:
11
G. DWAYNE FUSEIER & GARY W. NOESNER, Confronting the terrorist hostage taker, FBI Law
Enforcement Bulletin. Washington, FBI, v. 59, n.9, July 1990, p.6-11
57
3 – Procure ganhar tempo
58
negociador poderá fazer com que os causadores da crise acreditem ter mais poder em
mãos do que realmente têm. Nessas condições, a palavra reféns deve ser considerada
como um tabu, e ao se referir àquelas pessoas, nas conversações com os bandidos, o
negociador deve utilizar expressões eufêmicas, como “às pessoas que estão com você”,
“os funcionários do banco”, ” os homens e mulheres que estão ai”, etc.
59
decidirão.
Essa tática demonstrará a boa vontade do negociador, que poderá até
ser visto pelos bandidos como seu intercessor junto às demais autoridades.
60
A negociação, como integrante do processo de gerenciamento de crise,
é assunto policial, não sendo recomendável à interferência de terceiros, como se viu no
Capítulo IV.
Exceções a esta regra serão estudadas no final deste Capítulo.
É um risco que deve ser evitado, pois além de não trazer nenhum
benefício prático à negociação expõe o negociador (que durante os contatos com os
causadores da crise deve sempre estar desarmado) a ser atacado de surpresa e passar
também à condição de refém.
12
BOLZ JUNIOR, FRANK A, How to be a hostage and live. Secaucus, New Jersey: Lyle Stuart inc. 1987, p.73
61
tornou psicólogo clínico.13
Tal denominação decorreu, segundo FRANK BOLZ, de uma crise
ocorrida em Estocolmo, na Suécia.14
Um elemento armado entrou no Banco de Crédito de Estocolmo e
tentou praticar um roubo. Com a chegada da polícia, o assaltante tomou três mulheres e
um homem como reféns e entrou com eles na caixa-forte do Banco exigindo da polícia
que trouxesse ao local um seu antigo cúmplice, que se encontrava na prisão.
Atendido nessa exigência, o assaltante e o seu companheiro
mantiveram os reféns em seu poder durante seis dias, no interior da caixa-forte, tendo ao
final desse tempo se entregado sem resistência.
Ao saírem da caixa-forte, os quatro reféns usaram seus próprios corpos
como escudos para proteger os dois bandidos de qualquer tiro da polícia, ao mesmo
tempo em que pediram aos policiais para não atirarem.
Mais tarde, ao ser entrevistada pela mídia, uma das jovens que
estivera como refém expressou sentimentos de muita simpatia para com um dos
bandidos, chegando a dizer que esperaria até o dia que ele saísse da cadeia para se
casarem. Muitas pessoas ficaram chocadas ao ouvirem isso, chegando mesmo a
imaginar que tivesse havido algum envolvimento sexual entre aquela moça e o bandido,
durante o tempo em que ficaram confinados no interior da caixa-forte.
Mas na verdade, não ocorrera nenhum contato sexual ou
relacionamento amoroso. Muito pelo contrário. Por várias vezes, durante a crise, o
bandido exibira a referida moça, com uma arma sob o queixo, aos policiais. Soube-se
também que, a certa altura, ao desconfiarem que a polícia pretendia jogar gás
lacrimogêneo no interior da caixa-forte, os bandidos amarraram os pescoços dos reféns
aos puxadores das gavetas de aço dos cofres ali existentes. Com isso pretendiam eles
responsabilizar o polícia por algum virtual enforcamento dos reféns, causado pelo pânico
que adviria com o lançamento do gás no interior da caixa-forte.
Apesar de todas essas ações violentas, a jovem desenvolveu
sentimentos de profunda amizade para com um dos bandidos, fato esse que até mesmo
ela considerou inexplicável.
Havia, portanto, outras razões que motivaram aquele inesperado
sentimento de amor e simpatia da jovem para com o seu ex-algoz.
Com a repetição desses fenômenos em vários outros casos
semelhantes, os estudiosos do assunto chegaram à conclusão de que a “Síndrome de
Estocolmo” era uma perturbação de ordem psicológica, paralela à chamada
“transferência” que é o tempo que a Psicologia usa para se referir ao relacionamento que
se desenvolve entre um paciente e o psiquiatra, e que permite que a terapia tenha
sucesso. O paciente precisa acreditar que o médico pode ajudá-lo a fim de que o
tratamento tenha bom êxito, e como resultado desse esforço, o paciente desenvolve o
13
Ibid., p. 74
14
) Ibid., Ibidem
62
fenômeno da “transferência”.
As pessoas, quando estão vivendo momentos cruciais, costumam se
apegar a qualquer coisa que lhes indiquem a saída, e é exatamente isso que ocorre com
os reféns e os bandidos.
Por ocasião de um evento crítico, tanto uns como outros estão sob
forte tensão emocional.
Por essa razão, os reféns passam conscientemente a desejar que tudo
dê certo para os bandidos, isto é, que eles consigam o dinheiro do resgate, que lhes
sejam satisfeitas todas as exigências e que, afinal, possam fugir em paz, deixando os
reféns com vida.
Nesse processo mental, os reféns passam a considerar como
totalmente indesejável toda e qualquer intervenção policial e, freqüentemente, os próprios
valores sedimentados ao longo da vida costumam ser questionados e até mudados por
essas pessoas.
Dessa ânsia desesperada pelo bom sucesso dos bandidos para a
simpatia, a admiração, e até mesmo o amor ou o bem-querer, é um passo.
A expressão “Síndrome de Estocolmo” já é hodiernamente
consagrada, tendo sido inclusive incluída em alguns dicionários, como é o caso do
americano “MICHAELIS”, edição 1996, e do “DICCIONARIO DIDÁCTICO DE ESPAÑOL”,
da editora SM, de Madri, edição 1994.
Em 1987, durante um assalto à Agência do Banco BANESTADO, em
Londrina/PR, os assaltantes, com a chegada inopinada da polícia, fizeram como reféns
dezenas de pessoas que se encontravam no interior do Banco.
Ao final da crise, que durou quase três dias, os assaltantes lograram
fugir, levando consigo todo o produto do roubo.
Todos os reféns liberados sofreram os efeitos da “Síndrome de
Estocolmo” tendo feito muitos e muitos elogios aos assaltantes, descrevendo-os como
pessoas “muito simpáticas, educadas e inteligentes”.
Um Capitão da PM/PR, que juntamente com uma jovem foi levado
como refém durante a fuga, narrou-nos que, durante o trajeto da fuga, no interior do
veículo, a jovem pôs de lado toda a pudicícia e ofereceu-se a um dos bandidos, dizendo-
lhe que se apaixonara por ele e que gostaria de fazer amor consigo, ali ou em qualquer
lugar, pois temia que ele viesse a morrer e ela não pudesse realizar esse desejo.
Mais recentemente, em junho de 1991, a estudante carioca FLÁVIA DE
OLIVEIRA TEIXEIRA, foi seqüestrada, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Libertada
após três dias de cativeiro e mediante o pagamento de milhares de dólares como resgate,
ela apresentou sintomas bastante evidentes de que desenvolveu o fenômeno da
“Síndrome de Estocolmo”.
Segundo reportagem publicada numa revista de âmbito nacional, sob o
título “GAROTA CARIOCA SE APAIXONA POR SEUS SEQUESTRADORES”, a ex-refém
63
não estava revoltada pela violência que sofreu e, ao contrário, fez uma defesa apaixonada
de seus seqüestradores, que, segundo ela, eram “gente de bom coração, fruto de uma
sociedade gananciosa”.
A referida jovem, segundo a reportagem, desenvolveu até uma
especial relação de carinho com um dos seqüestradores, de nome JORGE, que, como ela
própria narra, ficou apaixonado e chegou a se deitar ao seu lado, no tapete, e lhe
acariciou os seus cabelos, durante o cativeiro.
Segundo ela, foi também esse seqüestrador que lhe deu um anel de
prata, que ela agora usa na mão direita e não pretende mais tirar.
Essa síndrome não atinge apenas os reféns.
Também os causadores do evento crítico, pelo fato de serem seres
humanos vivendo um momento crucial, estão sujeitos aos seus efeitos.
Para os bandidos, os reféns são a sua tábua de salvação, o seu
passaporte para a liberdade e o grande anteparo que os protege das balas da polícia.
Nessas condições, é inevitável que os bandidos passem a desenvolver sentimentos de
proteção, de cuidado, e até de amor e carinho, para com os reféns.
Como resultado disso, os reféns passam a gozar de uma proteção
psicológica cuja principal conseqüência é o não-cumprimento de prazos fatias por parte
dos bandidos. Instalada a síndrome, é quase impossível que algum dos reféns a ser
executado simplesmente porque as autoridades não estão atendendo essa ou aquela
exigência.
E a partir de que instante se instala a “Síndrome de Estocolmo?”
A experiência tem demonstrado que o fenômeno leva de 15 a 45
minutos para começar a se manifestar, tendendo a crescer e a se sedimentar num
determinado patamar, logo nas primeiras horas de evolução.
Esse lapso de 15 a 45 minutos iniciais decorre do fato de que é esse o
tempo que os causadores da crise levam para conseguir obter o total controle da situação
no interior do ponto crítico, dominando todos os reféns, posicionando-os da forma mais
conveniente e neutralizando possíveis reações ou resistências por parte de alguém mais
afoito ou desesperado.
A “Síndrome de Estocolmo” é uma constante em toda e qualquer
crise, embora apresente graus de intensidade que variam de caso a caso, a depender dos
seguintes fatores:
64
c) Condicionamento mental das pessoas. Quem adredemente se
condiciona a não desenvolver a síndrome, geralmente obtém Êxito
nisso.
d) A proximidade física entre as pessoas. Quanto mais exíguo for o
ambiente, melhor desenvolve o fenômeno.
65
Resultado: ao se religarem os telefones, retomando-se os contatos com os bandidos,
observou-se que eles ficaram apavorados com a interrupção, tornando-se mais mansos e
maleáveis a partir de então.
Essa necessidade de continuidade das negociações – imperiosa tanto
para as autoridades como para os bandidos – faz com que determinadas cautelas sejam
tomadas, quando for preciso realizar a substituição do negociador. A substituição do
negociador, seja por motivo de cansaço, de incompatibilidade, ou qualquer outro, deve ser
cercada de muita habilidade, dando-se disso clara ciência aos bandidos, podendo ser
alegados problemas de saúde, sono, doença ou qualquer outro havido com o negociador.
Essa troca será bem menos traumática se, desde o início da
negociação, o negociador e seu substituto atuarem conjuntamente nos contatos com os
bandidos. Isso, com certeza, dispensará maiores cautelas na hora da substituição, além
de proporcionar uma continuidade do fluxo de informações, o que não ocorreria tão
naturalmente, se a função de negociador fosse assumida por um policial que “pegou o
bonde andando”.
Não deve o comandante da cena de ação nunca esquecer que, quando
as negociações estão fluindo sem maiores obstáculos, isso é um bom sinal de que os
causadores do evento crítico estão contraindo os efeitos da “Síndrome de Estocolmo”
com relação aos negociadores, condição essa que pode ser prejudicada com uma troca
abrupta de negociador.
Por outro lado, há também indicadores que denotam situações de alto
risco para as vidas dos reféns e que não devem ser olvidados pelo comandante da cena
de ação.
Segundo DENIS W. BRAIDEN, supervisor do “Critical Incident
Response Group” (CIRG), do FBI, esses indicadores de alto risco são os seguintes: 15
67
esclarecimento explícito de duas condições aos familiares: em primeiro lugar, que a
polícia se manterá afastada somente enquanto durar o cativeiro do ente seqüestrado, e, o
segundo lugar, que a polícia põe à disposição da família todos os seus recursos para
viabilizar o bom êxito da crise, orientando os negociadores não-policiais, para evitar que
eles sejam vítimas de golpes de espertalhões (que se aproveitam do evento para se
passarem pelos seqüestradores e abocanharem o resgate), e preparando o terreno para
que uma possível entrega do resgate ocorra sem incidente (que podem ser causados
involuntariamente pela própria polícia, se estiver completamente desinformada sobre o
assunto).16
Essa assessoria da polícia aos negociadores não-policiais, em casos
dessa natureza, é indispensável, sendo também uma boa estratégia para desmascarar
seqüestros forjados por ricaços inescrupulosos, que simulam tais situações com o objetivo
de sanearem as suas finanças, uma prática hedionda, que, infelizmente, tem começado a
se difundir no Brasil.
16
A propósito da ocorrência de incidentes havidos por ocasião da entrega do resgate, veja-se o filme “A MAIS
LONGA DAS NOITES”, que narra o caso de uma crise gerenciada pelo FBI, nos anos sessenta, quando uma jovem foi
seqüestrada e enterrada viva, dentro de um caixão que lhe garantia a sobrevivência por apenas sete dias. No momento
em que o pai procurava entregar o resgate, apareceu a polícia estadual no local e fez abortar rodo o processo. Os
bandidos, que inicialmente desconfiaram de que se tratava de uma cilada armada pelo pai da moça, somente voltaram a
fazer contato dois dias depois, prolongando assim o sofrimento da jovem, que finalmente veio a ser desenterrada, sã e
salva, após o pagamento do resgate, numa segunda ocasião. O FBI veio posteriormente prender os seqüestradores.
68
TEMAS PARA DISCUSÃO
69
9. Através de jornais e revistas (vá a uma biblioteca pública, se não os
tiver), faça um levantamento minucioso de todas as crises com
reféns ocorridas no Brasil nos anos de 1989 e 1990, verificando em
quantas delas houve morte de reféns por ação dos bandidos.
Analise os casos de morte porventura verificados, à luz da tese da
“Síndrome de Estocolmo”.
70
CAPÍTULO VIII
71
Team”), do FBI; do SAS da Inglaterra; do GSG – 9, da Alemanha; e do GEO, da
Espanha.
Outros, como é o caso do COT (Comando de Operações Táticas), do
DPF, do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Polícia Militar de São Paulo, do
TIGRE (Táticos Integrados de Grupos de Repressão Especial), da Polícia Civil do Paraná,
e do GER (Grupo Especial de Resgate), da Polícia Civil de São Paulo, ainda são
recentes, mas já gozam de prestígios e de um currículo de feitos respeitáveis. Uma
“SWAT” é integrada basicamente por dois componentes táticos: os franco-atiradores
(“snipers”), também chamados de atiradores de elite, e os atacantes (“assauters”), a
quem incumbe a missão de resgate propriamente dita.
Essa dicotomia, contudo, é meramente teórica, para fins de
planejamento operacional, porque, na prática, todo e qualquer integrante de um grupo
tático dessa natureza deve possuir aptidão tanto para atuar como franco-atirador como
para agir como atacante no chamado grupo de assalto.
Toda “SWAT” é comandado por um policial denominado chefe ou
comandante do grupo tático, o qual não deve ser confundido com o comandante da
cena de ação, de que tratamos especificamente, no Capítulo III.
72
voluntariamente e, ao passarem a integrar o grupo, deverão se submeter irrestritamente
aos seus princípios, sob pena de imediata e sumária exclusão.
A organização policial, por seu turno, necessita dar a esses homens
todo o apoio e assistência, tanto no caso de acidentes como no caso de distúrbios
emocionais ou psicológicos, pois, conforme será estudado no Capítulo X, toda ação tática
tem que ser realizada com rapidez, surpresa e agressividade, sob pena de fracassar e
causar perdas de vidas inocentes. Tal desempenho não pode vir a ser prejudicado por
policiais que se encontrem com problemas emocionais.
Ninguém assume perante uma organização o compromisso de matar
se constata a possibilidade de amanhã estar no banco dos réus, enfrentando um júri, por
haver cumprido o dever.
Há quem discuta, no Brasil, os fundamentos legais e doutrinários do
chamado compromisso de matar.
A indagação surgiu durante o “Curso de Aperfeiçoamento de
Magistrados” promovido pela associação dos Magistrados do Estado do Paraná, em
setembro de 1990, quando fomos convidados para proferir a palestra inaugural,
abordando o tema “Gerenciamento de Crises”.
Naquela oportunidade, um dos juizes presentes argumentou que,
embora entendesse que a ação da “SWAT” estivesse legalmente albergada pelo instituto
jurídico-penal da legítima defesa de terceiros, ele entendia que havia uma contradição na
doutrina de gerenciamento de crises, pois se esta tinha como objetivos básicos preservar
vidas e aplicar a lei (veja-se o Capítulo I), não via o magistrado como encontrar
justificativa, á luz daqueles dois objetivos, para o compromisso de matar, que era
assumido pelos integrantes do grupo tático.
A resposta que demos a referida indagação foi coerente com os
princípios doutrinários.
Dissemos, na ocasião, que é justamente porque a preservação da vida
é o primeiro e mais importante dos objetivos da doutrina de gerenciamento de crises que
ela admite o compromisso de matar. Ao decidir pelo uso de força letal, o comandante da
cena de ação tem que se basear em dois inarredáveis pré-requisitos: o esgotamento de
toda e qualquer possibilidade de negociação e o iminente risco de vida para os reféns
(geralmente configurado quando houver uma deliberada ação dos bandidos para ferir
gravemente ou executar algum dos reféns).
Ora, o grupo tático encarregado do resgate dos reféns ainda com vida
não se pode dar ao luxo de tentar simplesmente ferir (ainda que gravemente) os
bandidos, pois essa ação não seria suficiente para neutraliza-los e impedi-los de, um
gesto de ódio desesperado, matar os reféns, frustrando o objetivo da missão.
A única missão que elimina totalmente essa possibilidade é a
execução, pura e simples, dos bandidos.
Ao ingressar num ponto crítico para promoverem um resgate, os
73
homens do grupo tático estão treinados e condicionados a matar os bandidos e libertar os
reféns incólumes. Se porventura algum bandido lograr escapar com vida é porque a
missão não foi cumprida com perfeição.
E, ao final do evento, não se pode deixar de admitir que o objetivo de
preservar vidas foi atingido. Que o digam os reféns resgatados!
Após essas nossas ponderações, um outro magistrado presente ao
encontro aparteou, argumentando que a idéia de preservação de vidas, de acordo com a
própria doutrina, inclui também a vida dos bandidos, podendo acontecer que estes, ao
virem o ataque do grupo tático, resolvessem, num instante supremo, depor armas e se
entregar. A existência do compromisso de matar tornaria esse gesto de arrependimento
inteiramente ineficaz, o que, segundo o juiz, contrariava o princípio doutrinário da
preservação da vida.
A essa pertinente indagação, respondemos que os integrantes dos
grupos táticos são treinados e condicionados a atirar para matar, mas que esse
condicionamento também engloba o ato de não atirar, quando houver uma inequívoca
situação de rendição. Pode haver erros, não há dúvida nenhuma disso, mas esses erros –
que geralmente resultam na morte do bandido que no último instante queria se render –
ficam configurados como erros escusáveis ou invencíveis, reconhecidos como
excludentes da punibilidade, dentro das chamadas descriminantes putativas, pelo
Direito Penal Brasileiro.
Os causadores do evento crítico, de acordo com a doutrina de
gerenciamento de crises, tiveram a sua oportunidade de negociar, de depor armas e de
buscar uma saída honrosa e segura para o problema que eles próprios criaram. Extintas
as negociações por ato unilateral deles, e começadas inequívocas ações contra as vidas
dos reféns, não se pode esperar que um policial condicionado a atirar para matar vá
interpretar um gesto desesperado de rendição como autêntico. Se isso acontecer, tudo
bem – a vida do bandido será preservada – mas, no caso contrário, não há por que a
polícia e a justiça ficarem chorando o leite derramado (que não era, afinal de contas, de
tão boa qualidade).
Sendo os grupos táticos especiais dotados de tão delicados encargos,
e sujeitos aos riscos decorrentes dessa condição, impõe-se como inafastável princípio
moral que eles sejam dotados de regidos fundamentos éticos.
Os fundamentos éticos dos grupos táticos (“SWATs”) são os
seguintes:
1. a responsabilidade coletiva
2. a fidelidade aos objetivos doutrinários;
3. o voluntariado;
4. o dever de silêncio.
74
A responsabilidade coletiva implica em que todos os integrantes do
grupo são responsáveis solidariamente pelos atos praticados durante uma ação tática.
Nessas condições, a responsabilidade de cada um dilui-se por todo o
grupo. Para implementar esse princípio, todo grupo tático possui um uniforme (geralmente
negro), cujo uso é obrigatório durante qualquer missão. Além do uniforme, cada integrante
do grupo utiliza uma espécie e máscara denominada balaclava17, feita de tecido e que
oculta, como um capuz, toda a cabeça do policial, com exceção dos olhos.
Tal vestimenta praticamente torna impossível identificar qualquer um
dos policiais, principalmente se se levar em consideração que todos possuem praticamente
a mesma altura e o mesmo biótipo.
Nessas condições, se algum erro for cometido, nem mesmo os
companheiros de ação serão capazes de identificar o responsável.
Cabe aqui lembrar um caso recente de erro policial ocorrido em 1989,
em que, pela inobservância dessa elementar cautela, um atirador de elite do grupo tático
especial da Polícia Militar de São Paulo está sendo levado ao banco dos réus.
Durante uma crise ocorrida na capital paulista, um casal de bandidos
mantinha como refém os membros de uma família.
A certa altura, o bandido veio até a janela, com uma moça contra quem
ele apontava um revólver.
Um cabo da PM/SP, integrantes do referido grupo tático, que se
encontrava cercando o ponto crítico, deu um tiro de carabina que simultaneamente matou o
bandido e a refém.
Sem se entrar em considerações sobre se o tiro foi dado em virtude de
ordem recebida ou por auto-deliberação daquele cabo, e sem também se discutir se tal
decisão atendia ou não aos critérios de ação preconizados pela doutrina, cumpre apenas
aqui constatar, por ser oportuno, que o policial, ao disparar o malfadado tiro, tinha
erradamente o rosto descoberto e estava diante das câmaras de televisão, de modo que
todo o país assistiu estarrecido àquele seu ato infeliz e, como resultado de sua clara
identificação, está ele hoje respondendo a um processo que poderá lhe custar o emprego
e a liberdade.
O segundo fundamento ético é a fidelidade aos princípios
doutrinários.
Isso significa que um grupo tático especial somente deve ser
empregado dentro da mais estrita e rigorosa observância dos princípios doutrinários do
gerenciamento de crises.
Essa recomendação é válida também para os altos executivos da
17
Trata-se de um neologismo. Essa palavra é registrada com a acepção acima descrita no dicionário americano
WEBSTER, onde consta que tem origem russa, em razão do topônimo Balaclava, cidade onde se travou uma batalha,
durante a Guerra da Criméia, no século passado. Sobre o emprego específico desse tempo para designar a vestimenta
policial acima descrita, veja-se THOMPSON LEROY, European antiterrorist units. Boulder, CO, EUA, Paladim,
1985,p.82.
75
polícia. Eles não devem por qualquer dá-cá-essa-palha, acionar o grupo tático.
“SWAT” não existe para fazer “blitz” policial. “SWAT” não existe para
efetuar prisões de delinqüentes, ainda que perigosos. “SWAT” não existe para dar
demonstrações de força policial, nem para fazer segurança de dignitários. A finalidade
precípua de uma “SWAT” é agir em situações de crise, quando existe perigo de vidas de
pessoas na condição de reféns.
Utiliza-la em outros eventos, ainda que arriscados e perigosos, é
desvirtuar a finalidade doutrinária do grupo e transformá-lo num autêntico esquadrão de
extermínio, o que é ilegal.
O terceiro fundamento ético é o voluntariado.
Vimos anteriormente que o voluntariado é a forma de recrutamento dos
integrantes de um grupo tático especial.
O voluntariado é também erigido à condição de um fundamento ético, o
que significa que nenhum policial poderá ser coagido ou induzido a permanecer no grupo.
Não importa o quanto a organização policial tenha investido no seu treinamento, se ele
quiser ser desligado, não se o deve impedir.
O último fundamento ético é o dever de silêncio.
Esse dever de silencia é corolário do princípio da responsabilidade
coletiva.
Ainda que observem erros graves dos seus pares durante as
operações, o integrante de um grupo tático especial não os deve divulgar nem revelar.
A doutrina, dentro do princípio da lealdade, faculta-lhe o direito-dever
de discutir e discordar dos erros cometidos, criticando-os durante os freqüentes “briefings”
e reuniões do grupo, exigindo correção de rumo, mas veda-lhe qualquer direito de
divulgação sob pena de exclusão.
Antes de encerrar este Capítulo, é de bom alvitre tecer algumas
considerações sobre o Comando de Operações Táticas (COT), que é a “SWAT” do DPF.
O COT surgiu graças ao pioneirismo e à visão prospectiva de um
ilustre policial, deste Departamento o Delegado RAIMUNDO CARDOSO DA COSTA
MARIZ, hoje aposentado.
No dia 13 de março de 1987, através de Ordem de Serviço nº
001/G/CCP, o referido delegado, então ocupando a função de Coordenador Central
Policial, resolveu criar o COT, com o objetivo de atuar em eventos críticos cujo
gerenciamento competisse ao DPF.
O começo foi árduo e desprovido de recursos, tendo o próprio
delegado MARIZ se encarregado do treinamento dos poucos voluntários que se
ofereceram para participar daquela pioneira empreitada.
76
No ano seguinte, através da Instrução Normativa nº 08/88, do Diretor-
Geral do DPF, Delegado ROMEU TUMA, A Polícia Federal passou a ter a
responsabilidade de assumir o comando das operações policiais, até solução final, nos
casos de apoderamento ilícito de aeronaves, amoldando-se assim ao rol de competências
que lhe foram conferidas pela nova Constituição Federal.
Entre 1988 e 1989, o COT, com os insuficientes recursos de que ainda
dispunha, mas movido pela abnegação e pela força de vontade dos seus integrantes,
realizou várias missões de resgate de aeronaves sob apoderamento, obtendo grande
sucesso, o que veio a consolidar não somente o seu prestígio, mas também a decisão
política de mantê-lo como um órgão permanente, integrante da estrutura do DPF.
Finalmente, ao tomar posse o novo Presidente da República, no dia 15
de novembro de 1990, foi editado o Decreto nº 99.180/90, que reestruturou os órgãos da
administração pública federal e fez incluir o COT na estrutura orgânica do Departamento
de Polícia Federal.
Hoje, o COT cresceu em importância e prestígio, tanto no Brasil como
no estrangeiro.
Conta com instalações, armas e equipamentos que não deixam nada a
dever aos das “SWATs” de algumas policiais norte-americanas, que tivemos o anseio de
visitar.
Adota a concepção tática de doze homens, sendo chefiado por um
delegado de polícia federal e integrados, agentes e escrivães.
Assim, das categorias funcionais existentes no DPF, somente as de
censores, peritos e a de papiloscopistas não possuem representantes no COT, embora o
Censor Federal ANGELO DE OLIVEIRA SALIGNAC tenha sido um dos fundadores
daquele grupo tático e participado de muitas de suas missões..
Seus integrantes, sempre recrutados na base do voluntariado, da
conduta profissional ilibada e do potencial individual para execução de tarefas de riscos,
são treinados e aprestados dentro do “realistic training” preconizado pela doutrina
moderna e “aprendem a desenvolver uma total confiança nas suas armas e habilidades”,
para usar as palavras do Major JOHN PLASTER, Diretor de Instrução da Escola de
Franco-atiradores da Guarda Nacional de Minnesota, EUA. 18
Esses padrões de treinamento e de desempenho do COT garantem à
Polícia Federal uma considerável segurança no trato com situações de crise.
18
PLASTER, JOHN, “Police Sniper Training”, FBI Law Bulletin, Washington, FBI, v. 59, n.9, Sep 1990, p.1-6.
77
TEMAS PARA DISCUSSÃO
78
CAPÍTULO IX
79
que, na hora do tiro fatal, o atirador de elite dialogou com um repórter, manifestando o seu
propósito de atirar, e uma câmara de televisão filmou o ponto de visada e o ângulo de tiro
da carabina. Isso foi um autêntico sacrilégio.
Seria “mutatis mutandis”, o mesmo que admitir, numa sala de cirurgia
onde se realiza uma arriscada intervenção cirúrgica, a presença de um bando de
jornalista e repórteres de televisão sem qualquer assepsia ou preparo prévio. E tal
imprudência, infelizmente, deu no que deu...
Os perímetros táticos são dois: o interno e o externo.
O perímetro tático interno é um cordão de isolamento que circunda
no ponto crítico, formando o que se denomina de zona estéril. No seu interior, somente
devem permanecer os bandidos, os reféns (se houver) e os policiais especialmente
designados. E ninguém mais.
Até mesmo aqueles policiais curiosos, que sempre aparecem nos
locais de crises para prestarem alguma colaboração ou por simples curiosidade, devem
ser sumariamente expulsos da zona estéril.
Esse perímetro interno deve ser patrulhado por policiais uniformizados,
que tenham, de preferência um temperamento alerta e agressivo, para afugentar os
intrusos. É bom lembrar que es patrulhamento não deve ser feito pela “SWAT”, cuja
missão na crise é bem outra, já estudada no Capítulo anterior.
O perímetro tático externo é destinado a formar uma zona tampão
entre o perímetro interno e o público. Nele ficam instalados o posto de comando (PC) do
comandante da cena de ação e o posto de comando tático (PC), do comandante do
grupo tático especial (“SWAT”).
No interior desse perímetro, admitem-se o trânsito e a permanência de
policiais que não estejam diretamente envolvidos com o gerenciamento do evento crítico,
pessoal médico, pessoal de apoio operacional (corpo de bombeiros, peritos criminais,
motoristas de ambulâncias, etc) e a mídia (quando da realização de “briefings” ou
entrevistas).
O patrulhamento desse perímetro deve também ser confiado a policiais
uniformizados, mas já não se faz necessário que sejam do tipo agressivo, bastante
apenas que sejam suficientemente alerta para não permitir o ingresso de pessoas não-
autorizadas na zona tampão.
Os dois perímetros são imprescindíveis.
Entretanto, importar lembrar que o seu tamanho, forma e abrangência
vão variar de caso a caso, a critério do comandante da cena de ação, sendo uma função
cuja principal variável é o ponto crítico.
Evidentemente, a conformação e a abrangência dos perímetros táticos
vão depender da natureza, da localização e do grau de risco do ponto crítico.
Nessas condições, é de se esperar que o isolamento de uma agência
bancária onde se desenrola um assalto não terá as mesmas características e o mesmo
80
grau de dificuldade, se essa agência bancária estiver localizada numa cidadezinha do
interior ou em plena Avenida Paulista, na capital de São Paulo.
O mesmo se diga de um apoderamento ilícito de uma aeronave, se tal
evento ocorreu num aeroporto internacional, das dimensões do Aeroporto do Galeão ou
de Guarulhos, ou se tem lugar num aeroporto de uma pequena capital do Nordeste.
Contudo, uma coisa deve ser sempre lembrada: não importam quais os
óbices ou dificuldades, o isolamento do ponto crítico deve ser realizado – a todo custo –
sob pena de comprometer o êxito da missão de gerenciamento da crise.
Uma regra valiosa não deve ser esquecida ao se estabelecer o
contorno dos perímetros táticos: quanto mais amplos forem os perímetros, mais contorno
se torna a sua manutenção, por exigir um maior número de policiais e causar mais
transtornos na rotina das pessoas que vivem nas proximidades do ponto crítico, ou dele
se utilizam.
São tantos os problemas que ocorrem nesses perímetros
(especialmente no perímetro tático externo), que o comandante da cena de ação ao
defini-los, deve encarregar um auxiliar para especificamente resolver os que porventura
sujam. O isolamento do ponto crítico não deve se limitar apenas ao estabelecimento dos
perímetros táticos.
De nada adiantará a implantação de perímetros táticos, se os
causadores do evento crítico continuarem a dispor de telefones e outros equipamentos
com que possam, a qualquer momento, se comunicar com o mundo exterior.
Dentro dessa ordem de idéias, uma das primeiras preocupações do
comandante da cena de ação, nas suas tarefas preliminares de isolamento do ponto
crítico, deve ser a de cortar a comunicação dos bandidos com o mundo exterior. A
colaboração da companhia telefônica da localidade é providencial, nesses casos.
Não somente os telefones aptos a ligações externas devem ser
cortados. Também os equipamentos de telex e até rádios e televisores devem ser
inutilizados, por meio de um oportuno corte da energia elétrica.
No caso da crise da Penitenciária Central do Estado do Paraná, em
1989, a existência de um televisor em funcionamento no interior do ponto crítico levou os
responsáveis pelo gerenciamento da crise a uma situação bastante embaraçosa perante
os bandidos.
No exato momento em que o Juiz das Execuções Penais procurava
ganhar tempo, alegando para os bandidos que o Secretário de Segurança Pública do
Estado não havia autorizado a entrega de um carro-forte exigido por eles, o chefe deles
respondeu: - “Que conversa fiada é essa, Doutor, nós acabamos de ver, no noticiário
da televisão, o Secretário de Segurança dizer que já tinha autorizado e entregue o
carro-forte”.
É importante observar que o erro de gerenciamento havido nesse caso
não se limitou apenas à existência de televisor ligado, no interior do ponto crítico. Errou
81
também sua Excelência, o Secretário de Segurança Pública, ao revelar à mídia uma
decisão sem antes consultar o comandante da cena de ação sobre a conveniência
daquela revelação.
“Mutatis mutandis”, foi o mesmo erro que cometeu a PM/MG, no caso
da crise de Betim, estudada no Capítulo VII.
Naquela oportunidade, cometeram a estultice de revelar à mídia que a
polícia estava implantando um equipamento de escuta sofisticado sobre o telhado da
casa, onde, ao final da crise, os bandidos se refugiaram.
Resultado: através de um rádio portátil, os bandidos ficaram sabendo
do fato e passaram a se comunicar entre si em voz baixa e usando a incompreensível
gíria que era utilizada no presídio de onde haviam fugido, neutralizando assim a tática da
polícia.
Discute-se se o fornecimento de energia elétrica ao ponto crítico deve
ou não ser interrompido, mormente quando se sabe da existência de rádios e televisores
naquele local.
Há quem argumenta que a existência de um televisor em
funcionamento no interior do ponto crítico serve para relaxar as tensões emocionais, tanto
dos reféns quanto dos bandidos, mantendo estes últimos menos alerta quanto ao fator
tempo, que a televisão ajuda a passar. Além do mais, entendem os defensores desse
ponto de vista que a desativação do televisor, pelo fato de somente ser conseguida pelo
corte do fornecimento de energia elétrica, pode trazer perigo para os reféns,
principalmente à noite, quando o ponto crítico ficar às escuras. Isso sem falar nas
dificuldades e riscos a serem enfrentadas pela “SWAT”, para ingressar no interior daquele
local onde a visibilidade está prejudicada.
Os que defendem o corte da energia elétrica entendem que os riscos
advindos dessa medida compensam os benefícios, pois além de evitar o uso de aparelhos
que possam ensejar um contato dos bandidos com o mundo externo, colocam-nos (e
também os reféns, é claro) numa situação de inferioridade e desconforto, que pode ser
um fator decisivo para abreviar uma solução da crise.
Além do mais, o comandante da cena de ação poderá, sempre que
julgar necessário, retomar o fornecimento de energia elétrica.
De qualquer forma, a discussão ainda permanece, sendo aconselhável
que o comandante da cena de ação, no seu encargo de isolar o ponto crítico, adote a
solução mais adequada à situação.
O que de fundamental deve ser feito para evitar que os bandidos
saibam o que se passa fora do ponto crítico é estabelecer uma linha de conduta correta
no trato com a mídia, centralizando o fornecimento de informações e procedendo a uma
seleção criteriosa de tudo aquilo que deve ser liberado para os órgãos de notícia e para
os profissionais de informação.
82
TEMAS PARA DISCUSSÃO
83
CAPÍTULO X
Essa ação tática deve ser realizada por policiais que sejam eficientes
nas habilidades de:
a) penetrar rápida e completamente;
b) mover-se rapidamente; e
c) atirar com rapidez e precisão.
84
Nessas condições, o comandante da cena de ação juntamente com o
comandante da “SWAT” decidirão, por exemplo, se o ataque será tipo espalhado ou
múltiplo, ou do tipo dinâmico.
O ataque espalhado ou múltiplo é aquele em que os policiais atacantes
entram no ponto crítico através de diversos locais (portas, janelas, teto, geladeiras, etc).
O ataque dinâmico é aquele em que os policiais ingressam no ponto
crítico através de uma única entrada. Geralmente essa situação ocorre naqueles pontos
críticos onde existe apenas uma entrada ou local de acesso.
O comandante da cena de ação e o comandante da “SWAT” deverão
também decidir qual a opção tática a ser utilizada.
A seguir serão indicadas as principais opções táticas com a
apresentação das suas respectivas vantagens e desvantagens.
VANTAGENS
1. Os bandidos estão confinados;
2. As negociações são geralmente viáveis;
3. Permite concentrar o aparelhamento da coleta de informações num
único alvo;
4. Facilita o controle do ponto crítico. Porquanto os parâmetros são
definidos.
5. O terreno e a situação podem permitir aos atacantes aproximarem-
se bastante do ponto crítico, aumentando o fator surpresa.
DESVANTAGENS:
1. As defesas preparadas dos bandidos aumentam o risco.
2. As vias normais de aproximação podem estar por eles bloqueadas.
3. Os atacantes geralmente estão ingressando num terreno que não
lhes é familiar.
4. Os bandidos estão familiarizados com o terreno.
85
quando os bandidos se deslocam do ponto onde se encontravam
protegidos e se dirigem, em campo aberto, para apanhar uma viatura
ou uma aeronave.
VANTAGENS:
1. Não é necessária nenhuma penetração.
2. Os grupos de franco-atiradores podem se posicionar e se esconder
adredemente.
3. Colocar os bandidos em terreno não-familiar.
4. Reduz a defensibilidade dos bandidos.
5. Explora e aproveita a capacidade de alcance de tiro dos franco-
atiradores.
6. Aumenta a concentração de fogo nos bandidos.
DESVANTAGENS:
1. Controle difícil. Requer cronometragem e coordenações precisas.
2. Depende da rádio-comunicação.
3. Risco de interferência do público ou da mídia.
4. Aplicável somente quando houver um número reduzido de bandidos.
5. Pode ser objeto de bisbilhotagem ou exploração pelo público e pela
mídia.
c. EMBOSCADA A VEÍCULO
DEFINIÇÃO: neutralização dos bandidos em trânsito através da
violenta obstrução, penetração e ataque do veículo que os conduz
juntamente com os reféns.
VANTAGENS:
1. Remove os bandidos de locais que lhe são familiares.
2. Possibilita oportunidade para otimização da escolha da rota e do
local da emboscada.
3. Reduz as possibilidades de defesa dos bandidos.
4. É a melhor maneira de reduzir a quantidade de reféns, porquanto os
bandidos não poderão levar uma grande quantidade de pessoas nos
veículos.
5. Pode ser desenvolvida em localidades remotas.
6. Permite uma grande quantidade de manobras diversionais e
deceptivas.
7. Explora a vantagem da surpresa.
8. Dificulta contra-ataques dos bandidos.
86
DESVANTAGENS:
1. É altamente dependente de uma boa rádio-comunicação, o que pode
ser um problema se a ação for deflagrada em locais muito distantes.
2. O controle pode ser difícil devido a súbitas mudanças de rota pelos
bandidos. O plano de emboscada deve ser, portanto simples e fácil de
ajustar.
3. Requer execução precisa.
VANTAGENS:
1. Excelente fator surpresa e de impacto, porque os
atacantes podem ter um contato rápido e direto com os bandidos.
2. Excelentes informações sobre o ponto crítico, antes
do ataque.
3. Possibilita uma ótima cronometragem do ataque.
4. Reduz a necessidade de uso de explosivos de efeito
moral.
DESVANTAGENS:
1.O equipamento de rádio não pode ser usado, dada a proximidade
dos bandidos, que poderão escuta-lo.
2. Fácil de ser detectado devido à proximidade dos bandidos,
requerendo a infiltração movimentos imperceptíveis por parte dos
policiais.
e. ATAQUE INTEGRADO
87
VANTAGENS:
1. Aproveita concomitantemente o poder de fogo dos franco-atiradores
e do grupo de ataque.
2. O uso de franco-atiradores tem excelente efeito diversivo.
3. Efeito de surpresa e de choque.
4. Explora rotinas adquiridas pelos bandidos.
DESVANTAGENS:
1. Se os franco-atiradores falharem, o efeito surpresa ficará
prejudicado;
2. Requer controle preciso, sincronia a execução arrojada por parte dos
franco-atiradores.
3. É difícil de controlar.
f. ASSALTO DE EMERGÊNCIA
VANTAGENS:
1. Elemento surpresa.
2. Reduz o tempo dos bandidos estabelecerem suas próprias defesas.
3. Possibilita uma imediata opção de força.
DESVANTAGENS:
1. Falta de planejamento deliberado.
2. Limitado a exercício de ensaio.
3. Limitado a análise das informações obtidas.
4. O tempo de preparação individual é mínimo.
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componentes de ordem política levam essa decisão aos gerentes da crise, que podem
estar entre os mais altos escalões da organização policial envolvida ou também do próprio
poder político do Estado ou do País.
É importante lembrar que a decisão de uso de força letal é irreversível.
Uma vez dada a ordem de ataque à “SWAT” e iniciado o ataque, este não mais tem
retorno. A “SWAT” executará sua missão num único e rápido movimento, que só terá
termo com a rendição ou morte de tordos os bandidos, podendo causar também baixas
entre os policiais atacantes e os reféns.
Por essas razões a doutrina de gerenciamento de crises recomenda
como prioridade absoluta a solução negociada dos eventos críticos, somente se utilizando
a força letal em último caso.
A solução do evento crítico através da negociação pode resultar numa
rendição dos bandidos ou numa resiliência das forças policiais, concordando com as
exigências feitas pelos primeiros.
Uma terceira saída seria a chamada transferência da crise, a qual
ocorre quando os bandidos e os reféns obtêm permissão para se deslocarem para um
outro Estado, onde a crise será gerenciada. Às vezes essa saída (que não chega a ser
uma solução) é recomendável, principalmente quando as condições de terreno e de
equipamento do organismo policial não permitem um gerenciamento eficiente da crise.
Essa opção é também uma ótima maneira de se ganhar tempo, possibilitando uma maior
segurança para os reféns através da evolução da chamada “Síndrome de Estocolmo”.
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TEMAS PARA DISCUSSAO
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CAPÍTULO XI
91
Por tudo isso, a Resolução assume um papel de suprema importância
no Gerenciamento de Crises, assegurando o bom êxito da solução escolhida.
Durante a Resolução, a figura do comandante da cena de ação
assume um papel de vital importância. É ele o maestro responsável pela harmônica
execução do ato final dessa complexa e trágica ópera que é a crise.
No Capítulo VI, quando se estudou especificamente a missão e as
responsabilidades do comandante da cena de ação, foram enumeradas algumas
atribuições desse policial na fase da Resolução. Tal enumeração, evidentemente, foi
meramente exemplificativa, objetivando dar ao leitor uma idéia do papel daquele
comandante nessa fase, eis que, a depender da complexidade da crise, tais atribuições
poderão ser mais ou menos numerosas e de uma natureza mais simples ou multiforme.
DONALD A. BASSET19 classifica as tarefas do comandante da cena de
ação nessa fase em oito grandes grupos, dentro dos quais inúmeras ações secundárias
poderem coexistir.
Dentro dessa classificação, aqui adaptada às contingências de
natureza legal da polícia brasileira, as ações do comandante da cena de ação durante a
Resolução estariam assim agrupadas.
- usar de cautela. A rendição tem que ser bem orquestrada para evitar
surpresas. Um movimento inesperado pode ser mal interpretado
tanto pelos policiais como pelos bandidos e resultar numa
catastrófica reação em cadeia.
- o plano especifico há de ser formulado, ensaiado e executado pelo
grupo tático.
F. AÇÕES DE DESMOBILIZAÇÃO
Essa avaliação deve ser realizada tão logo quanto possível, havendo
necessidade de que se proceda a uma severa autocrítica, por mais consagradora que
tenha sido a operação.
Não se deve esquecer que uma operação bem-sucedida não significa
necessariamente uma operação bem feita. A afloração e o indigitamento das falhas e
erros cometidos é muito mais proveitoso para a avaliação do que a fátua louvação dos
eventos.
A crítica deve ter uma característica balística, abrangendo o sistema,
os homens (individual e coletivamente), o equipamento e a própria doutrina do
Gerenciamento de Crises.
Não se deve esquecer que toda doutrina que não se renova e se
aprimora, tende a se ancilosar e perder a sua validade em face de natural evolução das
coisas.
94
H. RELATÓRIO PÓS-AÇÃO (OU RELATÓRIO DE MISSÃO)
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TEMAS PARA DISCUSSÃO
96
CAPÍTULO XII
MEDIDAS PREVENTIVAS
20
Op cit. Pág. 11/12.
97
6) EM HOTEIS: Tenha paciência e gaste dinheiro com gorjetas para o
mensageiro ou porteiro o acompanhe até o seu quarto, especialmente
em hotéis que não lhe sejam conhecidos.
98
APÊNDICE
ESTUDO DE CASO
99
relevância social de um deles (Dom Aloísio), e a idade e o estado de saúde do cardeal-
arcebispo. O fato de alguns dos bandidos estarem dispondo de armas de fogo também
influenciou na classificação.
NÍVEL DE RESPOSTA:
As autoridades cearenses responderam a essa crise com o mais alto nível
de resposta de que poderiam dispor, inclusive solicitando o emprego de recursos
exógenos (como é o caso do COT, da Polícia Federal, e de um grupo de policiais
especializados de São Paulo, chefiados pelo Delegado Flávio Dalmasso.
Nessas condições, pode-se afirmar que houve uma resposta de NIVEL
QUATRO, de acordo com a escala adotada pelo FBI.
ISOLAMENTO DA ÁREA:
Muito bom, tendo em vista que o ponto crítico se situava numa penitenciária.
CONTENÇÃO DA CRISE:
Muito ruim, pois os policiais que participaram inicialmente do evento
permitiram que bandidos lhe tomassem as armas de fogo, o que veio a contribuir para
aumentar o grau de risco da crise.
DURAÇÃO DA CRISE:
Aproximadamente 19(dezenove) horas, divididas em duas fases. A primeira
delas no interior da penitenciária, com duração de aproximadamente 13 (treze) horas, e a
segunda no interior do carro-forte utilizado na fuga, com uma duração de
aproximadamente 6(seis) horas. Os últimos reféns foram libertados exatamente às 5:15h
do dia 16mar94, no interior de um sítio localizado no município de Quixadá, a cerca de
250 km da Capital.
SOLUÇÃO ADOTADA:
100
O atendimento total das exigências dos bandidos, com a subseqüente
perseguição ao carro-forte em que eles fugiram com os reféns.
APRECIAÇÃO DO GERENCIAMENTO:
A mais perfunctória análise dessa crise leva a inevitável conclusão de que
ela foi em todas as suas etapas, muito mal gerenciada.
O seu desfecho, com a libertação de todos os reféns sãos e salvos, não
representa, por si só, uma vitória a ser comemorada pelos responsáveis pelo
gerenciamento desse evento. Muito embora a preservação da vida seja o princípio
fundamental da doutrina de gerenciamento de crises, não se pode daí deduzir que, em
nome desse princípio, se deva atender a todas as exigências dos bandidos (inclusive a
inadmissível entrega de armas) e, de resto, ficar se rezando para que eles soltem os
reféns incólumes e em paz.
A prevalecer tal ponto de vista (em cujo âmago não deixa de se vislumbrar
um certo comodismo), desnecessário se tornaria qualquer trabalho de gerenciamento na
eventualidade de eclosão de qualquer crise com tomada de reféns e, com isso, não mais
restaria às autoridades outra alternativa senão a de ceder sempre e em tudo, nessas
ocasiões. Ora, se esse entendimento laxista passasse a vigorar como regra geral, tornar-
se-ia inútil qualquer ação policial nesses eventos cruciais e a sociedade, como todo,
ficariam exposta à sanha dos marginais, que, animados pelo fenômeno do mimetismo,
passariam a ações cada vez mais ousadas, motivados pelo sucesso obtido em eventos
críticos anteriores.
Nessa ordem de idéias, corobora-se o entendimento de que é
indispensável a existência de um gerenciamento de crises com bases científicas.
Há que haver uma doutrina. Há que haver passos e rotinas a serem
seguidos pelas autoridades em situações dessa natureza, visando a assegurar aquilo
que, por consagrada definição, se denomina de “solução aceitável”.
A SOLUÇÃO PRECIPITADAMENTE DADA PELAS AUTORIDADES
CEARENSES NÃO PODE NEM DEVE SER CLASSIFICADA COMO ACEITÁVEL, pois a
vitória alcançados pelos bandidos, providos de tão parcos e artesanais recursos, servirá
certamente de modelo a ser limitado mimeticamente por outros bandidos em outras
penitenciárias.
A compreensível angústia das autoridades pelo fato de haver entre os
reféns uma personagem da proeminência de Dom ALOISIO LORSCHEIDER,cuja morte
naquela ocasião teria inevitáveis repercussões negativas para o pais, não justificaria o
açodamento com que foram e esquecidos os mais elementares princípios doutrinários de
gerenciamento de crises, processo científico cuja gênese não está nas fantasias de
alguns burocratas ou técnico de polícia , mas na experiência quase sempre cruenta ,
advinda dos casos semelhantes vivenciados por policiais do mundo inteiro, ao longo de
décadas.
101
Objetivamente analisada à luz da doutrina, a crise do Instituto Penal
Paula Sarasate evidenciou as seguintes falhas de gerenciamento:
a) A má atuação dos policiais que inicialmente tentaram debelar o evento
ocasionando ferimento e mortes, bem como a tomada de armas de fogo pelos bandidos;
b) O envolvimento direto da pessoa do Governador de Estado na
negociação. Sabe-se por princípio doutrinário, que as negociações devem ser sempre
conduzidas por pessoas especializadas. Por outro lado, mesmo que o governador fosse
dotado de especialização nesse mister, não poderia funcionar como negociador, porque
essa atividade é incompatível com pessoas que tenham poder de decisão. O negociador
deve sempre ser um intermediário entre as autoridades e os bandidos;
c) A utilização, a certa altura, da mãe de um dos bandidos como
intermediária nas negociações, fato esse que é tradicionalmente condenado pela doutrina,
por ser de efeitos incertos e quase sempre prejudiciais ao gerenciamento;
d) A total capitulação das autoridades perante os bandidos, inclusive com a
entrega das armas exigidas, o que, além de não solucionar a crise, aumentou o seu grau
de risco em detrimento da segurança dos reféns; e
e) A aparente falta de unidade de comando , com um envolvimento
exagerado de organismos policiais , levando a uma situação praticamente caótica, onde
não se percebia com nitidez quem estava encarregado de gerenciar o evento.Essa
situação torno-se particularmente evidente por ocasião da perseguição empreendida ao
carro-forte que levava os bandidos e os reféns ao longo da BR-116. As imagens colhidas
pela televisão deixaram entrever uma verdadeira procissão de aproximadamente
cinqüenta veículos policiais dos mais diversos tipos origens e finalidades, pertencentes às
mais diferentes organizações policiais, tendo ainda veículos da imprensa, rádio e
televisão de permeio, numa perseguição frenética e bizarra, cujo perigoso desfecho era
difícil de prever e, em tese, contraria frontalmente a decisão anterior de ceder
inteiramente ás exigências dos bandidos deixando-os fugir em paz, para que mais tarde
liberassem os reféns sãos e salvos.
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BIBLIOGRAFIA
BOLZ JÚNIOR ,FRANK ª How to be a Hostage and live. Lyle Stuart inc; Secaucus, New
Jersey, 1987, p. 47 e segs.
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