Fumo e Desenvolvimento Local em Arapiraca - Al PDF
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FUMO E DESENVOLVIMENTO
LOCAL EM ARAPIRACA /AL
Primeiras observações e análises
para a elaboração
do diagnóstico sócio-econômico
municipal e regional.
SOBRE O AUTOR
Jean Baptiste Nardi nasceu em 1952 na cidade de Marselha, na França, mas viveu até os
20 anos na Alemanha de onde ganhou a paixão para os charutos brasileiros. Em 1978
chegou ao Brasil e visitou as fábricas da Bahia. Interessou-se pela língua e cultura do país
e graduou-se em Estudos Luso-Brasileiros na Universidade de Provence (França). A partir
de 1982 consolidou seus laços com o Brasil e acabou por se radicalizar no país.
Especializou-se em história econômica do Brasil, sendo mestre e doutor pela Universidade
de Provence e Unicamp (São Paulo), tendo o fumo como tema principal de pesquisa.
Além de artigos publicados em revistas brasileiras e estrangeiras (França, Portugal) e
comunicações em congressos, Jean Baptiste Nardi escreveu vários livros.
A ABIFUMO (Associação Brasileira da Indústria do Fumo) publicou sua “História do
Fumo Brasileiro”, em 1985, no Rio de Janeiro, obra premiada como “melhor publicação do
ano” pela ABERJE (Associação Brasileira dos Editores de Revistas e Jornais de
Empresas).
III
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................................ 7
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 6
CAPÍTULO 1: DEFINIÇÃO DO TERRITÓRIO, TEORIA E PRIMEIROS ENSAIOS .............................. 8
1. PRESUPOSTOS TEÓRICOS.................................................................................................................... 8
1.1. Nova ideologia.................................................................................................................................... 8
1.2. A produção do conhecimento local ou territorial.............................................................................. 10
1.3. Definir um território: uma tarefa complexa ...................................................................................... 12
1.4. Um exemplo de aplicação teórica: o Projeto de Território ............................................................... 17
2. A REGIÃO FUMAGEIRA DE ARAPIRACA E O CONCEITO DE “RURBANIDADE”.................... 20
2.1. A formação da Região Fumageira de Arapiraca ............................................................................... 20
2.2. Análise das estatísticas e das concentrações populacionais .............................................................. 21
2.3. Outros índices de rurbanidade.......................................................................................................... 23
2.4. A Educação como fator de transição................................................................................................. 25
3. CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 27
CAPÍTULO 2: DECADÊNCIA DA CULTURA DO FUMO NO NORDESTE. MITO E
REALIDADE. CRISES E MUDANÇAS ESTRUTURAIS.............................................................................. 30
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. ............................................................................................................... 30
2. DESENVOLVIMENTO DA FUMICULTURA NO NORDESTE E NO BRASIL................................ 33
2.1. Período colonial: exclusividade do fumo de corda ........................................................................... 33
2.2. O século XIX : mercado interno, charutos e primeiros cigarros ....................................................... 34
2.3. A era dos cigarros industrializados ................................................................................................... 36
2.4. A virada dos anos 60 e o milagre brasileiro ...................................................................................... 37
3. CRISES DO FUMO NO NORDESTE .................................................................................................... 38
3.1. A crise dos anos 75-85 e a concentração da cultura do fumo de corda em Alagoas ......................... 38
3.2. A atual crise em Alagoas e no Nordeste ........................................................................................... 42
3.2.1. O eterno problema dos dados..................................................................................................... 42
3.2.2. A evolução da produção em Alagoas......................................................................................... 43
3.2.3. A interação dos fatores............................................................................................................... 44
3.2.4. Síntese - Periodização da cultura do fumo no Nordeste............................................................. 52
3.2.5. Noções de ciclo, crise e decadência ........................................................................................... 55
4. CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 3: A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE ARAPIRAQUENSE ............................................... 60
1. COMPLEXIDADE DA SOCIEDADE LOCAL ..................................................................................... 61
2. ONDE FOI O DINHEIRO DO FUMO?.................................................................................................. 63
2.1. Faturamento teórico global entre produtor e empresa....................................................................... 63
2.2. A repartição do valor da produção de fumo entre os agricultores..................................................... 64
2.3. A riqueza na zona urbana.................................................................................................................. 67
3. TENTATIVA DE AVALIAÇÃO DA REPARTIÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL DA POPULAÇÃO DE
ARAPIRACA .............................................................................................................................................. 72
4. MENTALIDADES E DESENVOLVIMENTO LOCAL ........................................................................ 81
4.1. A cultura em Arapiraca..................................................................................................................... 81
4.2. Algumas mentalidades ...................................................................................................................... 85
5. CONCLUSÃO......................................................................................................................................... 88
CAPÍTULO 4: PROGRAMAS E PROJETOS, ATORES LOCAIS: DÚVIDAS E
ESPERANÇAS .................................................................................................................................................... 91
1. AGRICULTURA: ONDE AGIR? ........................................................................................................... 91
2. TRÊS CASOS DE IMPOTÊNCIA .......................................................................................................... 95
2.1. A água com cor de suco de caju da Vila Bananeiras......................................................................... 95
2.2. Os excluídos da luz de Mundo Novo. ............................................................................................... 96
3.3. Aquelas mulheres do Conjunto Mangabeiras que queriam trabalhar................................................ 97
2
TABELAS E GRÁFICOS
TABELA 1: POPULAÇÃO URBANA E RURAL NA REGIÃO FUMAGEIRA DE ARAPIRACA –
2000..................................................................................................................................................................28
GRÁFICO 1: PRODUÇÃO DE FUMO NO NORDESTE (BA+AL) 1945-1990...........................................46
GRÁFICO 2: PRODUÇÃO DE FUMO AM ALAGOAS 1945-2002.............................................................49
GRÁFICO 3: EVOLUÇÃO DO MERCADO INTERNO DO FUMO 1940-2000..........................................50
GRÁFICO 4: EVOLUÇÃO DO CONSUMO PER CAPITA – CORDA X CIGARROS – 1940-2000..........52
GRÁFICO 5: COMPARAÇÃO DA PRODUÇÃO DE FUMO FOLHA X CORDA 1920 – 2000.................52
GRÁFICO 6: EXPORTAÇÕES DE FUMO DO NORDESTE (BA+AL) 1975 – 2003..................................54
GRÁFICO 7: PERIODIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE FUMO NO NORDESTE (BA+AL) 1945-2002......58
TABELA 2: FATURAMENTO TEÓRICO DO AGRICULTOR E DA EMPRESA NA REGIÃO
FUMAGEIRA DE ARAPIRACA.....................................................................................................................69
TABELA 3: FATURAMENTO TEÓRICO E RENDA BRUTA MENSAL, POR CATEGORIAS DE
PRODUTORES.................................................................................................................................................71
TABELA 4: COMPARAÇÃO DA EVOLUÇÃO DO ICMS ARRACADADO EM ARAPIRACA E A
PRODUÇÃO DE FUMO – 1998-2002.............................................................................................................73
TABELA 5: EVOLUÇÃO DO PIB PER CAPITA EM ARAPIRACA E ALAGOAS....................................74
TABELA 6: EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL (IDH-
M)......................................................................................................................................................................75
TABELA 7: EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE ARAPIRACA 1991-2003...............................................76
TABELA 8: PARTICIPAÇÃO DE ARAPIRACA NO SETOR EMPRESARIAL.........................................77
TABELA 9: REPARTIÇÃO DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ARAPIRACA POR SETORES DE
ATIVIDADES, INCLUINDOS OS INATIVOS POR VOLTA DE 2000.......................................................80
TABELA 10: NÚMERO DE ESTABELECIMENTO E DE PESSOAS EMPREGADAS POR SETORES DE
ATIVIDADES EM ARAPIRACA – 1997 – RESUMO..................................................................................83
3
ANEXOS..............................................................................................................................................................131
ANEXO 1: PROJETO DE TERRITÓRIO...............................................................................................................I
ANEXO 2: MAPA DO ESTADO DE ALAGOAS...............................................................................................III
ANEXO 3: MAPA DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO FUMAGEIRA DE ARAPIRACA..................................IV
ANEXO 4: FORMAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO FUMAGEIRA DE ARAPIRACA........................V
ANEXO 5: MUNICÍPIO DE ARAPIRACA: LISTA E MAPA DAS COMUNIDADES DA ZONA RURAL......VI
ANEXO 6: MUNICÍPIO DE ARAPIRACA: LISTA E MAPA DAS COMUNIDADES DA ZONA URBANA...IX
ANEXO 7: REGIÕES DE PRODUÇÃO DE FUMO NO BRASIL EM 1980......................................................XI
4
APRESENTAÇÃO
Presente em Arapiraca desde setembro de 2003, iniciei primeiras linhas de trabalho, mas
é somente a partir de janeiro deste ano 2004 e depois de minha mudança para esta cidade
que começou verdadeiramente a atual pesquisa.
Mais do que a questão do fumo, percebi que era preciso, antes de qualquer estudo
técnico ou específico, conhecer a cultura local, saber como as pessoas daqui pensam,
agem, ciente de que não poderia haver estudo aprofundado e propostas de mudanças sócio-
econômicas possíveis sem eu ter este conhecimento preliminar.
5
Lamento não ter conseguido até agora juntar pessoas, em particular do meio acadêmico,
para formar grupos de estudos, muitas pessoas confundindo meu dinamismo e entusiasmo,
indispensáveis para a pesquisa ir para frente, com uma vontade de dominação e poder
pessoal. Aproveito para agradecer aqui o Prof. Moisés Calu de Oliveira que, por sua
experiência e amizade, sempre me dá apoio e orientação.
O estudo que apresento aqui é o fruto da observação e reflexão de apenas alguns meses
de trabalho. É obviamente parcial e, sem dúvida, mostra defeitos, erros de percepção e sua
divulgação visa, além de trazer os resultados da pesquisa a quem trabalha na área agrícola
ou social do município, proporcionar debates. As críticas, sugestões são bem-vindas e
agradeço antecipadamente aqueles que contribuirão desta forma na elaboração do
diagnóstico final, previsto para outubro de 2006.
INTRODUÇÃO
Não é novidade dizer que o Estado de Alagoas se distingue pelos piores índices sociais
e econômicos do Brasil. O economista Fernando José Lira, no final da década passada, fez
um balanço bastante relevante das causas da crise geral, conjuntural e estrutural, pelo qual
estava passando a sociedade alagoana (LIRA, 1997 e 1998). Mais de cinco anos depois, a
situação parece idêntica, senão pior. Os índices divulgados pelo IBGE (PNAD) em agosto
passado são significativos dessa tendência, embora sejam muito criticados, em particular
pelo governo estadual, por serem referentes ao ano 2001 e, por isso, não refletiriam a
evolução positiva que se constataria em 2004. Por exemplo, a mortalidade infantil é de
57,7 por mil (Brasil, 27,7/1000), o analfabetismo entre pessoas de mais de 15 anos de
31,2% (Brasil, 11,8%, Nordeste, 23,4%) (GA, 43/2004)
Outro estudo realizado pelo Ministério do Trabalho mostra que apesar de apresentar um
índice positivo de número de postos de trabalho criados entre fevereiro de 2003 e fevereiro
de 2004 (+3,4%), aumentou o número de desempregados em Alagoas perdendo-se 4.943
empregos nos dois primeiros meses do ano 2004 (-1,9%), sendo a maior queda registrada
nos setores agropecuário e construção civil (GA, 41/2004).
1. PRESUPOSTOS TEÓRICOS
A integração corresponde à articulação entre os atores que interagem num mesmo local,
os fatores que influenciam no processo de desenvolvimento, a busca de “um equilíbrio
dinâmico nas relações possibilitando aflorar as forças unificadoras, que levam à integração
e minimizar as forças divisoras, que levam à competição” (FONTES, VELLOSO, DIOGO,
2004)
São sete as dimensões de sustentabilidade que esse conceito incorpora: (i) ambiental e
ecológica; (ii) social; (iii) política; (iv) econômica; (v) cultural; (vi) espacial; (vii)
institucional” (IDEM).
Por isso, acreditamos que não pode existir ação e desenvolvimento sem, primeiro, a
existência de um sólido substrato de conhecimentos e informações sobre a sociedade
construído através da pesquisa, independentemente da linha ideológica que motiva esta ou
sustenta seus objetivos finais.
11
Voltada para o local ou o regional, a pesquisa apresenta vários aspectos e devemos parar
um instante para definir, na medida do possível, os campos do conhecimento e da
informação.
promovidos e os que deverão ser suprimidos ou corrigidos. Bocayuva e Silveira (2004) até
propõem a construção de indicadores específicos ou “bases de referências compartilhadas”
identificando dificuldades e caminhos possíveis para definir estratégias de ação.
Nota-se aqui que essa percepção faz parte dos princípios de Pesquisa &
Desenvolvimento ou Ciência & Tecnologia do desenvolvimento sustentável, tendo aqui
um cunho particular, um pouco restrito (MMA, 2000).
Embora “uma boa base estatística” seja necessária (COELHO, 2004), as informações
não são compostas unicamente de dados quantitativos. Aliás, pensamos que, pelo
contrário, as informações qualitativas são a principal base do conhecimento para o
Desenvolvimento Local. A apreensão e definição do território passam por uma
identificação dos atores, agentes, das redes de relações e mentalidades, da história ou
formação econômica e social do território, em breve, de informações meramente sócio-
culturais.
Nesse contexto, a pesquisa que se considerava antes como “regional” deve ser então
pensada como local e de forma cada vez mais pormenorizada, em função da área
abrangente pelo projeto de desenvolvimento. Assim devemos hoje, mais do que nunca,
produzir o conhecimento a partir da “pesquisa territorial” sendo a definição do território
uma condição prévia bastante árdua a realizar.
1985; SANTOS, 1979, 1985 e 1997, DAMIANI / CARLOS / SEABRA, 2001), mas ainda
os historiadores (MORAES, 2002), economistas, sociólogos (PAULA, 2004) e, na
administração pública, entre outros, os encarregados do planejamento ou políticas
econômicas e sociais.
Para Juarez de Paula (PAULA, 3, 2004), um território pode ser físico-geográfico, etno-
cultural, sócio-econômico ou político e ser assim um simples bairro, uma bacia
hidrográfica, uma região etc. Pelo mesmo autor, “todo território é uma construção
subjetiva”, ou seja, é criado de forma autoritária pelo sujeito que elabora a ação, exógena
ou endógena.
De maneira mais simples, Didier Minot diz que “é o projeto que faz o território e não o
contrário” (MINOT, s/d). O projeto vem se delineando pelo detecto de um problema local
a ser resolvido; trata-se de determinar a área em que há ocorrência deste e qual é a área em
que a ação (soluções) possa ser efetivamente praticada.
No entanto, as coisas não são tão simples assim, pois há uma dialética entre o que vem
“de fora” ou “de cima” e o que sai “de dentro” ou “de baixo”. Muitos projetos, para não
falar de programas e políticas não têm bons resultados em nível local porque são decididos
em nível superior, por exemplo, em Brasília, em função de realidades às vezes abstratas ou
demais condensadas, e não correspondem às necessidades reais ou não são aplicáveis em
determinados territórios. Geralmente, os programas agrícolas são pensados em função das
condições de produção ou de organização das regiões Sul, Sudeste ou Centro-Oeste e
raramente do Nordeste.
Cabe lembrar aqui que a formação do sul do Brasil ocorreu há uns 150 anos e teve seus
fundamentos principais na imigração européia, em pessoas às vezes naturais da mesma
aldeia que criaram neste país colônias com espírito comunitário, coletivo que se perpetua
até hoje. A colonização no Nordeste tem 500 anos e baseia-se num sistema oligárquico,
isto é, não democrático, dividido entre a grande propriedade agrária e o minifúndio de
subsistência que dificulta qualquer tipo de iniciativa ou ação coletiva.
Por outro lado, as forças locais nem sempre têm condição de promover o
Desenvolvimento por falta de uma instituição que conceitue o projeto, inicie-o, coordene a
ação, acompanhe sua realização. Também órgãos que participam ativamente do
Desenvolvimento Local muitas vezes não possuem os recursos humanos e o conhecimento
metodológico necessários para a elaboração de projetos territoriais. Desta forma, o
resultado da maior parte das iniciativas locais e até das políticas publicas municipais tem
um caráter extremamente reduzido. Em suma, o “protagonismo local” que permitiria a
definição do território a nível local careceria de atores unificadores, consensuais e
devidamente formados ou capacitados.
Próxima desta percepção é a opinião expressa por Franklin Coelho (COELHO, 2004):
“A organização do território que objetiva o Desenvolvimento Local deve ter como ponto
de partida o pacto territorial que viabilize a associação de interesses promovida entre os
diversos atores regionais, que se conservam independentes, com vista a obtenção de
determinados objetivos. Isto pressupõe a indicação de uma estrutura organizacional que dê
conta da constituição de um espaço de interação dos diversos atores e da construção de
15
“Pacto territorial” é outra expressão para designar o que chamamos de “Projeto Comum
de Desenvolvimento” que se origina na mobilização popular a partir de um determinado
problema local. Quem atua na esfera social e econômica sabe muito bem o quanto é difícil
conscientizar, animar, reunir populações, mesmo quando se trata de questões de interesses
de categoria ou simples dificuldades casuais. O Desenvolvimento Local junta-se, em certas
modalidades, ao espírito sindicalista, para detectar, denunciar e solucionar um problema
por meio da justa reivindicação mas vai além disso, pois procura estabelecer novas formas
de relações que permitam antecipar a criação ou pioria de situações críticas.
O fundamento da ação é uma questão justamente destacada por Paula: “Quem possui a
autoridade, representatividade e legitimidade para decidir sobre o futuro das pessoas?”
Para ele, na base do desenvolvimento estão: a democracia, as relações sociais e a formação
de redes onde o poder é horizontal e não vertical, uma mudança radical de comportamentos
onde não se pensa mais em dominação política, exploração econômica e exclusão social.
Porém, podemos perguntar onde começa a rede, quem a inicia, a organiza, a conduz? Quais
são seus objetivos, suas dimensões espaciais, sua área de atuação?
O aspecto predominante no território – e parece haver uma quase unanimidade por entre
os autores consultados – são as relações sociais que se estabelecem num processo histórico
combinatório assim como diz Milton Santos: “Modo de produção, formação social, espaço
– essas três categorias são interdependentes. Todos os processos que, juntos, formam o
modo de produção (produção propriamente dita, circulação, distribuição, consumo) são
histórica e espacialmente determinados num movimento de conjunto, e isto através de uma
formação social” (SANTOS, 1979: 14).
Ampliando essas noções haveria de procurar como essas relações sociais se manifestam
de ponto de vista formal e informal, ou seja, como a sociedade está organizada de maneira
geral e do ponto de vista individual. Em outras palavras, seria necessário antes saber como
os indivíduos se relacionam entre si, dentro do meio familiar, na rua, no bairro ou na
comunidade rural, e nos agrupamentos que inclui associações, empresas e cooperativas,
instituições administrativas etc.
As populações territoriais seriam, de certa forma, esses micro-grupos sociais que Michel
Maffesoli assimila ao tribalismo (MAFFESOLI, 2002), idéia que também desenvolve John
Naisbitt para quem a volta das tribos é uma das conseqüências da globalização, um de seus
paradoxos (NAISBITT, 1994).
Para Fredrick Barth (APUD CUCHE, 1996: 86-87), é na relação entre os grupos que
devemos procurar a identidade. Nada é mais complexo do que a definição de cultura e
identidade como lembra Denys Cuche (CUCHE, 1996).
Segundo Alex Mucchielli, uma mentalidade carrega em si uma visão do mundo e gera
atitudes e comportamentos em atos, um conjunto de predisposições psicológicas voltado
para um sistema de crenças e valores (MUCCHIELLI, 1985: 17-18). É um componente
essencial da identidade cultural de um grupo, aliás, dependente e estreitamente relacionada
a outros elementos que formam a identidade de um grupo (origens, posses, composição,
relações, produções...) (IDEM: 21). E o autor enfatiza a importância da mentalidade
dizendo que “não se pode escapar de seu conhecimento para compreender as ações
coletivas” (IDEM: 22).
O chamado “Projeto de Território” que apresentamos aqui tem nossa preferência por
entre as várias aplicações das teorias do Desenvolvimento Local (Ver anexo 1).
Nota-se aqui que tentamos esboçar esse grupo, conhecido como Centro de Pesquisas
Regionais de Arapiraca – CEPRAR e cujos objetivos e modos de funcionamento,
18
O Grupo de Reflexão detecta ou define o problema inicial que pode ser do domínio
social, econômico, meio ambiental, político-administrativo etc. Realiza uma pesquisa de
campo em termos quantitativos (dados estatísticos) e qualitativos (depoimentos da
população) que são analisados, classificados para elabora um diagnóstico. Este pode
receber vários nomes em função dos órgãos que o realizam e de seus objetivos: Plano
Estratégico, Plano Diretor etc.
Por fim, cada proposta desemboca em um projeto, integrado aos outros, formando um
conjunto coerente.
Falando de medidas e projetos concretos, é bom salientar, para concluir, que a maioria
dos diagnósticos e propostas que tivemos oportunidade de consultar avançam medidas do
tipo: é preciso “promover, incentivar, estimular, elaborar, reunir, criar” etc. Raramente,
mesmo nos documentos que oferecem ações com objetivos claramente definidos e
estratégias detalhadas, encontramos idéias simples. Sugerir uma mudança de política do
governo em determinado setor não é uma medida concreta, “fomentar o artesanato”
tampouco é. Pedir o asfaltamento de estradas em zona rural para facilitar o escoamento da
produção e dizer quem vai estudar os aspectos técnicos, o custeio, financiar e realizar a
obra, é, sim, proposta concreta.
Por isso, acreditamos que devemos pensar antes de tudo em “mini-projetos”. A maior
parte dos grandes problemas não podem ser resolvidos de maneira global. Solucionar um
problema é ter o conhecimento de sua complexidade e dos elementos que constituem
problemas menores ou sub-problemas interrelacionados. A eliminação ou menorização
desses sub-problemas reduz a complexidade do problema maior e resolve parcialmente
este, senão totalmente.
20
O Desenvolvimento Local, para nós, e como seu nome sugere, não é “macro”, mas sim,
“micro”.
Por um lado há o centro que se constrói a partir do distrito ou comarca de Anadia (1801,
antigamente Marechal Deodoro, 1636)1 e da subdivisão em municípios aos passos das
emancipações respectivas. Assim há nitidamente um ramo que se determina com Limoeiro
de Anadia (1882), de onde se extraem os municípios de Arapiraca (1924), Junqueiro
(1903-1947), Taquarana (1962), Coité do Nóia (1962), e, em seguinte, separando-se de
Arapiraca, Lagoa da Canoa (1962) e Craíbas (1982).
1
Anadia é apenas uma subdivisão de Marechal Deodoro, as outras são Maceió, Atalaia, Rio Largo, São
Miguel dos Campos, Pilar, Coruripe, quase todos criados na primeira metade do século XIX.
21
Por outro lado, constatamos que outro ramo provém de Penedo (1636) e as subdivisões
de Traipu (1835) e Igreja Nova (1890)2. Da primeira, aparecem Girau do Ponciano e Feira
Grande, com emancipação em 1958, também no quadro de uma reforma administrativa
geral. Da segunda vem o município de São Sebastião.
2
As outras subdivisões de Penedo, no século XIX, foram Piaçabuçu e Porto Real do Colégio
22
As sedes de municípios que são consideradas como zona urbana não passam de vilas.
Com excepção de São Sebastião, Girau do Ponciano, Lagoa da Canoa e Craíbas, que
abrigam mais de 6.000 habitantes, todas as cidades possuem entre 2.000 e 4.500 habitantes,
o que corresponde à população de vilas do município de Arapiraca que são consideradas
como zona rural: Bananeiras, São Francisco, Canaã, Capim, São José, Pau d’Arco4 etc. As
infra-estruturas dessas vilas e sedes de municípios, muitas vezes, são de nível similar.
3
Devemos o termo de rurbanidade aos trabalhos do III Seminário - Novo Rural Brasileiro. A
dinâmica das atividades agrícolas e não-agrícolas no novo rural brasileiro. Fase III do Projeto Rurbano.
Campinas, 3 e 4 de julho de 2003 - NEA – Instituto de Economia/Unicamp disponibilizados pelo site internet
da Unicamp.
4
Nas estatísticas, os dados populacionais relativos a essas vilas incluem comunidades vizinhas que são na
verdade povoados separados do centro. Assim Bananeiras concentra 12 comunidades, totalizando 9.414
pessoas, mas a vila mesma possui cerca de 5 mil habitantes; a população da vila Canaã está em torno de 2 mil
pessoas mas atinge o total de 4.994 moradores, considerando seus 12 sub-distritos (SEBRAE-AL, 1999).
23
Não podemos esquecer que, durante décadas, Arapiraca viveu ao ritmo da lavoura do
fumo. Na cidade, nas praças do centro, os produtores se reuniam para vender suas bolas:
quem não se lembra da “pedra”? Em inúmeras ruas havia salões cheias de mulheres e
crianças destalando fumo e cantando; os rolos ficavam à mostra nas calçadas; os armazéns
das exportadoras estavam abarrotadas de folhas; a cidade toda cheirava a fumo... Isso
contribuiu a manter o espírito rural na cidade.
Convém assinalar também que muitos agricultores residem na cidade e que outros
grandes comerciantes ou empresários possuem terras que arrendam, recebem o aluguel em
produtos da lavoura e são desta forma totalmente vinculados às atividades agrícolas.
O caráter caótico do trânsito na cidade pode também ser um índice de que Arapiraca
ainda não adquiriu os reflexos urbanos. O desrespeito das regras básicas do Código de
Trânsito é quase constante: faixas para pedestres, sinalização horizontal e vertical, mãos,
não uso do cinto de segurança e do capacete etc. A circulação de inúmeras bicicletas e
motos não facilita a organização do movimento, mas também influem a ausência de
sincronia entre os sinaleiros, a alternância ilógica das mãos, os espaços insuficientes ou
inadequados para o estacionamento. Em breve, e de maneira geral, inexiste um plano de
trânsito coerente, mostrando assim a carência da visão urbana por parte dos responsáveis
da Prefeitura Municipal ou que, pelos menos, estes não souberam acompanhar o progresso
da cidade.
O mesmo poderíamos dizer a respeito das infra-estruturas básicas. A cidade não tem
saneamento, a iluminação pública é deficiente, há locais sem energia (FACOMAR, 2003).
Mas o aspecto mais saliente é a falta de calçamento em bairros junto ao centro. Em
Primavera e Brasília, por exemplo, apenas alguns grandes eixos são pavimentados, mais da
metade das ruas são de terra e cheias de buracos, sem falar na lama em época de chuvas.
Esses bairros são parecidos às vilas da zona rural tais quais Bananeiras, São José, Batingas
ou Canaã. As ruas de outros bairros residenciais como, por exemplo, Nova Esperança,
Brasiliana, Planalto são totalmente desprovidas de calçamento e estes não seriam muito
diferentes de povoados rurais se não fosse a aparência mais conceituada de algumas casas e
moradias.
Em muitos aspectos, Arapiraca se mostra como a vila que cresceu rapidamente demais.
Maria José Carneiro (2004) e sua equipe estudaram a população jovem de duas
comunidades rurais, nos estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. A autora
mostra que o vai-e-vem entre a tradição e a modernidade leva a formação de um espaço
indefinido, justamente qualificado por ela de rurbano.
26
A escolarização parece ser um dos fatores principais de mudanças no mundo rural, tanto
por razões educacionais quanto materiais no município de Arapiraca.
Completado a 4ª série, quando chegam até lá, os adolescentes da zona rural nem sempre
têm possibilidade de continuar os estudos, por não haver escola das 5ª à 8ª série na sua
comunidade. A falta de transporte desanima o aluno. O mesmo acontece quando se trata de
se matricular no ensino médio. As escolas estão todas na cidade e o baixo nível de renda da
população, muitas vezes inferior a um salário mínimo, o custo do transporte (3,00 reais por
dia) e sua pouca freqüência (termina o serviço às 19h00) impossibilita aqueles que
gostariam de estudar irem para a cidade. Somente aqueles que têm um parente disposto a
alojá-los na cidade podem progredir na escolarização. Muitos jovens que encontramos se
queixaram dessa situação, podendo eles ser sinceros ou sendo isso apenas uma desculpa
para justificar terem parado os estudos.
De fato, a escola, de maneira geral, abre horizontes ou perspectivas que os pais não
tiveram. Mas outros elementos vêm modificar o cenário. A televisão, por exemplo, é um
elemento que vem perturbar as tradições por mostrar uma “janela sobre o mundo” e veicula
valores nacionais, globais muito diferentes do lugar.
Isso deveria permitir pensar que a cidade oferece uma oportunidade para os jovens da
zona rural. Mesmo assim, aparece que em Arapiraca os jovens urbanos não são muito
diferentes, como veremos mais adiante.
3. CONCLUSÃO
5
Um hectare em Alagoas é equivalente a, aproximadamente, três tarefas. Lembra-se que se considera como
Agricultura Familiar a propriedade que vai até 4 módulos fiscais de 15 ha, ou seja, um total de 60 ha. A
maioria dos produtores da RFA, e de outras regiões do Nordeste, possuem apenas um terço de um módulo. A
redefinição da Agricultura Familiar, portanto, ou a diferenciação das faixas de produtores aparece como
fundamental na elaboração de políticas. Aliás, isso foi uma reivindicação da CONTAG quando da criação do
PRONAF (Santos, 2001).
28
vida das populações, preservando o meio ambiente. Por entre os inúmeros caminhos
possíveis, privilegiamos os conhecimentos aprofundados sobre um determinado território,
a cultura e as mentalidades porque a transformação do mundo corresponde a uma evolução
da “visão” que se tem dele.
Agora é preciso saber como Arapiraca se tornou “capital do fumo” e o porque da atual
crise que atravessa essa lavoura para entender melhor, depois, o papel do fumo na
formação da sociedade local e as conseqüências dessa crise.
29
30
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
Alguns trabalhos são específicos demais para serem utilizados como fonte de análise de
nosso tema. É o caso da tese de Fernando Lira (LIRA, 1987). Cláudia Malta traçou o
“perfil sócio-econômico das famílias de produtores e trabalhadores na região fumageira de
Alagoas” (MALTA, nov/99), mas o resultado do estudo só serve em termos comparativos
com a situação atual, pesquisa de campo nossa em curso.
Paulo Henrique Almeida, recuando até o início da colonização, aponta como causas da
decadência na Bahia após a segunda guerra mundial, fatores importantes tais quais as
condições do mercado, internacional e nacional (demanda), as mudanças no consumo (do
charuto para o cigarro), fatores técnicos e financeiros (dificuldades de adaptação, carência
de capital) (ALMEIDA, 1983). A pesquisa, porém, foi realizada antes das crises que
flagelariam a fumicultura nas décadas de 70, 80 e 90.
A tese apresenta os defeitos de muitos trabalhos de cunho marxista onde a teoria supera
a realidade. A autora, pesquisando no campo, tinha, a nosso ver, um tema de ouro –
realização naquela época mais fácil do que hoje – que era a existência dessas relações pré-
capitalistas, típica da época colonial e de muitas décadas do século XIX. Contrapondo-as
32
às relações realmente capitalistas, o estudo teria permitido trazer uma valiosa luz sobre a
evolução da agricultura nordestina, sem fugir de sua linha ideológica.
Outra tese de caráter marxista é a de José Alberto Ramos que apresenta as mesmas
carências. O autor insiste em comprovar que a decadência é o fato das empresas –
principalmente multinacionais – e da concentração do capital. Deixa de lado, contudo, os
fatores internacionais (queda da demanda do fumo baiano), setoriais (campanhas
antitabagistas, mudanças nos produtos e nos hábitos dos consumidores) e ainda muitos
outros tais como as questões fiscais, omitindo o autor o fornecimento de dados estatísticos
comparativos relativos à produção ou a composição do capital empresarial (RAMOS,
1990).
Último trabalho conhecido é a tese de Moisés Calu de Oliveira que mostra como se
reorganiza aos poucos o espaço agrário na região fumageira de Alagoas a partir do declínio
da cultura do fumo (OLIVEIRA, 2004). A pesquisa, apesar de ter sido realizada antes da
recente e grave crise do setor, vai ser um importante instrumento para a compreensão das
mudanças a virem e o planejamento da economia regional.
33
Por fim, convém citar alguns estudos que se inscrevem na continuidade de nossas
pesquisas sobre a história e economia do fumo brasileiro; constituem uma tentativa de
esclarecer os aspectos mais escuros das últimas décadas de fumicultura no Nordeste.
A cultura comercial do fumo no Brasil começa por volta de 1570 nas regiões costeiras
da Bahia e de Pernambuco a que pertencia o atual Estado de Alagoas. Segundo relatórios
34
holandeses, por volta de 1630, o fumo é cultivado na região de Porto Calvo e no litoral sul,
sendo o primeiro de melhor qualidade. Entretanto, a ocupação holandesa, com os conflitos
que ocasiona, favorece o crescimento da cultura na Bahia que se consolida como primeira
região fumageira do Brasil-colônia.
Um pouco da produção baiana fica para o consumo local e também vai para o Rio de
Janeiro. Contudo, com a descoberta do ouro e o desenvolvimento da atual região Sudeste, a
quantidade do fumo baiano é insuficiente para atender as necessidades. Começa então, por
volta de 1720, a cultura do fumo em Minas Gerais. Cresce tanto a produção que o fumo
mineiro chega a ser exportado fraudulosamente para as colônias espanholas vizinhas de
Montevidéu e Buenos Aires.
À véspera da Independência, o Brasil produz cerca de 9.500 toneladas, sendo 9 mil pela
Bahia e 500 pelas Minas Gerais. O mercado europeu representa 70% das exportações e a
África os 30% restantes.
Desenvolve-se a indústria dos charutos na Bahia, mas a maior parte do fumo em folha é
exportada para a Alemanha que é naquela época grande consumidora, além de ser o centro
do comércio internacional do fumo.
O fumo de corda da Bahia é destinado ao mercado interno, mas pelas dificuldades das
comunicações internas, todas as províncias – depois estados – começam a produzir este
fumo em quantidades variáveis. A produção cresce sobretudo em Minas Gerais, São Paulo
e no Rio Grande do Sul. Em 1920, esses três estados, com a Bahia, representam 80% da
produção brasileira.
O fumo de corda é picado pelo próprio consumidor que enrola seu cigarro. Mas também
é desfiado de forma semi-industrial e serve para a fabricação manual de cigarros. Assim
aparecem fábricas de fumo desfiado e cigarros nas principais capitais do país ainda que as
maiores indústrias se desenvolvam no Rio e em São Paulo.
A partir de 1880, a fabricação dos cigarros passa a ser totalmente mecanizada graças à
invenção de máquinas cada vez mais sofisticadas. Depois de 1910, o cigarro torna-se o
principal produto do fumo consumido no mundo.
Todos os fumos cultivados no mundo são de tipo escuro, ou negro. Mas criam-se nos
Estados Unidos, por volta de 1870, novos tipos de fumos - o virgínia e o burley -
conhecidos como “fumos claros” cujo mercado não pára então de crescer. Os fumos claros
começam a ser produzidos no Brasil em 1920, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina: é a
“segunda revolução fumageira brasileira”.
A partir daí, o Brasil divide-se em três regiões, conforme o tipo de fumo cultivado (Ver
anexo 7):
a) A primeira região é a região Sul (RS, SC e PR) com os fumos claros para cigarros;
36
b) A segunda região reúne parte da produção da Bahia e de Alagoas com o fumo em folha
escuro para charutos e cigarros;
Nota-se aqui que o Estado de Sergipe pertence exclusivamente à terceira região. Reage,
como qualquer outro estado, às flutuações da produção nacional de corda mas fica alheio
aos movimentos do “Nordeste fumageiro” tal qual o definimos, razão pela qual não ficou
incluído nesta mesma área em estudo.
Durante os anos 60 ocorrem dois fatos que mudam o cenário fumageiro nacional.
Pulam as exportações brasileiras dos fumos claros fazendo aos poucos do Brasil o
primeiro exportador mundial. O volume passa de 31 mil t. em 1960 para 53 mil em 1970,
alcança 145 mil em 1980 e hoje se situa em torno de 350 mil t.
Durante a fase conhecida como “milagre brasileiro”, entre 1966 e 1975, entram no
Brasil outras empresas multinacionais tais quais a Philip Morris e a R. J. Reynolds que
tentam competir com a BAT, dona da Souza Cruz. Mas a Souza Cruz existe no país há
muitos anos e possui uma experiência deste que os outros grupos não têm. Assim após
anos de luta, apenas a Philip Morris consegue se manter no Brasil ficando com uma fatia
de 15% do mercado nacional.
chega a 2 mil em 1990. A produção de corda restringe-se então à Bahia e Alagoas o que
vai gerar uma primeira crise entre 1975 e 1985.
O fato principal que inicia a crise é o dobramento do preço do fumo na Bahia, entre
1974 e 1978, em dólar, ou seja, em valor constante, tanto ao nível do produtor (corda e
folha) quanto na exportação, sendo que este sobe de menos de 1 dólar o quilo para 2
dólares. As causas dessa mudança não são ainda muito claras. Pode ter razões nacionais e
internacionais. A queda da produção de fumo de corda em outros estados brasileiros ou de
fumo em folha escuro em outros países pode ter aumentado a procura do fumo baiano e ter
tido um efeito no preço. Mas constatamos que entre 1970 e 1975 dobra também o preço na
Indonésia, principal concorrente de fumo baiano no mercado internacional, passando de
1,24 para 2,27 US$/Kg (FAO, 2004). Acreditamos então que, em reação, as empresas da
Bahia “reajustaram” o preço do fumo local para adequá-lo ao mercado externo, havendo
um efeito similar no preço da corda.
Alagoas, mas em proporção inferior; assim, em 1980, ele ainda é abaixo do preço do fumo
baiano de 1976.
Logo, a crise dos anos 75-85 atinge profundamente e exclusivamente a Bahia de forma
negativa e dela resulta a concentração da cultura em Alagoas. As conseqüências na Bahia,
porém, são relativas na medida em que os segmentos do fumo de corda e do fumo em folha
são totalmente diferenciados, o que não é o caso de Arapiraca. Na Bahia, embora diminua,
permanece a produção o fumo em folha para charutos nacionais e exportação que, em
termos econômicos, representava cerca de 80% do valor gerido pelo fumo no Estado, em
transformação industrial, comércio e tributos.
Mas isso não impede a concorrência de crescer, em particular do Equador cujo tabaco
negro compôs o volume das 3.600 toneladas produzidas em 1987 (ECUADOR, 2004). As
exportações triplicam em menos de 10 anos: 241 t. (1985), 700 t. (1990) e 750 t. (1995)
(FAO, 2004)
anunciador da crise que conhece hoje o setor fumageiro a região de Arapiraca no Estado de
Alagoas e podemos dizer que, já naquela época, esta era previsível.
GRÁFICO 1
70.000 64.478
60.000 51.687
46.804 47.440
44.538 46.414
50.000 42.135
37.280
40.000 45.517
29.529
34.068
31.414 31.586
39.199
30.000
17.619 16.026
20.000 16.885 27.198
10.549
5.339
10.000 1.287
-
1945 1955 1965 1975 1980 1985 1990
É preciso anotar aqui uma das maiores dificuldades da pesquisa: as estatísticas nunca
separam o fumo de corda do fumo em folha e temos que recorrer a informações de campo
e estimativas. Aliás, os dados não precisam ser rigorosamente exatos, desde que estejam
coerentes: o que importa são as tendências. Também é bom lembrar que ambos os produtos
são cultivados em áreas separadas na Bahia, enquanto são misturados em Alagoas.
A crise na Bahia, porém, não foi percebida pelo setor produtivo e empresarial do fumo
em folha, concentrado no Recôncavo, já que apenas o setor do fumo de corda foi atingido e
sendo este cultivado em regiões periféricas, ou Sertão. No caso de Alagoas, vemos que não
se pode falar de maneira alguma de decadência, mas sim, de crescimento. Porém, segundo
opiniões relatadas por Gusmão, dá para entender que certos atores do setor fumageiro de
Arapiraca, em 1983, já percebiam o aumento da produção, e até seu excesso, como uma
crise e diziam que se não se tomasse providência esta ia ser pior: como já salientamos a
atual crise era previsível. As questões das relações de produção, da qualidade, dos preços,
da assistência técnica estavam no centro dos problemas e, sobretudo, os produtores
enfrentavam grandes dificuldades financeiras, não tendo a maioria apoio do governo
federal e acesso ao crédito (GUSMÃO, 1985). Isso é um ponto importante que, além de
prejudicar bastante os pequenos produtores, seria um dos fatores da atual crise. Com efeito,
ao financiar sua cultura com recursos próprios, o produtor ficava sujeito à especulação dos
atravessadores por ser geralmente obrigado a vender sua safra por um vil preço a fim de
satisfazer seus gastos de produção (insumos ou outros); quando o financiamento era da
responsabilidade das empresas, aumentava a dependência do produtor em relação a aquelas
e este pouco podia influir sobre o estabelecimento dos preços.
A análise da crise em Alagoas fica, mais uma vez, sujeita à escassez de dados. As
informações fornecidas pelo IBGE, que constituem a fonte oficial, não correspondem com
dados de outras origens (Secretaria de Planejamento do Estado, empresas) e de maneira
alguma à realidade constatada no terreno. A discrepância de dados decorre antes da falta de
recursos do órgão que não pode realizar aprimoradas pesquisas de campo em cada ano.
Por outro lado, convém dizer que os produtores, por desconfiança ou ignorância, não
43
Isso vem modificando as percepções da evolução do setor por aqueles que utilizam
apenas esses dados (pesquisadores universitários ou técnicos) e por aqueles que estão
confrontados à verdadeira situação.
Assim, o IBGE continua registrando altos índices de produção entre 1998 e 2000
enquanto se verifica o declive nas roças e nas indústrias. Em 1998 e 1999 o volume
produzido seria de, respectivamente, 31.270 e 32.148 t., isto é, sensivelmente igual ao dos
anos anteriores e a crise ocorreria somente em 2000 com 15.876 t. (menos 50,6%). No
entanto, a produção de folha em Arapiraca, que está atrelada à produção de corda, registra
quedas sucessivas de 25%, 37,5% e 49,3% entre 1998 e 2000, segundo fontes empresariais.
Depois há uma primeira caída de uns 27% entre 1990 e 1995. No entanto, há
divergências nos dados relativos ao período 1991-1994, indicando alguns uma tendência à
produção elevada, com uma média em torno de 31 mil t. e outros uma tendência ao declino
com uma média de 27 mil t.
de fumo, sobretudo no que diz respeito ao de corda, o que explicaria a diferença de volume
entre 1990 e 1995.
GRÁFICO 2
35.000 31.584
31.414
29.322
30.000 27.198
A partir de 1998, há uma tremenda queda de 77% da produção no espaço de três anos.
Em 2001 há uma pequena recuperação, mas em 2002 a safra volta a cair, mostrando a
tendência dos anos a virem.
Uma das primeiras causas da crise é a queda geral do consumo interno do fumo.
45
No gráfico 3, vemos que o consumo aumenta entre 1950 e 1980 mas depois cai. No ano
2000 está igual ao consumo de 1950.
GRÁFICO 3
2015 2125
1828
1712
1444 1389 1348
A segunda causa da crise é a queda do consumo do fumo de corda, em prol dos cigarros
industrializados.
A partir de 1990 aparece o contrabando dos cigarros que domina uns 30% do mercado
em 2000. Isso acelera a queda do fumo de corda. Esse contrabando é uma das
conseqüências diretas da lei antifumo de 1996.
GRÁFICO 4
1.172
1.052
800 845 1.011
748
542
650
646 636
464 180
410 67
254
GRÁFICO 5
72 92 96
67 84
56
44 16
33
28 8 4
FOLHA CORDA
Outra causa é a queda do consumo de cigarros escuros, ficando estes tipos de fumo
quase restritos à fabricação de charutos e misturas para cachimbo. Hoje representam uns
20% dos fumos consumidos no mundo.
Só para dar um dado, a França, que sempre foi um dos principais consumidor desse
tipos de fumo, viu cair de 70% as vendas de cigarros escuros em 25 anos. A formação da
União Européia e a quebra do monopólio estatal nesse país nos anos 70 facilitaram a
circulação dos cigarros de fumos claros, modificando o gosto dos fumantes. O mesmo
fenômeno ocorreu na Espanha, embora mais rápido, pois entrou na União somente em
1986 (ENTREVISTAS). Outros dados confirmam essa tendência: as exportações dos
Camarões, na África, um dos principais fornecedores da França em fumos escuros para
cigarros, caíram de 2 milhões de toneladas em 1980 para 290 mil em 1995 e 90 mil em
1998, ou seja, de quase 100% em 18 anos (FAO, 2004).
48
Podemos ter uma idéia dessa queda no Brasil comparando as exportações da Bahia e de
Alagoas entre 1975 e 2003 (ver gráfico 6).
Vemos que a tendência geral está no declínio, pois em 25 anos as exportações passam
de 37 mil t. para pouco mais de 6 mil, ou seja uma queda de 84%.
Há uma primeira fase de contração entre 1975 e 1984 com um declive geral de 50%.
Porém, a repartição entre a Bahia e Alagoas difere. Assim como no caso do fumo de corda,
Alagoas passa a superar a Bahia. É, de certa forma, lógico, pois a produção de fumo em
folha em Arapiraca depende da produção de fumo de corda. As exportações de Alagoas
dobram entre 1975 e 1980 enquanto caem pela metade na Bahia. Isso se deve ao aumento
do preço na Bahia. Até 1983, as exportações de Alagoas se estabilizam, mas continuam
diminuindo na Bahia. No ano seguinte (1984), a Bahia recupera-se um pouco e cai a
produção de Alagoas. Os dois estados estão no mesmo nível.
Dez anos depois (1994) a situação parece relativamente estável, sensivelmente idêntica
à do ano de 1983 no qual Alagoas representa 75% das exportações e a Bahia 25% (seria
talvez uma fase de recuperação em nível regional, mas faltam dados para confirmar essa
opinião).
Mas a partir de 1995, as exportações globais voltam a cair: -40% em 1996 e –20% em
1998. Desta vez é Alagoas que mais padece da crise. Em 2000, o resultado é catastrófico,
pois o volume é de apenas 1.654 t., o que representa uma queda de 90% em relação a 1995
(17.125 t.) e 76% em relação ao ano anterior (7.119 t.). Em 2003, a perda regional é de
70% mas de 86% em Alagoas e 7% na Bahia, em relação a 1995 e anos anteriores.
49
GRÁFICO 6
40.000 37.100
35.000 32.940
30.000 25.968
25.000 22.113 21.840
21.425
18.620
20.000 12.731
11.699
15.000 12.787
10.106 9.193 6.461
10.000 6.066 6.410
5.000
-
1975
1980
1982
1983
1984
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
-
Aqui surge uma pergunta à qual, infelizmente, não é possível responder: foi a
transferência da produção da Bahia para Alagoas responsável pela queda das exportações
nordestinas? Embora fosse o fumo alagoano mais barato do que o da Bahia, a qualidade
não era a mesma. Podemos pensar que os fabricantes de cigarros de fumos escuros,
principalmente europeus e norte-africanos, para enfrentar a concorrência dos cigarros de
fumos claros, preferiram baratear seus produtos em prejuízo da qualidade, levando as
empresas exportadoras a incentivar a produção alagoana de qualidade inferior. Porém, esta
mesma perda de qualidade pode ter afastado os consumidores dos cigarros escuros e
provocado em conseqüência a queda da demanda de fumos nordestinos. Quem sabe se
50
esses consumidores (internacionais) não estivessem prontos a desembolsar mais para fumar
cigarros escuros de qualidade?
Há ainda fatores internos que teriam tido uma grande influência na crise. A questão está
ainda em suspenso, pois a realidade da crise é atualmente objeto de estudo e não se
reuniram ainda todos os elementos de análises. Venhamos aqui responder a algumas
hipóteses que são lançadas pelos atores em Arapiraca.
O primeiro fator seria a fim do financiamento bancário para a cultura do fumo. Alguns
testemunhas dizem que essa mudança ocorreu há 5 ou 6 anos. Mas a legislação que proíbe
o crédito bancário para a cultura do fumo teve início na safra de 2001. A crise é anterior. O
que aconteceu provavelmente é que, com a crise de produção, os agricultores não tiveram
mais as condições de sacar as dívidas e os bancos deixaram de financiá-los.
O secundo fator seria o grande estoque que teriam acumulado as empresas e alguns
produtores de fumo de corda: esse estoque teria sido liberado a partir de 1998. É mais
provável que a queda das vendas tenha proporcionado grandes quantidades de fumo
estocado. Mesmo assim, é difícil acreditar que esses estoques pudessem representar 10 ou
15 mil toneladas durante cinco anos, ou seja, um total de 50 a 75 mil toneladas. É mania
pôr a culpa em alguém (geralmente as empresas, os produtores ou os poderes públicos)
quando não se pode explicar um acontecimento.
O terceiro fator seria, segundo muitas pessoas, a baixa qualidade que teria adquirido o
fumo em Arapiraca nos últimos anos. Os produtores misturariam o fumo com água, areia
ou outras folhas para aumentar o peso e conseguir melhores preços. Mas discordamos
dessa opinião porque já se falava a mesma coisa no período colonial e temos como prova
disso vários relatórios da época bem como o Alvará de 1775 que baixou o Marquês de
Pombal, ministro de Portugal, sobre as formas adequadas de cultivar o fumo (NARDI,
1996). Portanto, acreditamos que as eventuais misturas no fumo de corda sempre
existiram.
de “alguns compradores” atingiu também a Bahia puxando para cima o preço do quilo de
folha, até duas vezes o valor estipulado pelas empresas locais.
O alto preço de 2003 incentiva os produtores a plantar fumo este ano (2004) e prevê-se
uma grande safra, mas com um preço muito baixo e um grande número de quebras por
entre os pequenos fumicultores iludidos que até arrancaram os pés de mandioca pensando
enriquecer-se com o fumo. Ainda circulam lembranças da “época de ouro” e falsas idéias
do tipo “com 1.200 quilos de fumo se podia comprar um caminhão ou o carro do ano”.
Assim constroem-se as lendas, alimentando o imaginário popular... As condições
climáticas não são favoráveis, em particular o excesso de chuva, a qualidade não será boa.
nacional não agrada aos estrangeiros e nos anos seguintes a queda é inevitável, sendo 2001
o pior ano com 201.204 dólares. Em 2002 e 2003 há uma pequena recuperação, subindo o
valor para cerca de 290 mil dólares (SEAGRI/BA, 2004).
O “boom” dos charutos aumenta a procura dos fumos escuros para enchimento e capa,
porém, convém assinalar que as quantidades necessárias para a fabricação de charutos são
ínfimas em relação aos volumes consumidos pela indústria dos cigarros: 100 toneladas
permitem produzir milhões de charutos, grandes e pequenos; o impacto do “boom dos
charutos”, portanto, em termos de quantidade produzida é relativamente pequeno. Mesmo
assim cresce a produção de fumos para charutos em muitos países. Nos Estados Unidos a
folha connecticut ganha fama e até chega a ser importada pelos fabricantes da Bahia! O
Equador passa a produzir ótimas folhas connecticut e sumatra e conquista mercados
externos. Aumenta também a produção em outros países do Caribe como a República
Dominicana – isso a partir dos anos 60 devido ao embargo contra Cuba – e da América
Central tais quais o Honduras, a Nicarágua e o México (VOILACIGARS, 2004). Existem
outros países produtores de fumos escuros para charutos que se apresentam como grandes
concorrentes do Brasil: Camarões e Filipinas (DENIS, 2004).
produção que volta ao seu nível médio anterior. Mas, como também vimos, é uma fase de
mudança radical nas estruturas da produção, passando toda a produção de corda da Bahia e
parte da de folha para o Estado de Alagoas.
A crise deixa então marcos profundos e se a terceira fase, que dura 12 anos, de 1985 a
1997, é de relativa estabilidade, há uma leve tendência ao declínio, decorrente da
diminuição da demanda em fumos escuros para cigarros no mercado internacional.
GRÁFICO 7
86
79 77
69
65 60
58 58
52 50 47
47 45 46 47 44 44
42 44
tendência 37 39
34 30 34 35 35 32
Estab 23
Crise de 21 18
30 15
superprodução Estabilidade relativa 12 anos
Crise
anos 10 anos Estab. ?
3 anos
1945
1965
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
Assim prepara-se a crise que ocorre na quarta fase, de 1998 a 2000. Mas o mercado
externo é apenas um elemento desta crise, já que se combina com a queda da demanda do
fumo de corda no mercado interno. No caso, a lei antifumo de 1996, involuntariamente,
favorece o desenvolvimento do consumo de cigarro de contrabando que prejudica o
consumo de fumo de corda no Brasil e a produção deste.
Estamos hoje na quinta fase que é, talvez, de estabilidade, mas por quantos anos?
Nota-se, sim, a existência de duas crises estruturais maiores que envolvem tantos os
lugares de produção quanto os volumes e tipos de fumo produzidos.
A primeira crise (1975-1985) leva ao sumiço da cultura do fumo de corda da Bahia sem
atingir totalmente o setor do fumo em folha. Não se trata de decadência mais de termino
56
puro e simples de uma cultura tradicional e secular; se fosse uma empresa falaríamos em
“falência”.
Hoje, os agentes da cadeia produtiva bem como as pessoas vinculadas à economia dos
Estados da Bahia e Alagoas consideram que a fumicultura está em decadência sem
perceber que se trata de uma nova crise, de certa forma “anunciada” pela primeira. Não
conhecemos suas conseqüências, pois estamos ainda vivendo a situação; apenas podemos
especular sobre o futuro da fumicultura nordestina. Assim acreditamos que ainda por
muitos anos haverá necessidade de fumos em folha nordestinos no mercado internacional,
para charutos, cigarros e misturas, embora o volume dificilmente puder ultrapassar 2 ou 3
mil toneladas. No que diz respeito ao fumo de corda, é mais provável que o cultivo
desaparecerá progressivamente.
4. CONCLUSÃO
Mostrar a realidade dos fatos e destruir os mitos faz parte do papel do economista, ou do
historiador-economista, para trazer uma melhor compreensão dos mecanismos que regem
um setor de atividade e contribuir com uma adaptação mais suave às mudanças necessárias
para a melhoria das condições de vida das populações. É pelo menos o que tentamos fazer.
análises que se fizeram até agora não conseguiram agregar os inúmeros elementos e fatores
que contribuíram nas crises e finalmente para a decadência da cultura do fumo nordestino.
Por outro lado, esse estudo mostra que não podemos limitar-nos a simples análises
quantitativas e que múltiplas razões econômicas nacionais e internacionais, técnicas,
fiscais, legislativas e também sociais e psicológicas interferiram na evolução da
fumicultura tornando extremamente complexa a análise da questão. Os movimentos
nacionais e mundiais que influíram sobre o declínio são importantes e resultou deles a
queda simultânea do consumo global do fumo, dos cigarros de fumos escuros e do fumo de
corda.
A mistura dos segmentos dos fumos para corda, cigarros e charutos, até chegando a ser
produzido numa só planta como acontece em Alagoas, com suas respectivas relações de
produção, técnicas e práticas comerciais, impossibilitou qualquer forma de organização e
planejamento da produção por parte dos órgãos agrícolas, e até das empresas e dos
produtores, prejudicando o desenvolvimento diferenciado de cada um desses segmentos.
O que importa hoje é que a crise do fumo atinge profundamente Arapiraca e sua região:
numa rápida avaliação, perderam-se uns 25 mil empregos na zona rural e 8 ou 10 mil na
indústria e no comércio, no espaço de cinco anos.
58
Na RFA, coexistem ambos os sistemas. Isso é mais saliente na cultura do fumo onde os
agricultores de dividem em três categorias, conforme o tipo de fumo produzido,
independentemente de serem considerados da Agricultura Familiar ou não.
A grande maioria dos fumicultores (+ ou – 75%) só produz o fumo de corda que vende
aos atravessadores, também chamados de “ambulantes”, e permanece no sistema pré-
capitalista ou mercantil da época colonial.
Juntam-se a estes produtores aqueles que estão em outros setores agrícolas e praticam
uma agricultura diversificada ou a pecuária; são médios e grandes produtores, fazendeiros,
com recursos próprios ou acesso fácil ao crédito; são empresários: é o agronegócio. É o
setor que recebe mais ajuda do governo federal. Em 2003, foram liberados 32,5 bilhões de
reais para a agricultura por meio do Plano Agrícola e Pecuário, sendo 27 (83%) destinado
ao agronegócio e 5,4 (17%) para a Agricultura Familiar, apesar de esta gerar “7 de cada 10
emprego no campo”, segunda apostilha do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Na tabela 2, consideramos dois anos A e B com produção similar à dos anos 2003 e
2004.
Supomos que todo o fumo seja desfiado e empacotado por uma empresa. As 6 mil
toneladas permitem produzir 150 milhões de pacotinhos de 40 gramas (o peso líquido é na
verdade de 36 ou 38 g) que, vendidos a R$ 1,00 a unidade, dão um faturamento de 150
milhões de reais, quase três vezes superior ao do agricultor.
No ano B, o alto preço do fumo precedente anima o agricultor que dobra sua produção.
Mas o aumento da oferta tem um efeito sobre a demanda e cai o preço médio para R$ 5,00.
Assim, o faturamento do agricultor é igual ao do ano anterior enquanto aumentou suas
despesas em insumos, terra ocupada e tempo de trabalho e, consequentemente, diminuiu
sua renda líquida.
64
A empresa dispõe este ano de mais fumo, 12 mil toneladas, com as quais fabrica o
dobro do número de pacotinhos em relação ao ano anterior e também fatura duas vezes
mais, ou seja, 300 milhões de reais e cinco vezes mais do que o agricultor.
Dessa forma, vemos que a variação da produção de fumo de corda tem uma
conseqüência global e natural no volume e na circulação do dinheiro na região (diminuição
ou aumento). A repartição do valor, porém, é desigual.
Nota-se que essa classificação difere um pouco das estatísticas do IBGE ou de outras
pesquisas porque consideramos apenas os produtores de fumo. OLIVEIRA (2004), por
exemplo, realizou outra pesquisa de campo em Arapiraca com os estabelecimentos onde há
fumo e outras lavouras. Aqueles de até 5 ha. (15 tarefas), representam 75%, de 5 a 10 ha.
(15 a 30 tarefas), 16,5%, de 10 a 20 ha. e mais de 20 (30 a 60 tarefas), 9,2%.
A produção máxima segundo a maior parte dos informantes é de 3 bolas por tarefas, ou
seja 900 kg/ha., o que é um rendimento relativamente baixo. Mas a maioria não consegue
isso, chegando apenas a 2 bolas quando não for 1,5 ou 1 só como no ano passado,
chegando o rendimento a 300 kg/ha.
Daí calcula-se a renda bruta média entre as diferentes categorias na base de um preço de
5 reais (Ver tabela 3).
66
Nesse cálculo, constatamos que 83% da renda do fumo ficam na mão de 22,6% dos
produtores e 4% somente em posse de 50% dos produtores que nem conseguiriam ter um
salário mínimo de renda bruta mensal. Imaginamos o que seria a renda real, descontados os
gastos em eventuais adubos e terra arrendada, em horas trabalhadas, A repartição seria
ainda mais desigual se incluíssemos a produção dos agricultores de grande porte que
indiretamente são produtores de fumo e de que falamos acima.
Embora o raciocínio seja baseado numa situação meramente teórica, ele permite
entender que a riqueza do fumo ficou quase sempre transferida do campo para a cidade,
mantendo a zona rural em situação sócio-econômica de estagnação, ao passo que crescia a
zona urbana. A indústria atraiu o dinheiro de fora pela venda de seu produto, aumentou o
volume e a circulação interna, fortaleceu e ampliou as atividades econômicas e melhorou o
padrão de vida da população urbana.
Nota-se aqui que o fumo vendido em corda teve um efeito similar, ainda que de menos
importância, pois o preço é apenas um pouco superior ao preço pago ao agricultor e de
muito inferior ao do produto manufaturado. Seria talvez em torno de 12 e 7 reais,
respectivamente, nos anos A e B.
Analisando os dados recentes, podemos ver que a variação da produção de fumo influi
na economia geral do município através da evolução da arrecadação do ICMS.
Agora é fácil imaginar o que representou a riqueza do fumo quando a produção era de
30 mil toneladas na região fumageira e 15 mil no município de Arapiraca (anos 70 e 80). A
atividade teria gerido anualmente, na mesma base de cálculo, mais de 1 bilhões de reais,
cabendo a metade “somente” em Arapiraca. Mesmo sendo a cifra muito inferior, e pagando
apenas 10% de impostos, o setor do fumo, sozinho poderia ter realizado quase todo o
orçamento da prefeitura municipal!
de Arapiraca a situação dos mais de 5.500 municípios brasileiros, num processo piramidal,
aumenta a dívida pública dos estados e externa do país. Isso gera ainda mais dependência
(FMI) e desigualdade social (GONÇALVES/ POMAR, 2000 e 2002).
Essa situação paradoxal é um forte índice de que a repartição do dinheiro do fumo foi
desproporcionada e que apenas uma pequena faixa da população se aproveitou realmente
da riqueza que, conforme o faturamento teórico que descrevemos, apesar da crise
fumageira, continuou existindo. Escavou-se então o abismo entre os mais ricos e os mais
pobres. Uma grande parte da população, hoje mais carente, de baixa renda ou sem renda
nenhuma, ficou assim excluída do processo de desenvolvimento que a cultura do fumo
desencadeou e a percentagem que representa em constante aumento.
médio na região fumageira de Arapiraca foi de 74,4%. Chega a +94% em Lagoa da Canoa,
o que parece fora da realidade. Pensamos que, para melhorar o índice, muitos municípios
tenham matriculado oficialmente um grande número de alunos nas escolas, sem levar em
consideração a qualidade do ensino e a evasão escolar; ainda haveria de contabilizar o
número de pessoas que deixaram a escola depois da 3ª ou 4ª série, esqueceram tudo, isto é,
ler e escrever, e voltaram a ser analfabetos... (Ver tabela 6).
A crise fumageira mais recente, nos últimos oito anos, acarretou novos problemas
principalmente urbanos.
afetados, passando de 439 para 660 o número de casos, sendo mais da metade constatados
no Centro, e o ano 2004 ainda não terminou... (AT, 38/2004).
São assim inúmeros problemas administrativos crescentes, sempre mais agudos, que o
governo municipal – e estadual – tem que enfrentar, sem ter os recursos suficientes para
isso, já que o fumo não injeta tanto dinheiro quanto antes, mesmo sendo este na economia
informal.
É quase impossível, pela falta de informações adequadas, saber com exatidão quais são
as atividades da população de Arapiraca. Como incluir o setor informal, os inativos,
aqueles que vivem de bico, os desempregados reais, os ociosos? No entanto vamos tentar
uma avaliação juntando dados e cálculos, por mais arbitrárias que sejam determinadas
classificações e aleatórios os resultados.
Partindo deste princípio, podemos arriscar dizer que os dados relativos à população
economicamente ativa em Arapiraca são parecidos aos do Estado. Em Alagoas, no ano
2002, 54% da população total eram ativos, 63% viviam em zona urbana e 61% eram de
sexo masculino, tendo 88% dos homens entre 25 e 49 anos (SEPLAN/AL, 2003). Em
Arapiraca, a população ativa contaria então, em dados arredondados, em torno de 100.000
indivíduos, sendo 63.000 na zona urbana, 61.000 homens e 55.000 deles com idade entre
25 e 49 anos.
No entanto, para quem vive em Arapiraca é fácil perceber que a vida sócio-profissional
da cidade é muito diferente desse retrato estatístico oficial, pelo número de feirantes, de
ambulantes e estudantes que circulam pelas ruas, pelo forte sentimento do desemprego
devido a pouca oferta de trabalho, pela escassez de dinheiro.
Assim, por volta de 2000, em Arapiraca a população ativa representaria 87.974 pessoas,
ou seja, 47% da população total.
O número é relativamente esdrúxulo (mas perto daquele calculado acima a partir dos
dados do Estado) porque incluímos na população ativa os desempregados pela
impossibilidade técnica de separar aqueles que são realmente desempregados e procuram
um trabalho daqueles que trabalham no setor informal, ou vivem de bico. Desconhece-se a
cifra exata do desemprego. O dado utilizado é próximo daqueles que são geralmente
6
A importância deste setor em Arapiraca é natural por ser a segunda cidade do Estado, mas, mesmo assim, é
inferior no que diz respeito ao número de pessoas que ela ocupa em Palmeira dos Índios ou Maceió e que se
situa em torno de 35% da população ativa.
74
Feitas essas ressalvas, a agricultura, ou setor primário, aparece como dominante com
20,5% da população total, o que não é surpreendente por uma cidade qualificada de
“capital do fumo”. Pretende incluir o dado, baseado no número de estabelecimentos rurais
do município, a Agricultura Familiar e os trabalhadores rurais.
A avaliação, por exemplo, mostra o peso dos feirantes, com 2,5% da população ativa,
equivalente à percentagem da indústria, e integra a atividade da “maior feira livre do
Nordeste” no perfil sócio-econômico da cidade.
Também os artesãos, presentes todas as sexta-feira na Praça Luiz Pereira Lima e todo
evento econômico ou cultural, os moto-taxistas circulando de forma permanente pelas ruas
e as prostitutas, constatadas em inúmeros bares e “tocas”, se destacam como categorias, o
que não parece estranho para quem mora em Arapiraca: somente no bairro Brasília,
computar-se-iam 35 prostíbulos, ou seja, um estabelecimento por uma população
masculina de 200 pessoas!
Por entre as pessoas inativas, entram as crianças de 0 a 9 anos que não vão na escola, os
idosos de 60 anos e mais, embora muitos deles continuem trabalhando e os estudantes.
Juntas, as três categorias atingem 53% da população e totalizam 98.288 pessoas.
Por fim, incluímos um dado “técnico” para completar o número certo de habitantes de
Arapiraca, 186.466 pessoas.
78
O setor dos Transportes (10,6%) não inclui os moto-taxistas que são cerca de 800, no
setor formal e informal, e com eles viria a subir o setor no ranking.
Todos os demais setores se situam abaixo de 6%. Alguns setores se destacam porque
existe uma atividade dominante. É o caso do setor Saúde, Beleza que representa 5,8% por
causa do número de farmácias (111 pessoas) e também do setor Comunicação, Cultura,
Lazer que conta com 108 pessoas nas oficinas eletrônicas de rádio e TV. O setor Madeiras,
Móveis têm reputação de ser importante da cidade, mas sua participação é baixa (1,9%),
inferior ao setor Construção, Ferramentas, Vidros (4,9%). Podemos constatar a fraqueza do
setor Turismo, Hotelaria (1,1%). O setor Agrícola é insignificante porque é formado
essencialmente por depósitos de adubos; é possível que a participação seja ainda menor
hoje, devido à queda da demanda em adubos por causa da crise da cultura do fumo.
econômicos, promoção da cidade para atrair empresas e visitantes que gerariam renda de
que toda a população se beneficiaria.
2004, ao tema com duas páginas inteiras, além do editorial, e a seguinte manchete: “A
morte anunciada da cultura”.
Não existe lugar adequado para espetáculo variado, com acústica, iluminação, cenário
de qualidade e conforte para os espectadores. O Espace, local para realização de eventos,
não é apropriado para espetáculos culturais e, segundo a opinião de Albério Carvalho,
presidente da ONG Candeiro Aceso organizadora do Festival de Artes de Arapiraca desde
2003, a sala da Casa da Cultura não passa de “um grande salão com um monte de cadeira”.
De fato, o ponto forte desta Casa é sua biblioteca, com um acervo de aproximadamente,
20 mil títulos, embora nem todos nas prateleiras, por falta de um sistema informático e
funcionários. A freqüentação média situa-se entre 200 e 350 pessoas por dia. Em sala
anexa, há exposição permanente de produtos artesanais que a Casa promove, todas as
sexta-feira, na praça na frente de seu prédio, com a Feira de Arte onde os artesãos fazem
uma amostra de seus produtos e, segundo eles, as vendas são boas; também há
apresentação no quiosque de grupos musicais e de danças locais e regionais.
Por falta de apoio, a Fundação Morro Santo, não conseguiu fazer a encenação da Paixão
do Cristo na Páscoa de 2003, que acompanhava, desde 1996, a procissão do Morro Santo
da Massaranduba, tradição religiosa na Semana Santa existente havia mais de um século.
Para o coordenador da Fundação, Wagno Luís de Godez, as pessoas de Arapiraca têm
cultura, mas “a maioria não tem contato com a arte e, por isso, não gostam. O problema é a
falta de incentivo” (AT, 10/2003).
Mesma constatação de Sérgio Lúcio, diretor do trio elétrico Chiclete com Cachaça, a
respeito da Micaraca 2003. “O evento não contou com o apoio da prefeita. Em vez dela
incentivar os foliões, disse que não queria a festa e que a Micaraca seria acanhada”. De
fato o carnaval fora de época – que em qualquer outro lugar faz sucesso – foi um fracasso
público e muitos pensavam que seria a última edição. “É uma pena”, lamentou um
estudante, acrescentando que “Não existe nenhuma outra festa na cidade onde a gente
83
possa se divertir de graça” (AT, 10, 2003). No entanto, a edição de 2004 aconteceu de 10 a
12 de setembro, mas apesar do ano eleitoral, não foi melhor, para o publico e até encolheu,
segundo o jornal Alagoas em Tempo (AT, 40, 2004)
É lugar-comum dizer que a televisão é responsável pela falta de interesse das pessoas
por atividades “culturais” tão simples quanto a leitura de jornais, o cinema ou o teatro. Mas
poderíamos acrescentar as outras culturas de massa que são a radio e a indústria do disco
que diminuem o interesse pelo espetáculo “erudito”. A vulgarização das fitas video e do
videocassete, e agora do DVD, transformou a vida do homem, pois ele tem o
entretenimento em casa (quase) de graça.
Ir ao circo por esse motivo seria o resultado da baixa renda da população que não tem
condição de freqüentar piscinas e praias como não tem o poder aquisitivo para comprar
revistas, cassetes video e DVDs especializados. Mesmo vestida, a “rumbeira” seria um
suporte para soltar a imaginação do homem e os especialistas em psiquiatria relacionariam
provavelmente esse comportamento a uma grande frustração, uma “miséria” sexual...
Mas também a falta de lazeres na cidade é patente. A depressão é uma das maiores
causas de suicídio em Arapiraca (CAVALCANTE, 2001).
84
O que seria típico de uma cidade quase não existe. O único cinema, alguns anos atrás,
só mostrava filmes pornôs, como na maioria das pequenas cidades do interior. Sobra então
a freqüentarão dos bares, cabarés, strip-tease, das “tocas” e danceterias.
As casas de festas, tipo Evento’s ou Espaço Livre, parecem substituir, na cidade, o baile
ou forró de noite de sábado da zona rural como se vê pela simplicidade do lugar –
geralmente um galpão meio aberto – e a apresentação de uma banda de qualidade
discutível (um teclado e um cantor, às vezes um contrabaixo).
Parece que cada um desses grupos tem seus lugares prediletos e não se misturam entre
si, sobretudo no que diz a classe média com o povo. A classe média ou elite se reúne em
festas privadas ou em clubes fechados. A classe trabalhadora prefere estabelecimentos do
tipo “bar do caldinho” que são pontos de encontro, de entretenimento (DVD musical e
jogos de futebol) e de descontração.
7
As estatísticas não deixam destacar a faixa etária 15-25 anos que seria mais adequada para falar da
juventude.
8
A laranja teve no crescimento de Limeira um papel similar ao do fumo em Arapiraca.
85
arapiraquenses vestidos com elegância que vão ao forró, show de Calypso, Karisma ou
qualquer outra banda, são iguais a todos os demais jovens que, nas pequenas cidades do
Brasil, querem se divertir, escutar música, dançar e paquerar.
Destarte, a visão da cultura em Arapiraca fica distorcida por uma elite que não quer
enxergar como ela também é, essa mistura de rural e urbano, de passado com modernidade.
Não adiante querer que Arapiraca seja igual a qualquer grande cidade ou capital do país,
porque não é. Por isso, há de valorizar a cultura local, deixando de desprezar o “popular”.
Pelo contrário, há de resgatar esta cultura, tentar compreendê-la em todas as suas
modalidades e graus de desenvolvimento, ampliá-la, dando-lhe por isso os meios
financeiros, materiais e educacionais, pois assim se transformaria paulatinamente, a
momento qualquer, em “erudito” genuinamente arapiraquense.
Apesar de sua honestidade, em inúmeros casos, o arapiraquense não cumpra o que ele se
comprometeu a fazer. Assim não vai a um simples encontro amistoso ou profissional, não
comparece em reunião ou evento ainda que tenha “assegurada”, “garantida” sua presença,
não entrega trabalho ou outros documentos que prometeu. Quem não ficou esperando um
colega, a relação profissional que, muitas vezes, nem tenta avisar a ausência, nem
apresenta desculpa? A palavra, em Arapiraca, não tem valor; é falta de comprometimento.
Esse comportamento existe no campo quando, por exemplo, o produtor firma, de forma
oral, um “contrato” de fornecimento de matéria-prima a um atravessador, uma indústria ou
empresa e, na hora de vender, conclui a venda com outro comprador porque este oferece
um preço muito atrativo. Em setores profissionais urbanos, não é muito diferente. O
resultado dessa mentalidade é que se torna difícil dar fé na palavra do outro. A falta de
87
O fato da palavra não ter valor também está relacionado à outra mentalidade que é o
individualismo, para não falar de egoísmo. Cada um vê seus próprios interesses antes dos
interesses comuns, mudando às vezes suas opiniões ou ações em função daqueles; é
oportunismo. A luta pelo poder é uma das manifestações, embora esta seja carregada de
ambigüidade, pois todos aqueles que querem alcançar o poder se declaram lutar por ele
para o “bem de todos” e alguns não deixam de ser sinceros. Em paralelo, ou pano de fundo,
há a procura pela renda fácil, mediante o acesso a cargos públicos, por nomeação, eleição
ou concurso. Não é novidade dizer que o dinheiro público é a maior fonte de renda dos
alagoanos e, assim que vimos, o setor, como categoria sócio-profissional, é importante em
Arapiraca. Em situação de crise, de escassez de empregos e oportunidades de renda, de
atividades autônomas, a função pública aparece como o único refúgio seguro e quando
afunda o barco: “salve-se quem puder!” Assimilam-se essas atitudes à luta pela
sobrevivência. Podemos vincular o individualismo à mentalidade das aparências, a
vaidade, que seria responsável por boa parte do fracasso dos projetos e programas, até
criaria empecilhos para a efetivação de qualquer ação ser.
qualquer pessoa que merece auxílio. A ajuda torna-se totalmente ineficaz se, por parte da
pessoa que a recebe não há nenhum sinal de continuidade, ou seja, que o apoio foi útil e
serviu para, senão de modo ocasional, a dita pessoa se conscientizar que ela mesma pode
modificar suas condições com um pouquinho de ação própria. Quem procura melhorar a
vida das pessoas mais carentes está muito ciente disso. Confrontada todos os dias a
situações extremas, a pessoa que tenta mudar as coisas, muitas vezes, fica sem saber o que
fazer. A vontade, a generosidade tem seus limites. A partir do momento em que a pessoa
beneficiada só recebe e não aceita, de maneira alguma, fazer qualquer coisa para ajudar a si
mesmo, então não há solução moral, religiosa ou política que possa funcionar.
5. CONCLUSÃO
Tentar descrever uma sociedade em toda sua complexidade não é tarefa fácil. Vemos
que os dados estatísticos não são suficientes para repartir a população em camadas sociais
coerentes, por serem incompletos. Além disso, o caráter oficial, a padronização dos
critérios de seleção das estatísticas, necessária para as comparações, deixa de lado
especificidades locais que o olhar do morador ou do pesquisador facilmente percebe.
Assim, mesmo que de maneira imperfeita, acreditamos ter integrado aos dados
quantitativos elementos qualitativos (categorias) que fazem com que o leitor arapiraquense
se sinta mais próximo de nosso retrato do que das tabelas frias do IBGE ou outro órgão.
Por outro lado, a pesquisa qualitativa sobre as mentalidades mostra a grande dificuldade
em traduzir para quadros sintéticos numerosos fatos constatados no cotidiano, nas relações
89
Nas lavouras temporárias, o fumo domina, mas por quanto tempo? O que poderia
substituí-lo? A introdução da cana-de-açúcar e do arroz não seria possível devido à
estrutura agrária e o meio ambiente do município. As lavouras que já existem (abacaxi,
algodão, feijão, mandioca e milho) poderiam ser expandidas, mais outros produtos tais
como amendoim, batata doce, fava aparecem como novas opções.
92
A parte norte do município é a área que parece mais propícia à atividade de criação
(pastagens) e a participação da produção animal de Arapiraca no Estado mostra que o
município ainda possui muitas oportunidades de expansão em caprinos, ovinos, suínos ou
codornas, coelhos, além de galinhas, frangos e ovos que representam aproximadamente um
quarto da produção estadual. A estrutura agrária limitaria a pecuária e a produção de leite.
Esse rápido exame mostra que Arapiraca está muito abaixo de seu potencial de
produção, tanto em termos de quantidade e valor atuais quanto na abertura de novas
atividades diversificadas. O aproveitamento desse potencial passaria pela organização das
cadeias produtivas de tal maneira que os agricultores e criadores de animais – sobretudo os
da pequena Agricultura Familiar que são a maioria – não entrem em negócios arriscados,
assegurando-lhes o financiamento adequado, a assistência técnica e a venda de seus
produtos.
Independentemente disso, as duas federações parecem ser mais uma plataforma política
do que um instrumento de ação em prol das comunidades9. Os dois presidentes afastaram-
se do cargo em 2004, por serem candidatos a vereador, em coligações diferentes (aliás,
como muitos responsáveis de outras instituições).
9
O fato do ano 2004 ser de eleições municipais pode ter influído nesta percepção nossa.
99
Outros presidentes preferem ser apolíticos e abrem sua porta a todos os candidatos ou
nenhum deles. Desta forma respeitam a deontologia associativa que pressupõe que o
presidente seja o representante da comunidade inteira, na qual se expressam várias
opiniões políticas, e por essas duas razões não pode, dentro das atribuições e funções pelas
quais foi eleito, se pronunciar a favor de tal ou tal candidato ou partido.
A filiação ou apoio a um determinado partido pode vir lesar a comunidade, pois, sendo
os adversários eleitos na prefeitura, estes não teriam escrúpulos em “castigar” a
comunidade do dito presidente deixando de assumir o compromisso pelo qual também
foram eleitos, que é de administrar toda a população sem forma alguma de discriminação.
Na mesma linha de pensamento, vemos que a luta pelo poder e a renda fácil está
perturbando a criação da Cooperativa de Crédito Rural de Alagoas – COOPCRAL. A idéia
foi lançada em 2003 e inspirada pela SICOOB de Feira de Santana, na Bahia, que funciona
muito bem.
Não podemos entrar em detalhes nesse assunto em andamento. Salientamos apenas que
a COOPCRAL ainda não existe e nem começou a funcionar que já vive de brigas internas
100
a respeito da eleição da diretoria e dos salários dos membros da mesma. Por enquanto
espera-se a decisão do Banco Central para sua criação, mas mesmo assim, o ambiente em
que está se construindo deixa supor que corre o risco de não atingir seus objetivos e fechar
rapidamente suas portas como muitas outras cooperativas alagoanas. O sistema
cooperativista dificilmente funciona em Alagoas. Já houve várias tentativas que foram
desastrosas tais quais à da CAPIAL criada nos anos 80.
Arapiraca deveria ter oito comitês gestores mas cinco seriam suficientes para realizá-lo.
No entanto, existe apenas um que “não vem cumprindo suas atividades... porque não sabe
– ou não quer – fazer o programa funcionar”. Dois integrantes do comitê eleito passaram
por um treinamento para saber como o programa funcionar, mas “por incapacidade ou má
vontade esse treinamento não foi bem passado para os outros integrantes”. Além do mais
101
Para Carlos Aberto, a questão também é político-financeira porque, com o Fome Zero e
a criação dos cartões, o dinheiro passa diretamente do Governo Federal para o beneficiário
enquanto nos programas anteriores os recursos transitavam pelos cofres estaduais e
municipais. Mesmo assim, há registro de desvios. Cerca de 20 mil famílias são
teoricamente contempladas pelo Programa Fome Zero, mas na realidade nem todas são
atendidas. Em Canaã, apenas 10% das 250 famílias cadastradas há dois anos receberão o
cartão. Ainda há comerciantes e funcionários públicos que recebem indevidamente o
benefício (AT, 20).
Na área da educação, a situação é muitas vezes crítica, aliás, como no Brasil inteiro, e
não convém aqui tratar dos numerosos problemas que existem em todo o município de
Arapiraca: estabelecimento, material, transporte, salário e formação dos professores,
merenda etc. (AT, 32). Podemos contudo dizer quer a falta de recursos municipais e a
migração rural, decorrentes da crise do fumo, são fatores agravantes.
Como já falamos, o risco do PETI é que as crianças saem sem conhecimento de técnica
agrícola e não querem mais trabalhar na roça, ficando na ociosidade e, por alguns deles, na
marginalidade.
Mesmo assim o PETI e seu recém-criado Fundo Comunitário dão alguns exemplos de
retornos positivos. Na Vila São José, 154 famílias utilizam o crédito oferecido – 400 reais
por família - para desenvolver a criação de bodes, cabras e porcos (O JORNAL,
102
município.
A palestra principal que durou quase duas horas, por mais interessante que foi, falhou
muito em termos informativos sobre os aspectos realmente técnicos, a questão da
assistência técnica e dos aspectos financeiros (custo de produção e renda bruta e líquida)
fundamentais para os pequenos agricultores.
casas de farinhas comunitárias ou privadas espalhas pelos municípios? Porque criar tal
estrutura enquanto uma cooperativa seria mais adequada? O Consiagre, com as dúvidas
que levanta, aparece mais como uma iniciativa privada tentando utilizar os recursos
públicos para a montagem, funcionamento e administração de interesses particulares do
que uma entidade voltada para o bem do pequeno agricultor.
Esses três projetos, embora tenham chance de realização em Alagoas, não parecem
adequado, por suas próprias estruturas, para o município de Arapiraca. Confrontados com a
realidade territorial, eles superam as possibilidades e desta forma não passam de propostas,
vindo de interesses privados, e justificativas para dizer que se faz algo do que real vontade
de resolver os problemas neste município.
A SEAGRI alguns tempos atrás dispunha apenas de um carro (às vezes sem
combustível) e um técnico, insuficiente para atender as eventuais necessidades de apoio ou
assistência (não é caso único no Brasil). O órgão, seguindo as diretivas estaduais, este ano
2004, estava mais preocupado pela importante questão da febre aftosa que motivou várias
reuniões em nível regional. Existem projetos e muitas participações em eventos.
Vários técnicos trabalham na SMA, mas não vimos muitos resultados concretos no
campo, ainda que saibamos que há assistência técnica e desenvolvimento de projetos.
Também atua na construção de poços artesianos e açudes para irrigação.
Entretanto, para a opinião da população rural, a Secretaria Municipal está muito carente
e não consegue atender as necessidades.
As explicações muitas vezes eram expressas com linguagem técnica pouco acessível aos
produtores. No final de algumas reuniões ouvimos conversas particulares entre os
agricultores, cada um procurando do outro saber o que tinha entendido e percebemos que
se transmitiam desta forma muitas informações errôneas.
Assim, tivemos a impressão que a única informação que sobressaiu dessas reuniões,
pelo menos na maioria da população presente, é que através do PRONAF se podia “tirar o
dinheiro”, considerando o agricultor este dinheiro como uma “doação”, pois este ia ser
utilizado inadequadamente para a compra de alimentos, roupas ou ainda sacar outras
dívidas.
Assim, a SMA apenas teve um papel meramente administrativo, no caso, uma extensão
do programa PRONAF sem grande interferência nos seus objetivos; o que era importante
era cadastrar e não saber se o dinheiro ia ser efetivamente utilizado para os devidos fins.
A falta de recursos patente (existe há anos...) corresponde a uma política geral onde o
investimento no setor primário é deficiente, apesar do Brasil ser um país onde a agricultura
é uma atividade dominante. O agronegócio recebe a maior parte das verbas alocadas ao
desenvolvimento agrícola. Os programas em prol da Agricultura Familiar, que em número
108
Moisés Calu de Oliveira mostrou na sua tese de mestrado (OLIVEIRA, 2004) o papel
fundamental que tiveram e tem algumas empresas em Arapiraca e região para o
Desenvolvimento Local, tanto no setor da agricultura pelas culturas que promovem quanto
na cidade em termos de empregos.
Ainda pouco expressiva, esta lavoura cresce em cada ano; sua expansão, contudo,
dependeria exclusivamente de fatores internacionais.
A cultura orgânica também tem tudo para dar certo, apesar dela ainda ser muito tímida.
Originou-se em iniciativas privada e associativa tais quais, respectivamente, a Vale Verde
e a Aragreste (Associação Rural Agro-ecológica do Agreste), ambas criadas em 1996.
Apesar de ser vista como uma volta ao passado, a cultura orgânica possui regras e técnicas
rígidas (SILGUY, 1998; DOUZOU, 2001). Na Europa as exigências são tais que muitos
produtores não conseguem ser “habilitados” para colocar nos seus produtos o label
“orgânico” ou “biológico”. Em Arapiraca, o mesmo acontece: pouco mais da metade dos
associados da Aragreste podem vender seus produtos em feiras. As dificuldades técnicas
não teriam sido (ou não seriam) superadas sem o apoio de várias entidades, em particular o
Instituto de Desenvolvimento Rural de Alagoas (Ideral). Com o projeto “Vida Rural
Sustentável”, o Movimento Minha Terra (MMT) e o SEBRAE conseguiram quase dobrar o
número de produtores orgânicos no município que hoje deve contar com uns 50
110
Com esses exemplos, vemos que a parceria é um fator determinante para a realização de
ações concretas que dão resultados. Que seja privada, individual ou associativa, a iniciativa
precisa de instituições que lhe permite estruturar-se. Nesse sentido, foi recentemente criada
a empresa Ara Pesquisa (www.arapesquisa.com) que pretende cadastrar todas as empresas,
industriais, comerciais ou de serviços, e instituições de Arapiraca, dando acesso aos sites
das mesmas. Esse banco de dados inédito futuramente poderá ser um ótimo instrumento
para a identificação de atores e busca de parceiros.
Vem se construindo em Arapiraca uma nova força a partir de três entidades, com apoio
de vários parceiros, que são o SEBRAE/AL, o Fórum do Desenvolvimento Local Integrado
e Sustentável – FDLIS e a Agenda 21
Não precisa mais apresentar o SEBRAE que há anos, com pesquisas e projetos próprios
além de participação em grandes programas, contribui ao Desenvolvimento Local
(SEBRAE/AL, 1997, 1998, 1999).
Uma das realizações das qual o FDLIS se sentiu mais útil é a alfabetização de jovens e
adultos em que o programa, junto com escolas da rede municipal e estadual, com apoio de
MEC, atendeu 10.800 alunos em três anos enquanto a meta era de 10 mil.
No entanto, o FDLIS aparece mais como um conselho consultivo, sem poder real, uma
autoridade moral mais do que um órgão com largas competência e margem de ação.
Assim que já foi dito, a Agenda 21 é uma idéia que surgiu na já citada II CNUMAD de
1992. A agenda de Arapiraca nasceu em julho de 2004 e tem um plano de ação de 14
meses, com recursos principais de Ministério do Meio Ambiente, de que depende.
A Agenda 21 apresenta-se como um projeto “de cima” feito com atores “de baixo”.
Existem, com certeza, muitas divergências no que diz respeito à teoria e metodologia do
Desenvolvimento Local, a percepção do território, os modos de ação, mas isso só pode ser
benéfico. A vontade é comum: melhorar a vida no município de Arapiraca.
112
9. CONCLUSÃO
Arapiraca nasceu e cresceu com o fumo, viveu ao ritmo de sua produção. Visto pelo
cunho da evolução dessa lavoura, o que narramos é muito diferente da tradicional história
dos Manoel André, Nunes Pereira ou Paula Magalhães. Ainda que criada na segunda
metade do século XIX, a sociedade que se assentou no fumo reproduziu os moldes
herdados da época colonial, na base de relações mercantilistas, ou seja, pré-capitalistas. O
processo de formação não diferiria, nas suas linhas gerais, do de toda a sociedade alagoana,
se acreditamos no que diz Fernando Lira a esse respeito e o contexto geral, a crise
conjuntural e estrutural do Estado de Alagoas, não é muito favorável ao Desenvolvimento
Local de Arapiraca.
outras regiões de latifúndio – e, por outro lado, uma população rural confinada na
economia de subsistência, minifundiária, com estruturais mentais bloqueadas que a
impedem de sair da cultura do fumo e outra população urbana, acomodada nas suas
péssimas condições de vida. As mentalidades se construíram em função dessa dicotomia e
são ameaças permanentes.
Entretanto, Arapiraca possui inúmeros recursos naturais de qualidade: clima, terra, água.
As oportunidades de atividades agrícolas são diversificadas: milho, algodão, fumo,
mandioca, feijão, hortaliças, frutas, apicultura e piscicultura, criação de animais de
pequeno porte. O solo é rico em mais de dez tipos de minerais. Em termos empresariais ou
industriais, o município ocupa uma posição estratégica, central em relação ao Estado de
Alagoas e parte dos estados vizinhos de Pernambuco, Sergipe e Bahia. As rodovias
estaduais e federais, mesmo sendo algumas delas parcialmente danificadas, são boas. Neste
sentido, o abastecimento em matéria-prima, bem como o escoamento dos produtos, não
apresenta problemas maiores. O potencial humano é grande e principalmente jovem, isto é,
adaptável.
Mas a economia, até anos recentes, esteve quase que exclusivamente relacionada a uma
só atividade agrícola: o fumo. A organização da sociedade impede em curto prazo
mudanças estruturais fundamentais. O conservadorismo, bem como o conformismo,
dificulta a introdução de novas tecnologias e formas de organização social e produtiva. O
individualismo compromete as organizações e ações coletivas. A falta de
comprometimento impossibilita a realização de projetos a médio ou longo prazo.
No estado atual de nossa pesquisa, não podemos ter propostas imediatas. Como já
frisamos setorialmente em quase todas as partes do texto, o Desenvolvimento Local na sua
totalidade dependeria de conhecimentos, coordenação, e elaboração de micro-projetos
concretos, integrados, voltados para a resolução de problemas maiores formando assim
uma estrutura piramidal. Tentar solucionar os problemas da Educação, por exemplo, é
enfrentar um dragão tentacular. Aumentar o número de escolas, melhorar a formação dos
professores, dar-lhes mais material didático, providenciar a merenda, estão medidas ao
alcanço do município mas que também dependem de uma política geral, nacional, que está
longe de satisfazer as necessidades qualitativas e quantitativas. A educação é um
investimento em longo prazo, quem recolheria os frutos da presente ação seria a geração
que está nascendo agora. Em suma, a chave do Desenvolvimento Local estaria mais na
metodologia do que na execução de programas e projetos, mesmo bem conceituados,
parciais e aleatórios.
116
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Nota prévia. Devido ao importante número de documentos consultados pela Internet, bem
como fontes de mesma origem, a apresentação da presente bibliografia difere das normas
geralmente estabelecidas.
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8. JORNAIS E REVISTAS
ANEXOS
128
PROBLEMA
INICIAL
PESQUISA
Quantitativa Qualitativa
(dados (depoimentos)
estatísticos) Análise
Classificação
DIAGNÓSTICO
ANÁLISE ANÁLISE
EXTERNA INTERNA
DEFINIÇÃO DO
TERRITÓRIO
BALANÇO
PROPOSTAS PROPOSTAS
PRIORIDADES
PROJETO DE TERRITÓRIO
II
PROJETO DE TERRITÓRIO
Longo prazo
CADA PROJETO
Mobilizar Financiar
ATORES PARCEIROS
FINALIZAR
III
Craíbas
Coité Taquarana
do
Nóia
ARAPIRACA
Girau do Limoeiro do
Ponciano Anadia
Lagoa
da
Canoa
Feira
Grande
Campo
Grande São
Sebastião
MARECHAL
DEODORO 1636
ANADIA
1801
Limoeiro de Anadia
1882
Arapiraca
1924
Junqueiro
1903, 35,
47
Coité do
Noiá
1963
Craíbas
Girau do 1982
PENEDO TRAIPU Ponciano
1636 1835 1958
Feira Grande
São Brás 1954
1889/1935
Campo Grande
1960
1 - ALAZÃO
2 - ALTO DOS GALDINOS
3 - BAIXA DA HORA
4 - BAIXA DA ONÇA
5 - BAIXA DO CAPIM
6 - BÁLSAMO
7 - BANANEIRAS
8 - BARREIRAS
9 - BATINGAS
10 - BOM JARDIM
11 - BOM NOME I
12 - BOM NOME II
13 - BRAÚNAS
14 - BREU
15 - CAJARANA
16 - CAMPESTRE
17 - CANAÃ
18 - CANGANDU
19 - CAPIM
20 - CARRASCO
21 - CORREDOR
22 - ESPORÃO
23 - FAZENDA VELHA
24 - FERNANDES
25 - FLEXEIRAS
26 - FURNAS
27 - GENIPAPO
28 - GRUTA D’AGUA
29 - INGAZEIRA
30 - ITAPICURU
31 - LAGOA CAVADA
32 - LAGOA D’ÁGUA
33 - LAGOA DE DENTRO
34 - LAGOA DO MATO
35 - LAGOA DO POÇÃO
36 - LAGOA NOVA
37 - LARANJAL
38 - LOGRADOURO SÃO PEDRO
39 - MANGABEIRAS
40 - MASSARANDUBA
41 - MULUNGU
42 - MUNDO NOVO
43 - OITIZEIRO
44 - OLHO D’ÁGUA DE CIMA
45 - PAU D’ARCO
VII
PI
AL 115
68
CR 70 63 32
AL 486 11 a
51
20 66
30 TA
44
23 AL 110
05 27
21 08 40 43 35
AL 220 54 58
17 36 69
39 56
50
BA 42 19 22
64 14
11 31
16
67 10
LA
59 24
AL 220
46 71
55
65
33
13 03 25
41 01
04 09 18
53
57
45 26 47
62
61
06 07
49
48 15
52
AL 115 28
LC 37
60 29
34
01 - ALTO DO CRUZEIRO
02 - BAIXA GRANDE
03 - BAIXÃO
04 - BOA VISTA
05 - BRASÍLIA
06 - BRASILIANA
07 - CACIMBAS
08 - CAITITUS
09 - CANAFÍSTULA
10 - CAPIATÃ
11 - CAVACO
12 - CONJUNTO MANGABEIRAS
13 - ELDORADO
14 - GUARIBAS
15 - ITAPUÃ
16 - JARDIM ESPERANÇA
17 - JARDIM TROPICAL
18 - MANOEL TELES
19 - NOVA ESPERANÇA
20 - NOVO HORIZONTE
21 - O. D’ÁGUA DOS CAZUZINHAS
22 - OURO PRETO
23 - PLANALTO
24 - PRIMAVERA
25 - SANTA EDWIGES
26 - SANTA ESMERALDA
27 - SÃO LUIZ
28 - SÃO LUIZ II
29 - SENADOR ARNON DE MELO
30 - SENADOR NILO COELHO
31 - SENADOR TEOTÔNIO VILELA
32 - SÍTIO RIACHO SECO*
33 - VERDES CAMPOS
34 - ZÉLIA ROCHA
35 - CENTRO**
36 - POÇO FRIO**
37 - ROSA CRUZ**
BA
e PI
AL 220
23
16
12
30 06 TA
25
08 29
02 26 AL 110
11 10
37 20
13 01 15 AL 220
31 LA
34 03 05
36
35 22
CENTRO 17
09
18
07
24
27
28
19
14
21
33 SS
AL 110
04
Região 2
BA+AL
Fumos escuros
Folha
(cigarros)
(charutos)
16%
Região 3
BA+AL +
outros estados
Fumos escuros
Corda
(cigarros)
5%
Região 1
RS+SC+PR
Fumos claros
Folha
(cigarros)
79%