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O Dilema de Henrique (Heinz)
"Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. Um
medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta desse medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Henrique (Heinz), o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas conhecidas para lhe emprestarem o dinheiro e, assim, poder comprar o medicamento. Apenas conseguiu juntar metade do dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter, então, com ele, contou-lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para lhe vender o medicamento mais barato. Em alternativa, pediu-lhe para o deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. O Henrique, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou desesperado e estava a pensar assaltar a farmácia e roubar o medicamento para a sua mulher."
L. Kohlberg, Essays on Moral Development, 1984, in
O.M. Lourenço, Psicologia do Desenvolvimento Moral, Coimbra, Almedina, 1992, pp. 86,87 Dilema do Prisioneiro
«O leitor e outro prisioneiro jazem em celas separadas da Esquadra
Principal da Polícia da Ruritânia. Os agentes tentam fazer-vos confessar ter conspirado contra o estado. Um interrogador vem até à sua cela, serve um copo de vinho da Ruritânia, dá-lhe um cigarro e, num tom de amizade sedutora, propõe-lhe um acordo. — Confesse o crime! — exorta ele. — E se o seu amigo na outra cela… O leitor protesta, alegando nunca ter visto antes o prisioneiro que se encontra na outra cela, mas o interrogador ignora a objeção e prossegue: — Ainda melhor, então, se ele não é seu amigo; pois, como eu estava a dizer, se o senhor confessar, e ele não, usaremos a sua confissão para o engaiolar a ele dez anos. A sua recompensa será a liberdade. Por outro lado, se for estúpido ao ponto de se recusar a confessar, e o seu “amigo” na outra cela confessar, será o senhor a ir para a prisão dez anos, e ele será libertado. O leitor pensa nisto durante algum tempo e percebe que não tem informação suficiente para decidir, por isso pergunta: — E se confessarmos ambos? — Então, e uma vez que não precisamos realmente da sua confissão, não sairá em liberdade. Mas, tendo em conta que estavam a tentar ajudar- nos, passarão os dois oito anos na cadeia. — E se nenhum de nós confessar? Uma expressão de desdém perpassa o rosto do interrogador e o leitor receia que ele esteja prestes a golpeá-lo. Mas o homem controla-se e rosna que, então, uma vez que não terão provas para a condenação, não poderão manter-vos lá dentro muito tempo. Mas acrescenta: — Não desistimos facilmente. Ainda podemos manter-nos aqui seis meses, a interrogar-vos, antes de os “sacanas” da Amnistia Internacional conseguirem pressionar o governo para vos tirar daqui. Portanto, pense no assunto: quer o seu colega confesse, quer não, o senhor ficará melhor se confessar do que se não o fizer. E o meu colega vai dizer a mesma coisa ao outro tipo, agora mesmo. O leitor reflete no que ele disse e compreende que o guarda tem razão. Faça o que fizer o estranho na outra cela, o leitor ficará melhor se confessar. Se ele confessar, a sua escolha é entre confessar também, e apanhar oito anos de prisão, ou não confessar, e passar dez anos atrás das grades. Por outro lado, se o outro prisioneiro não confessar, a sua escolha é entre confessar, e sair livre, ou não confessar, e passar seis meses na cela. Portanto, parece que o melhor a fazer é confessar. Mas, então, ocorre-lhe outro pensamento. O outro prisioneiro está exatamente na mesma situação. Se, para si, é racional confessar, também será racional para ele confessar. Assim, passarão ambos oito anos na cadeia. Por outro lado, se ninguém confessar, ambos ficarão livres dentro de seis meses. Como pode ser que a escolha que parece racional, para cada um dos dois, individualmente — ou seja, confessar — vos prejudique mais a ambos do que se decidirem não confessar? O que deve fazer?» Peter Singer Tradução de M. de Fátima St. Aubyn in Como Havemos de Viver? A Ética Numa Época de Individualismo (1993) Lisboa: Dinalivro, 2006, pp. 241-244. (Adaptado) Dilema de Helga
Helga e Raquel cresceram juntas. Eram as melhores amigas apesar do
facto da família de Helga ser cristã e a de Raquel judia. Durante muitos anos, a diferença religiosa não parecia constituir problema na Alemanha, mas depois de Hitler tomar o poder, a situação mudou. Hitler exigiu que os judeus usassem braçadeiras com a estrela de David. Começou a encorajar os seus seguidores a destruir os bens dos judeus e a bater-lhes nas ruas. Por último, começou a prendê-los e a deportá-los. Circularam rumores de que os judeus estavam a ser mortos. Esconder judeus procurados pela Gestapo (a polícia de Hitler) era crime sério e violação da lei do governo alemão. Uma noite, Helga ouve bater à porta. Quando abriu, viu Raquel nos degraus, envolvida num casaco escuro. Rapidamente Raquel saltou para dentro. Ela tinha tido um encontro, e quando regressou a casa encontrou elementos da Gestapo à volta de sua casa. Os pais e irmãos já tinham sido levados. Sabendo do seu destino se a Gestapo a apanhasse, Raquel correu para casa da sua velha amiga. Se fosse convosco, o que fariam? 1º- Mandava Raquel embora (o que significava entregá-la à Gestapo e, consequentemente, condená-la à morte, dado que sabia que os judeus caídos nas mãos da Gestapo eram mortos); 2º- Escondia Raquel (o que significava pôr em risco a sua segurança bem como a da sua família dado que esconder judeus era considerado crime). Dilema de Sharon
«Sharon e Jill eram as melhores amigas. Um dia foram às compras
juntas. Jill experimentou uma camisola e então, para surpresa de Sharon, saiu do armazém com a camisola debaixo do casaco. Pouco depois, um segurança da loja parou Sharon e pediu-lhe o nome da rapariga que tinha acabado de sair. Ele disse ao dono da loja que tinha visto as duas raparigas juntas e que tinha a certeza que a que saiu tinha roubado. O dono disse a Sharon que iria ter problemas sérios, se não lhe dissesse o nome da amiga.» O que Sharon deve fazer? Deve dizer o nome?
BEYER, Barry, K. "Conducting moral discussions in the classroom", in Social Education,
April 1976, pp.194-202.
O condutor do "carro eléctrico"
«Imagine que é o condutor de um “carro eléctrico” desgovernado que
avança sobre os trilhos a quase 100 quilómetros por hora. Adiante, vê cinco operários a trabalhar nos trilhos, com as ferramentas nas mãos. Tenta parar o eléctrico, mas não consegue. Os freios não funcionam. Entra em desespero porque sabe que, se atropelar esses cinco operários, todos eles morrerão. (Consideremos que tem a certeza disso.) De repente, nota um desvio para a direita. Nele vê um operário também nos trilhos, apenas um. Percebe então que pode desviar o “carro eléctrico”, matando esse único trabalhador e poupando os outros cinco. O que deve fazer? Muitas pessoas diriam: Vire! Se é uma tragédia matar um inocente, é ainda pior matar cinco.” Sacrificar uma só vida a fim de salvar cinco certamente parece ser a coisa correta a fazer.»
«Considere outra versão da história do “carro eléctrico”. Desta vez, não é
o condutor, mas sim um espectador, que se encontra numa ponte acima dos trilhos. (Desta vez, não há desvio.) O “carro eléctrico” avança pelos trilhos, onde estão então os cinco operários. Mais uma vez, os freios não funcionam. O eléctrico está prestes a atropelar os operários. Face a tudo isto sente-se impotente para evitar o desastre — até que nota, perto de você, na ponte, um homem corpulento, e pensa: - Poderia empurrá-lo sobre os trilhos, no caminho do “carro eléctrico” que se aproxima. Ele morreria, mas os cinco operários seriam poupados. (ainda considera a hipótese de ser você a cair sobre os trilhos, mas apercebe-se que é muito leve para fazer parar o veiculo eléctrico.) Empurrar o homem “gordo” sobre os trilhos seria a coisa correta a fazer? Muitas pessoas diriam: “É claro que não. Seria terrivelmente errado empurrar o homem sobre os trilhos! Empurrar alguém de uma ponte para uma morte certa realmente parece uma coisa terrível, mesmo que isso salvasse a vida de cinco inocentes. Entretanto, cria-se agora um quebra-cabeças moral: Por que o princípio que parece certo no primeiro caso — sacrificar uma vida para salvar cinco — parece errado no segundo?» Sandel, Michael J. Justiça: O que é fazer a coisa certa, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011 (Adaptado)
(Textos recolhidos por: Miguel Alexandre Palma Costa)
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