Como Se Aprende Teoricos Da Educação Aula

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D I S C I P L I N A Psicologia da Educação

Como se aprende: a visão dos


teóricos da Educação

Autora

Vera Lúcia do Amaral

aula

08
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Ministro da Educação
Fernando Haddad Revisora Tipográfica
Secretário de Educação a Distância – SEED Nouraide Queiroz
Carlos Eduardo Bielschowsky
Ilustradora
Carolina Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Editoração de Imagens
Reitor
José Ivonildo do Rêgo Adauto Harley
Carolina Costa
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz Diagramadores
Secretária de Educação a Distância Bruno de Souza Melo
Vera Lúcia do Amaral Dimetrius de Carvalho Ferreira
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Ivana Lima
Johann Jean Evangelista de Melo
Coordenadora da Produção dos Materiais
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Adaptação para Módulo Matemático
André Quintiliano Bezerra da Silva
Coordenador de Edição Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira
Ary Sergio Braga Olinisky Thaísa Maria Simplício Lemos
Projeto Gráfico Imagens Utilizadas
Ivana Lima Banco de Imagens Sedis
Revisores de Estrutura e Linguagem (Secretaria de Educação a Distância) - UFRN
Eugenio Tavares Borges Fotografias - Adauto Harley
Jânio Gustavo Barbosa Stock.XCHG - www.sxc.hu
Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT


Verônica Pinheiro da Silva
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Amaral, Vera Lúcia do.


   Psicologia da educação  /  Vera Lúcia do Amaral.  -  Natal, RN: EDUFRN, 2007.
208 p.: il.

   Conteúdo: A psicologia e sua importância para a educação  –  A inteligência  –  A vida afetiva: emoções e
sentimentos  –  Crescimento e desenvolvimento  –  A psicologia da adolescência  –  A formação da identidade:
alteridade e estigma  –  Como se aprende: o papel do cérebro  –  Como se aprende: a visão dos teóricos da
educação  –  Estratégias e estilos de aprendizagem: a aprendizagem no adulto  –  A dinâmica dos grupos e o processo
grupal  –  A família  –  A escola como espaço de socialização  –  Sexualidade  –  A questão das drogas  –  Os meios
de comunicação de massa.

1.  Psicologia.  2.  Psicologia educacional.  3.  Didática.  I.  Título.

ISBN: 978-85-7273-370-0
CDU  159.9
RN/UF/BCZM               2007/49 CDD  150

Copyright © 2007  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação

N
esta aula, continuaremos a discutir os mecanismos e estratégias que auxiliam na
aprendizagem do indivíduo. Veremos, então, os conceitos trazidos por alguns dos
grandes teóricos da Educação, suas concepções de aprendizagem e mecanismos
que interferem nesse processo.

Objetivos
Conhecer os conceitos de aprendizagem de alguns
1 teóricos da Educação.

Comparar as diversas visões, observando diferenças e


2 semelhanças.

Relacionar a visão desses teóricos com as teorias sobre


3 aprendizagem advindas da Neurobiologia.

Aula 08  Psicologia da Educação 


As concepções básicas

C
omo vimos na aula 7 (Como se aprende: o papel do cérebro), os avanços da
Ciência permitiram o estudo do cérebro e a formulação de teorias biológicas sobre
aprendizagem. No entanto, muito antes disso, psicólogos dedicaram-se a compreender
o processo pelo qual os homens aprendem, desenvolvendo, para tanto, teorias.

Basicamente, são três as concepções que estão subjacentes às teorias de aprendizagem:

1) Comportamentalismo ou Behaviorismo: focaliza a atenção nos comportamentos


observáveis e mensuráveis, valorizando as respostas aos estímulos. A idéia básica é que
se um determinado comportamento tem uma boa conseqüência, ele tende a se repetir.
Ao contrário, se a resposta for desagradável, a tendência é o comportamento diminui de
freqüência.

2) Cognitivismo: interessa-se pelos processos interiores que ocorrem entre o estímulo e


a resposta, ou seja, os processos mentais como as percepções, a compreensão, as
tomadas de decisão, a atribuição de significado. Admite que a cognição se dá por
construção, sendo por isso tais teorias também conhecidas como Construtivismo.

3) Humanismo: da importância à auto-realização do sujeito aprendiz, isto é, à sua satisfação


pessoal. Valoriza fundamentalmente os sentimentos e os pensamentos do aluno.

Antes de aprofundarmos o estudo de cada uma dessas teorias, vamos fazer um exercício
de identificar como estas se apresentam em situações de sala de aula.

Atividade 1
João terminou sua aula de Geografia e na lanchonete se encontra com Dulce
e Raimundo, outros dois professores da escola. Está super contente porque
considera que hoje deu uma aula fantástica.

– Pessoal, vocês não sabem como hoje foi incrível. Não tinha jeito de fazer
meus alunos se interessarem pela discussão do clima. Eu ia lá, falava direitinho
sobre clima tropical, clima equatorial, clima temperado, e nada deles “entrarem
no clima”. Hoje resolvi fazer o contrário. Comecei comentando com eles a
notícia do Jornal Nacional de que estava nevando no sul do país. “E aqui é esse

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inferno! Podia esfriar aqui um pouquinho, não era professor”, disse um deles.
Era a dica que eu queria. Engatei: “pois é, o que será que eles têm que a gente
não tem, né?” Pois não é que fomos discutindo e ao final tínhamos visto todos
os fatores que interferem no clima? Foi muito legal!!!

- E aí, pergunta Dulce, você acha que eles aprenderam? Que nada, vão sair
dizendo que você não dá aula, que fica comentando os programas de televisão.
Pois comigo é diferente. Bolei um joguinho com eles. Cada vez que um deles
lê o texto com a pronúncia do inglês perfeitinha, ganha o direito de usar meu
computador no recreio. Precisa ver como agora todo mundo quer ler. E estão
lendo direitinho, os danados. Parece que treinam em casa.

- Vixe, Dulce, assim também... Você está “comprando” a turma, disse


Raimundo. Pois nas minhas aulas eu procuro ver o que “toca” eles. No início do
semestre quando levo o programa da disciplina, sempre deixo um espaço para
eles sugerirem algum tema dentro do assunto. E saem coisas interessantes,
sabiam? Outro dia, na turma de História do Brasil, um deles disse: “professor,
com essas histórias aí de corrupção nas eleições, por que a gente não coloca
aí uma discussão sobre como é que isso surgiu?” Pois a discussão evoluiu
ao ponto da turma, ao final, propor uma reforma política! Acho que vou até
encaminhar para discussão na Câmara Federal, porque ficou legal, viu?

Com qual teoria cada um desses professores se identifica?

Aula 08  Psicologia da Educação 


O Behaviorismo

O
Behaviorismo, na sua vertente mais clássica, propôs definir a  Psicologia como um
ramo objetivo e experimental das ciências naturais, a qual tinha como objetivo a
possibilidade de prever e controlar os comportamentos. A idéia era de que se eu
obtenho sempre uma determinada resposta a um determinado estímulo, eu já posso prever
qual será a resposta e, assim, controlá-la. Os conceitos básicos de estímulo e resposta se
constituiriam, pois, em eventos observáveis e, por isso, relevantes. Os eventos internos,
como os estados da consciência, seriam irrelevantes porque não produziriam efeitos sociais
observáveis e não seriam passíveis de predição e controle.
John Watson (1878-1958) é reconhecido como o fundador do Behaviorismo (ou
Comportamentalismo) e para ele o objetivo maior era chegar a leis que relacionassem
determinados estímulos a determinadas conseqüências comportamentais.
É nesse sentido que o Behaviorismo entende a aprendizagem como uma mudança no
comportamento, que resulta da prática do fazer, do experimentar. A experiência de Pavlov
com cães tornou-se clássica: ele apresentava a um cachorro um pedaço de carne, que,
pelo olfato e visão, provocava a salivação. Após isso, ele passou a tocar uma campainha e,
em seguida, apresentar a carne. Depois de várias repetições, o cachorro passava a salivar
somente por ouvir a campainha, sem a necessidade de se apresentar a carne. Assim, um
estímulo que nada tem a ver com alimentação passou a desencadear reações fisiológicas
típicas da digestão. Trata-se do conceito do reflexo condicionado, ou condicionamento
clássico, que vai influenciar bastante a compreensão da aprendizagem. Para Watson, toda
aprendizagem é um condicionamento desse tipo.

Figura 1 - Esquema mostrando a experiência de reflexo condicionado, de Pavlov

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Um dos grandes expoentes dessa corrente do pensamento é Skinner (1904-1990).
Ele faz a distinção entre a aprendizagem por condicionamento clássico da que ocorre por
condicionamento operante, descrita por ele. A aprendizagem por condicionamento operante
apóia-se em respostas do tipo instrumental, ou seja, respostas emitidas a partir de um reforço
específico, que aumenta a probabilidade de sua emissão. O condicionamento operante é um
mecanismo que premia uma determinada resposta de um indivíduo até ele ficar condicionado
a associar a necessidade à ação. É o caso do rato faminto que, numa experiência, percebe
que o acionamento de uma alavanca levará ao recebimento de comida. Ele tenderá a repetir
o movimento cada vez que quiser saciar sua fome.

Figura 2 - Burrhus Frederic Skinner

Skinner pregou a eficiência do reforço positivo na educação, sendo, em princípio,


contrário a punições e esquemas repressivos, sugerindo que o uso das recompensas e
reforços positivos da conduta correta era mais atrativo do ponto de vista social e também
era pedagogicamente eficaz.

É também Skinner quem lança as bases do ensino programado, cujo suporte se faz
basicamente por quatro postulados: a) um comportamento novo é mais facilmente adquirido
se o sujeito emite respostas a ele, e não simplesmente se se expõe a estímulos; b) um
comportamento novo é mais facilmente adquirido se reforços apropriados são promovidos;
Mapas cognitivos
c) no ensino, a matéria deve ser apresentada fragmentadas, de acordo com dificuldades
Mapas cognitivos,
progressivas; d) o ensino deve contemplar as diferenças individuais.
originalmente, foram
definidos como
Outra distinção feita pelo Behaviorismo é entre aprendizagem e desempenho. A
representações mentais
aprendizagem refere-se ao desempenho, mas não se confunde com ele. O organismo pode de indícios visuais, táteis,
adquirir capacidade para executar certos atos pela aprendizagem, mas o ato pode não ocorrer. auditivos, que configuram
o ambiente e permitem
É a chamada aprendizagem latente, de Tolman (1948), a qual ocorre quando o cérebro organiza-
a localização do sujeito
se em “mapas cognitivos”. Desse modo, conteúdos aprendidos produzidos pela prática no espaço. Atualmente,
seriam aqueles que propiciassem mudanças permanentes no organismo; o desempenho seria tende-se a utilizar um
conceito mais amplo, que
a tradução da aprendizagem em comportamentos. Assim, aprendizagem seria orgânica, neural;
envolva os conceitos e
e o desempenho seria o evento exteriorizável das modificações orgânicas. relações entre conceitos
utilizados pelos sujeitos
Essa distinção, que considera a aprendizagem como não tendo uma face exteriorizável, para compreender o seu
já aponta uma modificação nas idéias iniciais do Behaviorismo e se constitui na corrente ambiente e dar-lhe sentido.

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chamada “Behaviorismo Cognitivista”. Como o nome indica, essas idéias estabelecem uma
transição para o Cognitivismo. De acordo com elas, aprender não é incorporar novas formas
de respostas ao meio, mas apreender sinais, captar direções, montar mapas cognitivos ou
seguir modelos que serviriam de “guias” para a apreensão de um novo comportamento.
A teoria da aprendizagem social, de Albert Bandura, enfatiza a importância da modelagem
dos comportamentos, atitudes e respostas emocionais dos outros na aquisição de novos
conhecimentos. Além disso, ressalta que os eventos ambientais (recursos, ambiente físico),
pessoais (crenças, expectativas) e comportamentais (escolhas, atos individuais) interagem
no processo de aprendizagem, em uma condição que ele denominou de “determinismo
recíproco” (BANDURA, 1977, p. 247). Desse modo, ele propõe uma modificação cognitiva
do comportamento, com a incorporação de elementos da subjetividade dos sujeitos como
aspecto importante.

O Cognitivismo

P
reocupado em entender o processo de conhecimento do mundo pelo homem,
o Cognitivismo, ao contrário do Behaviorismo, envolve-se com a análise
dos processos mentais superiores, com o ato do conhecer, com a cognição.
Preocupa-se em analisar como o ser humano conhece o mundo. Preocupa-se, assim,
com os fenômenos da consciência.

O termo parece vir da teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget (1999), que é mais
uma teoria do desenvolvimento mental do que uma teoria de aprendizagem. O Cognitivismo
também é conhecido como Construtivismo, porque o verdadeiro conhecimento – aquele
que é utilizável – é fruto de uma elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo
interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si,
atribuindo-lhes um significado, organizando-as e relacionando-as com outras anteriores.
Esse processo é inalienável e intransferível: ninguém pode realizá-lo por outra pessoa.

Por outro lado, o termo “cognitivismo” pode ser utilizado como uma conceituação mais
ampla: “se ocupa da atribuição de significados, da compreensão, transformação, armazenamento
e uso da informação envolvida na cognição” (MOREIRA, 1999, p. 15). Nesse sentido, uma das
principais tarefas dessa abordagem do cognitivismo é a construção de modelos matemáticos
e axiomáticos em diferentes campos da investigação, como a inteligência artificial, a formação
de conceitos, a memória semântica, a resolução de problemas. Essa nova ciência cognitiva
vem se constituir na resposta a uma demanda pelo estudo interdisciplinar da mente humana,
abrangendo áreas como as Neurociências, a Informática, a Psicologia.

Vamos discutir melhor essa abordagem a partir de dois dos seus maiores expoentes:
Jean Piaget e Lev Vygotsky.

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Piaget
Um conceito fundamental para Piaget é o de estruturas cognitivas, que seriam padrões
mentais subjacentes a atos da inteligência. Piaget pensa a mente como um conjunto de
estruturas que se aplica à realidade, sendo o sujeito um agente dessa construção. Essas
estruturas não são como formações biogeneticamente determinadas, mas progressivamente
produzidas pela interação constante com o ambiente. 

As modificações dessas estruturas cognitivas se dão através de processos de adaptação,


os quais são resultados de um movimento contínuo de assimilação e acomodação em
busca do equilíbrio. Esses conceitos são fundamentais para explicar a sua concepção de
aprendizagem, como veremos a seguir.

1) Assimilação – É o processo de integração de novos conhecimentos em estruturas


já existentes. Nesse processo, o que ocorre é uma ação do sujeito sobre os objetos
que o rodeiam, incorporando assim a realidade aos esquemas de ação do indivíduo e
transformando o meio para satisfazer suas necessidades. Mas, trata-se de um esquema
concreto, ainda bruto, sem modificação dos processos mentais.

2) Acomodação – É o mecanismo de reformulação das estruturas em relação aos novos


conteúdos incorporados, é o processo de busca e ajustamento a condições novas e
mutáveis no ambiente, de tal forma que os padrões comportamentais preexistentes são
modificados. Na medida em que a acomodação implica a reestruturação dos esquemas
anteriores, entende-se que tenha ocorrido a produção ou construção da aprendizagem.

3) Equilibração – É a adaptação decorrente do equilíbrio entre assimilação e acomodação.

Figura 3 - Esquema da concepção de aprendizagem de Piaget

Assim, para Piaget a aprendizagem somente ocorre quando o esquema de assimilação


sofre acomodação. O mais importante fator de aprendizagem se dá quando o equilíbrio prévio é

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rompido por experiências não-assimiláveis e a mente busca novas acomodações e conseqüentes
novos equilíbrios. É a chamada “equilibração majorante”. Assim, ensinar significa promover
desequilíbrios e envolve a relação entre os esquemas de assimilação do professor, com os
conteúdos que deseja ensinar e os esquemas de assimilação dos alunos que, por sua vez, devem
influenciar os esquemas do professor. O ensino torna-se eficiente quando a argumentação do
professor se aproxima dos esquemas de assimilação dos alunos.

Vygotsky
Para Vygotsky (1896-1934), os mecanismos de desenvolvimento cognitivo têm
origem e natureza sociais e não são frutos exclusivos do desenvolvimento mental. O
desenvolvimento das funções mentais superiores somente ocorrem nas interações
sociais, as quais são o produto das relações sociais, mediadas por instrumentos e signos,
dos quais o mais importante é a linguagem.

Uma vez que o desenvolvimento das funções mentais exige a internalização de signos, a
aprendizagem passa a ser a condição para que isso ocorra. Um dos conceitos mais importantes
de Vygotsky é o de “zona de desenvolvimento proximal”. É a interação social que vai propiciar
Zona de
Desenvolvimento a aprendizagem, que deve ocorrer dentro dos limites dessa zona. O ensino, portanto, deve
Proximal se caracterizar por uma interação social, na qual o professor é aquele que já internalizou
Zona de desenvolvimento significados socialmente aceitos e partilhados; o aluno, por sua vez, deve sempre verificar se
proximal é a distância os significados que internalizou são também compartilhados socialmente dentro da área do
entre o nível cognitivo
conhecimento. O ensino se consuma quando professor e aluno compartilham significados.
real do indivíduo, medido
por sua capacidade
As idéias de Vygotsky foram incorporadas por outros estudiosos, dentre eles Novak,
de resolver problemas
independentemente, para quem o evento educativo é uma ação para trocar sentimentos e significados que
e o seu nível de sejam aceitos e partilhados socialmente entre professor e alunos. No entanto, o aluno pode
desenvolvimento
aprender significativamente conceitos “errados”, que não são partilhados socialmente Com
potencial, medido por
meio da solução de o professor, mas sim com seu grupo social de origem.
problemas sob orientação
ou em colaboração com Vygotsky não concebe os processos cognitivos isolados da totalidade dinâmica da
companheiros capazes. consciência. Para ele, o pensamento humano só pode ser compreendido quando se entende
a sua base afetivo-volitiva. Uma das principais limitações da Psicologia tradicional é a
separação entre processos cognitivos de um lado e afetivo-volitivos de outro, como se o
pensamento fosse “[...] um fluxo autônomo de ‘pensamentos que pensam por si próprios’,
dissociados da plenitude da vida, das necessidades e interesses pessoais, das inclinações e
dos impulsos daquele que pensa” (VYGOTSKY, 1998, p. 6).

A idéia básica do Construtivismo, portanto, é a de que o indivíduo conhece na medida


em que constrói sua estrutura cognitiva e interpreta os eventos e objetos do mundo,
respondendo não apenas mecanicamente a eles. As estruturas prévias, as inter-relações
com o mundo circundante, os construtos já incorporados pela cultura do sujeito são, então,
fundamentais nessa construção individual. As ações não seriam fruto de modificações

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orgânicas permanentes, mas gerariam na mente do sujeito estruturas dinâmicas que se
constroem e re-constroem, tornando o sujeito aprendiz um elemento ativo e criativo do seu
próprio saber e não um mero receptor de conhecimentos.

Figura 4 - Vygostky e esquema de sua teoria de aprendizagem

Como diz Teixeira:

a aprendizagem construtivista é a que mais se parece com uma aventura intelectual. Mas
necessita – pelo menos a princípio – da presença de um guia que não seja impaciente
e que permita que o pensamento de quem aprende siga o curso imprescindível
para converter os conhecimentos em algo próprio, precisa de um guia que respeite
os processos, que não se empenhe em substituir a pessoa que está aprendendo,
antecipando-lhe resultados e respostas já conhecidos por ela, como esses amigos
bem-intencionados que sempre insistem em contar o final do filme. Uma das falsas
ilusões do ensino  é que os estudantes podem passar de um estado de ignorância para
um estado de conhecimento, sobre um tema concreto, no curto intervalo de tempo de
uma sessão de aula. Esta crença, que simplifica a existência de processos inerentes
a toda aprendizagem, é uma fonte de mal-estar e frustração tanto para o professor
quanto para alunos e alunas, fundamentalmente porque não coincide com a realidade.
A negação da realidade leva facilmente ao fracasso e provoca um sentimento pessimista
de impossibilidade.

Extraído de: TEIXEIRA, Gilberto. Por que o construtivismo. Disponível em: <http://www.serprofessoruniversitario.pro.

br/ur.php?modulo=98texto=469>. Acesso em: 26 jul. 2007.

Aula 08  Psicologia da Educação 


O Humanismo

A
perspectiva da junção de todos os elementos da consciência no ato de aprender vai estar
presente nas correntes teóricas chamadas Humanismo. Surgido a partir dos trabalhos de
Abraham Maslow (1908-1970), o Humanismo caracteriza-se, basicamente, por centrar-
se no conceito de pessoa; não no de comportamento. Enfatiza, ainda, a condição de liberdade
contra o determinismo e objetiva a compreensão e o bem-estar humanos.

Para o Humanismo, há uma tendência natural do ser humano para aprender, aumentar
seus conhecimentos; contudo, a aprendizagem somente se torna significativa quando
contribui para a auto-realização do sujeito. Por compreender o sujeito aprendiz como uma
totalidade, entende o ato de aprender como envolvendo não somente a cognição, mas
também os aspectos afetivos e as ações, já que influem nas ações e escolhas do indivíduo.  

Essas teorias estão preocupadas com o conhecimento pessoal propiciado pela


aprendizagem, entendendo que as condições nas quais ela ocorre devam ser o mínimo
ameaçadoras e o máximo acolhedoras possível. A independência do aprendiz, o estímulo a
sua criatividade e autoconfiança são condições básicas para que a aprendizagem ocorra. O
confronto do sujeito com o meio será significativo para a aprendizagem apenas quando ele
for colocado em situações que envolvam vivências de cunho existencial significativas.

Figura 5 - Carl Rogers

O maior expoente dessa visão é Carl Rogers (1902-1987), que propõe um aprendizado
centrado no aluno. Para ele, uma aprendizagem adequada é aquela que leva o aluno a “aprender
a aprender”, ou seja, para além da importância dos conteúdos, o mais significativo para Rogers
é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem. O professor
precisa tornar-se um facilitador da aprendizagem para tanto, é essencial que tenha segurança e
acredite na pessoa do aluno, na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio.

Rogers propõe algumas qualidades que o professor precisa ter para ser um facilitador:
a primeira é a autenticidade do facilitador, que significa a capacidade de ser autêntico e
real na relação com o aluno; a segunda é aceitar a pessoa do aluno, seus sentimentos,

10 Aula 08  Psicologia da Educação


suas opiniões, sem julgamentos prévios; a terceira é a capacidade da empatia, ou seja,
compreender o aluno a partir do seu quadro de referências. “Quando o professor tem a
capacidade de compreender internamente as reações do estudante, tem uma consciência
sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao
estudante” (ROGERS, 1986, p. 131).

O Humanismo está, portanto, mais preocupado com as relações entre os sujeitos


no momento da aprendizagem. Centra seu foco na pessoa que aprende, entendendo
pessoa como um ser total, que pensa, sente e age, e valorizando fortemente a liberdade e
autodeterminação natural desse ser.

Atividade 2
Agora que vimos como se colocam as diversas teorias da
1 aprendizagem, vamos fazer um exercício de observação: com qual
delas nos identificamos e por quê.

Se você tem ou teve alguma experiência como professor(a), descreva


2 a seguir sua prática, as teorias com que ela se identifica e por quê.

1.
sua resposta

2.

Aula 08  Psicologia da Educação 11


Resumo
Na aula de hoje, conhecemos as mais importantes correntes teóricas sobre a
aprendizagem: o Behaviorismo, o Cognitivismo e o Humanismo. Cada uma delas
propõe uma maneira de conseguir a aprendizagem a partir do entendimento do
Homem. O Behaviorismo prioriza a observação dos comportamentos externos;
o Cognitivismo considera o sujeito consciente e suas relações sociais; e o
Humanismo considera o indivíduo e suas particularidades.

Auto-avaliação
Destaque das três abordagens teóricas discutidas os seus principais conceitos.

Behaviorismo

Cognitivismo

Humanismo

12 Aula 08  Psicologia da Educação


Referências
BANDURA, A. Social learning theory. New Jersey: Pretince-Hall, 1977.

MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica


Universitária,  1999.

PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

ROGERS, Carl. Liberdade de aprender em nossa década. 2. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas,  1986.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Aula 08  Psicologia da Educação 13


Anotações

14 Aula 08  Psicologia da Educação


Anotações

Aula 08  Psicologia da Educação 15


Anotações

16 Aula 08  Psicologia da Educação

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