História Da Igreja de Santos-o-Velho

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História da Igreja

de Santos-o-Velho

António Celso Mangucci


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

APRESENTAÇÃO

NOTA

Quando inseridas no texto, as transcrições dos documentos recebem pontuação e ortografia actualizada. No
apêndice documental e nas notas respeitou-se a grafia original, desdobrando-se as abreviações.

ABREVIATURAS UTILIZADAS

AN/TT: Arquivos Nacionais - Torre do Tombo

AN/TT, AN: Arquivos Notariais

AN/TT, AP/CA: Arquivos Particulares - Casa de Abrantes

AN/TT, AP: Arquivos Paroquiais

AN/TT, CD, MSN: Conventos Diversos, Mosteiro de Santos-o-Novo

AN/TT, CR: Chancelarias Régias

ASV: Arquivo de Santos-o-Velho

ASV, ISS: Cartório da Irmandade do Santíssimo Sacramento

ASV, NSB: Cartório da Irmandade de Nossa Senhora da Bonança

ASV, NSCS: Cartório da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição e Saúde

ASV, NSP: Cartório da Irmandade do Santo Cristo e Nossa Senhora da Piedade

ASV, SM: Cartório da Irmandade dos Santos Mártires

ASV, SV: Cartório da Paróquia de Santos-o-Velho

António Celso Mangucci pg. 2


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Os primórdios de Santos: A legenda dos Santos Mártires

O célebre Osberno, cruzado que acompanhou D. Afonso Henriques na tomada de


Lisboa, é o primeiro cronista do lugar sagrado de Santos. Osberno, possivelmente um
religioso, menciona por duas vezes o martírio de Máxima, Veríssimo e Júlia na sua memorável
carta. Primeiro, numa pequena descrição de Lisboa, situando o templo arrasado em
“Compolit”:
“... Sob o domínio dos reis cristãos, antes que os mouros a tomassem, num lugar junto da cidade
e que se chama Campolide, venera-se a memória dos três mártires Veríssimo, Máxima e Júlia,
virgem, de cuja igreja totalmente arrasada somente três pedras como lembrança da sua
destruição, aos quais nunca dali puderam ser retiradas. A respeito delas dizem alguns que são
altares; outros porem afirmam que são pedras tumulares ...” (OLIVEIRA, 1936: 61).
O passado cristão de Lisboa, de que Santos é um marco capital, justificou o direito de
conquista das hostes comandadas por D. Afonso Henriques, como fica explícito numa segunda
passagem da carta, que reproduz as palavras que o arcebispo de Braga, D. João Peculiar,
dirige aos mouros que dominam a cidade:
“... Nesta mesma cidade é testemunha disto o sangue dos mártires Máxima, Veríssimo e Júlia
virgem, derramado pelo nome de Cristo, no tempo de Ageiano, governador Romano .... Há já
358 anos que injustamente tendes as nossas cidades e a posse das terras, havidas antes de vós
pelos cristãos ...”(IDEM: 73).
A legenda dos Santos Mártires conta-se em breves palavras. Nos finais do séc. III, a
perseguição aos cristãos recrudesce, mas os irmãos Veríssimo, Máxima e Júlia, preferiram
apresentar-se espontaneamente ao juiz romano, Daciano, e confessar a sua fé. Presos e
submetidos a inúmeros martírios, vilipendiados depois de mortos, encontram por fim, sepultura
piedosa junto a grande enseada, posteriormente conhecida como Santos. A celebração do
martírio, a 1º de Outubro, encontra-se confirmada pelo menos desde o séc. IX ( OLIVEIRA, 1950:
150-1).

Esse passado cristão, ou pelo menos a ocupação de Santos, confirma-se tanto pelo ábaco
visigótico encontrado durante as obras das capelas mortuárias e actualmente em depósito no
Museu Nacional de Arqueologia (ALMEIDA, 1966-67) e também no rigoroso estudo do espólio
osteológico do Convento de Santos-o-Novo, datável da primeira metade do séc. VI ( ANTUNES e
CUNHA, 1991: 29-30).

O Mosteiro das Comendadeiras de Santiago


A importância estratégica e simbólica desse local motivou a que logo após a reconquista
de Lisboa, em 1147, D. Afonso Henriques mandasse erigir um mosteiro, perpetuando a
memória dos Santos Mártires. Em 1194, ao fazer doação perpétua a Ordem de Santiago da
Espada, o rei D. Sancho I descreve a edificação desta casa, por seu pai, fazendo menção de
horta, vinhas, de uma fonte e também das salinas (CASTILHO, 1968: V, 8-9).
No início do séc. XIII os freires transferem-se sucessivamente para Alcácer do Sal,
Mértola e por fim Palmela, passando este mosteiro de Santos a destinar-se a suas viúvas e
António Celso Mangucci pg. 3
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

parentas próximas, que adoptam um regime de clausura. Consta que a sua primeira prelada,
eleita em 1233, foi D. Helena (SANTA MARIA, 1724) 1.
Essa fé e desvelo constante ficam glorificados num acontecimento de máxima
importância para o convento, quando a Comendadeira D. Sancha Martins, após uma
premonição, descobre o local exacto onde estavam enterrados os Santos Mártires.
Apesar de D. João II manter o patrocínio real que os seus antepassados devotaram a esta
casa religiosa, a sua decisão de construir um novo convento para as Comendadeiras, situado
no polo oposto da cidade, marca um momento de ruptura com a ocupação religiosa de Santos.
É assim que, a 5 de setembro de 1490, solene procissão treslada as relíquias dos Santos
Mártires para o novo convento mandado erigir por este monarca, que passou a ser conhecido
como Mosteiro de Santos-o-Novo (RESENDE, 1973: 148).
O antigo Mosteiro de Santos será então aforado por Fernão Lourenço, o abastado feitor
da Casa da Mina, que o transforma num magnífico palácio. A beleza das suas edificações e a
situação aprazível eram tais que despertaram a cobiça do rei D. Manuel. Depois de um acordo
com o feitor, recompensado com o senhorio de Gestaçô e Penajóia, o soberano afora o paço,
jardins e pomares de Santos, que permaneceram na posse da casa real, pelo prazo de três
vidas2.

1
Frei Agostinho de Santa Maria, na sua obra sobre o Mosteiro de Santos, além da rigorosa pesquisa de
fontes para a vida dos Santos Mártires, faz uma pequena resenha biográfica das suas mais importantes
comendadeiras.
2
As informações de Castilho (1968: V, 29-46) ficam mais completas com um provável relatório de D.
Francisco Luís de Lencastre, 3º Comendador-mor de Avis, enviado a Felipe II justificando o conflituoso
processo de aquisição do prazo de Santos (AN/TT, AP/CA, JUSTIFICAÇÃO..., s/d; ver Anexos). Confrontar
também a recente monografia sobre o Palácio de Santos de Hélder Carita (1995).
António Celso Mangucci pg. 4
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A FUNDAÇÃO DA PAROQUIAL DE SANTOS-O-VELHO

A segunda metade do séc. XVI trouxe grandes transformações a esta pequena igreja,
ainda como parte integrante do Paço Real de Santos, nos arrabaldes da cidade. Em 23 de
Junho de 1566, o Cardeal D. Henrique ordena sua erecção como sede de paróquia,
desmembrando o território da extensa Freguesia de Nossa Senhora dos Mártires, e nomeando
como cura o padre Salvador Contreras, que registou o acontecimento na folha de rosto do
primeiro livro de assentos da paróquia:
“Livro dos baptismos desta/ Igreja de Santos, nova/mente ungida por fre/guesia pelo Cardeal
In/fante, arcebispo desta ci/dade, nosso senhor, começou/ esta freguesia a servir/ véspera de São
João, desta/ era de 1566, de que eu Cura/ Salvador de Contreras” (AN/TT, AP, SV, MISTOS, 1566-
1570).3

A divisão da Paróquia dos Mártires acompanha a expansão da cidade de Lisboa, e da


enseada de Santos como porto da cidade, com seus serviços de construção e reparação naval,
suas tercenas para depósitos de mercadorias, e a consequente afluência de marinheiros e
comerciantes de países estrangeiros. Além das actividades agrícolas, com o tradicional cultivo
de oliveiras, uvas e cereais, laboravam no extenso território desta freguesia diversas unidades
industriais que produziam vidro, sabão, cal e cerâmica. Entre as unidades moageiras destacava-
se o moinho de maré de Alcântara, nos limites da jurisdição da paróquia.
Estas múltiplas actividades atraiam uma população heterogénea e numerosa 4, e torna
plausível a notícia avançada por Frei Apolinário da Conceição 5, da existência de um período
anterior de transição, com a Igreja de Santos-o-Velho desempenhando as funções da paróquia
de Nossa Senhora dos Mártires para a sua região.
No cumprimento de suas novas funções, o padre Salvador Contreras realiza, em 2 de
Julho desse ano, a primeira cerimónia de baptismo desta paroquial, um menino de nome Pero,
filho de Martins Vaz com residência na Rua dos Mastros, à Boa Vista ( AN/TT, AP, SV, MISTOS,
1566-1570). Algumas semanas depois, em 18 de Agosto, fundava-se aquela que viria a ser a
mais importante confraria da paróquia, a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia
de Santos-o-Velho:
“Este é o livro em que se assentam os irmãos desta santa/ Confraria do Santíssimo Sacramento,
ora novamente insti/tuída nesta Igreja de Santos. A qual começou a 18 de Agosto/ de mil e
3
O registo do Cura Salvador Contreras é até hoje o único documento conhecido que atesta a criação da
paroquia de Santos-o-Velho. Referenciado por diversos autores, foi alvo de duas transcrições de zelosos
priores da igreja, que se encontram no mesmo livro (ver Anexos).
4
A finta lançada, em 1565, pela cidade de Lisboa, para custear D. Sebastião, fornece um recenseamento
rigoroso da população da futura da área da Freguesia de Santos-o-Velho, apenas um ano antes da
fundação da nova paroquial (LIVRO DO LANÇAMENTO..., 1947-1948: II, 252-273).
5
"A quinta paróquia foy a dos santos Mártires Verissimo, Máxima e Julia, erecta no anno de 1566. e
posto que sua igreja fosse fundação del Rey D. Affonso Henriques por Antigua, a reedificarão os
fregueses à sua custa. Nesta parochia achei a notícia de que a nossa alli tivera sacrário, e fábrica para
se levar o SS. aos enfermos daquele território, bem poderia ser pois a distancia o permitia, ainda que
na nossa disto não há quem affirme.” (CONCEIÇÃO, 1750: 13). Por sua vez, Vieira da Silva (1954: I,
266) acrescenta, sem mencionar a fonte, que Santos-o-Velho era um "posto" da paróquia de Nossa
Senhora dos Mártires desde 1551.
António Celso Mangucci pg. 5
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

quinhentos e sessenta e seis anos. Aos quais/ irmãos, Nosso Senhor deixe acabar em seu santo
serviço” (ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 1).
Como convinha a organização e financiamento da nova irmandade, a sua comissão
dirigente era composta pelos seus mais influentes residentes, que efectivamente podiam
comprometer-se com os desígnios da instituição. O seu primeiro juiz eleito seria Diogo de Sá,
e para escrivão da irmandade fora nomeado João da Barreira, filho de Afonso da Barreira, um
rico cidadão que aforara extensas parcelas de terreno às Comendadeiras de Santos-o-Novo
(AN/TT, CD, MSN, CONTRATO..., 1566), e habitava num verdadeiro palácio, à beira Tejo, em frente
ao adro da igreja. Lucas de Andrade, a quem D. Sebastião faria mercê de uma tercena e de
parte da praia de Santos ( AN/TT, AP/CA, JUSTIFICAÇÃO..., s/d), fora designado para mordomo da
capela, enquanto João da Borgonha, o generoso benemérito que doara um crucifixo de prata à
irmandade, era escolhido para tesoureiro, e Gonçalo Vaz, o escudeiro de D. Luís de Lencastre,
para procurador.
Neste mesmo dia, reunida pela primeira vez a comunidade do Santíssimo Sacramento,
registam-se os assentos do pescador Pedro Anes, de Domingos Pires, de Gonçalo Vieira, do
oleiro Domingos Fernandes, do sapateiro Henrique Fernandes, da viúva Maria de França, de
Jerónimo Gonçalves, do cabouqueiro Fernão Raposo, de António Fernandes, de Gaspar
Marreitos, do doutor Fernão de Freitas, de Pero Fernandes Beirós, de Paulo de Santiluste de
Escalona, de Francisco Fernandes, sapateiro, de Diogo da Barreira, de Marcos Fernandes, de
Marcos Lopes, de Duarte Lopes, do hortelão Pero Gonçalves, de Rodrigo Gonçalves, de
Francisco Monteiro, criado do Duque de Aveiro, do pescador Milério Cordovil, do caieiro
António Gonçalves, de Gonçalo Dias e de Rangel Gonçalves ( ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-
1770: fls. 4-7 e 70).

O Cardeal Infante D. Henrique demonstrando o seu apoio os desígnios da nova


irmandade - que estamos em crer, nestes primeiros anos confunde-se com a própria
organização da paróquia - faz a piedosa doação de uma caldeira de prata dourada com seu
estojo de couro negro.
No ano seguinte a irmandade conquistava o patrocínio da família do Comendador-mor
de Avis, D. Luís de Lencastre 6 que se comprometia a pagar anualmente, por dia de Endoenças 7,
a importante soma de quatrocentos mil rs. ( ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 3). Os
habitantes do Palácio de Santos, como vamos ter a oportunidade de ver, tornar-se-iam nos
principais patronos da Irmandade do Santíssimo Sacramento, ligando indissoluvelmente a
história dos dois edifícios.
Entre os primeiros compromissos da nova paróquia contam-se os votos tomados contra
o surto de peste de 1569/70, obrigando-se a realização de uma procissão à Nossa Senhora dos
Prazeres, com todos os padres e irmãos de Santos, realizada na segunda-feira depois da

6
Filho terceiro do Senhor D. Jorge, Duque de Coimbra, 1º Comendador-mor da Ordem de São Bento de
Avis, faleceu em 1574.
7
Festas da Páscoa
António Celso Mangucci pg. 6
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Pascoela, em direcção à sua pequena ermida e hospital, onde provavelmente os doentes


ficariam confinados8.
Corria o ano de 1574, quando D. Sebastião, na sequência de uma visitação, dá ordem
para a nova edificação da Igreja de Santos-o-Velho, que devia ser custeada pelos seus
fregueses. A explosão e incêndio dos armazéns de pólvora em 13 de Dezembro 1576, apesar
de descrito com algum exagero por Frei Bernardo da Cruz (1835 : caps. XXXVIII e LI),
provocaram grandes estragos no Palácio de Santos, e provavelmente, ainda que não
mencionados pelo cronista, na primitiva igreja. O assento de falecimento de Roberto Jácome,
mercador flamengo (AN/TT, AP, MISTOS, fl. 9 v.º) e juiz da Irmandade do Santíssimo Sacramento
(ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 75), “ferido no dia de Santa Luzia no terramoto da
pólvora” e morador na Rua do Guarda-mor, é mais um indício da violência e do inusitado do
acontecimento, que certamente corroborou a necessidade do início das obras. O próprio D.
Sebastião, visita frequente no Palácio de Santos, tendo para esse fim despejado o
Comendador-mor das sua habitações (AN/TT, AP/CA, JUSTIFICAÇÃO..., s/d. Ver Anexos), escapa do
acidente por se encontrar em viagem diplomática, negociando o apoio de seu tio Felipe I à sua
expedição marroquina. Sabemos, contudo, que ainda em 1578 não se dera início a edificação
da nova igreja, por oposição dos paroquianos que invocavam a impossibilidade dos prelados
ordenarem impostos9.
Segundo consta de um manuscrito publicado por Alexandre Herculano (1909: VI, 107), D.
Sebastião assistiu à sua última missa em solo português, no domingo 15 de Junho de 1578, em
Santos-o-Velho10. Mil quinhentos e oitenta, ano aziago, traz um novo surto de peste à Lisboa,
que assola novamente a freguesia, com elevado número de mortos registados entre Março,
Abril e Maio (AN/TT, AP, MISTOS, 1578-92), muitos deles enterrados no adro da igreja. O Palácio
de Santos encontra-se votado ao abandono, pois com D. Sebastião havia exaurido-se a última
vida de aforamento deste prazo, e o Cardeal-Rei com desinteresse no paço, manda que a suas
proprietárias retomem a sua posse.

8
Segundo a notícia do Padre António Carvalho da Costa (1712: III, 532) : "A esta ermida vai todos os
annos de manhã em dia de Nossa Senhora dos Prazeres, ha procisão com todos os padres da Freguesia
de Santos, Irmãos do Senhor & outros confrades, com suas cruzes, e nella cantão a missa do dia com
muita solenidade, por hum voto que fizerão à Senhora, se os livrasse da peste, que então havia nesta
cidade, de que morreo muyta gente." A “procissão da saúde” foi suprimida em 1874, por disposição
camarária, com a transferência da imagem de roca para a paróquia de Santos-o-Velho (OLIVEIRA, 1885:
I, 475), e desta novamente para a Ermida do Cemitério dos Prazeres.
9
"... e com dizerem que o ordenar das fintas não pertence aos prelados, impedem totalmente o effeito
das ditas obras, de maneira que sendo mandado por visitação que se faça a Igreja de Santos-o-Velho na
cidade de Lisboa, e mandadoo eu per minha provisão, e comettendo a execução ao corregedor
Christovão Borges vai em quatro annos, atégora se não pode dar principio a esta obra, e a causa pende
na Casa da suplicação.” Mantendo o princípio de não intromissão com a justiça eclesiástica, D.
Sebastião nega-se a resolver o diferendo, ainda que as novas determinações do Concílio Tridentino
justifiquem a posição da igreja (ARCHIVO..., 1865: 942).
10
Frei Bernardo da Cruz (1837, cap. LI) é, no entanto, peremptório ao afirmar que, no dia 14, após a
procissão e bênção da bandeira dos exércitos na Sé, D. Sebastião embarcou, não mais voltando a terra
até o dia da partida, em 24 de Junho daquele ano.
António Celso Mangucci pg. 7
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A crise sucessória - aberta pelo desastre de Alcácer-Quibir - culmina com a invasão do


exército filipino, que ocupa as “casas de Santos”, contribuindo ainda mais para a situação de
desamparo e destruição do Paço de Santos (AN/TT, AP/CA, JUSTIFICAÇÃO..., s/d. Ver anexos).
A normalidade instala-se pouco a pouco e o 2º Comendador-mor de Avis, D. Luís de
Lencastre, que estivera cativo em Marrocos e, resgatado, armara um exército contra D.
António, Prior do Crato, volta a habitar o Palácio de Santos. A pedido de Pero Lopes, prior da
paróquia, o comendador-mor oferta, em 1582, um cálice de prata dourada, com a inscrição, na
base: “DOM LUÍS, COM UMA COMENDA DE AVIS”.
O culto divino também não é descurado pelos fiéis, que se cotizam para o pagamento das
missas cantadas, acompanhadas por um órgão. O contrato celebrado, em 1592, entre o padre e
músico Pero Dias Mesquita e as nove confrarias e irmandades existentes no templo, estabelece:
“...de hoje por diante obrigadas com um tangedor que tangesse/ os órgãos da dita igreja todos
os domingos e dias santos e/ sábados de Nossa Senhora e a mais obrigações da dita casa e das/
confrarias dela...” (ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 285).
A redação do convénio permite-nos ainda vislumbrar o pulsar da vida paroquial
momentos antes do início da reconstrução do templo. Nesse acordo, o pagamento é dividido
segundo as possibilidades de cada irmandade, numa hierarquia que denota a importância de
cada confraria. A soma mais avultada, como era de se esperar, pertence à Irmandade do
Santíssimo Sacramento, logo secundada pela Irmandade de Nossa Senhora. As restantes
irmandades da paróquia pagam uma quantia equivalente, e provavelmente ainda não tinham
adquirido o grau de organização das precedentes. As irmandades do Espírito Santo, do Nome
de Jesus, de Santo António, das Almas, dos Santos Mártires e de São Sebastião 11 completavam
o conjunto das várias capelas da primitiva Paroquial de Santos-o-Velho, e até mesmo a fábrica
da paróquia está representada através de uma irmandade, a de Todos os Santos ( IDEM, ver
Anexos).

Esta organização pressupunha a intensa participação de todos os residentes na vida da


igreja, agrupados em diversas irmandades, que financiavam a vida cotidiana da paroquial. É
natural que o projecto de reconstrução, que vai ser lançado com o início do séc. XVII, tivesse
em conta esta organização precedente, tanto mais que cabe aos fregueses de Santos-o-Velho o
custeio completo dessas obras.

11
A existência desta capela é confirmada também pelo registo de óbito de 8 de Março de 1599:
“...Domingos Pires está enterrado na capela de São Sebastião...” (AN/TT, AP, SV, MISTOS, 1596 -1623).
António Celso Mangucci pg. 8
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A NOVA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO


UMA PAROQUIAL PARA AS IRMANDADES

O processo de reedificação
Quase três décadas deveriam passar sobre a iniciativa de D. Sebastião para que surgisse
um novo plano de reedificação para a Igreja de Santos-o-Velho. Governava, então, o vice-rei,
Bispo D. Pero de Castilho, quando, em 2 de Março de 1602, depois de realizados o projecto e
orçamento, a Chancelaria Real passou uma provisão para a cobrança de um imposto para
custear a obra de edificação da nova paroquial:
“Eu, El-Rei faço saber aos que este alvará virem, que vista a informação que mandei tomar do/
provedor das capelas desta cidade de Lisboa, Álvaro Tristão de Abreu, a requerimento dos
fre/gueses da Igreja de Santos-o-Velho dela, e como a dita informação constou que pelo/ estado
em que a dita igreja estava convinha muito se lhe acudisse logo, antes que de todo caísse/ por
estar a isso muito ocasionada e que poderia fazer de custo de oito mil cruzados ...” ( ASV, ISS,
DOCUMENTOS..., 1602: fl. 2).

Segundo o alvará, o templo ameaçava ruína, necessitando de obras urgentes. Mas o


plano do legislador, mais ambicioso, pretende uma nova e maior igreja que acolha os fiéis desta
crescente freguesia. A décima, calculada sobre o rendimento anual das propriedades, proveriam
os oito mil cruzados estimados como necessários:
“...Hei por bem que a obra da dita igreja se faça de novo com toda a diligência na forma e pela
traça/ que está assentada e se lance finta para isso. Finta em tempo de dois anos, a dita quantia de
oito mil cruzados pelas fazendas da dita freguesia e rendimentos delas, de qual/quer qualidade
que sejam, pagando a décima parte do que render em cada ano...” (IDEM, IBIDEM).
De forma expedita, em 19 de Junho do mesmo ano atendia-se a petição do Regedor da
Casa da Suplicação, Fernão Teles de Meneses12, nomeando-o para o cargo de provedor das
obras. Nesta missão cabia-lhe a supervisão da arrecadação e administração do dinheiro, sempre
em consonância com o prior Francisco Dias ( act. c.1598-1620) e a Irmandade do Santíssimo
Sacramento, agora representada pelo seu tesoureiro João Sinel, mercador flamengo 13 e pelo
escrivão Diogo de Morais.
“... por sua devoção e por ter as suas casas junto à dita igreja, quer servir de juiz da finta e obra
dela, que pelo alvará da outra meia fo/lha desta folha, tenho concedido, que o dito Fernão Teles
sirva de juiz da dita finta e obra, ainda que não sirva de juiz da dita confraria. E de tesoureiro/ do
dinheiro que se arrecadar servirá João Sinel, mercador estrangeiro, e de escrivão, Diogo de
Morais, fregueses da dita igreja que nos ditos cargos estão eleitos em mesa ...” (IDEM, IBIDEM).

12
Filho de Brás Teles de Menezes, alcaide-mor de Moura. Fernão Teles partiu para a Índia em 1566 e com
a morte do Conde de Atouguia, governou interinamente durante seis meses e vinte dias. Em 1597 na sua
Quinta de Campolide fundou um noviciado da Companhia de Jesus, que posteriormente passou ao sítio
da Cotovia.
13
Joan Schnel fizera-se membro em 16 de Outubro de 1575, altura em que com Joan Henriques, João de
Góis e Francisco Jácome Lens, dirigia esta irmandade ( ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl.
23).
António Celso Mangucci pg. 9
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Durante a gestão do regedor, que viu a sua provisão renovada em 1604 ( AN/TT, CR,
RENOVAÇÃO DO ALVARÁ..., 1604) as obras andaram a bom ritmo, como nos atesta o Desembargador
Inácio Costa de Brito:
“Certifico que eu houve/ a meu poder seis livros da Igreja de Santos-/o-Velho, e os das mais
igrejas. E que de todos eles/ não vi livros que tão bons lançamentos tenham, nem/ tão clara
receita e despesa como os da dita/ Igreja de Santos. E que o dinheiro que se tem/ cobrado está
despendido nas obras dela/ que com isso estão muito avante, posto que há pou/cos anos que se
começaram, o que não vejo nas/ outras igrejas” (ASV, ISS, DOCUMENTOS..., 1602: fl. 11. Ver
Anexos)14

Com a morte de Fernão Teles de Menezes15, nova provisão, de 1606 ( VITERBO, 1988: I,
450), nomeava D. Luís de Lencastre “juiz das obras de Santos-o-Velho”. O fidalgo procurava
consolidar os seus interesses nesta área da cidade, empenhado em adquirir definitivamente o
Palácio de Santos às Comendadeiras da Ordem de Santiago 16.
Insatisfeito com o montante e a lentidão da coleta do imposto, D. Luís de Lencastre
inicia as diligências para contrariar as prerrogativas em que parte da nobreza se escudava para
evitar as contribuições17:
“Diz Dom Luís de Lencastre que sua majestade o tem encarregado das obras da/ igreja da
freguesia de Santos, assim e da maneira que o tinha encarregado a Fernão/ Teles de Menezes. E
porque esta obrigação é tão grande para descargo da consciência de Vossa Majestade e sua,
vendo ele que na finta que se fez na/ freguesia todos se chamaram a privilégios assim os
comendadores, como os outros/ que não o são. E a carga ficou só aos pobres, com que a obra não
pode ir adiante e podendo hoje estar acabada de todo, fez a petição junta...” ( ASV, ISS,
DOCUMENTOS..., 1602: fl. 1)

A abertura deste litígio era justificada com a imperiosa necessidade de finalizar o templo
e assim proteger tanto as estruturas que se conservavam, como as obras já executadas:
“...que a igreja velha, que é de taipa, se vem ao chão, e as paredes da nova, que estão feitas, se
arruinarão se a obra senão continuar/ e a acabar, de que resultará ficarem sem igreja/ os
fregueses, para se sacramentar, pela muita distância que dali há a outras partes...” ( IDEM, IBIDEM).
Em 1609, as obras da estrutura do edifício, em alvenaria, já estão completas 18 e lança-se,
então, o concurso para a realização da parte de carpintaria, conforme o plano do arquitecto
régio e mestre das obras da cidade, Teodósio de Frias ( SERRÃO, 1984-1988: 67). Além da
14
A certidão foi pedida por D. Luís de Lencastre e está datada de Novembro de 1606, mas o elogio maior,
como é natural, incide sobre a gestão anterior. Ver Anexos.
15
Ocorrida em 28 de Novembro de 1605 (AN/TT, AP, SV, MISTOS, 1596 -1623).
16
A licença régia para a compra só seria alcançada em 1629.
17
Juntando as informações de vários juízes de obras de igrejas que no entanto decorriam no termo de
Lisboa, nomeadamente as de: São Nicolau, Santa Justa, Santa Maria de Loures, São João do Lumiar e a
Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Vialonga (ASV, ISS, DOCUMENTOS..., 1602: fl. 7).
18
Realizadas, ao menos parcialmente, pelo mestre pedreiro António Rodrigues, como nos informa o
seguinte atestado de óbito: “Ao primeiro de Setembro de 1619 faleceo Luis Carva/lho mancebo solteiro
no Croco (?), está enterrado na/ egreja, fez testamento e ficou por seu testamenteiro, seu cunhado,
Antonio Rodrigues, mestre das obras da igreja” (AN/TT, AP, SV, MISTOS, 1596-1623). António Rodrigues,
juiz da bandeira dos pedreiros, em 1605 (SERRÃO, 1984-88: 66), executou também o projecto de
Teodósio de Frias para o Castelo de Lisboa, em 1620 (IDEM: 79-80)
António Celso Mangucci pg. 10
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

cobertura, essa empreitada incluía um coro alto, com sacristia e tribuna, sobre a entrada
principal; as duas portas do templo (porta principal e travessa), e teias para a nave, para o coro
e para o baptistério. A peça mais importante, o forro interno, em abóbada semicircular, dividida
em painéis artezoados, salientava o arrojo do espaço interno, com um magnífico pé direito
(AN/TT, AN, CONTRATO DAS OBRAS..., 1609, ver Anexos).
Em 1613, falece D. Luís de Lencastre, e põe-se novamente o problema da sucessão na
provedoria das obras da Igreja de Santos-o-Velho. Equânime, o rei escolheria o Conde do
Redondo para o lugar disputado pelas duas famílias mais influentes da freguesia, que
competiam desde o início para reforçar o prestígio em Santos-o-Velho:
“Dizem os fregueses da Igreja de Santos-o-Velho que Vossa Majestade/ passou provisão para que
se fizesse igreja nova a custa dos/ fregueses e suas fazendas, na forma que se faz a de São
Paulo./ E foi dado por primeiro provedor e juiz da dita obra Fernão Teles de Menezes, que Deus
tem. E por seu falecimento, Dom Luís/ da Lencastre que Deus tem. E logo, o Conde de Redondo
que ora vai/ servir a Vossa Majestade per capitão de Tanger. E por executor/ e juiz das causas
tocantes a dita obra foi sempre o Corregedor Luís de Araújo do Barros e da Corte Civil, do
princípio/ da obra até hoje; ora é necessário por ela ir por diante/ e se acabar que haja novo juiz e
provedor em lugar do conde,/ e que este seja pessoa da qualidade dos outros, e que/ seja freguês
de mesma freguesia, e nela morador. E para se fazer isso nesta conformidade se deve fazer por
votos/ dos fregueses que sabem bem o que lhe importa./ Pede portanto a Vossa Majestade lhe
faça mercê que, sendo/ ouvidos os suplicantes e tomados seus votos e pa/receres pelo dito
corregedor de corte, e eleita a pe/ssoa, em lugar do conde, lhe passe Vossa Majestade/ provisão
para servir e correr com a dita obra em seus termos...” ( AN/TT, AP/CA, DECRETO..., 1615. Ver
Anexos)

Com a nomeação do Conde de Redondo para Capitão em Tânger, assume o cargo D.


Francisco Luís de Lencastre, que seria nomeado por carta de 17 de Agosto de 1615. Neste
mesmo ano, em 9 de Julho, o 3º Comendador-mor de Avis fizera oficiar porventura uma das
mais importantes cerimónias realizadas na Igreja de Santos-o-Velho, com o baptismo de seu
filho Veríssimo, por D. João Gama, Bispo de Miranda. Consagrado por seus pais à vida
religiosa, D. Veríssimo de Lencastre alcançará uma brilhante carreira eclesiástica, sendo
nomeado Arcebispo Primaz das Espanhas ( 1671), Inquisidor Geral de Portugal ( 1676), e
finalmente Cardeal da Santa Igreja Romana (1686).
Confirma-se assim que as principais obras de reedificação do templo teriam atingido a
fase de conclusão no ano de 1615, data inscrita também no espelho das robustas pias de água
benta que flanqueiam a entrada principal. Dois anos depois a Igreja já se encontra em plenas
funções, como nos atestam os registos de óbito de Baltazar Pires, de 16 de Fevereiro de 1617,
e de Margarida André, de 22 de Março de 1617, ambos com sepultura na “igreja nova” ( AN/TT,
AP, SV, MISTOS, 1598-1623).

O interior, no entanto, vai sendo lentamente apetrechado, e em 1620 a Irmandade de


Santo António encomenda o retábulo da sua capela, executado segundo o modelo da de São
Roque, na igreja no Mosteiro do Carmo, pelo mestre marceneiro Lourenço Pires e pelo
pedreiro Salvador Luís (SERRÃO, 1984-1988: 80). Por outro lado, o dispendioso forro de madeira
em abóbada de berço ainda em 1624 não estava completo. “A igreja esta já meia forrada”, diz
a informação do deputado da mesa de consciência e ordens, Dr. Sebastião de Carvalho. O

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

provedor das obras, apoiando-se em novo orçamento do arquitecto real Teodósio de Frias,
dirige então uma nova petição ao rei para que se lançasse finta no intuito de arrecadar a
quantia de um conto e trezentos mil réis ( VITERBO, 1988: III, 328-9). O dinheiro arrecadado vai
possibilitar também o revestimento integral das paredes da nave com magníficos exemplares de
azulejaria de padrão, provavelmente executados pelo mestre de louça fina e azulejos José
Francisco, com olaria no Mocambo (MANGUCCI, 1996: 165), que na época procurava alcançar a
anuência da Irmandade do Santíssimo para a reconstrução de uma olaria incendiada,
responsabilizando-se por qualquer dano futuro na vizinha propriedade desta confraria ( SERRÃO,
1984-88: 91).

O plano da paroquial
A Igreja de Santos localiza-se em um alto, dominando a praia, com a fachada principal
voltada para poente. Longe iam os tempos de desafogo, quando coabitava com o “velho
paço”, no dizer de Damião de Góis, no extremo ocidental de Lisboa. A área envolvente é
francamente povoada com casas, que circundam o templo, na área central da freguesia. Apenas
uma estreita viela, que desemboca nas escadinhas da praia, separa os edifícios de habitação da
fachada da igreja. O leitor verá mesmo que daqui a quase cem anos, nos inícios do séc. XVIII,
será preciso adquirir e demolir umas casas para alargar-se o adro.
Muito próximo, o vizinho Tejo, a grande via fluvial, leva e trás todo o tipo de
mercadorias, de infinitos destinos. Os mareantes, muitos dos fregueses de Santos-o-Velho,
quando irmãos do Santíssimo, como Francisco Fernandes19, piloto, ou o mestre Belchior
Miguel20, senhor do galeão Nossa Senhora da Guia, “que navega para o Brasil”, levam círios e
mealheiros21 para recolher esmolas durante as longas viagens.
Quem saia do recinto amuralhado da cidade, pelas Portas de Santa Catarina, e seguia
para Alcântara e Belém, logo a seguir ao Palácio de Santos, aproximava-se de um pequeno
terreiro, onde impunha-se a rígida massa parietal da igreja, reforçada pelo rasgamento vigoroso
de três janelas e de uma pilastra colossal, pouco saliente, que assinala o corpo da torre.
O templo era acessível pela porta travessa ou pela porta principal, com singelos portais 22
ao nível da rua. Com o passar dos séculos, porém, constantes regularizações do adro, que
culminaram com a criação das capelas mortuárias em 1965, tornam hoje necessário vencer
alguns degraus para penetrar no nártex.
19
Fernandes residia na Boa Vista, e entrou para a irmandade em 15 de Outubro de 1566 (ASV, ISS, LIVRO
DOSASSENTOS..., 1566-1770: fl. 8).
20
Belchior entrou para a irmandade em 29 de Março de 1589 (ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-
1770: fl. 29 v.º).
21
“Aos 24 de março despendeo/ o tizoureiro João Alves/ trezentos e vinte reis. que custarão/ dois
mialheiros que dois irmãos le/varão nas naus da india e de co/mo as despendeo acinei este ter/mo como
escrivão...” (LIVRO DA DESPESA..., 1655, fl. 5 v.º)
22
É pouco provável que do projecto inicial constasse uma galilé, talvez julgando-se que tornaria a Capela
dos Mártires muito devassável. No entanto, no atestado de óbito de Catarina Anes, datado de 10 de
Janeiro de 1615, menciona que ela fora “enterrada no alpendre da igreja”. (AN/TT, AP, SV, MISTOS,
1598-1623).
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A ampliação do corpo da primitiva Igreja de Santos incorporou a pequena, mas


importante, Ermida dos Santos Mártires (AN/TT, AN, CONTRATO DAS OBRAS...1609), fazendo questão
de manter a memória do local sagrado das suas sepulturas. A beleza desta capela chamou a
atenção do anónimo poeta da Relaçam (1970) que, por volta de 1625, convidava a admirar “A
nova Igreja de Santos, onde entrando à mão direita, há de sua invocação, uma brincada
capela.” O soberbo mezzo-relievo quinhentista com as figuras dos padroeiros, actualmente
aplicado na fachada, sobre o arco, poderia fazer parte dessa capela, destruída quando das obras
para as escadas nobres do coro, na terceira década do séc. XVIII.
Como acabámos de acompanhar, a reconstrução do templo é financiada pelos moradores
da freguesia, representados na organização paroquial através das irmandades, e naturalmente o
projecto mantém quase todas as invocações tradicionais das capelas existentes na antiga igreja.
Aliás, quase como uma consequência natural de todo o programa de reedificação, a Irmandade
do Santíssimo Sacramento, em 1619, aceitou o convite do padre Francisco Dias e transferiu o
sacrário para o altar-mor23. O mistério da Eucaristia passa a estar no centro das atenções dos
fiéis, assim como a missa, a celebração da Ceia do Senhor, é o acto litúrgico mais importante
para o catolicismo. É, portanto, a partir desta data, que a capela colateral do evangelho passa a
estar ocupada pela Irmandade da Via Sacra e Nossa Senhora da Piedade, na primeira referência
que dispomos para esta confraria, enquanto a da direita, a capela colateral da epístola,
mantinha-se dedicada à Nossa Senhora da Saúde. Do lado do Tejo, ou seja, da epístola,
existem outras três capelas: a primeira, é de São Sebastião, a segunda de Santo António, e a
terceira de Santa Catarina. Do lado oposto, sempre a começar do lado do altar-mor, estão
outras três: a de São Pedro, a do Espírito Santo 24, e por último a de São Miguel.
A estrutura arquitectónica do interior do templo, ritmada pelos arcos das capelas, com
sóbrios capitéis, é simples, e a missa é celebrada praticamente entre os fiéis, com um altar-mor
inserido num vão pouco profundo, com espaço apenas para a máquina do retábulo. Toda a luz
provém do andar superior, através de seis janelões rectangulares que sobrepujam as capelas da
nave. Sobre a capela-mor abria-se um singelo óculo ladeado por triângulos arredondados 25,
num sistema de fenestração de inspiração palladiana utilizado em paredes testeiras de outras
igrejas do período, como no caso da capela-mor de São Domingos, em Benfica ( KUBLER, 1988:
55). Se o leitor circundar a igreja, dirigindo-se a um local onde seja possível observar as
traseiras da capela-mor, ainda pode notar os limites destes vãos em pedra lavrada.

23
"Em dezoito dias, do presente mês de Dezembro, do ano presente de 1619, foi chamada toda a
irmandade ou a maior parte dela. E com o parecer/ e voto de Nuno Correa Alvares, que este ano
presente serve de juiz do Santo/ Sacramento e de toda a demais irmandade assentaram que o
Santíssimo/ Sacramento em seu sacrário esteja na capela mor, por parecer que assim fica mais
decente ..." (ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 238). Como pode inferir-se do contrato
com o organista, a principio a capela-mor teria a invocação de Todos os Santos ( IDEM, fl. 285, ver
Anexos).
24
A invocação desta capela é mencionada em um atestado de óbito de 1613: “Aos 9 de novembro, faleceo
hum mosso, na rua/ da Sylva, estrangeiro, filho de Gabriel Garcia de/ Faria, castelhano. Está
enterrado, detro das gra/des do pulpito para o Esprito Santo, em huma cova que/ tem por sinal huns
azulejos pintados para seu/ pai o tresladar para sua terra” (AN/TT, AP, SV, MISTOS, 1596 -1623).
25
O óculo sobre o arco triunfal foi entaipado quando da ampliação deste no início do séc. XIX, e os
quartos de círculo em obras recentes.
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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A comunidade assiste à missa a partir do centro da nave, delimitado por uma teia em
pau-brasil que define também um deambulatório em volta das capelas. Os actos litúrgicos,
mesmo que consagrados em qualquer uma dos altares, são facilmente aprendidos por todos os
fiéis. A partir do coro, as quatro vozes dobradas acompanhadas da música do órgão fluem
ampliadas, sem empecilhos, através da igreja, agora pela mão do padre António de Oliveira,
que viu o seu contrato renovado para o ano de 1621 (ASV, ISS, LIVRO DOS ASSENTOS..., 1566-1770: fl.
104).

No plano arquitectónico procurou-se criar um espaço unitário, francamente iluminado,


tendencialmente livre de hierarquias, e a única área reservado da igreja está incorporada na
fachada, no complexo que associava a sacristia e o coro alto, com acesso apenas por uma
escada de pedra junto a torre sineira Norte (AN/TT, AN, CONTRATO DAS OBRAS...1609). Nas primeiras
décadas do séc. XVII, Teodósio de Frias mantém uma actividade incessante, com o mesmo
modelo de empreitadas, riscando vários planos destinados a outras paroquiais lisboetas do
período, como para a Igreja da Penha de França ( 1604)26, de Santa Engrácia (1621)27, São
Sebastião da Mouraria (1624)28 e ainda para a ampliação da Paróquia de São Paulo ( 1623-
1626)29. Estamos perante um esquema construtivo pensado à medida da capacidade financeira
dos paroquianos, que não podem contar com o patrocínio real ou mesmo camarário, a não ser
na concepção do projecto. A definição prévia da campanha de obras em duas empreitadas
distintas permite uma execução faseada do plano arquitectónico, sem por em risco a sua
eficácia e qualidade na licitação da empreitada, arrematada pelo lance mais baixo, libertando
ainda o arquitecto de uma intervenção permanente na direcção das obras.
Não podemos esquecer também a predilecção e a maestria com que Teodósio de Frias
projectava estruturas de madeira, fruto de uma longa tradição familiar, numa importante
experiência que inclui desde as obras de marcenaria da Charola de Tomar ( 1592-1595)30 até a
supervisão dos arcos erigidos para a entrada de Felipe III 31 em Lisboa em 1619 (VITERBO, 1988,
I, 392).

Depois da união das coroas ibéricas, em 1580, a camada dirigente lisboeta procura tirar
partido da base portuária da cidade para voltar a gozar do estatuto de capital. Esse plano
recebe um poderoso alento com o projecto idealizado por Felipe II 32, de tornar o Tejo
navegável desde Madrid, implementando a organicidade do império ( NIETO, MORALES e CHECA,
1989: 290-2). Os governantes portugueses procuram através de numerosas iniciativas organizar
uma visita real, celebrada como uma entrada triunfal, que obrigasse o monarca espanhol a
reconhecer o estatuto de Lisboa ( KLUBER, 1988: 110-133). Aproveitando uma certa prosperidade
económica de que a cidade beneficia nas primeiras décadas do séc. XVII, lançam-se várias

26
CAETANO, 1990: 72
27
SERRÃO, 1984-88: 81
28
VITERBO, 1988, I, 392
29
SERRÃO, 1984-88: 83, 86
30
CAETANO, 1990: 72
31
Segundo de Portugal.
32
Primeiro de Portugal.
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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

obras de estruturação do tecido urbano, com a expansão do eixo Ocidental, incluindo, além da
Igreja de Santos-o-Velho, o Convento das Albertas, e o Convento das Brízidas de São Bento
(Inglesinhas), ambos iniciados em 1594 o novo edifício da paroquial de São Paulo ( 1602), e
ainda o Conventos dos Marianos em 1606. Todo esse longo projecto culmina na “Joyeuse
Entrée” de Felipe III em Lisboa, em 1619, na qual D. Francisco Luís de Lencastre serve como
guarda-mor.

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A CUSTÓDIA DO SANTÍSSIMO
AS PRIMEIRAS OBRAS DE RENOVAÇÃO E INSTITUIÇÕES DE CAPELAS

Pronta a nova igreja, novos projectos animam as irmandades e os fregueses de Santos-o-


Velho, com inúmeras adaptações, sempre tendo em conta as necessidades do momento, que
espelham a vitalidade da comunidade cristã. A decisão de construir a casa do despacho e
sacristia da Irmandade do Santíssimo Sacramento, com entrada pela “porta travessa”, foi
tomada em 1630, apesar da firme oposição do padre cura António Bernardes Velho 33. O
objectivo alegado pela Irmandade do Santíssimo era salvaguardar as alfaias preciosas,
alarmada com os desacatos ocorridos em Santa Engrácia:
“Depois que sucedeu o caso de Santa Engracia, a Irmandade do Santíssimo Sacramento desta
freguesia vendo o desamparo desta igreja e o grande risco/ que corre, pois em o sítio da praia
desembarcam muitas nações de infiéis, ordenarão de fazer umas casas, para nos baixos delas
recolherem a prata, ornamentos e fabrica do culto divino” (ASV, ISS, TÍTULO..., 1630).
Uma pedra com o baixo relevo de um ostensório, símbolo da Irmandade do Santíssimo
Sacramento, aplicada no actual cartório 34, marca o término das obras em 1645. Embora não se
conservem os livros próprios onde se consignou toda a despesa realizada com a construção da
sacristia, os totais foram exarados nos livros de conta da irmandade, onde temos em 1633:
“Despendeu mais noventa e dois mil, trezentos/ e oitenta e dois réis, nas obras que se
princi/piaram nas casas que se ordenaram fazer para a fabrica e ornamentos do culto divino,
como consta por miúdo do livro que se fez para as ditas obras, o que me reporto” (ASV, ISS,
LIVRO DE RECEITA..., 1633, fl. 31).

A sacristia foi executada, pelo menos na parte final, pelo pedreiro António Dias, e pelo
carpinteiro Pero Luís, pagos em 1646 (ASV, ISS, LIVRO DE RECEITA E DESPESA ..., 1644, fls. 26 vº, 27, 33
e 35). Nesse mesmo ano a irmandade decide a completa renovação de todos os utensílios de
prata, utilizando a que tem sem acrescentar nenhuma quantia que pessasse no orçamento da
confraria35.
Entre as inúmeras doações que a Irmandade do Santíssimo Sacramento ia recebendo, e
que a obrigava aos mais diversos compromissos, salienta-se a de Francisco de Mendonça que,
em 1658, instituiu a primeira missa cotidiana em Santos-o-Velho. Com especial devoção por
Santa Catarina, e extrema confiança na Irmandade do Santíssimo, escolheu a primeira por

33
O "indigno sacerdote" como humildemente se intitulou na sua lápide funerária, actualmente inserida
no pavimento em frente a capela mor: VELHO INDINO CASERD[O]/TE CURA Q[UE] FOI D[E]ESTA
IGRI/IA D[E] SANTOS FALICEO A 21/ D[E] D[E]ZENBRO D[E] [1]641. Bernardes Velho substituiu
neste cargo o padre Francisco Dias (act.1598-1620).
34
ESTAS CASAS ATE A IGREJA MAN/DARÃ FAZER OS IRMÃOS DA IRMANDADE/ DO
SANCTISSIMO SACRAMENTO CÕ SUAS/ ESMOLLAS E SE ACABARÃO DE FAZER 1645/
35
“...que elles ditos juis e officiais e mais irmãos/ por verem que a prata da dita irmandade todo/ per
enteiro esta gastada no estado em que esta/ a querem reformar de novo em que esta/ sem
acrescentamento nenhum, nem bens da dita menza,/ toda a que pezar, feita e acabada a custa da dita/
prata, pello que constar por certidão de contraste,/ assim e da maneira que a dita prata per inteiro
sem/ mais custo fica reformada para serviço do Santíssimo/ para o que todos os que prezentes estavão
derão seu/ consentimento...” (ASV, ISS, LIVRO DE ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 108)
António Celso Mangucci pg. 16
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

capela, onde se fez enterrar, e a segunda como administradora desta intenção do seu
testamento:
“Item, quando Deus for servido de me levar desta vida/ quero que meu corpo seja enterrado na
Igreja de Santos, em o habito de meu Padre/ Seráfico São Francisco e/ bentinho do Carmo, e se
dará pelo hábito, de esmola/ mais do costumado, sendo avensejado, e grande, de fron/te da capela
da Mártir Santa Catarina, da grade para/ fora, que tenho comprado com licença da Relação do
Senhor/ Arcebispo, de que se me passou Provisão, que tenho em meu/ poder. E onde esta uma
campa com seu letreiro, e armas 36/ e carneiro, que eu mandei fazer, e um caixão para o meu/
corpo, que esta junto dos caixões de Santa Catarina/ e a chave do carneiro tem António
Fernandes, pedreiro que correu com esta obra...” (TOMBO...,1699: fl. 16 e ss.).
Francisco de Mendonça era um homem de confiança do Comendador-mor de Avis, e
habitava no Palácio de Santos quando se assentou como irmão da Irmandade do Santíssimo
Sacramento em 1626, tendo servido no cargo de tesoureiro desta irmandade quando das obras
de conservação dos telhados que se realizaram na Igreja de Santos entre os anos de 1646 e
1647 (ASV, ISS, QUITAÇÃO..., 1647).
Mendonça doou também ricas alfaias para o serviço das missas que instituía, entre estas
um cálice de prata dourada, com a inscrição na base “Sancta Catherina de Santos”. Ofertava
também os castiçais, a lanterna, as galhetas, o turíbulo, tudo da mesma prata com que mandara
executar a coroa para a imagem da padroeira (TOMBO..., 1699: fl. 17).
Como vimos, a Irmandade do Santíssimo Sacramento mudara-se para a capela-mor e vai,
em 1665, ordenar a execução de um novo retábulo. A empreitada foi adjudicada ao mestre
entalhador Francisco Lopes37, pago através de uma generosa esmola do 3º Conde de Figueiró,
D. José de Lencastre (LIVRO DE RECEITA..., 1658-1660: fl. 52 v.º) e com o resultado da venda de
umas casas doadas por Catarina Gonçalves. Para a instalação do novo retábulo foram precisas
obras de ampliação da capela-mor38, provavelmente relacionadas com o portentoso trono
ascendente, coroado pela custódia do Santíssimo Sacramento.
Em 1672, o templo reclama obras de conservação e para isto lança-se nova finta,
segundo provisão real de 20 de Junho deste ano. As despesas mais vultosas estão relacionadas
com as seis frestas da nave “que de novo se abriram na dita igreja, no mesmo lugar que
estavam as antigas”. Estes reparos foram executados pelos pedreiros Manoel Gonçalves,
António Rodrigues e Manuel Jorge. O coro alto também foi alvo de intervenção, com a
abertura de uma janela e o assentamento de azulejos na sua abóbada. Os azulejos foram

36
A lápide sepulcral brasonada foi dividida ao meio e assente sob a teia que circunda a nave, obrigando-
nos a apresentar uma leitura incompleta: [CAPE]LA [...] PERPETUA DE/ [SANTA] CATR[INA]
[F]R[AN]C[IS]O DE M[ENDON]ÇA/ [T]ESO[U]R[EIRO] M[OR] ORD[E]M DA/ TE[RCEIRA]
SERAPHICO/ OF[...] [C]IDADE COM/ RI[...] DEIXA DE/[CLA]DA [...] [S]EV TESTAMTO/
[DO]AÇAO [...] TESTAMENT/ A DN [...]ES FA/ O[...].
37
“Despendeo o tezoureiro sento e noventa e seis mil/ e quinhentos e trinta réis ao marsineiro Francisco
Lopes/ ao retabulo que fez, e de como os despendeu, a/ssinei eu, escrivão, este termo...” (ASV, ISS,
LIVRO DE RECEITA..., 1660-1666, fl. 43 v.º).
38
“Despendeu o tesoureiro noventa mil rs. ao/ mestre pedreiro Manuel Duarte da obra que fez/ na
Capella-mor, e de como os despendeu a/ssinei eu escrivão este termo...” (ASV, ISS, LIVRO DA RECEITA...,
1658-1660, fl. 52 v.º)
António Celso Mangucci pg. 17
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

fornecidos pelo mestre oleiro Manuel Nunes Guizado 39 que desempenhava na altura o cargo de
tesoureiro da obra40, e assentes pelo mestre ladrilhador João Francisco41. Importante para a
conservação do edifício foi também o desentulhamento “das paredes da dita igreja da banda
do mar, que mandei fazer em utilidade delas, pelo assim dizerem mestres pedreiros...”(ASV,
SV, PROPRIEDADES..., 1677, caderno anexo).

Nas duas últimas décadas do séc: XVII, o templo recebe a instituição de mais três missas
cotidianas. A primeira, em 1682, pelo capitão Manoel Pais ( ASV, ISS, Livro de Administração..., s/d:
fl. 21), e as outras duas, em 1688, pela alma do Conde de Figueiró, D. José de Lencastre,
durante muitos anos juiz da Irmandade do Santíssimo Sacramento 42, e pela alma de sua esposa,
D. Filipa de Vilhena, ambas celebradas na capela de Nossa Senhora da Saúde, onde se fazem
sepultar, conforme nos recorda a inscrição da lápide43, actualmente aposta na parede lateral a
esta capela.

39
Manuel Nunes Guizado arrendava a olaria da Rua da Madragoa, que pertenciam ao Conde de Figueiró,
D. José de Lencastre. Falecido em 1694, o mestre oleiro irá doar todos os seus bens à Irmandade do
Santíssimo, em parte necessários para o pagamento de sua dívida referente as contas com estas obras
(ASV, SV, PROPRIEDADES..., 1677: fl. 178 e ASV, ISS, TOMBO...,1699: fl. 27 v.º a 29 v.º)
40
“...pague em sy de sessenta e tres mil duzentos, e setenta rs. de seis/ mil, e duzentos azolejos que deu
para a parede do choro, e janella/ da tribuna, que lhe mandei fazer por ser o menor preço porque o fez/
a rezo de des mil rs. o milheiro em que se montão sessenta e dous/ mil rs, e mil duzentos e sessenta rs.
de trinta e tres alizares,/ que tudo faz a quantia acima...” [pago em 29 de Novembro de 1675] (ASV, SV,
PROPRIEDADES..., 1677, caderno anexo, n.º 15)
41
O mestre ladrilhador forneceu e assentou azulejos para os enxalços das janelas da nave, e assentou os
azulejos do coro. No segundo caso o seu trabalho foi avaliado por Lourenço de Araújo, juiz do ofício de
ladrilhador (ASV, SV, PROPRIEDADES..., 1677, caderno anexo, n.º 2 e 13)
42
Foi juiz nos anos de 1659-60 e entre 1677-1685
43
A lápide encimada por um brasão de marmore esquartelado com as armas dos Lencastre e Abrantes: EM
ESTA CAPELLA SE MANDA/RÃO ENTERRAR D. IOSEPH/ LUIS DE LANCASTRO CONDE DE/
FIGUEYRO E A CONDEÇA D. PHI/LIPPA DE VILHENA SUA MOLHER/ PELA SINGULAR
DEVOÇÃO QUE/ SEMPRE TIVERÃO A ESTA SAN/CTA IMAGEM DA VIRGEM N. S.
António Celso Mangucci pg. 18
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

A NOVA VOZ BARROCA

A Intervenção de João Antunes


A intervenção do arquitecto João Antunes (CARVALHO, 1960-62: II, 165) inicia um brilhante
ciclo de obras que alteraram, no transcorrer da primeira metade do séc. XVIII, a vetusta
fisionomia do templo. As obras planeiam-se desde 1690, segundo a provisão de D. Pedro II
(ASV, SV, TOMBO DAS CASAS..., 1694-1696: fl. 2), mas só foram organizadas a partir de 1694, e após o
acordo da maioria dos proprietários da freguesia, que comprometiam-se a cumprir a finta,
suportando os gastos com as referidas obras.
Pelo rol do mestre pedreiro Gonçalo da Costa conhecemos mais alguns detalhes da obra
executada entre Junho de 1695 e Janeiro de 1696:
“...despendeu em os pagamentos que fez ao mestre pedreiro Gonçalo/ da Costa pelas férias da
obra do telhado da igreja,/ abóbadas de cima do coro, e das ilhargas das torres/ e arco em que se
fundou a torre da banda do mar; en/trando na dita quantia o custo da pedraria do espelho/ e dos
materiais, e mais cousas necessárias para a dita obra...” (ASV, SV, TOMBO DAS FAZENDAS..., 1694-
1696, fl. 215 v.º).

Além das obras de conservação, a intervenção privilegia uma grande reformulação do


coro alto, com a reconstrução das salas laterais, que serviram de apoio as confrarias
estabelecidas no templo. A música, que no passado acompanhava somente as missas mais
importantes, passa a um ritual quotidiano, acompanhada por um número sempre crescendo de
vozes, que celebram as missas instituídas pelos irmãos do Santíssimo.
O projecto de João Antunes, que viria a ser agraciado com o cargo de arquitecto régio,
incluíu obras na fachada, com a reformulação das duas torres sineiras e os respectivos
campanários. Estes seguem o figurino de São Vicente de Fora, optando por uma forma
quadrangular, aligeirando o discurso pesado e imponente do projecto filipino.
Surpreendentemente, o conflito permanece, já que as pilastras que deveriam marcar o novo
volume lateral das torres não foram executadas e as antigas, que se conservam, sublinham a
antiga forma das torres e deixam entrever a distância que separa o campanários do frontão. As
obras ficaram, portanto, incompletas, e mesmo o contrato com o mestre pedreiro Gonçalo da
Costa, redigido em 18 de Julho de 1696, não chegaria a ser celebrado ( AN/TT, AN, CONTRATO...,
1696).

Para nobilitar o edifício o arquitecto delineou um portal para a nova entrada lateral da
igreja, “da porta travessa que de novo se há de abrir” (AN/TT, AN, CONTRATO..., 1696). Apesar da
ingenuidade, o desenho de Luís Gonzaga Pereira ( 1927: 490), de 1833, é a única representação
do magnífico portal, ladeado por uma secção de dupla pilastra, e sobre o entablamento, uma
pequena ventana coroada por uma cruz. Na sequência das obras delineadas pelo ínsigne
arquitecto, a generosidade do 4º Conde de Vila Nova de Portimão, D. Luís de Lencastre, abre
a possibilidade do alargamento do adro, revalorizando o edifício e a sua área envolvente. Para
isso é necessário comprar, para demolir, três propriedades de casas ao Conde de Asseca, D.

António Celso Mangucci pg. 19


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Diogo Gomes de Sá, que trazia aforada as Comendadeiras de Santos, ainda e sempre as
grandes proprietárias da freguesia (ASV, ISS, TOMBO..., 1699: fl. 42 v.º a 47).
João Antunes recebeu a irrisória soma de quatro mil e oitocentos réis “pelo trabalho/ de
vir dar a forma da obra/ e fazer a planta das torres/ e púlpitos” (ASV, SV, TOMBO..., 1694-1696, fl.
218). Os púlpitos44, estes belíssimos suporte da oratória barroca, postados a meia altura, com
seu imbricado trabalho em mármore, avançam sobre a nave colocando o auditório a mercê da
gravidade, da graça e do afecto do orador convidado para as comemorações litúrgicas mais
solenes.

O tecto de brutescos
Esta nova fase áurea do templo, com a intervenção dos melhores artistas portugueses da
época, é finalizada com a encomenda da pintura da abóbada da nave, em 1697, a José Ferreira
de Araújo (CARVALHO, 1960-62: II, 166), sucessor de uma importante oficina de pintores
ornamentais ligados às obras régias (DACOS e SERRÃO, 1992: 47).
Ferreira de Araújo criou dois tipos de cartelas que enquadram, alternadamente, um
complexo conjunto de emblemas. O programa parte dos símbolos associados ao sacramento da
eucaristia, interpretado como o verdadeiro alimento da alma, e correlacionando dessa forma, o
trigo, o cordeiro pascal, a mesa com o pão e vinho e o pelicano que alimenta a ninhada com o
seu próprio sangue. A hóstia consagrada preenche a alma de uma sensação de bem estar
iluminado, como nesses versos de Frei Jerónimo Baía ( A FENIX..., 1746: II, 303-9), dedicados ao
Santíssimo Sacramento:
"Em vós se vê o pão sagrado,
Todo o algarismo perdido,
Pois quando sois repartido,
então sois multiplicado.

Minha alma vos traz a rol,


Porque lhe dais muitos dias
Tão delgadas as fatias,
que vê por ellas o Sol.

Num constante somatório de significados, o programa iconográfico descreve o impulso


divino em direcção a alma, em diversos quadros onde mãos celestiais abrem, limpam,
alimentam e elevam o coração dos fiéis. Como escreve o erudito Padre Manuel Bernardes
(1724: 219, XLIV) nos seus dictames espirituais “A nossa alma é como espada; que, senão
passa por fogo e água, isto é, por trabalhos voluntários, e por tentações de prosperidade e
adversidade, nunca toma tempera, com que sem quebrar, dobre, e logo torne a ficar direita.”
A fé é traduzida assim em imagens que alertam os sentidos para a comunicação imediata
com a divindade, já que essa comunhão, plena e natural, actua sobre o coração através do
44
Os púlpitos possuiram um guarda-pó e uma grade em madeira executados por Francisco Rodrigues
Porto: “Cincoenta mil reis que o dito tesoureiro pagou a Francisco Roiz Porto, mestre/ entalhador,
pelos dous pulpitos com seus guarda/ pos que fez e assentou ...” (ASV, SV, TOMBO..., 1694-1696, fl. 218
v.º). O primeiro foi suprimido e a segunda substituída, no séc. XIX, pelos balaústres actuais.
António Celso Mangucci pg. 20
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

fogo, da água, do perfume das flores, ou do som da música. Todas as virtudes humanas são
provenientes desse amor, e a Virgem Maria é o exemplo glorioso desse amor de virtudes
simbolizado com o sol, a lua, a coluna, o cedro, a palmeira, a fonte, o castelo, as rosas e as
açucenas, como expresso no tecto da Igreja de Santos e em grande parte da literatura religiosa
coeva, de que podemos colher um exemplo no já citado Manuel Bernardes (1724: 561), com o seu
Cantico dos louvores da Mãe admirável, Maria Santíssima, Senhora Nossa:

Louvai obras do Senhor a Senhora:


porque ela é mais nobre,
a mais excelente, e perfeita obra do Senhor.
Louvai Sol, e Lua a Senhora:
porque a Senhora é escolhida como Sol,
e formosa como a Lua.
Louvai Estrelas do Firmamento a Senhora:
porque ela é a radiante Estrela,
que guia os navegantes do mar deste século.
Louvai nuvens do Senhor a Senhora:
porque ela é a nuvem leve,
que desceu a nós o Verbo de Deus humanado.
Louvai orvalhos da manhã a Senhora:
porque ela é o velo de Gedeão
que embebeu o celeste orvalho do Divino Verbo.
Louvai neves, e geadas a Senhora:
porque o candor de sua pureza
é o refrigério dos incentivos da nossa carne.
Lovai raios, e relampagos a Senhora:
porque ela é o resplandor claríssimo,
e eficacíssimo da luz da Divina graça.
Louvai todas as fontes, & mares do Senhor a senhora:
porque a Senhora é fonte fechada com o selo de Deus,
é o poço de águas vivas, e o mar de todas as graças juntas.
Louvai plantas, e flores do campo a Senhora:
porque ela é a rosa de Jericó, o lírio entre espinhos,
a palma de Cades, o cedro do Líbano, a árvore da vida,
que nos produziu o fruto felicíssimo da vida eterna.
Louvai montes do Senhor a Senhora:
porque a Senhora é o monte Santo de Sião,
onde se fundou o templo vivo da humanidade de Cristo...”

Mesmo a serpente, a pomba e a divina arca, símbolos alegóricos mais abrangentes


podem ser apropriados por esse culto mariano, como nas novenas em louvor de Nossa
Senhora da Conceição do Padre Manuel Consciência (1713: 12):
6 [Ave Maria etc.] O Maria Dulcíssima, Paraíso onde não entrou a infernal serpente, eu com o
coro das Potestades louvo vossa Puríssima Conceição, porque foi luzida sem a menor sombra.
7 [...] O Maria Dulcíssima, Pombinha a quem não manchou o lodo do pecado, eu com o coro das
Virtudes reconheço vossa Puríssima Conceição por inteminada sem a original nódoa.
António Celso Mangucci pg. 21
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

8 [...] O Maria Dulcissima, Divina Arca a quem não tocou o fatal diluvio, eu com o coro dos
cherubins exalto vossa Purissima Conceição, porque sempre foy Sancta desde o primeiro
instante.
A poética barroca convoca um universo simbólico polissêmico, como um alfabeto de
imagens cristãs, glosadas em inúmeras variações, e associadas a liturgia diária da igreja. Esse
compêndio simbólico, repartido por 72 cartelas suportadas por anjos alados, está rodeado de
pujantes decorações vegetalistas, numa linguagem decorativa cada vez mais apoiada por uma
perspectiva ilusionista. São mesmo esses brutescos grandiloquentes, coloridos e dourados a
principal preocupação do contrato redigido com o pintor José de Araújo, que é obrigado a
realizá-los a óleo, por ser mais durável, podendo no entanto executar o conteúdo figurativo
das cartelas a tempera: “...e no que toca a pintura do dito tecto se entenderá que somente o
lavor de brutesco será/ pintado a óleo, e os campos a tempera, por nesta forma estar
ajustados...” (AN/TT, AN, Contrato..., 1697: fl. Ver Anexos).
Nessa grande empresa, que excluiu a decoração da cimalha que ainda não estava pronta 45
José Araujo foi provavelmente auxiliado pelo genro António de Oliveira Bernardes, e pelos
pintores Paulo Freire de Macedo, José da Silva e Manuel do Vale, que nesse ano figuram como
testemunhas em contratos de compra de algumas propriedades celebrados pelo pintor.

45
Francisco Rodrigues Porto, agora auxiliado por Francisco Pereira realizaram a cimalha, junto ao tecto
de madeira, “que se estende as quatro faces da igreja, em redondo”, em 1703 (ASV, ISS, CONTRACTO...,
1703).
António Celso Mangucci pg. 22
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Esquema iconográfico do tecto da nave

Altar-mor

1A 2B 3A 4B 5C 6B 7A 8B 9A
Cálice e Coluna Cedro Esplendor Esplendor Espada no Corvo Mão Mão celestial
hóstia no entre divino solo destruindo celestial
espelho nuvens o coração abrindo o
coração
10B 11A 12B 13A 14D 15A 16B 17A 18B
Anjo Mão Mão Ramo de Coroa de Ramo de Guitarra Mão Serpente
amoroso celestial celestial rosas flores açucenas celestial
vendado vertendo pesando o erguendo
água no coração um coração
coração negro
19A 20B 21A 22B 23C 24B 25A 26B 27A
Mãos Palmeira Nau Aperto de Coroa Mão Hóstia e Fonte Medalha
celestiais mãos fechada celestial coração com cálice e
com hóstia celestial com um hóstia
e coração laço atado
(IHS)
28B 29A 30B 31A 32D 33A 34B 35A 36B
Mão Torre Fogo Pelicano Anjos Fênix Vinho e pão Caveira Jardim
celestial elevando a renascendo sobre a florido
lavando as custódia das chamas mesa
mãos
37A 38B 39A 40B 41 42B 43A 44B 45A
Pomba com Hóstia Caveira Três pães Querubim Árvore Animal Águas Coração
ramo resplande- com asa e sobre a brotando do florido
cente no espada mesa rochedo
templo
46B 47A 48B 49A 50C 51A 52B 53A 54B
Cortinas Agnus Dei Rochedo Coração Arca Cálice com Cruz Cesto com Mãos
abertas em chamas ferido por divina coroa de deitada frutos celestiais
uma flecha flores sobre o acendendo
rochedo um círio
55A 56B 57A 58B 59D 60B 61A 62B 63A
Mão Mesa em Flor de Monte de Queda do Feixes de Vide Agnus Dei Agnus Dei
celestial chamas açucena trigo maná trigo no céu sobre a mesa
alimentan-
do o
coração
64B 65A 66B 67A 68C 69A 70B 71A 72B
Rochedo Sol e urna Cálice e Agnus Dei Sol Agnus Dei Cinco pães Duas Mão celestial
com corvos hóstia amarrado brilhando e ave sobre a colunas mexendo a
consagrada sobre a entre mesa panela do
mesa nuvens coração

Coro alto

António Celso Mangucci pg. 23


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

AS MISSAS CANTADAS NO CORO ALTO

Na década de trinta do séc. XVIII, a Irmandade do Santíssimo amplia a sua capacidade


financeira, mercê da doação de um vasto património para custear a celebração de várias missas
cotidianas. Entre estas contam-se as seis instituídas pelo capitão Estevão Rodrigues de
Carvalho, em 1735; as cinco instituídas pelo capitão Francisco dos Santos, em 1738; e as duas
do sargento-mor Felipe de Santiago, em 1739. As clausulas destas escrituras estipulavam que
as missas deviam ser oficiadas no coro alto: “...rezem no coro o ofício divino de manhã e de
tarde, observando em tudo as rubricas do Breviário Romano” (LIVRO DE ADMINISTRAÇÃO..., s/d: fls.
33-40).

É então que a irmandade, para ampliar a solenidade da passagem de uma dúzia de


capelães da sacristia para o coro, opta por construir umas escadas nobres na torre da banda do
Tejo, colaborando na renovação da capela dos Santos Mártires, situada neste trecho, como,
algumas décadas depois, nos descreve o padre José Maria Ottolini:
“... e assim [os capelães] juntos e revestidos na sacristia procedessem via recta,/ de dois em dois,
para o coro, o qual como era mais pequeno, e a escada/ mais estreita; mandou por isso fazer a
escadaria de pedra, que vai para/ o coro; porém como a capela dos Santos Mártires era de talha
dourada, alta, e esbelta, e recebia a luz da janela, que/ [fl. 15] hoje tem a escada do coro, razão
porque para se formar esta escada larga/ e espaçosa foi preciso fechar o tecto da capela dos
Santos Márti/res com uma abobada, e ficar esta capela escura e sem luz, como hoje vemos ...”
(ASV, SV, COMPÊNDIO..., 1819: fls. 14 v.º e 15).
Em 1739, para o dia da celebração dos Mártires, a nova capela já estava pronta, e a
irmandade alcança licença do arcebispo de Lisboa para a missa de sagração, que rememora as
razões que haviam levado a destruição da primitiva capela:
“Porquanto os irmãos da Irmandade dos Santos Már/tires, Veríssimo, Máxima e Júlia sita na
freguesia da invoca/ção dos mesmos santos por sua petição nos representaram/ que em razão de
se fazerem na dita igreja algumas obras,/ por necessidade das mesmas, se demolira a capela
particular/ donde estavam colocadas as imagens dos ditos Santos/ Mártires; e porque agora se
achava já a dita capela/ reformada com grande perfeição, e pela nova forma a que/ passara, e
demolição que houvera, necessitava de ser/ benzida, para o que nos pediam, em conclusão, em
atenção/ ao que referiam, e estar tão proximamente a festividade dos/ ditos santos, lhes
concedêssemos licença para o reverendo paro/co da dita igreja poder benzer a capela para nela se
coloca/rem as imagens, e celebrarem os ofícios divinos, no que rece/beram mercê..." ( ASV, SM,
LICENÇA..., 1739: fl. 1).46

Essa campanha de obra incluiu também a renovação do baptistério, onde actualmente


existem painéis figurativos, infelizmente profundamente alterados por um “restauro”. Foi
Virgílio Correia (1918:193) quem primeiro chamou a atenção dos historiadores para esse
conjunto, com a publicação de um documento ligado ao pagamento “...pelo azulejo pintado,
destinado a forrar a casa da pia baptismal, e por vários outros arranjos na mesma casa...” ao
conhecido mestre ladrilhador Manoel Borges 47. Na opinião de Santos Simões ( 1979: 221) os
46
No entanto, mesmo esse novo retábulo foi radicalmente transformado no início do séc. XIX.
47
“...à margem: pia batismal, azulejo, lages, dia de canteiro e do ladrilhador que a assentou. Na lauda:
"Em 14 de Agosto de 1741 despendi, como thesoureiro da fabrica, pello azulejo pintado q se pos na
António Celso Mangucci pg. 24
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

painéis actuais são posteriores a 1741, data mencionada no acerto de contas. Recentemente
José Meco (1989: 96) colocou a hipótese, a nosso ver pouco fundada, dos painéis do baptistério
terem sido pintados pelo próprio Manoel Borges.
A confusão gerada pelo documento resulta do facto das obras da escada do coro estarem
associadas às obras da Capela dos Santos Mártires e do baptistério, dirigidas pela Irmandade
do Santíssimo Sacramento, com a contribuição da fábrica da paróquia.
É mais lógico nessa data que para finalizar as obras da escada, a Irmandade do
Santíssimo encomende o revestimento de azulejos ao mestre ladrilhador Manoel Borges 48. O
programa iconográfico, um espelho da perfeição exigida aos capelães, é tirado das gravuras de
Bloemaert, e provavelmente influenciado pelas pinturas realizadas por Francisco Vieira
Lusitano para o Convento dos Paulistas (SALDANHA, 1994: 205). Os padres da irmandade ao
subirem estas escadas, são convidados a imitar a ascese dos eremitas que, em oração,
distanciam-se dos palácios e das riquezas mundanas para albergarem-se na paz do senhor, em
meio a bucólicas ruínas. As cenas eremíticas são descortinadas por anjos alados numa das
melhores criações ornamentais atribuíveis ao pintor Nicolau de Freitas49.
Por estes anos, não podemos esquecer ainda a colaboração do arquitecto e mestre
entalhador Santos Pacheco50, que está a realizar para a igreja de Santos dois magníficos
confessionários:
“Despendeu mais para os confessionários que fez Santos Pacheco que importaram em cento e/
oitenta e um mil, e trezentos, pela conta, que ele,/ me deu com o feitio de madeira e valos, do que/
recebeu vinte moedas, que somam noventa e seis/ mil reis/ e mais quatro mil, e oitocentos reis/
que por conta do dito dei a José Rodrigues Tei/xeira como procurador das esmolas para a
ca/pela-mor, cuja quantia despendida somam cento e oitocentos reis [sic], 100$800/” ( ASV, SV,
LIVRO III..., 1752: fl. 126).51

O grande terremoto de 1755, apesar de, comparativamente, não afectar gravemente a


igreja, atingiu o centro da vida religiosa da Irmandade do Santíssimo Sacramento, já que a
queda da abobada do coro destruiu o cadeiral e parcialmente a escada:

casa da pia baptismal, de cal e area, dias de official de canteiro q. abriio os buracos, recortou as lages,
dias de trabalhador cincoenta e quatro mil quinhentos e quinze réis. Conforme constava de hum rol do
Me Ladrilhador Manoel Borges, 54$515. (a) Marçal de Fig.do P.ra” (CORREIA, 1918:193 e ASV, SV,
LIVRO II..., 1723).
48
Manoel Borges, um dos mais importantes mestres azulejadores do período, está associado a inúmeras
encomendas realizadas pela oficina de António de Oliveira Bernardes. Morador na freguesia de Santos-
o-Velho (c.1719-1741), era membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento.
49
Esta decoração conheceu um grande sucesso, e vários pintores de azulejos a utilizaram. Podemos citar
como exemplo os azulejos da capela e da sacristia da Quinta do Correio-mor, em Loures, os azulejos de
uma sala do Palácio da Mitra, em Lisboa e ainda os azulejos da Igreja Matriz de Santa Iria de Azóia. No
Museu Nacional do Azulejo conserva-se uma série de painéis figurativos com as campanhas militares do
imperador Alexandre e as mesmas molduras.
50
Aires de Carvalho (1964) publicou uma série de documentos que permitem acompanhar a carreira do
arquitecto e mestre entalhador, nascido em 1684, entre 1712 e 1753.
51
O arquitecto recebeu o pagamento das demais parcelas em 1758 e 1759 (IDEM: fl. 129 v.º e fl. 131 v.º).
António Celso Mangucci pg. 25
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

"Esta igreja paroquial não foi das que sentiu menos estrago, abatendo se lhe a abobada do coro,
de sorte que, dizem os mestres de obras que, se não repara com cinquenta mil cruzados, e nela se
não pode até o presente fazer mais que o concerto dos telhados, mas sempre se oficina [sic] nela."
(PORTUGAL e MATOS, 1974: 246).
Nos anos seguintes a irmandade esforça-se para reabilitar as suas propriedades e procura
a todo custo recolher fundos para as obras de reparação do coro alto, postergando assim a
campanha de conclusão da capela-mor. Entre as inúmeras intervenções no coro e nas escadas 52,
as mais importantes serão realizadas em 1761:
“Despendeu mais o nosso irmão tesoureiro,/ João da Costa de Araújo, seiscentos mil réis,/ que
tanto entregou ao nosso irmão/ João Silvestre da Silva, tesoureiro/ da receita e despesa das obras
que/ se fazem na reedificação do coro da/ igreja, cuja quantia se lhe man/dou entregar, por
empréstimo, o te/soureiro, para continuação da dita obra ...” (ASV, ISS, LIVRO DE DESPESA..., 1751-
1764: fl. 175).

A Irmandade do Santíssimo em virtude da destruição do seu património causada pelo terramoto viu-se
obrigada a pedir a redução das 12 missas cotidianas, alcançada em 2 de Novembro de 1787 ( ASV, ISS,
TOMBO..., 1699: fl.142-150).

52
Em 1774 completava-se o restauro das escadas e dos azulejos, infelizmente com a inserção de um
corrimão dividindo os painéis figurativos: "...que tanto despendeo com a obra do tecto do coro, e
conserto do azulejo da escada do mesmo coro, a saber com o teto da madeira, pintura e jornaes e
pregos, noventa e seis mil e oitocentos e oitenta reis, e do azulejo e conserto da escada, treze mil cento
e oitenta e seis reis, como tudo consta da rellação e documentos que vam a linha [...] 11 de Setembro
de 1774" (ASV, ISS, LIVRO DE RECEITA ...,1774-1777: fl. 10 v.º). Em intervenção recente este corrimão
foi removido, com os azulejos recolocados na situação original.
António Celso Mangucci pg. 26
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

UMA IGREJA PARA O MARQUÊS DE ABRANTES

Sucessivos adiamentos e conflitos prolongaram por mais de um século a execução da


capela-mor e das tribunas. O consentimento dos proprietários do Palácio de Santos foi
alcançado pela primeira vez em 174053:
“A necessidade que havia no tempo presente de se fazer capela-mor/ em razão de ficar com boa
correspondência/ com a obra do coro que está feita, e que para se fazer, oferecia, o Ilustríssimo e
Excelentíssimo Conde/ de Vila Nova, o chão que estava feito e/ principiado para a dita capela-
mor, e todo o mais que fosse necessário a fim de ficar a mesma capela/mor com toda a perfeição
devida...” (ASV, ISS, LIVRO DE ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 144).
Os irmãos decidem aceitar as contrapartidas exigidas pelo Conde de Vila Nova de
Portimão, que gostaria de possuir umas tribunas privativas na igreja, embora com a condição
de não estarem situadas na capela-mor:
“... com/ condição de se lhe permitir tribuna em alguma/ parte da igreja, não sendo na capela-
mor/ nem em parte que faça alguma deformidade à mesma igreja; e em declaração de/ intervir
primeiro em tudo a faculdade/ e beneplácito do nosso prelado o Excelentíssimo Reverendo/
Senhor Cardeal Patriarca, e de como assim/ convieram no referido acima, assinarão/ todos
aqui...”(IDEM).
Apesar da comissão54 constituída três anos depois, a obra teria que esperar o ano de
1755, quando. D. Manuel Rafael de Távora, genro do Conde de Vila Nova de Portimão, e
tutor do jovem Conde D. José de Lencastre, ao realizar importantes obras de adaptação na sua
residência (1753-55) avança também com a ampliação da capela-mor. O registo do pagamento
indica o mestre pedreiro Caetano Tomás55 (1700-1766) como principal responsável pelas obras:
“Carrego em despesa, ao nosso irmão te/soureiro, cento e trinta e sete mil, duzentos e/ noventa e
cinco réis, 137$295, que tanto despendeu na obra da capela/mor, em seis adições, que vão
carrega/das no livro da despesa da dita obra, assi/nadas por mim, escrivão, fl. 1 e fl. 1 vº, na
forma seguinte: 52$675 que primeiro importou o telheiro;/ 10$150, carreto das primeiras 6
pedras;/ 17$870 dito de mais 8;/ 7$600 dito de mais uma;/ 33$600 que se deu a Caetano
Tomás;/ 38$400 que se deu ao cabouqueiro;/ 137$295. E de como se fez esta des/pesa assinou o
irmão provedor, comigo, escrivão da mesa, em 10 de Julho de 1755” (LIVRO DE DESPESAS..., 1751-
1764, fl. 93 v.º).

A Panorâmica de Lisboa, de c.1769 deixa perceber o volume do sóbrio corpo da capela-


mor, que respeitava a edificação precedente. Com o terramoto, as obras do interior
permaneceram incompletas, possibilitando ao 5º Marquês de Abrantes uma nova tentativa de

53
Maria Gomes Ferreira (1955) publicou uma minuta com a promessa, feita pelos condes da doação do
chão e paredes para a capela-mor.
54
A Irmandade do Santíssimo nomeia para provedor e intendente da obra o Conde Barão, para escrivão
das esmolas o sargento-mor Felipe de Santiago, para tesoureiro António Lopes da Fonseca, e como
procuradores António da Costa de Araújo e Jorge de Abreu (ASV, ISS, LIVRO DE ASSENTOS..., 1566-1770:
fl. 161 v.º).
55
Muito activo em diversas empreitadas posteriores ao terremoto, gizou a fachada da Igreja de São José
dos Carpinteiros. Logo a seguir ao terramoto faz a vistoria do Palácio de Santos.
António Celso Mangucci pg. 27
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

demover a irmandade a aceitar a construção de tribunas nessa quadra, com ligação privativa à
sua residência:
Foi proposto pela/ mesa que neste cartório da mesma ir/mandade se achava uma doação feita/
pelo Excelentíssimo Senhor Conde de Vila Nova, seu/ antecessor, e juiz perpétuo desta
Irmandade,/ e que a dita se confirmasse pelo Excelentíssimo/ Senhor Conde para haver a dita ser
verdadeira/mente senhoria do dito chão e continuar/ a sua capela-mor, quando muito bem/
pudesse e o mesmo senhor fosse servido./ Respondeu o mesmo, nosso irmão, juiz,/ o
Excelentíssimo Senhor Conde de Vila Nova, D. Pedro/ de Lencastre que não confirmaria a dita/
doação sem primeiro se fazer uma junta,/ à qual se propusesse que ele desejava, edifi/car na
mesma capela-mor uma tri/buna à sua custa...” [Aprovada em Dezembro de 1780],. ( ASV, ISS,
LIVRO DOS TERMOS ...,1765, fl. 33)

Sanado momentaneamente o conflito, pode-se dar continuidade às obras, para a qual foi
pedido o parecer dos mestres especialistas que realizam uma vistoria à igreja em 1786 (ASV,
ISS, LIVRO DE DESPESAS..., 1776-1796, fl. 109). Esta campanha erigiu um imponente arco triunfal que
punha em correspondência os volumes da capela e da nave e também aprofundou a capela
colateral do evangelho, novamente dedicada ao Santíssimo Sacramento. No interior da capela-
mor abriam-se as passagens para a sacristia da Irmandade do Santíssimo e para a sacristia da
fábrica da igreja, com quatro portais simétricos de frontões triangulares. Estas obras
efectuadas entre 1787 e 1792 tiveram a supervisão do procurador da mesa da Irmandade do
Santíssimo Sacramento, Manoel José Ramalho, como consta de uma adenda às contas dos
referidos anos56, aprovadas em 1793:
“Com a declaração que achando-se/ a mesa pronta a tomar a entre/ga como manda o nosso
com/promisso, foi lembrado na mesma/ pelos diversos irmãos mesários que/ ainda senão contava
com a despesa de/ ser, mestre da obra que se fez nesta/ igreja, ao mestre Manoel José Ramalho;/
pois como tal foi eleito mestre, visto a mesa naquele tempo ter determina/do, com admitir quem
administrasse/ a mesma obra; e por contar a mesma mesa/ da sua assistência em todo o tempo,
Esta/ determinou que se lhe contasse o seu jornal,/ que feita a conta pelas folhas, importou/ na
forma de setecentos e noventa e quatro/ mil réis, segundo o mesmo passou quitação/ à mesma
irmandade que vai na linha; e assim/ mais setenta e oito mil duzentos e qua/renta réis que de
varias adições que não/ se lhe tinham levado em conta por enquanto as não tinha lançado, as
quais, verificadas a mesa, as aprova...” (ASV, ISS, LIVRO DE DESPESA..., 1776-1796, fl)
Neste mesmo ano, celebrando a conclusão das obras e também a sua participação na
empresa, a Irmandade do Santíssimo manda fundir uma custódia dourada para ser colocada,
como ainda hoje se verifica, sobre a pequena cartela que coroa o arco triunfal57.
Com a transferência do Santíssimo Sacramento para a capela colateral, estão criadas as
condições para a intervenção no interior da capela-mor, com licença do Cardeal Patriarca de
Lisboa, D. Tomas António Carneiro, para a construção das tribunas, num prazo máximo de
quatro anos. O Marquês de Abrantes, D. Pedro de Lencastre, gozaria também do direito a

56
Nas contas conjuntas entre os anos de 1787 e 1792 consta ainda a seguinte rubrica: “ Pelo que se lança
em sua despeza, importancia da que fez o procurador/ da meza Manuel José Ramalho, com a obra da
Igreja, 6:394$243” (ASV, ISS, LIVRO DE DESPESA..., 1787-1796: fl. 127).
57
“Despesa de huma custodia de latão fundida para/ o arco da capela-mor, como consta da/ conta e recibos
de Silvestre da Silva de Santa Theresa de 7 de Julho de 1792, 8$000 (ASV, ISS, LIVRO DE DESPESA...,
1787-1796: fl. 129).
António Celso Mangucci pg. 28
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

jazigo perpétuo (AN/TT, AP/CA, CONTRACTO..., 1800). As obras contratadas com o mestre pedreiro
Francisco António, em 1802 (AN/TT, AP/CA, ESCRITURA..., 1802), ficariam incompletas com a crise
económica que se seguiu às invasões francesas. Na primeira metade do séc. XIX, a capela-mor
apresentava-se com um grande retábulo fingido, em pintura sobre tela, segundo o testemunho
de Luís Gonzaga Pereira (1927: 493).
Quando novamente lançam-se as obras das tribunas e do novo retábulo da capela-mor,
em 1852, o plano do arquitecto Caetano José de Paula58 inclui, além da tribuna dos Marqueses
de Abrantes, uma segunda, fronteira, de uso exclusivo para a Irmandade do Santíssimo59.
As obras progridem lentamente e em 1856, António Mateus de Artiaga Souto Maior,
secretário da Irmandade do Santíssimo Sacramento, passa a dirigir as obras, progressivamente
substituindo Caetano de Paula. Neste ano Germano José de Salles, com oficina de cantaria na
Rua do Arsenal, fornece as pedras para a verga da tribuna, e também para lagear a capela-
mor60. Em 1858 o cabouqueiro José Luís fornece os balaústres. Mais importante é o recibo de
pagamento a Ignácio Caetano que realiza o novo retábulo para a capela-mor 61.Finalmente, em
29 de Setembro de 1861, a nova capela-mor é consagrada em missa solene.

São Vicente de Paula e as obras de 1878-1880


Segundo Pinho Leal (1990: VIII, 613-614) a Igreja de Santos-o-Velho correu o sério risco
de ser demolida em 1876. No entanto, após uma série de protestos que envolveram
“...milhares de cidadãos que solicitavam a permanência da igreja paroquial no mesmo sítio
onde há tantos séculos existia” (PEREIRA e RODRIGUES, 1904-1915: VI, 650), optou-se por obras de
reparação a cargo do Estado Português, que tinham como principal objectivo a consolidação
das estruturas do edifício. Tudo começou com o aparecimento de profundas fendas nas
paredes do edifício, ameaçando a segurança dos fiéis.
A fábrica da igreja, sem meios para realizar as obras, vê como única saída, a transferência
da paróquia, tendo mesmo o prior sugerido ao Cardeal a sua localização no Convento das
Trinas (ASV, ISS, OFÍCIOS...1875: fl. 7 v.º e 8). A solução encontrada prefere, no entanto, a Igreja de
São Vicente de Paula. Como medida de segurança, no dia 21 de Novembro de 1875, uma
solene procissão treslada o Santíssimo Sacramento, e esta igreja passa a desempenhar as
funções de paroquial (VELLOZO, 1895: 240).

58
: “Planta e alçado que desenhou/ para a obra da capella-mor da Igre/ja de Santos-o-Velho.” Paga a
Caetano José de Paula (ASV, ISS, ORDENS DE PAGAMENTO ..., 1852, maço relativo a obra da capela-mor).
59
Essa opção implicou a construção de quatro colunas de sustentação no interior da pequena capela
colateral da irmandade.Em obras recentes essas mesmas colunas foram removidas.
60
“... que satisfez a Germano/ João de Salles por conta da verga/ da tribuna da capella-mor/ e lageado
para a mesma capela como se ve do documento junto ...” (ASV, ISS, Ordens de Pagamento ..., 1856,
maço relativo a obra da capela-mor, n.º 19, de 30 de Junho de 1856)
61
“...que dei a Ignácio Ca/etano do 1º pagamento por/ conta do retábolo para a capela-mor da Igreja de
Santos...“ (ASV, ISS, Ordens de Pagamento ..., 1858, maço relativo a obra da capela-mor, n.º 39, de 30
de Dezembro de 1858)
António Celso Mangucci pg. 29
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

As obras são no entanto objecto de prolongadas negociações, e a comissão de obras da


igreja de Santos desdobra-se em frequentes visitas ao Ministério das Obras Públicas.
Finalmente em 1878, com a preciosa ajuda do Sr. Luís Vítor Le Coq, as obras iniciam-se,
consolidando o templo através de poderosos “gatos” que ligam as paredes, atravessando a
nave.
Para estas obras o solo da igreja foi parcialmente levantado destruindo e mutilando
importantes lápides funerárias. As obras de rectificação do pavimento que se seguiram alguns
anos depois agravaram o problema, dividindo-as ao meio e utilizando-as como base de
sustentação para a nova teia, que substituía pura e simplesmente a anterior com dois séculos de
existência62. Este mesmo espírito de renovação esteve na origem da remoção do magnífico
revestimento azulejar seiscentista, pouco conciliável com a feição depurada que procurava
instalar-se como directriz única no interior do templo.
No dia 26 de setembro de 1880, nova procissão treslada o Santíssimo Sacramento para a
igreja restaurada. As comemorações continuaram nos dias 1, 2 e 3 de Outubro, em homenagem
as Santos Mártires.
Para terminar a nossa cronologia resta-nos mencionar que o actual edifício onde
funcionam os serviços paroquiais foi construído a partir de 1901 ou 1902, englobando a
primitiva sacristia da Irmandade do Santíssimo Sacramento ( PEREIRA e RODRIGUES, 1904-1915: VI,
651). E lembrar aos leitores que, apesar do valor e antiguidade deste monumento, este não se
encontra classificado, ainda que já em sessão da Associação dos Arqueólogos Portugueses, de
28 de março de 1923, Rodrigues Simões sugerisse de maneira entusiástica que a Igreja de
Santos-o-Velho fosse declarada Monumento Nacional (PARRO, SANTANA e SALVADO, 1984: 52).

62
Realizada em 1888
António Celso Mangucci pg. 30
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

CAPELAS E IRMANDADES, RETÁBULOS E IMAGENS

Como vimos a vida da paróquia apoia-se em várias organizações de fiéis, da qual, a mais
importante é, sem dúvida a Irmandade do Santíssimo Sacramento, que muitas vezes confunde-
se com a própria organização da igreja, com a “fábrica da paróquia”. Atravessando
verticalmente o tecido social que compõe a população da freguesia, agrupando as mais
diversas profissões, a Irmandade do Santíssimo contou sempre com o patrocínio dos
proprietários do Palácio de Santos. A irmandade era sustentada através de cotas anuais e tinha
como principal objectivo a realização de um enterro condigno aos seus membros, velando,
com sucessivas missas, pela salvação de suas almas. Praticava também diversas obras
assistenciais garantindo a presença da custódia do santíssimo aos enfermos, distribuindo
esmolas aos desamparados, e dotes as noivas pobres da freguesia.
Essa organização da população da freguesia geria um património considerável, doado
pelos irmãos, provendo o sustento de vários capelães e de todo o aparato necessário para a
celebração de missas, a organização de procissões e festas religiosas. Para todas estas
actividades elegia um corpo dirigente, que reunidos em assembleia, “a mesa da irmandade”,
organizava a recolha de fundos e a contabilidade, escolhendo também artistas - muitas vezes os
seus próprios membros - para a execução de alfaias, paramentaria, retábulos e imagens.
É natural que as irmandades investissem grande parte dos seus rendimentos com os
retábulos, mantendo-os actualizados segundo os programas mais modernos, influenciando-se
mutuamente. Todos os retábulos da Igreja de Santos-o-Velho apresentam, assim, actualmente
uma morfologia muito semelhante. O mais antigo, o da capela de Nossa Senhora da Conceição
e Saúde, realizado no último quartel do séc. XVIII, possui um trono que progride, em
movimento ascensional, directamente da mesa do altar, com um movimento oblíquo de
abertura proporcionado pelas colunas. Nos restantes, esta orgânica foi substituída pela
configuração de uma tribuna delimitada por moldura, com as colunas e pilastras encastradas,
uma solução mais adequada à presença de pinturas, num programa neoclássico generalizado no
transcorrer do séc. XIX.
Foi o que aconteceu, por exemplo com o altar da capela dos Santos Mártires 63, realizado
“a moderna, a imitação, pouco mais ou menos, conforme a fronteira de Nossa Senhora da
Bonança”, pelo mestre carpinteiro Manuel António da Silva e pelo mestre dourador Luís
Pereira da Costa, em 1816 (ASV, SM, LIVRO III..., 1771: fl. 51 e 53). Pela sua monumentalidade
distingue-se a execução, em 1858-59, do grandioso retábulo da capela-mor, com risco do
arquitecto Caetano José de Paula.
Para a história da invocação das capelas, apresentadas segundo a sua actual invocação,
apoiamo-nos nos documentos do Arquivo da Igreja de Santos-o-Velho e também nos
testemunhos do Padre António Carvalho da Costa (1712: III, cap. XXXV), e do Prior Gonçalo
Nobre da Silveira (1974: 243-7).
Todos os altares são adornados com umas pequenas colunas de relevos de madeira
branca e dourada.
63
No pagamento não se menciona o nome do arquitecto que forneceu a planta.
António Celso Mangucci pg. 31
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Capela colateral do lado da epístola, com imagens de Nossa Senhora da Conceição,


Santa Ana e São Joaquim
Como vimos a Irmandade de Nossa Senhora está associada a procissão cumprindo um
voto tomado na peste de 1569-70. Aparece identificada, em 1646, num contrato de
arrendamento, como a Irmandade de Nossa Senhora da Saúde. Provavelmente já estaria
extinta quando, em 1688, o Conde de Figueiró institui duas missas quotidianas nesta capela.
No segundo quartel do séc. XVIII, à convite do prior de Santos-o-Velho, a Irmandade
de Nossa Senhora da Conceição de Alcabideche, que reunia-se em torno de uma pequena
ermida de Nossa Senhora da Caridade, na Rua do Arcipreste, vêm animar o culto mariano,
segundo consta de um termo datado de 19 de Março de 1748 (ASV, SV, LIVRO II..., 1723: fl. 236)
ano em que também é lhe concedida o breve do Papa Bento XIV ( AN/TT, AP/CA, Breve..., 1748).
Preparando a sua instalação a irmandade contratou com o mestre entalhador Pantalião
Machado Pereira, e seu companheiro Bernardo Gualter as obras de remodelação da tribuna do
retábulo, no valor de 46 mil réis (Ver o livro de termos dessa irmandade).

Primeira capela da epístola, de invocação do Sagrado Coração de Jesus, com imagens de


São José e Santa Teresinha
Segundo o contrato com o organista de 1592 ( cf. Anexos), existia na primitiva Paroquial
de Santos-o-Velho uma irmandade dedicada a São Sebastião, que manteve-se quando da
reedificação filipina. Segundo a descrição setecentista do templo (COSTA, 1712: III, 512) esta
capela tinha como orago principal Santa Luzia, com imagens de São Sebastião e São
Francisco.

Segunda capela do lado da epístola, dedicada a Santo António, com imagens de Santa
Bárbara e São Domingos
Depois da reconstrução filipina, a Irmandade de Santo António contrata um novo
retábulo para a sua capela (SERRÃO, 1984-88: 80), embora no Arquivo de Santos não se conserve
nenhum documento referente a esta irmandade. Essa capela recebeu em finais do séc. XIX a
imagem de Nossa Senhora de La Salete, proveniente do Convento das Albertas ( PEREIRA e
RODRIGUES, 1906-1912: II, 649).

Terceira capela do lado da epístola, dedicada a Nossa Senhora de Fátima.


O programa da reconstrução seiscentista, dedicou esta capela à invocação de Santa
Catarina. Francisco de Mendonça instituiu aqui a primeira missa cotidiana da Paroquial,
doando ricas alfaias para esta capela, administrada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento.

António Celso Mangucci pg. 32


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

No séc. XVIII esta capela vê nascer a Irmandade de Nossa Senhora da Bonança,


constituída principalmente por marinheiros. Frei Agostinho de Santa Maria ( 1715: VII, 93)
descreve minuciosamente a imagem e a história de sua invocação:
“Muito antiga, de barro, e a sua estatura não passa muito de dois palmos e meio. Com ela tomou
muita grande devoção Manuel da Cunha, piloto das naus da Junta [...] pediu ao tesoureiro, o
Padre Francisco Rodrigues Sobreira, entregando-a ao pintor José da Silva, que a compôs
ricamente, foi isto no ano de 1706”.
Como se depreende da descrição, a imagem que actualmente esta exposta numa
maquineta na nova sacristia da Irmandade do Santíssimo Sacramento não é a primitiva 64.
Segundo o mesmo autor, o antigo retábulo fora dourado em 1707, pela generosidade do
capitão Miguel da Silva Barreto. Em 1716 a Irmandade do Santíssimo concede a Irmandade de
Nossa Senhora da Bonança licença para esta fazer uma nova tribuna ( ASV, ISS, LIVRO DE
ASSENTOS..., 1566-1770: fl. 131). Em 1744 a irmandade recebe o breve65 de Pio XIV. A grande
devoção “dos navegantes” levou a que esta irmandade fizesse em 1787 o pedido para que a
festa desta invocação fosse transferida da segunda oitava da Páscoa, para o dia 8 de setembro:
“Que se fizesse também uma maquineta boa para a nossa capela, afim de nela estar Nossa
Senhora em toda a decência, e que a festividade da mesma Senhora que se fazia na segunda
oitava da Páscoa se fizesse no dia 8 de setembro, pela razão de ser tempo próprio em que aqui
existem a maior parte dos navegantes que são irmãos...” (ASV, NSB, ESTATUTOS..., 1744: fl. 134 v.º)

Capela colateral do evangelho, dedicada ao Santíssimo Sacramento


A reconstrução filipina escolheu a capela colateral do evangelho para albergar o
Santíssimo Sacramento. Em 1619, transfere-se o sacrário para o altar-mor, e esta capela passa
a invocação do Santo Cristo e Nossa Senhora da Piedade. A longa campanha de obras de
ampliação da capela-mor, levou a que o Santíssimo voltasse para a sua primitiva capela ( ASV,
ISS, ESCRITURA..., s/d), renovada com o patrocínio generoso de D. Pedro de Lencastre, 5º
Marquês de Abrantes, entre os anos de 1789 e 1793.
“No ano de 1793, mandou o Excelentíssimo Senhor/ Marquês de Abrantes D. Pedro de
Lencastre/ fazer os cancelos, sacrário,/ painel e todos os ma/is ornamentos da capela do
Santíssimo Sacramento/ por sua devoção, à sua custa ...”(ASV, SV, LIVRO IV..., 1789: última fl.)
O interior, sóbrio, é revestido de mármores e coberto por uma abóbada de berço, ao
tempo pintada com ornatos neoclássicos. Tinha ao fundo um pequeno retábulo com uma tela
de Pedro Alexandrino representando a última ceia.

Primeira capela do evangelho, do Senhor Crucificado, com imagens de Nossa Senhora e


São João Evangelista, e nos nichos laterais imagens de Santa Luzia e Santa Rita de
Cássia.

64
Em 1773, a Irmandade do Santíssimo adquiriu uma nova imagem de Nossa Senhora, encarnada em
Janeiro do ano seguinte (ASV, ISS, LIVRO DE DESPESAS..., 1763-1779: fl. 215 v.º).
65
AN/TT, ACA, nº 198, rg. 4150.
António Celso Mangucci pg. 33
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Segundo António da Costa (1712: III, 512) esta seria a capela dedicada a São Pedro com
Irmandade dos Pescadores, irmandade mencionada no contracto de arrendamento de umas
casas celebrado com a Irmandade do Santíssimo Sacramento em 1652 (ver Anexos).
Em 1718, cria-se a Irmandade “dos escravos da Via Sacra, do Santo Cristo e da
milagrosissima Senhora da Piedade”, que segundo o seu livro de compromisso, recuperava
uma tradição da paroquial. Esta irmandade inspirada pelo exemplo do venerável Fr. António
das Chagas, tinha como principal objectivo a realização de uma procissão com os catorze
passos do calvário, todas as sextas feiras ao cair da tarde até a sua pequena ermida situada no
adro do Mosteiro da Esperança ( ASV, NSP, LIVRO DE COMPROMISSO, 1718), que em primeiro lugar
ocupa a capela colateral do evangelho. Com a transferência da Irmandade do Santíssimo para
esta em 1788 a primeira capela do evangelho, de São pedro é adaptada para receber a
Irmandade de Nossa Senhora da Piedade. Em 1793-94 faz-se um novo retábulo para o altar
(NSP, 3: fl. 27v.º e 28)

Segunda capela do evangelho, com invocação de Nossa Senhora do Carmo e imagens de


Santo André e São Lourenço
Na reedificação de 1602 manteve-se uma capela com esta invocação situada ao lado do
púlpito. No séc. XVIII assinala-se a presença da imagem de São Francisco Xavier ( COSTA, 1712:
III, 512) que passa a constituir a invocação principal (PORTUGAL e MATOS, 1974: 243-7).

Terceira capela do evangelho, dedicada a São Miguel, com imagens de São Brás e Santo
Amaro
O contrato de 1600 menciona a Irmandade das Almas, certamente tendo por orago São
Miguel, o protector das almas, situação que se manteve inalterada até nossos dias. Em 1712
entra para a irmandade o insigne pintor André Gonçalves66, que como pagamento oferece um
painel que foi colocado nesta capela. Segundo o testemunho do Padre Costa ( 1712: III, 512)
possuía “um capelão com quarenta e dois mil réis de renda”.

Capela dos Santos Mártires


No Arquivo de Santos-o-Velho, guarda-se o Compromisso da Irmandade dos Santos
Mártires de 1631, o mais antigo de todos os compromissos conservados nesta paroquial. O
Padre António da Costa ( 1712: III, 512) menciona, um pouco enigmaticamente, que havia
“junto a porta principal uma excelente capela dedicada aos Santos Mártires, debaixo da
qual está outra, que é o lugar aonde os Santos foram sepultados; tem boa irmandade com
seu capelão”.
A Capela dos Santos Mártires foi totalmente remodelada nos finais do séc. XVIII,
seguindo de perto o programa da Capela do Santíssimo Sacramento, com uma planta quadrada
66
O pintor residia então na freguesia de Nossa Senhora das Mercês, na Rua do Carvalho (ASV, SMA,
LIVRO DE ASSENTOS..., 1738: fl. 1).
António Celso Mangucci pg. 34
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

coberta por uma cúpula em meia esfera e interior inteiramente revestido de mármores e
estuques fingidos. O projecto apesar de invocar uma cripta, em memória dos santos que aqui
foram enterrados, nasce condicionado pela altura e também pela ausência de luz no interior da
capela. Esta é uma das razões que levou a abertura dos arcos da fachada, criando uma galilé, e
a erecção do portal interior e do guarda-vento.
No seu interior subsiste um interessante painel de azulejos ornamental rocaille, dos
meados do séc. XVIII, azul e branco, aplicado no pequeno recesso lateral, que em cartela
apresenta os instrumentos do martírio dos santos padroeiros, enquanto a lápide assinala o local
onde estariam sepultados os Santos Mártires:
PROPIO LVGAR/ EM Q FORÃO SE/PULTADOS OS/ SSS MARTIRES/ VERISSIMO
MA/XIMA E/ IULIA EM/PERADOR DIO/CLICIANO NO/ ANNO DE 307

António Celso Mangucci pg. 35


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

IMAGENS

1- Paço de Santos, 1º quartel do séc. XVI, Iluminura de António de Holanda para a


Genealogia dos Reis de Portugal

2- Grande Vista de Lisboa, c.1700, Museu Nacional do Azulejo. A vista, tomada do rio,
mostra somente a cabeceira e a fachada lateral sul. Templo alto, aliás
propositadamente engrandecido para salientar a sua importância no contexto
citadino, possui um único campanário rectangular de cobertura cónica, que o pintor
usou indistintamente para distinguir também outros edifícios religiosos desta área.
Note-se a rigorosa descrição das traseiras da capela-mor, manifestamente pequena
para o trono do novo retábulo (1665) que supera a profundidade do muro, obrigando
a construção de uma caixa saliente.

3- Vista Panorâmica de Lisboa, c.1767-1769, desenho aguarelado. Lisboa, Academia


Nacional de Belas Artes. No adro fronteiro a igreja, o cruzeiro. Nova capela-mor.

4- Igreja de Santos-o-Velho, c.1833, de Luís Gonzaga Pereira. Apesar da ingenuidade do


desenho é a única representação do portal desenhado pelo arquitecto João Antunes.

5- Cortejo régio de passagem em frente à Igreja de Santos-o-Velho, meados do séc.


XIX, atr. a Tony de Bergue, Colecção Particular, in Catálogo...,1947.

6- Igreja de Santos-o-Velho, xilogravura, Archivo Pitoresco, Lisboa, 1863 (reproduzida


em Lisboa, Revista Municipal, 2ª série, nºs 8/9/10; 2º,3º e 4º trimestre de 1984, pg.
52)

7- Relevo com a representação dos Santos Mártires, da segunda metade do séc. XVI.
Finamente esculpidos, Máxima, Veríssimo e Júlia, apresentam-se na plenitude
juvenil trajando como peregrinos. Um anjo os envia a Lisboa para confessarem a
sua fé, em traje de romeiros, com bordões compridos.

8- Imagens em terracota de Nossa Senhora e São João Evangelista, 3º quartel do séc.


XVI. Provavelmente executadas nas olarias do Mocambo, por mestres flamengos,
pertenciam a uma pequena ermida próxima do Convento da Esperança, da
Irmandade de Nossa Senhora da Piedade.

9- Azulejo de padrão de inspiração flamenga, dos finais do séc. XVI, de que se


conserva actualmente um único exemplar no Museu Nacional do Azulejo (P-7),
proveniente da Igreja de Santos-o-Velho (SIMÕES, 1971: I, 28).

10- Pias de água benta, 1615.

11- Cardeal D. Veríssimo de Lencastre (1615-1692). O cardeal não esqueceu no seu


testamento a igreja em que fora baptizado, fazendo a doação de uma lanterna de
prata dourada, para a Irmandade do Santíssimo Sacramento, que se obrigava a
mante-la ininterruptamente acesa no altar. Foi executada pelo ourives Paulo Alves
Brandão por um conto, trinta e cinco mil e quinhentos réis, em 1700 ( ASV, ISS,
TOMBO..., 1699: 63 v.º) e tinha como modelo a lâmpada da capela-mor do

António Celso Mangucci pg. 36


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Hospital Real de Todos os Santos: "...da maneira seguinte/ que ele, Paulo
Alves Brandão67, fará a dita lâmpada, de modo que importe,/ [v.º] entrando
o feitio, dois mil e quinhentos cruzados, lisa, o mais delgada/ que puder ser,
que fique bem aparatosa, pelo modelo da que está na capela/mor do
Hospital Real de Todos os Santos; a qual será feita com toda a perfei/ção,
à vontade dos juiz e oficiais da dita irmandade, e lhe darão por cada/
marco que pesar, que serão pouco mais ou menos cento e trinta marcos,/ a
cinco mil e seiscentos réis, e de feitio por cada marco mil [riscado: il.] e
terá/ mais esta lâmpada, do bojo até o acicate, as armas de sua eminência,/
o senhor cardeal, que Deus tem, D. Veríssimo de Lencastre, as quais hão de
ser/ douradas...” (AN/TT, AN, CONTRATO..., 1700: fl. 49 e v.º). "
12- Padrão de módulo 12x12 (desenho), reservas da Igreja de Santos-o-Velho. Os
pequenos silhares que hoje ornamentam o interior da nave, apesar de copiarem com
alguma fidelidade um dos padrões e a barra utilizados no revestimento original
seiscentista, transmitem apenas uma pálida ideia do esplendor original desta
decoração. Provavelmente durante a remodelação dos finais do séc. XVIII, os
azulejos seiscentistas foram removidos e parcialmente utilizados como rodapé e
ainda como revestimento do terraço sobre o coro alto. Com base nesses exemplares
podemos reconstituir a decoração parietal da nave, organizada em dois níveis,
utilizando-se para o superior o P-999, “uma das mais notáveis criações da nossa
azulejaria” (SIMÕES, 1971: 124) e para o inferior o P-461. Os tapetes eram
cuidadosamente circundados por uma barra de motivos geométricos (B-63), um
friso de cadeias (F-10) e uma tarja branca. Com toda a probabilidade, a encomenda
realizou-se por volta de 1630, e estes contam-se entre os primeiros exemplares desta
criação da azulejaria portuguesa seiscentista que, de maneira feliz, funde o rigor
geométrico com uma ornamentação maneirista.

13- Crucifixo de pau preto, chapeado com prata lavrada. Cristo em marfim, ladeado por
São João Evangelista e Nossa Senhora, e na base seis edículas com estatuetas.

14- Custódia do Santíssimo Sacramento. A Custódia do Santíssimo foi escolhida,


juntamente com a píxide de prata dourada, para participar na importante exposição
de arte ornamental realizada em Lisboa no ano de 1882. Vem descrita com o número
393 da sala N: "Custodia de prata dourada com pedras brancas, roxas e verdes. A
base do relicário pode servir de cálix. Tem quatro tintinabulos. O relicário,
cercado por um resplendor, está entre seis colunas que sustenta uma arquitrave
sobre a qual quatro estatuetas de anjos empunham instrumentos da paixão. Na
mesma arquitrave apoia-se uma cúpula hemisférica, encimada por um lanternim
que serve de peanha à imagem de Jesus Cristo. Altura 0,98. Século XVII" (A
EXPOSIÇÃO..., 1882: II, 46).

67
O contrato já estaria redigido com o ourives Rodrigues Prego, que viu o seu nome riscado e
substituido pelo de Paulo Alves Brandão.
António Celso Mangucci pg. 37
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

15- Tecto em madeira, projectado por Teodósio de Frias, em 1609 e concluído no decorrer
da terceira década do século XVII, foi decorado com um programa de emblemas
pelo pintor José Ferreira do Araújo, no ano de 1697.

16- Púlpitos de embutidos de mármore, desenhados por João Antunes em 1695. As


grades foram substituídas por balaustres em intervenções realizadas na segunda
metade do séc. XIX.

17 - Azulejos da escada de acesso ao coro alto, c. 1741

18- Livros iluminados. No transcorrer da quinta década do séc. XVIII, várias confrarias
da paróquia reformaram os seus estatutos. A Irmandade dos Santos Mártires e a da
Nossa Senhora da Bonança em 1744, a do Santíssimo Sacramento em 1745, e a de
Nossa Senhora da Conceição e Saúde em 1749. Estas obras seguem um mesmo
figurino, com a folha de rosto da abertura apresentando uma bela iluminura com a
invocação da irmandade, com graciosas capitais fitomórficas abrindo cada capítulo.

19- Confessionários em pau santo, arquitecto Santos Pacheco, 1752

20- Capela do Santíssimo Sacramento (fotografia), ainda com o pequeno retábulo com a
tela de Pedro Alexandrino e as colunas inseridas quando da construção das tribunas
da Irmandade do Santíssimo, em 1860.

21 A Última Ceia, tela de Pedro Alexandrino, c.1792. O quadro actualmente está


aplicado sobre a porta lateral, no transepto. Sob o livro, à direita, encontram-se o
monograma P A, de Pedro Alexandrino.

22- O coro alto foi elevado com portentosa tribuna dourada, decorada com balaústres
finamente lavrados divididos por estípites. Após a extinção das ordens religiosas, o
órgão do coro baixo do Convento de Nossa Senhora da Piedade da Esperança foi
transferido para o coro da Igreja de Santos (SILVA, O mosteiro da Esperança).
Actualmente muito danificado, este interessante instrumento foi fabricado em
Lisboa, pelo mestre Fontana, em 1801.

António Celso Mangucci pg. 38


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

GENEALOGIA

D. Luís de Lencastre, 1º Comendador-mor de Avis (m. 1574) e D. Madalena de Granada

D. Luís de Lencastre, 2º Comendador-mor de Avis (m.1613) e D. Filipa de Meneses

D. Francisco Luís de Lencastre, 3º Coimendador-mor de Avis (m. 1667) e D. Felipa de Mendonça

..... D. Veríssimo de Lencastre, Inquisidor Geral de Portugal e Cardeal da Santa Igreja Romana (1615-
1692)

D. Pedro de Lencastre, 2º Conde de Figueiró (m.1658) e D. Madalena de Lencastre

D. José de Lencastre, 3º Conde de Figueiró (1639-1687) D. Filipa de Vilhena

.... D. Luís de Lencastre, 4º Conde de Vila Nova de Portimão (1644-1704) D. Madalena de Noronha

D. Pedro de Lencastre, 5º Conde de Vila Nova de Portimão (1699-1752), D. Maria Sofia de Lencastre

D. Isabel de Lencastre (1713-1742) e D. Manuel Rafael de Távora

D. José Maria Gregório Veríssimo Xavier de Lencastre, 6º Conde de Vila Nova de Portimão (1742-
1771) e D. Maria da Conceição de Lencastre

D. Pedro de Lencastre Silveira Castelo Branco de Sá e Meneses, 5º Marquês de Abrantes (1763-1828)


e D. Maria Joana Xavier de Lima

D. José Maria da Piedade de Lencastre, 6º Marquês de Abrantes (1784-1827) e D. Helena Vasconcelos


e Sousa

D. Pedro Maria da Piedade de Alcântara Xavier de Lencastre, 7º Marquês de Abrantes (1816-1847) e


D. Luísa de Guião

D. José Maria da Piedade Lencastre e Távora, 11º Conde de Vila Nova de Portimão (1819-1870) e D.
Maria Rita Correia e Sá

D. João Maria da Piedade de Lencastre e Távora, 8º Marquês de Abrantes (1864-1917) e D. Maria


Carlota do Amaral

António Celso Mangucci pg. 39


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

BIBLIOGRAFIA

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António Celso Mangucci pg. 42


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

FONTES

ARQUIVOS NACIONAIS / TORRE DO TOMBO

1- Arquivos Notariais
CONTRATO das obras de carpintaria da Igreja de Santos-o-Velho, 29 de Maio de 1609, Lisboa, Cartório 9A,
caixa 9, maço 9, livro 41, fls. 54-55 v.º
CONTRATO, não outorgado, entre a Irmandade do Santíssimo Sacramento e o mestre pedreiro Gonçalo da
Costa, 18 de Julho de 1696, Lisboa, Cartório Notarial 11, livro 364, fls. 45-46

CONTRATO entre a Irmandade do Santíssimo Sacramento e o Pintor José Ferreira, 16 de Agosto de 1697,
Lisboa, Cartório Notarial 11, Livro 366, fls. 91 v.º-92 (nuneração rasurada)

CONTRATO entre a Irmandade do Santíssimo Sacramento e o ourives Paulo Alves Brandão, para a confecção
de uma lampada em prata dourada, 20 de Março de 1700, Lisboa, Cartório Notarial 11, Livro 375, fls. 49-50
v.º

2- Arquivos Paroquiais - Santos-o-Velho

MISTOS, 1566-1570, caixa 1, livro 1

MISTOS, 1578-1592, caixa 1, livro 2

MISTOS, 1596-1623, caixa 1, livro 3, páginas não numeradas

3- Arquivos Particulares - Casa de Abrantes

JUSTIFICAÇÃO do processo de aquisição do prazo de Santos, s/d, n.º 97, rg. 2070

DECRETO nomeando D. Francisco de Lencastre provedor das obras da Igreja de Santos-o-Velho, 1615, rg. 2074

CONTRACTO entre os Marqueses de Abrantes e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para a construção da


capela-mor, 1800, rg. 2062

REGISTO DE DESPESAS com as tribunas e capela-mor da Igreja de Santos-o-Velho, 1857-1860, rg. 2063

CONDIÇÕES do Conde de Vila Nova para a concessão do terreno para a construção da capela-mor, c. 1760, rg.
2061

ESCRITURA de contracto entre o Marquês de Abrantes e o mestre de obras Francisco António, para as obras
da capela-mor e no Palácio de Santos, 1802, rg. 2069

BREVE da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição..., 1748, nº 198, rg. 4152.

4- Chancelarias Régias, Felipe II

António Celso Mangucci pg. 43


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

RENOVAÇÃO DO ALVARÁ de Fernão Teles de Meneses como provedor das obras da Igreja de Santos-o-Velho,
1604, Privilégios, 1601-1614, livro III, fl.107 v.º

5- Conventos Diversos, Mosteiro de Santos-o-Novo

CONTRATO de emprazamento com Afonso da Barreira, 1566, cx. 18, maços 74 a 79, n.º 1731, (n.º 26)

ARQUIVO DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

1- Cartório da Irmandade de Nossa Senhora da Bonança

CLASSIFICAÇÃO mensal da receita e despesa da Congregação de Nossa Senhora da Bonança, 1923, NSB, n.º
19

ESTATUTOS da Congregação de Nossa Senhora da Bonança, 1744, NSB, n.º 3

2- Cartório da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição e Saúde

ESTATUTOS da Congregação de Nossa Senhora da Conceição e Saúde, 1749, 1885, NSCS, 2

3- Cartório da Irmandade do Santíssimo Sacramento

CONTRACTO da cimalha do tecto da Igreja de Santos, 1703, B5, n.º 615

ESCRITURA de compra das casas juntas ao adro ao Visconde de Asseca, 1700, ISS, n.º 464

ESCRITURA de troca que a irmandade fez com a Congregação da Via-Sacra, Santo Cristo e Nossa Senhora da
Piedade, da sua capela que tem à direita do altar-mor, ISS, n.º 590

ESTE LIVRO ha de servir para a arrecadação do rendimento anual das propriedades, ISS, n.º 397

LIVRO DE ADMINISTRAÇÃO das Capelas, s/d, ISS, n.º 397

LIVRO DE ASSENTOS de posse dos irmãos da mesa da Irmandade do Santíssimo Sacramento , 1616-1668, ISS,
n.º 431

LIVRO DE ASSENTOS dos irmãos da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1566-1770, ISS, n.º 4

LIVRO DE COMPROMISSO da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1745, ISS, n.º 7

LIVRO DE DESPESA da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1655, ISS, n.º 271

LIVRO DE DESPESA da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1751-1764, ISS, n.º 291

LIVRO DE DESPESA da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1763-1779, ISS, n.º 297

LIVRO DE DESPESA da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1774-1777, ISS, n.º 299

LIVRO DE DESPESA da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1776-1796, ISS, n.º 302

LIVRO DE RECEITA da Confraria do Santíssimo Sacramento, 1658-1660, ISS, n.º 272


António Celso Mangucci pg. 44
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

LIVRO DE RECEITA e despesa da mesa do Santíssimo Sacramento do ano de 1633, ISS, n.º 268

LIVRO DE RECEITA e despesa da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1644, ISS, n.º 266

LIVRO DE RECEITA e despesa da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1660-1666, ISS, n.º 273

LIVRO DE TERMOS da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1765, ISS, n.º 8

TÍTULO da fundação das casas no adro da igreja e licença de D. Francisco Luís de Lencastre, 1630, ISS, B-1,
n.º 462

TOMBO dos bens da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1699, ISS, n.º 16

MAPA DA RECEITA e Despesa da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1778, ISS, B-5, n.º 631

OFÍCIOS, 1875, ISS, n.º 453

ORDENS DE PAGAMENTO e Documentos de Despesa do Cofre da Irmandade do Santíssimo de Santos , 1852,


ASV, ISS, n.º 731

ORDENS DE PAGAMENTO e Documentos de Despesa do Cofre da Irmandade do Santíssimo de Santos , 1856,


ISS, n.º 732

ORDENS DE PAGAMENTO e Documentos de Despesa do Cofre da Irmandade do Santíssimo de Santos , 1858,


maço relativo a Obra da Capela-mor, nº 39, de 30 de Dezembro de 1858, ISS, n.º 743

DOCUMENTOS relativos à obra que se fez na Igreja de Santos em 1602, ISS, B-5, n.º 615

PAPÉIS RELATIVOS a penhora contra Manoel José Ramalho, ISS, n.º 495

QUITAÇÃO a Francisco Mendonça, tesoureiro das obras que se fizeram em Santos, 1647, ISS, n.º 624

SENTENÇA contra a Irmandade dos Santos Mártires, ISS, n.º 557

4- Cartório da Irmandade de Santo Cristo e Nossa Senhora da Piedade


LIVRO DE ASSENTOS da Irmandade do Santo Cristo e Nossa Senhora da Piedade, 1760-1901, NSP, 2

5- Cartório da Irmandade dos Santos Mártires


COMPROMISSO da Irmandade dos Santos Mártires, 1631, SM, n.º 1

ESTATUTOS da Congregação dos Gloriosos Santos Mártires, 1740, SM, n.º 2


LICENÇA do Cardeal Patriarca de Lisboa para benzer-se a nova capela dos Santos Mártires, 1739, Papéis
Avulsos, SM, n.º 3

LIVRO III dos Termos dos Irmãos da mesa de São Miguel e Almas, 1771, SM, n.º 5

6- Cartório da Irmandade de São Miguel das Almas

LIVRO DE ASSENTOS dos Irmãos da Irmandade de São Miguel das Almas, 1738, SMA, n.º 1

LIVRO DAS DELIBERAÇÕES da Irmandade de São Miguel das Almas, 1877, SMA, n.º 6

António Celso Mangucci pg. 45


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

7- Cartório da Paróquia de Santos-o-Velho


COMPÊNDIO de várias notícias dignas de memória, 1819, SV, n.º 203

LIVRO I da receita e despesa da fabrica que começa no ano de 1703, SV, n.º 219

LIVRO II da receita e despesa da fábrica da Freguesia de Santos-o-Velho, 1723, SV, n.º 210

LIVRO III da receita e despesa da fábrica da Freguesia de Santos, 1752, SV, n.º 221

LIVRO IV da receita e despesa da fábrica de Santos-o-Velho, 1789, SV, n.º 213

PROPRIEDADES citas na Freguesia de Santos-o-Velho para da renda delas se cobrar a meia décima para as
obras da dita igreja, ano de 1677, SV, n.º 206

TOMBO DAS CASAS da freguesia de Santos-o-Velho, meia décima, 1694-1696, SV, n.º 207

TOMBO DAS FAZENDAS e tercenas da Freguesia de Santos-o-Velho, meia décima, 1694-1696, SV, n.º 208

António Celso Mangucci pg. 46


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

ANEXOS

Doc. 1
Registo da elevação da Igreja de Santos-o-Velho em Paroquial
AN/TT, AP, SV, Mistos, 1566-1570, página de abertura

[Transcrição literal]

Ljvro dos bautjsmos desta/ Igreja de Samtos nova/memte urgida para fre/guezia pelo Cardeau Jn/fante
arcebispõ desta ci/dade nosso senhor comexou/ esta freguezia a servjr/ bespora de São João desta/ era
de 1566 de que eu cura/ Salvador de Contreras/

“Transcrição do assento em fronte, que pela forma antiquada de seus characteres ja nem todos o podem
entender, cuja lição he da maneira seguinte:

Livro dos bapismos desta igreja de santos novamente eleita por freguzia pelo cardeal Infante Arcebispo
desta cidade, nosso Senhor: anexou sta freguezia e a unio a corporação de são pedro nesta era de 1566 :
de que eu cura Salvador Sª.

Como o original titulo da execução em Parochial desta Igreja, e da sua união a corporação de S. Pedro
não se acha nem na torre do tombo, nem na Camara Ecleiástica, nem no Cartório da Sé, onde devia
entrar; razão porq. este assento he o unico monumento de antiguidade, q. nos resta a respeito deste
título, por cuja cousa se deve sempre conservar, e guardar a sua notícia, intelligência e lição incorrupta
e inteligível. Lisboa 25 de jan. de 1820/ Cura e Thezrº da Fabrica/ Pe. Joze Maria Ottolini

[Outra folha] Como o meu illustre collega Jose Maria Ottolini leu mal o assento que se acha escripto no
frontespício o presente livro, passamos a transcrever a referida e importante notícia que assim diz:

Livro dos batismos desta Igreja de Santos novamente erigida por freguezia pelo cardeal infante
Arcebispo desta cidade, Nosso Senhor; começou esta freguezia a servir vespora de São joão desta era
de 1566 de qu eu cura Salvador ... Vaz ...

Par. de Santos o Velho/ 10 de Agosto de 1907/ E coadjutor Pe. Candido da Silva Teixeira/

[acrescentado à lápis] aliás Salvador de Contreiras

Doc. 2
Primeiro assento de baptismo da Paroquial de Santos-o-Velho
AN/TT, AP, SV, Mistos, 1566-1570

“Aos dous dias do mes de Julho de 1566/ eu Sallvador de Contreiras, cura da Igreija/ de Sãotos
bautizei hum menino, Pero, filho de Martim Vaz e de sua molher/ Maria Vepaz morador na Rua dos
Mastros, na/ Boa Vista, foi padrinho Pero Tujais e ma/drinha Catarina Cota/

António Celso Mangucci pg. 47


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Doc. 3
Registo da doação de um cálice de prata dourada
ASV, ISS, Livro dos Assentos dos Irmãos da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1566-1770, fl.
235

“Em o terceiro dia do mes de Setembro de 1582/ entregou o padre Pero Lopes, cura desta igreiza de
santos hum caliz de prata dou/rada com sua capa, o qual caliz deo de esmola, para/ esta confraria do
Santissimo Sacramento,/ o Sr. Dom Luis de Lemcastro a pedimento/ do padre cura asima dito, o qual
caliz tem suas letras, ao pee da cruz, que dize Dom Luiz com huma Comenda de Aviz.”

Doc. 5
Contrato com o tangedor de órgão
ASV, ISS, Livro dos Assentos dos Irmãos da Irmandade do Santíssimo Sacramento, 1566-1770, fls.
284 v.º e 285.

“Em 14 de maio de 1600 na Freguesia de San/tos-o-Velho na mesa do Santíssimo Sacramento estan/do


presentes os irmãos da mesa, eu escrivão/ indo lendo este livro achei este capítulo que/ vai adiante que
trata do tangedor as folhas 285/ em que se consertaram com o dito tangedor: em seis mil Y por ano: e
assentaram que do ditos seis mil Y pagasse esta mesa três/ mil cada ano. E por me a mim escrivão/
parecer muito e estar esta mesa muito carregada,/ por ela só pagar tanto como as outras nove
irmandades que são na igreja tratei com o padre cura com o parecer dos mais irmãos/ que se desfizesse
este erro...” [assina] Pedralves de Milão.

“Em 26 dias o mês de abril de mil e quinhentos/ e noventa e douis anos na Freguesia de Santos-o-Velho
na/ mesa do Santo Sacramento dela, estando aí presentes/ [il.] António Faleiro, juíz da Mesa do
Santíssimo Sacramento e bem assim Jerónimo de Frota, escrivão da Mesa dos Santos/ Mártires, em seu
nome e dos irmãos e mais oficiais e Inácio Go/mes, juíz da Mesa de Nossa Senhora e Fernão Vieira P.
escrivão da Mesa de Todos os Santos e Lourenço Liares escrivão/ da Mesa do Nome de Jesus e Manoel
Jácome, escrivão/ do Espírito Santo e assim os mais oficiais das mais confra/rias que todos presentes
estando, assentaram que por serviço de Nosso Senhor que as ditas confrarias e irmandades [il.] de hoje
por diante obrigadas um tangedor que tangesse/ os órgãos da dita igreja todos os domingos e dias santos
e/ sábados de Nossa Senhora e a mais obrigações da dita casa e das/ confrarias dela. E por haver/ efeito
se consertaram com o padre/ Pero Dias Mesquita em preço de oito mil rréis, pagos aos quartos/ pela
maneira seguinte: a Mesa do Santíssimo Sacramento, três/ mil réis em cada um ano; e a Mesa de Nossa
Senhora, dois mil;/ e a Mesa do Espírito Santo, quatrocentos e cincoenta réis; e a do/ Nome de Jesus,
quatrocentos e trinta; e a de Santo António, outro/ tanto; a das Almas o mesmo; a dos Santos Mártires o
mesmo;/ e a da Fábrica, que é de Todos os Santos, o mesmo; e São Sebastião. Pelo seguinte que fazem
em soma os ditos oito mil réis, pelo que se obrigaram os oficiais e pagará pela maneira seguinte os ditos
oito mil, e assim mesmo se obrigão o dito padre Pero Dias/ e sendo caso que tenha algum impedimento
[il.] mais dará outro em seu nome de maneira que não perigue as obrigações/ da igreja. E por tudo

António Celso Mangucci pg. 48


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

passar na verdade e se obrigavão/ acima dito as mesas aqui comigo, Luís Caldeira, escrivão/ da dita
mesa do Santíssimo Sacramento, no dia e era acima.”

Doc. 6
Renovação do alvará de Fernão Teles de Meneses como provedor das obras da Igreja de
Santos-o-Velho, 1604
AN/TT, Chancelaria de Felipe II, Privilégios - (1601-1614) , livro III, fl.107 v.º

[à margem] Sobre a obra da Igreja/ de Santos-o-Velho

Ey Por bem que se lance finta para se fazer a obra/ da ygreja de Santos-o-Velho desta cidade de Lisboa
na forma/ da provisão e apostilla aqui juntas, que estão per my assinadas/ e passadas por minha
chancelaria, e são feitas nesta cidade/ por Pero de Seixas, meu escrivão da camara, a dous de Março/ e
dezanove de Junho de mil e seiscentos e dous;/ e isto por espaço de outros dous anos mais alem dos
dous annos/ que pella dita provisão de dous de Março, e para este mesmo effeito ja concedi, havendo
respeito e me pediu por sua petição Fernão Telles de Meneses do meu conselho/ do estado e pella ditta
apostilla de dezanove de Junho corre com a fabrica da dita obra. Em esta imfor/mação que se ouve ao
provedor das capellas desta cidade por que/ constou por-se a dita obra fazendo-se estar orçada em/ oito
mil cruzados, dos quaes pello que se lançou e arrecadou/ nos ditos dous anos que já são passados se
não tirou emcontro, do recebido delle está parte gastado na dita obra, com as que tinha o recebedor
obrado, e arrecadando, e mando que a dita provisao e postila/

[outra folha] assim esta no que tocar a dita finta, obra e/ meneo della; e a tudo o mais que na dita
provisão, e apos/tilla se refez e se cumpram intensamente, posto que/ os effeitos dellas haja de durar
mais de hum ano sem em/bargo da ordenação do livro segundo, tittulo corenta, em que o Licenciado/
Pero de Seixas a fez, em Lisboa em biij [8] de Outu/bro de mil seiscentos e quatro; e agio [e] dinheiro
que/ he arrecadado como o que adiante se arrecadar se meterá/ em huma arca, com tres chaves, das
quaes terá huma o dito/ Fernão Telles ou a pessoa que elle nomear; e as outras duas/ terão dous
fregueses, homeens de boa conciencia e de fa/zenda que tambem o dito Fernao Tellez no/mear, a
contentamento do cura e confrades do Santissimo Sacramento da dita freguezia,/ emcertada/ Miguel
Monteiro./

Doc. 7
Certidão sobre as contas da obra da Igreja de Santos-o-Velho, 1606
DOCUMENTOS ..., 1602: fl.11, ASV, ISS, vol. B-5, 615

“Innácio Costa de Britto, Corregedor do Civil nesta cidade de/ Lisboa, por el-Rei nosso senhor, que por
seu man/dado tenho a meu cargo tomar as contas que não estivecem tomadas, e rever as tomadas das
obras/ das igrejas desta cidade; certifiquo que eu houve/ a meu poder seis livros da Igreja de Santtos-/o-
Velho, e os das mais igrejas. E que, de todos elles/ não vi livros que tam bons lanssamentos tenhão,

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

nem/ tam clara receita e despeza como os da ditta/ Igreja de Santtos, e que o dinheiro que se tem/
cobrado esta despendido nas obras della/ que com isso estam muito avante, posto que há pou/quos anos
que se comessaram, o que não veijo nas/ outras igrejas. E por isso, por mandado/ do dito senhor estou
fazendo um modo de regimento para todas as obras, do modo com que/ se cobrarão e despenderão os
dinheiros com fidelidade. E de como as obras correrão com bre/vidade. E se as demais obras teverão o
proce/dimento desta pouquo trabalho se tivera na/ reformação disto, pello bom procedimento que/ acho
nos officiais que com esta obra correm. E/ assim o certifiquo pelo Hábito de Christo, nosso/ senhor, que
recebi. Em Lisboa, a 8 de Novembro de 1606.”

Doc. 8
Contrato das obras de carpintaria da Igreja de Santos-o-Velho, 1609
AN/TT, AN, Livro de Ambrósio Denis, tabelião de notas, 3 de Abril a 25 de Agosto de 1609, fls. 54-55
v.º

“Saibão quantos este instromento de contrato e obrigasão virem que, no ano do na/scimento de nosso
senhor Jesus Cristo, de mill e seiscentos e nove, aos vinte e nove dias do mes de Maio na cidade de
Lisboa, junto ao Mosteiro de Santa Moniqua, na apo/sentação do Doutor Luis de Araujo de Barros,
Desembargador dos Agravos da Ca/sa da Solpicasão e Corregedor do Civill da Corte, ahi estando ele
presente e assim Teodozio/ de Frias, arquitecto de sua magestade, e Dioguo de Morais, escrivão da
finta/ da igreia de Santos o Velho, e Manoel Alvares, recebedor della, e Mateus/ Dias, o moço, mestre
de carpintaria, e por elle, corregedor, foi dito, em presença/ de mim, tabelião e testemunhas ao diante
nomeadas que sua magestade ele mandava/ se pusesse em pregão toda a obra da carpinteiro que fosse
nesesario,/ para a dita igreia de Samtos fiquem acabada em sua perfeisão,/ o que o dito corregedor
mandou apregoar diante si estando na ermida dos Santos Martis, cita junto a mesma igreia. E presentes
muitos ofe/ciais carpinteiros que mandou chamar, foi a noticia de todos/ e, estando em pregão, a dita
obra, as baijeas, não ouve quem por/ menos oferese-se que o dito Mateus Dias, o moço, a quem, despois
de pas/sado algum tempo, mandou ho dito Corregedor arrematar, e mete ho ramo na mão,/ em preço de
hum conto, oitocentos e vinte myll rs. em dinheiro de/ contado, sem se dar outra nenhuma contra, e se
obrigou a fazer toda/ a dita obra confrome a trasa que disso tinha feito ho dito Teodozio de Frias,/ alem
que ele assim desse a contentamento de Dom Luis de Lencastre,/ provedor das obras da dita igreia e dos
mais ofeciais della; se o/briguou a fazer toda pella maneira abaixo declarada. Item, que se o/brigou a
llansar fechos e contra fechais de vigas [il.] dobradas, nas quais pregar e rematar as linhas de ferro que
a fabriqua da/ dita obra ha de pagar, he ele, empreiteiro, as ha de por/ a sua mesma custa em seu lugrar
com seus pendorais no luguar/ que se ordenar o dito arquitecto; e madeirar a dita igreia de madeiras/
sobre encargo, emxerxidas com oliveis e contra oliveis [riscado: tudo de cas] / e pendorais, tudo de
madeira de castanho, entando/ na outra havera/ bj [6] pallmos e meio, de meio a meio de tavoado/ a dita
maneira que va seguindo do vollto sercullar que o/ dito forro leva e para asima das ditas asnas forrando
a dita ma/deiramento de tabuado serrado tinquado e bem pregado com/ suas ripas rreforsadas de
castanho, seguindo na dita madeira/ muito o ponto que ho dito arquitecto e se ordenar; e despois de
cu/berta a dita igreia, se obriga a forra-lla de cabsegno de boa/ matresa para que não abra, e sobre o
dito forro ha de ser artezo/ado, conforme a ordem que se der o dito arquitecto; e os paineis/ destes
artezois serão forrados de debrum para não abrirem, e bem/ pregoadas e rrestuguadas as cabesas das

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

pregas e tachos, que se não veião de maneira que ho dito forro fique perfeitamente/ acabado a
contentamento do dito juiz, Dom Luis de Lencastre e mais o/feciais com o dito sobre; assim se obriguou
mais a fazer as duas tra/veiamentos, hum no coro e outro sobre eles, e forra-llos de bordo, por/ baixo de
debrum, com simalha entrano frizo casquinha/ [ ]ve; o quall forro sera em
paineis com separasão deles de molduras, como e se ordenar o dito arquitecto; e ou/trossim se obriga a
madeirar a tribuna da parte da epistolla e/ forra-lla de taboado tinquado por syma outras rripas e
tra/vejar a dita trebuna forrando por parte baixo de bordo de de/brum, o qual he o teito da sacristia da
dita igreia/[verso] e a sacristia tera suas janelas de brodo e portas da mesma madeira/ com seus fechos,
tudo; e assim sera mais obrigado a madeirar a outra casa da/ parte do evangelho e forra-lla por baixo, e
outra parte de bordo e fe/chadura; e assim se obriguou mais fazer as grades e cruseiro, que/ hão de ser
de pao do brasill, troneadas, contra simalha, e pello talhe e alltura que se diser o dito arquiteto,
assentadas em/ seu lugar com seus fechos e ferragem e rremates por sima; a/ssim mais sera obrigado a
fazer as grades do coro, que hão de ser de/ bordo troneadas, contra simalha, parapeito e mollduras, e
re/mates por sima; e outrossim se obrigou mais fazer as/ portas principais da dita igreia de madeira de
angellim/ de allmofadass muito fortes, com seu pendão e dous patigas como/ o dito arquitecto ordenar
contra chave de ferro/ e travesaom de cor negra e suas fechaduras [e] duas cha/ves; e outrossim sera
obrigado a faser as grades do bautisterio/ de pao do brasill com seus remates; e assim mais na ( )
partes porta travessa tambem de angelim, com sua fechadura/ manquuais e ferrois como tambem ha de
ser as portas prim/cipaes; e assim ser mais obrigado a madeirar a capela/mor e forra-lla por sima de
taboado trinquado ripado, feito/ tudo com a perfeisão que se reque/rer e depois de acabada a dita obra,
sera vista pelo dito Dom Luis de Lencastre e ar/quitecto e achando que não tem comprido conforme
obrigasão/ qualquer cousa della a mandara o dito Dom/ Luis de Lencastre desmanchar a custa do dito
empreiteiro,/ e fase-lo por outros ofeciais avaliar sem a isso aleguar/ cousa alguma de o dito Dom Luis
de Lencastre pello dinheiro da/ finta da dita igreia conforme as provisõis de sua magestade/ e se dara o
dito hum conto e oitocentos e vinte mill rs. para a/ssim comesar fazendo a dita obra dando o dinheiro,
ao dito em/preiteiro confrome as quantias que serão cobrando da dita finta com declarasão que cada seis
meses do ano sera vista/ a dita obra pelo dito arquitecto Teodõsio de Frias para efeito/ de se saber se e
feita mais obra do que montão o dinheiro do que tem rese/bido ou menos, para assim ele empreiteiro em
caso que tenha/ resebido mais dinheiro, não poder cobrar outro de novo, ate não satis/fazer com obra
feita ao que tem resebido [riscado: aos ofei] he eles ofeciais serem obrigados a se paguar loguo, toda a
obra que/ mais tiver feito e desta maneira prometeu e se obrigão de/ comprirem, e goardarem esta
escritura em todo e para todo,/ como nella se contem assim ele Mateus Dias como elles ofeçiais da dita
confraria e que não contra ella em parte/ nem em todo ou juizo nem faça deles tema que todo
comprirão/ farão bom pagarão com todas as custas...”

[Segue a inumeração dos bens de Mateus Dias, que consta de uma lojas na Calçada do Combro e um
olival em Santo Antão do Tojal. Fiador: Diogo Godinho, mestre de carpintaria de sua majestade e sogro
de Mateus Dias.]

Doc. 9
Decreto nomeando D. Francisco Luís de Lencastre provedor das obras da Igreja de
Santos-o-Velho, 1615, AN/TT, AP/CA, n.º 97, rg. 2074.

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

“El rey faço ao que este alvará virem que, avendo respeito/ ao que na petição, escrita na outra meia
folha desta, dizem os fergueses/ da ferguesia da Igreja de Santos-o-Velho, desta cidade de Lixboa,/ e
visto o que alegão, e [a] informação que do comteudo nella se houve/ pello Corregedor do Civel da
Corte, Luis de Araujo de Barros, e o que por/ ella constou e seu parecer, ei por bem e me apraz, que
Dom Francisco de Lencastre, meu muito amado e prezado sobrinho, seja pro/vedor das obras da dita
Igreja de Santos-o-Velho, assim e da maneira/ que o foy Dom Luis de Lemcastre, seu pay, pellas
provisoens que pera isso lhe foram passadas. Pello que mando as justiças, offi/ciaes, e pessoas a que o
conhecimento deste pertencer, lhe cumpram/ e guardem este alvara inteiramente como nelle se comtem,
o qual quero/ que valha, tenha força e vigor como se fosse carta feita em meu nome, pos/to que o
effeito delle haja de durar mais de hum anno, sem embargo/ de ordenação em contrario./ Predalves de
Almeida o fez em Lisboa, a dezessete de Agosto de mil seiscentos e quinze; Manoel Fagundes o fez
escrever.

[assinatura] Rey/

[assinatura] Diogo de Castro/

Ha Vossa Majestade por bem que Dom Francisco de Lencastre seja provedor das obras da Igreja/ de
Santos-o-Velho desta cidade de Lisboa, assim e da maneira que o Dom Luis de Lem/castre, seu pay,
pellas provisoes que pera isso lhe forão passadas na maneira acima decla/rada.

[verso] Por despacho da mesa,/ em Lisboa, a 17 de outubro de 1615,/ [assina] Miguel Maldonado.

[fl. 2] Dizem os fergueses da Igreja de Sanctos-o-Velho que Vossa Majestade/ passou provisão para
que se fizesse igreja nova a custa dos/ fregueses e suas fazendas na forma que se faz a de São Paulo./

E foi dado por primeiro provedor e juiz da dita obra Fernão Teles de Menezes. Que Deus tem. E por
seu falecimento, Dom Luis/ da Lencastre que Deus tem. E logo, o Conde de Redondo que ora vay/
servir a Vossa Majestade per capitão de Tangere. E por executor/ e juiz das causas tocantes a dita obra
foi sempre o Corregedor Luis de Araujo do Bairros e da Corte Civel, do principio/ da obra ateé hoje;
hora he necessario por ella y por diante/ e se acabar que haja novo juiz e provedor em lugar do conde,/ e
que este seja pessoa da qualidade dos outros, e que/ seja fregues de mesma freguesia e nella morador. E
para se fazer isso nesta conformidade se deve fazer por votos/ dos fregueses que sabem bem o que lhe
importa./

Pede portanto a Vossa Majestade lhe faça merce que sendo/ ouvidos os supplicantes e tomados
seos votos e pa/receres pello dito corregedor de corte, e eleita a pe/ssoa, em lugar do conde, lhe passe
Vossa Majestade/ provisão para servir e correr com a dita obra em seos termos e [il.].

Manda el rey nosso senhor que o Doutor Luis de Araujo/ de Barros, corregedor do civel da corte,
faça a deligência que os/ ditos fregueses pedem e, depois que a tiver feita informa/ra com seu parecer, a
12 de Fevereiro de 1615.

[v.º] Fregeses de Santos,/ provisão de sua magestade por [o] Senhor Dom Francisco ser provedor das
obras da Igreja de Santos assim e da maneira que o era [o] Senhor Dom Luis de Lencastre seu pai, aos
13 de Agosto de 1613.

António Celso Mangucci pg. 52


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Doc. 10
JUSTIFICAÇÃO do processo de aquisição do prazo de Santos, s/d, AN/TT, AP/CA, n.º 97, rg. 2070

El Rey dom Sancho o segundo fez doação a ordem de santiago de muitos bens nesta cidade e fora della
na qual doação entrado doados os bens que o mostrº de santos pussue, e particularmente todas as
propriedades que ha do Bairro da esperança ate perto da ponte d’alcantara que tudo he foreiro hoje ao
mostrº de hua parte e da outra, E a copia deste doação se offereceo a sua magde. justificada quando
pedio os tittºs. do dito assento

Em tempo do mestre dom Payo Piz correa, no capitulo que o dito mestre fez com os treze da ordem em
Merida na era de 1309 fizerao doação ao mosteiro de sanctos de todos os bens que a ordem tinha nesta
cidade e, seu termo, como outrossy consta da copia da dita doação justificada que se offereceo a sua
magestade. E no capitolo que se fez em Santarem se tornou a retificar esta doação e também se tem
offerecido a coppiea della justificada.

no assento de santos o velho fundaram as comendadrªs o seu mostt. e os mais bens aforarão e no dito
mostrº residirao ate o tempo del Rey dom Mel. em q. com sua licença se passou o mostrº prª o sitio de
santos o novo em q. hoie esta.

E porque o dito assento ficou devoluto se aforou a fernão lourenço da mina q. foy feittor da caza da
india em preço de dous mil e setecentos rs de foro em cada hum anno como constara do emprazamtº que
deve estar no cartorio do dito mostrº

E da mão do dito fernão lourenço com consentimento da comendadrº e mais freiras tomou el Rey dom
Mel o dito prazo prª si em tres vidas com o dito foro o qual se pagou sempre no almazen o que podera
constar dos tºs delle.

El rei dom João o terceiro sucedeo no prazo da segunda vida e mandou pagar o foro no elmazen q. neste
tempo fez o dito Rey merce por seu alvara a dom Luis de Lencastre, o velho, filho do mestre de
Santiago do dito assento prª sua vivenda e nelle viveo mais de trinta annos e com comfiança que sua
Altª lhe largasse foy fazendo nelle muitas benfeitorias de mtª importancia constara sendo necessario

Ao dito Rey sucedeo em 3ª vida seu neto tb Rey dom sebastiao e porq. teve gosto do ditto assento prª ir
a elle alguas vezes, a mandou despejar e nao tem effeito a prezentação do dito dom luis e por morte do
dito Rey se acabarão as tres vidas.

E sucedendo El rey dom henrique no Rnº mandou portaria sua ao mostrº q. tomasse posse do prazo
como consta da dita portaria q. esta acostada a posse que o dito mostrº tomou.

Neste tempo representou dom Luis de Lencastre filho do dito dom Luis o velho por seu procurador (por
estar cativo) ao dito Rey, e ao mostrº a aução que tinha ao dito assento por las benfeitorias que seu Pay
avia feito nelle e que era justo, que se lhe aforasse, ou vendesse; e por estando havendo se lhe estas suas
razões por justificadas; mandou o dito rey meter de posse do dito assento ao Conde da Sortelha, seu
sogro e a dona fillipa de menezes sua molher e nelle viverão paicficamte. enquanto viveo o dito rey; e
ate a entrada ao exercito de S. Mg. nesta cidade e por este assento estar em hum arrabalde e servirem os
principaes cazas de armazees das armadas, e huas e outras estarem ocupadas de soldado se arruinarão
de todos e também a estes tempos sucedeo o desastre da polvora nos almazees de luis usan se
danificarão mais e cahirão algumas.

António Celso Mangucci pg. 53


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Estando neste estado o dito assento de casas e vindo dom Luis de lencastre de cativo pidio a comendadrª
que lhe fizesse aforamento pellas razões referidas e a dita comendadrª e freiras, ouverao seu conselho e
entenderão que lhes estava melhor venderem o assento prª do procedido comprarem bens que rendessem
mais do que podia valer o foro posto que o acrecentassem em esta conformidade se louvarão por hua
escritura publica nos milhores Arquitectos que entao avia nesta cidade e em outras pessoas practicas e
de confiança e avaliarão o dito assento redondamente em dez mil cruzados forros prª o mostrº e pagos
em certos annos e q. se fez escritura e venda publica a qual se offereceo a sua magde. nesta ocasião em
que pidio os tittºs e por virtude da dita escritura tomou o dito dom luis posse do assento, e foi fazendo
benfeitorias que emportão muitos mil cruzados.

E pedindosse confirmação a sua sanctde. por parecer q. como erão bens de mostrº era necessrio. e sua
sanctide. respondeo que se empregasse o preço dos dez mil cruzados em bens de Raiz e não em juro e
concederia a licença. e neste sempre offereceo o dito dom luis ao mostrº algumas propriedades de que se
não contentou e socedendo falecer este no anno de 1613 e tendo S. Me. noticia desta venda e que o
pagamto nao estava feito mandou per carta sua que se fosse cobrando os ditto dez mil cruzados e que
fossem despendendo nas obras do mostrº novo que sua magestade tinha mandado fazer com q. se vay
continuando e o Bispo dom Pº de Castilho sendo Vizo Rey deste Rnº o disse assy da parte de sua
magestade e dom francº para q. o dissesse a dona filippa de menezes sua may / que estava ainda de
posse / e o dito dom francisco em seu nome e da dita sua may aceitou a merce que sua magestade lhe
fazia na comodidade de fazer o pagamtº em prazos, e em livrar de comprar propriedades q. com
dificuldades se poderá acchar forra como se requere prª amostrª e a dita ordem se cometeo ao doctor
domingos Ribrº cirne deputado da meza de conscie. q corria as obras do mostrº e não teve effeito por a
comendadrª replicar em querer que se empregassem em Bens de raiz, ou em juros que rendesse prª
mostrº, e o sobredito constara das cartas de sua mag.de e em falta delles do testemunho aos ministros
que continuarão no governo.

E vindo sua magde a este Rnº a comendadrº lhe fez pitição dando lhe conta da venda que estava
selebrada e que faltava a confirmação de sua magde como mestre e sua mgde. a mandou remeter ao
trebunal da meza de conscia. e ordens e na dita mesa se lhe fez consulta e por tardar a resposta se
reformou a dita consulta por portaria do Vizo Rey e se enviou a sua magde e veio com replica que se
apresentasse os tittos. e logo se aprezentarao os papeis de que se faz menção neste apontamto. que
pareceo que com elle se satisfazia.

E depois do dito D. Luis ter comprado o dito assento se aprezentou por parte de dona gabriela viuva de
Lucas de Andrade. E na doação que el Rey dom sebastião havia feito ao dito Lucas de Andrade da
praya e de hua tercena que estava junto aos quintaes deste assento e a dita dona gabriela tinha feito
venda a Joao batista Revelasca e começando a fazer obras se lhe embargou e corre pleito no juizo dos
feitos el rey assitindo o procurador da Coroa e procurador das ordens por parte do mostrº e annullouce
a doação por quanto constava que todos estes bens serão da ordem de são tiago e do mostrº de santos e
elRey os possuira como foreiros e como tal não podia fazer doação ne desmembrar parte do prazo sem
concertamtº do mostrº E isto consta da snça. q. se aprezentara e tambem dos proprios autos que estão
no cartorio que foi de fernão lopes escrivão dos feitos d el rey cujo officio oje serve

Isto he tudo o q. ha na materia e dito do os papeis de q. ha que se faz menção se apresentarão as copias
justificadas

António Celso Mangucci pg. 54


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Doc. 11
Licença de D. Francisco de Lencastre, para a realização das obras da sacristia, 1630,
ASV, ISS, 462
“Depois que sucedeo o caso de Santa Engracia, a Irmandade do Santissimo Sacramento desta freguezia
vendo o dezamparo desta igrª e o grande risquo/ q. corre, pois em o sitio da praia desembarquão mtas.
naçoens dei infieis ordenarão de fazer huas cazas pera nos baixos dellas recolherem a prata ornamentos
e fabriqua do culto divino, e dando lhe noticia de seu intento

... no sitio da porta travessa

Começou a obra com provisão que impetrarão de sua magestade, nomeado por intendente o Doutor
Diogo Vaz de Siqrª. O Rdo. Padre Cura lhes pos embargos e corre por tres anos q. se estão perdendo...

Doc. 14
Contrato de arrendamento de uma casa entre várias irmandades e a Irmandade do
Santíssimo
ASV, ISS, Livro de Receita de 1646,
“Por este por nos assinado dizemos nos os/ procuradores e mais officiaes das confrarias/ desta igreja, a
saber dos Santos Martyres, de Nossa/ Senhora da Saude, do Nome de Jesus, das Almas,/ São Pedro e
Santo António e Santa Caterina que. nos/ nos obrigamos, em geral e cada hum em parti/cular, a pagar à
mesa do Santissimo Sacramento,/ sete tostois, cada anno, de aluguel de huma/ casa sua que nos alugão
para nella recolher/mos a fabrica, e ornamentos, e tudo o mais que houver de frabica das dittas
confrarias e por assim/ o havermos por bem, assinamos este Lisboa,/ 24 de Dezembro de 1662./ O
procurador dos Santos Martyres [a] Domingos José,/ o procurador do Nome de Jesus, [a] F. Mendes,/ o
procurador de Nossa Senhora da Saude [a] António de Oliveira,/ o procurador das Almas,/ com
consentimento do Juis Inassio da Costa como procurador [a] Manoel Martinz de Soussa

Doc. 15
Contrato, não outorgado, entre a Irmandade do Santíssimo Sacramento e o mestre
pedreiro Gonçalo da Costa, 18 de Julho de 1696, Cartório Notarial 11, Lisboa, livro 364,
fl. 45-46

"Saibão quantos este instromento de comtrato e obrigação verem que no anno do na/simento
de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e seiscentos, [e] noventa e seis em dezaute dias do mes/
de Julho, na cidade de Lisboa, dentro da Igreya de Santos o Velho, na caza do despa/cho dos
António Celso Mangucci pg. 55
HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Irmãos da Irmandade do Santissimo Sacramento da dita freguesia, estando/ prezentes, Bar


Vogado Fogassa, cavaleiro do Habito do Cristo, escrivão da dita Irman/dade do Santissimo
Sacramento, e António Alves, thesoureiro, e João do Couto, procu/rador, que este prezente
anno servem na dita meza; isto de huma parte, he/ da outra ho estava Gonçalo da Costa,
mestre pedreiro, morador na dita freguezia de/ Santos. [E] logo por elles partes foi dito a my,
tabeliam, perante as testemunhas ao diante nomeadas/ que elles estão ajustados, contratados,
pera que elle Gonçalo da Costa haver de fazer a obra das/ torres dos sinos e frontespicio da
empena; da dita Igreya de Santos, pulpitos com/ seus portaes, e escadas pera os ditos pulpitos,
e o portal da porta travessa que de no/vo se ha de abrir, tudo na forma do risco e planta que
deo o arquiteto João Antunes,/ o qual risco e planta fiqua en poder delle, mestre Gonçalo da
Costa, assinado por ellles/ Gonçalo da Costa e Bar Vogado Fogaça, escrivão da dita meza, do
qual rascunho e planta/ [riscado: il.]re dara, trazendo todos os materiaes, e tudo o maes que
forneceu [sic] for/ pera a dita obra, por conta delle mestre; fazendo a dita obra com toda a
pre/feição, pedraria alva, e grossa a onde for necessario, e o pedir a dita obra; e sendo/ que se
ache alguma inprefeição na dita obra, despoes de feita, sera desmancha/da a custa delle,
mestre, e do que nella tiver feito sendo cazo que se desmanche não/ podera pedir nada a dita
meza por tudo que fara por sua conta, porque o seu con/ [v.º] trato he que fique mto prefeita e
sem inperfeição algua, e se obrigão elle Bar Vogado Fo/gaça e maes oficiaes da dita meza em
nome da dita meza e irmandade e as seus futu/ros sobreçores que irão dando a elle mestre o
dinheiro que lhe for necesario, pera com/tinuar a dita obra, e pera o dito efeito e dar prinsipio
a dita obra, lhe derão/ a quanthia de trezentos mil réis, que elle mestre Gonçalo da Costa
conheceo e com/feçou ter recebido da mão delle Bar Vogado por dinheiro de contado moeda
de/ prata correntes neste reyno que contou e recebeo ao tempo da entrega de que/ da plenaria
quitação, e se obriga aos levar em conta na dita obra. E o mais/ que se lhe foi dando de que
passara recibo de sua letra e sinal, e nesta forma/ disse elle mestre Gonçalo da Costa que se
obriga a fazer e a acabar a dita obra de muito/ boa pedra alva/ e com toda a perfeição na forma
e planta do dito João Antu/nes da ql senão afastara em cousa algua, e acabada a dita obra, se
medira/ e se avaliara; tomando pera ese efeito, dois louvados por parte da meza/ e outros dois
por parte delle, mestre, aquelles que elles julgarem e avaliarem estarão, sem com/tradição
alguma, e sendo a meza devedora a elle mestre lhe pagara tudo/ ho que lhe dever sem duvida
alguma que a isso ponha, e o mesmo sendo elle mestre/ devedor a dita menza, o que constara
por seus recibos, na mesma conformida/de lhe repora tudo o que tiver cobrado de mais do que
emportar a dita obra/ sem que ao fazer do dito pagamento possão alegar embargos e querem
que não possão/ servidos com anção alguma em nenhuma instansia nem no cazo de appe/lação,

António Celso Mangucci pg. 56


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

aggravio, execução, nem em auto apartado, athe primeiro e com/ efeito depuzitar o que for
devedor, em mão do acredor tudo o que se lhe dever/ junto em dinheiro de comtado em hum
so pagamto, (que podera reseber) digo/ em hum so pagamento, elle, mestre, sendo devedor na
mão do procurador, que ao tal tem/po for, da dita meza do Santíssimo Sacramento, e sendo a
meza devedora a elle, mestre, em sua/ mão ou na de seu procurador, ou herdeiros que tudo
poderão receber sem fiança, por/quanto, desde logo, se hão por abonados, huns aos outros
para tudo poderem receber/ e pera se escuzarem de fazer o dito dipozito; senão poderão valer
de provizão/ real e havendo, a renunsião, para della senão poderem valler nem ajudar, pos/to
que este instromento e suas clauzullas se faça na tal provizão espressa he/ declarada menção. E
esta clauzulla depuzitança escrevy eu, tabeliam, nesta es/cretura, de pedimento destas partes
que nella querem se cumpra na forma da ley sobre/ os depozitos paçada de que os adverty em
a rezão della, e que havendo elles partes/ de serem levados para o comprimento desta
escretura querem elles oficiaes da dita meza que em/ [no]me della o seja o procurador que ao
tal tempo for da dita meza, e elle mestre não es/tando nesta cidade ou seu termo, quer que em
seu nome o seja o destrebuidor dos ta/baliães de nota della, o qual fas seu procurador e lhe da
poder para estar em juizo, comfeçar a di/vida, e fazer e assinar termo de comfição, ouvir
sentença, ser requerido por ella,/ nomear bens a penhora e pera a venda e aremesão delles, e
para todas as/ deligensias que convenhão e com elles mestre se devão fazer que se fação no
dito seu procurador/ [fl. 46] sem o poder revogar, e a setença que comtra elle se houver, pela
dita sitação, se dara expre/são em sua pessoa e bens da qual promete de não apellar nem
agravar, athe a dita/ meza ser realmente paga de tudo o que lhe dever e custas; e de pessoaes
pagar, havendo/ demanda, o que for contra esta escretura e a não comprir, a duzentos réis por
dia, que os vencer a pessoa/ que nella requerer por parte do que por ella estiver, do dia da
primeira anção athe final sendo a sua exe/cusão, sem alegar elles partes que estão ajustados
sobre a dita obra, o qual elle mestre/ Gonçalo da Costa se obriga a fazer e não largar della mão
com os oficiaes que lhe forem necesarios acor/dando lhe com dinheiro para a hir continuando,
em cazo que lhe faltem, podera parar com a dita obra/ e dar balanço assim ao que estiver feito,
como as achegas que para ella tiver chegado, achandosse/ que tem posto na dita obra mais
dinheiro do que tiver recebido, tudo o que demaes pos lhe pagara a dita/ meza, como tambem
podera dar o mesmo balanço a dita meza todas as vezes que/ quizerem e sendo elle mestre
maes dinheiro do que tiver despendido sera obrigado a continuar com/ a dita obra ou repor o
que tiver do maes, debaixo da dita clauzulla de depozito// E que a pedraria da torre velha sera
medida e tomada a rol, e elle mestre a lempa/ra, e lhe pagarão a limpeza que nella fazer e o
trabalho de a apuar, e da dita pedra se/ abeter o valor da dita medissão, e o desmancho da

António Celso Mangucci pg. 57


HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

alvenaria ficara a elle mes/tre pello trabalho. E para tudo elles partes assim comprirem, como
são obrigados, com todas/ custas, despezas, perdas e dannos, disserão que obrigavão, a saber
elle, Bar Vogado/ Fogasa, como escrivão da dita meza, e o dito thezoureiro e procurador, em
seus nomes e se seus futuros/ sobsores todos os bens e rendas da dita meza e irmandade,
havidos e por haver, he/ o melhor parado delles, e pello comprimento desta escretura se
obrigam de respon/der nesta cidade de Lisboa, perante as justissas della, e que esta escretura
foi prezentada, he/ sem querer por, sem alegar possão, que de nada razão, salvo tudo do
compromisso por esta escre/tura ficão obrigados/ Não outorgada.

Doc. 16

Contrato entre a Irmandade do Santíssimo Sacramento e o Pintor José Ferreira, 16 de


Agosto de 1697, Lisboa, Cartório Notarial 11, Livro 366, fls. 91 v.º-92 (nuneração
rasurada)

"Saibão quantos este instromento de contrato e obrigação virem que no anno do na/simento de
Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil e seiscentos noventa e sete, em dezaceis dias/ do mes de
Agosto, na cidade de Lisboa, na Rua Direita da Crus da Esperança, nos apozen/tos em que eu,
tabeliam, ao diante nomeado, vivo, pareserão prezentes partes, a saber, de huma,/ Phelipe dos
Santos, morador nesta cidade, de fronte do Mosteiro da Esperança, que este prezen/te anno
serve de procurador da meza do Santíssimo Sacramento, da freguezia de San/tos o Velho, em
seu proprio nome e em nome do juiz e mais oficiaes que este anno ser/vem na dita meza, por
procuração que aprezentou, feita pello escrivão della,/ Bar Vogado Fogaça e assinada por
todos, que he bastante e verdadeira para se outorgar/ esta escretura, e della milhor se vera que
ao diante hira tudo tresladada nesta nota/ [fl. 92] e treslados que delle se derem, e da outra
estava Jozeph Ferreira, pintor, morador nesta/ dita cidade, aos Poaes de São Bento, freguezia
de Santa Catherina de Monte/ Sinay. Logo por elles partes foi dito a my, tabeliam, perante as
testemunhaz/ ao diante nomeadas, que elle Joseph Ferreira esta comtratado com os officiaes da
dita/ meza do Santissimo Sacramento da dita freguesia de Santos, pera efeito de lhe pintar de/
brutesco, o tecto, e simalhas da dita igreya, na forma do risco que elle, Joseph Ferreira, fez/ e
dos dois paineis que os oficiaes da meza escolherão. E isto com toda a prefeisão e por/ preço
de coatrocentos mil réis, isto correndo por conta dos oficiaes da dita meza,/ os andaimes com
tudo o que para elles for necessário, a vontade e segurança delle,/ Joseph Ferreira, sem que
elle, Joseph Ferreira, gaste nisto couza alguma. E esta escretura ou/torgam com as comdisões
e obrigações seguintes. Item, que elle, Joseph Ferreira, metera/ mão na dita obra tanto que os
andaimes lhe forem feitos, emgessando o dito/ tecto, da dita igreja, com as mãos de aparelhos
que forem necessarias athe ficar/ bem alvo, advertindo que não ha de entrar no aparelho couza
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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

de grude,/ senão tudo colla, sendo o aparelho forte, por quanto esta muito perto do mar./ Item,
que depois de aparelhado sera emparmado a olio o que tocar ao bru/tesco, pera assim
assentem bem as corres, e nas ditas cores não em/trara, ninhum genero de sinopra, por ser cor
que não dura; e so serão lacras,/ vermelhões, e bons esmaltes azues, e as mais cores a este
respeito. Item,/ que elle, Joseph Ferreira, pora em a obra o ouro que esta assinalado em a
mostra,/ sendo os filletes largos, pera que se possão emchergar debaixo, e na sima/lha. Exceto.
Levarão ouro em os filletes que se custuma por comumente/ em semelhante obra, e toda sera
aberta de ornatos e romano, em o fri/zo, como se uza fazer. Item, que a dita obra sera feita
pello risco que elle, Joseph/ Ferreira, fez na forma de dois paineis que a meza escolheo, cujo
risco fica em/ poder delle, Felipe dos Santos. Item, que elle, Joseph Ferreira, se obriga a dar
acabada a dita/ obra athe o segundo domingo da Coresma, do anno que embora vira, de mil e
seis/centos e noventa e outo, com tanto que lhe darão os andaimes aparelhados, a tem/po
conveniente para dar prensipio a dita obra. Item, que todas as vezes que os ofi/ciaes da dita
meza quizerem mandar ver a dita obra, para ver se vay feita com/forme ao que he necessario e
na comformidade deste comtrato, o poderão fazer,/ e achandosse com alguma emperfeição na
dita pintura ou aparelho della, elle,/ Joseph Ferreira, se obriga a tornalla a fazer, a vontade e
satisfação dos officiaes/ da dita meza, sem por isso lhe darem maes couza alguma dos ditos/
coatrocentos mil réis em que estão ajustados. Item, que no cazo que se não pinte/ a simalha da
dita igreya, se abetera no preço desta obra, o que podia fazer de custo/ a quebra da dita
simalha naquillo em que se ajustarem os oficiaes da dita meza com/ ele, Joseph Ferreira. Item,
que todo o dinheiro que elle, Joseph Ferreira, receber por conta da obra,/ passara recibos de
sua letra e sinal, que valerão como parte desta escretura, e finda/ [v.º] e acabada a dita obra, se
obriga elle, Phelipe dos Santos, em nome da dita meza a que/ elle, Joseph Ferreira, seya pago
de tudo o que se estiver a dever dos ditos mil cruzados [sic] na/ forma deste contrato, sem
duvidas demandar, nem embargos evido [sic] com al/gumas duvidas com que pertenda
emcontrar o pagamento quer nos ditos [il.], que não possa ter havido nem admitido em juizo
nem fora delle, athe o primeiro/ depuzitar em poder delle, Joseph Ferreira, ou na de seu
procurador ou herdeiros/ tudo que se lhe dever em dinheiro de contado, he em hum so
pagamento, que podera receber/ sem fiança, por quanto, desde logo, nos ditos nomes os abona
e ha por abona/do para todo poder receber. E em quanto não fizerem o depozito, lhes sera
denega/do audiencia e remedio de dereito, nem pera se escuzarem de fazer podera/ valler de
Provisão Real e havendo-a ou sendo lhe comsedida, por qualquer res/peito que seya, a
renunsia nos ditos nomes. E esta clauzulla depuzitaria/ escrevy eu, tabeliam, nesta escretura de
pedimento e comsetimento delles, partes, que/ querem se cumpra, na forma da ley, sobre os

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

depozitos paçada, de que os/ adeverty e me refiro a ella; e por elle, Joseph Ferreira, foi dito
que elle se obri/ga a fazer a dita obra, com toda a perfeição possivel, a satisfação e comtento/
dos officiaes da dita meza, debaixo das obrigações desta escretura,/ que todas se obrigam a
comprir, e que não comprindo, satisfara a dita meza/ e officiaes della toda a perda e danno que
lhe rezultar por sua falta pera/ o que se comete a clauzulla depuzitaria atras escrita, pera com
elle/ haver lugar naquillo em que a dita meza e officiaes della forem preju/dicados. Em
houvendosse demanda pagarão de custas pessoaes, a duzen/tos réis por dia, que os vencera a
pessoa que nella requerer [intercalado: por parte] do autor e os venssera/ do dia da primeira
anção athe final sentença, a sua execução sem alegarem/ que he mais sellario de custas
pessoaes do que a ordenação consede. E pera/ estas partes assim tudo comprirem, como ficão
obrigados, com todas as custas,/ despezas, perdas e dannos, diserão que obrigavão, como
efeito logo o/brigarão, elle, Phelipe dos Santos, em seu nome e da dita meza e oficiaes della/
prezentes e futuros, todos os bens e rendas da dita meza, moveis e de rais, havidos e por haver,
e o melhor paxado delles, em virtude de seu poder;/ e elle, Joseph Ferreira, sua pessoa e seus
proprios bens, móveis e de rais, havidos he/ por haver, como lhes paxado delles; e pello
comprimento desta escretura se obri/gão estas partes, nos nomes que reprezentão, de
responder nesta cidade/ de Lisboa, perante os corregedores da corte, corregedores e juizes do
civel della, a on/de, perante quem, este instromento for aprezentado, e se pedir, e se requerer
seu comprimento, pera o que disserão que renunciavão isto de seu foro/ e todos os maes
privillegos que por fim alegar possão, que de nada se poderão/ valler, nem ajudar, salvo tudo
comprirem como por esta escretura/ [fl. 92] ficão obrigados; he em fee e testemunho de
verdade assim ho outorgarão e pedirão/ se fizesse este instromento nesta nota e que della se
dem os treslados necessarios/ que asinarão; he eu, tabelião, a aseito em nome de quem tocar
auzente,/ como pessoa publica, estepulantes e assinantes// e declarão elles partes que elle,
Joseph Ferreira,/ não sera obrigado a pintar a simalha e nem por isso deixão de pagar os ditos
coatrocentos mil/ réis, e no que toca a pintura do dito tecto se emtendera que somente o lavor
de brutesco sera/ pintado a olio, e os campos a tempora, por nesta forma estar ajustados a
qual/ obra dara acabada posto do mes de lho [sic] deste ano de seiscentos e noventa e outo/ e
escretura digo o outo, esta escretura outorgarão a assinarão elles, partes, em vinte/ e hum dias
do mes de Fevereiro, he anno de seiscentos e noventa e outo, su polo [sic] que continu/ada em
dezaseis de agosto, do anno paçado de seiscentos e noventa e sete; e declaro/ que na dita
procuraçam não assinou o dito juiz, sendo testemunhas prezentes Pedro Francisco,/ Manuel
Pinto, moradores na dita Rua Dereita da Crus da Esperança, que todos conhesam/ a elles,
partes, são os proprios que prezentes estavão [il.] asinação em a estas/ testemunhas, Joseph da

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HISTÓRIA DA IGREJA DE SANTOS-O-VELHO

Fonsequa, tabeliam, o escrevy/ [a] Felipe dos Santos, Manuel Pinto, Joseph de Araujo, [sinal]
de Pedro Francisco.”

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