Neuropsicologia Psiclinica
Neuropsicologia Psiclinica
Neuropsicologia Psiclinica
1. Introdução
De acordo com Ellis & Young (cit in Eysenck, 1990), o maior objectivo da neuropsicologia
cognitiva consiste em retirar conclusões sobre os processos cognitivos normais, intactos, a partir
da observação de sujeitos com lesões cerebrais. A neuropsicologia cognitiva permite-se pois a
afirmar que os padrões de sintomas observados não poderiam ocorrer se o sistema cognitivo
normal, intacto, não estivesse organizado segundo certos princípios.
Para Eysenck (1990), a identificação dos aspectos da cognição que estão intactos ou
afectados, revelou-se de grande importância por duas razões principais:
Este princípio encontra-se mais uma vez em clara contradição com a ideia da
equipotencialidade expressa por Karl Lashley. No entanto convirá referir que de acordo com
Ellis & Young (1991), o princípio da transparência é um dos menos consensuais em
neuropsicologia cognitiva, principalmente no que concerne ao “grau” de transparência. Contudo
é também um dos pilares fundamentais na pesquisa neuropsicológica.
Este problema resolve-se optando pelo estado de Duplas Dissociações, que ocorrem quando
um paciente apresenta desempenho normal na tarefa A mas apresenta dificuldades na tarefa B,
enquanto outro paciente desempenha com normalidade a tarefa B, situando-se as dificuldades na
tarefa A (Eysenck, 1990).
Uma dupla dissociação indica que duas tarefas fazem uso de módulos diferentes pelo que
uma série de duplas dissociações podem ser utilizadas para promover um mapa-esboço do nosso
sistema cognitivo-modular, algo que Lashley considerava impensável.
Em 1540, surge em inglês o termo “assesment” como o acto ou instância de avaliar (na
altura o termo tinha sobretudo uma aplicação jurídica).
De acordo com Lezak (1995), a natureza da avaliação neuropsicológica faz com que um
profissional competente deva utilizar habilidades de entrevista, capacidade de apreciação nas
variáveis sociais e culturais com a destreza de um psicólogo clínico, a sofisticação estatística e a
familiaridade com os destes de um psicometrista; e o amplo entendimento compreensivo do
sistema nervoso humano e suas patologias, no mínimo, ao nível de um médico de clínica geral.
A história clínica deve contemplar a aparência do sujeito (forma como se encontra vestido,
higiene, a sua atitude). O facto do sujeito vir sozinho ou acompanhado também é bastante
informativo (por exemplo, geralmente quando o paciente vem sozinho não se trata de uma
demência). Alterações na linguagem e alterações motoras (marcha, mobilidade, assimetrias de
movimento, tropeções, golpes ou nódoas negras no corpo), também se revelam importantes de
registar.
A história pessoal, deve contemplar a identificação do sujeito, queixas actuais, bem como
antecedentes.
Não requere muitos instrumentos, mas precisa de muito tempo. A maioria dos autores
defende que não se deve levar mais do que 30/45 minutos por sujeito, para não afectar os
resultados por cansaço ou fadiga.
O instrumento de medida deve estar adaptado ao sujeito concreto e o avaliador deve ser
flexível – ser capaz de alterar as tarefas quando for necessário, de acordo com a finalidade da
avaliação e as características do sujeito.
Validade: Uma escala considera-se válida quando mede realmente aquilo qie se pretende
medir;
Fiável: Uma escala considera-se fiável quando produz os mesmos resultados em medidas
repetidas sob as mesmas condições;
Um utilizador competente deve actuar de forma ética e profissional, assegurar-se que são
compatíveis para a utilização do teste, responsabilizar-se pelo uso que faz dos testes, assegurar
que os materiais dos testes estão seguros, e assegurar a confidencialidade dos resultados do
teste.
São testes muito breves, de fácil aplicação, em tempo muito breve (5 a 10 minutos) e
permitem a discriminação de situações normais e patológicas. Só podem indicar se há ou não
alterações cognitivas, não sendo possível fazer o diagnóstico.
Qualquer bateria geral deverá incluir: Registo geral (dados biográficos…), anamnse,
observação da conduta, raciocínio e juízo crítico, atenção-concentralção, orientação tempo-
espacial, linguagem, memória, praxias, gnosias e teste do lóbulo frontal.
O ouvido médio
A razão principal tem a ver com a elevada perda por reflexão que
ocorre quando as ondas sonoras embatem na janela oval e que
apresenta valores perto dos 30 dB. Para compensar essa perda os
ossos do ouvido médio funcionam como uma alavanca mecânica
aumentando a pressão. Outra fonte para compensar essa perda é o
estreitamento do caminho perto da janela oval que faz com que ocorra um
aumento de pressão adicional pois como se sabe para uma mesma força a
pressão é maior em áreas mais pequenas.
(c) – efeito pistão: uma pressão baixa que es distribui numa área grande resulta numa
pressão alta numa área pequena
O ouvido interno
Vamos então ver de que forma as ondas sonoras actuam nos cílios.
A percepção do nível sonoro é bastante simples. Quanto mais alto for o som
maior é a quantidade de cílios que se movem e logo mais células auditivas
são “activadas”. Os cílios só respondem ao som a partir de uma
determinada intensidade sonora.
Usando como fonte sonora não sons puros mais instrumentos musicais
verificou-se que a alteração de altura do som é mínima, da ordem dos 17
centos quando a intensidade sonora passa dos 65 dB até os 95 dB, sendo
que a predominância de harmónicas abaixo ou acima dos 1000 Hz têm um
papel fundamental em “escolher” se a altura do som desce ou sobe.
Outro fenómeno de alteração de altura do som é igualmente observado no
decaimento do som com reverb elevado, como por exemplo em órgãos de
igreja em que se a altura do som parece aumentar quando o som decaí.
No que respeita à duração do som e a percepção da altura deste temos que
ter em conta o princípio de incerteza acústica dada por , em que
é a incerteza na frequência e a duração do som. Em condições
exemplares K pode tomar o valor de 0,1. Se a duração do som for menor
que 25 ms logo a incerteza na frequência é maior ou seja a altura do som
parece que varia mais.
O ouvido tem mais facilidade em detectar alterações na altura do som em
sons puros do que em noutros sons. Por exemplo consideremos ruído
centrado nos 1500 Hz com largura de banda de 10 Hz e o som puro de
1500 Hz. Notou-se que tem um valor seis vezes maior para o ruído em
relação ao som puro ou seja o som puro apresenta uma incerteza bem
menos elevada frequência
Convém relembrar aqui que uma onda periódica pode ser decomposta nas
suas componentes parciais com frequências f,2f,3f,4f,etc, e em que f é a
frequência fundamental. Pode acontecer que a fundamental tenha menor
amplitude do que as outras harmónicas, como foi demonstrado por Seeback
em meados do século XVIII. Utilizando uma sirene e colocando-a dentro de
um disco rotatório com fendas espaçadas de igual modo é possível ouvir
Seeback notou que se duplicar o número de fendas o som que se ouve
corresponde a uma oitava.
Abafamento
2 – um som puro abafa mais facilmente sons com frequências altas do que
baixas
Repare-se que em (a) as excitações produzidas pelos dois sons quase não
se sobrepõem, ou seja o abafamento é mínimo. Em (b) existe já um
abafamento significativo por parte do som B. Se este se tornar mais intenso
então ele irá abafar quase completamente o som de frequência mais alta A
(c). Por outro lado se verificarmos a situação contrária em que A é mais
intenso do que B como se mostra em (d) temos que o som A não abafa
completamente o som B, ou seja é mais fácil abafar um som de frequência
alta do que baixa.
Localização espacial
3. Visão
3.1. Introdução
A visão, pelo menos entre os primatas, é sem dúvida o mais útil dos sistemas sensoriais, acabando por substituir
o olfacto, cuja importância parece diminuir ao longo da evolução filogenética dos mamíferos (Habib, 2000)
Talvez por ser o sentido que mais nos aproxima das coisas reais do universo e que nos
permite criar as imagens do mundo com as quais contactamos diariamente, a visão é o
sentido que desde sempre mais impressionou os curiosos e investigadores (Caldas, 2000).
Para os visuais, o recurso a imagens permite um pensamento mais rápido e fluído, tendo a visão sido considerada
desde a antiguidade como uma “porta de entrada para o conhecimento” (Caldas, 2000).
Quase todos os seres vivos são sensíveis à luz. As plantas captam energia luminosa, movendo-se algumas para
seguir o Sol, “tal como se as flores fossem olhos que o vissem” (Gregory, 1968). Os animais usam a luz, as sombras
e as imagens para fugirem ao perigo e procurarem a presa.
A reacção á luz, encontra-se mesmo nos animais unicelulares. Nas espécies mais evoluídas, observam-se células
especialmente adaptadas para servirem de receptores sensíveis à luz (Gregory, 1968). Estas células podem estar na
pele – como nas minhocas – ou organizadas em grupos, a maior parte das vezes forrando uma concavidade, o que
representa o início de um verdadeiro “olho gerador de imagens” (Gregory, 1968).
A questão de saber como se terão desenvolvido os olhos representa uma das maiores interrogações posta à teoria
da selecção natural (Gregory, 1968). Desde muito cedo que Alcmaeon (cit. in Caldas, 2000) encontrou, na
dissecção do cérebro humano, o nervo óptico a penetrar no cérebro, passando a afirmar que as imagens exteriores
seriam tratadas por este órgão.
A percepção visual é um processo criativo desde o seu princípio (Caldas, 2000). A ideia de se projectar uma
imagem bidimensional na retina não permite compreender uma visão a três dimensões, nem como um mesmo
objecto, visto em diferentes ângulos – e portanto com imagens retinianas também diferentes – , é compreendido
como o mesmo objecto, pelo observador (Caldas, 2000).
A ocorrência de um trabalho sofisticado, difícil e criativo, sobre a imagem, com base na experiência prévia e que
vai modificar a informação de forma a dotá-la de significado é inegável (Caldas, 2000). Trata-se de um processo
sequencial ao longo da via óptica, desde as células da retina até ao córtex, e através do qual a informação é alvo de
tratamentos diversificados, no que concerne nomeadamente à côr, forma e movimento (Caldas, 2000). A
dificuldade parece, sobretudo, residir na compreensão da forma como o cérebro integra estes três elementos de
análise para dar um sentido único aquilo que está a ver (Caldas, 2000).
O globo ocular pode ser comparado a uma câmara fotográfica, ou seja, uma cavidade fechada, iluminada apenas
através de um pequeno orifício, em cujo fundo são projectadas as imagens do mundo exterior (Caldas, 2000).
De forma esférica, o globo ocular é interiormente revestido por um tecido particular, de organização complexa –
retina (Guyton, #; Caldas, 2000). A retina, o órgão receptor da visão, é o primeiro intermediário entre o mundo
visual e o cérebro (Habib, 2000).
O raio luminoso que atinge a retina (Fig. 1) não é modificado na sua natureza, mas as propriedades de refracção
dos tecidos que constituem o globo ocular fazem com que este se comporte como uma lente que desvia os raios
luminosos (Habib, 2000).
A retina é constituída por células nervosas e fibras que convergem para o pólo posterior do globo ocular, para se
reunirem a nível de um ponto excêntrico, situado um pouco para dentro de pólo em si mesmo: a papila (Habib,
2000).
A nível do polo posterior propriamente dito, encontra-se uma mancha amarela visível ao exame do fundo do
olho, a mácula, que apresenta no seu centro uma depressão avascular, a fóvea, região da retina que possui melhor
resolução espacial (Habib, 2000).
As células receptoras – ou fotorreceptores – estão distribuídas de maneira desigual pela retina sendo a papila a
única região que não contém fotorreceptores; ela é portanto cega – ponto cego (Habib, 2000).
FISIOLOGIA DA RETINA
Na retina existem dois tipos de fotoreceptores denominados cones e bastonetes. Os cones têm o papel de detectar
as formas e as cores e são responsáveis pela visão diurna (Guyton, #; Habib, 2000). Já os bastonetes actuam apenas
quando a intensidade luminosa é diminuta, sendo mais sensíveis às variações luminosas, mas revelando-se
grosseiros na detecção das formas (Habib, 2000).
Cones e bastonentes estão dispostos de maneira diferente na retina, havendo mais bastonetes que cones (Habib,
2000), salvo ao nível da fóvea – em que os cones são mais numerosos – razão pela qual a fóvea obtém a imagem
mais clara, permitindo uma análise muito fina da forma e das cores (Habib, 2000).
Uma vez que os cones e bastonetes estão na parte posterior da retina, a luz tem de passar pelas outras camadas de
células para os estimular (Hubel, 1985; Habib, 2000). Uma possível razão para esta localização dos receptores
reside na existência de uma camada de células com um pigmento – melanina – por detrás destes, a qual completa o
circuito da luz que passou pela retina, evitando que seja reflectida, e espalhando-a em todas as direcções (Habib,
1985). A melanina, ajuda ainda a recuperar o pigmento visual sensível à luz nos fotorreceptores, após ter sido
utilizado pela luz (Hubel, 1985).
Passando da parte posterior para a frontal da retina, registamos a existência de outros tipos de células ainda não
referidos (Fig. 2). As células bipolares recebem o input dos receptores e muitas delas alimentam directamente as
células ganglionares retinianas (Hubel, 1985; Habib, 2000). Os seus axónios estão encarregados de transmitir a
informação até as estruturas cerebrais, constituindo as vias ópticas (Habib, 2000).
Para além deste tipo de células, existem ainda células horizontais e amacrinas – células de associação que
conectam os receptores às células ganglioanres (Hubel, 1985; Habib, 2000): As células horizontais ligam os
receptores as células bipolares, enquanto as amácrinas ligam as células bipolares às células ganglioanres (Hubel,
1985).
A informação visual, pode assim, seguir duas vias: a via directa, que é altamente específica ou compacta, na
medida em que um receptor ou relativamente poucos receptores alimentam uma célula bipolar e relativamente
poucas destas alimentam células ganglioanres, não se registando a intervenção das células horizontais ou amácrinas
(Hubel, 1985), ou a via indirecta, que se revela mais extensa e difusa, com conexões laterais, onde intervêm as ditas
células de conexão (Hubel, 1985).
CAMPOS RECEPTIVOS
Por volta de 1950, Stephen Kuffler (cit in Hubel, 1985), num trabalho pioneiro no qual regista a respostas das
células ganglionares retinianas a focos de luz no gato, encontrou uma região na retina através da qual era possível
influenciar (aumentar ou diminuir) a resposta das células ganglionares retinianas.
Um mesmo cone efectua sinapse com dois canais distintos de células bipolares e ganglionares (Fig. 3) dos quais
um é excitado pela activação do cone por meio da luz – célula bipolar de centro on
(Hubel, 1985; Habib, 2000) ou despolarizante (Habib, 2000) e outro é inibido por esta
mesma activação do cone – célula de centro off (Hubel, 1985; Habib, 2000) ou
hiperpolariznate (Habib, 2000).
Demonstrou-se (Hubel, 1985; Habib, 2000) que o campo receptivo das células ganglionares é aproximadamente
circular e de dimensão variável, conforme a parte da retina implicada. Por campo receptivo das células
ganglionares, entende-se a região da retina na qual se pode aumentar ou diminuir a resposta deste tipo de células
retinianas (Hubel, 1985).
Ao nível da fóvea, onde a acuidade visual é melhor, o campo receptivo das células ganglionares é muito pequeno
(Hubel, 1985; Habib, 2000); na periferia da retina, onde pelo contrário a acuidade é fraca, os campos receptivos são
mais extensos (Habib, 2000; Hubel, 1985).
Os campos receptivos apresenta uma zona central e uma zona periférica, de polaridade contrária. Este
antagonismo centro-periferia das células ganglionares (Fig. 4), é a primeira fase de um processo que se produz
igualmente noutros níveis do sistema visual, cuja finalidade é aumentar o contraste entre a luz e a obscuridade –
fundamental para a percepção das formas e dos contornos – e que explica a razão pela qual a aparência de um
objecto não depende tanto da intensidade luminosa que ele reflecte como do contraste espacial, isto é, o contraste
entre o objecto e o que o rodeia (Habib, 2000).
O antagonismo centro-periferia é ainda intensificado com a intervenção das células horizontais. Os cones
libertam um mediador químico que despolariza as células horizontais que, uma vez activadas, libertam outro
transmissor que inibe os cones vizinhos (Habib, 2000),
Independentemente dos sistemas on e off, existem três subgrupos de células ganglionares, diferentes na sua forma
e função:
- As células X, de tamanho médio e com poucas dendrites, participam na visão de alta acuidade;
- As células Y, cujo soma é mais volumoso, tem dendrites mais desenvolvidas e são importantes na análise inicial
e grosseira das formas;
- As células W, com pequeno corpo celular, estão implicadas nos movimentos da cabeça e do pescoço
coordenados pela visão.
AS VIAS VISUAIS
As fibras do nervo óptico fazem sinapse com as células do corpo geniculado lateral (CGL) e os axónios das
células geniculadas laterais terminam no córtex visual primário (V1) (Hubel, 1995). Estas conexões são
organizadas topograficamente (Hubel, 1985), querendo-se com isto dizer que o mapeamento de cada estrutura para
próxima é sistemático, ou seja, à medida que se avança na retina de um ponto para outro, os pontos correspondentes
no corpo geniculado e córtex traçam um continuum (Hubel, 1985).
As fibras do nervo óptico unificam-se num feixe apenas quando saem do olho e atinge o CGL, espalhando-se e
terminando de forma tipograficamente organizada (Hubel, 1985). As fibras que deixam o CGL espalham-se
igualmente numa banda larga que se estende até ao interior do cérebro e termina de forma igualmente organizada
no V1 (Hubel, 1985).
Após diversas sinapses, quando as fibras deixam o V1 e se projectam para outras regiões corticais, a ordenação
topográfica é novamente mantida. Uma vez que ocorre convergência em cada um dos estádios, os campos
receptivos tendem a ser cada vez mais largos (Hubel, 1985).
As células oriundas do cérebro passam ininterruptamente pelo quiasma óptico. Cerca de metade das fibras
cruzam para a parte do cérebro oposta ao olho de origem e a outra metade permanece no mesmo lado (Hubel,
1985). Do quiasma, as fibras continuam para vários destinos no cérebro: Algumas vão para estruturas relacionadas
com o movimento ocular e o reflexo da luz pupilar, mas a maioria termina nos CGLs (Hubel, 1985).
Comparadas com o córtex ou muitas outras partes do cérebro, os CGLs são estruturas simples cujas células
individuais respondem à luz de forma mais intensa, mas análoga às células ganglionares retinianas (Hubel, 1985).
As fibras da metade esquerda da retina esquerda vão para o CGL do mesmo lado, enquanto as fibras da metade
esquerda da retina direita atravessam o quiasma óptico e vão para o CGL do lado oposto (Fig. 5); De forma
semelhante, os outputs das duas metades direitas das retinas, terminam no hemisfério direito (Hubel, 1985).
O termo campo visuais refere-se ao ambiente visual tal como é visto por ambos os olhos. O campo visual direito
refere-se a todos os pontos à direita de uma linha vertical que atravesse qualquer ponto que estejamos a observar.
Será importante insistir na distinção entre campo visual- o que nós vemos no mundo exterior - e campo receptivo –
o mundo exterior tal como é visto por uma única célula.
Cada CGL é composto por seis camadas de células justapostas (Hubel, 1985). Os dois olhos unem-se com duas
placas das células ganglionares retinianas separadas, projectando para as seis camadas da placa geniculada (Hubel,
1985).
Uma única célula no CGL não recebe input convergente dos dois olhos: ou é do olho direito ou do esquerdo
(Hubel, 1985). Estes dois conjuntos de células segregam-se em camadas separadas de forma que todas as células de
uma camada recebem apenas informação de um olho (Hubel, 1985). As camadas distribuem-se de forma tal que os
olhos vão alternando (Fig. 6).
Podemos considerar as duas camadas inferiores como uma entidade distinta, diferente das outras quatro camadas
por responderem de forma diferente aos estímulos visuais, razão pela qual as quatro camadas superiores se
denominam parvocelulares, enquanto as duas camadas inferiores (dorsais) se denominam magnocelulares – Fig. 7
(Hubel, 1985; Caldas, 2000).
ORGANIZAÇÃO DO CÓRTEX ESTRIADO
A maioria dos neurónios provenientes do CGL terminam a nível da camada IV do córtex estriado (V1), onde
fazem sinapse com as pequenas células estreladas (Habib, 2000). A camada IV (Fig. 8) está dividida em três sub-
regiões (a, b, c) – Habib, 2000. A maioria das referências chega a nível da região IVc. As células X e Y do CGL
terminam respectivamente em duas faixas da região IVc denominadas IVcb e IVca (Habib, 2000). Na camada IVc a
maior parte das células estreladas têm campos receptores do tipo on e do tipo off (Habib, 2000).
São ainda os trabalhos de Hubel (1985) e Wiesel (cit in Habib, 2000) que estão na base dos conhecimentos
relativos à organização funcional do V1, ao demonstrarem a sua estrutura colunar. Injectando no olho de um
macaco um aminoácido marcado radiactivamente, descobriram que este, depois de chegar ao córtex visual, se
fixava na camada IV (a nível das terminações das fibras do CGL), segundo uma topografia muito particular,
realizando uma série de estrias alternantes escuras e claras (Habib, 2000).
Estas estrias correspondem de facto, ao que se chama colunas de dominância ocular (Hubel, 1985; Habib, 2000),
testemunhando a chegada ao córtex da informação proveniente de cada olho por canais separados – sem dúvida
uma das bases da percepção dos relevos da visão binocular (Habib, 2000).
Outra característica fundamental da organização em colunas do córtex estriado foi descoberta igualmente por
Hubel e Wiesel (cit in Habib, 2000; Hubel, 2985) ao estudarem os campos receptivos das células corticais. Ao
contrário das células do CGL, as células corticais pertencentes às camadas vizinhos IVc não possuem os campos
receptivos circulares clássicos, para as quais um ponto luminoso é capaz de aumentar consideravelmente a
actividade eléctrica da célula. Pelo contrário, estas células corticais ficam insensíveis a estimulação luminosa
punctiforme (Hubel, 1985; Habib, 2000). Elas têm contudo, a capacidade de serem activadas por linhas de
orientações diferentes (Hubel, 1985; Habib, 2000). Foram descritos dois tipos de células com esta particularidade:
- As células simples, existem principalmente na camada IV, têm campo receptivo formado por uma zona central
excitadora e uma zona periférica inibidora, mas em que a zona central, ao contrário das células retinianas ou
geniculadas, é estreita, alongada e não circular (Habib, 2000). O estímulo pertinente, susceptível de activar esta
célula, não é um ponto luminoso, mas uma barra luminosa com determinada orientação (Hubel, 1985; Habib,
2000).
Finalmente, o córtex estriado é constituído pela sucessão de pequenos volumes sensivelmente cúbicos, que tem
um sequência completa de colunas de dominância ocular e de orientação, dando ao córtex uma estrutura repetitiva
que relembra um cristal (Habib, 2000). Cada um destes cubos revela-se necessário para a analise de todas as
características de uma determinada porção do campo visual. Tal fragmentação ilustra perfeitamente a organização
modular que é hoje considerada uma característica do córtex cerebral (Habib, 2000).
A par da organização colunar, o V1 está igualmente organizado em seis camadas sobrepostas. De resto, no seio
de cada coluna anatomofuncional encontram-se células especializadas no tratamento de um mesmo tipo de
informação (Habib, 2000). Se a camada IV está, pelo facto de receber as aferências geniculadas, particularmente
implicada na descodificação da informação, as outras camadas não são menos importantes, em especial pelo seu
papel na transmissão (Habib, 2000): as camadas II e II, em particular, estão em relação com as outras áreas corticais
ditas associativas específicas, das quais dependerão as fases seguintes do tratamento da informação visual (Habib,
2000).
Pode-se desta forma dizer que existe no interior do próprio V1 uma “circulação“ das mensagens sensoriais que
chegam à canada IV (Habib, 2000): os axónios desta camada vão contactar os neurónios das camada II e I
adjacentes. Estes descem na profundidade do córtex parta contactar os neurónios da camada V, que por sua vez
contactam de novo os da camada IV (Habib, 2000). É provável que esta circulação permita extrair da mensagem
visual atributos cada vez mais abstractos, antes de os transferir as áreas associativas vizinhas (Habib, 2000).
As hipercolunas do V1, pela sua estrutura tridimensional, arranjo interno e externo, e suas conexões aferentes e
eferentes, desempenham o papel de “pequenos computadores de alto desempenho que possuem as características
óptimas para transmitir ao resto do cérebro uma primeira representação fiável e precisa do mundo circundante,
verdadeira percepção para a tornar-se posteriormente sensação” (Habib, 2000).
Estudos neuroanatómicos no macaco permitiram reconhecer no córtex diversas áreas distintas com um papel
mais ou menos complexo na visão. Estas áreas cobrem o que se chama córtex associativo visual que corresponde ás
áreas 18 e 19 (também chamadas V2 e V3), à volta da áreas estriada (V1), mas igualmente outras áreas vizinha
situadas na metade posterior do hemisfério (Habib, 2000). As células destas zonas do córtex têm propriedades
diferentes das do V1, tendo as mais simples de todas – situadas na área 18 – sido qualificadas de hipercomplexas
(Habib, 2000).
Certas células, hipercomplexas de ordem inferior, são activadas apenas quando um estímulo se interrompe
(Habib, 2000); outras (hipercomplexas de ordem superior) por um estímulo que interesse exclusivamente à parte
central do campo receptivo (Habib, 2000). Ao que parece, a actividade destas células hipercomplexas recebe o
efeito inibidor ou activador de duas ou mais células complexas da área 17 (Habib, 2000).
Com base em estudos anatómicos que demonstram as conexões existente entre as diferentes áreas corticais para
além da V1, Van Essen et al. (cit in Habib, 2000) sugerem que a organização hierárquica poderá continuar para
além das células hipercomplexas (Fig. 10). O papel de cada fase hierárquica ainda é muito mal conhecido, mas
sabe-se que os campos receptivos, que são mais pequenos em V1 vão sendo cada vez mais extensos (Habib, 2000).
No conjunto podem distinguir-se no seio das diferentes fases dois circuitos separados:
- Um circuito, que passa pela região temporal média (MT) e a área temporal médio-superior (MST), parece
implicado na análise do movimento (Habib, 2000). As células MT são selectivamente activadas pelo movimento
dum estímulo e pela sua velocidade, independentemente da forma e cor (Habib, 2000). As células de MST, que têm
campos receptivos ainda mais extensos do que MT, respondem de maneira diferente a um objecto em movimento
conforme o movimento relativo é devido ao movimento do próprio objecto ou aos movimentos oculares do animal
(Habib, 2000).
- O outro circuito compreende as áreas V4, VP e o córtex infero-temporal (IT) estando principalmente implicado
na análise das formas e das cores (Habib, 2000): As áreas V2, V4 e VP contêm uma maioria de células nitidamente
especializadas no tratamento das cores; já as funções do córtex IT foram largamente estudadas graças às
experiências de Mishkin et al. (cit in Habib, 2000) no macaco, no qual esta zona se revela crucial para o
conhecimento das formas. Os registos da actividade dos neurónios desta região mostraram ainda uma
especificidade para certos níveis da análise muito sofisticados – p.e. algumas delas são só activados pela visão de
uma mão ou de um rosto (Habib, 2000).
2.3. ESTEREOPSIA:
Julgamento da Profundidade
A estratégia de avaliar a profundidade através comparação das duas imagens retinanas, parece funcionar
bastante bem (Hubel, 1985). A nossa imagem retiniana é a duas dimensões (2D) mas o mundo em que vivemos é
tridimensional (3D). Estimar a forma 3D de um objecto, envolve considerar a sua profundidade.
a) Quando o tamanho é vagamente conhecido (como acontece para as pessoas, carros, árvores..), pode utilizar-
se para avaliar a distância, com o risco de sermos enganados por anões, bonsais, entre outros;
b) A posição, é outro índice importante: quando um objecto é parcialmente obstruído por outro, consideramos
o objecto da frente como mais próximo;
c) A perspectiva actua quando olhamos para os carris de uma linha férrea: à medida que se afastam
aproximam-se;
d) A fonte de luz, ou mais propriamente a sombra que origina, é outro índice a considerar;
e) Uma maior pista para a profundidade é a paralaxe, ou seja os movimentos relativos dos objectos próximos e
distantes quando movemos a cabeça lateralmente ou verticalmente
Excepto a convergência e a divergência, as demais pistas para a profundidade envolvem apenas um olho. A
estereopsia – talvez o mecanismo mais importante para avaliar a profundidade (Hubel, 1985), depende do uso
conjunto dos dois olhos, já que em qualquer cena de profundidade os nossos dois olhos recebem imagens
ligeiramente diferentes (Hubel, 1985).
Na estereopsia, o cérebro compara as duas imagens retinianas e estima a profundidade relativa com grande
correcção.
2. Se nos fixarmos num ponto no espaço, as imagens caem nas duas fóveas e qualquer ponto julgado à mesma
distância do ponto fixado projecta-se as suas imagens nos pontos retinianos correspondentes (Hubel, 1985);
3. A estereopsia depende do simples facto geométrico de que, à medida que um objecto se aproxima de nós, as
duas imagens que projecta nas duas retinas tornam-se exteriormente deslocadas, relativamente aos pontos
correspondentes (Hubel, 1985);
4. O facto central da estereopsia reside num objecto, cujas imagens caem em pontos correspondentes nas duas
retinas, ser percepcionado como estando á mesma distância do que o ponto fixado. Quando as imagens estão
deslocadas exteriormente em relação aos pontos correspondentes, o objecto é visto como mais próximo do que o
ponto fixado; quando o deslocamento é para o interior é visto como mais longe (Fig. 11) – Hubel, 1985
5. deslocamentos horizontais maiores do que cerca de 2 graus ou deslocamentos verticais de cerca de 5 minutos,
levam a uma visão dupla (Hubel, 1985).
Quando a luz (constituída por fotões, um conjunto de ondas electromagnéticas com comprimento de onda (l)
específicos) atinge um objecto, pode ser absorvida (convertendo-se em calor), trespassar o objecto, ou ser reflectida
(Hubel, 1985). Um objecto que absorve alguma luz e reflecte a restante é denominado pigmento (Hubel, 1985). Se
alguns l na região visível são mais absorvidos que outros, o pigmento aparece-nos dotado de cor (Hubel, 1985).
A nossa retina contém três tipos de cones, cada um dos quais com um pigmento diferente que absorve um l
melhor de que outros (Hubel, 1985). Estes três tipos são “vagamente” (Hubel, 1985) denominados de “azul”,
“verde” e “vermelho”; vagamente porque os nomes se referem aos picos de sensibilidade em vez da côr que os
pigmentos representam e se pudéssemos estimular os referidos cones não obteríamos essas cores (Hubel, 1985).
Ao longo do século XVIII tornou-se claro que qualquer cor poderia ser obtida por misturas de luzes de três l nas
proporções correctas – Teoria Tricromática (Hubel, 1985).
Thomas Young (cit in Hubel, 1985), terá avançado com uma explicação que se tornou verosímil ao verificar a
existência de três tipos de cones e foi adoptada e liderada por Helmholtz (cit in Hubel, 1985), ficando conhecida
pela teoria Young-Helmholtz (Hubel, 1985)
Na segunda metade do século XIX, Ewald Hering (cit in Hubel, 1985), interpretou os resultados da mistura de
cores propondo a existência, no olho, cérebro ou em ambos, de três processos opostos: um para a sensação
vermelho-verde, outro para azul-amarelo e outra, qualitativamente diferente, para o branco-preto.
Poder-se-á pensar nestes processos de Hering como canais separados no SN, cujos outputs podem ser
representados como dois medidores, com o indicador de um a registar amarelo por um lado e azul por outro e outro
vermelho vs. Verde (Hubel, 1985). Um terceiro antagonismo registaria branco vs. preto (Hubel, 1985).
Um aspecto curioso, e demonstrado por Land (cit in Hubel, 1985) em 1950, reside no facto de,
independentemente da fonte de iluminação a cor do objecto ser mantida – facto que ficou conhecido pela
constância da cor (Hubel, 1985).
Uma variedade de experiências relacionadas com a constância da cor mostrou que a sensação produzida numa
determinada parte do sistema visual depende da luz oriunda desse loca e da luz oriunda de todos os outros locais do
campo visual (Hubel, 1985). Assim, parece poder aplicar-se a todas as cores o princípio de que existe uma oposição
não apenas localmente no vermelho vs. verde, amarelo vs. azul e branco vs. preto, mas também especialmente:
centro-periferia (Hubel, 1985).
Em 1956, Gunnar Svaetichin (cit in Hubel, 1985), descobriu três tipos de células horizontais relacionadas com a
percepção da cor: um primeiro tipo, a que chamou células L, era hiperpolarizado pela estimulação luminosa
independentemente do l – Hubel, 1985. O segundo tipo, chamado células r-g, era polarizado por pequenos l - com o
máximo para a luz verde - e despolarizadas por grandes l - com o máximo para o vermelho (Hubel, 1985). Já o
terceiro, ao qual, pensando em Hering, chamou de células y-b, responde tal como as células r-g, mas com
hiperpolarização para o azul e máxima despolarização para o amarelo (Hubel, 1985).
Em 1958, Russell De Valois e colegas (cit in Hubel, 1985) verificaram um padrão de respostas bastante similar
ao de Svaetichin, em células do CGL do macaco, cuja visão a cores, segundo De Valois (cit in Hubel, 1985), é
semelhante à dos humanos.
Para a maioria das células de côr oposta de De Valois, os campos receptivos apresentavam uma organização
surpreendente. Num exemplo típico, o campo central é exclusivamente alimentado por cones vermelhos e a
periferia inibitória exclusivamente por cones verdes. Consequentemente, com luz vermelha, quer um ponto
pequeno quer um ponto grande dão respostas eficientes, atendendo a que o centro é selectivamente sensível a um l
longo e a periferia supostamente insensível (Hubel, 1985); com l curtos, pequenos pontos dão pouca ou nenhuma
resposta e pontos largos produzem fortes inibições, com respostas off (Hubel, 1985). Com luz branca, que contém l
curtos e longos, pontos pequenos evocam respostas on e pontos largos não produzem resposta (Hubel, 1985).
Embora a primeira impressão seja de que este tipo de células obteria input de cones vermelhos na região central e
de cones verdes na periferia, o que nos apresenta como verosímil no campo receptivo total é a combinação de dois
processos de sobreposição: Ambos os cones verdes e vermelhos estão numa área circular relativamente larga, em
números que são máximos no centro e que diminuem do centro para a periferia (Hubel, 1985; Bruce, Green &
Georgeson, ##). A resposta a luz difusa (neste caso, on para o vermelho, off para o verde ou azul, e não resposta
para o branco) evidenciam que tal célula deve registar informação sobre a côr. Mas a resposta a bordos brancos
apropriados e a falta de respostas para luz difusa, torna claro que a célula é também sensível a formas preto-e-
branco.
Estas células, denominadas células de côr oposta centro-periferia “tipo 1” (Hubel, 1985) e
que se encontram nas camadas parvocelulares, diferem umas das outras no tipo de cones
que estão no centro e periferia e na natureza do centro (se é excitatória ou inibitória) –
Hubel, 1985.
Um segundo tipo de células – células “tipo 2” – recebe input de um cone azul no centro e pela combinação de
um cone vermelho e verde (ou talvez só verde) na periferia – chamamo-lhe azul-amarelo (em que amarelo é a
forma simplificada de “vermelho+verde”) – Hubel, 1985.
As restantes células das camadas parvocelulares e as células das magnocelulares são centro-periferia mas não
mostram esta preferência para a côr (Hubel, 1985). Chamamos a estas células de banda larga ou células de “tipo
3” (Hubel, 1985).
Todas estas células são compatíveis com o modelo de Hering, já que há duas classes de células de côr oposta –
uma vermelha-verde e outra amarelo-azul – e uma terceira não mostrando oposição à côr, mas sim uma banda larga
com oposição espacial (Hubel, 1985).
O que não parece coincidir com nenhuma teoria é a organização espacial das células tipo 1 (Hubel, 1985). Ao que
parece estas células desempenham um papel relevante da percepção de alta precisão, atendendo aos seus centros
fininhos e a sua responsividade aos contornos branco e preto (Hubel, 1985). As células do CGL que tem input perto
da fóvea, têm campos receptivos pequenos, parecendo mesmo eu na fóvea cada cone contribui para apenas um
campo central (Hubel, 1985).
Só por si a retina não parece poder mediar as interacções color-espaciais (Hubel, 1985). O peixe dourado, que
realiza comparações espaciais muito similares às nossas, não tem praticamente córtex cerebral (Hubel, 1985).
Talvez ao contrário do homem, este peixe realize as comparações espaciais através da retina (Hubel, 1985). Em
1968, Nigel Daws (cit in Hubel, 1985), descobriu células de oposição dupla, que parece desempenhar essa função.
Por volta de 1978, altura em que o V1 do macaco parece ter sido razoavelmente percebido, surgiu uma
característica inesperada da fisiologia: apenas algumas células pareciam interessadas na visão a cores (Hubel,
1985).
Sensivelmente neste mesmo ano, Margaret Wong-Riley (cit in Hubel, 1985), descobriu que colorindo o V1 com a
enzima citocrómo oxidase, as camadas superiores exibiam uma “des-homegeneidade” (“inhomogeneity” – Hubel,
1985) desconhecida, ás quais Hubel (1985) chama blobs.
Em 1981, Livingstone e Hubel (cit in Hubel, 1985) verificam que cada vez que se atravessa um blob, as células
observadas perdem completamente a selectividade da orientação, fenómeno que parece poder ser explicado de duas
formas (Hubel, 1985):
1) Estas células devem receber os seus inputs sem qualquer selecção das células orientadas na vizinhança não-
blob continuando consequentemente a responder especificamente para linhas;
2) Podem reunir células geniculadas ou células da camada IVc e portanto serem mais simples do que as não-blob
selectivas à orientação.
Cerca de metade das células blob têm campos receptivos cor-oposta e centro-periferia, mas comportam-se de
uma forma mais complicada do que as células tipo 1 dos CGL (Hubel, 1985). Supostamente, elas não respondem a
pontos brancos, qualquer que seja o seu tamanho ou forma, mas respondem vigorosamente aos pequenos pontos
coloridos que brilham no centro do campo receptivo podendo, tal como nos CGL distinguir-se 2 classes (Hubel,
1985): vermelho-verde e azul-amarelo, de acordo com a posição do máximo das respostas.
O seu centro, tal como nas células de tipo 2, é largo (Hubel, 1985). Todavia não respondem a pontos largos
coloridos seja qual for o l (Hubel, 1985). Comportam-se como se o sistema central fosse rodeado por uma oposição
r+g- vs. r-g+ (células de dupla oposição) – Hubel, 1985.
Livingstone e Hubel (cit in Hubel, 1985) propõem que os blobs representam um ramo na via visual que é
destinado á cor. A maioria dos blobs parecem requerer um contraste do bordo para responder: ou bordos
luminosidade-intensidade (no caso das células centro-periferia de banda larga) ou bordos de contraste de cor (nas
células de oposição dupla) – Hubel, 1985. Estas células parecem participar na constância da cor (Hubel, 1985).
Se as células blob estão envolvidas na constância da cor, elas não se podem basear numa comparação região-
periferia, tipo Hering (Hubel, 1985). Mas as duas formas de considerar a cor – r, g e b, por um lado e b-w, r-g e y-b,
por outro, são equivalentes (Hubel, 1985).
Desta forma, a cor necessita apenas de três variáveis específicas (Hubel, 1985), podendo pensar-se na cor como
um ponto num espaço tridimensional (Hubel, 1985) – Fig. 12.
Hemianopsias
Uma lesão que atinge a fita óptica será responsável por um sintoma frequentemente encontrado na pratica
neurológica – a hemianopsia lateral homónima (HLH). Enquanto uma lesão no nervo óptico altera ou suprime a
visão na totalidade do campo visual de um só olho (cegueira monocular ou amaurose), a lesão da fita direita,
provocará, nos dois olhos, uma perda da visão nos hemicampos visuais esquerdos (HLD direita), o contrário se
verificando quando a lesão ocorre na fita esquerda (HLH esquerda) – Habib, 2000.
Mais raramente se pode encontrar outro tipo de hemianopsia, dita bitemporal, quando a lesão se localiza a nível
do quiasma óptico: somente as fibras que se cruzam na linha mediana são então atingidas, provocando uma perda
da visão no hemicampo temporal de cada olho (Habib, 2000).
Cegueira Visual
Uma das consequências mais impressionantes de uma lesão cerebral sobre as capacidades visuais é a síndroma de
“cegueira cortical” (Habib, 2000), na qual indivíduos com lesões extensas nos dois lobos occipitais, com
destruição das duas áreas estriadas, não fazem chegar ao córtex estriado nenhuma informação de qualquer
hemicampo visual (Habib, 2000).
Estes indivíduos, cujo comportamento geral é o de um cego, não sendo capazes de
nomear os objectos que lhe são apresentados, nem mesmo de manifestar o que vêm, ou
de deslocar-se sozinhos, não se queixam espontaneamente, negando quase
sistematicamente a sua cegueira (Habib, 2000).
As perturbações da visão das cores relacionadas com lesões cerebrais, podem ser de três tipos diferentes (Habib,
2000):
- Acromatopsias Centrais: Definidas pela perda da visão colorida numa parte do campo visual, não apresentam
queixa espontânea no indivíduo, não obstante de se verificar uma incapacidade no discernimento das diversas cores
no hemicampo visual atingido aquando de um exame atento das capacidades visuais (Habib, 2000).
- A Anomia das Cores, frequentemente associada a Alexia Agnósica, caracteriza-se pela dificuldade em nomear as
cores na ausência de acromatopsia, o que é comprovado pela conservação da aptidão do indivíduo em classificar ou
emparelhar diferentes intensidades da mesma côr (Habib, 2000). A lesão situa-se na face interna do lobo occipital
esquerdo, na junção do lobo temporal Habib, 2000).
- A Agnosia das Cores é uma perturbação situada a um nível conceptual (Habib, 2000) na qual o indivíduo
experimenta dificuldades no reconhecimento das cores que lhe são apresentadas e sobretudo uma deficiência
acentuada na evocação das cores (Habib, 2000). Neste caso, as lesões são geralmente bilaterais e causadoras de
agnosia de objecto.
Aléxia Agnósica
A alexia agnósica é um sintoma frequente, ligado a uma lesão da face interna do lobo occipital esquerdo (Habib,
2000). Estes indivíduos, revelam-se incapazes de compreender a linguagem escrita, sendo a leitura em voz alta
impossível – salvo para as letras isoladas e palavras curtas (Habib, 2000).
Esta síndroma explica-se classicamente pela evocação de um mecanismo de desconexão: habitualmente, a lesão
occipital esquerda é também responsável por uma hemianopsia completa do hemicampo direito, de modo que só o
hemisfério direito recebe a imagem da palavra a ler (Habib, 2000).
Agnosia de Objectos
Na sequência de lesões cerebrais bilaterais, estes indivíduos apresentam uma incapacidade para reconhecer
objectos usuais, do mesmo modo que imagens que representam estes ou outras categorias de objectos (Habib,
2000).
É frequente que esta lesão abranja outras modalidades sensoriais, caso em que se fala de agnosia de objecto em
vez de Agnosia Visual de Objecto (Habib, 2000).
Esta perturbação, bastante insólita e também conhecida por prosopagnosia, incide especificamente numa
categoria muito particular de estímulos: o rosto. Tais indivíduos queixam-se espontaneamente de já não
reconhecerem os seus familiares, o que os põe frequentemente em situações embaraçosas. Acontece mesmo que
alguns deixam de reconhecer a sua própria imagem numa fotografia ou no espelho (Habib, 2000), manifestando as
mesmas dificuldades quando é solicitada a identificação de figuras célebres em fotografias, não obstante do aspecto
do rosto ser descrito correctamente, assim como o sexo, a idade aproximada ou mesmo a expressão facial (Habib,
2000).
Perturbações Visuoespaciais
No homem, lesões bilaterais da região parietal podem provocar perturbações das capacidade para localizar um
alvo no espaço, e por consequência, para adaptar os movimentos dos membros e dos globos oculares a esta
localização.
Uma perturbação total é conhecida pelo termo “síndroma de Balint” (Habib, 2000) – incapacidade para deslocar
voluntariamente o olhar de um ponto de fixação para outro alvo; uma “ataxia óptica” (Habib, 2000),
impossibilidade de atingir um alvo numa prova de visar ou de agarrar um objecto. Esta síndroma compreende
principalmente, segundo a descrição feita por Balint (cit in Habib, 2000), a resposta motora imediata e precisa na
sequência do aparecimento de um alvo no campo visual (Habib, 2000).
3.6. ORGANIZAÇÃO PERCEPTIVA
O mundo que observamos parece ser composto de objectos discretos, de tamanhos diversos, vistos contra um
fundo de superfícies com textura.
Geralmente não temos dificuldade em distinguir as fronteiras dos objectos, mas é possível construir figuras
que criam ambiguidade acerca do que é “objecto” e o que é “meio”, como foi ilustrado por Edgar Rubin. – Fig. 14.
Da mesma forma, é possível construir figuras cuja organização interna é particularmente ambígua – p.ex. o pato-
coelho de Jastrow – Fig. 15.
A percepção de figuras ambíguas tem levado os psicólogos a investigar os factores que influenciam a
organização perceptual. Em todos os exemplos citados e que suscitam ambiguidades, os dados percetuais
permanecem os mesmos, sendo a percepção que varia. Convirá contudo notar que tais figuras foram
propositadamente construídas, e a nossa percepção delas não é necessariamente típica de um processamento dito
normal . A ambiguidade geralmente não surge no mundo real, no qual, em vez de termos interpretações flutuantes,
geralmente vemos um objecto como estável e organizado.
Para descrever como certas percepções são mais prováveis de ocorrer do que outras, os psicólogos Gestalt
formularam um conjunto de princípios de organização perceptual:
1) Proximidade: A organização perceptiva é determinada pela proximidade dos elementos; objectos que
estão perto são agrupados conjuntamente – Fig. 16.
2) Semelhança: Elementos relativamente semelhantes são percepcionados como pertencentes à mesma
forma – Fig. 17.
3) Destino Comum: Quando dois elementos são percepcionados como parte integrante uma configuração,
quer pela proximidade quer pela semelhança, a deslocação da totalidade da configuração não altera a figura
percepcionada, apenas a sua localização no espaço.
4) Boa continuidade: Os gestaltistas defendem que a organização perceptual tenderá a perseverar ama
continuidade subtil em vez de considerar mudanças abruptas – Fig. 18
5) Fechamento: Figuras abertas, num determinado contexto e numa determinada posição, tendem a ser
fechadas – Fig. 19.
6) Tamanho relativo, orientação e simetria: O tamanho relativo dos elementos de uma figura pode alterar
a percepção figura-fundo – Fig. 20.
7) Lei da Pragnância: A melhor forma é a mais simples e mais estável; É o tipo de figura com alto nível
de redundância interna e que é também caracterizado por uma grande previsibilidade.
Muitas das leis gestalt são ferramentas descritivas importantes para uma discussão da organização
perceptiva no mundo real, mas ainda carecemos de uma teoria adequada de como os princípios actuam e de como a
organização perceptual é conseguida.
A teoria da visão de David Marr enfatiza que devemos sempre considerar que hipóteses gerais podem ser
consideradas no processamento visual para abranger a grande variedade de interpretações possíveis para qualquer
imagem particular. Segundo Bruce, Green & Georgeson , talvez os princípios gestalt funcionem por reflectirem um
conjunto de hipóteses que podem ser formuladas acerca do mundo dos objectos físicos e biológicos.
Um sistema perceptivo que se baseie em tais assunções para interpretar as imagens naturais encontrará
naturalmente soluções correctas para a organização perceptiva, a menos que enganado por artefactos que explorem
estas mesmas assunções. Talvez não seja de estranhar que na exploração de configurações fora do natural
utilizemos o mesmo conjunto de assunções.
Não obstante de tudo isto, possuir um conjunto de princípios explicativos para a percepção visual, mesmo
que saibamos como funcionam, continuará a ser apenas um ponto de partida para uma teoria de processamento da
informação completa, relativa aos processos de agrupamento.
Torna-se necessário saber como tais princípios podem ser aplicados a elementos primitivos recuperados das
imagens, com o intuito de recuperar as estruturas potencialmente significativas presentes.
Segundo Bruce, Green & Georgeson, a investigação na área da inteligência artificial – que tentou formular
uma tal teoria do processamento da organização perceptual – revela-se mais poderosa do que uma teoria
meramente descritiva, tal como a dos gestaltistas.
O programa de processamento visual de Marr, implementa tal teoria do processamento e faz um uso extensivo
dos princípios gestalt para estudar a organização perceptual.
1. Memória
Quando alguém perde a memória, perde a identidade, perde a sua vida presente e passada…
Perde tudo. Vejamos um breve resumo do estudo científico da memória:
Ebbinghaus (1885), organiza o primeiro estudo cientifico sobre a memória, identificando três
formas de memória: voluntária (recordações intencionais), involuntária (recordações
espontâneas) e recordações não conscientes nem reconhecidas como próprias que afectam e se
expressam pela conduta do sujeito.
Korsakoff (1887), descreve osíndroma com o seu nome, devido a uma carência vitamínica.
James (1890), considera que a memória está organizada em dois sistemas: primário
(transitório) e secundário (permanente).
Ramon y Cajal (1894), descobrem que o SN é composto por unidades distintas (os
neurónios), que se comunicam através de sinapses. A comunicação e troca de informações
durante as sinapses estariam na base da memória.
Donald Hebb, foi outro dos pioneiros do estudo neurobiológico da memória. Afirma que as
funções superiores têm a sua base em estruturas cerebrais.
Scoville e Milner (1955), com o caso HM, descrevem dois sistemas: memória a curto prazo e
memória a longo prazo.
Squire (1987), defende que aprender está relacionado coma aquisição de nova informação e a
memória se relaciona com a recuperação da aprendizagem num estado a que se pode aceder
posteriormente,
A tendência actual, parece ser defender que a aprendizagem é uma etapa que leva à aquisição
de habilidades e comportamentos novos, enquanto a memória é a retenção destes conhecimentos
ou habilidades adquiridas. São pois dois processos distintos mas intimamente relacionados e
interdependentes.
1. 1 Modalidades Mnésicas
1.1.1. Memória Sensorial: A informação entra primeiramente nos registos dos órgãos
sensoriais, que variam de acordo com o tipo de estímulo (armazém visual ou memória
icónica, armazém auditivo, armazém háptico ou táctil…). É um registo pré-categorial com
uma capacidade limitada e escassa duração. É através deste sistema que a informação
aferente chega ao cérebro, sendo um armazém sensorial durante um tempo muito breve
(entre1000 e 2000 milisegundos). Por esta razão, muitos autores não a consideram como
uma memória propriamente dita, mas antes um mero registo.
1.1.3. Memória de Trabalho: Este termo foi proposto por Baddeley e Hich (1974) –
working memory – sendo frequentemente considerada como a memória a curto prazo geral.
Os limites temporais da duração da recordação da memória de trabalho não estão claramente
definidos (Lezak propõe uma duração entre alguns segundos e 60 minutos, enquanto outros
autores situam o seu intervalo na clássica duração de cerca de 1 ou 2 minutos).
Requere um nível de atenção voluntária que impeça o desaparecimento dos últimos dados
informativos, constando de três subcomponentes:
A MLP não é um único sistema, sendo antes composta por vários elementos. Quando se fala
que o sujeito “perdeu a memória” é a este tipo de memória que geralmente nos estamos a referir.
a) Memória Episódica: Permite ao sujeito recordar os aspectos da sua vida pessoal, familiar e
social, tratando-se de um sistema mnésico para informações relativas a episódios situados
temporal e espacialmente.
b) Memória Semântica: Conhecimento que o sujeito tem sobre o mundo, sem referência
espacio-temporal.
Alguns autores propõem ainda que entre a MCP e a MLP existe uma memória intermédia, na
qual a informação é retida durante um número de horas variável.
INPUT Esforço/automática
MCP
Memória Primária
Memória Secundária
Priming
Episódica/semântica
Delcarativa/procedimental
A memória não é um sistema unitário, mas uma rede de sistemas interactivos, cada um
capaz de registar e armazenar informações e deixa-las disponíveis para futura recuperação.
Neste sistema estão implicadas diversas estruturas como o córtex cerebral, lóbulo frontal,
lobo parietal, lobo temporal, lobo occipital, região subcortical, leucosubcorticalidade,
diencéfalo e tronco encefálico.
Lesões no lóbulo frontal causam dificuldade para situar o contexto espacio-temporal onde
aprendeu a informação, problemas no armazenamento e ou evocação da informação que requer
uma ordem temporal. Estes sujeitos não organizam o que aprenderam a menos que com a ajuda
de determinadas “chaves” ou “pistas” que podem levar á evocação do material – este quadro
está relacionado om dificuldade na organização da informação.
Comprovou-se que o córtex parietal posterior esquerdo (Área 40), o córtex préfrontal, a
área de Broca, a área motora suplementar e área pré-motora, aparecem activas no
armazenamento verbal. Nas tarefas de armazenamento visual, registou-se uma activação do
córtex parietoccipital (áreas 7 e 19) e o córtex prefrontal dorsolateral do hemisfério direito
(áreas 46 e 9).
O pólo temporal (área 38), a região inferotemporal (áreas 20, 21, 36 e 37), estão
relacionadas com a memória retrógrada.
e) Lóbulo Occipital: Embora não seja uma área exclusiva da memória, lesões em
determinadas áreas (área 17 (CV1) e 18 de Broadman, etc…), podem provocar alterações na
retenção de material visual e meemória.
Para além de filtro sensitivo e motor, o tálamo participa também em muitas funções
cognitivas, entre elas a memória. Já se descreveram mais de 50 núcleos talâmicos, alguns
dos quais meramente observados pela microscopia, desconhecendo-se a função de muitos. O
núcleo anterior do tálamo participa na consolidação da informação, os núcleos
intralaminares, visam a evocação da informação e o núcleo dorsomedial participa na
organização temporal da memória.
As lesões nos corpos mamilares podem causar alterações na memória, mas sempre com
menos gravidade do que se a lesão for a nível do hipocampo. No entanto, o deficit será
mais grave se implicar o núcleo dorsomedial do tálamo e os núcleos da linha media.
i) Tronco Encefálico: Envolve a formação reticular, o cerebelo e os núcelos de
origem dos pares craniais.
A avaliação neuropsicológica da memória, tal como das demais funções cognitivas que
veremos seguidamente, deve basear-se num processo analítico de cada um dos componentes
cognitivos subjacentes à respectiva função. Deve igualmente considerar-se as características
do sujeito, os factores que influenciam a memória e analisar cada um dos componentes
fundamentais na actividade mnésica.
A memória pode ser avaliada através de medidas directas ou explícitas – que exigem uma
expressão consciente da parte do sujeito em recordar a informação e incluem testes de
recordar (relacionado com a saída do material) e reconhecimento (identificar entre várias
alternativas a que está correcta – relacionado com a codificação) – ou medidas indirectas ou
implícitas.
Outra linha de estudo prende-se com a análise e exploração dos deficits específicos de
memória associados a determinadas patologias, como a demência tipo Alzheimer, Síndrome
Korsakoff, anoxia, encefalite, traumatismo cranioencefálicos, etc.
Alguns autores recomendam que se utilize o termo “amnésia” (ausência completa de memória,
implicando lesões bilaterais) apenas para o síndrome amnésico puro devendo falar-se de
dismnésias, perturbações ou alterações de memória nos outros casos.
No síndrome amnésico puro, geralmente não existem deficits de memória imediata, através do
spam de dígitos. Memória semântica e outras funções intelectuais estão geralmente conservadas,
verificando-se uma amnésia anterógrada muito severa, claramente visível nos testes de evocação
e reconhecimento e um certo grau de amnésia retrógrada, extremamente variável de uns
pacientes para outros.
Por vezes o sujeito apresenta confabulações que vive e sente como verdadeiras. A recuperação
completa é muito difícil.
A amnésia como síndrome global é muito rara e irreversível. Implica lesões bilaterais do lóbulo
temporal medial do sistema límbico, estruturas diencefálicas ou do cérebro basal anterior.
As técnicas de neuroimagem permitem afirmar que para o síndrome amn´seico puro tem que
haver lesão em alguma estrutura do Circuito de Papez (hipocampo, circuitos mamilares, tálamo,
córtex cingulado) e no circuito que inclui o núcleo amigdalino dorsomedial, tálamo intermedial
e córtex prefrontal.
Este tipo de amnésia permite estudar os sistemas de armazenamento da memória a longo prazo.
Estes sujeitos apresentam marcada deterioração na memória retrógrada relativamente à
anterógrada, no entanto a sua característica distintiva é uma afectação severa ao nível da
memória semântica.
Este tipo de amnésia relaciona-se com o lóbulo temporal anterior (zona de integração da
informação mnésica multimodal). Lesões na parte esquerda provocam alterações no
conhecimento semântico, lesões na região direita ou bilaterias causam dificuldades na
recordação de informação episódica ou autobiográfica. Encontram-se igualmente descritos casos
com lesões no lóbulo frontal, mas nestas situações, a lesão tem de ir mais além, já que uma lesão
confinada ao lóbulo frontal não é suficiente para acusar amnésia amnésia anterograda focal.
Alguns autores associam a amnésia anterógrada focal com desconexões fronto-temporais.
Entre as causas mais frequentes são a epilepsia temporal, encefalite herpética, anóxia (paragem
cardiorespiratória), tumores em torno do terceiro ventrículo com lesão do fórnix e desconexão
do hipocampo), doenças degenerativas e doenças vasculares.
Este caso demonstrou a importância do hipocampo na aprendizagem e memória, bem como que
a memória a curto prazo e memória a longo prazo são estruturas diferentes e que a memória é
uma função diferente das outras funções cognitivas.
No Caso RB, um enfarte isquémico durante uma intervenção cirúrgica cardíaca, evidencia na
autópisa uma ampla degeneração no CA1 do hipocampo. Este sujeito apresentava perturbações
similares as de HM mas não tão severas, sendo os seus rendimentos em tarefas standart de
memória declarativa muito baixos.
6.4. Amnésia Diencefálica
Para o diagnóstico positivo de encefalopatia de Wernicke, devem estar presentes dois dos
seguintes sintomas:
- dieta deficitária
- anormalidades oculomotoras
- alterações cerebelosas
Se não houver tratamento farmacológico, este quadro geralmente evolui através de hemorragias
diencefálicas, mas com o devido tratamento o paciente geralmente melhora e geralmente evolui
para um síndroma Korsakoff.
No síndrome de Korsakoff puro, o sujeito está alerta, responde e está relativamente atento;
obedece a ordens verbais e escritas e é capaz de resolver problemas que não envolvam outras
capacidades além da memória de trabalho.
Características:
- Amnésia retrógrada;
- Alterações na metamemória;
- Afecto plano;
- Sinais frontais;
- Apatia;
- Presença de interferências;
Este síndrome surge no CID-10 como um síndrome amnésico devido ao consumo de álcool e
no DSM-IV como um síndrome amnésico persistente induzido por álcool denominando-o por
Síndrome Korsakoff.
Alteração da Memória Pura: O tálamo é considerado uma estrutura central relacionada com os
processos mnésicos igual aos do lóbulo temporal medial, sendo as suas características são
idênticas às descritas para as lesões nesta região.
- Problemas de armazenamento e/ou evocação da informação que requer uma ordem temporal;
- Estes sujeitos não organizam o que aprendem, ainda que com a ajuda de determinadas chaves
possam evocar o material;
- Confabulação (constroem relatos possíveis mas irreais; recordação de acontecimentos que não
podem ter acontecido);
- Deficit na metamemória;
- Amnésia da fonte: o sujeito pode recordar um feito mas não sabe como ou onde aprendeu essa
informação (habitualmente quando existe amnésia da fonte também se verificam dificuldades
nos processos estratégicos de recuperação, presença de confabulações e deficits atencionais).
6.7. Alterações de Memória associadas à idade:
Kral (1962) utiliza pela primeira vez o termo de “esquecimentos benignos devido à idade”,
posteriormente também conhecidos por deterioração progressiva, esquecimento senil benigno
ou AMAI (alterações da memória associadas à idade).
As AMAIs são uma entidade neurológica que se caracteriza por queixas subjectivas de perda de
memória que afectam a vida quotidiana com dificuldade para evocar dados concretos e
fragmentos de experiência vivida, presença de substituição de dados alternativos com plena
consciência do facto, pelo que o sujeito tem grande preocupação pelo que está acontecendo.
Critérios de inclusão:
- Rendimentos nos teste de memória: pelo menos um dos testes standard por baixo de 1 desvio
padrão da medida da idade do sujeito;
Critérios de exclusão:
A AMAI é uma alteração de memória consistente com a idade, os pacientes devem ter uma
pontuação entre mais ou menos um desvio padrão nos instrumentos usados no mínimo em
75% do total das provas utilizadas na avaliação.
É duvidoso que as AMAI sejam uma condição prévia a um deterioro progressivo posterior
(demência). Não se deve confundir com a demência, já que os problemas de memória do
envelhecimento normal não tem uma repercussão tão grande e tão evidente como na demência e
são comuns.
A amnésia global transitória é um estado clínico muito raro, caracterizado por amnésia
anterógrada severa e amnésia retrógrada de grau variável, que afecta fundamentalmente o
aspecto episódico. A memória imediata, semântica e procedimental permanecem normais e o
paciente apresenta-se geralmente alerta, sem perda da identidade pessoal e preservando as
funções motoras, sensitivas e perceptivas.
- Relativamente raro;
Idade: 60 ± 10 anos
Depois da Amnésia Geral Transitória (AGT): recuperação completa ou quase completa. Não
existe evidência de TCE, ataque epiléptico, perda de consciência, entre outros.
Actualmente não se sabe com exactidão qual a fisiopatologia subjacente à AGT. Há dados que
sugerem que se deve a uma disfunção hipocampal e/ou diencefálica na qual o perfil
neuropsicológico é similar a pacientes com Síndrome Amnésico Permanente.
Caracterizam-se por uma dificuldade importante ou incapacidade para evocar informação sem
que exista patologia cerebral detectável (tumores…) sendo a mais frequente os deficits de
natureza retrógrada. A forma mais frequente é a amnésia psicogena.
Amnésia Psicógena:
- A sua característica principal consiste na incapacidade súbita para recordar informação pessoal
importante;
- Relaciona-se com uma experiência traumática, sendo geralmente reversível (ainda que em
alguns casos seja permanente);
- Nos casos puros, a perda de memória é episódica e não semântica;
6.11. Paramnésias:
2. Afasias
As palavras em si mesmo não são nada, têm que ter significado pessoal, e é isso que o afásico
perde. Geralmente associado à afasia – alterações na linguagem – há todo um conjunto de outros
problemas de personalidade, ansiedade e depressão. O afásico tem que ser avaliado através de
testes que não envolvam obviamente a linguagem, de forma a saber como estão as outras
capacidades do sujeito.
1. Linguagem
2. Afasia
A afasia depende de uma lesão cerebral, cuja localização neuroanatómica, e não o agente causal,
se revela fulcral para a sintomatologia. Estados patológicos totalmente diferentes, podem
produzir síndromes afásicos idênticos.
A afasia é uma perturbação complexa da actividade linguística que surge da destruição de algum
elemento do sistema funcional da linguagem e que afecta toda a vida psíquica do Homem. Pode
manifestar-se tanto na compreensão (descodificação), como na expressão (codificação) e afectar
a esfera oral ou escrita.
Está relacionada com lesões focais ou difusas, mas é independente de qualquer lesão de órgãos
periféricos de execução ou recepção. Excluem-se da afasia, as alterações da linguagem devidas
a surdo-mudez, debilidade mental, demência ou outras alterações psíquicas.
Muitas classificações têm sido propostas para a diversidade de quadros afásicos e várias
são as disciplinas que têm contribuído para o estudo e compreensão destas síndromas;
linguística, psicologia cognitiva, neurologia e neuropsicologia.
Entre as classificações existentes, as que têm tido maior aceitação encontramos o modelo
Neoassociacionista de Wernicke-Geshwind e escola de Luria. De seguida apresenta-se um
breve resumo destas classificações cujo propósito é ilustrar a maneira como os diferentes
quadros clínicos são incluídos pelos autores:
I. PERISILVIANAS
1. De Wernicke (sensorial/acústico/receptiva/sintáctico)
Localização da lesão: Área de Wernicke (1a. circunv. sup do tempo. Hemisf. Esqº, área 22
de Broadmann.)
VARIANTES:
Posição do lesão: Área de Broca (parte posterior da 3a. circunv. frontal (infer.) Hemisf.
Esqº, área 44)
Localização da lesão: Defeito na condução entre a área 22, sensorial de Wernicke e área
44, motora de Broca. (fascículo arqueado e/ou região insular).
Esse que é conservado: Discurso fluido e com um nível da compreensão auditiva quase
normal. Entoação ou prosódia e articulação correctas. Na anosognosia, o sujeito sabe que
está errado e tenta corrigir-se em vão.
II. MARGINAL
1. Transcortical Sensorial
2. Anómica (Nominal/amnesica/semântico)
Posição da lesão: Lesão difusa das áreas 37 e 39 (giro angular) de Broadmann, embora
não haja consenso na matéria.
Alterações principais: Deficit na evocação das palavras (que são adaptadas para expressar
o pensamento) e anomia.
Anteriotes: (Zona frontal anterior e/ou superior à área de Broca, posição difusa) conexões
com os circuitos que regulam aspectos afectivo-emocionais.
Posição da lesão: Área 45 de Broadmann. Também nas zonas ao lado da área motora
suplementar.
Posição da lesão: Focal ou difusa de áreas corticais anteriores e posteriores sem danos nas
zonas dos perisilvianas. As zonas afectadas são mais os frontoparietais.
1. Afasia global
Posição da lesão: Na maioria dos casos, danos maciços do hemisfério esquerdo. (Todas as
ou algumas áreas da linguagem).
Variáveis associadas: Sexo e local da lesão. (Nas mulheres existe uma elevada correlação
entre lesões anteriores e alterações da linguagem)
2. Afasias Subcorticais
TALÁMICAS
CÁPSULO-PUTAMINALES
Variantes:
3. Afasias puras
Descrição: o sujeito ouve mas comporta-se como se não ouvisse, porque a mensagem não
pode ser descodificada embora não haja alteração do código fonético.
Posição da lesão: Lesões nol lóbulo occipital Esquerdo (interrompem o fluxo da informação
visual bilateral até às zonas da linguagem do hemisfério Esquerdo)
Alterações: Déficit mais marcado na escrita do que na linguagem oral. Déficit na produção
e perfil agramático, fala não fluida.
Variantes:
Afasia em espelho
3. Atenção
O estudo da atenção de uma perspectiva neuropsicológica, começou a partir dos anos 60 (Séc.
XX). Ao nosso cérebro chega continuamente informação que não pode ser processada de forma
simultânea, revelando-se indispensável um processo de filtro e selecção, que estabeleça uma
ordem de prioridade e sequencia temporal na respostas mais adequadas para cada situação. Para
focalizar a consciência sobre os conteúdos realmente relevantes, utilizam-se mecanismos que
inibam os estímulos distractores. É a este conjunto de mecanismos neurológicos que chamamos
atenção.
A atenção tónica é o limite mínimo para manter a atenção durante uma tarefa prolongada.
Trata-se do nível suficientemente estável do SN que se pode modificar lenta e involuntariamente
em certas situações. Na sua base está a formação reticular e as suas relações com o córtex.
A atenção fásica refere-se à capacidade para responder com rapidez a um estímulo relevante
que surja de forma inesperada. Encontra-se vinculada com as respostas de orientação, que
constitui a primeira reacção do organismo face a qualquer estímulo inesperado e novo, que leva
a uma tomada de atenção à sua origem. Anatomicamente encontra-se relacionada com os
circuitos tálamo-frontais e áreas amigdalo-hipocâmpicas.
b) Atenção Mantida: É a capacidade pela qual o foco atencional se pode manter resistindo ao
aumento da fadiga e às condições de distractibilidade. Está relacionada com os processos de
alerta, factores motivacionais, permitindo a activação da atenção selectiva.
1.2. Sistema anterior e posterior: Segundo Posner (1992), o sistema anterior estaria
encarregado de detectar eventos sensoriais e somáticos, estando relacionado com o controlo
consciente e voluntário da atenção e implicado nos mecanismos de atenção focalizada (giro
cingulado anterior e áreas frontais da linha média). O sistema posterior, estaria implicado na
orientação das localizações visuais, relacionando-se com a orientação involuntária e
automática (lobo parietal posterior, pulvinar e tubérculos superiores).
Analisando os vários modelos relativos aos sistemas funionais de atenção, podemos dizer
que existem 3 grandes sistemas funcionais implicados em todos os mecanismos atencionais:
e) Stroop: Palavras e cores. Utiliza-se muito para medir a interferência, isto é, a capacidade
do sujeito inibir um estímulo irrelevante para focalizar outro importante.
4. Apraxia
Steithal (1871) foi um dos primeiros autores a utilizar o termo apraxia. Liepmann (1900), define
o conceito de apraxia em relação a um défice centrado na planificação motora.
Trata-se pois, de um termo proposto no início do século por Liepmann, para se referir á
alteração na execução de um acto motor, em geral, previamente aprendido, não causada por
paralisia, perda de sensibilidade, acinésia, perturbação do movimento distonia, tremor, …),
alteração do tónus muscular, da coordenação, da colaboração, d compreensão ou outra alteração
cognitiva tal como a memória ou atenção.
A função práxica engloba um sistema conceptual, que contem o conhecimento sobre a função
dos objectos e ferramentas, e um sistema de produção, que armazena a informação espacial e
temporal necessária para a execução dos gestos.
Parâmetros de Controlo:
- Dominância cerebral
- Gestos transitivos (manipulação real dos objectos, instrumentos ou ferramentas) vs.
Intransitivos (simulação da utilização dos mesmos)
- Gestos com conteúdo semântico vs. Gestos sem conteúdo semântico
- Gestos por instrução verbal, visual, táctil vs. Imitação
- Gestos simples vs. sequenciais
- Realização de gestos vs. descrição verbal dos mesmos
- Discriminação do acto correcto ou incorrecto na execução própria, na observação da execução
da execução por parte do avaliador
- Descrição e conhecimento do objecto e sua utilidade
- Grau de dificuldade da prova ao nível da escolarização (especialmente em tarefas visuo-
construtivas de cópia de desenhos bidimensionais e/ou tridimensionais).
Erros a avaliar:
- Erros espaciais
- Erros na sequencia temporal
- Erros posturais
- Erros de perseveração
Podemos classificar as apraxias em função da área de lesão do SNC, em função das actividades
implicadas, das manifestações clínicas ou dos mecanismos subjacentes.
Em função da área lesada, a apraxia pode ser por lesão do corpo caloso, por lesão dos gânglios
basais ou por lesão focal no lóbulo cerebral.
Paralelamente existem muitas outras classificações, como a de Junque (2001) que classifica a
apraxia em função da região afectada, Gil (2002) que clasifica em ideomotora, ideatoria,
melanocinetica, cinestésica., etc, Ardila (1992) – apraxias da extremidade, apraxia da cara e
apraxias especiais) –, ou Peña (1999) que propõe uma classificação de actos motores com bases
na finalidade.
Entre os síndromes apráxicos podemos citar as apraxias da cara, as apraxias das extremidades e
as apraxias especiais.
A apraxia ideomotora é definida por muitos autores como uma perturbação que afecta a
execução de actos motores, muitos deles aprendidos previamente, que não pode ser atribuída a
uma alteração sensorial, motora básica (tractos corticoespinhais, tremores, distonia, coreias…),
nem a outro traumatismo da esfera cognitiva (memória, atenção, linguagem…)
Liston, Mickelborough, Bene e Tallis (2003), propõem distinguir três tipos de apraxia da
marcha: Apraxia de arranque (quando a lesão se focaliza predominantemente na área motora
suplementar ou nas suas zonas de conexão com outras áreas), apraxia do equilibro (quando a
lesão afecta fundamentalmente a área promotora e suas conexões) e apraxia mista (que
implicaria uma interacção de ambas as anteriores).
Produz-se devido a lesões cerebrais contralaterias àquelas que se esperariam para tais sintomas.
Implica dominância hemisférica cruzada (dominância direita para a linguagem e esquerda para
habilidades visuo-espaciais, ao contrário do que seria esperado).
Alguns autores consideram este tipo de apraxia na ideatória e ideomotora. Outros utilizam o
termo num sentido puramente descritivo sem tentar enquadra-lo dentro de nenhuma das
anteriores.
Os estudos que existem, parecem revelar que as apraxias ao nível dos braços são homogéneas
com as das pernas, o que permite avaliar as mesmas com os braços ou com as pernas.
Refere-se à incapacidade para realizar movimentos com um propósito, não verbais, com a
musculatura da boca, lábios, garganta, etc, não devido a paralisia ou outra perturbação.
Geralmente este deficit não interfere com as rotinas diárias pelo que pode não ser detectado. Só
aparece quando o movimento deve ser executado numa situação artificial, solicitado pelo
avaliador.
Caracteriza-se por uma dificuldade em dirigir o olhar para cima, baixo, direita, esquerda, sob
ordem verbal, apesar de poder faze-lo bem espontaneamente.
Trata-se de uma perturbação motora linguística. É uma perturbação que afecta a tradução de
uma representação fonológica intacta de uma mensagem em parâmetros kinemáticos aprendidos
de movimentos intencionais.
5. Agnosia
Os receptores dos nossos olhos respondem a sinais de luz de um modo claramente distinto de
filamentos finos no ouvido interno que sente as mudanças na sessão. O SN extrai a informação
do estímulo e interpreta-o no contexto da experiência prévia.
Na agnosia, os defeitos não são causados por perturbações sensoriais ou periféricas, nem por
perturbações da atenção, nem da linguagem ou estado mental, o que não significa obviamente
que estas funções estejam totalmente intactas mas o seu grau de perturbação não é proporcional
á alteração da componente.
Existem várias formas de agnosia: visual, táctil (astereoagnosia – incapacidade para reconhecer
objectos pelo tacto (tocar), apesar de não haver nenhuma perturbação das vias
somatosensoriais), auditiva… no fundo existem tantas agnosias quanto as vias sensoriais, sendo
no entanto a agnosia visual a mais bem estudada e conhecida.
1. Agnosia Auditiva
Para sons do ambiente (não linguísticos), geralmente devido a lesões das áreas temporais
direita. Quando se refere a uma dificuldade específica para a música denomina-se amusia e
para a linguagem oral, afasia. A agnosia auditiva para estímulos auditivos não verbais
implica que haja uma boa compreensão para sons da linguagem
2. Agnosia Visual
Como todos os sistemas sensoriais a visão começa com receptores que convertem a energia
sensorial (ondas luminosas) em actividade neuronal. A percepção visual é analítica,
envolvendo cor, movimento e forma processadas separadamente e em paralelo. Nela estão
envolvidas várias áreas visuais do lobo occipital.
Objecto
A partir da anomia semântica (inclusive) estamos no terreno das afasias e não das agnosias.
O paciente não copia desenhos (agnosia aperceptiva) ou copia mas não reconhece o que foi
copiado (agnosia associativa). Não emparelham visualmente um objecto real com a
respectivo desenho (agnosia aperceptiva), copia desenhos, emparelha visualmente o objecto
com o respectivo desenho, mas não emparelha um desenho com outro funcionalmente
semelhante (agnosia associativa).
1. Demências
De acordo com o DSM-IV, a demência é um défice cognitivo múltiplo que pode afcetar a
capacidade intelectual, a memória, a linguagem, a praxia e a agnosia, bem como o
processamento da informação na ausência de obnibulação da consciência.
1. Epidemiologia da Demência
Não existem dados definitivos relativos à epidemiologia das demências. Os dados que
existem referem-se á incidência e prevalência de alguns tipos específicos de demência.
A prevalência das demências aumenta de forma exponencial a partir dos 65 anos, sendo a
idade o primeiro condicionante para o aparecimento das demências mais frequentes. Outra
variável importante, como se disse, é o sexo: A demência vascular e a demência a Corpus de
Lewy são mais frequentes nos homens, o Alzheimer é mais frequente nas mulheres, e não se
verificam diferenças nas demenciais fronto-temporais.
Várias podem ser as causas, entre elas: doenças degenerativas pimárias (Alzheimer...),
perturbações vasculares, lesões cerebrais (tumores, hematomas...), elementos transmissíveis
(vírus...), tóxicos (álcool, drogas, colas...), alterações endócrinas, transtornos sistémicos
(insuficiência renal, linfoma...), carência vitamínica (B12, acido fólico, demência por pelagra), e
doenças pouco frequentes.
- Agitação
- Perturbações da motivação
- Catatonia
- Delírios
- Perturbações de identidade
- Alucinações e ilusões
- Vocalizações, gritos...
- Agressividade, violência...
- Desinibição
- Alterações de personalidade
- Síndrome Klüver-Bucy
4.1. Envelhecimento:
Articulação: Disartria
Humor: Medo
Delírio Demência
Percepção Alucinações
5. Pseudodemências
Quadros clínicos similares às demências, mas nos quais não existe doença orgânica
evidente, recebem o nome de pseudodemência. Nestes casos, é difícil estabelecer o
diagnóstico diferencial entre o deterioro cognitivo e funcional.
Não é frequente que uma depressão acompanhe ou seja a manifestação inicial de uma
demência degenerativa primária (p.ex. Alzheimer), da mesma forma que é bastante raro que a
depressão e a demência tenham o mesmo substrato patológico subjacente. Estima-se que cerca
de 27% dos pacientes remetidos para o estudo de uma demência podem apresentar alterações
cognitivas.
Depressão Demência
História Clínica
- Antecedentes pessoais ou familiares de - Sem antecedentes familiares
depressão
Dados Patognomónicos:
Flutuante
Escalonada
Estacionária
- Medicação actual
7.1 Objectivo:
7.2. Avaliação
Modelos Mistos: há quem defenda que são os mais adequados para detectar a situação
premorbida do sujeito. Geralmente conjugam os dados sociodemograficos com pontuações
obtidas em testes específicos.
Testes breves (MMSE), baterias gerais para avaliar a demência (MOMSE, CAMDEX,
TDS), escalas gerais de deterioração (CDR, GDS, FAST), Escala de Hachisnky. Em
http://www.fisterra.com/calcumed poderão ser encontradas algumas destas escalas para
aplicação informática.
O conceito de medição pode ter vários significados. Para alguns autores, medir é atribuir
números a objectos, representar as relações entre os objectos mediante relações entre números…
Para medir bem, é necessário submeter à análise as teorias auxiliares, segundo critérios de
fiabilidade – consistência (α de Cronbach) ou estabilidade (teste-reteste) das medidas quando o
procedimento se repete numa população – e validade – aspecto teórico e empírico para a
interpretação que se faz das pontuações. Antigamente falava-se em validade de construto, de
conteúdo e de critério. Actualmente toda a tónica é colocada na variável de construto.
- Construir itens que sejam manifestações credíveis dessa noção e que possas suscitar
sintomas da mesma;
- Deve mostrar-se que quando as pessoas adequadas respondem aos itens, estes conduzem
a resultados consistentes: itens definem uma linha;
Na teoria clássica dos testes, não temos uma relação entre o sujeito e os itens do teste, mas
tal verifica-se no modelo de Rasch, que especifica como cada item se deve comportar. É
portanto um modelo prescritivo e não descritivo.
feita de forma explícita, ainda que mantendo a representação, temos planos quasi-
experimentais, revelando-se particularmente importante controlar as variáveis parasitas
bem como os respectivos parâmetros.
2. Reabilitação Neuropsicológica
Hachisky
A reabilitação neuropsicológica é possível devido à:
- Plasticidade neuronal
- Redundância de sistemas
- Controlo múltiplo
- Funcionamento vicariante
- Capacidade de adaptação
- Compensação não necessária das funções perdidas
- Restituição farmacológica
- Reabsorção do edema
- Efeito inibitória da lesão
- Entre outros….
A terapia mais utilizada é a terapia de restauração. Quando esta não funciona há que tentar
as restantes.
Qualquer dos subtestes pode ser aplicado isoladamente, no entanto, a aplicação global oferece
uma informação mais rica sobre o estado neuropsicológico do sujeito. A ordem de aplicação
também é relativamente arbitrária, mas aconselha-se a aplicação segundo a ordem apresentada
no protocolo.
A Prova é composta pelo Manual, Protocolo e faz uso de alguns utensílios relativamente
acessíveis e fáceis de encontrar, devidamente indicados nas instruções de aplicação.
Antes de iniciar a aplicação o psicólogo deve seleccionar todo o material necessário (protocolo,
objectos e relógio ou cronómetro). A NEUROPSI é uma prova que recorre a conhecimentos de
psicologia pelo que só deverá ser aplicada por um psicólogo ou técnico com formação
equivalente.
O psicólogo deve começar por preencher a primeira folha de protocolo com o nome, sexo,
habilitações, data de nascimento e a data da observação (se a aplicação se prolongar por mais do
que uma sessão colocar as datas do início e do fim) e o nome do psicólogo que fez a aplicação.
A idade cronológica do sujeito será obtida pela diferença entre a data final da observação e a
data de nascimento do sujeito:
Exemplo:
Final da Observação: 2005/05/31
Data Nascimento: 1997/03/01
Idade Cronológica: 8A - 2M - 30d
Antes de se iniciar a aplicação o psicólogo deverá ainda sinalizar-se qual a mão que o sujeito
utiliza geralmente para realizar a maioria das tarefas: Direita? Esquerda? Ambas?
Caso tenha havido alguma avaliação médica deverá ser registado o comentário clínico bem
como assinalar o tipo de exames realizados: TAC, RX, Ecografia, Ressonância Magnética, ou
Outro (devendo ser assinalado qual).
No caso de ser necessário registar algum comentário adicional, o protocolo reserva ainda um
pequeno espaço para o registo de observações, que poderão todavia ser registadas ao longo de
toda a aplicação.
Na segunda página o protocolo reserva um espaço para o registo dos resultados obtidos,
onde o psicólogo poderá ainda registar observações ou comentários finais sobre as conclusões
obtidas.
1. Hábitos de Vida:
1 2 3 4 5
Mau Reduzida Média Boa Muito Boa
Cotação: O resultado deverá ser a soma da medida atribuída a cada item, podendo variar
entre um mínimo de 18 e um máximo de 90 pontos.
2. Orientação:
Instruções: Fazer cada uma das 15 questões apresentadas no índice de orientação geral do
sujeito e solicitar cada uma das 5 operações no índice de orientação esquerdo/direito.
Cotação: Atribuir 1 ponto por cada resposta correcta ou por cada acção realizada
correctamente. A pontuação final do subteste é a soma dos resultados dos dois índices, variando
entre 0 e 20.
3. Informação:
Descrição: O subteste de informação, apresenta 18 questões às quais o sujeito deverá
responder. Trata-se de um subteste com algumas analogias com o subteste da Wechsler com o
mesmo nome.
Cotação: Atribuir 1 ponto por cada resposta correcta. A pontuação final do subteste é a
soma dos resultados, variando entre 0 e 18.
4. Compreensão:
Descrição: No subteste de Compreensão, o sujeito depara-se com três ditados populares cujo
significado deverá decifrar. Trata-se também de um subteste com algumas analogias com a
Wechsler.
Cotação: Atribuir 0 pontos no caso de resposta desviante ou sem significado, 1 ponto para
respostas incompletas ou limitadas e 2 pontos caso o sujeito atinja o significado global do
provérbio. A pontuação final pode variar entre um mínimo de 0 e um máximo de 6 pontos.
5. Cálculo:
Instruções: Solicitar ao sujeito que realize cada uma das 12 operações matemáticas
apresentadas no protocolo da prova. De preferência o sujeito deverá realizar as operações por
cálculo mental, mas caso não consiga (insuficiência de habilitações ou outro motivo) poderá ser
aplicada a versão de cálculo escrito.
Cotação: Atribuir 1 ponto por cada operação matemática realizada correctamente. Caso o
sujeito consiga realizar a versão de cálculo mental, os resultados finais deverão ser
multiplicados por 1,5 (majoração). A pontuação varia assim entre um mínimo de 0 pontos e um
máximo de 18 pontos.
6. Linguagem:
Instruções: No índice de Compreensão de ordens solicitar ao sujeito que realize cada uma das
operações indicadas no protocolo. No índice de Identificação de objectos pedir ao sujeito para
referir o nome de cada um dos objectos.
Nota: Para este teste o observador deve fazer acompanhar-se do seguinte material: chave (de
porta), tesoura, lápis, garfo, alicate, cigarro, fósforo, pente, relógio e anel. Para maior
comodidade poderão ser utilizadas as imagens de cada um dos referidos objectos (ver cartões
estímulos).
No índice de escrita deverá solicitar ao sujeito que escreva o seu nome completo e
posteriormente que escreva uma frase. No índice de leitura, o sujeito deverá ler a lista de
palavras apresentada no protocolo (ver cartões estímulo).
No índice das Fichas o sujeito deverá inicialmente referir o nome de cada uma das cores
solicitadas no protocolo e posteriormente cumprir as indicações solicitadas. Este índice faz
utilização de cartão estímulo específico.
Cotação: Atribuir 1 ponto por cada actividade realizada com sucesso. A pontuação final
varia entre um mínimo de 0 pontos e um máximo de 41 pontos.
7. Cortar A’s:
8. Memória:
Memória de Números: Neste subteste solicita-se que o sujeito repita os algarismos ora na
ordem directa em que foram pronunciados ora na ordem inversa. O intervalo entre a
pronunciação de cada algarismo não deve ser nem muito curto nem muito longo, devendo em
média o tempo de citação de cada algarismo ser idêntico ao intervalo da pausa entre cada
algarismo. O resultado final é a soma do número de algarismos repetidos na ordem directa e
inversa, variando entre 0 e 17.
Memória Verbal: Deve explicar-se ao sujeito que vão ser ditos os nomes de cinco “coisas”.
O sujeito não pode repetir e deverá tentar decorá-los porque irão ser perguntados posteriormente
(passado 1 minuto). A primeira coluna apresenta a evocação espontânea (o sujeito refere o nome
sem qualquer auxílio), atribuindo-se neste caso a pontuação máxima – 3 pontos. A segunda
coluna apresenta a evocação com ajuda (por exemplo, se o sujeito não se lembrar do nome”cão”
dizer: “era o nome de um animal…”) Neste caso o sujeito recebe apenas 2 pontos. Na terceira e
última coluna, aplicada em último recurso, o sujeito precisa de apenas reconhecer o nome (por
exemplo para “pêra”, dizer: “era maçã ou pêra?”). Neste caso o sujeito recebe apenas 1 ponto. A
pontuação final varia então entre um máximo de 15 pontos (se o sujeito referir todos os nomes
sem qualquer ajuda) ou 0 pontos, caso o sujeito nem consiga fazer o mero reconhecimento.
Atribui-se um ponto por cada resposta correcta. A pontuação é obtida somando-se metade do
total de fáceis referidas com o número total de difíceis. A nota final é a soma das notas de todas
as evocações.
9. Iniciativa e Perseveração:
Índice Verbal: Pedir ao sujeito para referir durante 1 minuto, o máximo de artigos de comer
que uma pessoa pode comprar num supermercado.
Grafomotora: Pedir ao sujeito para continuar as figuras, atribuindo um ponto por cada
conjunto correcto (máximo 3 pontos para cada desenho o que perfaz um máximo de 6 pontos).
10. Habilidade Construtiva:
Descrição: Por último, o subteste de habilidade construtiva, pede ao sujeito que desenhe um
relógio completo (consiste no famoso teste do relógio).
Cotação:
Número 12 no topo: 3 pontos
Dois ponteiros: 2 pontos
12 números: 2 pontos
Hora certa: 2 pontos
Todas as tarefas deverão ser cumpridas de forma cabal e completa. Pretende-se que as
respostas sejam autênticas e que deixem transparecer os conhecimentos adquiridos pela
formação. Todas as referências bibliográficas utilizadas deverão ser alvo de citação de
acordo com as regras da APA.
As respostas devem ser redigidas com um tipo de letra universal (e.g. Times New Roman)
em software compatível com o Microsoft Windows (e.g. Word) e enviadas por correio
electrónico para o endereço:
[email protected]
QUESTÕES: