Likert
Likert
Likert
Agradeço ao Professor Francisco José (Franzé) por sua disponibilidade nas revisões de textos e parceria neste
projeto.
MENSURAÇÃO E ESCALAS DE VERIFICAÇÃO: uma Análise Comparativa das
Escalas de Likert e Phrase Completion
RESUMO
Este estudo se propôs a analisar a utilização de escalas do tipo Likert e Phrase Completion
como alternativas de escalas de verificação para mensuração de construtos de múltiplos itens
em pesquisas de Marketing e de Administração. Inicialmente, foi realizada uma revisão
teórica que contribuiu para a comparação de natureza e de potencialidade das duas
alternativas de medição. Foi utilizado o construto religiosidade intrínseca como referência de
comparação e, em seguida, foi desenvolvido um questionário contendo itens dos dois tipos de
escalas, o qual foi aplicado em uma amostra de 229 respondentes. Foram realizados
procedimentos comparativos dos pares de itens correspondentes e das medidas agregadas. Os
resultados mostraram que as escalas possuem diferenças entre si na verificação dos pares de
itens, entretanto, não houve diferenças significativas na análise dos itens agregados. Isso
indica que a escolha da escala é uma decisão dos pesquisadores e estes poderão levar em
conta o tipo de pesquisa e as características dos respondentes.
PALAVRAS-CHAVE:
Mensuração, escala Likert, escala Phrase Completion.
ABSTRACT
This study analyses the use of Likert and Phrase Completion scales, as scale options for
measuring multiple-item constructs in Marketing and Management research. Initially, a
literature review was carried, what made possible the comparison of the nature and the
potential of the two measurements alternatives. The construct intrinsic religiosity was used as
a comparison reference, and, afterwards, a questionnaire was developed containing items
from the two types of scales. Data collection generated a sample size of 229 respondents.
Comparative proceedings of the paired corresponding items and of the aggregated measures
were conducted, and the results demonstrated that the scales have differences between them
regarding the verification of paired items; on the other hand, no significant differences were
encountered through the analysis of the aggregated items. These findings indicate that the
scale alternative is a researcher’s decision, which may take into account the kind of research
and the sample’s profile.
KEYWORDS:
Mensuration, Likert scale, Phrase Completion scale.
1 INTRODUÇÃO
A mensuração é um dos meios pelos quais são acessados e descritos os dados para
compreender os fatos e fenômenos de interesse. Por isto, a mensuração é uma questão
presente em todas as ciências e são vários os estudos desenvolvidos sobre o tema publicados
nos principais periódicos nacionais e internacionais.
Conforme levantamento empreendido pelos autores, ao longo das últimas seis décadas uma
grande quantidade dos estudos quantitativos desenvolvidos em Marketing utilizou a escala de
Likert nos instrumentos de pesquisa que medem construtos como atitudes, percepções,
interesses etc. Essa escala é usada para medir concordância de pessoas a determinadas
afirmações relacionadas a construtos de interesse. No entanto, como será visto no próximo
item, essa escala tem sido bastante criticada de modo que novas alternativas passaram a ser
desenvolvidas (COSTA, 2011). Provavelmente, a melhor alternativa já sugerida foi a escala
Phrase Completion, que mede o construto inserindo sua intensidade no próprio enunciado da
escala, facilitando, potencialmente, o entendimento dos respondentes e medindo de forma
mais confiável e válida o que está sendo investigado (HODGE; GILLESPIE, 2007).
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2
conhecimento do atributo.
Por tais usos se compreende o motivo pelo qual a mensuração é a base de sustentação do
desenvolvimento acadêmico e profissional de várias ciências. Mesmo que boa parte dos
estudos desenvolvidos sobre mensuração seja realizada pelas ciências exatas
(FINKELSTEIN, 2003), as ciências sociais vêm logrando progressos nessa área (COSTA,
2011).
O interesse neste artigo está na análise das escalas de verificação. Estas têm sido motivos de
controvérsia ao longo das últimas seis décadas. Por exemplo, em uma escala de concordância,
quantos pontos são mais adequados para efeito de medição? Uma medição de 0 a 10 é mais
eficiente que uma mensuração de 1 a 5? O uso de concordância para medir um construto é
uma boa opção (por exemplo, quer-se medir a satisfação, mas mede-se a concordância com a
frase estou satisfeito)?
Um dos focos centrais de discussão está no uso ou não, da chamada escala de Likert, a mais
adotada em pesquisas. No item seguinte é apresentada esta escala e, no subitem posterior,
apresenta-se a alternativa da escala Phrase Completion.
3
2.1 ESCALA DE LIKERT
O modelo mais utilizado e debatido entre os pesquisadores foi desenvolvido por Rensis Likert
(1932) para mensurar atitudes no contexto das ciências comportamentais. A escala de
verificação de Likert consiste em tomar um construto e desenvolver um conjunto de
afirmações relacionadas à sua definição, para as quais os respondentes emitirão seu grau de
concordância. O Quadro 1 mostra um exemplo desta escala para medição de satisfação com
um serviço, em 5 pontos.
QUADRO 1
Exemplo de escala de Likert.
Estudos empíricos mostram que, em escalas de múltiplos itens com mensuração refletiva em
relação ao construto, a confiabilidade é melhor em escalas cujos itens são medidos com mais
de 7 pontos, e diminui quando os itens possuem menos de 5 pontos.
Entretanto, menos pontos parecem tornar mais fáceis as respostas, de modo que, ao aumentar
o número de pontos ganha-se em consistência psicométrica e perde-se em segurança nas
respostas. Obviamente, isso é um ponto fraco dessa escala. Uma opção que, potencialmente,
4
resolve essa dificuldade está em ancorar os níveis extremos de concordância nos limites
numéricos e deixar os demais pontos como níveis intermediários de concordância. Isso
permite, inclusive, utilizar um número maior de pontos, como 1 a 10 ou 0 a 10, cujos níveis
de conhecimento são mais generalizados em países como o Brasil.
Também há dificuldade de decisão sobre o número par ou ímpar de pontos. A indicação
corrente é de que uma escala com número ímpar de pontos facilita a resposta por causa do
ponto intermediário, que seria um nível neutro entre concordância e discordância. Mas a
denominação de neutro a esse ponto central tem um problema do ponto de vista conceitual,
pois em uma escala de concordância, quem é neutro não manifesta concordância alguma e
aquele número central é um dado ponto de concordância (COSTA, 2011; HODGE;
GILLESPIE, 2003).
Outra dificuldade encontrada está na possível perda de informação associada à escala Likert
(RUSSELL; BOBKO, 1992), visto que a definição de pontos em uma escala de números
inteiros (de 1 a 5 ou 1 a 10, por exemplo), torna as respostas obrigatoriamente discretas, sendo
perdidas as referências intermediárias entre esses pontos (por exemplo, uma concordância
entre 3 e 4 não tem como ser aferida por determinado sujeito).
Por fim, merece destaque ainda a crítica de Rossiter (2002) que, em seu modelo C-OAR-SE,
argumenta que o uso de advérbios (discordo totalmente, discordo muito etc.) dificulta ainda
mais o posicionamento do respondente. De fato, em uma escala de quatro pontos (por
exemplo, com 1 – discordo totalmente; 2 – discordo parcialmente; 3 – concordo parcialmente;
4 – concordo totalmente), não é muito clara a distinção entre uma resposta como a 2 ou a 3,
afinal a discordância parcial parece ser equivalente à concordância parcial.
Diante das dificuldades associados à escala de Likert, foram desenvolvidas novas escalas com
o objetivo de mensurar os construtos, dentre elas, a escala Phrase Completion. Essa escala foi
desenvolvida por Hodge e Gillespie (2003) justamente como uma alternativa para resolver as
dificuldades da escala de verificação de Likert.
5
QUADRO 2
Exemplo da Escala Phrase Completion.
Segundo seus propositores, o fato dessa escala ter 11 pontos (de 0 a 10), facilita a
interpretação por parte do pesquisado, visto que, em geral, as pessoas são familiarizadas com
esta referência (nas avaliações educacionais, por exemplo). Por isso, a potencial dificuldade
de resposta associada ao número de pontos se dissipa. Adicionalmente, o maior número de
pontos melhora potencialmente a confiabilidade e a validade da escala, sem possuir os
problemas convencionais associados a poucos pontos.
Conforme indicado, na escala de Likert realiza-se uma abordagem indireta para mensurar um
construto com a transferência de sua medição direta para uma medida da concordância com
uma afirmação associada ao construto. Há, portanto, uma fase intermediária de medição, o
que torna possível uma fragilidade nessa prática de medição, uma vez que deve ocorrer perda
de informação e de conteúdo entre o que se deseja mensurar e sua transformação em uma
afirmação, para depois se avaliar a concordância (COSTA, 2011). Desta forma, a escala
Phrase Completion procura superar ainda esta dificuldade, buscando medir a intensidade de
determinado construto diretamente na própria escala. É dessa possibilidade de aplicação que
vem o nome da escala, que seria, em uma tradução para o português, escala de conclusão da
frase.
Tomando-se como exemplo o Quadro 2, verifica-se de forma clara essa característica, pois o
respondente indica seu nível de satisfação completando a frase dentro da escala de 11 pontos,
com três pontos de referência. Naturalmente, esta que é uma vantagem desta escala torna-se
uma desvantagem se a pesquisa envolver amostras pequenas, com operacionalização
quantitativa baseada em frequências (de modo que se cria uma dispersão sem muito sentido
nas opções de resposta e torna possível que pontos fiquem com frequência pequena ou nula).
De acordo com estudos desenvolvidos para testar a estabilidade psicométrica da escala Phrase
Completion em comparação com a escala Likert em construtos medidos por múltiplos itens
refletivos, Hodge e Gillespie (2003, 2007) mostraram que a escala Phrase Completion
resultou em melhor confiabilidade e melhor consistência fatorial. Isso sugere, portanto, que,
além de mais intuitiva e logicamente construída, a escala Phrase Completion teria ainda as
vantagens do ponto de vista de operacionalização estatística. Naturalmente, apenas dois
estudos não são suficientes para uma afirmação dessa natureza, sendo necessários novos
esforços para melhor definição de posicionamento.
Por outro lado, em algumas pesquisas de mercado, em que a mensuração pode ser feita com
6
apenas um item e que normalmente avalia um número menor de construtos simultaneamente,
isso deixa de ser problema. Desse modo, se for mantida a validade de conteúdo e houver
consistência nas medições entre as duas escalas, pesquisadores acadêmicos e de mercado
poderão fazer uso da modalidade que for mais adequada em termos de espaço e facilidade de
resposta.
Seguindo a mesma ideia de Hodge e Gillespie (2003, 2007) de comparar as medidas com as
duas escalas, aqui foi desenvolvido um estudo empírico, cujos detalhes metodológicos são
mostrados a seguir.
4 METODOLOGIA
De acordo com as respostas sobre o perfil dos indivíduos pesquisados, observou-se uma
distribuição de gênero relativamente equilibrada (54,6% de mulheres e 45,4% de homens). A
maioria alegou ser da religião católica (76,9%), com estado civil solteiro predominante
(71,2%), idade entre 21 e 30 anos (37,7%) e renda familiar aproximada a R$ 2.000,00
(40,5%). De acordo com essas informações, verifica-se boa heterogeneidade da amostra,
característica que assegura boas condições para a análise de dados.
A análise de dados foi realizada com procedimentos descritivos e diversos testes paramétricos
e não paramétricos. Assim, inicialmente foram procedidos os testes de normalidade das
variáveis; em seguida foi empreendida a extração das medidas de média, mediana e desvio-
padrão de todas as variáveis (nas medidas gerais foram avaliadas ainda a assimetria e a
curtose). Foram usados procedimentos de comparação de medidas das variáveis
7
correspondentes de cada uma das duas escalas e, especificamente nas variáveis agregadas,
foram aplicados procedimentos de comparação e associação bivariada.
A seguir são apresentados os resultados obtidos a partir do estudo de campo. No item 4.1
encontram-se os resultados descritivos; no item 4.2 é feita a verificação da estrutura
psicométrica; o item 4.3 finaliza com a exposição dos procedimentos adicionais de análise.
Antes de iniciar os procedimentos de extração de medidas, o conjunto dos dez itens foi
submetido a uma análise da normalidade para verificar a hipótese de que os dados de cada
item poderiam ser oriundos de uma variável com distribuição normal. Usou-se aqui o teste
não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov (teste KS) e verificou-se que a hipótese nula do
teste (que supõe que a amostra foi extraída de uma população normalmente distribuída) foi
refutada (α p < 0,001) em todos os itens, de tal modo que não se deve supor, para efeito de
análise e de algumas técnicas aplicadas, que haja normalidade na variável de origem dos
dados.
De posse deste resultado, foi procedida a extração das medidas descritivas de cada variável,
com as medidas de média, mediana e desvio-padrão. A Tabela 1 apresenta os resultados pelos
pares correspondentes de variáveis em cada escala de verificação. As medidas são
discrepantes de acordo com os pares, mas em geral, verificou-se que, nos três primeiros pares,
as médias da escala de Phrase Completion foram mais elevadas que as médias das escalas
verificadas por Likert, porém nos dois últimos pares, as médias mensuradas por Likert foram
maiores. Em quatro dos cinco pares os valores de mediana seguiram o mesmo
comportamento. As dispersões também apresentaram variações semelhantes entre os pares de
itens (em alguns pares era maior na escala de Likert e, em outros, era menor na escala Phrase
Completion).
TABELA 1
Medidas descritivas.
DESVIO-
PARES VARIÁVEIS MÉDIA MEDIANA
PADRÃO
Minha crença religiosa afeta minha vida em (de
6,94 8,00 3,09
'nenhum aspecto' até 'todos os aspectos').
Primeiro
Toda a minha visão da vida é baseada na minha
6,07 7,00 2,89
religião.
Eu tenho consciência da presença de Deus (de 'nunca'
9,13 10,00 1,36
até 'o tempo todo').
Segundo
Eu sempre tive um forte sentimento da presença de
8,81 9,00 1,58
Deus.
Minha religião em relação à minha vida é (de 'um
7,61 8,00 2,23
motivo que não me guia’ até 'o maior da minha vida').
Terceiro
Eu tento dedicadamente viver de acordo com minhas
6,76 7,00 2,80
crenças religiosas.
8
Eu leio sobre minha religião (de 'nunca' até 'sempre'). 6,15 6,00 2,73
Quarto
Eu gosto de ler sobre minha religião. 6,89 7,00 2,74
O tempo que eu dedico em momentos religiosos e
meditação acontece (de 'nunca' até 'diariamente, sem 6,63 7,00 2,41
Quinto falta').
Para mim, é importante ter um tempo dedicado às
8,24 9,00 2,04
minhas reflexões e orações.
Fonte: Dados da pesquisa.
Como forma de avaliar a consistência estatística dessas diferenças, foram adotados testes de
comparação de médias e medianas. As médias de cada par de itens foram comparadas por
meio do teste t, que se baseia na estatística t de Student e na significância associada à hipótese
nula de igualdade de médias na população de origem da amostra pareada; assim, valores de t
elevados e com significância menor que 0,05 sinalizam que a hipótese nula deve ser refutada.
A limitação deste teste vem de seu caráter paramétrico e da suposição de normalidade das
variáveis que deram origem às duas amostras pareadas. Por esta razão, o teste não paramétrico
de Wilcoxon para dados pareados é uma alternativa adequada, que se aplica particularmente à
mediana. Neste teste e, segundo o algoritmo implementado no SPSS, a hipótese nula é de que
a mediana das diferenças entre as duas variáveis aleatórias que deram origem à amostra é
igual a 0; aqui, com valores elevados da estatística W e significância menor que 0,05, refuta-
se a hipótese nula.
Pelos resultados indicados na Tabela 2, é possível observar que, em ambos os testes, não há
evidência de igualdade nas variáveis que deram origem aos dados das amostras, ou seja, em
todos os pares de variáveis houve diferença significativa entre as extrações com a escala
Phrase Completion e com a escala de Likert. Isso sugere que, por essa primeira perspectiva
(que é exploratória, apenas) as duas escalas não são substituíveis para efeito de averiguação
de medidas de posição.
TABELA 2
Testes de médias e medianas.
Por outro lado, conforme indicado na Tabela 2, parece haver compensações entre os itens,
sendo possível acreditar que, em uma verificação do conjunto, as diferenças pontuais entre os
itens se compensem. Com esse entendimento, os itens foram então agregados da seguinte
forma: em cada escala foram extraídos os escores médios de cada respondente (somando os
escores dos conjuntos de cada escala e dividindo-os por 5). Seguindo o mesmo procedimento
da extração em separado, inicialmente foi verificada a normalidade da variável de origem da
amostra, tendo-se observado, pelo teste KS que a hipótese de normalidade é novamente
refutada para ambas as variáveis, embora os níveis de significância já se aproximem mais do
ponto de corte da normalidade (0,026 na escala Phrase Completion e 0,014 na escala de
Likert).
9
cada variável, além das medidas de assimetria e de curtose (para explorar adicionalmente a
normalidade). Os valores que estão indicados na Tabela 3 confirmaram a expectativa indicada
de que as médias e medianas seriam muito mais próximas (no caso das medianas estas foram
iguais no arredondamento para duas casas decimais). Os valores de desvio-padrão também
ficaram próximos, o que indica novamente uma convergência dos resultados agregados.
Quanto à assimetria e à curtose, foi observado que, pelos critérios convencionais de extrações
do SPSS, os valores sinalizem indícios de normalidade nas variáveis de origem da amostra,
embora o teste KS tenha sido contrário a esta evidência.
TABELA 3
Medidas descritivas gerais e testes – Primeira agregação.
Também aqui foram aplicados os dois testes de comparação das variáveis e tanto o teste t
(agora já mais seguro pela proximidade de normalidade das variáveis), quanto o teste de
Wilcoxon mostraram que não há indícios de diferença entre as duas variáveis que deram
origem à amostra. A sinalização é, portanto que, em termos de medidas descritivas de
posição, as variáveis agregadas convergem em resultados.
Como uma exploração adicional, foi extraída a correlação entre as duas variáveis, tendo-se
obtido valores bastante elevados, tanto pelo coeficiente de correlação paramétrico de Pearson
(0,813) quando pelo coeficiente não paramétrico de Spearman (0,805). Isto indica que as duas
medidas possuem elevado grau de variação conjunta, inclusive variação linear, o que é
esperado em caso de substituição de uma medida por outra (conforme indica a correlação pelo
coeficiente de Pearson).
Em síntese, estes resultados indicam que, no construto sob análise, quando da avaliação de
cada item em particular, não é adequada a substituição de um item mensurado em uma escala
pelo seu correspondente em outra escala, pois as medidas posição e dispersão variam. Por
outro lado, em uma agregação do conjunto de itens, essas diferenças se anulam e as variáveis
agregadas possuem então uma boa sobreposição, sendo possível tomar uma escala ou outra
para efeito de descrição da amostra.
10
que, independente da escala de verificação, cada conjunto de variáveis manteve-se em um só
fator e, em ambos, as variâncias extraídas foram acima do valor de referência de 0,5, inclusive
próximos entre si (0,556 nos itens mensurados com a escala Phrase Completion, e 0,589 nos
itens mensurados com a escala de Likert).
Em relação aos escores fatoriais, foi verificado que, em ambas as extrações, os escores
mínimos foram de 0,570 (para a escala Likert) e 0,606 (para a escala Phrase Completion),
valores acima do ponto de referência. Por estes resultados é possível assegurar, portanto, que
os itens de cada escala de verificação constituem um só fator com boa consistência fatorial.
Tabela 4
Resultados da extração fatorial para as duas escalas utilizadas.
Este resultado é contrário ao que foi alcançado por Hodge e Gillespie (2003), em que os itens
do modelo Phrase Completion apresentaram melhor ajuste, com maior validade e
confiabilidade e menor quantidade de erros de medição. Entretanto, deve-se notar que a
pesquisa desses autores foi realizada apenas com estudantes de Pós-Graduação, o que
constitui uma amostra com peculiaridades evidentes. Notadamente, com uma amostra mais
heterogênea, os resultados deixam evidente que, do ponto de vista da estrutura psicométrica,
pelo menos nos métodos de averiguação aqui adotados, não há qualquer problema em utilizar
uma ou outra das duas escalas de verificação.
Um primeiro procedimento adicional consistiu em extrair uma nova medida agregada das
variáveis, agora pela ponderação dos escores dos respondentes de cada item pelo escore
11
fatorial da variável (segundo a extração efetivada), em cada unidade da amostra. Os
resultados, que estão na Tabela 5, geraram valores de medidas muito próximos dos anteriores
(indicados na Tabela 3) em termos das cinco medidas utilizadas (média, mediana, desvio-
padrão, assimetria e curtose).
Os testes de diferença entre as variáveis (teste t e teste de Wilcoxon) também asseguraram que
as duas variáveis não são distintas uma da outra, reafirmando o resultado anterior. No teste de
normalidade, a verificação foi distinta agora, com uma indicação de normalidade da variável
agregada com mensuração por Phrase Completion, embora em uma indicação quase no limite
de negação da hipótese nula (p = 0,052). Por fim, na avaliação da correlação, o resultado
anterior foi reafirmado, tendo-se observado uma correlação elevada tanto pelo coeficiente de
Pearson (0,825) quanto no de Spearman (0,816).
TABELA 5
Medidas descritivas gerais e testes – Segunda agregação.
A sinalização geral destes resultados reafirma o que foi indicado anteriormente, ou seja, em
pesquisas empíricas não há maiores variações de resultados pelo uso de um ou outro método
de aferição para efeito de extração de medidas descritivas das variáveis agregadas.
Uma segunda verificação adicional relevante foi efetuada pela análise das variações por
gênero (destacada aqui por ter sido a variável categórica que dividiu a amostra em duas partes
quase iguais). Primeiramente, as variáveis agregadas (pelo último método), foram analisadas
por meio de análise de variância e do teste U de Mann-Whitney (não paramétrico), para
verificar se o comportamento das variáveis era o mesmo nas duas formas de averiguação. Os
resultados estão indicados na Tabela 6 e é possível observar nos dois testes, que há diferença
significativa (α p < 0,05) na intensidade da variável por gênero, independente da escala. Isto é
mais uma indicação de que o comportamento das variáveis segue paralelo em cada tipo de
escala.
TABELA 6
Comparações por gênero.
DESVIO-
VARIÁVEIS E TESTES GÊNERO NÚMERO MÉDIA MEDIANA
PADRÃO
Medida geral na escala Phrase Completion Masculino 104 6,71 6,88 2,08
Anova – F = 13,655, p < 0,001 Feminino 125 7,58 7,81 1,49
U de Mann-Whitney – Z = - 3,018, p < 0,001 Total 229 7,19 7,48 1,83
Medida geral na escala de Likert Masculino 104 6,92 6,94 2,08
Anova – F = 6,566, p < 0,05 Feminino 125 7,57 7,87 1,77
U de Mann-Whitney – Z = - 2,370, p < 0,05 Total 229 7,28 7,55 1,94
Fonte: Dados da pesquisa.
12
homens (teste t: t = 1,747, p = 0,084; Wilcoxon: Z = -1,135, p = 0,257) e do grupo de
mulheres (teste t: t = 0,136, p = 0,892; Wilcoxon: Z = -0,012, p = 0,991). Isto evidencia mais
fortemente que o comportamento nas duas aferições é convergente.
6 CONCLUSÃO
De acordo com os dados da pesquisa realizada com 229 respondentes, foram verificadas
diferenças relativamente pequenas entre as escalas agregadas, apesar de terem sido
observadas diferenças estatisticamente significativas nas comparações individuais dos pares
de itens. Esse resultado constata que os itens, ao serem analisados separadamente, podem
apresentar algumas variações entre as medidas nas duas escalas, o que coloca em dúvida,
inicialmente, a possibilidade de uma escala ser utilizada em substituição a outra. Portanto,
pela natureza dos resultados e incerteza de mensuração de construtos com múltiplos itens
refletivos em relação ao construto, não é possível informar qual seria a melhor das duas
escalas, a não ser pela validação de conteúdo e face das etapas preparatórias do procedimento
de mensuração (COSTA, 2011).
Por outro lado, quando foram analisados os dados agregados, as medições das duas escalas
convergiram em todas as verificações feitas, seja nas comparações de medidas descritivas, nas
indicações convencionais de consistência psicométrica, na associação geral ou na segmentada
por gênero. Isso mostra que, para avaliações de múltiplos itens com agregação, as duas
escalas possuem resultados praticamente iguais.
Deste modo, a escolha de uma escala ou outra é uma decisão do pesquisador, que a fará
levando em conta as peculiaridades de público ou interesse de pesquisa. Sendo assim, a escala
Likert pode continuar sendo utilizada nas pesquisas acadêmicas de Marketing e
Administração, mesmo possuindo uma medição indireta do construto analisado, pois esse tipo
de escala é mais adequado para instrumentos longos e tem mais facilidade de adaptação para
um número maior de construtos. Em suma, conforme se reafirmou no estudo, essa escala de
verificação possui boas propriedades psicométricas, é de fácil organização e tem uma
vantagem operacional no tocante à estrutura do instrumento de pesquisa.
Embora os dados tenham sido avaliados com cuidado e rigor estatístico, é necessário
reconhecer que houve fragilidades no estudo em relação ao design da pesquisa, tanto em
termos de acesso quanto em termos de tamanho da amostra. Por isso, é recomendado que
13
outros estudos contribuam com o procedimento amostral para aperfeiçoar as comparações.
Ainda que, no questionário aplicado, tenha havido separação dos itens de mensuração com
escala de Likert dos itens de mensuração com escala Phrase Completion por meio de outras
questões de variáveis categóricas, é possível que a semelhança em conteúdo tenha
influenciado as respostas, por meio do dito efeito halo. Isso possivelmente tenha influenciado
na convergência da estrutura psicométrica observada. Por essa razão, recomenda-se a
realização de outros estudos que busquem adotar procedimentos de comparação para dirimir
dúvidas quanto a este tipo de efeito.
O construto utilizado também tem particularidades que podem explicar os resultados, sendo
possível supor variações em outros construtos. Para os objetivos do estudo aqui desenvolvido,
não há problemas em termos de resultado, pois o conteúdo do construto não foi objeto de
análise, salvo na perspectiva de validação de conteúdo da escala. Ainda assim, recomenda-se
que sejam procedidos estudos semelhantes com outros tipos de construtos.
7 BIBLIOGRAFIA
COELHO, P. S.; ESTEVES, S. P. The choice between a five-point and a ten-point scale in the
framework of customer satisfaction measurement. International Journal of Market Research,
49 (3), p. 313-339, 2007.
CONOVER, W. J. Practical nonparametric statistics. 3. ed. New York: John Wiley, 1999.
CUMMINS, R. A.; GULLONE, E. Why we should not use 5-point Likert scales: the case for
subjective quality of life measurement. International Conference on Quality of Life in Cities,
2. Singapore. Proceedings… Singapore: National University of Singapore, 2000.
DAWES, J. Do data characteristics change according to the number of scale points used? An
experiment using 5-point, 7-point and 10-point scales. International Journal of Market
Research, 50 (1), p. 61-77, 2008.
HAIR JR. J.; BLACK, W. C.; BABIN, B. J.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L. Análise
multivariada de dados. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009.
14
LATTIN, J.; CARROL, J. D.; GREEN, P. E. Análise de dados multivariados. São Paulo:
Cengage Learning, 2011.
RUSSELL, C. J.; BOBKO, P. Moderated regression analysis and Likert scales too coarse for
comfort. Journal of Applied Psychology, 77 (3), p. 336-342, 1992.
15